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Resistência do texto: o método psicanalítico entre a literalização e a contingência

Text resistance: the psychoanalytical method between literalization and contingence

Resumos

Argumenta-se aqui que a descrição e o próprio uso do método psicanalítico em uma pesquisa devem ser coerentes com a formalização da clínica. Essa formalização tem revelado que as articulações significantes podem ser colocadas logicamente na modalidade do necessário (interpretação). Por outro lado, a quantidade de investimento libidinal que elas podem atrair escapa da possibilidade de cálculo e é melhor caracterizada como contingente (ato). Essa divisão do sujeito é o obstáculo para que o método seja descrito dentro dos padrões acadêmicos de pesquisa mas é, também, o que define o campo psicanalítico.

sujeito; pulsão; literalização; contingência


The paper argues that the description and the application of the psychoanalytical method in a research must be coherent with clinical formalization. Such formalization has revealed that significant articulations can be logically described in terms of the necessary modality (interpretation). On the other hand, the amount of libidinal investment they can attract is impossible to calculate and is better described as contingent (act). This subject splitting constitutes the obstacle to the full description of the method in academic patterns but, at the same time, constitutes the psychoanalytical field itself.

subject; instinct; literalization; contingence


ARTIGOS

Resistência do texto: o método psicanalítico entre a literalização e a contingência1 1 Para Ana Beatriz Freire e Antônio Teixeira.

Text resistance: the psychoanalytical method between literalization and contingence

Jéferson Machado Pinto

Professor do Programa de Pós-graduação em Estudos Psicanalíticos (UFMG). Psicanalista. Rua Levindo Lopes 333 sala 410. 30140-170 Belo Horizonte MG. Tel. (31)3281-0702. Fax (31) 3297-4832. jeferson@gold.com.br

RESUMO

Argumenta-se aqui que a descrição e o próprio uso do método psicanalítico em uma pesquisa devem ser coerentes com a formalização da clínica. Essa formalização tem revelado que as articulações significantes podem ser colocadas logicamente na modalidade do necessário (interpretação). Por outro lado, a quantidade de investimento libidinal que elas podem atrair escapa da possibilidade de cálculo e é melhor caracterizada como contingente (ato). Essa divisão do sujeito é o obstáculo para que o método seja descrito dentro dos padrões acadêmicos de pesquisa mas é, também, o que define o campo psicanalítico.

Palavras-chave: sujeito, pulsão - fator quantitativo, literalização, contingência.

ABSTRACT

The paper argues that the description and the application of the psychoanalytical method in a research must be coherent with clinical formalization. Such formalization has revealed that significant articulations can be logically described in terms of the necessary modality (interpretation). On the other hand, the amount of libidinal investment they can attract is impossible to calculate and is better described as contingent (act). This subject splitting constitutes the obstacle to the full description of the method in academic patterns but, at the same time, constitutes the psychoanalytical field itself.

Keywords: subject, instinct - quantitative factor, literalization, contingence.

Ultimamente, temos procurado estabelecer de que modo as características do discurso do analista esclarecem o que seria o método de pesquisa em psicanálise. Essa preocupação se originou da necessidade de explicitar para a comunidade universitária que a psicanálise carrega uma vocação científica, a qual deve ser considerada como legítima por nossos pares. O mundo acadêmico costuma ignorar que a práxis da psicanálise implica um certo savoir-faire, julgando-a uma prática intuitiva, cujos efeitos poderiam ser atribuídos apenas a uma inspiração artística ou literária. Contrariamente a essa posição, consideramos que seria conveniente, não só para a Academia, mas também para a própria comunidade analítica (LACAN,1964/1998), insistir que a psicanálise é um método de pesquisa, não podendo ser restritivamente identificada à teoria ou a uma prática terapêutica.

Se a psicanálise é, ao mesmo tempo, teoria, técnica e método de investigação, sua descrição já traria intrinsecamente uma maneira de produzir saber, seja na clínica, na Academia ou mesmo na polis. Assim, toda tentativa de formalização que revelasse as características próprias da psicanálise seriam, automaticamente, descrições de seu método. Em uma outra publicação (PINTO, 1999), mostramos que a vocação científica da psicanálise é aquela formalizada pelo discurso do analista, qual seja, a de produzir o significante mestre a partir da instalação da causa do desejo como agente de um laço social. Melhor dito: seria inerente ao discurso do analista questionar os laços sociais agenciados pelo saber estabelecido (o que implica no uso ideológico do saber, como na universidade, por exemplo) por um sujeito pretensamente autônomo (como na histeria ou mesmo na ciência) ou por um significante com poderes para alienar o sujeito sob uma linguagem (como é o caso do inconsciente). Ao promover a rotação dos discursos, a interpretação faria aparecer, ou senão vislumbrar, qualquer elemento que seria da ordem do obstáculo, isto é, qualquer elemento organizador de uma realidade aparentemente fixada e tida pelo sujeito como inexorável.

