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Dissertações de Mestrado e Teses de Doutorado/2005

DISSERTAÇÕES E TESES

Dissertações de Mestrado e Teses de Doutorado/2005

Universidade Federal do Rio de Janeiro

Centro de Filosofia e Ciências Humanas

Instituto de Psicologia

Programa de Pós-graduação em Teoria Psicanalítica

DISSERTAÇÕES

Título: A anorexia entre o desejo e o gozo

Alinne Nogueira Silva

Orientadora: Angélica Bastos

Data de defesa: fev/2005

Sabe-se que a anorexia se apresenta em vários quadros clínicos. Esta pesquisa delimitou seu campo à ocorrência da anorexia nos casos de neurose. Assim, começamos por um estudo comparativo entre o desejo insatisfeito na histeria e o desejo de comer nada que se verifica na anorexia. O propósito dessa dissertação é responder a um questionamento surgido a partir de nossa prática clínica: a relação da anorexia com o desejo e o gozo. Partindo da psicanálise, o sintoma neurótico da anorexia traz consigo uma mensagem inconsciente e possui uma função. Pesquisa-se a contribuição de Freud a respeito da sexualidade, da pulsão, da relação mãe e filha e, também, da anorexia, base necessária para a compreensão, com Lacan, da articulação entre necessidade, demanda e desejo. Com o conceito de objeto a, destacado por Lacan como o resto das operações de alienação e separação do sujeito na linguagem, delineia-se a relação do sintoma anoréxico com o desejo e com o gozo. São trabalhadas as possíveis vestimentas imaginárias do objeto a apresentadas na anorexia, o seio e o nada e, por fim, analisam-se suas funções de causa de desejo e objeto de gozo. Assim, busca-se estabelecer a dupla relação da anorexia com a sustentação do desejo e com o gozo.

Título: A fobia na clínica psicanalítica das neuroses: angústia e função paterna

Ana Carolina Duarte Lopes

Orientadora: Angélica Bastos

Data de defesa: fev/2005

Esta dissertação pretende situar a fobia na clínica psicanalítica das neuroses. Para tanto, faz um apanhado de casos sobre fobia na literatura psicanalítica, buscando mostrar o porquê da incidência de sintomas fóbicos na infância. Tomam-se como eixo teórico central os escritos de Sigmund Freud e o ensino de Jacques Lacan. Estuda-se o caso Hans, paradigmático caso de fobia da história da psicanálise, além de um outro de cinofobia, em Lacan. Ambos os casos são expostos a fim de estudar a fobia diante do encontro com a falta materna. Através da teorização da significação do falo, marca-se o fato de que a lei do pai é tida como claudicante pelos sujeitos fóbicos, e dessa forma aponta-se para a evidência de que a fobia se constitui como um apelo à função paterna. Para encaminhar a problemática, faz-se necessária a articulação entre angústia e fobia, já que a primeira, como se verá, é o afeto do qual a segunda tenta dar conta. Com a observação clínica de Arpad, relatada por Sándor Ferenczi, destaca-se a diferença observada por Freud entre o totemismo negativo e o positivo. Através do caso de fobia de galinhas, de Helene Deustch, e o caso Yves, de Ruth Lebovici, situa-se a questão da fobia como placa giratória, proposta por Lacan.

Título: A questão da repetição no pensamento freudiano

André Soares Pereira Avelar

Orientadora: Regina Herzog

Data de defesa: fev/2005

O presente trabalho aborda a questão da repetição ao longo do pensamento freudiano. Num primeiro momento a repetição é abordada enquanto entrave ao tratamento, no caso o método catártico. Este instrumento clínico passa então a ser alvo de uma série de questionamentos, culminando não só em seu descarte mas do próprio modelo teórico que o balizava: a teoria da sedução. No período correspondente à prática da associação livre, a repetição será associada ao conceito de transferência, fruto da relação analista-analisando. O manejo desta relação passa a ser tomado como condição do sucesso ou fracasso do tratamento analítico. Em um último momento a repetição é associada ao fenômeno das neuroses traumáticas, evento que, segundo Freud, não se enquadraria no modelo vigente de aparelho psíquico, calcado no princípio de prazer. A repetição torna-se então a base para a virada do pensamento freudiano, expressa em sua formulação do conceito de pulsão de morte. O objetivo desta investigação é tomar a repetição não apenas como entrave ao tratamento, mas enquanto representante de uma atividade que extravasa os limites do funcionamento psíquico. Uma repetição que prima por constituir-se como pressão constante; exigência que impele o psiquismo a manter-se num eterno processo de reconstrução de si mesmo. Desta forma o fenômeno da repetição é abordado, mais do que como obstáculo ao processo analítico, sobretudo como uma característica inerente ao devir humano.

