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Dissertações de mestrado e teses de doutorado/2009

DISSERTAÇÕES E TESES

DISSERTAÇÕES

Título:A transmissão da psicanálise na clínica psicanalítica

Alessandra Tavares Silva

Orientadora: Fernanda Costa-Moura

Data de defesa: fev/2009

Partindo da interrogação sobre o modo de operação da clínica psicanalítica, a pesquisa retoma os textos iniciais da psicanálise como marco da descoberta freudiana, o inconsciente, e da clínica que daí se desdobrava. Reconhece o ato de Freud em sua descoberta como o de sustentação de uma falha no plano do saber que se apresentava. E visa demonstrar que este mesmo ato é colocado como exigência para todo aquele que se dispuser a dar seguimento a esta clínica. Nessa mesma perspectiva, os Artigos técnicos (FREUD, 1911-1915/1996) ganham destaque, não por definirem as regras sobre as quais a clínica da psicanálise seria garantida, mas sim, por traçarem o fundamento do lugar do analista como resultado eventual de um processo de análise. Fazendo convergir, portanto, clínica psicanalítica e lugar do analista, o trabalho termina por discutir a dependência do psicanalista de sua análise pessoal. Situando a análise como o trabalho que proporciona ao sujeito a oportunidade de fazer a experiência de queda do Sujeito Suposto Saber, argumentamos que é somente com a derrocada dessa instância exterior, detentora de um saber total a ser adquirido, que se abre a possibilidade de um analista advir no ato, inantecipável, de submissão à falha no saber que constitui cada sujeito. Fundando, no mesmo passo, um lugar próprio na cadeia de transmissão da psicanálise.

Título: Uma história sem final feliz: reflexões sobre mito e verdade em Freud

Aline Maria Vieira de Araújo

Orientadora: Anna Carolina Lo Bianco

Data de defesa: fev/2009

A dissertação trabalha com o entrecruzamento que o mito, a história e a verdade apresentam na obra de Freud, à luz de seus primeiros estudos clínicos (Estudos sobre histeria/1895 e A interpretação dos sonhos/1900) e de suas últimas obras (Moisés e o Monoteísmo/1939 e Construções em análise/1937). Nosso objetivo foi precisar a definição desses conceitos e de como eles se tornaram para Freud um operador clínico importante. Damos, contudo, maior atenção às diferentes acepções que o mito possuía para Freud e a renovação que a sua função clínica ganhou em Lacan, aproximando-as e distanciando-as do mito dos etnólogos do final do século XIX (Morgan, Tylor e Frazer) e da antropologia estrutural. Trazemos também uma discussão sobre a relação da verdade com o mito e com a fala e quais as implicações que daí se desprendem para o trabalho da análise e para refletirmos sobre as particularidades da narrativa que acontece na clínica, e que é endereçada ao analista. Num último momento, encaminhamos nossas considerações sobre o mito e a verdade, domínios indissociáveis da história clínica, que é construída pelo analisante, ao que está em jogo na fala como um instrumento de reinvenção do passado, do mito individual e do sujeito.

Título:O sujeito freudiano em busca de felicidade

Amanda Cerdeira Pilão

Orientadora: Fernanda Costa-Moura

Data de defesa: fev/2009

Freud afirma que a busca da felicidade nos é imposta pela regulação psíquica sob o comando do princípio do prazer, declarando-a, de saída, fadada ao fracasso. Lacan por sua vez indica que a felicidade é uma demanda, dirigida ao analista por aquele que vai buscar análise. Este trabalho parte da busca de felicidade, para refletir sobre a especificidade do sujeito da psicanálise, tal como Freud o inaugura e Lacan o formaliza - como sujeito da linguagem. Aborda a problemática da felicidade tendo como pano de fundo a constituição psíquica do sujeito e procura demarcar seus móveis e o movimento que empreende nesta busca como forma de discutir as implicações que carreiam a escolha e a experiência de uma análise. Destacam-se, neste percurso, os paradoxos que marcam o sujeito em sua busca e que estão fundados em sua própria constituição. No limite, a busca de felicidade é tomada como ponto de partida de uma reflexão que almeja dar destaque ao que há de subversivo na psicanálise; trazer à luz aquilo que da reflexão freudiana, relida por Lacan, nos permite afirmar na psicanálise uma ética.

Título:A contratransferência na clínica psicanalítica

Ana Bárbara de Toledo Andrade

Orientadora: Regina Herzog

Data de defesa: fev/2009

Esta dissertação tem como objetivo averiguar o lugar dos afetos do analista na clínica psicanalítica. Embora Freud tenha alertado para os "perigos" representados pelas respostas afetivas do analista despertadas na relação transferencial, partimos da hipótese de que o texto freudiano dá margem a uma concepção positiva da contratransferência. A investigação se dirige, de forma predominante, aos escritos técnicos de Freud, privilegiando o exame rigoroso da função analítica e do conceito de contratransferência.

Num segundo momento, são discutidas as concepções de contratransferência propostas por Sándor Ferenczi, Paula Heimann, Margareth Little, D. W. Winnicott, Annie Reich e Lucia Tower, além da crítica de Jacques Lacan ao conceito. A pesquisa formula uma distinção entre contratransferência atuada e contratransferência elaborada, dois destinos possíveis para os afetos do analista na clínica. Tal distinção nos permite defender a hipótese de que Freud deixa implícita uma perspectiva mais favorável a respeito dos afetos contratransferenciais na experiência psicanalítica.

