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Revista de Nutrição: espaço de interlocução interdisciplinar da área de alimentação e nutrição

EDITORIAL

Revista de Nutrição: espaço de interlocução interdisciplinar da área de alimentação e nutrição

Conhecer a organização da vida social e suas construções simbólicas em torno do acesso, produção e consumo de alimentos, revela processos da evolução histórica da sociedade constituídos em torno da alimentação, enquanto uma necessidade elementar de sobrevivência e uma rede complexa de elementos relativos à vida social.

A alimentação, como uma condição básica para a produção e a reprodução da vida se constitui em uma categoria biológica, histórico-social, cultural, econômica, tecnológica, entre outras tantas, que, dificilmente, poderia ser confinada em uma abordagem disciplinar. Assim sendo, a questão alimentar e nutricional se apresenta como objeto de estudo desafiador, porque requer um olhar expandido, exige diferentes referenciais teóricos para sua exploração, não se encaixa facilmente em matrizes de análise delimitadas e, por isso mesmo, solicita a interdisciplinaridade.

A Revista de Nutrição, na sessão temática deste número, lança dois artigos que se enquadram na história e cultura da alimentação, um sobre as representações iconográficas e literárias relacionadas à produção de alimentos na Antiguidade e na Idade Média que expressam elementos da organização social daquelas sociedades. O outro versa sobre a alimentação no Brasil durante a ocupação holandesa, em meados do século XVII, expondo tanto o peso que a alimentação teve na condução dos conflitos da época com a riqueza dos recursos alimentares da fauna e da flora locais, como a problemática relacionada àqueles que atravessavam o oceano para satisfazer as necessidades dos colonizadores. Sob cenários diversos e adversos, ficam nítidos, nas duas contribuições aqui publicadas, o papel da alimentação na história e o modo como as práticas alimentares se moldam pela dinâmica imposta pela sociedade.

A tradução das relações de poder impressas por meio da destinação de gêneros alimentícios distintos como marca da estratificação social é também tratada, especialmente no artigo de Claude Guy Papavero.

Ao estabelecer um paralelo com a sociedade contemporânea, é possível visualizar o desafio crescente para a nutrição, que é enfrentar mudanças alimentares contínuas que se constituem por influências políticas e econômicas que afetam o acesso aos alimentos, a qualidade da alimentação e do repertório alimentar.

A disputa por áreas de cultivo para a produção de alimentos destinados ao abastecimento local, ou para gêneros de maior apelo mercantil, discussão que integra a agenda recente de debates sobre abastecimento, é também abordada no artigo de Giulia Crippa, com exemplos deste conflito registrados na Antiguidade.

Convidamos os leitores da Revista de Nutrição a considerar os elementos tratados nesta Seção Temática para enriquecer, no âmbito das Universidades e dos Institutos de Pesquisa, as reflexões sobre os caminhos da produção científica e cultural em nutrição frente às demandas da sociedade no contexto atual. Afinal, a problemática alimentar, sob a lógica do capital, se manifesta historicamente no confronto entre forças produtivas e relações sociais de produção, ora reafirmando a exclusão social, ora assumindo formas mais avançadas, na direção do interesse coletivo, a depender da dinâmica dos movimentos sociais e dos rumos que assume a ciência.

Rosa Wanda Diez Garcia

Maria Angélica Tavares de Medeiros

Editoras Associadas

Semíramis Martins Álvares Domene

Editora Científica

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    19 Maio 2010
  • Data do Fascículo
    Fev 2010
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