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Avaliação nutricional e consumo alimentar de pacientes com doença celíaca com e sem transgressão alimentar

Nutritional evaluation and food intake of celiac disease patients compliant or not with a gluten-free diet

Resumos

OBJETIVO: Avaliar o estado nutricional e a ingestão de energia e de macronutrientes de pacientes com diagnóstico de doença celíaca que transgrediam ou não a dieta isenta de glúten. MÉTODOS: Foram estudados 63 pacientes com doença celíaca: 34 crianças e 29 adolescentes. Transgressão à dieta isenta de glúten foi caracterizada por meio da dosagem sérica do anticorpo antitransglutaminase tissular recombiante humana. O estado nutricional foi avaliado com base nos escores-Z de peso/idade, estatura/idade e no índice de massa corporal. A ingestão alimentar foi avaliada por meio do inquérito alimentar de 24 horas. RESULTADOS: A transgressão à dieta sem glúten foi constatada em 41,2% das crianças e em 34,5% dos adolescentes. Nas crianças com transgressão alimentar, a média do escore-Z de estatura/idade foi inferior à das crianças do grupo que não transgredia (p=0,024). Todavia, o grupo com transgressão apresentou maior escore-Z do índice de massa corporal em relação aos que não transgrediam (p=0,021). Os adolescentes que não transgrediam apresentaram maior índice de massa corporal quando comparados aos que transgrediam a dieta (p=0,037). Em relação à ingestão alimentar, não se observou diferença estatística entre os grupos. Todavia, cerca de 70,0% das crianças e adolescentes apresentaram consumo de energia acima de 120,0% da recomendação. CONCLUSÃO: As crianças que transgrediam a dieta apresentaram menor escore-Z de estatura/idade e maior escore-Z para índice de massa corporal do que crianças que seguem sem transgressões alimentares. Os adolescentes que não transgrediam a dieta apresentaram maior média de índice de massa corporal quando comparados aos que transgrediam a dieta. Consumo energético elevado foi observado tanto nas crianças quanto nos adolescentes.

Adolescente; Criança; Doença celíaca; Estado nutricional


OBJECTIVE: This study evaluated the nutritional status and intakes of energy and macronutrients of celiac disease patients compliant or not with a gluten-free diet. METHODS: We studied 63 patients with celiac disease, 34 children and 29 adolescents. Noncompliance with a gluten-free diet was characterized by detection of antibodies to tissue transglutaminase in serum by recombinant human tissue transglutaminase antigen. Nutritional status was classified according to the weight-for-age, height-for-age, and body mass index Z-scores. Dietary intake was assessed by a 24-hour recall. RESULTS: The percentages of children and adolescents noncompliant with a gluten-free diet were 41.2% and 34.5%, respectively. Noncompliant children had a lower mean height-for-age Z-score than compliant children (p=0.024). However, noncompliant children had higher mean body mass index Z-score than compliant children (p=0.021). On the other hand, compliant adolescents had higher BMI than noncompliant adolescents (p=0.037). The food intake between the groups did not differ, but the energy intakes of 70.0% of the children and adolescents exceeded 120.0% of their requirements. CONCLUSION: Children who do not comply with a gluten-free diet have lower height-for-age Z-scores and higher body mass index Z-scores than children who comply. Compliant adolescents have a higher mean body mass index than noncompliant adolescents. High energy intake was observed in both children and adolescents.

Adolescent; Child; Celiac disease; Nutritional status


ORIGINAL

Avaliação nutricional e consumo alimentar de pacientes com doença celíaca com e sem transgressão alimentar

Nutritional evaluation and food intake of celiac disease patients compliant or not with a gluten-free diet

Cristiana Santos AndreoliI; Ana Paula Bidutte CortezII; Vera Lucia SdepanianIII; Mauro Batista de MoraisIII

IInstituto Federal de Ouro Preto, Curso Superior de Tecnologia em Gastronomia. Ouro Preto, MG, Brasil