Título: Considerações psicanalíticas sobre a violência doméstica

Bárbara Manfroni Amaral de Souza

Orientadora: Ana Beatriz Freire

Data de defesa: fev/2005

A partir de um estudo do conceito de castração na obra freudiana e nos primeiros anos do ensino de Lacan, em especial até 1958, esta dissertação circunscreve questões colocadas pela prática clínica com crianças, adolescentes e seus pais, em situações de violência doméstica. Esse percurso estabeleceu as bases teóricas para uma abordagem psicanalítica das seguintes questões: o que é um sujeito em constituição? O que é um pai? O que é uma mãe? Em que as intervenções de um pai ou de uma mãe podem vir a ser violentas para uma criança? Se a castração é vivida por todo sujeito como uma violência, ela é, no entanto, fundamental para sua constituição e para a possibilidade de que encontre um lugar no simbólico. Assim, considera-se que uma negação da castração, uma recusa ou impossibilidade de se submeter às Leis por ela impostas, pode vir a engendrar uma violência de outra ordem, encenada repetitivamente na realidade, podendo tornar-se, ainda, impeditiva para o sujeito.

Título: O autismo: no limite da linguagem sobre a possibilidade do tratamento analítico

Elisa Carvalho de Oliveira

Orientadora: Ana Beatriz Freire

Data de defesa: fev/2005

A presente dissertação resulta de um trabalho de pesquisa suscitado, inicialmente, pelos impasses com os quais o psicanalista se defronta na clínica do autismo. Como referência teórica principal, tomou-se a obra de Sigmund Freud e o ensino de Jacques Lacan. A partir da apresentação dos fragmentos de dois casos clínicos de crianças que se encontravam no autismo, procurou-se evidenciar o modo singular pelo qual cada uma delas chegou a articular uma fala enderaçada ao Outro, como efeito do tratamento analítico. Ao tocar o cerne da questão do sujeito da linguagem, o autismo, em sua radicalidade, vem interrogar a teoria sobre os primeiros momentos da constituição do sujeito. Procedendo a esta investigação, recorreu-se a um aparato teórico acerca das condições de entrada do vivente na linguagem, partindo, inicialmente, do texto de Freud, em torno das primeiras experiências relativas à constituição do aparelho psíquico, e prosseguindo, em função do ensino de Lacan, em uma abordagem mais detalhada da estrutura da linguagem na qual o sujeito se constitui. A direção do tratamento que aqui se propõe sustenta-se em uma escuta analítica dos elementos verbais que se atualizam na transferência. Esse tratamento baseia-se no desejo do analista de promover uma abertura para que seja possível ao autista, em função do trabalho que realiza nas sessões, advir como um sujeito que, a partir do momento em que fala, modifica radicalmente sua posição subjetiva.

Título: A Verdrängung, a Verwerfung e a Verleugnung: um estudo psicanalítico a partir da semiótica

