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Resposta ao Debate "O uso da CIF em inquéritos de saúde: uma reflexão sobre limites e possibilidades"

Response to the debate: "The use of ICF in health research: a reflection on limits and possibilities"

O presente documento trata sobre as considerações do artigo de debate supracitado e é dirigido aos autores e à comunidade científica.

Gostaríamos de agradecer a oportunidade de debater um tema que nos é tão caro como a adequada coleta de dados sobre as deficiências ou mesmo sobre a funcionalidade, tema abordado em nosso artigo publicado recentemente11. Castro SS, Castaneda L, Silveira H. Identificação de conteúdo comum entre o questionário do Inquérito de Saúde (ISA-SP) e a Classificação Internacional de Funcionalidade, Incapacidade e Saúde. Rev Bras Epidemiol 2014; 17(1): 59-70.

Além disso, agradecemos ao corpo editorial da Revista Brasileira de Epidemiologia pela oportunidade de resposta.

Prezados autores, seguem abaixo algumas considerações a respeito do conteúdo do artigo "O uso da CIF em inquéritos de saúde: uma reflexão sobre limites e possibilidades" para a ampliação da discussão e algumas correções.

1. No quinto parágrafo do artigo de debate, foi apontado que as possibilidades de resposta das questões do ISA - Capital 2003 não dão informações suficientes para o uso de todos os qualificadores oferecidos pela classificação. Algumas considerações devem ser feitas a respeito do que foi descrito:

• De acordo com o Anexo 2 da publicação original em português da Classificação Internacional de Funcionalidade, Incapacidade e Saúde (CIF)22. Organização Mundial da Saúde. Organização Panamericana de Saúde. CIF: Classificação Internacional de Funcionalidade, Incapacidade e Saúde. São Paulo: EDUSP; 2003., os qualificadores devem ser utilizados quando os códigos da classificação tiverem finalidade de mensuração. Sendo assim, não foi o objetivo do ISA - Capital 2003 utilizar qualquer código da CIF em suas mensurações e, nesse sentido, a colocação de que as possibilidades de resposta propostas no questionário do instrumento não dão informações suficientes para o uso de todos os qualificadores provavelmente não se aplica.

• O ISA - Capital foi executado em 2003, mesmo ano em que a CIF acabava de ser traduzida e publicada em língua portuguesa22. Organização Mundial da Saúde. Organização Panamericana de Saúde. CIF: Classificação Internacional de Funcionalidade, Incapacidade e Saúde. São Paulo: EDUSP; 2003.. Portanto, o instrumento de coleta do inquérito não poderia se basear em uma classificação ainda não traduzida para o português no momento da elaboração do questionário.

• A discussão sobre as propriedades psicométricas dos qualificadores da CIF vem sendo apontada na literatura como um ponto crítico da classificação. Em uma recente revisão sistemática33. Castaneda L, Bergmann A, Bahia L. A Classificação Internacional de Funcionalidade, Incapacidade e Saúde: uma revisão sistemática de estudos observacionais. Rev Bras Epidemiol 2014; 17(2): 437-51, os autores apontam que os qualificadores requerem padronização e apresentam problemas em relação às suas características psicométricas. É destacado que a utilização dos qualificadores da CIF ainda não está totalmente operacionalizada. Os resultados da revisão apontam que cerca de 35% dos estudos incluídos na revisão sistemática utilizaram os qualificadores de maneira adaptada, o que corrobora o fato apontado pela literatura sobre o tema. Geralmente, os autores recorrem a uma adaptação dos qualificadores para a opção de resposta dicotômica, fornecendo assim uma medida de prevalência da incapacidade, e não uma análise da gravidade e/ou extensão do fenômeno.

2. Ainda no quinto parágrafo, descreve-se que o estudo "Identificação de conteúdo comum entre o questionário do Inquérito de Saúde (ISA-SP) e a Classificação Internacional de Funcionalidade, Incapacidade e Saúde" conclui que "a CIF não pode ser usada neste inquérito".

• Nesse ponto, ressaltamos que a conclusão de nosso artigo pontua o seguinte:

Os domínios de funções e estruturas do corpo e de atividades e participação foram os que mais apresentaram códigos no questionário do estudo avaliado, sendo "fatores ambientais" o menos abordado pela pesquisa. A presente investigação pode contribuir para o incremento da pesquisa em saúde no Brasil à medida que documenta os domínios da CIF presentes ou ausentes no questionário de inquérito de saúde, por meio de metodologias transparentes e revisadas por pares. Sendo assim, é possível criar uma base empírica para futuras discussões sobre conceitos que poderiam ou deveriam caber nas futuras realizações de inquéritos de saúde. Essas discussões não devem se restringir somente ao questionário do ISA, mas deve ser expandida para outros estudos com a mesma metodologia, os quais busquem informações a respeito da ocorrência de deficiência entre a população.

REFERÊNCIAS

  • 1
    Castro SS, Castaneda L, Silveira H. Identificação de conteúdo comum entre o questionário do Inquérito de Saúde (ISA-SP) e a Classificação Internacional de Funcionalidade, Incapacidade e Saúde. Rev Bras Epidemiol 2014; 17(1): 59-70
  • 2
    Organização Mundial da Saúde. Organização Panamericana de Saúde. CIF: Classificação Internacional de Funcionalidade, Incapacidade e Saúde. São Paulo: EDUSP; 2003.
  • 3
    Castaneda L, Bergmann A, Bahia L. A Classificação Internacional de Funcionalidade, Incapacidade e Saúde: uma revisão sistemática de estudos observacionais. Rev Bras Epidemiol 2014; 17(2): 437-51

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    Jul-Sep 2016
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