IIDoutoranda, Universidade Federal de São Paulo, Escola Paulista de Medicina, Programa de Pós-Graduação em Nutrição, Departamento de Pediatria. São Paulo, SP, Brasil

IIIUniversidade Federal de São Paulo, Escola Paulista de Medicina, Departamento de Pediatria. R. Marselhesa, 630, Vila Clementino, 04020-060, São Paulo, SP, Brasil

Endereço para correspondência Endereço para correspondência: MB Morais. E-mail: < mbmorais@osite.com.br>

RESUMO

OBJETIVO: Avaliar o estado nutricional e a ingestão de energia e de macronutrientes de pacientes com diagnóstico de doença celíaca que transgrediam ou não a dieta isenta de glúten.

MÉTODOS: Foram estudados 63 pacientes com doença celíaca: 34 crianças e 29 adolescentes. Transgressão à dieta isenta de glúten foi caracterizada por meio da dosagem sérica do anticorpo antitransglutaminase tissular recombiante humana. O estado nutricional foi avaliado com base nos escores-Z de peso/idade, estatura/idade e no índice de massa corporal. A ingestão alimentar foi avaliada por meio do inquérito alimentar de 24 horas.

RESULTADOS: A transgressão à dieta sem glúten foi constatada em 41,2% das crianças e em 34,5% dos adolescentes. Nas crianças com transgressão alimentar, a média do escore-Z de estatura/idade foi inferior à das crianças do grupo que não transgredia (p=0,024). Todavia, o grupo com transgressão apresentou maior escore-Z do índice de massa corporal em relação aos que não transgrediam (p=0,021). Os adolescentes que não transgrediam apresentaram maior índice de massa corporal quando comparados aos que transgrediam a dieta (p=0,037). Em relação à ingestão alimentar, não se observou diferença estatística entre os grupos. Todavia, cerca de 70,0% das crianças e adolescentes apresentaram consumo de energia acima de 120,0% da recomendação.

CONCLUSÃO: As crianças que transgrediam a dieta apresentaram menor escore-Z de estatura/idade e maior escore-Z para índice de massa corporal do que crianças que seguem sem transgressões alimentares. Os adolescentes que não transgrediam a dieta apresentaram maior média de índice de massa corporal quando comparados aos que transgrediam a dieta. Consumo energético elevado foi observado tanto nas crianças quanto nos adolescentes.

Termos de indexação: Adolescente; Criança; Doença celíaca; Estado nutricional.

ABSTRACT

OBJECTIVE: This study evaluated the nutritional status and intakes of energy and macronutrients of celiac disease patients compliant or not with a gluten-free diet.

METHODS: We studied 63 patients with celiac disease, 34 children and 29 adolescents. Noncompliance with a gluten-free diet was characterized by detection of antibodies to tissue transglutaminase in serum by recombinant human tissue transglutaminase antigen. Nutritional status was classified according to the weight-for-age, height-for-age, and body mass index Z-scores. Dietary intake was assessed by a 24-hour recall.

RESULTS: The percentages of children and adolescents noncompliant with a gluten-free diet were 41.2% and 34.5%, respectively. Noncompliant children had a lower mean height-for-age Z-score than compliant children (p=0.024). However, noncompliant children had higher mean body mass index Z-score than compliant children (p=0.021). On the other hand, compliant adolescents had higher BMI than noncompliant adolescents (p=0.037). The food intake between the groups did not differ, but the energy intakes of 70.0% of the children and adolescents exceeded 120.0% of their requirements.

CONCLUSION: Children who do not comply with a gluten-free diet have lower height-for-age Z-scores and higher body mass index Z-scores than children who comply. Compliant adolescents have a higher mean body mass index than noncompliant adolescents. High energy intake was observed in both children and adolescents.

Indexing terms: Adolescent; Child; Celiac disease; Nutritional status.

