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Dissertações de mestrado e teses de doutorado/2008

DISSERTAÇÕES E TESES

Dissertações de mestrado e teses de doutorado/2008

Universidade Federal do Rio de Janeiro

Centro de Filosofia e Ciências Humanas

Instituto de Psicologia

Programa de Pós-graduação em Teoria Psicanalítica

DISSERTAÇÕES

Título: O impossível no campo do sujeito: linguagem, pulsão e ética

Camila Carpes Chafic Haddad

Orientadora: Fernanda Costa-Moura

Data de defesa: fev/2008

Esta dissertação visa circunscrever algumas reflexões acerca da relação do sujeito com o impossível, introduzido pela linguagem e refletido na pulsão, para entrever que consequências éticas podem ser extraídas daí. Ao longo de toda sua obra, Freud destacou que a psicanálise não pode prescindir da dimensão do real na sua práxis, porque o sujeito do inconsciente, seu objeto de investigação, aparece aí mesmo, no encontro com a exterioridade radical, o impossível de dominar. Lacan, em seu ensino, esforça-se para "restaurar a sega cortante" da verdade freudiana, tratando o Real a partir do Simbólico, na medida que se dá conta que a linguagem tem incidência de corte no sujeito. A relação do sujeito com a linguagem não é nunca indiferente: o impossível introduzido aí produz paixão, pathos no sujeito. É a pulsão que advém desse modo, como consequência do jogo significante; a pulsão e seu caráter demoníaco de repetição. Destacaremos que diante do impossível o sujeito é sempre convocado a se posicionar: no mesmo ponto em que ele pode lançar-se mais uma vez na repetição, num gozo infrutífero, há um espaço que permite que ele responda de outro lugar, isto é como sujeito desejante, responsabilizando-se por sua condição de sujeito assujeitado pela linguagem e pela pulsão. No entanto, para que o desejo realmente vigore, um posicionamento ético do sujeito deve estar presente.

Título: Fundamentos da prática: considerações sobre a ética da psicanálise de Freud a Lacan

Clara Rodrigues Martins

Orientadora: Ana Beatriz Freire

Data de defesa: mar/2008

Com o objetivo de encontrar os princípios orientadores da clínica psicanalítica, o presente trabalho examina a ética da psicanálise, a partir da formulação lacaniana sobre o tema. Visando circunscrever tanto os aspectos teóricos quanto os aspectos práticos próprios do campo da ética, dividimos a pesquisa em três partes. Na primeira, levantamos os conceitos que participam do funcionamento psíquico, tal como desenvolvidos por Freud ao longo de sua obra. A partir disso, num segundo momento, levantamos a ética decorrente da descoberta freudiana, através das indicações e problematizações introduzidas por Jacques Lacan no final da década de 1950 sobre o terreno da moral. Na terceira e última parte, verificamos a incidência dessa ética na clínica, através da análise de elementos da técnica da psicanálise. Desse modo, pretendemos extrair tanto a originalidade quanto os impasses presentes na clínica psicanalítica.

Título: A psicose não desencadeada: um programa de investigação clínica

Cristina Frederico da Silva

Orientadora: Angélica Bastos

Data de defesa: fev/2008

Esta dissertação investiga as psicoses não desencadeadas e, de acordo com a orientação lacaniana, visa situar os aspectos teóricos e clínicos que indicam a possibilidade de estabilização nesses casos. Procura demonstrar uma dimensão mais sutil das psicoses sem o caráter disruptivo do desencadeamento. O tema é abordado através de duas soluções encontradas pelos psicóticos: a compensação imaginária e a nomeação. A primeira é elaborada por Lacan nos anos 50, e a segunda - a nomeação - é encontrada nas últimas formulações de Lacan, sobretudo no seu seminário O sinthoma (1975-76), de onde se extrai uma clínica das suplências. Recentes formulações de autores lacanianos sobre o conceito de "psicose ordinária" também são discutidas. A prática analítica em duas instituições de saúde mental e a construção de um caso clínico permeiam a discussão. A investigação nos leva a valorizar a variedade e o aspecto singular das formas de organização produzidas pelos psicóticos para encontrarem um lugar no mundo.

