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Restaurantes self-service: segurança e qualidade sanitária dos alimentos servidos

Self-service restaurants: food safety and sanitary quality

Resumos

OBJETIVO: Esse trabalho teve por objetivo avaliar a temperatura e a qualidade sanitária de alimentos servidos nos balcões de distribuição em restaurantes self-service no município de Taubaté (SP), com vistas à discussão da segurança alimentar. MÉTODOS: Foram coletadas quatro amostras, sendo dois alimentos quentes e dois alimentos frios de 16 restaurantes; antes da coleta mediu-se a temperatura dos alimentos expostos nos balcões de distribuição. As amostras foram analisadas quanto aos seguintes parâmetros: contagem de bactérias aeróbias mesófilas, determinação de coliformes a 35ºC e a 45ºC, contagem de Staphylococcus coagulase positiva e detecção de Salmonella. RESULTADOS: Cinquenta e seis (87,5%) alimentos estavam em temperaturas inadequadas, alimentos frios expostos em temperaturas acima de 10ºC e alimentos quentes abaixo de 60ºC. Bactérias aeróbias mesófilas em contagem acima de 10(6) UFC/g foram detectadas em 11% das amostras e coliformes a 35ºC e coliformes a 45ºC foram detectadas em 76,6% e 43,7% das amostras, respectivamente. Dois alimentos, sendo um frio e um quente, provenientes de um mesmo restaurante, apresentaram contagem de Staphylococcus coagulase positivo acima de 10(4) UFC/g. Todas as amostras apresentaram ausência de Salmonella. CONCLUSÃO: A manutenção dos alimentos servidos, nos balcões de distribuição, em temperaturas abusivas e a presença de microrganismos indicadores de qualidade sanitária em número elevado comprometem a segurança e podem colocar em risco a saúde dos consumidores, em restaurantes self-service. Os instrumentos utilizados demonstraram-se como ferramentas importantes de avaliação da segurança das refeições servidas.

Inspeção de alimentos; Qualidade de alimentos; Restaurantes; Segurança alimentar


OBJECTIVE: This work aimed to assess the temperature and sanitary quality of the foods available on the buffet table of self-service restaurants located in the city of Taubaté (SP), in order to discuss food safety. METHODS: Four samples, two of cold dishes and two of hot dishes, were collected from each of 16 restaurants. The temperature of the foods on the buffet table was measured before the sample was taken. The following parameters were investigated for each sample: aerobic mesophilic bacteria count, determination of coliforms at 35ºC and 45ºC, coagulase-positive Staphylococcus count and presence of Salmonella. RESULTS: The temperature of 56 (87.5%) foods was inadequate: cold dishes were kept above 10ºC and hot dishes were kept below 60ºC. Aerobic mesophilic bacteria counts above 10(6) CFU/g were detected in 11% of the samples, coliforms at 35ºC in 76.6% and coliforms at 45ºC in 43.7%. Two foods, one cold and one hot, both from the same restaurant, had a coagulase-positive Staphylococcus count above 10(4) CFU/g. Salmonella was not found in any of the samples. CONCLUSION: Keeping the foods available on buffet tables under incorrect temperatures and a high count of microorganisms that indicate poor sanitary quality of the food can compromise safety and jeopardize the customer's health. The instruments used in this study proved to be important tools for assessing food safety.

Food inspection; Food quality; Restaurants; Food safety


ORIGINAL ORIGINAL

Restaurantes self-service: segurança e qualidade sanitária dos alimentos servidos

Self-service restaurants: food safety and sanitary quality

Mariana Gardin Alves; Mariko Ueno

Universidade de Taubaté, Instituto Básico de Biociências. Av. Tiradentes, 500, Campus Bom Conselho, 12030-180, Taubaté, SP, Brasil. Correspondência para/Correspondence to: M. UENO. E-mail: <mariueno@unitau.br>

RESUMO

OBJETIVO: Esse trabalho teve por objetivo avaliar a temperatura e a qualidade sanitária de alimentos servidos nos balcões de distribuição em restaurantes self-service no município de Taubaté (SP), com vistas à discussão da segurança alimentar.

MÉTODOS: Foram coletadas quatro amostras, sendo dois alimentos quentes e dois alimentos frios de 16 restaurantes; antes da coleta mediu-se a temperatura dos alimentos expostos nos balcões de distribuição. As amostras foram analisadas quanto aos seguintes parâmetros: contagem de bactérias aeróbias mesófilas, determinação de coliformes a 35ºC e a 45ºC, contagem de Staphylococcus coagulase positiva e detecção de Salmonella.