INTRODUÇÃO

A Doença Celíaca (DC) é uma enteropatia medida por linfócitos T, induzida pelo glúten, que acomete indivíduos geneticamente predispostos1,2. O tratamento da DC consiste na total e definitiva exclusão do glúten da dieta. A exclusão do glúten da dieta deve ser realizada tanto por pacientes sintomáticos quanto por assintomáticos, para melhorar a qualidade de vida e reduzir os riscos futuros de morbidade e mortalidade3,4. O glúten está presente nos seguintes cereais: trigo, centeio, cevada, malte, aveia e derivados. A dieta isenta de glúten deve satisfazer as necessidades nutricionais do paciente com DC, proporcionando nutrição adequada por atender as necessidades de energia, de macronutrientes, de minerais e de oligoelementos5.

Evidentemente, obediência à dieta isenta de glúten requer uma marcante mudança no hábito alimentar dos pacientes com DC6. Estudos mostraram que a adesão dietética por parte dos pacientes com DC nem sempre é rigorosa, ocorrendo transgressões frequentes, principalmente na adolescência7-9.

A exclusão do glúten pode levar à ingestão de alimentos hipercalóricos e consequentemente ao sobrepeso secundário10. O acompanhamento dietético e a avaliação nutricional devem ser realizados desde o início do tratamento a fim de se evitar ganho de peso excessivo ou insatisfatório11.

O objetivo do presente estudo foi comparar o estado nutricional e o consumo alimentar de crianças e adolescentes com diagnóstico de doença celíaca em dieta isenta de glúten com ou sem transgressão alimentar.

MÉTODOS

Neste estudo transversal, foram avaliados 34 crianças e 29 adolescentes com diagnóstico de DC atendidos consecutivamente e em tratamento no Ambulatório da Disciplina de Gastroenterologia Pediátrica da Escola Paulista de Medicina, Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). Como critério de inclusão, foram selecionadas todas as crianças e os adolescentes que estavam em tratamento por um período superior a 12 meses.

O diagnóstico de DC foi confirmado de acordo com os critérios da Sociedade Europeia de Gastroenterologia Pediátrica e Nutrição12. Conforme mencionado acima, o diagnóstico de doença celíaca e a prescrição de dieta com exclusão do glúten haviam sido feitos há pelo menos um ano. Conforme recomendado pela Organização Mundial da Saúde (OMS), os menores de dez anos foram classificados como crianças, e os maiores de dez anos como adolescentes13.

O estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Federal de São Paulo, Protocolo número 850/01, e todos os pais ou responsáveis assinaram um Termo de Consentimento Livre e Esclarecido antes da inclusão na amostra.

O peso e a estatura foram aferidos de acordo com as recomendações de Frisancho14. Para a pesagem, foi utilizada uma balança da marca Filizolaï, com escala de divisão de 100 gramas. A estatura das crianças e dos adolescentes foi aferida por um estadiômetro vertical com precisão de 1mm.

Os índices antropométricos utilizados foram os escores-Z de peso/idade, estatura/idade e o Índice de Massa Corporal (IMC) com adequação para idade e sexo. Os indicadores antropométricos foram calculados com base nos valores de referência das curvas da OMS, com o emprego do programa Anthro versão 3.2.2 para crianças de até 5 anos e do Anthro Plus versão 1.0.3 para crianças e adolescentes de 5 a 19 anos15-17. De acordo com a recomendação da OMS15, deficit nutricional foi caracterizado quando o escore-Z foi menor do que -2,0 desvios-padrão.

Para mensurar a dobra cutânea triciptal, foi utilizado um adipômetro Lange Skinfold Caliper: cada medida foi realizada três vezes e a média das mensurações foi utilizada na interpretação dos resultados18 .

Para avaliar o consumo alimentar habitual dos pacientes, foi aplicado um inquérito alimentar que consiste no relato de todos os alimentos consumidos rotineiramente no período de 24 horas19. Foi analisado o consumo de energia, carboidrato, proteína e lipídeo de acordo com o programa Sistema de Apoio à Decisão em Nutrição, versão 2.520.