Título: Freud e o amor: do ideal ao impossível: Um diálogo entre psicanálise e romantismo

Beatriz Coelho Paz

Orientadora: Simone Perelson

Data de defesa: fev/2009

Este trabalho se dedica ao estudo do fenômeno amoroso a partir da obra freudiana, tendo como visada refletir sobre seu lugar e função na construção de uma teoria e clínica psicanalíticas, considerando para tal - como ponto norteador - o diálogo freudiano com o estilo romântico do qual é herdeiro. Considerando a indicação de que Freud seria tocado pela herança romântica no que concerne à sua leitura do fenômeno amoroso, pretendemos acompanhar de que maneira podem se articular, em uma mesma obra - a obra freudiana - a postulação de um conceito como o de pulsão, que institui uma ferida ao narcisismo do homem, e uma teoria - romântica - do amor, atravessada por uma aposta na possibilidade de encontro com uma felicidade narcísica junto ao objeto. Neste caminho, circunscrevemos o estatuto de via para a felicidade, conferido ao amor a partir do Romantismo, para identificar como Freud pode sustentar uma ética da renúncia às ilusões ao recolher desde o próprio apelo romântico de amor, o retorno de um impossível à complementaridade amorosa. Através do diálogo entre Freud e o Romantismo, destacaremos um caminho singular trilhado por Freud que vai do ideal de amor ao impossível da pulsão, sublinhando uma posição de enclave no destino dado por Freud a sua herança romântica, e seu rompimento singular com o estilo romântico, a partir do qual pôde deduzir não somente uma nova faceta do amor - distinta da romântica -, mas a própria formulação da psicanálise.

Título: A marca do enigma da linguagem na metáfora paterna: a castração que traumatiza é a mesma que apazigua?

Caio Rodrigues de Mattos Filho

Orientadora: Giselle Falbo

Data de defesa: fev/2009

Esta dissertação é o resultado de uma pesquisa teórica acerca da presença ambivalente - traumática e apaziguadora - da castração na metáfora paterna lacaniana. A partir do postulado de que o homem, ao invés de ser comandado pelo saber instintivo, nasce destinado à linguagem e vive o mal-entendido do significante, no qual não existe objeto último da satisfação, investigou-se, através da lógica fálica, a castração como a marca subjetiva desta falta. Neste sentido, observou-se que, primeiramente, a criança vivencia a falta através do enigma do desejo do Outro - que corresponde à alteridade desejante que o acolhe, interpreta suas agitações como pedidos e busca satisfazê-los. Definiu-se, entretanto, que, por estrutura, a criança não pode extinguir a falta inerente à linguagem quando oferece o seu ser como objeto fálico do desejo do Outro. Assim, a prova deste desejo escancara a castração em dupla face. Por um lado, ela traumatiza porque o sujeito se sente angustiado por não ter como responder à falta do Outro, em cujo abismo, acossado pelo real da pulsão, o sujeito fantasia a falta como mutilação danosa, cuja imagem a diferença anatômica dos sexos encarna; e como falta de saber sobre a satisfação, a que as teorias sexuais infantis visam dar conta. De outra parte, a castração, simbólica, de origem paterna, pacifica o sujeito através da definição da Lei (de interdição do incesto) pela qual a falta do Outro é assumida pelo sujeito, cunhando-lhe a condição desejante, em lugar da angústia de castração e da busca desregulada do gozo impossível.

Título: Bulimia: uma resposta paradoxal

Camila Peixoto Farias

Orientadora: Marta Rezende Cardoso

Data de defesa: fev/2009

O principal objetivo desta dissertação é investigar os mecanismos psíquicos envolvidos na bulimia visando delinear com maior precisão os seus contornos específicos. Para tal é destacado inicialmente o papel do trauma nessa patologia na qual, em função da precariedade dos processos de representação, dá-se uma convocação do corpo e do ato. Vindo complementar este aspecto, analisa-se a questão da dependência estabelecida entre o ego e o objeto, sob uma perspectiva tanto intrapsíquica quanto intersubjetiva. Supõe-se que o estado de dependência e submissão do sujeito ao objeto externo possua um caráter paradoxal em função da ação significativa da pulsão de vida que vem se mesclar com a dimensão destrutiva que permeia a constituição dessa modalidade singular de resposta psíquica. A elaboração dessa ideia é apoiada não somente em aspectos relativos ao registro primário, mas também ao do secundário, edipiano, registros intimamente articulados entre si. Ao não permitir uma adequada interiorização do interdito, a travessia do Complexo de Édipo torna o processo de genitalização ameaçador, provocando a regressão a uma lógica própria à oralidade, operação que se expressa pelo ato bulímico. Este movimento regressivo constitui um dos elementos essenciais para a compreensão desse ato/cena cuja singularidade se revela justamente no caráter paradoxal que comporta. Trata-se de uma "apresentação", fixada, portanto, no encontro com o objeto primário, mas na qual são simultaneamente atuadas, de forma deslocada, a realização e a recusa de um desejo edipiano transgressivo.