Nessa perspectiva, Allouch (1994) propõe que a maneira como o analista enfrenta o obstáculo trazido pelo texto seria melhor caracterizada por uma operação que ele denomina transliteração. Esta seria uma operação simbólica por excelência ao tomar o enunciado ao pé da letra como forma de explicitar o sujeito da enunciação. Uma operação, vale dizer, que se destaca da tradução, que se preocupa em conferir um sentido equivalente e, portanto, imaginário, e da transcrição,que se resumiria a um registro real do enunciado.

Essas duas últimas operações, na realidade, elidem os obstáculos porque se limitam à escolha da melhor maneira de colocá-los de outra forma, ou em outra língua, sem, de fato, utilizá-los como ponto de apoio para uma retificação subjetiva. Apenas o sujeito tradutor se veria às voltas com os obstáculos do texto. Por outro lado, a transliteração imporia uma nova configuração na realidade ao contar com a eficácia da letra que amarra, ao mesmo tempo, inscrição simbólica e gozo.

Entretanto, temos considerado que uma análise não se esgota na produção de significantes que exercem mestria sobre o sujeito ou que fazem-no aparecer sob sua incidência. A relação sujeito-gozo exige outras formulações que, certamente, também não serão exclusivas ou suficientes.

Miller (1998) propõe, por exemplo, que a lógica da clínica psicanalítica pode ser descrita a partir de três operações de redução: repetição, convergência e evitação. Tal proposição é um pouco mais abrangente e menos literalizada, embora tenha um rigor formal que se mostrou instigante para o desenvolvimento de algumas idéias sobre a relação sujeito-gozo.2 2 Ver, por exemplo, a dissertação de mestrado de Andréa Guerra, "As oficinas de saúde mental na reforma psiquiátrica em Belo Horizonte", defendida junto ao Programa de Pós-graduação em Psicologia da UFMG, em setembro de 2000. Resumidamente, a formulação de Miller destaca como a relação do sujeito com o objeto permanece como um núcleo escondido pela palavra, mas que, por isso mesmo (por permanecer oculto sob o significante), denuncia sua própria existência. A repetição que se instala a partir da transferência vai condensando um objeto que, por sua vez, imanta as produções significantes seguintes. Isto é, as produções do analisante vão convergindo em torno desse objeto que, aos poucos, revela-se como núcleo da repetição. A segunda operação de redução, a convergência, é aquela que revelaria o significante mestre e que indicaria esse núcleo como algo da quantidade de investimento que ainda precisaria ser atingido. Desta forma, esse núcleo, por não ser dominado pela palavra, torna-se um obstáculo constantemente evitado a partir do momento em que a repetição caminha por trilhas já estabelecidas ou facilitadas a partir do encontro com o significante do Outro.

Essa formulação nos faz lembrar, entre outras coisas, o paradoxo da experiência de dor, relatado por Freud no Projeto. Os traços que preservam a lembrança de investimentos excessivos (quantidades) tendem a ser evitados. Por outro lado, a criação de outras vias de facilitação, além das já estabelecidas, depende da presença de excessos de energia no aparelho, o que, também, tende a ser evitado. Assim, o próprio funcionamento do aparelho dificulta ou torna oneroso o processo de criação (FERNANDES, 2000), de invenção de novas ligações neuronais, ao mesmo tempo em que mantém a evitação de trilhas que conduzem à representação mnêmica do objeto traumático.

Dessa maneira, os analisantes nos ensinam, com todo o trabalho para se livrarem do sofrimento, que a produção de saber na análise se dá através do confronto com aquele objeto que se constitui, primeiramente, como obstáculo e, posteriormente ao processo de análise, como causa do desejo.