Título: Sublimação e ética da psicanálise

Daniela Resende Londe

Orientadora: Angélica Bastos

Data de defesa: fev/2008

O trabalho retoma a sublimação a partir de algumas considerações da ética da psicanálise, como o questionamento da lógica dos ideais e a consideração do desejo inconsciente. A sublimação é frequentemente mencionada como um conceito impreciso, deixado inacabado por Freud, dando margem a vastas discussões. Sendo um destino pulsional, a sublimação engendra uma modalidade de satisfação, o que leva ao campo da ética. Abordamos, primeiramente, a constituição da civilização, que, em prol de seus ideais, impõe ao sujeito restrições à satisfação pulsional, não sendo este o terreno mais favorável para o exercício da sublimação. Em seguida, propomos pensar como se dá a relação entre a sublimação e seu objeto, buscando no texto freudiano e na concepção lacaniana da sublimação a ideia de que a sublimação dispensa a seus objetos um tratamento que extrapola a ideia de um bem, que não converge com os ideais, e com isso abre a via para ser pensada como uma operação ética. De um ponto de vista ético acerca da satisfação pulsional, discutimos algumas das definições de sublimação, dentre elas, a de que ela eleva o objeto à dignidade da Coisa. Por fim, interrogamos a ideia da dessexualização e da inibição quanto ao alvo, para ressaltar a presença do sexual e, em detrimento do resultado, enfatizar o percurso pulsional.

Título: Compromisso e resistência: considerações sobre o sintoma neurótico

Fernanda Canavêz de Magalhães

Orientadora: Regina Herzog

Data de defesa: jan/2008

Esta dissertação se dedica à investigação da concepção de sintoma neurótico em sua interface social. O sintoma é abordado a partir de dois eixos no pensamento freudiano: tomado como formação de compromisso e a resistência nele expressa. Tais dimensões coexistem na obra de Freud, constituindo um paradoxo que não se extingue. Enquanto a noção de compromisso aponta para uma conciliação dos desejos inconscientes com a regulação da moral civilizada, a resistência aponta para o inapreensível atualizado no sintoma, entravando uma pretensa boa continuidade da experiência analítica. Reconhecemos a resistência expressa no sintoma não apenas como o que obstaculiza uma análise, mas se erige em defesa da singularidade fazendo frente às tentativas universalizantes engendradas pela moral civilizada. Nesse sentido, o sintoma também pode ser tomado como forma de resistência por parte do sujeito em face das ameaças de massificação preconizadas por uma moral que se pretende universal. Cabe ao psicanalista positivá-lo, tal como Freud fez com os sintomas histéricos que se apresentavam como desajustados socialmente no seio da civilização moderna.

Título: Pelas trilhas da repetição: do representacional ao pulsional no pensamento freudiano

Flávia Hasky

Orientador: Joel Birman

Data de defesa: fev/2008

Esta dissertação pretende trabalhar a questão da repetição sob o ponto de vista da psicanálise. Tal escolha está pautada na relevância dessa noção e em sua estrita relação com outras noções-chave da psicanálise. A repetição encontra-se nos fundamentos do saber psicanalítico, além de estar muito presente na prática clínica. Esta análise da incidência da repetição na obra de Sigmund Freud será realizada por meio de uma leitura eminentemente cronológica dos textos escolhidos, em busca do aparecimento da ideia da repetição, estando sempre atentos ao que vai mudando com o passar dos anos. Marcaremos dois momentos distintos e importantes, nos quais a repetição aparece ora como pano de fundo de conceitos cruciais como inconsciente, recalcamento, transferência e pulsão, ora em primeiro plano, dada sua mudança de estatuto com o aparecimento do fenômeno da compulsão à repetição. Daremos destaque à virada que se deu no pensamento freudiano nos anos 1920, ressaltando o choque entre repetição e sentido, a conceituação da pulsão de morte e o novo dualismo pulsional. Considerando o forte vínculo entre a repetição e a pulsão, buscaremos nos aprofundar na questão pulsional ao longo desta pesquisa. Sendo assim, paralelamente ao rastreamento da questão da repetição em Freud, procuraremos acompanhar as mudanças que operou em seu pensamento, atentos aos passos dados em direção à predominância do pulsional, em detrimento do campo representacional. São ainda objetivos deste trabalho analisar os desdobramentos dados à constatação de que a repetição do doloroso é um fato irrecusável da clínica analítica e perceber os efeitos disso nas postulações de Freud no período tardio de sua produção. Pensamos ser este um ponto capital para justificar a atualidade do tema, que assim como os sintomas dos nossos tempos, aponta para o excesso e para o traumático, impondo desafios pelo imperativo de se criar modos possíveis de lidar com o não-sentido.