Os valores dos nutrientes foram avaliados de acordo com as recomendações da Ingestão Dietética Recomendada (DRI - Dietary Recommended Intakes). Para energia, foram utilizados os valores estipulados pela Necessidade Estimada de Energia (EER - Estimated Energy Requeriments). Essa recomendação de energia considera o nível de atividade física praticada diariamente; no presente estudo, foi adotada a recomendação de energia com o menor nível de atividade física, ou seja, apenas atividades típicas diárias, excluindo-se os exercícios físicos como corridas e caminhadas. Os valores de Necessidade Média Estimada (EAR - Estimated Average Requeriments) foram utilizados de acordo com a idade e o sexo, sendo 100,0g/dia para carboidratos e entre 0,66 e 0,87g/kg/dia para proteínas. Não há valores estipulados para lipídeos na faixa etária estudada21.

Para a distribuição de carboidrato, proteína e lipídeo em relação ao Valor Energético Total (VET), foram utilizados os seguintes valores: de 1 a 3 anos entre 45% e 65% para carboidrato, 30% e 40% para lipídeo e 5% e 20% para proteína; de 4 a 18 anos entre 45% e 65% para carboidrato, 25% e 35% para lipídeo e 10% e 30% para proteína21.

Foi realizada a comparação da ingestão alimentar entre os pacientes que transgrediam e os que não transgrediam a dieta isenta de glúten.

A transgressão à dieta isenta de glúten foi avaliada de acordo com a dosagem sérica do anticorpo antitransglutaminase tissular recombinante humana da classe Imunoglobina A (IgA). O teste foi realizado segundo a técnica de Enzyme-Linked Immunosorbent (ELISA), de acordo com as normas do fabricante (kit tTG® - The Binding Site). O resultado foi considerado positivo, ou seja, transgressor à dieta isenta de glúten quando o valor era superior a 4U/mL. A dosagem de IgA foi realizada em todos os pacientes e considerada na obediência à dieta isenta de glúten quando o anticorpo antitransglutaminase era negativo com a IgA sérica normal.

Os cálculos estatísticos foram realizados com auxílio do programa Sigma Stat 3.522, fixando-se em 5% o nível para rejeição da hipótese de nulidade. De acordo com a distribuição das variáveis, foram empregados testes estatísticos paramétricos e não paramétricos.

RESULTADOS

A idade média das 34 crianças foi 5,4±2,4 anos, e dos 29 adolescentes, de 13,3±2,5 anos. Transgressão à dieta foi caracterizada em 41,2% (14/34) das crianças e em 34,5% (10/29) dos adolescentes: o teste do Qui-quadrado não mostrou diferença estatisticamente significante (p=0,698). Não foi observada diferença na ocorrência de transgressão alimentar entre os sexos masculino (6/15; 40,0%) e feminino (18/48; 37,5%) de acordo com o teste do Qui-quadrado (p=0,896).

Não houve diferença estatisticamente significante em relação à idade e ao IMC entre as crianças que transgrediam a dieta isenta de glúten e as que não transgrediam (Tabela 1). Por sua vez, os adolescentes que transgrediam a dieta apresentaram peso inferior em comparação aos que não transgrediam a dieta. Nos adolescentes que seguiam a dieta, foi encontrado IMC - (kg/m2) superior ao encontrado nos adolescentes que transgrediam a dieta, sendo a diferença estatisticamente significante. Com relação à estatura, foi observado que as crianças que transgrediam a dieta apresentavam menores valores do escore-Z estatura/idade em relação às que não transgrediam, sendo a diferença estatisticamente significante. Vale ressaltar que 11,8% (4/34) das crianças apresentaram deficit de estatura/idade (<2 desvios-padrão). Em relação ao escore-Z do IMC, foi observado que as crianças que transgrediam a dieta apresentaram maior escore-Z do IMC quando comparadas às que não transgrediam (p=0,021). Dessa forma, observou-se que 5,9% das crianças estavam acima do peso (>2 desvios-padrão). Nos adolescentes, não foram observadas diferenças estatísticas no escore-Z de estatura/idade e de IMC segundo a ocorrência ou não de transgressão à dieta sem glúten. Um adolescente era obeso (escore-Z do IMC maior que 2 desvios-padrão). Entretanto, observou-se que 8 (27,6%) dos 29 adolescentes apresentaram deficit de estatura/idade (escore-Z <2 desvios-padrão). Deficit de estatura/idade foi mais frequente (p=0,008, teste exato de Fisher) nos adolescentes que transgrediam a dieta isenta de glúten (6/10) do que nos que não transgrediam a dieta (2/19). Quanto à dobra cutânea triciptal e à adequação percentual da dobra cutânea em relação ao referencial, não se observou diferença estatisticamente significante entre os dois grupos.