RESULTADOS: Cinquenta e seis (87,5%) alimentos estavam em temperaturas inadequadas, alimentos frios expostos em temperaturas acima de 10ºC e alimentos quentes abaixo de 60ºC. Bactérias aeróbias mesófilas em contagem acima de 106 UFC/g foram detectadas em 11% das amostras e coliformes a 35ºC e coliformes a 45ºC foram detectadas em 76,6% e 43,7% das amostras, respectivamente. Dois alimentos, sendo um frio e um quente, provenientes de um mesmo restaurante, apresentaram contagem de Staphylococcus coagulase positivo acima de 104 UFC/g. Todas as amostras apresentaram ausência de Salmonella.

CONCLUSÃO: A manutenção dos alimentos servidos, nos balcões de distribuição, em temperaturas abusivas e a presença de microrganismos indicadores de qualidade sanitária em número elevado comprometem a segurança e podem colocar em risco a saúde dos consumidores, em restaurantes self-service. Os instrumentos utilizados demonstraram-se como ferramentas importantes de avaliação da segurança das refeições servidas.

Termos de indexação: Inspeção de alimentos. Qualidade de alimentos. Restaurantes. Segurança alimentar.

ABSTRACT

OBJECTIVE: This work aimed to assess the temperature and sanitary quality of the foods available on the buffet table of self-service restaurants located in the city of Taubaté (SP), in order to discuss food safety.

METHODS: Four samples, two of cold dishes and two of hot dishes, were collected from each of 16 restaurants. The temperature of the foods on the buffet table was measured before the sample was taken. The following parameters were investigated for each sample: aerobic mesophilic bacteria count, determination of coliforms at 35ºC and 45ºC, coagulase-positive Staphylococcus count and presence of Salmonella.

RESULTS: The temperature of 56 (87.5%) foods was inadequate: cold dishes were kept above 10ºC and hot dishes were kept below 60ºC. Aerobic mesophilic bacteria counts above 106 CFU/g were detected in 11% of the samples, coliforms at 35ºC in 76.6% and coliforms at 45ºC in 43.7%. Two foods, one cold and one hot, both from the same restaurant, had a coagulase-positive Staphylococcus count above 104 CFU/g. Salmonella was not found in any of the samples.

CONCLUSION: Keeping the foods available on buffet tables under incorrect temperatures and a high count of microorganisms that indicate poor sanitary quality of the food can compromise safety and jeopardize the customer's health. The instruments used in this study proved to be important tools for assessing food safety.

Indexing terms: Food inspection. Food quality. Restaurants. Food safety.

INTRODUÇÃO

A vida moderna imprimiu um ritmo acelerado ao cotidiano dos indivíduos, causando mudanças nos hábitos de vida e alimentares, modificado por diversos fatores, como o aumento da jornada de trabalho, dificuldades em locomoção, aumento da população em centro urbano e principalmente o aumento da utilização da mão de obra feminina. Com isto, torna-se cada vez maior o número de refeições feitas fora do domicílio, gerando um aumento de restaurantes, principalmente o do tipo self-service1. Essa modalidade visa uma clientela com limitação de tempo e/ou de orçamento para suas refeições e normalmente encontram-se nos centros comerciais das cidades2.

Os alimentos servidos nos restaurantes têm como fator negativo a insegurança, devido à contaminação, podendo causar doenças veiculadas por alimentos3,4. A qualidade de uma refeição é influenciada por inúmeros fatores, entre eles a qualidade da matéria-prima, a higiene dos utensílios utilizados, manipuladores envolvidos no processo, bem como o monitoramento de parâmetros, como tempo e temperatura5,6. A temperatura é um fator importante para a população microbiológica presente nos alimentos, por isso a distribuição deve ocorrer com controle de tempo e temperatura para minimizar a multiplicação microbiana e proteger de novas contaminações7.

Os perigos microbiológicos são as principais causas de contaminação dos alimentos e os manipuladores constituem a origem do problema e são grandes responsáveis pela sua contaminação microbiológica8. O controle da contaminação por micro-organismos deterioradores e patogênicos nos serviços de alimentação é difícil e complexo devido à grande variedade de alimentos preparados. Há também o risco potencial de os manipuladores de alimentos serem portadores assintomáticos de microrganismos patogênicos9-11.

