Acessibilidade / Reportar erro

Caminhos e descaminhos da Ortodontia no Brasil

Orthodontics - march and countermarch in Brazil

Resumos

Devido à constatação do aumento do número de ortodontistas e de Cursos de Ortodontia, delineou-se este estudo cujo objetivo foi sondar o futuro da especialidade. Avaliaram-se formulários respondidos por 413 alunos e 130 professores de 42 Cursos de Especialização dos 73 relacionados no Catálogo da Associação Brasileira de Ortodontia e Ortopedia Facial (ABOR) 1999/2000. Obteve-se uma taxa de resposta de 57,53%. A amostra foi dividida em: alunos e professores e nas regiões: Sul + Sudeste e Centro-Oeste + Nordeste. A mediana de idade do pós-graduando foi 30,8 e a do professor 42,8 anos. O índice preconizado pela Organização Mundial de Saúde é de 1 CD para 1.500 habitantes. O Brasil com uma população de 175 milhões e 175.637 dentistas, apresenta 1 CD para 996 habitantes. O Reino Unido apresenta 1/2.000, a França 1/1.519, e a Itália 1/1.333 (1998). Com população 40% e renda 82% menor do que os EUA, o Brasil possui quase o triplo de cursos de Ortodontia (n=124, 2001), graduando 344 novos ortodontistas/ ano. Considerando-se os 175.637 dentistas, o número de especialistas ainda é pequeno no Brasil. Para a maioria dos entrevistados, o mercado de trabalho foi considerado pessimista/saturado (58,7%) devido aos cursos não oficiais (85,1%) e à concorrência por clínicos-gerais (63,4%). Medidas proibitivtas de cursos não regulamentados foram desejáveis pela maior parte (88,3%). Os honorários foram considerados insuficientes para 44,8% e satisfatórios para 47,3%. O incremento da renda é feito com a clínica-geral (58,2%) pelos alunos e com as atividades docentes (73,3%) pelos professores. A maioria não estimularia seu filho a estudar Odontologia hoje (66,9%) e a principal fonte de indicação provém dos pacientes (89,3%). Outro notável achado foi que as documentações intermediárias e finais não estão sendo realizadas por 82,8% dos ortodontistas.

Ortodontistas brasileiros; Mercado de trabalho; Gerenciamento de consultório; Marketing


Due to the increase in the number of orthodontists and Graduate Programs, this study was outlined aiming to the future of our Speciality. Questionaires were sent to 413 students and 130 teachers in 42 Graduate Programs. Respondents achieved 57.53%. The sample included respondents from several areas in Brazil. The average age of the students was 30.8 and the teachers' 42,8. The average index suggested by the Health World Organization is 1 dentist for each 1.500 habitants. Brazil has a population of 175 millions people and has 175 thousand dentists, one for each 996 inhabitants. This proportion in England is 1/2.000, in France 1/1.519, in Italy 1/1.333. With a populacion 40% smaller and income 82% smaller than the USA, Brazil holds almost three times the amount of Orthodontic Courses (124, 2001), graduating 344 ortodontists/ year. Considering the 175.637 dentists, the specialists number still is little in Brazil. Among orthodontists, 58.5% consider the professional market satureted due to non official courses (85,1%) and to the competition with general practioners (63,4%). Besides, 88,3% of the orthodontists would favor rules to inhibit irregular courses. The increase of their incomes comes from the general practice by the students (58,2%) while 73,3% of the teachers raise their income through teaching activities. The fees are considered insuficient by 44.85% of the orthodontists and satisfactory by 47.3% of them. Nowadays, 66.9% of these specialists would not encourage their children to study Dentristy. The main referral source comes from patients (89.3%). Another rmarkable issue is that intermediate and final records have not being taken by 82.8% of the orthodontists.