Título: A violência pulsional atuada na ópera

Gisele de Araújo Abrantes

Orientadora: Marta Resende Cardoso

Data de defesa: fev/2008

Esta pesquisa busca explorar, a partir de um referencial psicanalítico, a questão da violência pulsional conforme é atuada na ópera. Isto se dá especialmente através do aspecto trágico presente nesse gênero de arte e que, no plano inter-relacional se expressa pela passividade que caracteriza as personagens e sua agonia. A análise desta questão convoca uma investigação da noção de paixão, visando apreender, do ponto de vista intrapsíquico, a questão do trauma, do excesso pulsional. O estudo do tema da paixão vem possibilitar a exploração de um modo de relação em que o outro é colocado como objeto absoluto, encontrando-se o indivíduo em posição de passividade. Do ponto de vista intrapsíquico, isto pressupõe um ego em posição de servidão ante um outro interno - ego passivo, portanto, diante da força pulsional. O estudo deste aspecto, por sua vez, demanda uma análise sobre a questão do trauma, visando a compreensão da presença de elementos disruptivos e inomináveis na ópera. Esta dimensão inominável é transmitida nesta forma de arte, preferencialmente pela via sonora, por meio da música. O presente trabalho volta-se, então, para o que estaria na base da comunicação musical, a saber, as trocas sonoras existentes entre mãe e bebê em uma fase primitiva da vida do sujeito, fase em que este não seria ainda capaz de compreender o que é dito, mas que já se ateria às entonações de voz, que constituem um tipo de comunicação sem palavras, uma espécie de "sonata materna".

Título: Considerações sobre o infantil na obra freudiana

Iná Susini Mariante

Orientadora: Regina Herzog

Data de defesa: fev/2008

A presente dissertação visa circunscrever a figura do infantil no pensamento freudiano, ressaltando o distanciamento que se coloca entre o 'infantil' e a 'infância'. Iniciamos a investigação localizando as mudanças que ocorreram na sociedade ocidental que acabaram conferindo à criança um lugar diferenciado no seio da família. Estabelecemos que foi somente a partir deste "novo cenário" que Freud pôde chegar a remontar à infância como causa das neuroses. Mostramos como na chamada Teoria da Sedução o infantil tinha uma relação de sinonímia com a noção de infância, pois abordava uma experiência factual ocorrida em período precoce da vida do indivíduo. Em seguida abordamos as modificações que se estabelecem ao longo das duas teorias das pulsões, ressaltando que a figura do infantil ganha uma nova dimensão, se aproximando do conteúdo recalcado, na primeira, e da compulsão à repetição, na segunda. Para finalizar indicamos a importância que este termo comporta no processo de subjetivação, ressaltando que este não se restringe a um período cronológico do desenvolvimento.

Título: Efeitos temporais na clínica das psicoses

Jaíra Perdiz de Jesus

Orientadora: Fernanda Costa-Moura

Data de defesa: fev/2008

A presente dissertação de mestrado propõe articular, no campo da psicanálise, a questão da temporalidade a partir da clínica das psicoses. Freud apresenta as primeiras indicações da questão temporal a partir da clínica das histéricas e, ao longo do seu trabalho, discute várias derivações do tema, por meio dos sintomas, dos sonhos e dos chistes. Abordamos duas vertentes da temporalidade, que surgem com a psicanálise, Nachträglichkeit - o a posteriori freudiano - e a dimensão temporal da Verwerfung (foraclusão lacaniana). A partir de Lacan, que traduz a foraclusão como o mecanismo de defesa específico da estrutura psicótica, retomamos a ideia de que a constituição do sujeito pode ocorrer no espaço real entre dois tempos pulsáteis ou a partir de um só tempo. Quando há dois tempos, o segundo modifica o primeiro, sendo esse o paradigma do trauma e consequentemente da instalação do sintoma no caso das neuroses. Diferentemente, na psicose, embora haja um primeiro tempo, que possibilita a entrada do sujeito na linguagem - universo simbólico -, não há o segundo tempo, de modo que ocorre uma prescrição temporal que, por sua vez, concorre para a especificidade da estruturação psíquica, pois é definitiva e persiste através dos seus efeitos temporais. Desenvolvemos nossa discussão, desdobrando o tema desde a consideração das relações entre temporalidade e psicanálise até o recorte da questão da temporalidade na clínica das psicoses. Conduzimos tal percurso teórico a uma discussão que privilegia a clínica, particularmente os efeitos temporais decorrentes da foraclusão constituinte da estrutura psicótica. Elegemos o tempo lógico lacaniano como um articulador teórico e clínico fundamental para a abordagem do tema em questão.

Título:Trauma e alteridade na psoríase: um "manto" para o mal-estar

Lilia Frediani Martins Moriconi

Orientadora: Marta Resende Cardoso

Data de defesa: fev/2008

Esta dissertação realiza uma investigação teórica, a partir de um referencial psicanalítico, acerca dos mecanismos psíquicos envolvidos na formação de uma patologia psicossomática denominada psoríase. Esta doença dermatológica, caracterizada, em sua apresentação mais comum, pela aceleração do ciclo evolutivo das células epidérmicas, promove transformações profundas no corpo e na vida de seus portadores. Partindo de uma reflexão sobre as particularidades da relação entre o corpo e o psiquismo no fenômeno psicossomático, destacamos a presença, no espaço psíquico dos sujeitos que apresentam este tipo de patologia, de um excesso pulsional traumático que, por não encontrar meios de simbolização, toma o corpo sob a forma de adoecimento. Defendemos a hipótese de que este excesso traumático encontra-se intimamente articulado à dimensão de alteridade. Consideramos que certos impasses no campo das relações primárias trazem dificuldades na constituição de um corpo erógeno, bem como promovem a instalação, no psiquismo infantil, de determinados conteúdos intraduzíveis advindos do outro, que se configuram em uma espécie de alteridade interna radical e violenta. Estes elementos transmitidos pelo outro ameaçam a vida psíquica, ao não permitirem a ligação da força pulsional.

