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EDITORIAL

É consenso que o laço social, hoje, se organiza numa montagem perversa. O discurso capitalista tem determinado mudanças subjetivas na relação do sujeito com o Outro, marcadas pelo imperativo de consumir e usufruir, gozando sempre mais e mais, conotando um mal-estar pelo excesso e pela tendência a transgredir limites. O semblante perverso que adquiriu as relações atuais nos convoca a discutir, metapsicologicamente; a perversão considerando, de um lado, seus usos sociais, de outro, suas incidências intersubjetivas.

Sob a nomenclatura de "perversão" agregam-se vários quadros clínicos, desde as psicopatias, passando pelos desvios sexuais e morais, até as personalidades narcísicas o que a torna emblemática no sentido de questionar seu caráter como uma estrutura clínica, ou melhor, se se trata realmente de uma psicopatologia ou de uma condição da natureza humana; afinal, seu mecanismo básico - a Verleugnung -, é também o mecanismo responsável pelo funcionamento clivado do eu.

A literatura tem mostrado que a metapsicologia da perversão tomou diversas direções: a da perversão polimorfa (como predisposição natural da sexualidade infantil), a da perversão como desvio (quanto adquire o caráter de exclusividade e fixação), o do fetichismo como seu paradigma, a da perversão como modelo estrutural da fantasia e a vertente ética que põe a perversão no lugar privilegiado de fundação do desejo. Em quaisquer dos contextos à perversão se associam, sempre, sentidos pejorativos, marcas herdadas do verbo latino -pervertere - que conota tanto o sentido de defeituoso, vicioso e desregrado como o de perversidade. Nos trabalhos aqui apresentados vamos ver deslizarem essas conotações.

Pensar a perversão no sentido sadiano, ou seja, como um imperativo categórico de fazer gozar, a aproxima da lógica capitalista e abre a perspectiva de colocá-la quase como um ideal identificatório o que a transforma numa condição generalizada. Todas essas vertentes e possibilidades denotam que a perversão é um terreno fértil para se pensar as pulsões humanas no laço social, pois ela se refere não só à realidade psicológica como também à psicopatológica e sociológica, ou seja, pode-se discuti-la tanto no plano individual como no social. Sua atualidade e importância fizeram dela tema para a realização de dois colóquios organizados por duas universidades católicas: a Universidade Católica de Pernambuco e a Université Catholique de l'Ouest - Angers, ambos sob o título de Colóquio Internacional sobre Metapsicologia da Perversão.

O primeiro, realizado em Recife, em 2013 versou sobre Usos Sociais da Perversãoe o segundo, realizado em Angers, em 2014, tratou das Incidências (Inter)subjetivas da perversão. Neste Suplemento da Revista Latinoamericana de Psicopatologia Fundamental estão reunidos os trabalhos mais significativos de brasileiros e franceses apresentados no primeiro colóquio.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    Jul-Sep 2014
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