Brazilian orthodontists; Professional market; Office management


ARTIGO INÉDITO

Caminhos e descaminhos da Ortodontia no Brasil

Orthodontics – march and countermarch in Brazil

Anna Paula MorgensternI; Marco Antonio Lopes FeresII; Eros PetrelliIII

IPós-graduada em Ortodontia e Ortopedia Facial pela Universidade Federal do Paraná

IIProfessor Adjunto IV da Disciplina de Ortodontia da Universidade Federal do Paraná

IIIProfessor Coordenador, Curso de Pós-Graduação em Ortodontia, UFPR

Endereço para correspondência Endereço para correspondência: Anna Paula Morgenstern Rua Martin Afonso, n. 1197, ap.31 - Champagnat Curitiba – Paraná - CEP: 80430-100

RESUMO

Devido à constatação do aumento do número de ortodontistas e de Cursos de Ortodontia, delineou-se este estudo cujo objetivo foi sondar o futuro da especialidade. Avaliaram-se formulários respondidos por 413 alunos e 130 professores de 42 Cursos de Especialização dos 73 relacionados no Catálogo da Associação Brasileira de Ortodontia e Ortopedia Facial (ABOR) 1999/2000. Obteve-se uma taxa de resposta de 57,53%. A amostra foi dividida em: alunos e professores e nas regiões: Sul + Sudeste e Centro-Oeste + Nordeste. A mediana de idade do pós-graduando foi 30,8 e a do professor 42,8 anos. O índice preconizado pela Organização Mundial de Saúde é de 1 CD para 1.500 habitantes. O Brasil com uma população de 175 milhões e 175.637 dentistas, apresenta 1 CD para 996 habitantes. O Reino Unido apresenta 1/2.000, a França 1/1.519, e a Itália 1/1.333 (1998). Com população 40% e renda 82% menor do que os EUA, o Brasil possui quase o triplo de cursos de Ortodontia (n=124, 2001), graduando 344 novos ortodontistas/ ano. Considerando-se os 175.637 dentistas, o número de especialistas ainda é pequeno no Brasil. Para a maioria dos entrevistados, o mercado de trabalho foi considerado pessimista/saturado (58,7%) devido aos cursos não oficiais (85,1%) e à concorrência por clínicos-gerais (63,4%). Medidas proibitivtas de cursos não regulamentados foram desejáveis pela maior parte (88,3%). Os honorários foram considerados insuficientes para 44,8% e satisfatórios para 47,3%. O incremento da renda é feito com a clínica-geral (58,2%) pelos alunos e com as atividades docentes (73,3%) pelos professores. A maioria não estimularia seu filho a estudar Odontologia hoje (66,9%) e a principal fonte de indicação provém dos pacientes (89,3%). Outro notável achado foi que as documentações intermediárias e finais não estão sendo realizadas por 82,8% dos ortodontistas.

Palavras-chave: Ortodontistas brasileiros. Mercado de trabalho. Gerenciamento de consultório. Marketing.

ABSTRACT

Due to the increase in the number of orthodontists and Graduate Programs, this study was outlined aiming to the future of our Speciality. Questionaires were sent to 413 students and 130 teachers in 42 Graduate Programs. Respondents achieved 57.53%. The sample included respondents from several areas in Brazil. The average age of the students was 30.8 and the teachers' 42,8. The average index suggested by the Health World Organization is 1 dentist for each 1.500 habitants. Brazil has a population of 175 millions people and has 175 thousand dentists, one for each 996 inhabitants. This proportion in England is 1/2.000, in France 1/1.519, in Italy 1/1.333. With a populacion 40% smaller and income 82% smaller than the USA, Brazil holds almost three times the amount of Orthodontic Courses (124, 2001), graduating 344 ortodontists/ year. Considering the 175.637 dentists, the specialists number still is little in Brazil. Among orthodontists, 58.5% consider the professional market satureted due to non official courses (85,1%) and to the competition with general practioners (63,4%). Besides, 88,3% of the orthodontists would favor rules to inhibit irregular courses. The increase of their incomes comes from the general practice by the students (58,2%) while 73,3% of the teachers raise their income through teaching activities. The fees are considered insuficient by 44.85% of the orthodontists and satisfactory by 47.3% of them. Nowadays, 66.9% of these specialists would not encourage their children to study Dentristy. The main referral source comes from patients (89.3%). Another rmarkable issue is that intermediate and final records have not being taken by 82.8% of the orthodontists.

Key words: Brazilian orthodontists. Professional market. Office management.