Título: Autismo e devastação

Maria Fátima Gonçalves Pinheiro

Orientadora: Ana Beatriz Freire

Data de defesa: fev/2008

Esta dissertação propõe-se a examinar a articulação entre autismo e devastação, utilizando a psicanálise como referencial teórico. O estudo é fruto de um trabalho de pesquisa suscitado pela clínica do autismo e apresenta uma abordagem do tema da devastação articulado tanto à sexualidade feminina como ao campo da psicose, tendo como base as obras de Sigmund Freud, de Melanie Klein e no ensino de Jacques Lacan. A investigação parte da premissa de que os efeitos devastatórios apresentados, tanto na fala quanto no corpo das crianças autistas, são uma resposta à ausência do desejo do Outro. A partir do caso clínico de uma criança autista, procurou-se situar a especificidade evidenciada pelo Outro no autismo, que por sua ausência enquanto campo significante determinará para a criança, paradoxalmente, sua presença como um Outro excessivo e devastador. Apresentaremos o autismo, inicialmente, dentro da sua primeira abordagem no campo da psiquiatria, e a seguir sob a concepção de Jacques Lacan. Diante da ênfase dada por este à linguagem e à sua especificidade no autismo, como o mutismo ou a verborragia, foram examinados os efeitos da devastação promovidos pelos significantes não articulados no autismo a partir dos conceitos de supereu e alíngua, desenvolvidos por Jacques Lacan.

Título: Ad homini per litteras: pulsão e linguagem de Freud a Lacan

Milene Santiago Nascimentos

Orientadores: Regina Herzog e Maria Isabel Fortes

Data de defesa: fev/2008

Esta dissertação se propõe a articular a relação entre o conceito de pulsão e de significante, apontando a impossibilidade de se pensar em um fora-da-linguagem. Portanto, tal articulação permite inferir que não há como dissociar pulsão e linguagem, indicando-a como a incidência da linguagem no corpo. Considerando as características da pulsão e a noção lacaniana de significante, é possível postularmos que a pulsão é significante, à medida que é a força constante da pulsão que engendra o movimento da cadeia significante. O referencial teórico utilizado é a teoria psicanalítica de Freud e Lacan, e, como bibliografia complementar o pensamento estrutural a partir de Mauss e Lévi-Strauss. Utilizamos, ainda, as reflexões sobre o estruturalismo e a linguística de M. Arrivé e W. Beividas.

Título: A confiança na construção dos vínculos objetais: uma perspectiva psicanalítica

Renata Machado Mello

Orientadora: Regina Herzog

Data de defesa: mar/2008

Esta dissertação tem como objetivo pensar a figura da confiança como condição de possibilidade de vínculos afetivos objetais. Procedemos a um levantamento bibliográfico acerca do tema nas obras de Freud, Winnicott e Balint, trabalhando com a perspectiva de uma dupla inscrição da confiança. A primeira concebida como motor para os processos de subjetivação e, a segunda, via de acesso para a relação com os objetos. Tentando avançar nessa direção, busca-se investigar o modo como se estabelecem os primeiros encontros com a alteridade e seus possíveis entraves.

Título: Aspectos narcísicos da clínica da obesidade

Simone Magalhães Lugão

Orientadora: Teresa Pinheiro

Data de defesa: fev/2008

Esta pesquisa trabalhou o fenômeno da hiperfagia (o "comer em excesso"), a partir da experiência de atendimento a pacientes obesos que desejavam submeter-se à cirurgia bariátrica em um hospital geral do Rio de Janeiro. Observamos que a temática do narcisismo, envolvendo questões relativas à imagem de si, a constituição do eu e da autoimagem corporal tem um lugar de destaque nesta clínica, independentemente da organização subjetiva aí em jogo (histeria, neurose obsessiva etc.). Tais organizações subjetivas podem ser situadas no contexto das chamadas "patologias da contemporaneidade", por seu caráter compulsivo, pelas questões que se apresentam no campo da simbolização. O atendimento desses pacientes aponta para grandes dificuldades técnicas quanto ao seu manejo clínico. Neste trabalho, propomo-nos a pensar tais organizações destacando os aspectos narcísicos acima descritos. Para isto, utilizamos o corpo teórico de autores como S. Ferenczi e M. Balint, autores com uma produção teórica importante sobre os pacientes considerados "difíceis" ou "intratáveis" pela técnica analítica clássica. Procuramos destacar a importância das primeiras relações do self com o entorno para a constituição deste "ego corporal" (Freud) e, através de alguns fragmentos clínicos, tentamos relacionar a peculiar constituição do corpo obeso à área da Falha Básica (Balint), o que parece ter, para a clínica, consequências importantes quanto ao tratamento destes pacientes.