Título: A dimensão ética da diferença sexual

Jamille Mascarenhas Lima

Orientadora: Tânia Coelho dos Santos

Data de defesa: fev/2009

A análise da dimensão ética da diferença sexual tem como ponto de partida a descoberta freudiana do papel central do falo na sexualidade infantil. Ao postular que a sexualidade infantil comporta a particularidade da prevalência fálica, na qual a diferença entre os sexos se inscreve em termos simbólicos, Freud se depara com a dessimetria entre o modo masculino e o feminino de inscrição na lógica da sexuação. Na ausência das ferramentas da linguística, das quais Lacan se utilizou para dar conta dessa diferença, Freud se detém na relação imaginária entre ter ou não ter o pênis. Desse modo, analisa a relação entre os sexos pelo viés do rochedo da castração, mas não responde sobre o enigma do desejo na relação entre os sexos. Lacan retoma a análise do falo a partir da articulação significante, e, posteriormente, examina a castração pela vertente da angústia. Nessa perspectiva, o falo é alçado à condição de significante da falta e se presentifica na relação entre os sexos a partir da sua negativização, ou seja, como (-Φ). A abordagem do desejo pela presentificação da falta leva Lacan a enunciar o que há de estruturalmente enganador no ideal de realização genital. Ele aponta que o engodo é fundamental para o estabelecimento da relação entre os sexos, uma vez que a ilusão de que aquilo que lhe falta encontra-se no outro permite que o sujeito direcione seu desejo para o outro sexo. Esta dissertação investiga a dimensão ética da diferença sexual, considerando que a falta apontada pelo falo serve de suplência à relação sexual que não existe. Evidencia a dimensão ética da inscrição do sujeito numa posição sexuada e enfatiza a função do semblante fálico em jogo no encontro entre os sexos.

Título: A determinação do sujeito do inconsciente e a sua responsabilidade em psicanálise

Joana Coelho Barbosa

Orientadora: Simone Perelson

Data de defesa: fev/2009

Esse trabalho realiza uma investigação acerca do sujeito do inconsciente, traçando um percurso que vai de sua determinação significante até a questão ética de sua responsabilidade. O sujeito, tido como efeito de significante e, consequentemente, dos mecanismos que operam na linguagem - metáfora e metonímia -, parece muitas vezes fugir ao chamado da cadeia simbólica, o que aponta para um funcionamento peculiar do psiquismo inconsciente. Essa máquina não possui um funcionamento homeostático e produz sempre um resto inassimilável, que insiste em não se inscrever na cadeia significante. Das Ding, um dos nomes desse resto, será um ponto em comum entre o tema da determinação significante e o da responsabilidade. Na ética da psicanálise, em sua prática diária, o sujeito deverá ser responsável por aquilo em que não se reconhece, pelo que lhe é estranho, estranhamente íntimo.

Título: Função do objeto e angústia

Jorge Luis Gonçalves dos Santos

Orientadora: Fernanda Costa-Moura

Data de defesa: fev/2009

A concepção de angústia se mostra, em psicanálise, intimamente ligada à função do objeto. Ainda que a angústia seja o sinal afetivo que designa a incidência do objeto que causa o desejo, angústia e desejo não se confundem. O desejo torna-se causado pela função do objeto, através de uma perda, a cada vez que a angústia é atravessada. A angústia está no tempo anterior ao desejo. É no ato denominado por Lacan de "cessão do objeto" que os objetos parciais da pulsão assumem a função de causa do desejo. Uma vez situado o momento da angústia, quando o objeto se torna perdido pelo ato da cessão, se produz o que, por ser irredutível à linguagem, permite a constituição do sujeito como desejante. A dissertação realiza um exame do momento em que a angústia se localiza de maneira lógica em relação ao desejo. Para isso, aborda os termos que Freud dispôs como inerentes à angústia. Termos que, por outro lado, Lacan aponta como estruturantes do desejo: castração e perda do objeto. O trabalho também realiza a leitura das concepções de Freud sobre a angústia, para, a partir delas, encontrar o que o ensino de Lacan trouxe de mais preciso quanto à angústia, a função do objeto a. Uma vez demarcado o objeto sem o qual não há angústia, faz-se o caminho de sua gênese por pedaços cedidos do corpo do sujeito. O que resta ao sujeito frente à angústia é ceder o objeto para fazer deste ato a garantia do desejo.

Título: Metapsicologia como ficção: uma realidade freudiana

Miguel Pinto Guimarães Machado

Orientadora: Isabel Fortes

Data de defesa: fev/2009

Este trabalho visa demonstrar de que maneira a metapsicologia estrutura-se como ficção, sendo assim a condição de possibilidade para o advento do discurso psicanalítico. Partindo do ambiente científico que marcou as primeiras pesquisas de Freud, pretende-se mostrar como a ciência serve de contraste para revelar os deslocamentos que deram origem ao conceito de realidade psíquica. Este conceito, epistemologicamente, funda uma prática que, ao não eleger a realidade material como referência primeira de suas hipóteses teóricas, inventa uma realidade necessariamente ficcional, cuja consistência e eficácia clínica dependem de uma complexa articulação entre teoria e técnica. Articuladas, teoria e técnica possibilitam à psicanálise um rigor que, se não é e não pode ser o rigor das ciências exatas, nitidamente mantém como herança destas a consideração de uma materialidade para o seu objeto de pesquisa, bem como a preocupação com a estabilização do par sujeito-objeto. Em outras palavras, a psicanálise, por basear-se numa realidade ficcional, na qual os parâmetros vigentes são metapsicológicos, e por sustentar uma clínica em que o psiquismo do analista necessariamente confunde-se com o psiquismo em tratamento, a psicanálise, para não ser confundida com uma prática calcada na sugestão, precisa apoiar-se num conjunto teórico-técnico que permita ao analista distinguir e manejar, a partir de uma materialidade e em meio à realidade psíquica, o fenômeno nomeado por Freud de transferência. Tornado conceito, este fenômeno, que antes somente acontecia na realidade material, à revelia do analista, é deslocado para a realidade psíquica, acontecendo agora segundo uma lógica conceitual. A primeira consequência deste deslocamento é a ascensão do fenômeno a um grau de visibilidade tal, que os analistas podem agora fazer o que antes seria impossível: observar e manejar a transferência, cujo nível de teorização alcançado permite à metapsicologia apartar, da psicanálise, a ameaça sempre presente da sugestão - maior obstáculo à legitimidade do saber freudiano -, abrindo caminho para afirmar a psicanálise como verdade.