INTRODUÇÃO

Nos últimos anos têm-se observado um aumento dos especialistas e de cursos de Ortodontia, o que gerou uma expectativa junto à comunidade ortodôntica: para onde a Ortodontia seguirá o seu caminho e de que maneira sinalizará seu futuro? Delinearam-se assim, os objetivos da pesquisa: sondar o futuro da especialidade, indicar tendências comportamentais, avaliar as perspectivas de mercado e demonstrar métodos de gerenciamento e marketing.

REVISÃO DE LITERATURA

Panorama nacional

De acordo com a tabela 1, o Brasil gradua 344,6 ortodontistas por ano.

CD/habitantes – Brasil

A tabela 2 descreve a relação de CD/ habitantes do Brasil.

Números da Odontologia X Ortodontia – Brasil

Do número total de dentistas do Brasil (175.637), 2,2% correspondem a ortodontistas. A participação de ortodontistas no Brasil é quase 4 vezes menor (9%) no Paraná do que em São Paulo (40%), isto é, São Paulo tem 4,5 vezes mais ortodontistas que o Paraná, conforme a tabela 3 e o gráfico 1.


Petrelli27 fez um alerta aos profissionais: somente cursos realizados em Universidades, Faculdades e Entidades de Classe têm reconhecimento do Conselho Federal de Odontologia e validade de seus certificados.

Petrelli28 declarou que cursos irregulares são acobertados sob a sombra de entidades denominados núcleos, institutos ou centro de estudos. São cursos denominados espúrios, sem o amparo legal, cuja principal finalidade é o lucro financeiro particular.

Koubik e Feres20 relacionaram caber às Associações de Classe: 1) promover discussão ampla da responsabilidade profissional; 2) combater cursos ineficientes de interesses mercantilistas; e 3) alertar a opinião pública sobre quais os profissionais realmente capacitados a exercer Ortodontia.

Feres10 simplificou a conduta profissional: 1) saber dizer não, 2) "jogar fora" metade de seu consultório, 3) planejar a mecânica como um cronograma, 4) ter cuidado com o período da Dentição Mista, 5) solicitar radiografias freqüentes, 6) concentrar-se no foco, e 7) informar ao paciente, antes, todos os aspectos pertinentes ao tratamento.

Haag16 conclui que: 1) nenhum programa de Graduação dá condições do exercício pleno da especialidade e 2) a suspensão de abertura de cursos de Ortodontia ocasionou a promoção de typodonts, apesar do único requisito para a aprovação nos cursos registrados no CFO ser o registro no CRO. Não existe lei que impeça a prática da Ortodontia por profissional não especialista, o que pode gerar complicações no decorrer de um tratamento.

Segundo Cauduro4, as áreas que ainda possibilitam novos entrantes são a Ortodontia e/ou Ortopedia, a Laserterapia e a Implantodontia: são substitutas (menos a Ortodontia) e possuem fornecedores com materiais altamente depreciados.

De acordo com Petrelli29, o Provão tem como objetivo contribuir para o diagnóstico do ensino da Odontologia no Brasil, pela avaliação do desempenho de seus graduandos.

Conforme o CFO5, a Odontologia brasileira possui 14 especialidades e 423 cursos de Especialização em andamento para atender 29.144 especialistas, que correspondem a 17,74% dos cirurgiões-dentistas inscritos nos CROs.

Segundo Isidoro17, enquanto a obrigação do Ministério da Educação é zelar pela boa qualidade do ensino, o exercício da profissão deveria ser regulamentado pelo CFO.

Para Faltin Junior9, a criação da Ortopedia é um retalhamento dos métodos terapêuticos da nossa especialidade, e é exclusivamente político.

Panorama internacional

CD/Habitantes - Brasil/Países europeus

A tabela 4 compara a relação CD/ habitantes no Brasil e nos países europeus.

De acordo com a tabela 5, o Brasil com uma população 40% menor (161,8 milhões) que a dos EUA (273,8 milhões) e renda 82% menor, possui mais que o dobro de cursos. Até 2001, eram 124 de Ortodontia8 e 160 de Odontologia24,25, enquanto os EUA possuíam até 1995, 53 de Ortodontia36 e 46 de Odontologia21.

