Acessibilidade / Reportar erro

Reflexões Epistemológicas e Sobre o Fazer Científico na Administração Contemporânea

RESUMO

A RAC tem priorizado trabalhos que avancem o debate científico no campo da administração contemporânea, privilegiando estudos originais, interdisciplinares e com abordagens epistemológicas que expandam fronteiras conceituais e articulem teoria e prática, de forma inovadora, valorizando uma produção de conhecimento responsável e que traga contribuições para dentro e para fora da academia. Diante disso, coloca-se a importância de reforçar uma agenda de pesquisa em administração que amplie os horizontes das discussões epistemológicas e metateóricas sobre o conteúdo do conhecimento produzido, mas também sobre como esse conhecimento é produzido, concentrando-se nas práticas científicas do campo, seus alcances e limites e as consequências dessas práticas no universo acadêmico e para além dele. Esse editorial apresenta algumas reflexões e contribuições para pensar novas vias epistemológicas e para experimentar novas avenidas praxeológicas no campo, buscando contribuir para adensar uma agenda de pesquisa sobre epistemologia e as práticas no fazer científico da administração orientado para os grandes desafios societais.

Palavras-chave:
epistemologia; sistemas de produção de conhecimento; sociologia da ciência; administração

ABSTRACT

RAC has prioritized studies that advance the scientific debate in the field of contemporary administration, favoring original and interdisciplinary studies with epistemological approaches expanding conceptual boundaries and innovatively connecting theory and practice. RAC values responsible knowledge production that contributes in and out of academia. Given this, it is vital to reinforce a research agenda for administration, broadening the horizons of epistemological and metatheoretical discussions on the content of the knowledge produced and on how this knowledge is produced. Such a research agenda must focus on the field’s scientific practices, the scope and limits, and the consequences of these practices in academia and beyond. This editorial presents some reflections and contributions to thinking about new epistemological paths and supporting the use of new praxeological avenues in the field. The intention is to help consolidate a research agenda on epistemology and practices in the scientific work of administration oriented toward the most prominent societal challenges.

Keywords:
epistemology; knowledge production systems; sociology of science; administration

INTRODUÇÃO

Como explicitado em sua política editorial e também discutido em outros editoriais da revista, a RAC tem apostado em artigos que tragam claras contribuições para o campo, sejam teóricas, sejam práticas, metodológicas ou didáticas (Bispo, 2023Bispo, M. de S. (2023). Scientific articles’ theoretical, practical, methodological, and didactic contributions. Revista de Administração Contemporânea, 27(1), e220256. https://doi.org/10.1590/1982-7849rac2023220256.en
https://doi.org/10.1590/1982-7849rac2023...
), entendendo que teoria e prática são interdependentes (Bispo, 2022a) e dando espaço para artigos fruto de pesquisa aplicada e voltados para soluções de problemas concretos (Motta, 2022Motta, G. da S. (2022). What is a technological article? Revista de Administração Contemporânea, 26(Sup. 1), e220208. https://doi.org/10.1590/1982-7849rac2022220208.en
https://doi.org/10.1590/1982-7849rac2022...
). Diante disso, como propõe Bispo (2022b), inspirando-se em Agamben (2009Agamben, G. (2009). O que é o contemporâneo? E outros ensaios (Chap. 3, pp. 52-73). Argos.), o contemporâneo na RAC está relacionado à capacidade de apreender e aprender com o tempo presente e seus desafios, realizando aproximações e também distanciamentos em relação a ele.

Trata-se, assim, de privilegiar uma produção científica crítica, reflexiva e de qualidade, fundamentada em abordagens epistemológicas consistentes e que expandam os alcances teóricos e práticos da administração, ampliando seu impacto social, com vistas a responder aos desafios contemporâneos. Mas o que isso significa na prática para o nosso campo científico? Neste texto apresento uma reflexão sobre os rumos da ciência da administração contemporânea não apenas em termos epistemológicos, mas também sobre o fazer científico do campo, com vistas a inspirar autores e leitores nos seus estudos e contribuir para adensar a agenda de pesquisa sobre essa temática na RAC.

O debate epistemológico e as reflexões sobre a ciência da administração avançaram muito desde a publicação dos estudos seminais sobre o assunto em âmbito internacional (Astley & Van de Ven, 1983Astley, W. G., & Van de Ven, A. H. (1983). Central perspectives and debates in organization theory. Administrative Science Quarterly, 28(2), 245-273. https://doi.org/10.2307/2392620
https://doi.org/10.2307/2392620...
; Audet & Malouin, 1986Audet, M., & Malouin, J.-L. (1986). La production des connaissances scientifiques de l’administration. Les Presses de l’Université Laval.; Burrell & Morgan, 1979Burrell, G., & Morgan, G. (1979). Sociological paradigms and organizational analysis. Gower.). Atualmente, o tratamento de temas relacionados com a epistemologia, história ou sociologia da ciência da administração tem ganhado cada vez mais espaço nas publicações, no debate acadêmico e no currículo dos cursos de pós-graduação em vários países e também no Brasil (Serva, 2017Serva, M. (2017). Epistemologia da administração no Brasil: O estado da arte. Cadernos EBAPE.BR, 15(4), 741-750. https://doi.org/10.1590/1679-395173209
https://doi.org/10.1590/1679-395173209...
). Esse processo reflete também o próprio desenvolvimento científico dos campos da administração e dos estudos organizacionais.

Com uma origem ancorada na prática, no empirismo com as obras de Taylor e Fayol e numa abordagem gerencialista (Vizeu, 2010Vizeu, F. (2010). (Re)contando a velha história: Reflexões sobre a gênese do management. Revista de Administração Contemporânea, 14(5), 780-797. https://doi.org/10.1590/S1415-65552010000500002
https://doi.org/10.1590/S1415-6555201000...
), a construção teórica e metateórica em administração é mais recente (Audet & Malouin, 1986Audet, M., & Malouin, J.-L. (1986). La production des connaissances scientifiques de l’administration. Les Presses de l’Université Laval.). Tal construção se inicia a partir da metade do século XX, de certa forma como uma reação aos trabalhos clássicos1 1 . Chanlat e Séguin (1987) utilizam esse termo ‘reação’ e não ‘oposição’ para indicar que há aqui muito mais um interesse de completar a escola clássica do que se contrapor a esta. , com as contribuições dos interacionistas das relações humanas (Argyris, 1957Argyris, C. (1957). Personality and organization: The conflict between system and the individual. Harper & Row.; Mayo, 1945Mayo, E. (1945). The social problem of an industrial civilization. Harvard University Press.; Roethlisberger & Dickson, 1939Roethlisberger, F. J., & Dickson, W. J. (1939). Management and the worker. Harvard University Press), da escola da tomada de decisão (Barnard, 1938Barnard, C. (1938). The functions of the executive. Harvard University Press.; Simon, 1961Simon, H. A. (1961). Administrative behavior: A study of decision-making processes in administrative organization (2 ed.). MacMillan.), além dos sociólogos que vão se interessar pelos estudos das organizações como Merton (2013aMerton, R. K. (2013a). A ciência e a ordem social. In R. K. Merton. Ensaios de sociologia da ciência. Editora 34., 2013b) e Parsons (1967Parsons, T. (1967). Sugestões para um tratado sociológico da teoria das organizações. In A. Etzioni (Org.), Organizações complexas. Atlas.), apenas para citar alguns. Desde então, a análise das organizações e o campo da administração se tornou um terreno fértil de aplicação do funcionalismo (Chanlat & Séguin, 1987Chanlat, J.-F., & Séguin, F. (1987). L’analyse des organisations: Une anthologie sociologique. Gaëtan-Morin.) e, portanto, de uma episteme positivista que ainda hoje é apontada como majoritária no campo (Gonzales-Miranda et al., 2018Gonzales-Miranda, D., Ocampo-Salazar, C., & Gentilin, M. (2018). Organizational studies in Latin America. A literature review (2000-2014). Innovar, 28(67), 89-109. https://doi.org/10.15446/innovar.v28n67.68615
https://doi.org/10.15446/innovar.v28n67....
).