TESES

Título: Homossexualidade: saber e homofobia

Acyr Corrêa Leite Maya

Orientador: Joel Birman

Data de defesa: jul/2008

O objetivo desta tese é pesquisar o discurso dos analistas que foram contrários ao Pacto Civil da Solidariedade (PACS), aprovado na França em 1999, que legitimou juridicamente a parceria afetiva homossexual. A aprovação do PACS, ainda que com direitos limitados, provocou reações homofóbicas provenientes de psicanalistas de renome internacional. Examinamos a noção de ordem simbólica da diferença dos sexos, argumento central usado para impedir do ponto de vista teórico e político, o acesso dos homossexuais ao PACS. Constatamos a existência de uma correspondência entre a teoria psicanalítica da homossexualidade como perversão e a tese antropológica-psicanalítica da desimbolização social, suposto perigo representado pela inscrição do casal homossexual na ordem simbólica da diferença dos sexos. A partir do argumento recorrente, haja vista o episódio do PACS, de que os homossexuais renegam a diferença sexual, investigamos a origem da correlação habitual entre a homossexualidade masculina e a perversão, visando compreender sua permanência na literatura psicanalítica até hoje.

Título: A ironia jocosa e a psicanálise

Antônio Ricardo da Silva

Orientador: Joel Birman

Data de defesa: fev/2008

Este trabalho de tese defende que a ironia jocosa ou humorística pode se constituir como um tipo de estilística da existência, tal como proposta por Birman (1996), resultante de um percurso de análise que se marcou pelo confronto com o horror do desamparo e teve como saída a feminilidade, isto é, a não-referência à função fálica e suas insígnias, como forma de obturar uma fratura constituinte da subjetividade. Para que essa estilística seja possível, necessário se faz que o sujeito relativize os ideais e modifique sua posição subjetiva, abrindo mão das suas intenções totalizantes referidas ao ego ideal.

Título: Linguagem e intensidade no discurso freudiano

Claudia Braga de Andrade

Orientador: Joel Birman

Data de defesa: fev/2008

A linguagem é um tema central na psicanálise e está inserida no projeto freudiano por meio de duas vertentes relacionadas entre si: na fundamentação do método terapêutico, realizado através do discurso, e na formulação do aparelho psíquico. O questionamento sobre a dimensão intensiva da linguagem no inconsciente e a implicação entre o propósito da prática clínica e sua concepção de linguagem são os principais eixos deste trabalho. A nossa pesquisa demonstrou diferentes perspectivas e possibilidades de abordagens da linguagem no discurso freudiano que, ao privilegiar o campo das representações ou a dinâmica pulsional, interferem diretamente no encaminhamento do tratamento clínico, e sinalizam posições distintas em relação à lógica metafísica das representações. Partimos do pressuposto de que admitir o poder de afetação da linguagem não significa, contudo, considerar o afeto como parte integrante da linguagem. No pensamento pós-freudiano, a abordagem de Freud sobre a linguagem é alvo de confrontações. Em especial, a teoria de Jacques Lacan e a filosofia de Jacques Derrida e Gilles Deleuze permitem traçar um panorama sobre as consequências teóricas e clínicas na definição de linguagem a partir do modelo da fala ou do modelo da escrita.

Título: Biopolítica e psicanálise: uma análise histórico-genealógica das formas de subjetivação na contemporaneidade

Diane Almeida Viana

Orientador: Joel Birman

Data de defesa: fev/2008

A presente tese parte dos impasses da psicanálise diante de um processo de transformação subjetiva em curso na atualidade. A fim de compreender essa problemática, a pesquisa visa investigar as condições de possibilidade da emergência de novas formas de subjetivação na contemporaneidade. Para tanto, propõe-se uma análise histórico-genealógica dos processos de constituição subjetiva, considerando a matriz biopolítica da modernidade, seus avanços e variações no contexto contemporâneo. Procedemos, primeiramente, a um exame das linhas de continuidade e descontinuidade do pensamento freudiano em relação ao projeto biopolítico moderno, que marcou o solo histórico de surgimento da psicanálise. Em seguida, analisamos a leitura da subjetividade empreendida por Freud, tendo em vista o horizonte biopolítico da modernidade. Para finalizar, investigamos os desdobramentos contemporâneos da biopolítica, as transformações no estatuto da soberania e suas repercussões para a mudança da configuração subjetiva que se insinua na atualidade. Apontamos para a condição de existência somática a que as subjetividades estão reduzidas e à experiência de risco implicada nas formas de resistir hoje, diante da radicalização da incidência direta do poder sobre a vida.