Johnson, Gottlieb e Domer18 observaram que os ortodontistas americanos com maior renda são os que possuem maior números de casos ortodônticos, empregam mais funcionários, delegam mais funções e utilizam metodologia gerencial.

Gottlieb, Nelson e Vogels12,14,15 declararam que o crescimento profissional nos EUA foi atribuído à adoção de técnicas administrativas, sendo considerado o maior obstáculo o aumento do número de generalistas exercendo a Ortodontia.

Para Sullivan35, deve-se associar atividade com produtividade e rentabilidade, diminuindo-se o número de emergências, faltas, consultas antes do tempo e de pacientes já finalizados.

Fox et al.11 avaliaram 375 pares de modelos iniciais e 250 finais de 41 clínicos-gerais. Os ortodontistas qualificados obtiveram melhores resultados com aparelhos fixos do que os sem qualificação.

Para Richmond et al.32 as principais dificuldades enfrentadas pela Ortodontia na Inglaterra incluem a relativa alta demanda pelo tratamento ortodôntico, número insuficiente de ortodontistas especialistas, distribuição geográfica irregular dos profissionais e problemas com a remuneração.

Stratford e Burden34 avaliaram 167 modelos ortodônticos iniciais e finais de 18 clínicos-gerais e constataram a necessidade de retratamento em 41,5%. Os clínicos-gerais deveriam tratar pacientes que requeressem intervenção ortodôntica menos complexa.

Bergström et al.3 estudaram 313 pacientes ortodônticos tratados por clínicos-gerais e especialistas na Suécia. Os especialistas forneceram três vezes mais tratamentos difíceis e os resultados foram mais favoráveis.

Waldman36 concluiu que durante os anos 90, a diminuição da taxa de ortodontistas por jovens nos EUA, refletiu: 1) um aumento da população entre 5 a 19 anos, e 2) uma diminuição no número de ortodontistas.

MATERIAIS E MÉTODOS

A metodologia foi a mesma aplicada aos trabalhos anteriormente realizados pelo Curso de Pós-graduação em Ortodontia e Ortopedia Facial da UFPR30,31,33, através da aplicação de um questionário com 20 perguntas em alunos e professores dos 73 Cursos de Especialização em Ortodontia relacionados no Catálogo da Associação Brasileira de Ortodontia (ABOR) 1999/20002.

Avaliou-se o mercado atual, o gerenciamento do consultório, a renda, abordagens de tratamento e marketing.

RESULTADOS

Com uma taxa de resposta de 57,53%, a tabela 6 descreve os números obtidos entre as regiões:

Para efeitos comparativos, dividiu-se a amostra em 2 regiões: 1) Sul + Sudeste; e 2) Nordeste + Centro-Oeste e separou-se em 2 grupos: 1) Alunos e 2) Professores. A 1ª região englobou os Estados: Minas Gerais, Rio de Janeiro, São Paulo, Paraná, Rio Grande do Sul e Santa Catarina; e a 2ª região: Ceará, Paraíba, Pernambuco, Goiás e Mato Grosso.

Os resultados estão dispostos nos quadros 1 a 3, nas tabelas 7 e 8 e nos gráficos 2 a 9. Os quadros mostram as porcentagens calculadas sobre as respostas desconsiderando as respostas em branco.









Análise dos alunos

Na comparação dos alunos foram constatadas as seguintes significâncias estatísticas para:

Grupo 1 (Sul+Sudeste)

• A maioria (86,6%) dos profissionais não está documentando seus casos durante fases intermediária e final (p=0,0180);

Grupo 2 (Centro-Oeste+Nordeste)

• Buscam para o incremento de sua renda, a clínica-geral ou outras especialidades (58,2%) (p=0,0493);

• Os honorários atuais cobrados são satisfatórios (58,6%) (p=0,0461);

• São mais velhos (30,7±5,3 x 31,4±4,7) (p=0,027);

• Estão formados a mais tempo (8,0±5,1 x 8,8±5,0) (p=0,009);

• E são especialistas em Ortodontia a menos tempo (3,8±3,2 x 2,5±2,1) (p<0,0001).