Título: O trabalho do delírio na estabilização da psicose

Regina Cibele Serra dos Santos Jacinto

Orientadora: Ana Beatriz Freire

Data de defesa: fev/2009

Esta dissertação aborda o tema da estabilização na psicose pela via do trabalho delirante. Para tanto, a partir das leituras de Freud e Lacan, desenvolve elementos teórico-clínicos que permitem articular uma possibilidade de estabilização por esta via, nas psicoses quando o desencadeamento é mais disruptivo. O tema é abordado inicialmente na obra freudiana, com destaque para sua contribuição em torno da função do delírio. Posteriormente, é discutida a noção de metáfora, com ênfase à subversão que a leitura lacaniana promove na acepção deste termo. Segue-se um estudo sobre a dimensão metafórica do pai, e sobre a função do ponto de basta. A partir daí, desenvolve-se uma discussão sobre o desencadeamento psicótico na perspectiva clássica e sobre a concepção de estabilização que fundamenta este estudo. De posse desta concepção, discute-se em que medidas o delírio pode veicular uma estabilização.

Título: Os paradoxos do conceito de resistência: Do mesmo à diferença

Rodrigo Cardoso Ventura

Orientador: Joel Birman

Data de defesa: fev/2009

A presente dissertação teve como principal objetivo problematizar o conceito de resistência no discurso de Freud, um dos pilares de sua teoria que está diretamente relacionado com a própria criação da psicanálise. Mediante a articulação com a obra filosófica de Foucault, a hipótese desta pesquisa apontou para a possibilidade de pensar a resistência em si implicada na mudança subjetiva, ou seja, na produção do novo e da diferença no processo de subjetivação. Para a realização deste trabalho, foi elaborada uma análise histórica do conceito de resistência ao longo de toda a obra freudiana, a partir de uma leitura cronológica dos seus textos. Nos primórdios da psicanálise foi possível observar Freud se deparar com a resistência dos seus pacientes, quando tentava aplicar o método psicanalítico nascente. Continuando este percurso, foram apresentados os desdobramentos da noção de resistência, enfatizando a sua relação com elementos fundamentais da teoria psicanalítica, tais como: recalque, transferência e repetição. Neste caminho, teve destaque a definição de cinco formas de resistência espalhadas pelo aparelho psíquico, a saber: três formas de resistência ligadas ao ego (a resistência do recalque, a resistência de transferência e o ganho secundário da doença), a resistência do superego (reação terapêutica negativa) e a resistência do id (compulsão à repetição). Finalmente, nos últimos trabalhos teóricos de Freud, foi ressaltada a sua percepção de que a tarefa de superação da resistência, que passou a ocupar um lugar cada vez mais estratégico em sua obra, era muito mais árdua e complexa. Após percorrer toda a obra de Freud, tendo a resistência como bússola, concluiu-se que a leitura predominante da teoria psicanalítica define este conceito como forte obstáculo à experiência clínica. Qualquer mudança no paciente só poderia ser alcançada mediante o trabalho de combate e superação das suas resistências. Resistência como meio de mudança, mas não como mudança em si. Porém, este combate traz à tona as relações de poder que existem entre analista e paciente, estabelecendo uma ponte possível com o pensamento de Foucault, no qual o conceito de resistência está diretamente relacionado com o novo e a diferença. Tendo a obra foucaultiana como aguilhão para pensar de maneira outra a resistência, foi demonstrada a hipótese desta pesquisa a partir da relação entre a compulsão à repetição, enquanto uma das formas de resistência, e a dinâmica conflituosa do segundo dualismo pulsional: pulsão de vida x pulsão de morte.

Título: Sexuação na psicose: o empuxo-à-mulher

Vanessa Campbell da Gama

Orientadora: Angélica Bastos

Data de defesa: fev/2009

A problemática do presente trabalho é a tendência à feminização na psicose, nomeada por Lacan (1973) de empuxo-à-mulher. A pertinência deste tema reside no fato de que a manifestação clínica do empuxo-à-mulher é comum em quadros de psicose. Na clínica com pacientes psicóticos percebe-se uma enorme dificuldade de esses sujeitos se posicionarem enquanto homem ou mulher. Por quê? De acordo com a teoria psicanalítica, ser homem ou mulher não está dado, mas requer um posicionamento do sujeito frente à castração. Para constituir-se como homem ou mulher é necessário que o sujeito se inscreva, em relação à lógica fálica, do lado masculino ou feminino. Como teorizado por Lacan, o sujeito inserido em uma estrutura psicótica não inscreveu a castração. Portanto, em relação à partilha sexual, o sujeito encontra-se à deriva. Pergunta-se, então, de que recursos o psicótico pode se valer para situar-se diante da partilha sexual. Assim, o objetivo do presente trabalho é averiguar as soluções que o sujeito psicótico pode encontrar para responder ao enigma de sua condição sexuada. A hipótese é que o empuxo-à-mulher submetido a um tratamento psíquico pode ser uma maneira de o psicótico responder ao enigma sobre o seu sexo e alcançar a estabilização. A partir de fragmentos de casos, tanto da literatura psicanalítica como de nossa prática clínica, analisa-se e discute-se o empuxo-à-mulher e o trabalho subjetivo que pode conduzir a estabilização. Investiga-se também o papel que a erotomania pode desempenhar neste percurso.

