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Editorial

EDITORIAL

Chester Luiz Galvão Cesar; Rita Barradas Barata

Os inquéritos populacionais são instrumentos fundamentais na produção de informações estratégicas para a formulação de políticas de saúde, além de serem ferramentas tradicionais na produção de conhecimentos sobre a saúde populacional.

Dando seqüência a uma iniciativa da Comissão de Epidemiologia da ABRASCO de realizar seminários dedicados ao aprofundamento das questões conceituais, metodológicas e operacionais de cada um dos principais desenhos de investigação habitualmente utilizados em pesquisa epidemiológica, foi realizado em parceria com o Departamento de Medicina Social da FCM Santa Casa de SP e a Faculdade de Saúde Pública da USP um seminário dedicado aos inquéritos populacionais

A prática dos inquéritos domiciliares é bastante antiga e, desde o século XIX, eles têm sido largamente utilizados tanto pela sociologia como pela epidemiologia. No Brasil, pelo menos desde as primeiras décadas do século XX, há registros de inquéritos domiciliares como fontes de informações sociodemográficas e epidemiológicas.

Durante a década de 70, Carvalheiro introduziu em Ribeirão Preto os inquéritos de saúde, nos moldes daqueles conduzidos pelos National Health Institutes dos Estados Unidos.

Com o passar do tempo, os métodos de realização e sobretudo de análise de dados provenientes dos inquéritos foram se aperfeiçoando, possibilitando maior precisão e exatidão nas estimativas obtidas e, principalmente, garantindo a validade externa dos achados, possibilitando a generalização mais segura dos dados amostrais para a população.

A programação do Seminário foi organizada para permitir a apresentação e o debate de grandes inquéritos populacionais nacionais, tais como a Pesquisa Mundial de Saúde, a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios - Suplemento Saúde, Pesquisa Nacional de Demografia e Saúde, Pesquisa Nacional de Cobertura Vacinal.

Há uma série de questões metodológicas relacionadas com a realização dos inquéritos de saúde de base populacional. Uma delas diz respeito aos planos amostrais que são necessariamente complexos para dar conta da representatividade da amostra e do tamanho suficiente para conferir poder estatístico e precisão às estimativas. Neste aspecto há muitos avanços, tanto na teoria da amostragem quanto nas técnicas de análise de dados, pontos esses tratados nesse seminário e abordados nos artigos aqui apresentados.

Outro ponto importante com implicações para os resultados refere-se aos vieses introduzidos por procedimentos operacionais, tais como a utilização de informantes indiretos, entrevistas por telefone, recusas e perdas de informação, entre outros. Algumas dessas questões também estão trabalhadas nos artigos aqui apresentados.

A periodicidade e a comparabilidade intra e internacional de pesquisas, como o Inquérito sobre Demografia e Saúde (DHS), também foram motivo de debate no seminário e estão retratadas em textos ora publicados nesse suplemento.

A utilização dos inquéritos domiciliares na avaliação de políticas públicas também foi objeto de consideração a partir do caso específico dos inquéritos de cobertura vacinal como instrumentos de avaliação do Programa Nacional de Imunizações e das análises do suplemento de saúde da PNAD. Alguns textos aqui apresentados tratam dessas questões.

O uso dos inquéritos domiciliares como fonte de informações para o estudo das desigualdades em saúde também mereceu a atenção dos participantes do seminário, contando com as reflexões de pesquisadores brasileiros e com a contribuição da experiência do grupo de Carme Borrell, na Catalunha.

A possibilidade de articular as abordagens qualitativas e quantitativas na realização de inquéritos domiciliares foi trazida nas reflexões da professora Irene Luppi do Instituto de Salud Juan Lazarte de Rosário, na Argentina.

Consideramos ainda a utilização dos inquéritos domiciliares como fio condutor de um programa de mestrado acadêmico em epidemiologia e as vantagens e limitações dessa experiência. Alguns dos textos publicados nesse suplemento tratam desses aspectos.

Além dos objetivos acadêmicos já assinalados, a programação contemplou ainda o debate sobre a pertinência da implementação pelo Ministério da Saúde de Inquéritos Nacionais de Saúde nos moldes dos realizados pelo NHS inglês e pelo NIH norte-americano, como ferramenta para a tomada de decisões baseadas em informações epidemiológicas, no âmbito da formulação das políticas de saúde.

Os textos que compõem esse suplemento retratam o teor das apresentações e dos debates nesse seminário. Solicitamos aos autores de cada uma das apresentações que elaborassem textos para esse suplemento. Acrescentamos ao final um artigo contendo o resumo dos debates realizados em plenário após cada uma das sessões de apresentação. A partir das anotações dos relatores elaboramos um único texto permitindo aos leitores uma visão de conjunto dos debates e das questões relevantes.

Finalmente, publicamos também os resumos dos inquéritos populacionais apresentados sob a forma de pôster e que passaram pela seleção prévia da comissão organizadora.

Cremos estar oferecendo aos praticantes da Epidemiologia: docentes, pesquisadores e profissionais, elementos importantes para o aprimoramento dos inquéritos populacionais. Esperamos ainda que este suplemento possa ser bastante utilizado pelos alunos dos nossos programas de pós-graduação.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    20 Maio 2008
  • Data do Fascículo
    Maio 2008
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