Análise dos professores

Na comparação dos professores foi constatada diferença significativa apenas para o Grupo 2, onde:

• Vêem o mercado atual como pessimista e/ou saturado (62,5%) (p=0,0283).

Alunos x professores

Mercado de Trabalho (Quadro 1), Tratamento e Cliente (Quadro 2), Marketing (Tab. 7), Documentação (Tab. 8), Idade e Tempo de Formado e de Especialista (Quadro 3).

Na comparação dos alunos com os professores em estudo, foram constatadas as seguintes significâncias estatísticas para:

Alunos

• Acham cabível um controle de cursos não oficiais por Entidades e Órgãos competentes (91,2%) (p=0,0001) (Gráf. 2);

• Acham viáveis medidas proibitivas de cursos não regulamentados (90,0%) (p=0,0413) (Gráf. 3);

• Não estimularia seu filho a estudar Odontologia hoje (69,9%) (p=0,0116) (Gráf. 4);

• Tornam sua clínica mais eficiente em relação à duração do tratamento utilizando aparelhos pré-ajustados (63,0%) (p=0,0166) (Gráf. 5);

Professores

• A solução para o incremento de sua renda é a atividade docente (73,3%) (p<0,00001) (Gráf. 6);

• Acham correto estipular valores para o tratamento como um todo (78,7%) (p=0,0004) (Gráf. 7);

• A principal fonte de indicação de novos paciente são os próprios pacientes (89,9%) (p<0,00001) (Gráf. 8);

• Utilizam como instrumentos de marketing os indicadores profissionais (52,0%) (p=0,0076) (Gráf. 9);

• São mais velhos (p<0,0001), mais tempo de formado (p<0,0001) e conseqüentemente tem mais tempo de especialista em Ortodontia (p<0,0001).

DISCUSSÃO

Idade

A média de idade dos professores foi 42,8, próxima das encontradas nos estudos com especialistas brasileiros e estrangeiros, demonstrados na tabela 9.

Como vê o mercado atual

Para 58,7% dos entrevistados, o mercado encontra-se saturado. Atualmente se constata o fechamento de alguns cursos de Odontologia.

Causas da saturação do mercado

As principais causas relacionadas pelos participantes foram o grande número de cursos não oficiais (85,1%) e a concorrência por clínicos-gerais (77,2%). Para Haag16 o que motivou os praticantes da especialidade foram o grande número de cursos irregulares (81,17%) e a ilusão de lucro fácil e rápido (77,64%). Na medida em que continuem presentes no Brasil, fatores como: 1) o enorme número de cursos de Ortodontia; 2) a intensa proliferação de cursos de técnica ortodôntica; 3) a abertura de novas faculdades; e 4) a crise financeira, nós teremos num prazo de 10-15 anos um decréscimo no número de pacientes atendidos e conseqüentemente da renda.

Controle e medidas proibitivas de cursos nãoregulamentados

Conforme o quadro 1, professores desejam menos o fechamento de cursos que alunos, o que denotou o maior interesse didático e financeiro destes. Uma das saídas para a Ortodontia é uma maior participação dos profissionais nas Entidades de Classe, nas Secretarias do Governo e no CFO, para atuar na gestão/ aprovação de Faculdades e Cursos de Especialização, combatendo cursos mercantilistas.

Soluções/Alternativas para o incremento da renda

Professores incrementam a renda com atividades docentes, e alunos com a clínica-geral, de acordo com a quadro 1. Os convênios já possuem uma conotação social e econômica muito relevante na área da saúde no Brasil. Através das entidades representativas, em parceria com o Estado, devemos definir regras para a garantia da qualidade nos atendimentos e remuneração justa. Uma das saídas para absorver os profissionais no mercado de trabalho é a instituição de políticas governamentais mais adequadas, principalmente no Programa Saúde da Família (PSF) ou Centros de Referência para Especialidades.

Como estipular valores

De acordo com o quadro 1, professores cobram mais o tratamento como um todo (78,7%) enquanto alunos dividem-se em cobrar o tratamento (56,1%) e o aparelho (44,4%).