Lina Carvalho Schlachter

Orientador: Waldir Beividas

Data de defesa: fev/2005

Esta dissertação tem como objetivo re-acionar o diálogo entre a Psicanálise e as Ciências da Linguagem, sob a perspectiva de uma lingüística mais atualizada. Para isto, problematizamos mutuamente os conceitos psicanalíticos e as estruturas de linguagem ou de discurso, via de regra. Os conceitos psicanalíticos escolhidos para a discussão foram: a Verdrängung, a Verwerfung e a Verleugnung. Fizemos um estudo minucioso abordando seus conteúdos nocionais a partir dos textos originais de Freud, seus comentários e, em seguida, na confrontação e na comparação de suas estruturas modais tais como propostas pela teoria Semiótica européia, pois acreditamos que estes conceitos partilham um quê de semelhança e um quê de diferença que merecem estudo e justificação. Com o intuito de atingir nosso objetivo, inicialmente discutimos a relação entre Psicanálise e as Ciências da Linguagem em Freud e em Lacan. Depois, elucidamos alguns equívocos encontrados nesta relação, para, em seguida, propormos um meio de trabalho que reúna as duas disciplinas. Posteriormente, fizemos um rastreamento dos textos significativos onde Freud utilizava os conceitos, percorrendo, respectivamente, a Verdrängung, a Verwerfung e a Verleugnung. Após a discussão conceptual, em cada capítulo, aplicamos os dispositivos modais da teoria semiótica para enriquecer o modo como a Psicanálise vem tratando, e, assim, atingir o nosso objetivo de definir melhor os conceitos freudianos. Por fim confrontamos os conceitos visando entender melhor as diferenças e as semelhanças entre estes.

Título: Do lugar dos sacerdotes ao não-lugar do analista: uma articulação pela transferência

Priscilla Corrêa de Oliveira

Orientadora: Anna Carolina Lo Bianco Clementino

Data de defesa: mar/2005

A partir da crença evidenciamos a suposição de saber que comparece em uma análise, abrindo caminho para a investigação do modo como a transferência se impõe à neurose. Através da transferência, abordamos a função do sujeito suposto saber introduzida por Lacan, passando pelo amor transferencial, para refletir acerca do lugar a ser ocupado pelo analista no sentido do direcionamento de uma cura. Assim, do lugar próprio dos sacerdotes em que o analista é situado na transferência, seguimos rumo ao lugar de onde o analista opera psicanaliticamente, que chamamos de um não-lugar.

Título: Repetição e gozo: obstáculos da análise

Roberta Guimarães D'Assunção

Orientadora: Tânia Coelho dos Santos

Data de defesa: fev/2005

Esta dissertação aborda o conceito de repetição e suas conseqüências para o tratamento analítico. Por ser intrinsecamente relacionado à noção de resistência, definida como tudo aquilo que se contrapõe à cura analítica, o conceito de repetição elucida uma dimensão do sujeito rebelde ao tratamento pela rememoração. Propomos partir da afirmativa feita por Freud de que, no lugar de definir como ocorre uma cura pela análise, o analista deveria dirigir seu interesse para os obstáculos que se colocam em seu caminho. Conferir positividade aos obstáculos significa considerá-los como parte de qualquer tratamento e, portanto, não tomá-los no sentido de uma oposição à técnica analítica e, sim, como o que exige novas formulações e soluções da Psicanálise. O ensino de Lacan lança luz sobre esse problema ao trabalhar a relação entre significante e gozo no sentido de ampliar o alcance dos efeitos analíticos para além do rochedo da castração. Por isso, discutimos as conexões entre o campo da representação e o campo da satisfação pulsional, colocando em evidência a experiência do não-sentido, que aproximamos do irrecalcável freudiano. Tendo em vista as considerações de Lacan sobre o conceito de objeto a, podemos pensar que a experiência analítica não se reduz ao sentido, o que não quer dizer que a palavra não seja o instrumento da Psicanálise.

Título: A psicossomática nos confins do sentido — problemas e reflexões psicanalíticas acerca do fenômeno psicossomático