Para evitar as doenças de origem alimentar, devem-se enfatizar as situações que visem à prevenção de agentes patogênicos e as condições de maior risco e, para assegurar que os alimentos sejam preparados de modo a garantir a segurança do consumidor, devem ser adotadas medidas de prevenção e controle em todas as etapas da cadeia produtiva12. Para White et al.13 deve-se oferecer treinamento aos manipuladores para aperfeiçoar tanto sua higiene pessoal quanto a higiene ambiental e dos alimentos. Nesse sentido, o controle higiênico-sanitário dos alimentos constitui fator preponderante para prevenção das doenças de origem alimentar14,15.

Assim, a produção, preparação, distribuição e armazenamento de alimentos, com segurança, são atividades que exigem cuidados especiais com o ambiente de trabalho, os equipamentos e utensílios, os alimentos propriamente ditos, os manipuladores de alimentos, com as instalações sanitárias e com o controle de pragas, entre outros16.

Avaliar as condições sanitárias dos alimentos prontos para o consumo, servidos nos restaurantes self-service, é de grande importância para a avaliação das condições de preparo e distribuição. Neste sentido foi realizado um estudo, com a finalidade de conhecer a situação dos alimentos nos balcões de distribuição, em restaurantes self-service, localizados na região central do município de Taubaté (SP). Esta iniciativa se faz necessária para a obtenção de informações, que podem ser utilizadas por órgãos da Vigilância Sanitária como indicadores de condições higiênico-sanitárias das refeições servidas.

MÉTODOS

Fizeram parte desse estudo, 16 restaurantes self-service que representam o total desta tipologia, na região central do município de Taubaté (SP). Em cada restaurante foram coletadas quatro amostras, sendo dois alimentos quentes e dois alimentos frios. Para os alimentos quentes deu-se preferência àqueles à base de carne e para os frios àqueles que continham maionese, e na ausência destes, àqueles que exigiram mais manipulação pós-cocção.

Antes da coleta mediu-se a temperatura dos alimentos expostos nos balcões com termômetro digital tipo espeto WT1, com faixa de temperatura entre -50º C a +300º C. Os parâmetros de temperatura foram aqueles descritos na Portaria CVS nº 6 de 10 de março de 19997.

Os alimentos foram coletados com o talher comum,transferidos para sacos plásticos esterilizados, e transportados em caixas isotérmicas ao laboratório de microbiologia da Universidade de Taubaté (Unitau).

As análises microbiológicas das 64 amostras foram iniciadas em tempo menor que duas horas após a coleta, seguiu-se a metodologia descrita por Silva et al.17 Para a determinação de coliformes a 35ºC e a 45ºC utilizou-se a técnica no Número Mais Provável, a confirmação de a 45ºC foi realizada por meio da inoculação em Agar Levine Eosina Azul de Metileno (EMB). Colônias típicas foram selecionadas para as provas bioquímicas de Indol, vermelho de metila, Voges Proskauer e citrato (IMViC). A contagem total de bactérias aeróbias mesófilas foi realizada pela técnica de contagem padrão em placas. Para a contagem de Staphylococcus coagulase positiva utilizou-se método de contagem em placa em ágar Baird-Parker, colônias típicas foram selecionadas para as provas de catalase e coagulase. A detecção de Salmonella foi realizada por método tradicional presença/ausência; a técnica consta de pré-enriquecimento em caldo lactosado, enriquecimento em caldo tetrationato, plaqueamento diferencial em Agar Entérico Hektoen (HE), Agar Xilose Lisina Desoxicolato (XLD) e Agar Bismuto Sulfito (BS).

RESULTADOS

A temperatura dos alimentos quentes nos balcões de distribuição variou de 33 a 71,2ºC (Tabela 1), sete (21,9%) estavam acima de 60ºC, considerada segura para o controle microbiano; vinte (62,5%) estavam na faixa de 40 a 59,9ºC, nessa faixa os alimentos podem ficar expostos por até três horas, e cinco (15,6%) amostras estavam abaixo de 40ºC.

A temperatura dos alimentos frios variou de 9,7 a 41,7ºC (Tabela 2), sendo que apenas um (3,1%) estava em temperatura ideal, 14 (43,7%) estavam entre 10 e 21ºC, nesta faixa os alimentos podem permanecer por duas horas e 17 (53,1%) estavam em temperatura acima de 21ºC.

Os resultados das análises microbiológicas dos alimentos quentes e alimentos frios e as temperaturas registradas podem ser observados na Tabelas 1 e 2, respectivamente.