Tal perspectiva, orientada em grande parte por abordagens técnicas e instrumentais, tende a naturalizar a noção de organização como sinônimo de empresa e da gestão como domínio voltado para a resolução de problemas, sendo o gestor aquele que garante isso pelo controle e coordenação, com uma ênfase na performance. A crença nessa predominância paradigmática revela-se tanto na produção científica do campo como nas práticas de investigação e ensino, que tendem a reproduzir certas generalizações simbólicas, modelos explicativos, exemplos e valores comuns (Kuhn, 2011Kuhn, T. S. (2011). A estrutura das revoluções científicas (10 ed.). Perspectiva.), gerando consequências como a predominância de abordagens normativas e prescritivas que pouco estimulam a crítica e a reflexividade e dão pouco espaço para outras racionalidades, além da instrumental, como já bem sinalizava Guerreiro Ramos (1989Guerreiro Ramos, A. (1989). A nova ciência das organizações. Editora FGV.).

É importante lembrar, entretanto, que há muitos anos essa ‘unanimidade artificial’ do funcionalismo já vem sendo questionada (Burrell & Morgan, 1979Burrell, G., & Morgan, G. (1979). Sociological paradigms and organizational analysis. Gower.; Chanlat & Séguin, 1987Chanlat, J.-F., & Séguin, F. (1987). L’analyse des organisations: Une anthologie sociologique. Gaëtan-Morin.; Westwood & Clegg, 2013). Isso ocorre especialmente pelo próprio desenvolvimento dos estudos metateóricos que vão evidenciar as características de uma ciência da administração ainda jovem. Esses estudos vão mostrar que o campo discursivo da administração nunca foi homogêneo, ao contrário, é fragmentado e diverso e sempre houve vozes discordantes, desde a sua origem.

Diante disso, é importante levar em conta e não mascarar essa pluralidade de perspectivas teóricas, paradigmáticas, metodológicas e analíticas do campo e ir além na compreensão da sua diversidade, particularidades e potencialidades. Isso só é possível se investirmos mais em expandir nossa reflexão sobre a produção do conhecimento na ciência da administração e também sobre o fazer científico nesse campo e suas consequências. Isso significa conceber metaquestões sobre as matrizes epistêmicas adotadas (Paula, 2015Paula, A. P. P. (2015). Repensando os estudos organizacionais: Para uma nova teoria do conhecimento. Editora FGV.) e suas implicações, mas também demanda reflexões sobre o fazer científico para que se possa produzir uma ciência ‘inventiva’ e não apenas reprodutora de modelos universalistas, frequentemente adotados, sem a devida redução sociológica (Ibarra-Colado, 2008Ibarra-Colado, E. (2008). Is there any future for critical management studies in Latin America? Moving from epistemic coloniality to “trans-discipline”. Organization, 15(6), 932-935. https://doi.org/10.1177/1350508408095822
https://doi.org/10.1177/1350508408095822...
; Guerreiro Ramos, 1996Guerreiro Ramos, A. (1996). A redução sociológica. Ed. UFRJ.).

Trata-se aqui de um alargamento da reflexão metateórica no campo (Helin et al., 2014Helin, J., Hernes, T., Hjorth, D., & Holt, R. (2014). The Oxford handbook of process philosophy and organization studies. Oxford University Press. https://doi.org/10.1093/oxfordhb/9780199669356.001.0001
https://doi.org/10.1093/oxfordhb/9780199...
; Tsoukas, 2005Tsoukas, H. (2005). Complex knowledge: Studies in organizational epistemology. Oxford University Press.; Tsoukas & Chia, 2011) e também sobre suas práticas científicas (Callon & Latour, 1981Callon, M., & Latour, B. (1981). Unscrewing the big Leviathan: How actors macro-structure reality and how sociologists help them to do so. In K. Knorr-Cetina & A. V. Cicourel (Eds.), Advances in social theory and methodology: Toward an integration of micro and macro-sociologies (pp. 277-303). Routledge, Kegan Paul.; Latour, 1983; Pickering, 1992Pickering, A. (1992). From science as knowledge to science as practice. In: A. Pickering, Science as practice and culture. University of Chicago Press.). Tsoukas e Chia (2011) mostram que este movimento revela a existência de uma pluralidade de perspectivas ontológicas, epistemológicas, teóricas, praxiológicas e axiológicas que podem ser adotadas em estudos e pesquisas em administração e que influenciam a forma como os investigadores encaram a realidade organizacional, constroem conhecimentos sobre ela e abordam a sua prática. À medida que discutimos mais sobre essa pluralidade de perspectivas, mais tornamos visível a existência de várias formas de construção de validade científica e de discursos sobre organizações e seus fenômenos. Assumir as formas de validade científica adotadas permite tornar a investigação mais consistente, responsiva e transparente, perante o campo científico. Por outro lado, essas formas de validade estão imersas na sociedade e no tempo em que são moldadas e são, portanto, historicamente construídas e ancoradas em concepções particulares do que investigamos e como investigamos (Demo, 2012Demo, P. (2012). Ciência rebelde. Para continuar aprendendo, cumpre desestruturar-se. Atlas.; Westwood & Clegg, 2013).

Neste editorial, parto da premissa de que o avanço das reflexões epistemológicas sobre a construção do conhecimento e sobre as práticas científicas podem contribuir para conceber uma ciência da administração mais robusta e apta a responder aos desafios do nosso tempo. Particularmente, buscamos mostrar que algumas características que faziam a ciência da administração ser questionada ou ainda tachada de ‘pseudociência’ podem ser vistas hoje como elementos que a favorecem, enquanto uma ciência do ‘organizar’, do ‘coordenar’, uma ciência das práticas, dos dispositivos e dos processos que podem produzir importantes efeitos sobre o mundo e em resposta aos desafios contemporâneos.

Sua heterenomia e suas relações com o senso comum e a política, a sua ancoragem no mundo real, seu caráter aplicado, a multiplicidade de abordagens teóricas e a disputa entre elas, além do anarquismo metodológico, podem ser vistos não como ‘defeitos’ da ciência da administração, mas como qualidades que fornecem possibilidades de construir ‘sistemas de produção de conhecimento’ (Hill, 1984Hill, M. R. (1984). Epistemology, axiology and ideology in sociology. Mid-American Review of Sociology, 9(2), 59-77. https://www.jstor.org/stable/23252838
https://www.jstor.org/stable/23252838...
) mais consistentes, coerentes e honestos com suas limitações. Mas para isso, é preciso que tanto o que se produz pela ciência da administração quanto o seu próprio fazer científico sejam problematizados, quer dizer, que a própria ciência da administração seja tomada como fenômeno de investigação, por meio de estudos não apenas teóricos, mas também empíricos.

Diante dessa premissa, apresento a seguir, a partir dos avanços das reflexões sobre a epistemologia e as práticas científicas do campo, algumas propostas para reforçar uma agenda de pesquisa em administração que amplie os horizontes das discussões epistemológicas e metateóricas sobre o conteúdo do conhecimento produzido, mas também sobre como esse conhecimento é produzido, concentrando-se nas práticas científicas do campo, seus alcances e limites e as consequências dessas práticas no universo acadêmico e para além dele.