Honorários

Foram considerados mais satisfatórios para os alunos da região CO + Ne (58,2%) e para os professores de ambas regiões.

Estimularia seu filho a estudar Odontologia hoje?

Alunos foram um pouco mais negativos do que professores, conforme o quadro 1.

Tempo médio de tratamento com aparelhagem fixa

Alunos estimam menor tempo, enquanto professores são um pouco mais cautelosos, de acordo com a quadro 2.

Abordagem em relação ao paciente com dentição mista

Dos 96,5% respondentes, a maioria trata em 2 fases: 86,1%.

Instrumentos de Marketing utilizados

Segundo Souza33, o marketing é considerado importante para 88,41% dos ortodontistas. Devem-se intensificar nos cursos de Especialização, a formação de profissionais com conhecimento de marketing e gerenciamento, visando o incremento da produtividade e qualidade na clínica diária.

Fonte de indicação de novos pacientes

Pacientes foram apontados como a maior fonte de referência (89,3), valor bem superior às outras pesquisas, de acordo com a tabela 10.

Casuística no tratamento de adultos

A casuística de 30% de adultos foi relatada por 29,7% dos profissionais.

Pissette28 e Souza31 acharam o valor de 23,78%; Gottlieb, Nelson, Vogels12, 24% em 1987, 15,4% em 199713, e 15,5% em 199914,15.

Clínica mais eficiente em relação à duração do tratamento

Alunos valem-se mais de aparelhos pré-ajustados (63,3%), e professores de pessoal auxiliar. Notificação por escrito é utilizada por 50,9%.

Falta de documentação dos casos durante fases intermediária e final

Cerca de 82,8% dos profissionais não estão documentando. Os alunos mais (84,7) do que os professores (76,7). As causas mais apontadas foram: 1) o custo para o paciente (61,9) e 2) a falta de interesse do profissional (21,0).

CONCLUSÕES

• A mediana de idade do aluno foi 30,8; e a do professor 42,8.

• São as causas principais da saturação do mercado: o grande número de cursos não oficiais (85,1) e a concorrência por clínicos-gerais (63,4).

• A maioria deseja o controle de cursos não oficiais (87,9) e medidas proibitivas de cursos não regulamentados (88,3).

• Professores incrementam sua renda com atividades docentes (73,3) e alunos com clínica-geral (55,5).

• Cobrar o tratamento como um todo é adotado por 61,6%.

• Honorários são insuficientes para 44,8%, satisfatórios para 44,3% e bons para 5,9%.

• Orientar o filho a estudar Odontologia é menos estimulado por alunos (69,9) do que por professores (57,4).

• O tempo de tratamento de 30 meses (47,6) foi o mais estimado, seguido de 24 meses (41,6%).

• A grande maioria trata a Dentição Mista em 2 fases (86,1).

• A maior fonte de indicação são os próprios pacientes (89,9).

• Cerca de 29,7% dos profissionais tratam 30% de adultos.

• Alunos usam mais aparelhos pré-ajustados (63,0) e professores trabalham mais com auxiliares (59,1).

• Professores utilizam mais indicadores profissionais (52,0); e alunos, correspondências festivas (45,4).

• A propaganda "boca a boca" foi largamente relacionada como instrumento de marketing (47,6).

• 82,8% não estão documentando fases intermediária e final.