Título: O estatuto e os impasses da cientificidade da psicanálise

Fabiana Mendes Pinheiro de Souza

Orientadora: Tânia Coelho dos Santos

Data de defesa: ago/2009

Esta pesquisa avança sobre a seguinte questão: a epistemologia de Bachelard, de Canguilhem e de Foucault dão conta da especificidade da psicanálise como ciência ou se referem apenas à medicina, às ciências humanas e à psicologia? Abordo, num primeiro momento, o que esses autores, Bachelard, Canguilhem e Foucault definiram e construíram como o solo epistemológico do saber científico, a partir do conceito de corte epistemológico de Bachelard, para verificar se é possível encontrar uma epistemologia que inclua a psicanálise, que dê conta da especificidade da psicanálise. No segundo capítulo, proponho pensar a especificidade da relação da psicanálise com a ciência moderna. O ponto de partida, no segundo capítulo desta dissertação, é o axioma lacaniano apresentado em A ciência e a verdade (1965/ 1998): o sujeito sobre o qual a psicanálise opera só pode ser o sujeito da ciência (LACAN, 1965, p. 873). A perspectiva de Lacan toma a existência da ciência como um ponto de partida. Portanto o papel da psicanálise é o de recolher e tratar das consequências que a inserção da ciência no mundo produz sobre a subjetividade. Minha proposta é precisar o que é o sujeito da ciência, sua necessária relação com a modernidade e o modo específico sobre o qual a psicanálise opera sobre ele. O discurso da psicanálise age sobre o sujeito moderno, o sujeito da ciência que se constitui a partir de uma Spaltung, que em Freud, o conceito de inconsciente, foi o que o permitiu conceituar o estatuto do sujeito moderno a partir de seu estado de fenda.

TESES

Título: A economia pulsional no ensino de Lacan

Nelma de Mello Cabral

Orientador: Joel Birman

Data de defesa: mar/2009

A presente tese problematiza a economia pulsional no ensino de Lacan. Nossa hipótese é de que o obstáculo encontrado por Lacan para inserir a economia pulsional em seu ensino deve-se ao projeto que ele abraça e sustenta ao longo de seu percurso, a saber, o de realizar uma formalização da psicanálise, tendo como ideal o formalismo matemático. Procuramos, primeiramente, mostrar que a concepção de pulsão constitui-se um obstáculo no ensino de Lacan até a sua admissão como um dos conceitos fundamentais da psicanálise. Para isso fez-se necessário apresentarmos os aspectos da concepção freudiana de pulsão sexual e de pulsão de morte considerados problemáticos por Lacan. E, em seguida, procuramos ressaltar a estratégia encontrada por ele para tratar a pulsão freudiana e manter seu projeto de formalização da psicanálise, que foi o recurso à lógica matemática e à linguagem do cálculo vetorial. Procedemos então a uma apresentação das filosofias da matemática com o objetivo de situar os desdobramentos do termo 'formalização' no ensino de Lacan, identificando os formalismos presentes em seus textos e seminários. E a seguir procuramos mostrar que se a repetição foi teorizada apostando na linguagem do cálculo da probabilidade, o excesso pulsional foi pensado considerando o logicismo de Frege e de Russell e o formalismo de Hilbert. Evidenciamos, na articulação entre repetição e gozo, a importância dada por Lacan à noção de estrutura presente no formalismo matemático. Para finalizar, apresentamos a forma como Lacan se serve da lógica modal e do formalismo de Bourbaki em sua busca de formalização para a psicanálise.

Título:O pecado do Pai: da crença à heresia

Pedro Teixeira Castilho

Orientadora: Anna Carolina Lo Bianco

Data de defesa: fev/2009

Este trabalho busca recuperar o tema da dissolução do complexo de Édipo na identificação da criança com o Pai. A partir daí, faz-se um esforço em aproximar essa gênese da criança ao mito de Totem e tabu. Nesse mito, buscaremos afirmar que o Pai, juntamente com os afetos de amor e de ódio que ele desperta, é crucial na obra de Freud - desde a sua concepção sobre o Édipo, passando por Totem e tabu, até Psicologia das massas e análise do Eu. A identificação ao Pai, nesses textos de Freud, é a subjetivação dos afetos de amor e ódio - um Pai ambivalente. Em um segundo tempo, levando em consideração a experiência da falta, inicia-se um declínio do Pai. Nesse segundo tempo da tese, o filho testemunha em Nome-do-Pai. Para Lacan, essa função significante está articulando o desejo com a Lei. Há desejo porque há lei. Elevando esse problema para uma questão teológica, podemos inferir, com São Paulo, que há pecado porque há lei. O filho é a redenção do Pai, juntamente com os desejos masoquistas que essa relação desperta no filho. No entanto, a angústia é o sinal de outra versão do pai. A partir desse ponto, começamos a pensar o pai como voz. A voz do pai é a articulação do desejo com o gozo. Utilizando-nos do recurso teológico, vamos aproximar essa voz ao shofar. No som desse instrumento, teríamos o pacto do povo judeu com Yahveh. A experiência real do pai entra em jogo; esse pai teria quantas versões fossem necessárias - os nomes do Pai. Lacan, leitor de Kierkegaard, demonstra que o Pai é mais pecado que Lei. Com Lacan, temos a falta do pai, seu pecado, que é consecutivo à pluralização dos nomes do pai e concomitante à impossibilidade de pronunciá-lo. Nesse ponto, o pai transmite sua impossibilidade. Desse modo, ao longo de seu ensino, Lacan propõe o Pai em quatro momentos: o significante do Nome-do-Pai, o pai como nomeação, o pai como função sintoma e o pai como dizer. O tema sobre a identificação traz à tona a questão da transmissão, buscando concluir que o pai transmite seu pecado.

