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Editorial

Editorial

José da Rocha Carvalheiro

A Revista Brasileira de Epidemiologia (RBE) encerra seu sexto ano de existência "de bem com a vida". Em 2003 não apenas consolidou sua freqüência trimestral, manteve-se em dia e publicou o quarto fascículo no "mês de face", dezembro.

Todos os dez artigos originais deste fascículo 6(4) seguiram o procedimento convencional: demanda espontânea e processo regular de peer review por relatores ad hoc (geralmente três) indicados por um dos Editores Associados, que comanda o processo.

Confirmando o padrão que a RBE vem assumindo, somente um artigo é de autor solitário e outro, trabalho de um coletivo maior com nove componentes. A maioria é apresentada por conjuntos de dois a quatro autores, com média de 3,6.

Embora exista uma compreensível concentração geográfica em cada grupo de autores, ela é quase sempre matizada pela presença de um ou mais elementos de instituições diferentes, do Brasil e do exterior. O que persiste é a grande diversidade regional na origem dos grupos de pesquisa e dos locais da execução nos casos em que são colhidos dados de fonte primária ou secundária.

Um dos trabalhos, realizado em Pelotas, analisa num modelo transversal, aninhado numa coorte de nascidos vivos, os determinantes biológicos e sociais da cárie dentária em crianças. Emprega a regressão logística num modelo teórico hierárquico de determinação. Foi realizado por um grupo composto por autores da Universidade Federal de Pelotas, associados a outros da Universidade Federal de Santa Catarina, da USP, do University College, de Londres e de um centro de Montevideu, Uruguai.

Ainda no Sul do país, realizou-se um estudo de avaliação de serviços de saúde, com treze procedimentos de pré-natal e parto servindo de marcadores. Apesar de ter sido realizado numa amostra da população de crianças de Criciúma, Santa Catarina, os autores são da Universidade de Pelotas, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, da USP e da CNBB (Confederação Nacional dos Bispos do Brasil).

Dois trabalhos foram realizados no Rio de Janeiro. Um deles por pesquisadores da UERJ, um deles vinculado ao Hospital da FIOCRUZ. Analisa o consumo e a deficiência de folato em gestantes. Outro, de um grupo de pesquisadores da UFRJ associa-se a um epidemiologista de um grande hospital público do Ministério da Saúde. Realiza um inquérito de soroprevalência da hepatite A numa amostra de crianças do município de Duque de Caxias, da área metropolitana do Rio de Janeiro.

Outros três trabalhos foram realizados em São Paulo, dois no município da capital e outro em cinco municípios do Estado. Um deles, de autores da USP, analisa com dados de fontes secundárias a mortalidade por doenças infecciosas no Município de São Paulo no início do século XX (1901), em meados (1960) e no final (2000). Outro, baseado em dados do SIM e do SINASC, referentes à coorte de 1998, analisa determinantes da mortalidade neonatal e pós-neonatal no município de São Paulo. Os autores, ambos PhD em Universidades do exterior (Johns Hopkins dos EUA e London University do Reino Unido), estão ligados a UFMG e à Bloomberg School of Public Health. O terceiro, investigação quali-quantitativa, empregando o método do Discurso do Sujeito Coletivo, foi realizado em 5 municípios do Estado de São Paulo, por autores da USP.

Um trabalho, realizado por autores da USP desenvolveu um questionário quantitativo de freqüência alimentar com vistas à realização de estudos caso-controle da associação da dieta com câncer. O inquérito recordatório foi realizado numa amostra de mulheres, em João Pessoa, na Paraíba.

De Ribeirão Preto, SP, professores da USP encaminharam reflexões sobre o emprego de métodos bayesianos no estudo da prevalência da tuberculose.

Uma reflexão teórica, metodológica e epistemológica, associando as categorias produção, trabalho, ambiente e saúde, vem de uma autora da UFCe. É muito feliz a sua metáfora de "aproximar o verde e o vermelho", no próprio título.

Ressaltamos, ainda, o Editorial Especial sobre a Ética em Pesquisa envolvendo seres humanos, de autoria do Professor Dirceu Bartolomeu Greco, da UFMG. O Profº Greco esteve, em setembro, na reunião da Associação Médica Mundial realizada no próprio berço da Declaração de Helsinque. Foi investido da autoridade conferida em reunião realizada em agosto, no Conselho Federal de Medicina, para apresentar proposta em nome do Brasil. Contrapunha-se à tendência de " abrandar" a Declaração, no que diz respeito ao acesso a cuidados médicos para voluntários em ensaios clínicos. Estiveram na reunião de Brasília, além do CFM, a Sociedade Brasileira de Bioética, CONEP do Conselho Nacional de Saúde, a Coordenação Nacional de DST/aids e seu comitê de Vacinas anti- HIV, a Associação Médica Brasileira e o Departamento de Ciência e Tecnologia (DECIT/MS). A ABRASCO esteve presente através do Editor da RBE. A posição levada a Hensinque pelo Profº Greco foi vitoriosa, contribuindo para evitar o pretendido "abrandamento" e remetendo o assunto para uma análise de um comitê internacional de cinco nações-membro, entre elas o Brasil, representado pelo Profº Greco. Além do Editorial Especial sobre o tema, transcrevemos o comunicado oficial da Associação Médica Mundial. Assunto candente como esse exige reflexão profunda. Esperamos estar dando início a um debate franco através das páginas da RBE.

Finalmente, no Noticiário chamamos a atenção para o Seminário para a Construção da Agenda Nacional de Prioridades de Pesquisa em Saúde, realizado em Brasília em novembro de 2003. A ABRASCO participou ativamente em todos os 18 grupos que analisaram as sub-agendas, em particular no de Epidemiologia, coordenado por Rita Barata, ex-Presidente da Associação.

Boa Leitura,

O Editor

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    05 Abr 2005
  • Data do Fascículo
    Dez 2003
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