O AVANÇO NO DEBATE EPISTEMOLÓGICO E SUAS REPERCUSSÕES NOS ESTUDOS NA ADMINISTRAÇÃO

Desde os seus primórdios, com Bacon e Descartes, as discussões epistemológicas foram reservadas aos filósofos. Isso se mantém nos três primeiros quartos do século XX quando a produção de discursos legítimos sobre as ciências, institucionalizada pelas disciplinas de Filosofia da Ciência e de Epistemologia, permanece sob o monopólio da Filosofia. Inclusive, nesse período raramente se observam cientistas profissionais lançando alguma preocupação quanto à problemática do conhecimento em suas respectivas disciplinas, muito menos tomando a ciência e o conhecimento científico como objetos de análise empírica. Diante disso, a discussão epistemológica nas ciências sociais gira em torno das vias de construção do conhecimento, concentrando-se sobre as diferentes vertentes ontológicas e epistemológicas que podem resultar em múltiplas formas de produzir conhecimento, a partir de critérios de validade internos. Por meio da oposição e também no diálogo entre as tradições filosóficas positivistas e idealistas, diversas vertentes de construção de conhecimento vão sendo concebidas ao longo do tempo no âmbito da filosofia que vão ter repercussões evidentes nas ciências sociais.

No campo da administração não foi diferente, resultando em um predomínio de uma episteme positivista, na qual se ancora o estrutural-funcionalismo largamente aplicado nas ciências sociais e também nos estudos organizacionais (Chanlat & Séguin, 1987Chanlat, J.-F., & Séguin, F. (1987). L’analyse des organisations: Une anthologie sociologique. Gaëtan-Morin.). A crítica ao funcionalismo será mais tarde acompanhada pela expansão dos estudos críticos (Gantman, 2017Gantman, E. R. (2017). El desarrollo de los estudios críticos de gestión en los países latinoamericanos de habla hispana. Política y Sociedad, 54(1), 45-64. https://doi.org/10.5209/POSO.51679
https://doi.org/10.5209/POSO.51679...
). Com o avanço da produção teórica em estudos organizacionais - e também como reflexo de um movimento que é observado nas ciências sociais como um todo - alguns autores denunciam uma certa polarização entre perspectivas positivistas e construtivistas no campo ilustrada pela oposição entre estudos funcionalistas e estudos críticos (Caldas et al., 2011Caldas, M., Tonelli, M., & Lacombe, B. (2011). IHRM in developing countries: Does the functionalist vs. critical debate make sense south of Equator? BAR - Brazilian Administration Review, 8(4), 433-453. https://doi.org/10.1590/s1807-76922011000400006
https://doi.org/10.1590/s1807-7692201100...
; Gonzales-Miranda et al., 2018Gonzales-Miranda, D., Ocampo-Salazar, C., & Gentilin, M. (2018). Organizational studies in Latin America. A literature review (2000-2014). Innovar, 28(67), 89-109. https://doi.org/10.15446/innovar.v28n67.68615
https://doi.org/10.15446/innovar.v28n67....
).

Contudo, mais recentemente diversos estudos vão avançando no sentido de evidenciar que o campo científico da administração é muito mais diversificado em termos epistemológicos, indo muito além dessa polarização. Chanlat e Séguin (1987Chanlat, J.-F., & Séguin, F. (1987). L’analyse des organisations: Une anthologie sociologique. Gaëtan-Morin.) em seu trabalho seminal já discutiam a necessidade de ampliar as escolhas paradigmáticas para que se pudesse investigar diversos fenômenos evacuados do campo de análise das organizações. Já inspirando-se em Westwood e Clegg (2013), pode-se afirmar que a administração é um campo discursivo, constituído de uma matriz de textos, teorias, conceitos, práticas e formas/arranjos institucionais. É conformado por diversas comunidades de linguagem e discursos que estão em disputa e nunca foi homogêneo, mas fragmentado e diverso, permeado por vozes discordantes, mesmo quando determinadas perspectivas são predominantes.

Indo nessa mesma direção, Paula (2015Paula, A. P. P. (2015). Repensando os estudos organizacionais: Para uma nova teoria do conhecimento. Editora FGV.) avança mais recentemente ao defender que o campo de estudos da administração é permeado por diversas matrizes epistêmicas que se inspiram em filosofias, lógicas do pensamento e interesses cognitivos particulares. Cada uma das matrizes apresentadas pela autora apresenta sua própria coerência interna, linguagem e critérios de validade específicos. Trata-se do que Demo (2012Demo, P. (2012). Ciência rebelde. Para continuar aprendendo, cumpre desestruturar-se. Atlas.) denomina validade contingente, que deve ser observada pelos pesquisadores. Portanto, para a autora, a incomensurabilidade ou a separação total das matrizes epistêmicas não é possível já que elas se comunicam e se correspondem, havendo simetria entre elas. As teorias e as metodologias escolhidas pelos pesquisadores transitam entre as diferentes matrizes epistêmicas para superar a incompletude cognitiva e podem gerar ‘reconstruções epistêmicas’ (Paula, 2015).

Desse modo, na prática da pesquisa, é muito mais comum encontrarmos abordagens epistêmicas híbridas, definidas em função das perguntas de pesquisa, dos objetivos e do fenômeno que se busca investigar. Mais do que buscar uma coerência epistemológica absoluta, muitas vezes inatingível, trata-se de construir ‘sistemas de produção de conhecimento’ (Hill, 1984Hill, M. R. (1984). Epistemology, axiology and ideology in sociology. Mid-American Review of Sociology, 9(2), 59-77. https://www.jstor.org/stable/23252838
https://www.jstor.org/stable/23252838...
) que identifiquem com clareza seus elementos constitutivos, os quais devem estar articulados. É importante também identificar e publicizar as inconsistências e limitações dos sistemas de produção de conhecimento, o que raramente é feito de forma cuidadosa nos estudos, e que sejam propostas, na medida do possível, soluções para estas.

Tsoukas e Chia (2011Tsoukas, H., & Chia, R. (2011). Research in the sociology of organizations. In H. Tsoukas & R. Chia (Eds.), Philosophy and organization theory (Research in the sociology of organizations, Vol. 32). Emerald Group Publishing Limited. https://doi.org/10.1108/S0733-558X(2011)0000032017
https://doi.org/10.1108/S0733-558X(2011)...
) ajudam a avançar nesses elementos constitutivos de todo sistema de produção de conhecimento. Tais elementos têm repercussões nos rumos da investigação e também produzem implicações em termos de atitudes para o investigador, incluindo: (a) a ontologia (como a realidade investigada é percebida); (b) a epistemologia (como o conhecimento é construído e quais os caminhos e critérios de validade adotados); e (c) a metodologia e/ou praxeologia (como os fenômenos são investigados e como interagimos com eles). Para além desses elementos, podemos também adicionar a axiologia. Como discute Hill (1984Hill, M. R. (1984). Epistemology, axiology and ideology in sociology. Mid-American Review of Sociology, 9(2), 59-77. https://www.jstor.org/stable/23252838
https://www.jstor.org/stable/23252838...
), todo sistema de produção de conhecimento se relaciona com os valores e as perspectivas ideológicas do pesquisador. Tais valores, mesmo que implícitos, influenciam a pesquisa, seja na forma como esta é conduzida, seja na análise dos seus resultados.