Rogério Robbe Quintella

Orientadora: Teresa Pinheiro

Data de defesa: jan/2005

O presente trabalho situa a questão psicossomática como problemática para a psicanálise, a qual teve como principais referências G. Groddeck, F. Alexander e P. Marty. A pesquisa realizada aponta problemas teóricos importantes que aparecem nessas abordagens, quando da confrontação de seus respectivos modelos teóricos com o conceito freudiano da "neurose atual" e com os princípios fundamentais do pensamento de Freud. Mostra principalmente que a dicotomização psicossomática/psiconeurose, postulada por P. Marty, não encontra respaldo teórico na obra freudiana, tampouco na experiência clínica, conforme o relato de diversos psicanalistas. No avanço da pesquisa, o modelo da neurose atual passa por uma releitura e coloca em cena a concepção de historicidade em relação ao termo "atual" na obra freudiana, e propõe uma relativização do último, conferindo uma dimensão de 'historicidade' atrelada também aos sintomas orgânicos. Esta análise indica a pertinência de se articular a neurose atual ao campo do trauma, concebendo-a como um excesso traumático impossibilitado de elaboração. Nesse campo, focalizamos a questão dos 'neurônios-chave' no "Projeto para uma psicologia científica", relacionando-os ao trauma tal como se verifica em "Além do princípio do prazer". Partindo deste ponto, buscamos no campo teórico da psicanálise autores que pensam com profundidade o problema do trauma de maneira articulada a fatores de linguagem. A teoria do significante e do gozo em Lacan, bem como a noção de "Cripta" em Abraham e Torok acena para perspectivas cujos fatores de linguagem determinantes aparecem em uma relação direta com o traumático. O "psicossomático" seria nessa direção tomado como um efeito de linguagem cujos elementos, para além da significação, assumiriam um estatuto traumático e poderiam, em determinadas condições, convocar o corpo a responder em sua materialidade. A psicossomática indica ainda problemas relacionados ao campo de saber psicanalítico, sobretudo no que tange à questão do dualismo, da separação corpo/mente. Procuramos pensar a psicanálise, tentando sair deste escolho, como campo de positivação para a idéia de uma interação corpo-mente.

Título: Inundação no deserto: a toxicomania pelo viés da melancolia

Selena de Araújo Leite Caravelli

Orientadora: Teresa Pinheiro

Data de defesa: jan/2005

O presente trabalho tem por objetivo apontar as possíveis interfaces entre a toxicomania e a melancolia. Para tal, articulamos às afecções dois pontos de contato: a correlação que melancólicos que se tornaram toxicômanos mantêm com o próprio corpo e a correlação que liga tais sujeitos à possibilidade de um tipo de passagem ao ato, o suicídio. Delineamos tais conexões, a partir da metapsicologia freudiana da melancolia, iniciada no Manuscrito G (1895) e que se robustece com o desenrolar da obra, notadamente após os textos de 1923. De Lacan, utilizamos o conceito do estádio do espelho, que será recuperado por Lambotte para sustentar seu postulado de moldura vazia, vicissitude possível do momento de subjetivação e que acarretará a constituição melancólica. Para tratarmos da toxicomania, nos utilizamos, além dos autores citados, de Hassoun, para quem a toxicomania reatualiza uma forma de melancolia, e Zafiropoulos, que defende a inexistência da toxicomania como causalidade primária. Agregamos a tais postulados as contribuições freudianas e lacanianas sobre a angústia e a passagem ao ato. Dois fragmentos clínicos foram apresentados a fim de evidenciarmos as correlações propostas.

Título: A doutrina freudiana do afeto e seus impasses epistemológicos

Tiago Ravanello

Orientador: Waldir Beividas

Data de defesa: set/2005

A dissertação tem como objetivo delimitar o conjunto de fatores epistemológicos que constituem a doutrina do afeto e sob os quais as diferentes concepções de afeto na obra de Freud foram estabelecidas. Para tanto, partimos do estudo de obras de Freud significativas no que se refere ao conceito em questão e sua relação com a formação das bases teóricas da psicanálise, desde o Projeto para uma Psicologia Científica (1895) até os Artigos sobre Metapsicologia (1915). Assim, buscamos destacar como o modelo das ciências da natureza — Naturwissenschaften — imprime sua marca em tal doutrina através de imperativos epistemológicos. Por meio deles, a doutrina do afeto assume aspecto explicativo em função de reduções a bases quantitativas. A partir dessa configuração, ressaltamos a hipótese de afastamento entre descrições clínicas e concepções teóricas de afeto enquanto conseqüência do modelo. Para além de eventuais imposições de cunho observacional, os imperativos de explicação, redução e quantificação respondem ao contexto epistemológico no qual se inserem. Por último procuramos discutir como o processo de redução quantitativa para fins explicativos, o que enfatizamos como cerne da doutrina do afeto, acaba por se tornar impasse à consideração, por parte da psicanálise, de um estudo mais aprofundado da linguagem enquanto alternativa viável aos pressupostos de ordem energética próprios ao campo de investigação das neurociências.

