RESENHAS BIBLIOGRÁFICAS
As empresas cada vez mais, devido a acirrada concorrência, necessitam de pessoas que apresentam competências comunicativas, tanto para conquista de clientes como para liderança de grupos, negociações, apresentações de projetos, produtos etc. Daí, no que concerne a falar em público, questões comuns como preparação do assunto, exposição, argumentação, persuasão, postura e erros de linguagem fazem parte das preocupações desses apresentadores. Para tanto, 'Estratégias de Comunicação em Grupo: Como se apresentar em eventos empresariais e acadêmicos' exige, quanto à necessidade, e fornece, quanto ao livro, um conjunto de habilidades e medidas importantes na carreira de qualquer desses profissionais.
A autora Maria Helena da Nóbrega é doutora em Filosofia e Língua Portuguesa pela FFLCH/USP; atuou como pesquisadora na Universidade de Oxford e foi professora-leitora durante dois anos na Universidade de Aahus (Dinamarca). Atualmente, ela leciona na USP, tendo experiência na área de Letras, com ênfase em Língua Portuguesa, atuando principalmente nos seguintes temas: língua portuguesa, funcionalismo, ensino de língua materna e gramática normativa. Essa vasta experiência, juntamente com a observação direta e outros estudos disponíveis, está sintetizada num conjunto de 157 páginas organizadas em oito capítulos, objetivando fornecer um leque de normas técnicas e sugestivas para se obter boas apresentações.
No primeiro capítulo, Para falar bem, use mais do que palavras, a autora discorreu basicamente sobre as diferenças entre a linguagem escrita e oral, focalizando a importância e o uso deste último nas palestras, uma vez que, para produzir efeito positivo na apresentação, é primordial ao orador aproveitar um conjunto de recursos supersegmentais, como tom da voz, pausas, gestos, entonação, velocidade etc. e recursos paralingüísticos: gestos, olhar, movimentação corporal etc.
Nos Três capítulos subseqüentes: Transpiração: sem o público, Inspiração: com o público e Como estruturar o conteúdo encontram-se as recomendações para as etapas que vão desde a preparação do assunto até a sua exposição. Para ela essa transpiração, explanada no segundo capítulo, consiste em dedicação, disciplina, persistência, pesquisa incessante sobre o tema, planejamento da apresentação, treinamento, escolha da roupa, preparação do local e trabalho do anseio e medo, subitens que foram todos analisados no segundo capítulo. No capítulo 3, Nóbrega considera que, após a transpiração, chega o momento de pôr em prática tudo aquilo que se planejou. Conseguintemente, a inspiração: com o público mereceu a atenção da autora nos seguintes pontos que enlaçará o orador e a platéia: perfil e comportamento do público, controle do tempo, controle da respiração e ânimo.
As particularidades da estrutura do discurso, como abertura, desenvolvimento e conclusão, são discutidos no quarto capítulo. Com relação a esses três momentos, considerações como as seguintes (e outras apresentadas no livro) são de suma importância para cativar o público e atingir o objetivo da apresentação: anunciar a palestra com título apelativo, atraente e sedutor; utilizar tópicos e subtópicos, evitando excesso de informações, gráficos, tabelas, detalhes técnicos que cansam o público e, por fim, relembrar no desfecho, os pontos principais e encerrar com os agradecimentos. Ainda nesse capítulo destaca-se o subitem argumentação e persuasão e as várias formas de desenvolvê-las: enumeração, exemplificação, testemunho, estatística, citação, comparação e fatos.
A linguagem verbal e a não-verbal é tratada nos capítulos 5 e 7 respectivamente; o sexto capítulo aborda as várias formas de obter interação com o público. Quanto ao primeiro, Maria Helena refuta que a habilidade lingüística tem de ser constantemente aprimorada, a começar pela pronúncia e correção lingüística; estende-se a outros pontos, como vocabulário, vícios de linguagem, modismos e erros crassos. Este último consiste em desvios da gramatical tradicional e são muito comuns no dia-a-dia. Daí a necessidade de ela dar atenção a alguns desses erros no final do capítulo 5. Quanto a linguagem não-verbal, cabe considerar que é indispensável ter cuidados especiais na utilização de voz, gestos, mãos, postura, contato visual, expressão fisionômica e movimentação.
Em como criar interação, capítulo 6, apresentam-se as técnicas de como fazer e como responder às perguntas; usos de exemplos e casos; bom humor e recursos que geram simpatia. Com efeito, para acompanhar a adequada utilização da linguagem corporal apresentada anteriormente; no penúltimo capítulo encontra-se uma gama de recursos audiovisuais que "quando bem empregados, acrescentam requinte à mensagem" (p. 115). Esses recursos disponíveis (quadros, flip chart, projetor de slides, video-teipe, DVD, retroprojetor, projetor multimídia etc.) podem ser muito proveitosos para tornar a apresentação mais agradável ao público, servir como elemento de apoio e facilitar a exposição do tema.
Finalizando a obra, Maria Helena não deixou de destinar o último capítulo, Dúvidas Freqüentes, para expor e a elas responder vinte e uma entre as várias perguntas inquietantes que são muito comuns no ciclo daqueles que falam em público. Por exemplo: que fazer em relação à pergunta a que não sabe responder ou que são meras provocações; "Tenho muito, MUITO medo de falar em público. Só de pensar nessa possibilidade, já fico nervoso. Como resolver isso?" (p. 149).
Após uma leitura agradável, atenta e proveitosa da obra, cabe sublinhar, pelo menos, dois pontos. Primeiro, ficou a desejar a exploração da estratégia de comunicação em grupo: como se apresentar em encontros empresariais, visto que, ao contrário do que sugere o título, foi abordada basicamente apenas "estratégias em palestras" mais do que em eventos empresariais. Segundo, como tentei mostrar, no livro foram exploradas questões importantes para as apresentações empresariais e acadêmicas. E é por isso que o livro merece ser lido por todos aqueles que almejam bom desempenho nas palestras e apresentações.
Caracterizando ainda mais esse livro como contribuição prática, apresentando orientações úteis para os indivíduos que precisam expor em situações diversas, a autora, com linguagem menos técnico-científica e que possibilita a compreensão do assunto, explorou um dos aspectos mais questionáveis e enfrentados por esses profissionais e acadêmicos: a arte de falar em público quando um dos requisitos é a eloqüência para o alcance do êxito.
Reconhecendo que nenhuma obra humana é perfeita, entendo que faltou melhor estruturação e desenvolvimento dos capítulos, visto que há repetições de algumas idéias no decorrer do livro. Finalmente, aproveitando as expressões da autora, no final do primeiro capítulo, ao referir a manutenção das mãos no bolso, ao falar em público, vale lembrar (relação a tudo quanto é abordado no livro) que todas "as sugestões são válidas, se considerados os contextos em que elas ocorrem. Toda recomendação pode ser infringida em algum momento." (p. 11).
Estratégias de comunicação em grupo: como se apresentar em eventos empresariais e acadêmicos.
Datas de Publicação
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Publicação nesta coleção
27 Jan 2010 -
Data do Fascículo
Fev 2010