Diante disso, a expansão e diversificação das perspectivas ontológicas, epistemológicas, metodológicas, axiológicas e uma maior interdisciplinaridade do campo podem ser elementos importantes para o desenvolvimento da ciência da administração. Isso porque as investigações e a capacidade de teorização e de produção de respostas só têm a ganhar se explorarmos as diversas possibilidades abertas pelas diferentes matrizes epistêmicas construídas ao longo do tempo e sua aplicação nas pesquisas.

Entretanto, as reflexões sobre a ciência não avançaram apenas do ponto de vista epistemológico, centrando-se nos critérios de validade internos da produção do conhecimento, mas também trazem importantes insights a respeito do fazer científico. A seguir, abordo mais particularmente a discussão nos science studies (estudos sobre a ciência) e suas possíveis contribuições para o campo da administração.

OS ESTUDOS SOBRE AS CIÊNCIAS E SUAS PRÁTICAS E OS SEUS DESDOBRAMENTOS NA ADMINISTRAÇÃO

Como constata Bourdieu (2001Bourdieu, P. (2001). Para uma sociologia da ciência. Edições 70.), a emergência dos estudos sobre a ciência pode ser interpretada como uma reação dos sociólogos da época para com os filósofos que dominavam o debate sobre o conhecimento. Merton (2013aMerton, R. K. (2013a). A ciência e a ordem social. In R. K. Merton. Ensaios de sociologia da ciência. Editora 34.; 2013b) é o primeiro a pesquisar a ciência de um ponto de vista eminentemente sociológico, demonstrando a relação entre o meio institucional (valores, comportamentos, quadros culturais, etc.) e o desenvolvimento da ciência. Podemos afirmar, portanto, que Merton é pioneiro em fazer uma sociologia da cultura científica, isto é, do seu éthos. Porém, embora demonstre que o ambiente institucional influencia o florescimento da ciência, Merton ainda afirma uma autonomia da ciência e sua essencialidade, defendendo um ideal de Ciência Moderna, fundado nos princípios de neutralidade e objetividade.

Somente mais tarde vai se abrir espaço para uma crítica ao projeto da Ciência Clássica. Tal debate, que ocorre principalmente no âmbito filosófico, tem como principal expoente o trabalho de Thomas Kuhn. Com Kuhn (2011Kuhn, T. S. (2011). A estrutura das revoluções científicas (10 ed.). Perspectiva.), entra em pauta a possibilidade de considerar as influências externas no desenvolvimento da ciência. Assim, o trabalho de Kuhn serviu de chancela para uma série de autores que após os anos 1970 passaram a estudar as dimensões sociais da ciência. Isso vai abrir espaço para uma evidente ruptura entre o que se fazia no campo da sociologia do conhecimento até Merton e o que surgirá depois com os trabalhos da sociologia da ciência (Dubois, 2005Dubois, M. (2005). L’action scientifique: Modèles interprétatifs et explicatifs en sociologie des sciences. L’Année Sociologique, 55, 103-125. https://doi.org/10.3917/anso.051.0103
https://doi.org/10.3917/anso.051.0103...
).

A obra de Khun no âmbito da história das ciências, assim como outras nos anos 19702 2 . Sem adentrar as particularidades de cada um dos autores, o que fugiria do escopo deste editoral, pode-se afirmar que a partir dos anos 1970, além da obra de Thomas Khun, outros autores nos campos da filosofia e das ciências sociais corroboraram para um questionamento do ideal de Ciência Clássica e dos seus princípios. Dentre eles podemos destacar Imre Lakatos com seu racionalismo crítico, Paul Feyerabend (1975), amigo de Lakatos, com seu anarquismo epistemológico, bem como Edgard Morin (1982) e Le Moigne (1995), que com seus trabalhos abriram espaço para as epistemologias construtivistas nas ciências sociais. , preparam o terreno para que os sociólogos se lancem em novas fronteiras no estudo da ciência, invadindo territórios até então consagrados apenas aos filósofos. É o que aponta Martin (2006Martin, O. (2006). Savants, sciences et savoirs en société: Quelques réflexions sur le renouvellement de la sociologie des sciences. Sociétés Contemporaines, 64, 5-19. https://doi.org/10.3917/soco.064.0005
https://doi.org/10.3917/soco.064.0005...
), quando indica os novos espaços desbravados: desde os domínios dos conteúdos científicos até questões últimas como a verdade, a objetividade e a argumentação científica. Observa-se então um movimento de ‘desnaturalização’ da ciência, dando lugar a novas perguntas e a uma nova agenda de pesquisa que não se interessa apenas em discutir as epistemologias científicas, mas o fazer científico. Nessa esteira se desenvolvem o programa forte, tendo como seu principal representante David Bloor (2009Bloor, D. (2009). Conhecimento e imaginário social. Editora Unesp.), e mais tarde os trabalhos de Bourdieu que fundam uma sociologia crítica da ciência, vista enquanto campo de disputas e dominação (Bourdieu, 2013).

Para Bloor (2009Bloor, D. (2009). Conhecimento e imaginário social. Editora Unesp.), uma sociologia do conhecimento científico forte deve aderir necessariamente a quatro princípios: (a) deve ser uma sociologia causal e buscar as diversas condições (para além das sociológicas) que produzem os estados de conhecimento; (b) deve ser imparcial, portanto, não julgar o conhecimento em termos de verdade ou falsidade, racional ou irracional, pois julgamentos deste tipo são relativos; (c) deve apresentar simetria, que se aplica quanto ao modo da explicação; os mesmos tipos de causa explicam crenças verdadeiras e falsas e, portanto, não se deve apontar apenas o que levou aos acertos, mas também o que levou aos erros científicos; e (d) deve possuir reflexividade; seu modelo explicativo deve ser aplicado à própria sociologia e, bem especificamente, à própria sociologia do conhecimento. Se busca leis gerais sociológicas, ela, como ciência, deve estar sujeita às leis sociais tal qual as ciências duras, principal objeto de atenção de Bloor.

Além do programa forte, outro pilar fundamental na institucionalização da sociologia da ciência foi o trabalho de Pierre Bourdieu. Dono de uma obra vasta, percorrendo variados universos empíricos, Bourdieu formulou sua sociologia da ciência a partir de sua noção de campo social, cujo resultado foram três obras: O campo científico (2013), Os usos sociais da ciência (2004) e Para uma sociologia da ciência (2001). Para Bourdieu (2004), o campo científico é uma arena de competição, local de disputas pelo monopólio da autoridade científica. Mesmo que, em alguns casos, os cientistas tenham aversão ao acúmulo de dinheiro e poder político, eles direcionam suas práticas ao acúmulo de capital científico. Se Merton viu na realidade os valores e imperativos da ciência como realmente desinteressados, Bourdieu (2013)o contraria diretamente e diz que se trata de um interesse velado, um interesse em ser desinteressado. Os cientistas, de fato, estão lutando para ter o poder (legítimo) de definir a ciência de acordo com seus interesses particulares, garantindo a perpetuação de suas posições dominantes no campo.

Como visto até aqui, o campo da sociologia da ciência sofreu grandes transformações nas quatro últimas décadas. Percebe-se um movimento de diversificação de perspectivas, tendo como ponto comum um processo de desnaturalização da ciência, que passa a ser vista não apenas como um ‘saber’, mas como uma instituição, com seus alcances e limites (Pestre, 2006Pestre, D. (2006). Introduction aux science studies. La Découverte.). Essas transformações não ocorrem apenas no campo da sociologia da ciência, mas da ciência em geral e na sociedade dos anos 1970, num cenário de crise do Fordismo e do movimento de 1968, o que faz emergir vários questionamentos sobre as relações entre a ciência e a sociedade, entre a teoria e a prática e, mais especificamente, sobre o fazer científico.