Título: Do afeto à palavra: o vivido do corpo na clínica psicanalítica

Vera Maria da Costa Santos Tostes

Orientadora: Marta Rezende Cardoso

Data de defesa: fev/2005

Esta dissertação tem como objetivo o estudo do vivido do corpo em seus aspectos metapsicológicos e clínicos, tomando como referência a experiência psicanalítica no que diz respeito a sua psicopatologia e as suas exigências técnicas, de modo a compreender a singularidade do adoecer humano e da cura. Com esta temática, busca-se entender a especificidade do trabalho clínico frente às patologias marcadas por um excesso pulsional, vindo ultrapassar a capacidade egóica de representação, o que reflete um modo particular de funcionamento psíquico sobre o qual recai esta investigação. A partir da noção de corpo em psicanálise, pretende-se discutir a presença da sensorialidade no psiquismo, considerando ser esta uma das vias para o entendimento das situações clínicas que comportam uma dimensão de violência psíquica. Trabalhar nos limites da clínica psicanalítica requer ressaltar uma dimensão agida que ocorre no campo do sensível, atualizando as marcas de impressões traumáticas que não acederam às inscrições psíquicas, mas que podem ganhar algum sentido na situação transferencial.

TESES

Título: A função pública da transmissão da psicanálise

Isabela Xavier Ferreira de Sá

Orientadora: Ana Cristina Costa de Figueiredo

Data de defesa: set/2005

A função pública da transmissão da psicanálise levanta a questão de como a psicanálise pode ser ensinada, transmitida e inscrita no campo social com a mesma eficácia de sua práxis stricto sensu. A tese fundamenta a operacionalidade do discurso analítico dentro desta esfera, promovendo um novo modo de liame no qual se sustentam as condições para fazer surgir, na fala, o sujeito como efeito de verdade. Verifica-se que sua incidência excede o tratamento de sua prática intramuros, uma vez que percebemos na psicanálise, através do conceito de sujeito, a confluência entre as dimensões pública e privada, embora não se trate de transportar a psicanálise para a cultura. Deve-se reconhecer no discurso analítico e em sua ética, elaborados e formalizados por Lacan, o que já é indissociavelmente função pública. A tese sustenta e demonstra que a transmissão da psicanálise relança o sujeito em sua dívida com a própria transmissão, analítica ou não, fazendo-o retomar para si a responsabilidade de garantir o social.

Título: Consertar um corpo: sobre as manipulações irreversíveis

Luana Ruff do Vale

Orientadora: Anna Carolina Lo Bianco Clementino

Data de defesa: fev/2005

Este trabalho teve como objetivo estudar as manipulações irreversíveis no corpo — cirurgias plásticas estéticas, tatuagens e piercings — a partir de uma perspectiva psicanalítica. A tese que o instiga é a de que esses fenômenos fazem surgir um sujeito a partir da mostração do corpo manipulado e da dor infringida no corpo. Partimos da distinção entre olhar e visão para localizar as intervenções no circuito das pulsões de ver e de crueldade. Recorremos ao significante manipulação — advindo da biociência — para destacar a modificação radical promovida no corpo pelas intervenções aqui estudadas. Encontramos um corpo consertado que pode ser tomado entre a ciência e a arte. Para abordá-lo, exploramos as idéias de Lacan relativas aos três registros e ao nó borromeano por acreditarmos que as cirurgias plásticas estéticas, tatuagens e piercings são um modo próprio de amarração de tais registros: inscreve-se um S1 no Real do corpo, promovendo o surgimento de uma nova imagem corporal e um novo sujeito. Assim, ao consertar um corpo, um sujeito, com seu corpo, pode ser e estar.