O trabalho do analisante — a perlaboração —, ao circular pelos diversos discursos (BERNARDES, 2000), adquire uma dimensão de franqueamento, de travessia. Durch-arbeit quer dizer trabalho através; no caso de uma análise, indica trabalho através de algo que se consolida como causa, como constância pulsional que não se esvanece. Diante do particular desta causa que não se esvanece com o saber produzido pelo analisante, resta o ato analítico que o vinculará ao desejo, à medida que torne possível uma diminuição do excesso pulsional que se constitui a partir do significante. Este ato não é, portanto, definido por um saber estabelecido a priori.

É o manejo da transferência que sustenta o percurso do analisante diante da causa e essa é a postura científica trazida pelo método da psicanálise, além de ser sua baliza ética. Isso faz com que a psicanálise se configure como uma disciplina especial do campo científico, pois faz incidir o sujeito da enunciação dentro do saber que, inevitavelmente, o exclui como singularidade.

Mesmo considerando essa especificidade da psicanálise como campo de saber, o presente trabalho também procura enfatizar a sua vocação científica ao tomar, como base, alguns argumentos de Lacan. Em primeiro lugar, o argumento que afirma que a psicanálise está internamente condicionada pelo discurso da ciência e que, por isso mesmo (e aqui está o segundo argumento), a psicanálise opera sobre um sujeito instituído pela ciência moderna. Tal sujeito estrutura a experiência analítica e confere a ela sua cientificidade (PINTO, 2000). Ou seja, "a psicanálise encontrará em si mesma os fundamentos de seus princípios e métodos" (MILNER, 1996, p. 31). Não seriam necessários, portanto, critérios exteriores para o julgamento do valor científico de seus achados e seu próprio método se revela no momento mesmo em que o ato analítico coloca em cena um modo especial de sujeito (LACAN, 1966/1998). Trata-se, então, de um sujeito que não se confunde com a realidade empírica de uma pessoa ou indivíduo, mas que é efeito da linguagem. Em outras palavras, a concepção de sujeito também deve estar submetida ao universo infinito da alíngua.

A psicanálise, desta maneira, põe a nu a postura mais radical da ciência moderna. A saber: a proposição do inconsciente como objeto de estudo científico significa exatamente considerar um sujeito esvaziado de qualidades e deslocado de uma essência em favor de uma absoluta contingência (TEIXEIRA, 2000). Ela assume, assim, a atitude científica mais radical por querer argüir qualquer obstáculo ao surgimento daquele sujeito, seja tal obstáculo proveniente da ideologia, da filosofia ou mesmo da própria ciência. Concomitantemente, a psicanálise demonstra, com essa vocação, de que modo o enigma da constância pulsional, que se constitui pela experiência com o significante, funciona como causa inapreensível.

Contudo, como já dissemos, a própria psicanálise e a teoria de Freud, desde suas formulações no Projeto, esclarecem que algo da contingência se fixa a partir do encontro com o Outro. Aquilo que se concebe imaginariamente como essência ou qualidade subjetiva seria uma cicatriz, para usar a bela metáfora de Milner, do contingente (MILNER, 1996, p. 52). Com algumas ressalvas, podemos estabelecer um paralelo entre a ciência e a psicanálise. Enquanto a ciência parte, por princípio, de uma infinita possibilidade de o mundo poder ser sempre outro e, a partir daí, institui o necessário pela literalização, a psicanálise traz, como equivalente a esse princípio da ciência, que o encontro (ao acaso) com o Outro produz a inscrição corpórea do gozo sob a égide da letra.

A necessidade que rege a aparição da manifestação subjetiva passa a ser destacada sem submeter tal manifestação a nenhuma necessidade prévia.3 3 É claro que os conceitos de real a que se referem a ciência e a psicanálise são diferentes, embora Lacan também enfatize seus pontos comuns. Basicamente, segundo Morel (1994), o real da ciência está mais próximo do saber que as letras permitem estabelecer e produzir efeitos a partir de sua lógica. O real em jogo na psicanálise envolve um sujeito e se manifesta como "maus encontros", como o trauma difícil de suportar trazido pela diferença entre o discreto da linguagem e o contínuo da energia. Além disso, a lei científica não faz nenhum sentido, pois está, necessariamente, subtraída de qualquer desejo. O que a histeria recusa, por exemplo, é exatamente a parcialidade implicada na contingência que indica que sempre se poderia ser outra coisa diferente do que se é. Já "numa ordem marcada pelo necessário, o atributo tem suas propriedades na medida certa" (FERNANDES, 2000, p. 33), o que instalaria a reciprocidade da relação sexual.

