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Rankings e outras medidas

A Revista Latinoamericana de Psicopatologia Fundamental (RLPF) consta das listas fornecidas pelo Scientific Journal Ranking (SJR), um serviço do Scimago Institutions Rankings (SCImago).

Esse portal utiliza informações da base de dados Scopus (www.scopus.com) para construir suas escalas.

Classificada como periódico de Psicologia Clínica, a RLPF ocupa, em 2015, a 169º posição numa lista mundial de 247 revistas. Em 2012, ela ocupava o 194º.

Segundo o SJR, a América Latina possui 8 revistas de Psicologia Clínica e a RLPF ocupa o 2º lugar. Ela possui, ainda em 2015, um índice de impacto de 0,21.

Nessa lista de 247 revistas, observa-se uma grande variedade de missões. Entretanto, elas possuem um substrato comum: valorizam o caso clínico como fundamento de suas pesquisas.

Tradicionalmente, é o caso e não a especulação teórica que caracteriza o conhecimento científico. Desde o início dessa tradição, o caso sempre foi o fundamento do conhecimento. É verdade que a ele se adiciona uma certa origem mitológica. Isso fica claro, por exemplo, com a física moderna. Conta a lenda que as investigações de Isaac Newton nasceram de um episódio sui generis: a queda de uma maçã em sua cabeça, enquanto cochilava sob uma macieira.

Esse mito é elegante porque remete à natureza da observação científica. O fenômeno observado é sempre, inicialmente, uma ocorrência surpreendente que retira o cientista de um estado relaxado e desatento para outro e o lança para uma atenção reflexiva, com certa dose de angústia.

Assim, por exemplo, episódio semelhante ocorre na narração do caso “Katharina” relatado por Sigmund FreudFreud, S.; Breuer, J. (2016). “Katharina...”. In Estudos sobre a histeria (Laura Barreto, trad.). São Paulo: Companhia das Letras. (Trabalho original publicado em 1893-1895). no livro escrito em coautoria com Joseph BreuerFreud, S.; Breuer, J. (2016). “Katharina...”. In Estudos sobre a histeria (Laura Barreto, trad.). São Paulo: Companhia das Letras. (Trabalho original publicado em 1893-1895)., Estudos sobre a histeria (1893-1895/2016).

A observação científica ocorre, tudo indica, a partir de uma perturbação onde algo inesperado, mas familiar (Heimlich), perturba a serena tranquilidade em que se encontra o pesquisador. Tal episódio contém um componente enigmático e obscuro a solicitar um trabalho de significação que pode ser chamado de compreensão e, depois de esclarecido, pode ser chamado de explicação.

Esse perturbador componente enigmático e obscuro nada mais é do que uma discrepância entre aquilo que é e aquilo que deveria ser. Por exemplo, quando (prosseguindo no mito) Newton se põe a dormir sob uma carregada macieira, ele supõe que terá um momento de sossego. Entretanto, esse momento é interrompido por um fato (aquilo que é).

O conhecimento científico é, portanto, atividade antipreconceituosa que tem início com a aproximação da realidade pelo ser humano, pois o que “deveria ser” é construção imaginária influenciada por concepções ideais. Porém, não podemos nos esquecer que, sem “o que deveria ser” não há “o que é”. Como a ciência valoriza “o que é”, muitas vezes se esquece do “deveria ser”. Entretanto, cada problema de investigação é a formulação precisa dessa discrepância.

A psicologia clínica precisa, pois, fazer jus a essa reclamação. Para isso, precisa estar constantemente referida à realidade, ou seja, ao caso, sem se esquecer do ideal (Magtaz & Berlinck, 2012Magtaz, A.C.; Berlinck, M.T. (2012, março). O caso clínico como fundamento da pesquisa em Psicopatologia Fundamental. Revista Latinoamericana de Psicopatologia Fundamental, São Paulo, 15(1), p. 72-82.). Porém, é necessário repetir, quando se esquece do “que é”, o discurso (logos) se afasta da ciência e se aproxima da ideologia.

Os rankings e outras medidas que colocam revistas científicas em escalas são indicadores de uma realidade: eles procuram medir (comparativamente) a significância, ou seja, o valor e a importância de um dado periódico em relação ao conjunto de revistas semelhantes. Talvez por isso sejam sempre insatisfatórios.

Referências

  • Magtaz, A.C.; Berlinck, M.T. (2012, março). O caso clínico como fundamento da pesquisa em Psicopatologia Fundamental. Revista Latinoamericana de Psicopatologia Fundamental, São Paulo, 15(1), p. 72-82.
  • Freud, S.; Breuer, J. (2016). “Katharina...”. In Estudos sobre a histeria (Laura Barreto, trad.). São Paulo: Companhia das Letras. (Trabalho original publicado em 1893-1895).
Editores do artigo/Editors: Prof. Dr. Manoel Tosta Berlinck e Profa. Dra. Sonia Leite

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    Jun 2016

Histórico

  • Recebido
    5 Abr 2016
  • Aceito
    16 Abr 2016
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