Nesse cenário, a reconstituição da história da sociologia da ciência contemporânea passa ao largo de um discurso generalizador e normativo que dava o tom, por exemplo, aos estudos clássicos da filosofia da ciência e da sociologia do conhecimento. O desafio atual parece ser o de reconstituir uma narrativa coerente que permita compreender as particularidades e as diferenças entre as múltiplas correntes interpretativas que emergem no campo nas últimas décadas. Quando observamos as diferentes obras que fazem uma genealogia da história mais recente da ciência, e mais especificamente da sociologia da ciência (Bourdieu, 2001Bourdieu, P. (2001). Para uma sociologia da ciência. Edições 70.; Braustein, 2008; Dubois, 2001Dubois, M. (2001). La nouvelle sociologie de sciences. Presses Universitaires de France.; Gingras, 2010Gingras, Y. (2010). Propos sur les sciences: Entretiens avec Yanick Villedieu. Raisons d´agir., 2013; Martin, 2006Martin, O. (2006). Savants, sciences et savoirs en société: Quelques réflexions sur le renouvellement de la sociologie des sciences. Sociétés Contemporaines, 64, 5-19. https://doi.org/10.3917/soco.064.0005
https://doi.org/10.3917/soco.064.0005...
; Pestre, 2006Pestre, D. (2006). Introduction aux science studies. La Découverte.; Vinck, 2007Vinck, D. (2007). Sciences et société: Sociologie du travail scientifique. Armand Colin.), não há uma unanimidade de interpretação. Mais do que um fio condutor coerente, talvez sejam as controvérsias e a heterogeneidade entre as abordagens, a multidisciplinaridade e a multiplicidade de objetos de estudo que prevaleçam.

Diante disso, emerge uma nova agenda de pesquisa sobre a ciência, que também gera rebatimentos sobre as ciências sociais e sobre a administração mais especificamente. Dubois (2001Dubois, M. (2001). La nouvelle sociologie de sciences. Presses Universitaires de France.) elenca e caracteriza os principais programas de pesquisa que reorientam o campo da sociologia da ciência a partir dos anos 1970, quando são valorizadas abordagens interdisciplinares, surge uma série de associações científicas interessadas na temática e também se multiplicam as publicações e se amplia o financiamento para a pesquisa na área. Como pontos em comum, o autor levanta quatro tendências que emergem nessa época e que se tornarão mais fortes no campo nas décadas posteriores: (a) enfatizar as ações e práticas científicas empiricamente observáveis; (b) relativizar e ‘desessencializar’ a ciência tomando suas atividades a partir de um olhar situado, contextualizado e que valoriza a sua história; (c) acentuar a interdependência dos diferentes fatores que concorrem para colocar em prática as atividades científicas; e (d) ampliar o interesse pelas consequências sociais da ciência, da responsabilidade social dos cientistas e da ideologia inerente a toda comunidade científica.

Embora essas tendências possam ser apontadas como pontos em comum nas abordagens contemporâneas da sociologia da ciência, pode-se afirmar que tais tendências se apresentam de maneira distinta nas linhas de pesquisa. Com base nos autores citados até aqui, apresento, na Tabela 1 (a seguir), uma síntese de três principais linhas de pesquisa que considero fundadoras da transição no campo da sociologia da ciência que ocorreu após os estudos de Merton sobre as instituições da ciência: a teoria do campo científico, o programa forte e, mais recentemente, a socioantropologia das ciências e da técnica (Latour, 1983Latour, B. (1983). Give me a laboratory and I will raise the world. In K. D. Knorr-Cetina & M. Mulkay (Eds.), Science observed: Perspectives on the social study of Science. Sage Publications.; Latour & Woogar, 1997; Pickering & Guzic, 2008Pickering, A., & Guzic, K. (2008). The mangle in practice: Science, society and becoming. Duke University Press.).

Tabela 1
Principais linhas de pesquisa que renovam a sociologia da ciência após a década de 1970.

Essas linhas de pesquisa abrem espaço para ir além do debate sobre as diferentes epistemologias das ciências (com foco nos produtos dos campos científicos e nos aspectos disciplinares, enquanto construções conceituais), já que se interessam mais e mais pelas práticas científicas, buscando compreender como a ciência é feita. Essas abordagens não se contentam com as explicações causais globais e colocam ênfase na realidade dos atores, mostrando que nas suas práticas cotidianas tais atores também incidem na construção das regras do jogo científico. Há uma desmistificação da ciência, que perde o seu caráter de essencialidade, de autovalidação, e se desnaturaliza.

Vista enquanto conjunto de práticas, “a ciência perde sua singularidade, ela se hibridiza, se dissolve como uma entidade evidente” (Pestre, 2006Pestre, D. (2006). Introduction aux science studies. La Découverte., p. 6), e se torna mais próxima das ‘coisas mundanas’ como o senso comum, a política ou a ideologia.

A própria prática científica se transformou muito nas últimas décadas: “de solitária ela se torna coletiva, de artesanal ela passa ao estado industrial e fortemente instrumentalizado; de local ela se torna internacional … A busca pelo dinheiro e pelos títulos faz aparecer muitas fraudes e conflitos de interesse” (Gingras, 2010Gingras, Y. (2010). Propos sur les sciences: Entretiens avec Yanick Villedieu. Raisons d´agir., p. 6).

Tomando por base a herança dessas linhas de pesquisa e seus desdobramentos atuais, observamos, no campo da sociologia da ciência, o que chamamos de virada para as práticas e para o fazer científico. Ela fez com que a ciência fosse então percebida como um conjunto de práticas envolvendo diferentes entes (humanos e não humanos) em interação, inclusive aqueles do mundo não acadêmico. Tal compreensão refunda, como afirma Latour (1999Latour, B. (1999). On recalling Ant. The Sociological Review, 47(1_suppl), 15-25. https://doi.org/10.1111/j.1467-954X.1999.tb03480.x
https://doi.org/10.1111/j.1467-954X.1999...
; 2012), alguns pilares que dominaram os campos de estudos sobre a ciência, seja na filosofia, seja na história da ciência, na sociologia da ciência ou nas ciências sociais. A ciência do social e o social em si tornam-se então ‘objetos de estudo’ e não são tomados como dados a priori.

Tudo isso abre inúmeras possibilidades para o campo de estudos sobre a ciência da administração, possibilitando olhar com mais atenção para a sua estruturação enquanto campo científico, mas também e principalmente para o fazer científico, as práticas e as experiências cotidianas dos cientistas e seus efeitos na sociedade, alargando a agenda de pesquisa e possibilitando enxergar as características, as particularidades, os avanços e os limites dessa ciência ainda jovem, como concluiremos na Tabela 1.

À GUISA DE CONCLUSÃO: QUAIS SÃO OS REBATIMENTOS PARA UMA AGENDA DE PESQUISA SOBRE A CIÊNCIA DA ADMINISTRAÇÃO?

Neste editorial explorei sinteticamente os debates mais recentes nos campos da epistemologia e da sociologia da ciência, buscando evidenciar as possibilidades trazidas por esses debates para abrir novas fronteiras e lançar reflexões sobre a ciência da administração contemporânea.