Aqui, talvez, seja necessário um esclarecimento. Pode-se supor que há uma contradição entre a proposição de Lacan sobre o sujeito esvaziado de qualidades, de substância, e a proposição de um quantum de gozo fixado pela ação significante. A materialidade do gozo que vai se adensando a partir da fala do analisante sugere a idéia de substância, de certa essencialidade. Lacan mesmo, no Seminário XX (1972-1973/1975), afirma a característica de substância do gozo. Assim sendo, vale perguntar: seria o sujeito lacaniano, de fato, vazio? Ou o gozo, "sem o qual o universo seria vão", tornaria esse sujeito substancializado?

Para Lacan, no entanto, essa substância só tem uma "ontologia formal", logicamente deduzida. (A libido seria mais um mito freudiano criado para dar conta do efeito da linguagem sobre o corpo.) Apesar de ser enunciada por um falante qualquer como sofrimento no corpo e ser vivida como aquilo que dá consistência ao real, essa substância pode ser "extraída" pelo processo de análise (FREIRE, 1999). Ou seja, tal objeto impede o sujeito de ser representado pela linguagem, pois é o que sempre resulta de uma significação. Mas a eficácia de uma análise consiste exatamente em separar o sujeito da consistência deste objeto. Trata-se, portanto, de uma substância sem qualidades, instituída a partir do traço que a fixa como pulsão e que, conseqüentemente, instaura o fator quantitativo.

Em termos lacanianos, a linguagem institui o corpo capaz de um quantum pulsional que sempre se desloca a partir de cada incidência significante. Caberia portanto à análise confrontar o sujeito com essa mobilidade pulsional, fazendo com que um significante diminua sua intensidade repetitiva. Desta maneira, o gozo, tal como concebido por Lacan, não contradiz seu argumento sobre o sujeito da ciência.4 4 "A letra é o significante que se torna objeto, o litoral, o significante condensador de gozo" (FREIRE, 1999, p. 580). A letra inclui, em sua definição, o significante e o gozo na forma de um objeto que se constitui pela linguagem com a qual mantém uma relação de ex-timidade. É o elemento que dá consistência ao real para aquele sujeito particular.

Não há, assim, um aparelho psíquico, tomado mesmo em sua forma radical, formado a priori de qualquer significantização do Outro (expressão a ser entendida nos dois sentidos implicados no genitivo). E aqui enfatizamos a radicalidade da concepção freudiana do aparelho psíquico, pois, desde os Três ensaios..., com o conceito de pulsão, fica caracterizado que não há "A sexualidade", compreendida como um campo organizado anterior ao advento da linguagem. A própria sexualidade passa a ser completamente singular, visto ser constituída pelo acaso do encontro de cada um com o significante que fixa o pulsional. (A noção mesma de corpo implica uma imbricação entre linguagem e gozo.)

Assim, por esse ponto de vista, o texto só emerge, só se constitui como tal, depois que passa a ser dotado de uma inércia simbólica. E o simbólico adquire, a partir daí, para um falante particular, o status de Outro dotado de uma consistência capaz de fazer funcionar indefinidamente o circuito pulsional. Em outras palavras, torna-se meio de gozo para o sujeito. É por isso, então, que é necessário precisar os efeitos quantitativos gerados pelo significante além de sua mestria sobre a subjetividade ou, até mesmo, sobre qualquer discurso instituído.

A estratégia de Freud foi, portanto, a de considerar o impasse como ponto de apoio para a produção de saber. O esquecimento dos sonhos, por exemplo, sempre um obstáculo para a pesquisa científica sobre o assunto, passou a ser o ponto de apoio para a demonstração da presença real do sujeito. Freud constata a participação ativa do sonhador ou da histérica na produção da ignorância sobre a posição subjetiva. Os lapsos, a angústia, a debilidade, a repetição de eventos traumáticos, as manifestações consideradas bizarras da sexualidade, o masoquismo, etc, deixam o estatuto de anomalias psicológicas e passam a ser descrições da divisão do sujeito.