O consumo alimentar de energia e de macronutrientes de crianças e de adolescentes é mostrado, respectivamente, nas Tabela 2 e 3. Não se observou diferença estatisticamente significante em relação à ingestão de energia e de macronutrientes pelas crianças com e sem transgressão da dieta isenta de glúten (Tabela 2). Nota-se que a média da distribuição de carboidrato, proteína e lipídeo, em relação ao total de energia ingerida (VET), encontra-se nas faixas estabelecidas pelas recomendações nutricionais (DRI). Contudo, considerando-se os valores individuais de ingestão alimentar, apenas 50,0% (12/24) apresentaram ingestão adequada para todos os macronutrientes (carboidrato, proteína e lipídeo) em relação ao VET. Todavia, não foi observada relação entre a adequação do percentual de macronutrientes e as crianças que seguem a restrição alimentar (6/14; 42,9%) e as crianças que não seguem (6/20; 30,0%) quando aplicado o teste exato de Fisher (p=0,487). Observando, ainda, a inadequação da distribuição de macronutrientes, nota-se que 8/24 (33,3%) apresentam consumo inferior para carboidrato, um deles apresenta consumo superior para proteína. Consumo superior de carboidrato foi observado em 8,3% (2/24) e um deles também apresentou baixo consumo de lipídeo. Um paciente (4,2%) apresenta baixo consumo de proteína e um paciente (4,2%) apresenta baixo consumo de carboidrato.

Não houve diferença estatisticamente significante em relação à ingestão de energia e nutrientes entre adolescentes com e sem transgressão da dieta isenta de glúten (Tabela 3). Analisando os valores individuais dos 17 adolescentes em relação ao VET, apenas 41,2% apresentaram ingestão adequada para todos os nutrientes. Vale ressaltar que 35,3% dos adolescentes apresentavam ingestão superior a 35,0% do VET recomendado para a fração lipídica, e três deles (17,6%) apresentaram também menor consumo percentual de carboidrato. Observaram-se dois (11,8%) adolescentes com baixo consumo percentual de lipídeos, mas um deles apresentava elevado consumo de carboidratos. Baixo consumo de proteína foi notado em um adolescente (5,9%), e baixo consumo no percentual de carboidrato foi observado em um único paciente.

Ao comparar a ingestão de energia com as DRI, foi possível verificar quantos indivíduos não atingiram o valor médio recomendado. Na Tabela 4, observou-se, quanto à energia, que 17 (70,8%) das 24 crianças apresentavam ingestão acima de 120,0% do EER. Entretanto, ingestão abaixo de 80,0% foi constatada em apenas uma criança (4,2%). De forma semelhante, considerando os adolescentes, nota-se que 12 (70,6%) apresentam consumo superior a 120,0%, todavia foi observada ingestão inferior a 80,0% do EER em dois (11,8%) adolescentes.

Na Tabela 5, podem ser observados os valores recomendados nas DRI para a ingestão de carboidratos e proteínas. Observou-se que 93,3% das crianças não transgressoras apresentaram consumo superior ao recomendado pela Recommended Dietary Allowances (RDA) para carboidratos (>130g/dia, e entre as crianças que transgrediram a dieta, 100% apresentaram consumo acima do RDA. Quanto aos adolescentes que transgrediram e aos que não transgrediram, observou-se, respectivamente, que 100% e 80% deles apresentaram um consumo superior ao recomendado pela RDA. O mesmo pode ser observado em relação às recomendações para o consumo de proteínas (g/kg/dia): 100% das crianças e dos adolescentes que transgrediram a dieta apresentaram consumo superior à recomendação da RDA.