No que se refere ao debate epistemológico, concordo com Paula (2015Paula, A. P. P. (2015). Repensando os estudos organizacionais: Para uma nova teoria do conhecimento. Editora FGV.) quando ela nos convida a reconhecer e explorar as potencialidades das diversas matrizes epistêmicas que convivem no campo e também das suas interconexões, de modo a conceber novas e variadas formas de investigação e de ‘escavação’ científica que possam nos ajudar a identificar, descrever, interpretar, compreender e/ou explicar os fenômenos da administração. Tal movimento me parece essencial para que se possa explorar novas vias ontológicas, epistemológicas e praxeológicas e suas contribuições em termos de formulação de novas questões, problematizações, construções analítico-metodológicas e teóricas no nosso campo científico. Tudo isso pode ajudar não apenas a gerar uma produção científica de maior qualidade com maior ‘impacto social’, mas também promover cientistas mais conscientes das opções metateóricas e os valores e mais honestos com os valores que ancoram seus estudos e/ou aqueles os quais avaliam.

Por outro lado, as novas linhas de pesquisa dos science studies abrem espaço para trabalhos que focalizem o fazer científico no campo da administração, para além da sua produção e das suas estruturas. Concentrar-se nas práticas científicas, como afirma Frega (2016Frega, R. (2016). Qu’est-ce qu’une pratique? In F. Chateauraynaud & Y. Cohen (Orgs.), Histoires pragmatiques. Éditions EHESS.), significa investigar um nível intermediário que relaciona dois pilares distintos e complementares da constituição da ciência: (a) a existência de formas de regularidade, rotinas, hábitos, procedimentos, aprendizagens adquiridas e seus efeitos; e (b) um potencial reflexivo de crítica e de ruptura que é imanente à vida social e que perpassa também a ciência. As práticas podem revelar, ao mesmo tempo, as formas de reprodução da ciência e as ações que permitem sua atualização/transformação e recomposição constante. Nesse sentido, compreendê-las se torna essencial para um entendimento mais complexo da dinâmica científica.

As discussões recentes trazidas aqui também propõem uma reconciliação entre os saberes ‘científicos’ e os saberes ‘práticos’, tradicionalmente separados e hierarquizados no debate sobre a ciência e na própria administração. O estudo das práticas, que sempre foi essencial na administração e muitas vezes desvalorizado e confundido com ‘senso comum’, passa a ser considerado, como afirma Frega (2016Frega, R. (2016). Qu’est-ce qu’une pratique? In F. Chateauraynaud & Y. Cohen (Orgs.), Histoires pragmatiques. Éditions EHESS., p. 329), “um patrimônio, um componente indispensável no funcionamento de todo empreendimento destinado a durar no tempo”, inclusive na ciência.

Mas, acima de tudo, os avanços no debate epistemológico e também sobre o fazer científico permitem olhar e exercitar de outro modo a ciência da administração. Nesse sentido, como discutido por Alperstedt e Andion (2017Alperstedt, G. D., & Andion, C. (2017). Por uma pesquisa que faça sentido. Revista de Administração de Empresas, 57(6), 626-631. https://doi.org/10.1590/S0034-759020170609
https://doi.org/10.1590/S0034-7590201706...
), características que eram tidas como problemáticas, a partir de uma visão ortodoxa, como a sua heteronomia, seu caráter aplicado, a multiplicidade de abordagens teóricas e metodológicas e a sua demarcação pouco clara em relação às práticas e à ideologia, hoje podem ser vistas como particularidades que distinguem e valorizam a administração perante as demais ciências.

Trata-se de enxergar a administração talvez como ela sempre foi, uma ciência das práticas, interdisciplinar, “uma ciência que se faz nos diversos laboratórios da vida” e, portanto, “uma ciência essencial ao processo de instituir e de transformar realidades” (Alperstedt & Andion, 2017Alperstedt, G. D., & Andion, C. (2017). Por uma pesquisa que faça sentido. Revista de Administração de Empresas, 57(6), 626-631. https://doi.org/10.1590/S0034-759020170609
https://doi.org/10.1590/S0034-7590201706...
, p. 628) e para produzir respostas aos desafios do nosso tempo. Tal concepção de ciência da administração, como propõe Bispo (2022aBispo, M. de S. (2022a). In defense of theory and original theoretical contributions in administration. Revista de Administração Contemporânea, 26(6), e220158. https://doi.org/10.1590/1982-7849rac2022220158.en
https://doi.org/10.1590/1982-7849rac2022...
), pode estar no cerne do que entendemos sobre ‘administração contemporânea’, que vem sendo valorizada na política editorial e discutida em outros editoriais da RAC, como citamos (Bispo, 2022a, 2023; Motta, 2022Motta, G. da S. (2022). What is a technological article? Revista de Administração Contemporânea, 26(Sup. 1), e220208. https://doi.org/10.1590/1982-7849rac2022220208.en
https://doi.org/10.1590/1982-7849rac2022...
). Como salienta Bispo (2022a), trata-se da capacidade de compreender e responder aos desafios do ‘contemporâneo’, que não é apenas aquilo que ‘é novidade’, mas que resulta “de um processo histórico que nos ajuda a (re)conhecer o presente” (Bispo, 2022a, p. 2), e nos permite propor questões relevantes e inseridas nas realidades em que vivemos.

Entretanto, como provoquei neste texto, para que isso ocorra é necessário que tanto o produto do conhecimento quanto os caminhos adotados para o conhecer e o fazer científico na administração sejam problematizados e tomados como fenômenos a serem investigados, de forma crítica e reflexiva, considerando seus efeitos reais, diante dos desafios contemporâneos. Num mundo de profundas desigualdades sociais, geradoras de injustiças materiais e simbólicas, onde os efeitos cada vez mais severos de uma crise climática são vividos globalmente e no local, a administração torna-se uma ciência primordial. Mas qual ciência da administração queremos e praticamos? Será que ela é capaz de fazer face aos dilemas que enfrentamos? É diante dessas perguntas que proponho avançarmos numa agenda de pesquisa, articulada com o ensino e a extensão, para coproduzir uma ciência da administração realmente transformadora das realidades em que vivemos e que possa responder aos desafios contemporâneos e não apenas reproduzir o próprio campo, legitimar injustiças e justificar o status quo.