A associação livre torna-se, desse modo, uma técnica que se apoia na manifestação do necessário, do que está fixado como inercial, visando exatamente o contingente, o encontro com outras possibilidades de significação, de outros trilhamentos para escoamento da energia. É uma estratégia que visa a de-suposição de saber no Outro, de maneira a produzir um esvaziamento da forma particular de gozo de um sujeito. Essa redução do "fator quantitativo" é uma necessidade da análise formalizada apenas indiretamente pelo discurso do analista. Por se tratar de uma saída particular em cada caso, não é possível antecipá-la pelos meios que a linguagem oferece e, por isso, ela torna-se absolutamente contingencial. A singularidade é vista, então, pela maneira como as operações de redução estabelecem o funcionamento com o Outro de quem se goza.

EM CONCLUSÃO

O psicanalista e, cremos nisso cada vez mais, a transmissão da psicanálise, dependem, não de um saber universitário — esse sim, um texto apegado à resistência —, mas de uma Douta Ignorância para que o saber sobre o sujeito permaneça vivo. Adotar um saber que se pretende esclarecedor, mas que exclui a causa, é, ao contrário, adotar a ignorância crassa sobre a divisão subjetiva. A proposta que Lacan (em "O saber do analista") toma emprestado de Nicolau de Cusa, propõe um saber marcado pela impossibilidade de dominar o enigma pulsional. O núcleo oculto passa a ser incluído na produção, em vez de se constituir em obstáculo a ser evitado. Nesse sentido, o ato analítico busca a quebra de um campo semântico investido libidinalmente, preestabelecido e evitado pelo sujeito, para que este implique novas formas de enunciação. O psicanalista trabalha com o enigma resultante da quebra desse campo semântico e não com o esclarecimento sobre o objeto em função de causa de desejo. A Douta Ignorância, assim, convoca o sujeito a colocar algo de si a partir do objeto que o anima, apesar da dor implicada na criação de novas formas de vinculação ao Outro.

Por este motivo, a descrição do próprio método psicanalítico terá sempre a marca do impossível e, o seu resultado, a marca do contingente. Dito de outro modo, somos castrados em relação à possibilidade de descrição plena do método como a Academia certamente gostaria, pois não contamos com o saber para dar conta da verdade. E a Academia bem que poderia aprender um pouco com a psicanálise...

BIBLIOGRAFIA

Recebido em 8/2/2001. Aceito em 18/4/2001.

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  • 5
    Como não é possível nenhuma forma de saber sobre o contingente, a psicanálise torna-se uma prática que se justifica na própria impossibilidade de antecipar o efeito de seu ato. E é aqui que reside o obstáculo para a explicitação do método.
  • 1
    Para Ana Beatriz Freire e Antônio Teixeira.
  • 2
    Ver, por exemplo, a dissertação de mestrado de Andréa Guerra, "As oficinas de saúde mental na reforma psiquiátrica em Belo Horizonte", defendida junto ao Programa de Pós-graduação em Psicologia da UFMG, em setembro de 2000.
  • 3
    É claro que os conceitos de real a que se referem a ciência e a psicanálise são diferentes, embora Lacan também enfatize seus pontos comuns. Basicamente, segundo Morel (1994), o real da ciência está mais próximo do saber que as letras permitem estabelecer e produzir efeitos a partir de sua lógica. O real em jogo na psicanálise envolve um sujeito e se manifesta como "maus encontros", como o trauma difícil de suportar trazido pela diferença entre o discreto da linguagem e o contínuo da energia. Além disso, a lei científica não faz nenhum sentido, pois está, necessariamente, subtraída de qualquer desejo.
  • 4
    "A letra é o significante que se torna objeto, o litoral, o significante condensador de gozo" (FREIRE, 1999, p. 580). A letra inclui, em sua definição, o significante e o gozo na forma de um objeto que se constitui pela linguagem com a qual mantém uma relação de ex-timidade. É o elemento que dá consistência ao real para aquele sujeito particular.
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      17 Maio 2007
    • Data do Fascículo
      Jun 2001

    Histórico

    • Recebido
      08 Fev 2001
    • Aceito
      18 Abr 2001
    Programa de Pós-graduação em Teoria Psicanalítica do Instituto de Psicologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro - UFRJ Instituto de Psicologia UFRJ, Campus Praia Vermelha, Av. Pasteur, 250 - Pavilhão Nilton Campos - Urca, 22290-240 Rio de Janeiro RJ - Rio de Janeiro - RJ - Brazil
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