DISCUSSÃO

A proposta do estudo foi avaliar o estado nutricional e o consumo da ingestão alimentar de crianças e de adolescentes com DC, visto que o tratamento da doença é basicamente realizado com a retirada do glúten da dieta durante toda a vida. Contudo, a adesão à dieta é de fundamental importância para garantir o desenvolvimento pôndero-estatural adequado, reduzindo, assim, os riscos de deficiências de macro e de micronutrientes e a ocorrência de várias complicações, inclusive doenças malignas, na idade adulta10,23.

A caracterização da transgressão à dieta pode ser realizada segundo as informações do próprio paciente, determinação de anticorpos indicativos de atividade da DC e alterações morfológicas na biópsia do intestino delgado. A transgressão à dieta sem glúten, neste estudo, foi caracterizada com o emprego da dosagem do anticorpo antitransglutaminase tissular. A obediência à dieta sem glúten foi estabelecida quando o antitransglutaminase tissular foi negativo (<4U/mL), enquanto a transgressão à dieta sem glúten foi caracterizada quando a concentração do antitransglutaminase tissular foi igual ou superior a 4U/mL. A utilização de marcadores sorológicos - como os anticorpos antigliadina, antiendomísio e antitransglutaminase -, para a avaliação da ocorrência de transgressão à dieta isenta de glúten vem sendo realizada por diversos autores24-27. No presente estudo, a transgressão à dieta foi caracterizada em 41,2% das crianças e em 34,5% dos adolescentes que realizaram a determinação do antitransglutaminase tissular, não apresentando diferença estatística entre os grupos. De acordo com os pais, a rápida recuperação dos filhos que seguem a dieta sem glúten é motivo para adequar seus padrões aos novos hábitos alimentares, mas há grande preocupação em relação às escolas e às creches que os filhos frequentam28. As transgressões à dieta isenta de glúten ocorrem com maior frequência fora do ambiente domiciliar, ou seja, em decorrência das poucas opções de alimentos sem glúten, as crianças acabam por consumir lanches com glúten11. Em estudo realizado por Roma et al.29, 31 das 73 crianças avaliadas (42%) transgrediam a dieta isenta de glúten em razão da baixa palatabilidade dos alimentos, por comer fora de casa, pela baixa disponibilidade de produtos sem glúten, ausência de sintomas no diagnóstico da doença e a própria dificuldade de identificar a presença de glúten nos rótulos dos produtos.

A adolescência é um período que acompanha várias transformações biopsicossociais e o seguimento de uma dieta isenta de glúten pode se tornar difícil. Com isso, alto índice de transgressão à dieta entre os adolescentes foi observado por Mayer et al.30, que constataram transgressão em 35,0% dos adolescentes avaliados: 11,4% referiam consumo ocasional de glúten e 23,6% relataram o consumo de dieta normal com glúten. Foi observado por Sdepanian et al.31 que a transgressão ao glúten foi maior nos adolescentes (29,0%) do que nas crianças (26,4%). Semelhante aos achados do presente estudo, Mariani et al.32 observaram 53,0% (25/47) de transgressão à dieta isenta de glúten em adolescentes.

Estudo em adultos jovens avaliou a aderência à dieta isenta de glúten de acordo com a idade em que o diagnostico da DC foi realizado. Nesse sentido, observou-se que mais de 80% dos adultos celíacos que tinham sido diagnosticados antes dos quatro anos de idade seguiam a dieta isenta de glúten em comparação aos 36% dos pacientes diagnosticados com mais de quatro anos de idade, sendo a diferença estatisticamente significante. Concluiu-se, assim, que quanto antes for realizado o diagnóstico, maior é a aderência dos pacientes à restrição dietética33.