REFERÊNCIAS

  • Agamben, G. (2009). O que é o contemporâneo? E outros ensaios (Chap. 3, pp. 52-73). Argos.
  • Alperstedt, G. D., & Andion, C. (2017). Por uma pesquisa que faça sentido. Revista de Administração de Empresas, 57(6), 626-631. https://doi.org/10.1590/S0034-759020170609
    » https://doi.org/10.1590/S0034-759020170609
  • Argyris, C. (1957). Personality and organization: The conflict between system and the individual. Harper & Row.
  • Astley, W. G., & Van de Ven, A. H. (1983). Central perspectives and debates in organization theory. Administrative Science Quarterly, 28(2), 245-273. https://doi.org/10.2307/2392620
    » https://doi.org/10.2307/2392620
  • Audet, M., & Malouin, J.-L. (1986). La production des connaissances scientifiques de l’administration. Les Presses de l’Université Laval.
  • Barnard, C. (1938). The functions of the executive. Harvard University Press.
  • Bispo, M. de S. (2022a). In defense of theory and original theoretical contributions in administration. Revista de Administração Contemporânea, 26(6), e220158. https://doi.org/10.1590/1982-7849rac2022220158.en
    » https://doi.org/10.1590/1982-7849rac2022220158.en
  • Bispo, M. de S. (2022b). Reflecting on contemporary administration. Revista de Administração Contemporânea, 26(1), e210203. https://doi.org/10.1590/1982-7849rac2022210203.en
    » https://doi.org/10.1590/1982-7849rac2022210203.en
  • Bispo, M. de S. (2023). Scientific articles’ theoretical, practical, methodological, and didactic contributions. Revista de Administração Contemporânea, 27(1), e220256. https://doi.org/10.1590/1982-7849rac2023220256.en
    » https://doi.org/10.1590/1982-7849rac2023220256.en
  • Bloor, D. (2009). Conhecimento e imaginário social. Editora Unesp.
  • Bourdieu, P. (2001). Para uma sociologia da ciência. Edições 70.
  • Bourdieu, P. (2004). Os usos sociais da ciência: Por uma sociologia clínica do campo científico. Editora Unesp.
  • Bourdieu, P. (2013). O campo científico. In R. Ortiz (Org.). A sociologia de Pierre Bourdieu. Olho D’Água.
  • Braunstein, J.-F. (2008). L´histoire des sciences: Méthodes, syles et controverses. Textes reunis. Librairie Philosophique.
  • Burrell, G., & Morgan, G. (1979). Sociological paradigms and organizational analysis. Gower.
  • Caldas, M., Tonelli, M., & Lacombe, B. (2011). IHRM in developing countries: Does the functionalist vs. critical debate make sense south of Equator? BAR - Brazilian Administration Review, 8(4), 433-453. https://doi.org/10.1590/s1807-76922011000400006
    » https://doi.org/10.1590/s1807-76922011000400006
  • Callon, M., & Latour, B. (1981). Unscrewing the big Leviathan: How actors macro-structure reality and how sociologists help them to do so. In K. Knorr-Cetina & A. V. Cicourel (Eds.), Advances in social theory and methodology: Toward an integration of micro and macro-sociologies (pp. 277-303). Routledge, Kegan Paul.
  • Chanlat, J.-F., & Séguin, F. (1987). L’analyse des organisations: Une anthologie sociologique. Gaëtan-Morin.
  • Demo, P. (2012). Ciência rebelde. Para continuar aprendendo, cumpre desestruturar-se. Atlas.
  • Dortier, J.-F. (2008). Les idées pures n’existent pas. In J. F. Dortier (Org.), Pierre Bourdieu: Son oeuvre, son héritage. Sciences Humaines Éditions.
  • Dubois, M. (2001). La nouvelle sociologie de sciences. Presses Universitaires de France.
  • Dubois, M. (2005). L’action scientifique: Modèles interprétatifs et explicatifs en sociologie des sciences. L’Année Sociologique, 55, 103-125. https://doi.org/10.3917/anso.051.0103
    » https://doi.org/10.3917/anso.051.0103
  • Feyerabend, P. (1975). Against method: Outline of an anarchistic theory of knowledge. New Left Books.
  • Frega, R. (2016). Qu’est-ce qu’une pratique? In F. Chateauraynaud & Y. Cohen (Orgs.), Histoires pragmatiques. Éditions EHESS.
  • Gantman, E. R. (2017). El desarrollo de los estudios críticos de gestión en los países latinoamericanos de habla hispana. Política y Sociedad, 54(1), 45-64. https://doi.org/10.5209/POSO.51679
    » https://doi.org/10.5209/POSO.51679
  • Gingras, Y. (2010). Propos sur les sciences: Entretiens avec Yanick Villedieu. Raisons d´agir.
  • Gingras, Y. (2013). Sociologie des sciences. Presses Universitaires de France
  • Gonzales-Miranda, D., Ocampo-Salazar, C., & Gentilin, M. (2018). Organizational studies in Latin America. A literature review (2000-2014). Innovar, 28(67), 89-109. https://doi.org/10.15446/innovar.v28n67.68615
    » https://doi.org/10.15446/innovar.v28n67.68615
  • Guerreiro Ramos, A. (1989). A nova ciência das organizações. Editora FGV.
  • Guerreiro Ramos, A. (1996). A redução sociológica. Ed. UFRJ.
  • Helin, J., Hernes, T., Hjorth, D., & Holt, R. (2014). The Oxford handbook of process philosophy and organization studies. Oxford University Press. https://doi.org/10.1093/oxfordhb/9780199669356.001.0001
    » https://doi.org/10.1093/oxfordhb/9780199669356.001.0001
  • Hill, M. R. (1984). Epistemology, axiology and ideology in sociology. Mid-American Review of Sociology, 9(2), 59-77. https://www.jstor.org/stable/23252838
    » https://www.jstor.org/stable/23252838
  • Ibarra-Colado, E. (2008). Is there any future for critical management studies in Latin America? Moving from epistemic coloniality to “trans-discipline”. Organization, 15(6), 932-935. https://doi.org/10.1177/1350508408095822
    » https://doi.org/10.1177/1350508408095822
  • Kuhn, T. S. (2011). A estrutura das revoluções científicas (10 ed.). Perspectiva.
  • Latour, B. (1983). Give me a laboratory and I will raise the world. In K. D. Knorr-Cetina & M. Mulkay (Eds.), Science observed: Perspectives on the social study of Science. Sage Publications.
  • Latour, B. (1999). On recalling Ant. The Sociological Review, 47(1_suppl), 15-25. https://doi.org/10.1111/j.1467-954X.1999.tb03480.x
    » https://doi.org/10.1111/j.1467-954X.1999.tb03480.x
  • Latour, B. (2012). Reagregando o social: Uma introdução à teoria do ator-rede. EDUFBA - EDUSC.
  • Latour, B., & Woogar, S. (1997). A vida de laboratório: A produção dos fatos científicos. Relume-Dumará.
  • Le Moigne, J.-L. (1995). Les épistemologies constructivistes. Presses Universitaires de France.
  • Martin, O. (2006). Savants, sciences et savoirs en société: Quelques réflexions sur le renouvellement de la sociologie des sciences. Sociétés Contemporaines, 64, 5-19. https://doi.org/10.3917/soco.064.0005
    » https://doi.org/10.3917/soco.064.0005
  • Mayo, E. (1945). The social problem of an industrial civilization. Harvard University Press.
  • Merton, R. K. (2013a). A ciência e a ordem social. In R. K. Merton. Ensaios de sociologia da ciência. Editora 34.
  • Merton, R. K. (2013b). A ciência e a estrutura social democrática. In R. K. Merton. Ensaios de sociologia da ciência. Editora 34.
  • Morin, E. (1982). Ciência com consciência. Publicações Europa América.
  • Motta, G. da S. (2022). What is a technological article? Revista de Administração Contemporânea, 26(Sup. 1), e220208. https://doi.org/10.1590/1982-7849rac2022220208.en
    » https://doi.org/10.1590/1982-7849rac2022220208.en
  • Parsons, T. (1967). Sugestões para um tratado sociológico da teoria das organizações. In A. Etzioni (Org.), Organizações complexas. Atlas.
  • Paula, A. P. P. (2015). Repensando os estudos organizacionais: Para uma nova teoria do conhecimento. Editora FGV.
  • Pestre, D. (2006). Introduction aux science studies. La Découverte.
  • Pickering, A. (1992). From science as knowledge to science as practice. In: A. Pickering, Science as practice and culture. University of Chicago Press.
  • Pickering, A., & Guzic, K. (2008). The mangle in practice: Science, society and becoming. Duke University Press.
  • Roethlisberger, F. J., & Dickson, W. J. (1939). Management and the worker. Harvard University Press
  • Serva, M. (2017). Epistemologia da administração no Brasil: O estado da arte. Cadernos EBAPE.BR, 15(4), 741-750. https://doi.org/10.1590/1679-395173209
    » https://doi.org/10.1590/1679-395173209
  • Simon, H. A. (1961). Administrative behavior: A study of decision-making processes in administrative organization (2 ed.). MacMillan.
  • Tsoukas, H. (2005). Complex knowledge: Studies in organizational epistemology. Oxford University Press.
  • Tsoukas, H., & Chia, R. (2011). Research in the sociology of organizations. In H. Tsoukas & R. Chia (Eds.), Philosophy and organization theory (Research in the sociology of organizations, Vol. 32). Emerald Group Publishing Limited. https://doi.org/10.1108/S0733-558X(2011)0000032017
    » https://doi.org/10.1108/S0733-558X(2011)0000032017
  • Vinck, D. (2007). Sciences et société: Sociologie du travail scientifique. Armand Colin.
  • Vizeu, F. (2010). (Re)contando a velha história: Reflexões sobre a gênese do management. Revista de Administração Contemporânea, 14(5), 780-797. https://doi.org/10.1590/S1415-65552010000500002
    » https://doi.org/10.1590/S1415-65552010000500002
  • Westwood, R., & Clegg, S. (2003). Debating organization: Point-counterpoint in organization studies. Blackwell Publishing.
  • 1
    . Chanlat e Séguin (1987) utilizam esse termo ‘reação’ e não ‘oposição’ para indicar que há aqui muito mais um interesse de completar a escola clássica do que se contrapor a esta.
  • 2
    . Sem adentrar as particularidades de cada um dos autores, o que fugiria do escopo deste editoral, pode-se afirmar que a partir dos anos 1970, além da obra de Thomas Khun, outros autores nos campos da filosofia e das ciências sociais corroboraram para um questionamento do ideal de Ciência Clássica e dos seus princípios. Dentre eles podemos destacar Imre Lakatos com seu racionalismo crítico, Paul Feyerabend (1975), amigo de Lakatos, com seu anarquismo epistemológico, bem como Edgard Morin (1982) e Le Moigne (1995), que com seus trabalhos abriram espaço para as epistemologias construtivistas nas ciências sociais.
  • Direitos Autorais