Título: Investigação sobre a questão do ato em psicanálise

Luis Moreira de Barros

Orientadora: Anna Carolina Lo Bianco Clementino

Data de defesa: mar/2005

Esta investigação concerne à questão do ato, sobre a qual nos interessamos, principalmente, pelo modo como o sujeito se insere antes, durante e depois de seus atos. Nosso percurso partiu dos estudos de Freud de quem analisamos aspectos metapsicológicos do ato, conjugados a seus estudos da Psicopatologia da Vida Cotidiana sobre os atos falhos e atos sintomáticos. Esses atos foram tomados como as primeiras experiências paradigmáticas para a investigação dos atos em geral, porque neles estão patentes características estruturais dos atos, isto é, a falha e a multiplicidade de sentidos, a surpresa que provocam, a temporalidade retroativa que faz com que sua realização plena ocorra no a posteriori de seu instante de lançamento. Em seguida, recorreremos ao ensino de Lacan que, com as coordenadas freudianas, parte da constatação de que "um ato é fato de significante". Dessa afirmação se desdobram formulações e definições do ensino de Lacan sobre o ato, dentre as quais nos detivemos mais naquelas dos seminários A lógica da fantasia e O ato psicanalítico. Abordamos a definição de ato articulada à repetição significante e à elevação do ato psicanalítico, devidamente definido, ao estatuto de experiência paradigmática para o estudo do campo dos atos. O ato psicanalítico mostrou-se propício a aprofundar a articulação sujeito e ato da qual destacamos dois ângulos. O primeiro ângulo é expresso pela noção de "conversão" referida à mudança da posição do sujeito em relação ao saber inconsciente necessária para que se possa exercer o ato psicanalítico, haja vista a "estrutura excepcional" desse ato. O segundo ângulo é expresso pela noção de consumação que propomos ao final deste trabalho como capaz de apreender o que ocorre com o sujeito no ato psicanalítico, a saber, que nele o sujeito consuma sua divisão estrutural.

Título: Inventar o amor: um desafio na clínica das psicoses

Nuria Malajovich Muñoz

Orientadora: Ana Cristina Costa de Figueiredo

Data de defesa: jul/2005

Esta tese visa discutir as possibilidades do amor na psicose, abordando tanto as suas formas de enlace com um parceiro, quanto o seu aspecto transferencial no laço estabelecido com o analista. Objetiva-se também salientar as contribuições da psicanálise no campo da saúde mental, trabalhando questões relativas ao manejo da transferência no coletivo institucional. Os casos apresentados articulam-se nessa perspectiva e visam explorar o percurso clínico desses pacientes na procura e na construção de uma solução possível para o amor e evidenciar as dificuldades e o debate que os casos suscitaram em suas transferências à instituição. O trabalho tem como fundamento a teoria de Freud e as elaborações de Lacan para examinar o lugar do amor na relação que o psicótico estabelece com o mundo. A psiquiatria clássica será utilizada para rastrear algumas soluções, na via do delírio e do ato, para o amor na psicose.

Título: A clínica do sinthoma e o sujeito contemporâneo

Ondina Maria Rodrigues Machado

Orientadora: Tânia Coelho dos Santos

Data de defesa: set/2005

Nosso objetivo é trabalhar a clínica do sinthoma, postulação ulterior de Lacan, investigando sua aplicabilidade na clínica contemporânea. Para isso, estudamos o sintoma em Freud, ressaltando os pontos posteriormente aproveitados por Lacan na formulação do sinthoma. Dentro do próprio ensino de Lacan destacamos dois momentos anteriores ao sinthoma, são eles: o sintoma como mensagem e o sintoma como sentido e gozo. Para chegar ao sinthoma, trabalhamos os conceitos de identificação e gozo, fundamentais para entender que ao final de uma análise o sujeito se identifica a seu próprio gozo. O Seminário, livro 23 é estudado através do recorte das principais modificações feitas para contemplar a teoria do sinthoma. Finalmente, no último capítulo, o discurso contemporâneo é apresentado e discutido como forma de orientar uma clínica voltada para os sujeitos atuais.