DISCUSSÃO

Apenas 22% dos alimentos quentes estavam em temperatura que confere segurança aos consumidores, acima de 60ºC, esse resultado foi semelhante ao de Momesso et al.18 que encontraram 20% dos alimentos com temperatura acima de 60ºC. Por outro lado Chesca et al.19 observaram que 100% dos alimentos quentes estavam acima de 60ºC. Para Brugalli et al.20 os alimentos como arroz e feijão, em balcões de distribuição, encontravam-se, na maioria das vezes, em temperatura acima de 60ºC, o que não ocorria com carnes e as guarnições.

Considerando a temperatura dos alimentos no balcão de distribuição, nesse estudo, apenas 3,1% dos alimentos encontrava-se em temperatura adequada. Resultados similares foram encontrados por Momesso et al.19 que observaram que 3,7% das amostras estava em temperatura considerada segura. Alimentos frios expostos em temperatura acima do permitido podem ter como principal causa a falta de equipamentos adequados de refrigeração, assim como a falta de conscientização dos manipuladores em refrigerar adequadamente os alimentos. Na distribuição, os alimentos frios podem ser mantidos a 10ºC por até quatro horas, ou entre 10 e 21ºC por duas horas, e acima dessa temperatura, os alimentos devem ser desprezados8.

As análises de coliformes a 35ºC nos alimentos evidenciaram que 49 (76,6%) amostras apresentaram contaminação por esses micro-organismos. Embora a legislação brasileira não esta-beleça limites para coliformes a 35ºC, altos níveis indicam condições higiênico-sanitárias insatis-fatórias. Contagens de coliformes a 35ºC maior que 240NMP/g foram registrados em 19 alimentos frios, destes todos estavam em temperatura superior a 10ºC, sendo que dez estavam em tem-peratura superior a 21ºC; e em dois alimentos quentes, estes estavam em temperatura abaixo de 60ºC. Azerêdo et al.21 encontraram 15,3% das amostras de alimentos frios positivas para coliformes a 35ºC e os valores variaram de 4 a >1100NMP/g.

Foi detectada presença de coliformes a 45ºC, com confirmação de Escherichia coli, em 19 (70,4%) alimentos frios, dentre esses 12 (63,2%) estavam em temperatura acima de 21ºC; e em oito (29,6%) alimentos quentes, os quais estavam expostos em temperatura abaixo de 60ºC, sendo que um (12,5%) estava abaixo de 40ºC. Em 37 (57,8%) alimentos encontrou-se resultado <0,3NMP/g. Nenhuma amostra apresentou valor superior ao permitido pela legislação22 que estabelece contagem máxima de 2x10NMP/g para coliformes a 45ºC, diferente de Costa et al.23 que encontraram valores acima do permitido para saladas de vegetais em Palmas (TO). Contagem de coliformes a 45ºC acima do padrão também foi detectada em 12 (92,3%) das amostras de hortaliças e 9 (64,3%) das amostras de frutas servidas em restaurante self-service24.

Com relação às bactérias aeróbias mesófilas, 7 (11%) amostras apresentaram contagem maior ou igual a 106 UFC/g, sendo cinco alimentos frios e dois alimentos quentes. Azerêdo et al.21 encontraram contagens entre 8x102 a 8x105 UFC/g. A RDC nº 12 de 2 de janeiro de 200122 não apresenta limites para contagens de bactérias aeróbias mesófilas em alimentos prontos para consumo, alimentos servidos em restaurantes e similares, entretanto, contagens acima de 106 UFC/g podem indicar exposição à contaminação ambiental, permanência por tempo prolongado em temperatura abusiva, armazenamento em temperatura inadequada de refrigeração, bem como manipulação excessiva.

Os sete alimentos com contagem de bactérias aeróbias mesófilas maior ou igual a 106 UFC estavam expostos em temperaturas abusivas. Dentre os alimentos frios, o salpicão estava acima de 21ºC. Os dois alimentos quentes estavam abaixo de 60ºC, um dos alimentos era rocambole de carne recheado com mussarela.

Duas amostras (6,2%), provenientes do mesmo restaurante, apresentaram Staphylococcus coagulase positivo acima do limite de 103UFC/g22, sendo um alimento quente, o rocambole de carne recheado com mussarela com 5,7x104 UFC/g, e um alimento frio, o salpicão com 9,85x104 UFC/g; semelhante ao estudo de Rossi et al.25 que encontraram 7,1% das amostras de pratos quentes em restaurantes self-service em Uberlândia, MG, com contagem acima do padrão.