Título: A passagem ao ato suicida e seus antecedentes nas afecções da inibição e da impulsividade: paixão, neurose obsessiva e toxicomanias melancolizadas

Selena de Araújo Leite Caravelli

Orientadora: Angélica Bastos

Data de defesa: fev/2009

Nesta tese investigamos que conceitos psicanalíticos se prestariam à compreensão de certas formas de emersão da passagem ao ato suicida, atinentes às supracitadas afecções psíquicas. Nossa investigação partiu da obra freudiana que primeiramente separou "ação" de "ato", para em seguida estabelecer o "Agieren", onde se alojou o conceito de acting out. Nos servimos ainda da obra de Lacan, que perfilhou na psicanálise o conceito psiquiátrico de passagem ao ato, distinguindo-o das demais formas de acting out, redemarcando assim ambos os conceitos. Usamos como paradigmas os personagens literários Werther, de Goethe, para ilustrar a passagem ao ato na paixão; Hamlet, de Shakespeare para ilustrar a passagem ao ato na neurose obsessiva; e dois casos clínicos, de Maria e de Pedro, na ilustração das toxicomanias melancolizadas. Pretendemos demonstrar que, diferentemente das abordagens do suicídio a partir de campos de saber como a psicologia, a psiquiatria e suicidologia, de características fenomenológico-descritivas e pragmáticas, a psicanálise, porque entende a passagem ao ato como um corte, pode oferecer uma compreensão singularizada quanto à abordagem teórico-clínica de suas formas preambulares: fantasias de suicídio, ideação suicida e tentativas de suicídio.

Título: Elementos para uma abordagem discursiva do afeto: estudo de interface entre psicanálise e semiótica tensiva

Tiago Ravanello

Orientadora: Regina Herzog

Data de defesa: mar/2009

A presente tese tem como objetivo principal defender a possibilidade de uma abordagem discursiva ao conceito de afeto em psicanálise. Deste modo, visamos destacar elementos para a delimitação deste conceito através da leitura crítica e análise das consequências epistemológicas resultantes da relação entre psicanálise e linguagem. Assim, buscamos delimitar no campo freudo-lacaniano tanto os elementos fundamentais ao diálogo com teorias da linguagem específicas, quanto os impasses epistemológicos que se apresentam ao implemento deste. Neste sentido, destacamos as abordagens metafórica e quantitativa do conceito de afeto, e as suas subsequentes tentativas de redução a bases naturais e biológicas que vigoram nos projetos de abarcamento da psicanálise à ordem das neurociências. Em oposição, propomos o estudo de interface com a vertente de teorias da linguagem que vai desde Saussure até a atual teoria da semiótica tensiva - passando pela glossemática de Hjelmslev e a semiótica de Greimas - para a temática do afeto e, consequentemente, do ponto de vista econômico em psicanálise. Ao mesmo tempo, sustentamos a aposta de que a tese lacaniana do inconsciente estruturado como uma linguagem, bem como suas proposições sobre o discurso podem vir a constituir uma abordagem discursiva, não substancialista, do afeto, noutros termos, na imanência da linguagem, não fora dela.

Título:O (des)encontro do homem e da mulher no tambor de crioula do Maranhão. Considerações psicanalíticas

Valéria Maia Lameira

Orientadora: Anna Carolina Lo Bianco

Data de defesa: abril/2009

A tese toma a busca realizada pelo sujeito de uma satisfação sexual considerada inapreensível, para apontar a descoberta freudiana da importância das contingências relacionadas à manifestação desse sexual. Parte então da proposta de Freud sobre a diferença sexual e de como, com a sua concepção, homem e mulher irão se inserir na cultura. Descreve os caminhos que o sujeito percorre até tomar para si um lugar representado pelo significante homem ou pelo significante mulher. Com Lacan, reconhece, respectivamente, um campo todo, campo fálico e, um campo não todo, campo do feminino. Assim, ressalta que é pela distinção da resposta dada por cada um à castração, que ocuparão um lugar, o qual não comporta uma relação simétrica entre eles, o encontro não se dando senão no campo da linguagem. Por fim, através da descrição de elementos da dança do tambor de crioula do Maranhão, busca mostrar expressões do lugar do homem e da mulher, tal como encenado por esse movimento cultural. Assim sendo, acredita-se que um homem e uma mulher, na condição coreiro ou tamboreiro ou coreira encontra na dança um modo de realizar a satisfação Outra manifestada nessa forma de laço social.

Título: A psicanálise e o ato criminoso: causa e responsabilidade para os crimes, agressões e violência na clínica psicanalítica contemporânea

Maria José Gontijo Salum

Orientadora: Tânia Coelho dos Santos

Data de defesa: julho/2009

Estudo dos atos de violência e agressividade encontrados na clínica com infratores. Problematizou-se o estatuto desses atos, considerando a queda, na contemporaneidade, dos semblantes tradicionais que ordenavam o mundo: a lei para o direito e o complexo de Édipo, para a psicanálise. Considerou-se que o contexto social de nossa civilização pode acarretar em mudanças para a configuração do ato de violência como ato criminoso, o que acarretaria dificuldades para a responsabilização do infrator diante do Outro e da lei. Partiu-se da hipótese de que as atuações violentas na atualidade se constituem em modos de respostas frente às manifestações de um não-tratamento da violência pulsional, que é estrutural, pelos dispositivos e semblantes tradicionais. Através da atualização teórica e clínica do texto lacaniano sobre a criminologia, passando pelos conceitos de passagem ao ato e acting-out, foi possível concluir que o real da violência, quando desarticulado dos registros imaginário e simbólico tem como consequência o retorno de uma violência em ato que se caracteriza, prioritariamente, pela ruptura, em detrimento da transgressão e da delinquência; mesmo nos casos considerados como jovens infratores pelo direito.