O envolvimento por parte da família e o grau de conhecimento em relação à doença auxiliam no seguimento e melhor adesão ao tratamento dietético11,31. Nesta pesquisa, constatou-se que a maior parte das transgressões ocorria fora de casa, em festas e encontros com parentes ou amigos (dados não mostrados), o que corrobora a literatura.

A aderência à dieta isenta de glúten é um desafio, especialmente porque exige a mudança do hábito alimentar do paciente com DC assim como de toda a família5,6. A monotonia na alimentação pode levar a criança à diminuição do apetite ou à recusa alimentar, agravada pela dificuldade de elaboração de preparações sem glúten5, o que pode prejudicar o estado nutricional.

Em adolescentes, a falta de adesão à dieta isenta de glúten se associa com menores valores de estatura33,34. Neste estudo, apesar de a média do escore-Z de estatura/idade ser inferior nos adolescentes que transgrediam a dieta, o estudo estatístico não revelou diferença significante. Por sua vez, o peso e o IMC dos adolescentes que transgrediam a dieta sem glúten foram inferiores aos que não transgrediam, sendo a diferença estatisticamente significante. Esses achados são concordantes com outro estudo35 que demonstrou que pacientes com DC em seguimento à dieta isenta de glúten podem apresentar algum grau de desnutrição, com diminuição do peso corporal e do IMC secundários à recuperação incompleta da mucosa intestinal decorrente da falta de adesão à dieta sem glúten8. Assim, deve ser enfatizado que, com a adesão à dieta sem glúten, os pacientes com doença celíaca atingem estatura normal, reestruturam tecido mineral ósseo e composição corporal35-38. Ao atingir a idade adulta, os pacientes em dieta sem glúten apresentam estatura similar ou até superior quando comparados ao grupo-controle35,39.

Os resultados mostraram, com diferença estatisticamente significante, que as crianças que transgrediam a dieta isenta de glúten apresentaram média do escore-Z de estatura/idade inferior às crianças que não transgrediam. Já o inverso foi observado para o escore-Z do IMC. Esse fato pode ser explicado pelas próprias transgressões alimentares, que causam comprometimento da estatura nos indivíduos. Para a recuperação de deficit de estatura, é necessário um período maior do que o necessário para a normalização de peso: 2 a 3 anos, em média, contra 10 a 12 meses após o início do tratamento dietético, respectivamente38,40,41. No critério de inclusão deste estudo, definiu-se que o diagnóstico de doença celíaca e a prescrição de dieta sem glúten tivessem sido realizados há pelo menos um ano, com a expectativa de que esse período fosse suficiente para a completa recuperação ponderal e, ao menos, recuperação parcial de estatura.

Em nosso estudo, observou-se que 5,9% das crianças estavam acima do peso (escore-Z para IMC maior que dois desvios-padrão). Em estudo realizado com 149 crianças com DC, foi observado que 3% delas eram obesas. Isso pode ter relação com a substituição dos carboidratos que contém glúten pelo aumento no consumo de gorduras e proteínas, bebidas hiperenergéticas e ainda um baixo consumo de fibras42. É provável, também, que esse resultado seja reflexo do processo de transição nutricional que vem ocorrendo em vários países, inclusive no Brasil.

Apesar das limitações em relação aos métodos empregados para avaliar o consumo alimentar, a utilização de outros métodos associados ao registro alimentar de 24 horas pode contribuir com maiores detalhes para a avaliação de possíveis transgressões alimentares. É importante ressaltar que apesar de o método de avaliação de consumo alimentar ser um único registro de 24 horas, fator limitante neste estudo, tratava-se de um dia habitual.

Apesar de não se ter observado diferença estatística significante em relação ao consumo diário estimado de energia e macronutrientes, nota-se que as crianças que seguem a dieta isenta de glúten têm uma ingestão superior tanto de energia quanto dos macronutrientes (em gramas) em relação às crianças que transgridem. Já nos adolescentes, o consumo energético proveniente dos carboidratos e das gorduras é maior no grupo que não segue a dieta. Mariani et al. 32 observaram que adolescentes que não transgrediam a dieta apresentavam, com diferença estatisticamente significante, maior consumo de proteínas e menor consumo de carboidratos quando comparados a adolescentes que não seguiam a dieta sem glúten.