O rocambole estava à temperatura de 57,8ºC; apresentou 15 NMP/g de coliformes a 45ºC; coliformes a 35ºC maior que 240NMP/g e 1,03x106 UFC/g de bactérias aeróbias mesófilas. O salpicão estava a 28,3ºC, também apresentou contaminação por coliformes a 45ºC em nível de 2,8NMP/g; coliformes a 35ºC maior que 240NMP/g, e 9,42x105 UFC/g de bactérias aeróbias mesófilas, indicando qualidade sanitária insatisfatória. A relação entre as temperaturas medidas e as contagens dos micro-organismos indicadores de qualidade sanitária desses dois alimentos mostra que a temperatura dos alimentos na distribuição tem um papel relevante na segurança dos alimentos servidos.

Pode-se inferir que rocambole e salpicão, poderiam ter sido contaminados por Staphylococcus coagulase positivo durante a manipulação. A presença de S. aureus nos alimentos é interpretada como indicativo de contaminação proveniente dos manipuladores, esse tipo de bactéria pode causar toxi-infecções veiculadas por alimentos se as boas práticas de higiene não forem implementadas e seguidas26.

No presente estudo 100% das amostras apresentaram ausência de Salmonella, resultado idêntico ao de Damasceno et al.27; Zoli et al.28. Entretanto, Momesso et al.21 detectaram Salmonella sp. em quatro amostras, bisteca suína, salsicha e salada de maionese, sendo que, neste último, maionese industrializada foi utilizada na preparação, sugerindo que a contaminação de Samonella poderia ter sido originada por contaminação cruzada. Barreto & Vieira29 afirmaram que atualmente a Salmonella é um dos micro-organismos mais frequentemente envolvido em casos de surtos de doenças de origem alimentar, em diversos países, inclusive no Brasil.

Pudemos concluir que os restaurantes self service analisados apresentam falhas que podem comprometer a higiene dos alimentos e em consequência acarretar riscos à saúde. A Resolução RDC nº 216, de 15 de setembro de 200430 determina que o manipulador deve proceder de maneira adequada e segura na manipulação, preparo, acondicionamento, armazenamento, transporte e exposição dos alimentos em restaurantes entre outros.

A temperatura dos alimentos dispostos na distribuição encontrava-se inadequada, em vários restaurantes, tanto para os alimentos quentes como para os frios, esta irregularidade é considerada crítica na oferta de alimento seguro, podendo comprometer a saúde dos consumidores. Apesar de existirem regras de higiene e manuseio dos alimentos em restaurantes, ainda existem riscos para a saúde associados a alimentos servidos em restaurante self-service, visto que muitos manipuladores não as seguem. Portanto é necessário ter cuidado com a qualidade dos serviços prestados por estes estabelecimentos, principalmente no que se refere à higiene dos manipuladores, bem como à higienização de equipamentos e utensílios.

A contaminação via alimentos é uma das maiores causas de doenças e, consequentemente, internações hospitalares, em todo o mundo. Vários são os agentes patogênicos que podem ser veiculados por alimentos contaminados, e causar doenças. Em restaurantes self-service a contaminação geralmente decorre do modo inapropriado na manipulação e distribuição dos alimentos prontos para consumo.

Alguns alimentos apresentaram contagem de Staphylococcus coagulase positiva, em níveis maiores que os permitidos pela legislação brasileira. As altas contagens de micro-organismos potencialmente patogênicos em alguns alimentos é resultado da soma de fatores que incluem desde questões físico-estruturais, manipulação inadequada dos alimentos, bem como exposição excessiva do alimento ao ambiente e ao comensal, em restaurantes self-service. Tais achados podem contribuir para alertar as autoridades sanitárias para o risco potencial, de alimentos servidos em restaurantes self-service.

COLABORADORES

M.G. ALVES participou da elaboração do projeto, da coleta dos dados e da análise e interpretação dos resultados. M. UENO participou da elaboração do projeto, da interpretação dos resultados e da redação do artigo.

Recebido em: 29/7/2008

Versão final reapresentada em: 14/4/2009

Aprovado em: 6/10/2009

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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    08 Dez 2010
  • Data do Fascículo
    Ago 2010

Histórico

  • Aceito
    06 Out 2009
  • Revisado
    14 Abr 2009
  • Recebido
    29 Jul 2008
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