Título: O recurso à droga nas psicoses: entre objeto e significante

Viviane Tinoco Martins

Orientadora: Angélica Bastos

Data de defesa: julho/2009

A presente tese tem como objetivo investigar a articulação entre a clínica das psicoses e o consumo de drogas. Com base em um percurso que articula teoria e clínica, elaboramos uma hipótese central que norteia nossa pesquisa calcada na adoção da terminologia 'recurso à droga', cuja etimologia remete à ideia de uma tentativa de apaziguamento de dificuldades, que em nosso trabalho corresponde à tentativa de dar uma solução aos efeitos da foraclusão do Nome-do-Pai. Ao formularmos nossa hipótese tivemos o cuidado de introduzir a noção de tentativa de solução para apontar que este recurso não é absoluto e pode apresentar fragilidades. Reconhecer esta fragilidade permite que nos afastemos da interpretação de alguns autores, que reconhecem que o uso de drogas pode operar em alguns casos, como uma suplência à foraclusão do Nome-do-Pai. Nossa tese é fundamentada pelo ensino de Lacan, com ênfase em suas contribuições provenientes do conceito de significante e a noção de Verwerfung, passando pelos avanços decorrentes da conceituação do objeto a, cuja consequência foi a pluralização dos Nomes do Pai, e da introdução da topologia dos nós, que lhe permitiu rearticular a noção de suplência na década de 1970. Ao longo desta trajetória também nos apoiamos na obra de Freud, tomando como bússola a articulação de Lacan dos textos freudianos. Nossa hipótese central desemboca em mais duas hipóteses sobre o estatuto de droga: 1) a oscilação entre objeto e significante, e 2) que o seu consumo comporta alguns modos de operação na dinâmica psíquica das psicoses. Assim identificamos dois modos de operação da droga, o primeiro corresponde à irrupção de um gozo ilimitado, que pode comparecer nas psicoses já desencadeadas e participar da cena dramática do desencadeamento, desempenhando um papel coadjuvante. A relação entre droga e gozo apresenta um paradoxo: para alguns casos, o seu consumo opera liberando um gozo excessivo e em outros permite uma moderação do gozo. O segundo modo de operação da droga corresponde às tentativas de estabilização e correspondem a cinco modalidades: a moderação de gozo, a passagem ao ato, a compensação imaginária, o delírio e a escrita que se articulam com o recurso à droga de acordo com a singularidade de casos clínicos que serão apresentados. Empreendemos uma articulação entre os modos de operação da droga e seu duplo estatuto de objeto e significante. Quanto à dimensão da escrita, a partir do estudo de um caso clínico encontramos um novo estatuto da droga, a saber, de letra, que condensa o gozo, depositando-o nas palavras escritas.

Título: A supervisão na clínica-escola: o ato no limite do discurso

Carlos Henrique Kessler

Orientadora: Anna Carolina Lo Bianco

Data de defesa: julho/2009

Partindo de uma experiência de mais de 20 anos em uma clínica-escola de psicologia que tem como base a psicanálise, buscamos investigar a atividade de supervisão, também chamada de 'controle'. Para isso, encontramos subsídios na produção de Freud, Lacan e discípulos. A investigação foi produzida tendo como guia a retomada do caminho de elaboração de conceitos fundamentais da psicanálise. Nos apoiamos essencialmente nas conceitualizações lacanianas acerca dos quatro discursos - por servirem para situar o impasse do trabalho com a psicanálise na universidade - e do objeto a - que produz um giro radical na psicanálise, na medida que situa uma causalidade perdida, real, para o sujeito. Destacamos que o fato clínico com que a psicanálise trabalha é singular e não pode excluir a responsabilidade do clínico que o produz. Recorremos ainda à revisão da bibliografia brasileira sobre a supervisão em clínicas, públicas e universitárias, a qual mostrou elementos de convergência com a trajetória deste trabalho. Concluímos que o supervisor, ao se colocar frente ao impossível envolvido na presença do discurso do analista na universidade, terá com seu ato que produzir uma inflexão no discurso universitário, no qual até então o estudante esteve imerso, para marcar um início na trajetória do supervisando em direção à formação psicanalítica.