Consumo insuficiente de energia, inferior a 80,0% do RDA, foi observado em apenas 4,2% das crianças e 11,8% dos adolescentes. Contudo, consumo acima de 110,0% da RDA foi encontrado em 79,2% das crianças e 82,3% dos adolescentes. Dados semelhantes foram observados em estudo realizado com adolescentes, tendo sido observado um consumo de 110,4% das RDA32.

O consumo proteico acima das recomendações é documentado na população normal de nosso meio32,43 e em adolescentes celíacos32. Portanto, não foi inesperado o fato de que 100% das crianças com ou sem transgressão alimentar e os adolescentes que transgrediam a dieta superaram a recomendação do RDA para proteínas. Entre os adolescentes que não transgrediam a dieta, um grande percentual (70%) também apresentou consumo superior ao recomendado. O seguimento estrito da dieta sem glúten pode piorar ainda mais o desequilíbrio da dieta dos adolescentes, podendo colocar esse grupo em risco nutricional, por isso, deve-se dar importância ao equilíbrio nutricional das dietas, assim como à obediência em relação à restrição alimentar32.

Novos estudos são necessários para avaliar a relação entre a condição nutricional e as características clínicas dos pacientes com DC no momento do diagnóstico, como também fatores associados e ou determinantes das transgressões na dieta, permitindo que sejam elaboradas estratégias para reduzir a frequência de transgressões, o que poderá contribuir positivamente na melhoria da qualidade de vida dos pacientes com DC.

Clinicamente, a forma mais barata e simples para avaliar transgressões alimentares é por meio do relato do paciente, realizado normalmente durante a anamnese e a avaliação do consumo alimentar. A determinação de anticorpos indicativos de atividade da DC e alterações morfológicas na biópsia do intestino delgado são métodos mais invasivos e caros. Diversos artigos discutem a dificuldade dos pacientes no seguimento da dieta5,6,11,28,29,31,44. A utilização de uma cozinha experimental, a elaboração de receitas e a divulgação com material informativo sobre glúten são fundamentais para esclarecer as principais dúvidas dos pacientes ou de seus responsáveis.

Em síntese, a transgressão à dieta isenta de glúten foi maior nas crianças do que nos adolescentes, entretanto a diferença não foi estatisticamente significante. O escore-Z de estatura/idade foi menor nas crianças que transgrediam a dieta isenta de glúten, porém esse grupo apresentou escore-Z do IMC maior do que as crianças que seguiam a dieta. Os adolescentes que não transgrediam a dieta apresentaram melhor peso e IMC em relação aos que não seguiam a dieta. Elevado consumo energético foi observado tanto nas crianças como nos adolescentes independentemente da obediência à dieta sem glúten. Portanto, é importante que, durante o tratamento da doença celíaca, os pacientes sejam avaliados, periodicamente, para garantir adesão à dieta sem glúten e para serem orientados quanto à dieta, tanto do ponto de vista qualitativo como quantitativo, a fim de se obterem hábitos alimentares que assegurem o estado nutricional adequado e menor risco de complicações no futuro.

COLABORADORES

CS Andreoli foi responsável pela elaboração do artigo e pela coleta e análise dos dados. APB Cortez foi responsável pela análise dos dados coletados, elaboração e redação do artigo. VL Sdepanian foi responsável pela elaboração do artigo. MB de Morais orientou o trabalho, foi responsável pela análise dos dados e elaboração do artigo.

Recebido em: 22/6/12

Versão final em: 30/10/12

Aprovado em: 13/11/12

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  • Endereço para correspondência:
    MB Morais.
    E-mail: <
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      23 Jul 2013
    • Data do Fascículo
      Jun 2013

    Histórico

    • Recebido
      22 Jun 2012
    • Aceito
      13 Nov 2012
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