Enviado em: Setembro de 2003

Revisado e aceito: Março de 2004

  • 1
    ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE ODONTOLOGIA - ABO. Responsabilidade de grupo. Revista ABO Nacional, São Paulo, v. 8, n. 6, p. 332, dez. 2000 / jan. 2001.
  • 2
    ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE ORTODONTIA E ORTOPEDIA FACIAL. Catálogo ABOR: 1999/2000, Maringá: Dental Press Internacional, 1999, p. 263-270.
  • 3
    BERGSTRÖM, Kurt et al. Treatment difficulty and treatment outcome in orthodontic care. Eur Orthod Society, v. 20, p. 145-157, 1998.
  • 4
    CAUDURO, Ricardo. De quem é a culpa? Editorial. Revista Gaúcha de Odontologia, Porto Alegre, v. 48, n. 4, p. 1, out./dez. 2000.
  • 5
    CONSELHO FEDERAL DE ODONTOLOGIA. 2ª Aneo: debate sobre especialidades começou. Jornal do Conselho Federal de Odontologia Rio de Janeiro, ano 9, n. 43, p. 6-7,mar./ abr. 2001.
  • 6
    CONSELHO FEDERAL DE ODONTOLOGIA. Números do CFO em todos os Estados Disponível em: <http://www.cfo.org.br> Acesso em: 14 set. 2001.
    » link
  • 7
    CONSELHO REGIONAL DE ODONTOLOGIA DO PARANÁ. Cirurgiões- dentistas se mobilizam contra política educacional do governo federal. Revista CRO-PR, Curitiba, ano 5, n. 20, p. 13, maio 1999.
  • 8
    COORDENAÇÃO DE APERFEIÇOAMENTO DE PESSOAL DE NÍVEL SUPERIOR. Números de Mestrados e Doutorados em Ortodontia Disponível em: <http://www.capes.org.br> Acesso em: 14 set. 2001.
    » link
  • 9
    FALTIN JÚNIOR, Kurt. Manifesto da ABOR à Ortodontia e Ortopedia Facial Brasileira à Odontologia e ao público em geral. Jornal da APCD, São Paulo, ano 36, n. 531, p. 47, jul. 2001.
  • 10
    FERES, Marco A. L. Ortodontia: torne seu consultório, sua vida e você mais simples e mais eficientes. In: FERES, Marco A. L. (Coord.). Ortodontia: algumas histórias de sucesso. 1. ed. Curitiba: Editek, 1999. p. 133-138.
  • 11
    FOX, N. A. Factors affecting the outcome of orthodontic treatment within the general dental service. Br J Orthod, London, v. 24, no. 3, p. 217-221, Ago. 1997.
  • 12
    GOTTLIEB, Eugene L.; NELSON, Allen H.; VOGELS, David S. JCO orthodontic practice study - part 1. J Clin Orthod, Boulder, v. 21, no. 8, p. 507-515, Aug. 1987.
  • 13
    _____. 1997 JCO orthodontic practice study part 2 practice success. J Clin Orthod, Boulder, v. 31, no. 11, p. 741-748, Nov. 1997.
  • 14
    _____. 1999 JCO orthodontic practice study. Part 2 - practice success. J Clin Orthod, Boulder, v. 33, no. 11, p. 627-635, Nov. 1999.
  • 15
    _____. 1999 JCO Orthodontic Practice Study part 3 Practice Growth. J Clin Orthod, Boulder, v. 33, no. 12, p. 675-688, Dec. 1999.
  • 16
    HAAG, Celso Antonio. Aspectos éticos e legais da Ortodontia no Brasil. Ortodontia, São Paulo, v. 32, n. 2, p. 67-81, maio/ ago. 1999.
  • 17
    ISIDORO, Fernanda. Dilalogo aberto com o MEC. Jornal do Conselho Federal de Odontologia, Rio de Janeiro, ano 9, n. 44, p. 6-7, maio/jun. 2001.
  • 18
    JONHSON, David A.; GOTTLIEB, Eugene L.; DOMER, Larry R. JCO Orthodontic practice study – practice success. J Clin Orthod, Boulder, v. 15, no. 10, p. 683-693, Oct. 1981.
  • 19
    KELLY, B. M.; SPRINGATE, S. D. Specialist in the General Dental Service. Br Dental J, London, v. 180, no. 6, p. 209 –215, Mar. 1996.
  • 20
    KOUBIK, Roberto; FERES, Marco A. L. Aspectos legais da Ortodontia. Ortodontia, São Paulo, v. 28, n. 2, p. 64-70, jun./ ago. 1995.
  • 21