Título: Erotomania: amor e sexuação

Ana Paula Corrêa Sartori

Orientadora: Tânia Coelho dos Santos

Data de defesa: agosto/2009

A erotomania se define como o delírio de ser amado. Quando não há o limite da função fálica, como ocorre nas psicoses, a erotomania toma os contornos de uma relação dual, cuja base é imaginária. O exemplo mais típico disto são as relações paranoicas, nas quais impera o modelo narcísico de relação. Por isso, na psicose, a erotomania pode se transformar numa erotomania mortificante, quer dizer, o sujeito encontra-se na posição de objeto: tanto objeto do amor, quanto objeto do ódio do Outro. Na psicose, a erotomania é também a forma de amar desses sujeitos. No entanto, sem a normatização fálica, o amor pode se transformar em perseguição. O desejo de ser amada, mais do que de amar, é encontrado, principalmente, nas mulheres. Quando este desejo ocorre de forma muito intensa em um homem, podemos dizer que ele está numa posição feminina frente ao Outro. Para o sujeito feminino, na neurose, a erotomania é também a estrutura de sua forma de amar, contudo com os limites da função fálica. Isto quer dizer que, na fase do complexo de Édipo, a menina precisa crer-ser amada pelo pai para poder se separar da mãe e entrar no Édipo. Não basta a menina sentir-se ressentida com a mãe, por não ter o falo. É preciso que ela fantasie que seu pai a ama. A isto eu propus chamar de erotomania edipiana: o ser amado é o enquadre fantasmático da mulher, na estrutura neurótica. Assim, a erotomania perpassa a neurose e a psicose, indicando sempre o que do amor e da sexuação, na neurose, está sempre em relação ao falo, e o que, na psicose está, desde sempre, fora da significação fálica, vindo a se constituir através narcisismo.

Título: Ritmo e oralidade: o texto da psicanálise

Juliana de Miranda e Castro

Orientadora: Anna Carolina Lo Bianco

Data de defesa: julho/2009

A tese aborda a impossibilidade envolvida no ato do escritor para aproximá-la da que está em jogo para o sujeito no percurso de uma análise. Recorre aos testemunhos de Guimarães Rosa e Clarice Lispector, entre outros autores, que ao se depararem com uma constante defasagem entre o vivido e seu relato, encontram também com o impossível de alcançar na escrita, ou seja, com uma inatingível completude do texto. Reconhece aí elementos que causam os embaraços com que se depara o escritor para melhor identificar aqueles que rondam o analisante. Para além de uma analogia entre o fazer do escritor e o do paciente, estende para o trabalho em análise as questões cruciais apresentadas àquele que escreve. O escritor, ao ver que nem tudo cabe em palavras, se submete a esse impossível para paradoxalmente achar a via que o leva a sua obra. Trata-se de examinar a operação que resulta nesse achado para iluminarmos a travessia do sujeito do inconsciente. Considerando que a prática psicanalítica envolve um cuidadoso trabalho de leitura, o estudo aborda a escuta da fala como inseparável da leitura de um texto. Usando os conceitos de Meschonnic, destaca nessa operação um elemento fundamental: a oralidade, considerada a voz do texto. Esta mantém a vivacidade do texto e seu caráter de enunciação, remetendo-o ao inconsciente. Vale-se também da noção de ritmo, que escande ao mesmo tempo que revela a voz. Ressalta que aí estão dadas as coordenadas para se ritmar a cura, nos termos de Czermak, implicando uma disciplina de leitura a partir da qual são oferecidas as condições para que na posição ética de assujeitado à voz de seu próprio texto, o sujeito venha a tomar o lugar que terá feito seu.

Título:Intervenções do analista: do descobrimento à invenção

Analícea de Souza Calmon Santos

Orientadora: Tânia Coelho dos Santos

Data de defesa: junho/2009

Este trabalho de investigação conceitual trata das intervenções do analista, do descobrimento à invenção, desde o surgimento da psicanálise, com Freud, até os dias atuais, com Lacan. A pesquisa tem como objetivo evidenciar a intervenção do analista enquanto contingência, na perspectiva do real sem lei. Metodologicamente, toda a trajetória desenvolvida é exposta em três etapas, com base em pesquisa conceitual, acrescida de exemplos clínicos advindos tanto da prática da autora quanto da literatura consultada. A primeira etapa é norteada pela premissa "interpretar o inconsciente, tarefa inacabada" e abrange as concepções do inconsciente nas duas tópicas freudianas, articulando-as com a definição do inconsciente que caracteriza a primeira década do ensino de Lacan. Na segunda etapa é descrita a estrutura do ato analítico em contraponto com a estrutura da passagem ao ato, circunscrevendo-se à segunda década do ensino de Lacan. Na terceira etapa é interrogada a intervenção do analista, enquanto contingência, contextualizada na última década do ensino de Lacan, que corresponde à chamada segunda clínica. Ao longo da investigação, percebe-se que a intervenção do analista, enquanto contingência, acontece tanto na clínica do ato, que corresponde ao que está descrito na segunda etapa, quanto na clínica que se supõe para além do ato dissertada na terceira etapa. O que se observa nessas duas versões da clínica é que a intervenção, na modalidade de ato analítico, surge ainda na primeira clínica de Lacan, sob o fundamento teórico da existência do Outro; e tem a sua continuidade no período caracterizado como a segunda clínica de Lacan, sob o fundamento teórico da inexistência do Outro, o que marca uma orientação clínica sob a perspectiva do Um. Conclui-se, então, que não é o estatuto da intervenção que se diferencia nessas duas versões da clínica, e sim o fundamento teórico que as norteia.

  • Dissertações de mestrado e teses de doutorado/2009

    Universidade Federal do Rio de Janeiro. Centro de Filosofia e Ciências Humanas. Instituto de Psicologia .Programa de Pós-graduação em Teoria Psicanalítica
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      20 Jul 2010
    • Data do Fascículo
      Jun 2010
    Programa de Pós-graduação em Teoria Psicanalítica do Instituto de Psicologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro - UFRJ Instituto de Psicologia UFRJ, Campus Praia Vermelha, Av. Pasteur, 250 - Pavilhão Nilton Campos - Urca, 22290-240 Rio de Janeiro RJ - Rio de Janeiro - RJ - Brazil
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