Título: A inquietante estranheza na contemporaneidade

Patrícia Saceanu

Orientadora: Teresa Pinheiro

Data de defesa: abr/2005

A noção freudiana de Unheimlich — a inquietante estranheza — nos apresenta o aspecto intimamente familiar daquilo que é muitas vezes sentido como estranho. A proposta central desta pesquisa é investigar os possíveis modos de relação com este estranho, dentre os quais enfatizamos a agressividade, que vemos manifestar-se tão freqüentemente sob a forma de ódio. Apontamos que esta agressividade se constitui como uma contraface do narcisismo, estando presente desde a constituição do sujeito. Porém, ressaltamos também a existência de uma crueldade dirigida ao estranho, que estaria para além do narcisismo, e que se manifestaria sob a forma de indiferença com relação ao outro. O objetivo deste trabalho é o de propor uma discussão sobre as formas como a agressividade e a crueldade com relação ao estranho têm se apresentado na contemporaneidade, levando em conta as especificidades do sujeito contemporâneo e sua relação com a alteridade. Para isso, além da psicanálise, recorremos a outros campos de saber como a literatura, a sociologia, a história, a filosofia, e também o cinema, buscando instrumentos para a discussão deste tema. Finalmente, buscamos apresentar a possibilidade de uma alternativa à agressividade e à crueldade contra o estranho a partir das contribuições de Derrida, mais especificamente de seu conceito de hospitalidade, procurando sempre enfatizar o papel que caberia à psicanálise neste contexto.

Título: Declinando o declínio do pai

Paulo Eduardo Viana Vidal

Orientadora: Angélica Bastos

Data de defesa: jun/2005

Segundo Freud, na ausência do conhecimento fornecido pelo instinto aos animais, o caminho do qual dispõe o sujeito para lidar com a Coisa sexual é o complexo de Édipo, no qual a função do pai é axial. Dado que o Édipo fracassa devido à sua impossibilidade interna, competiria ao sujeito extrair as conseqüências desse fracasso: é o que ele intitula declínio do complexo de Édipo, conceito que abrange um movimento que se estende do simples recalque à extinção do complexo. Freud concebe, portanto, que há usos diferentes do Édipo, notadamente no que diz respeito a um ponto crucial — o amor pelo pai. Pois faria parte do programa da psicanálise liberar o sujeito da nostalgia infantil do pai, da Vatersehnsucht na qual a religião deitaria suas raízes, para que ele se sirva do pai de outra maneira que pela submissão amorosa. Mostramos também que J. Lacan foi o psicanalista que retomou esse programa freudiano, dele se servindo inclusive para levá-lo mais além do que pretendia o inventor da psicanálise, pois chegou a tornar a própria função do pai na psicanálise contingente e relativa. Com isto, a expressão "declínio do pai" adquiriu novos sentidos, os quais tratamos de declinar ao longo desse trabalho.

Título: O conceito de sublimação em Lacan

Vera Lucia Glasser Dutra

Orientador: Joel Birman

Data de defesa: fev/2005

O objetivo deste trabalho é esclarecer como o conceito de sublimação foi elaborado por Lacan ao longo de sua obra. A sublimação é um conceito originário de Freud que lhe atribui como paradigma a criação. Nossa hipótese de trabalho é que a perspectiva lacaniana restringe a face de criação implicada no conceito, pois essa teoria se fundamenta no estruturalismo e sofre influências da filosofia que não positivam a criação. Queremos analisar a função do conceito de sublimação na clínica e na construção teórica do autor. Na clínica, verificar se o conceito tem uma função subjetiva transformadora, ou se é um epifenômeno, uma decorrência sem eficácia. Na teoria, avaliar se ele é instrumento de uma ética, na medida em que seu paradigma é a poética do amor cortês que implica numa renúncia ao gozo. Como um conceito que faz interface com o gozo, questionamos qual a finalidade maior da sublimação: estar a serviço de uma ética ou abrir uma perspectiva estética na qual a criação seja uma via de produção de diferença.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    23 Ago 2006
  • Data do Fascículo
    Jun 2006
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