    LAWRENCE, A. J. ; WRIGHT, F. A. C.; D'ADAMO, S. P. The provision of orthodontics services by general dental practioners. 2. Factors influencing variation in service provision. Aust Dental J, St. Leonards, v. 40, no. 6, p. 360-364, June 1995.
  • 22
    LIMA, Israel Correia de. Odontologia: um mercado cada vez mais difícil. Jornal da Associação Paulista de Cirurgiões-Dentistas, São Paulo, ano 35, n. 520, p. 26-27, ago. 2000.
  • 23
    ____. Atual conjuntura econômica é favorável ao profissional liberal. Jornal da Associação Paulista de Cirurgiões-Dentistas, São Paulo, ano 35, n. 527, p. 20-21, mar. 2001.
  • 24
    ____. Sobram escolas de Odontologia e faltam alunos. Jornal da Associação Paulista de Cirurgiões-Dentistas, São Paulo, ano 36, n. 530, p. 32, jun. 2001.
  • 25
    ____. A semelhança entre a abertura de cursos de Odontologia e Medicina. Jornal da Associação Paulista de Cirurgiões-Dentistas, São Paulo, ano 36, n. 534, p. 36, 2001.
  • 26
    MORGENSTERN, Anna Paula Morgenstern. Caminhos e descaminhos da Ortodontia 2002. 143 f. Monografia (Especialização em Ortodontia) – Setor de Ciências da Saúde, Universidade Federal do Paraná, Curitiba, 2002.
  • 27
    PETRELLI, Eros. O engodo dos certificados. Jornal da Sociedade Paulista de Ortodontia, São Paulo, ano 5, n. 24, p. 7, mar./ abr. 1993.
  • 28
    ____. Os eunucos da Odontologia. Jornal da Sociedade Paulista de Ortodontia, São Paulo, ano 5, n. 30, p.10, mar./ abr. 1994.
  • 29
    PETRELLI, Eros. Assembléia Nacional das Especialidades Odontológicas. Conselho Regional de Odontologia do Paraná, Curitiba, ano 7, n. 32, p. 17, maio/ jun. 2001.
  • 30
    PISSETTE, Ana Paula. II Estudo sobre a prática ortodôntica no Brasil – 1995. Ortodontia, São Paulo, v. 30, n. 3, p. 7-15, set./dez. 1997.
  • 31
    QUEIROZ JUNIOR, Geraldo. Estudo sobre a prática ortodôntica no Brasil. Ortodontia, São Paulo, v. 27, n. 3, p. 67-77, set./ dez. 1994.
  • 32
    RICHMOND, S.; FOX, N.; WRIGHT, J. The professional perception of orthodontic treatment complexity. Br Dent J, London, v. 183, no. 10, p. 365-370, Nov. 1997.
  • 33
    SOUZA, Carlos Eduardo Vieira. III Estudo sobre a prática ortodôntica no Brasil - 1998 1998. 101 f. Monografia (Especialização em Ortodontia) – Setor de Ciências da Saúde, Universidade Federal do Paraná, Curitiba, 1998.
  • 34
    STRATFORD, N. M.; BURDEN, D. J. Clinical assistant training in orthodontics: how effective is it? Br Dental J, London, v. 184, no. 9, p. 448-452, May 1998.
  • 35
    SULLIVAN, Edward F. Overhead Reduction: is bigger always better? J Clin Orthod, Boulder, v. 28, no. 1, p. 21-30, Jan. 1994.
  • 36
    WALDMAN, H. Barry. Changing number and distribution of orthodontists: 1987-1995. Am J Orthod Dentofacial Orthop, St. Louis, v. 114, no. 1, p. 50-54, July 1998.
  • 37
    WIDSTRÖM, K. A. et al. Oral heathcare in transition in Eastern Europe. Br Dent J, London, v. 190, no. 11, p. 580-584, June 2001.
  • Endereço para correspondência:

    Anna Paula Morgenstern
    Rua Martin Afonso, n. 1197, ap.31 - Champagnat
    Curitiba – Paraná - CEP: 80430-100
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      09 Mar 2009
    • Data do Fascículo
      Dez 2004

    Histórico

    • Aceito
      Mar 2004
    • Recebido
      Set 2003
    Dental Press Editora Av. Euclides da Cunha nº. 1718 - Zona 5, 87015-180 Maringá-PR-Brasil, Tel.: (44) 3031-9818, Fax: (44) 3262-2425 - Maringá - PR - Brazil
    E-mail: dental@dentalpress.com.br