Título: A construção do laço social na psicose

Doris Rangel Diogo

Orientadora: Ana Cristina Costa de Figueiredo

Data de defesa: jul/2008

O tema desta tese é o laço social na psicose. Nosso interesse é responder à questão: Como a clínica psicanalítica, tanto aquela que se realiza por eio do dispositivo de consulta ou a que tem lugar na prática institucional, pode favorecer a construção de uma suplência que propicie laço social? Na perspectiva de Freud, o delírio e a alucinação seriam tentativas de cura, isto, é, tentativas de recuperação do objeto perdido, em sua função de alteridade. Seguindo esta trilha freudiana, Lacan propôs a metáfora delirante como forma de suplência à foraclusão do Nome-do-Pai, logo uma possibilidade de realizar, de certo modo, a função de ponto de basta da metáfora paterna. No entanto, nossa pesquisa revela que não só com metáfora se faz uma suplência. Esta pode se constituir de modo diferente da reconstrução do sentido que a metáfora realiza. Para examinar teoricamente outras suplências, em nosso estudo, privilegiamos o segundo axioma do ensino de Lacan que, utilizando a topologia, propõe a pluralização dos Nomes-do-Pai. Desta forma, a noção de suplência se equipara a de um saber fazer com alíngua (lalangue) e a noção de laço social passa a ser equivalente à função do sinthoma. Para finalizar, algumas passagens clínicas são comentadas. Dois aspectos são enfatizados e ambos procuram ilustrar a evidência de que nem todas as suplências têm estatuto de sinthoma. O primeiro se refere às estratégias e táticas do manejo da transferência pelo analista (consulta) ou do tratamento do Outro pela equipe (prática institucional) e o segundo trabalha o modo singular de tratamento do gozo que é um saber fazer com alíngua, enquanto uma invenção do sujeito.

Título: Nem Édipo, nem barbárie: uma contribuição genealógica ao debate psicanalítico sobre aliança e sexualidade na contemporaneidade

Eduardo Ponte Brandão

Orientador: Joel Birman

Data de defesa: jul/2008

O debate atual entre os psicanalistas a respeito das modalidades e das articulações entre aliança conjugal, aliança parental e sexualidade costuma adotar o Édipo como referência. Dizem esses autores que o Édipo é condição necessária de normalização para todo e qualquer sujeito e de humanização do laço social, sem o qual estaríamos fadados à barbárie. À luz da genealogia dos poderes em Foucault, a psicanálise é herdeira da tecnologia de si que remonta à confissão da carne cristã. O Édipo é para Foucault a retomada do sistema de aliança em meio ao dispositivo da sexualidade, restabelecendo a experiência de renúncia e de transcendência cristã. O Édipo condensa as ramificações que constituíram a norma baseada no casal monogâmico, heterossexual, erotizado, reprodutivo e patriarcal. A versão estrutural do Édipo reproduz esse modelo normativo. Por sua vez, a obra de Freud permite vários entendimentos, sendo dificilmente enquadrada no escaninho das ciências do sexual. Encontram-se também em Freud outras formas de compreensão da subjetividade que não esteja atrelada ao referencial fálico-edipiano. À luz de Freud, a reflexão psicanalítica pode se esquivar do dualismo entre civilização (Lei) e barbárie (anomia).

Título: Violência, agressividade e dominação: uma reflexão psicanalítica sobre a masculinidade

Eliana Lorentz Chaves

Orientadora: Marta Rezende Cardoso

Data de defesa: ago/2008

Nesta tese investigamos a masculinidade e seus enlaces com a violência, a agressividade e a dominação, considerando a articulação freudiana entre agressividade e sexualidade masculina. Partimos de duas observações intimamente associadas: os homens manifestam sua agressividade de forma mais evidente que as mulheres, e os homens dominaram as mulheres através dos tempos. Essas premissas nos levam ao estudo das relações de dominação e ao fenômeno da dominação masculina. Tomando o par masculino/feminino, vemos que as mulheres aparecem como depositárias da castração e da passividade, sendo sobre esta base que se alicerçam o desprezo, o medo e a hostilidade dos homens. Posto que não compartilhamos da fundamentação biológica freudiana para a agressividade masculina, buscamos na "teoria da sedução generalizada", de Jean Laplanche, um referencial teórico que prioriza o outro na constituição do psiquismo. A partir de proposições que contrariam o postulado freudiano de uma masculinidade inicial da criança, contidas nas propostas das origens femininas da sexualidade e da identificação feminina primária, nossa questão se desloca do "feminino das mulheres" para o "feminino nos homens". Este traz à tona os riscos da passividade, associada à homossexualidade. Seguindo os paradoxos da sexualidade masculina, buscamos compreender o que se encontra subjacente à dominação. Neste viés, os excessos do masculino aparecem como formações reativas ao feminino nos homens. No encerramento desta tese seguimos a questão do apagamento do outro sob a ótica do narcisismo fálico, o que dá forma ao fenômeno conhecido como "machismo".

