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O QUE HÁ DE NOVO NA ODONTOLOGIA

O uso de bochechos antimicrobianos é superior ao fio dental no controle da placa

Jorge Faber

Doutor em Biologia - Morfologia, Laboratório de Microscopia Eletrônica da Universidade de Brasília. Mestre em Ortodontia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro. Clínica privada focada no atendimento de pacientes adultos

O uso do fio dental todos os dias é de grande importância para redução da gengivite papilar e cárie interproximal. Entretanto, estudos representativos indicam que não mais que 10% a 15% das pessoas realmente usam o fio dental diariamente. Dessa forma, uma busca muito válida é por alternativas ao uso do fio dental que se enquadrem melhor na dinâmica da vida das pessoas, levando a maior aderência ao controle da placa. Possivelmente uma saída para o problema é o desenvolvimento de soluções para bochecho diário que atinjam adequados índices de controle de placa, com baixos ou nenhum efeito colateral. Essa idéia norteou um grupo de pesquisadores da Alemanha a comparar o uso de soluções de antimicrobianos para bochecho diário com o uso do fio dental, que publicaram os achados de seu estudo no Journal of Periodontology1 em agosto de 2006.

Os autores estudaram quatro grupos de 39 indivíduos cada, que não faziam uso de aparelho ortodôntico fixo. O primeiro escovou os dentes e fez bochecho com solução de clorexidina (0,06%) e fluoreto (0,025%); o segundo escovou os dentes e bochechou com cloreto de cetilperidínio (0,1%) e fluoreto (0,025%); o terceiro escovou os dentes e usou fio dental; por fim, o quarto grupo serviu como controle e apenas escovou os dentes. Índices de sangramento papilar e de placa proximal dos grupos foram colhidos por um mesmo examinador e comparados estatisticamente.

Os resultados do trabalho mostram que o uso de qualquer uma das duas soluções testadas é melhor que o uso do fio dental, ou nenhum uso deste, na redução da placa interproximal. Por sua vez, o sangramento papilar apresentou um resultado diferente. Todos os grupos teste não diferiram entre si, mas diferiram do grupo controle, pois exibiram menor sangramento. O efeito colateral encontrado foi a pigmentação dos dentes e língua nos grupos que fizeram bochechos.

Esses resultados indicam que o uso das soluções testadas foi clinicamente igual ou superior ao uso do fio dental. Ainda que isso não signifique que devemos trocar a prescrição do fio pelo bochecho, mostra que pacientes com grande dificuldade de higienização, possivelmente, se beneficiariam com a implementação dessas soluções. Estudos dessa natureza precisam ser feitos com pacientes ortodônticos e seriam interessantes temas de dissertações e teses.

1. ZIMMER, S. et al. Clinical efficacy of flossing versus use of antimicrobial rinses. J Periodontol, Chicago, v. 77, no. 8, p. 1380-85, 2006.

A biomecânica mandibular e o desenvolvimento do mento humano

Jorge Faber

Doutor em Biologia - Morfologia, Laboratório de Microscopia Eletrônica da Universidade de Brasília. Mestre em Ortodontia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro. Clínica privada focada no atendimento de pacientes adultos

A presença do mento é uma característica atribuída exclusivamente ao Homo sapiens. O mento possui importante participação na estética da face e é uma aquisição relativamente recente no desenvolvimento da espécie – possui pouco mais de 10 mil anos. Antropologistas e anatomistas têm discutido, há muito tempo, sobre quais seriam as eventuais pressões de seleção que teriam culminado com o desenvolvimento dessa estrutura anatômica e pouca concordância existe a esse respeito. Já se sugeriu que o mento possui participação importante na distribuição das forças ao longo do osso durante a mastigação. Porém, essa hipótese ainda não havia sido testada. Pesquisadores da Nova Zelândia tomaram para si essa tarefa e publicaram seus resultados no Journal of Dental Research2.

Os autores utilizaram os arquivos Dicom de uma tomografia computadorizada para modelar uma mandíbula dentada 3-D. Utilizando um programa convencional de computação gráfica, foram criados os alvéolos dentários pela subtração da área ocupada pelas raízes da área total da mandíbula. A seguir, os autores criaram uma mandíbula sem mento, pela modelagem de uma mandíbula anteriormente obtida. Foram simuladas mordidas na região dos incisivos e molares em um modelo de elemento finito.

Os resultados mostram que a mandíbula que possui o mento não exibe vantagens biomecânicas sobre aquela desprovida dessa área. Os estresses dissipados ao longo do osso não diferiram entre os dois modelos. Assim, não foi possível indicar possíveis fatores contribuidores para a geração dessa estrutura. É interessante notar que, durante a especiação, ou seja, o desenvolvimento de uma espécie, nem todas as estruturas anatômicas que se formam necessariamente desempenham alguma função. É possível que o mento seja uma área que se desenvolveu casualmente em nossa espécie e permaneceu porque, embora não traga qualquer vantagem funcional, não causa nenhum prejuízo.

2. ICHIM, I.; SWAIM, M.; KIESER, J. A. Mandibular biomechanics and the development of the human chin. J Dent Res, Chicago, v. 85, no. 7, p. 638-42, 2006.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    02 Out 2006
  • Data do Fascículo
    Out 2006
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