    A RAC detém os direitos autorais deste conteúdo.
  • Verificação de Plágio

    A RAC mantém a prática de submeter todos os documentos aprovados para publicação à verificação de plágio, mediante o emprego de ferramentas específicas, e.g.: iThenticate.

Editado por

CORPO EDITORIAL CIENTÍFICO E EQUIPE EDITORIAL PARA ESTA EDIÇÃO:

Conselho Editorial
Alketa Peci (EBAPE/FGV, Rio de Janeiro, RJ, Brasil)
Gabrielle Durepos (Mount Saint Vincent University, Halifax, Nova Scotia, Canadá)
Rafael Alcadipani da Silveira (EAESP/FGV, São Paulo, SP, Brasil)
Rafael Barreiros Porto (UnB, Brasília, DF, Brasil)
Silvia Gherardi (University of Trento, Trento, Itália)
Editor-chefe
Marcelo de Souza Bispo (UFPB, João Pessoa, PB, Brasil)
Editores Associados
Ariston Azevedo (UFRGS, Porto Alegre, RS, Brasil)
Carolina Andion (UDESC, Florianópolis, SC, Brasil)
Cristiana Cerqueira Leal (Universidade do Minho, Portugal)
Denize Grzybovski (UPF, Passo Fundo, RS, Brasil)
Eduardo da Silva Flores (FEA/USP, São Paulo, SP, Brasil)
Elisa Yoshie Ichikawa (UEM, Maringá, PR, Brasil)
Emílio José M. Arruda Filho (UNAMA, Belém, PA, Brasil)
Evelyn Lanka (Cranfield School of Management, Bedford, Reino Unido)
Fernando Luiz Emerenciano Viana (Unifor, Fortaleza, CE, Brasil)
Gaylord George Candler (University of North Florida, Jacksonville, Florida, EUA)
Gustavo da Silva Motta (UFF, Niterói, RJ, Brasil)
Keysa Manuela Cunha de Mascena (Unifor, Fortaleza, CE, Brasil)
Ludmila de Vasconcelos Machado Guimarães (CEFET-MG, Belo Horizonte, MG, Brasil)
Natália Rese (UFPR, Curitiba, PR, Brasil)
Orleans Silva Martins (UFPB, João Pessoa, PB, Brasil)
Pablo Isla Madariaga (Universidad Técnica Federico Santa María, Chile)
Paula Castro Pires de Souza Chimenti (UFRJ/Coppead, Rio de Janeiro, Brasil)
Rafael Chiuzi (University of Toronto Mississauga, Mississauga, ON, Canadá)
Sidnei Vieira Marinho (Univali, São José, SC, Brasil)
Corpo Editorial Científico
André Luiz Maranhão de Souza-Leão (UFPE, Recife, CE, Brasil)
Aureliano Angel Bressan (CEPEAD/UFMG, Belo Horizonte, MG, Brasil)
Bryan Husted (York University, Canadá)
Carlos M. Rodriguez (Delaware State University, EUA)
Diógenes de Souza Bido (Mackenzie, São Paulo, SP, Brasil)
Erica Piros Kovacs (Kelley School of Business/Indiana University, EUA)
Elin Merethe Oftedal (University of Stavanger, Noruega)
Fábio Frezatti (FEA/USP, São Paulo, SP, Brasil)
Felipe Monteiro (INSEAD Business School, EUA)
Howard J. Rush (University of Brighton, Reino Unido)
James Robert Moon Junior (Georgia Institute of Technology, EUA)
John L. Campbell (University of Georgia, EUA)
José Antônio Puppim de Oliveira (United Nations University, Yokohama, Japão)
Julián Cárdenas (Freie Universität, Berlin, Alemanha)
Lucas A. B. de Campos Barros (FEA/USP, São Paulo, SP, Brasil)
Luciano Rossoni (UniGranRio, Rio de Janeiro, RJ, Brasil)
M. Philippe Protin (Université Grenoble Alpes, França)
Paulo Estevão Cruvinel (Embrapa Instrumentação, São Carlos, SP, Brasil)
Rodrigo Bandeira de Mello (Merrimack College, EUA)
Rodrigo Verdi (MIT Massachusetts Institute of Technology, Cambridge, EUA)
Valter Afonso Vieira (UEM, Maringá, PR, Brasil)
Wagner A. Kamakura (Jones Graduate School of Business, Rice University, Houston, EUA)
Editoração
Diagramação e normas da APA: Kler Godoy (ANPAD, Maringá, Brasil); Simone L. L. Rafael (ANPAD, Maringá, Brasil).
Periodicidade: Publicação contínua.
Circulação: Acesso totalmente gratuito.
Indexadores, Diretórios e Rankings
Scopus, Scielo, Redalyc, DOAJ, Latindex, Cengage/GALE, Econpapers, IDEAS, EBSCO, Proquest, SPELL, Cabell's, Ulrichs, CLASE, Index Copernicus International, Sherpa Romeo, Carhus Plus+, Academic Journal Guide (ABS), DIADORIM, REDIB, Sumários.org, ERIHPlus, OAJI, EZB, OasisBR, IBZ Online, WorldWideScience, Google Scholar, Citefactor.org, MIAR, Capes/Qualis.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    17 Fev 2023
  • Data do Fascículo
    2023
Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Administração Av. Pedro Taques, 294,, 87030-008, Maringá/PR, Brasil, Tel. (55 44) 98826-2467 - Curitiba - PR - Brazil
E-mail: rac@anpad.org.br