Título: O ensino da psicanálise: ensino e transmissão

Elizabeth Elias Chacur Juliboni

Orientadora: Anna Carolina Lo Bianco

Data de defesa: mar/2008

A tese mostra que após a intervenção de Jacques Lacan no campo psicanalítico o ensino da psicanálise encontra novo estatuto. O enlace entre ensino, transmissão e estilo é examinado a partir de pontuações da trajetória de Lacan. Dela procuramos extrair as bases conceituais - o objeto a, a estrutura dos quatro discursos, a função do semblant, a noção de letra - em cuja articulação surpreendemos um ponto de impasse que faz com que a transmissão da psicanálise seja impossível. A esse impossível Lacan responde com uma ética peculiar à experiência analítica por abrigar a posição de sujeito frente a seu desejo. Orientados pelo que a ética coloca em causa, trabalhamos o sintagma "transmite-se um estilo" como sendo o que de melhor um analista pode fazer com esse impossível. Situamos o estilo na perspectiva de que, na psicanálise, ele é decidido por um objeto.

Título: A literalidade na clínica psicanalítica: uma questão temporal

Fernanda Ferreira Montes

Orientadora: Regina Herzog

Data de defesa: fev/2008

A presente tese discute a relação do sujeito com o tempo a partir de dificuldades no manejo clínico. O sujeito de hoje se relaciona com o tempo principalmente por meio da modalidade de temporalidade que designamos por presentificação, em uma forma de narrativa literal que não pressupõe uma continuidade temporal. Com este propósito destacamos, em um primeiro momento, duas modalidades temporais trabalhadas por Freud: a posterioridade e o 'tempo presentificado' da compulsão à repetição. Em seguida, aproximamos a última modalidade tanto da ideia de sonho traumático apresentada por Freud em 1920, quanto da noção de tempo nos dois tipos de trauma propostos por Ferenczi: estruturante e desestruturante. A temporalidade da catástrofe não obedece à lógica da continuidade e produz uma narrativa que proporciona "paradas" no tempo para que o sujeito recomponha afetos e sentidos numa cadeia simbólica. Trazemos, ainda, a contribuição do pensamento de Walter Benjamin sobre o mal-estar do sujeito da modernidade, que estaria remetido à ordem das vivências (Erlebnis) e não mais à da experiência (Erfahrung) que caracteriza a narrativa tradicional. Com estas ferramentas conceituais propomos empreender uma releitura da clínica, recorrendo à noção de construção e ao conceito de angústia no pensamento freudiano; e buscando subsídios em Ferenczi para pensar a análise como uma "costura" entre todas as imagens e afetos que circundam o mundo do sujeito a fim de produzir uma narrativa de vida. Assim, apontaremos para os limites do analisável e para uma dimensão psíquica não-representacional.

Título: Nomes do Outro em Lacan

Joana Bueno de Sá

Orientadora: Ana Beatriz Freire

Data de defesa: ago/2008

Essa tese pretende investigar as principais mudanças conceituais que afetaram o conceito de Outro em determinado período do ensino de Lacan. Buscamos apontar, a cada mudança conceitual que julguemos importante para a nossa pesquisa, quais foram as vantagens e desvantagens de determinada concepção, que problemas e impasses ela resolve e quais outros se abrem. Para tal, adotamos três escansões. As duas primeiras se articulariam a dois momentos teóricos importantes que giram em torno da função da fala e do campo da linguagem. O terceiro se refere à introdução do matema S(A/). Utilizamos, como chave de leitura deste matema, duas noções de lógica matemática, a incompletude e a inconsistência, e os termos que daí derivam, o indecidível e o paradoxo. Concluiremos que a inconsistência é o derradeiro nome do Outro.

Título: Identificação e estrutura em psicanálise

Maria Idália Pinto de Góes

Orientadora: Anna Carolina Lo Bianco

Data de defesa: set/2008

A tese apresenta o trabalho de Jacques Lacan sobre a teoria da identificação. Mostramos que o cerne de sua perspectiva é tomar as identificações a partir da estrutura e da lógica do significante. Perspectiva que realizou uma refundação do campo das identificações que expusemos ao longo do texto. Nossa tese é que dentro dessa refundação, ao fazer a diferenciação entre a primeira e a segunda identificação, Lacan privilegia a segunda identificação pois, se por um lado, ela produz um velamento da condição fundamental do sujeito, que é sua identificação ao objeto, por outro, ela suporta o desejo. Mostramos que por essa complexidade a identificação se situa nos pontos fundamentais de transmissão da psicanálise.

Título: Da interpretação ao ato analítico

Mônica Assunção Costa Lima

Orientadora: Ana Beatriz Freire

Data de defesa: ago/2008

Esse estudo investiga a passagem da teoria da interpretação à teoria do ato analítico no ensino de Lacan. Localizaremos inicialmente na obra de Freud o paradigma da interpretação em psicanálise e os impasses encontrados pelo psicanalista vienense no exercício da interpretação em sua clínica. Isso situará o ponto do qual partiu Lacan para efetuar suas diferentes leituras do que vem a ser interpretar em psicanálise. Demonstraremos que não existe unidade no que diz respeito à concepção da interpretação em Lacan, mas sucessivas redefinições do ato do analista em função da maneira como se relacionaram em seu sistema de pensamento a causa psíquica, o significante e o sentido. Evidenciaremos que em um primeiro momento a causa psíquica, na teoria lacaniana, foi localizada no campo do sentido, posteriormente no campo do significante e por fim foi deslocada para o campo do objeto com seu estatuto de real. Esse último deslocamento produziu modificações importantes no que se refere à noção do inconsciente, tendo exigido de Lacan a reavaliação do ato do analista no tratamento. Nesse ponto, a interpretação foi pensada de maneira bastante distinta das proposições dos anos 1950 e assumiu várias das características que foram associadas posteriormente à noção de ato analítico, o que nos mostra que, em Lacan, existe certa sobreposição da teoria da interpretação e da teoria do ato. Finalmente, mostraremos que a distinção entre as definições de interpretação encontradas no último ensino de Lacan não se diferenciam claramente da noção de ato analítico, mas que Lacan, no entanto, não renuncia à interpretação em favor de uma clínica do ato. A teoria da interpretação segue seu curso depois da elaboração do conceito de ato analítico, cujo valor fundamental foi o de refundar a práxis lacaniana, orientando-a por uma ética, cujo traço distintivo é a de ser sustentada pelo real.

Título: Vicissitudes da crença narcísica: a depressão no mundo contemporâneo

Rogério Robbe Quintella

Orientadora: Teresa Pinheiro

Data de defesa: mai/2008

Diretamente vinculado ao Núcleo de Estudos em Psicanálise e Clínica da Contemporaneidade (Nepecc/UFRJ), coordenado por Teresa Pinheiro e Julio Verztman, este trabalho aborda o problema do sofrimento depressivo contemporâneo, partindo de uma análise crítica do seu diagnóstico no campo psiquiátrico. Numa aposta de que a depressão é um sintoma da contemporaneidade, buscamos o enfoque psicanalítico, problematizando o olhar médico em sua pura apreensão descritiva, a qual desvincula a depressão dos contextos subjetivos e mesmo culturais aos quais ela se articula. Nossa hipótese é de que ela apresenta importantes peculiaridades subjetivas na atualidade que diferem sofrimento melancólico. Utilizando como instrumental teórico o pensamento de William James, Richard Rorty, Wittgenstein e Jacques Derrida, tomamos como eixo teórico desta pesquisa a noção de crença narcísica, no sentido de trabalharmos as diferenças entre essas afecções. Nesse patamar, localizamos o luto como processo psíquico que difere tanto da depressão quanto da melancolia, o que faz dessas manifestações psíquicas três formas mutuamente excludentes de reação à perda (luto, depressão e melancolia). Entendemos que a depressão assume aspectos novos na clínica psicanalítica contemporânea, os quais diferem também da depressão histérica e apontam para uma peculiaridade na passagem do eu ideal para o ideal do eu, bem como na relação do sujeito com o tempo nos dias de hoje.

Título: A invenção do corpo nas psicoses: impasses e soluções para o aparelhamento da libido e a construção da imagem corporal

Rosa Alba Sarno Oliveira

Orientadora: Angélica Bastos

Data de defesa: jul/2008

Nosso tema de pesquisa foi a invenção do corpo nas psicoses. Abordamos a questão da psicose e as operações necessárias para a construção da imagem corporal, a partir da psicanálise. E buscamos analisar algumas situações clínicas que mostram a possibilidade de inventar um corpo, fora do campo das neuroses.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    10 Jul 2009
  • Data do Fascículo
    Jun 2009
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