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SILÊNCIO, PANDEMIA E DISTANCIAMENTO SOCIAL: INTERVENÇÕES PSICANALÍTICAS EM COLETIVOS

SILENCE, PANDEMIC AND SOCIAL DISTANCING: PSYCHOANALYTIC INTERVENTIONS IN COLLECTIVES

Resumo:

Partimos do discurso do analista como vetor no convite a alunos da graduação para falarem livremente de sua experiência nesse momento de suspensão das atividades presenciais na universidade. A partir de dois dos encontros realizados, discutimos tanto os aspectos metodológicos quanto aqueles relativos ao conteúdo do que recebemos como resposta. O silêncio como resposta do coletivo a essa oferta se mostrou, nesse aspecto, em três dimensões: como ato analítico, expressão do discurso do analista; como resistência à enunciação e análise, como resposta contemporânea ao empuxo capitalista de tudo dizer ou escutar.

Palavras-chave:
silêncio; discurso do analista; coletivo; pandemia; educação

Abstract:

We start from the analyst’s discourse as a vector in the invitation to undergraduate students to speak freely about their experience at this moment of suspension of face-to-face activities at the university. From two of the meetings held, we discussed both the methodological aspects and those related to the content of what we received in response. Silence as a collective response to this offer was shown, in this respect, in three dimensions: as an analytical act, expression of the analyst’s discourse; as resistance to enunciation and analysis, as a contemporary response to the capitalist push to say or listen to everything.

Keywords:
silence; analyst`s discourse; collective; pandemic; education

Uma palavra abriu o roupão pra mim. Ela deseja que eu a seja (BARROS, 1996BARROS, M. Livro Sobre Nada. Rio de Janeiro: Record, 1996.).

Mostraremos que não há palavra sem resposta, mesmo que só encontre o silêncio, desde que haja um ouvinte”. (LACAN, 1998 apudNASIO, 2010NASIO, J. D. O silêncio na psicanálise. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 2010., p. 238).

INTRODUÇÃO

A partir do discurso do analista como vetor, convidamos alunos de graduação da Universidade Federal Fluminense a falar sobre as experiências pessoais vividas durante a pandemia do coronavírus. O desafio do distanciamento social se apresentou como condição, e foi abraçado como contingência, trazendo novas e importantes articulações ao tema dos novos dispositivos no trabalho da psicanálise em extensão. Com a exigência de contato remoto, e a partir dessas condições, oferecemos uma oportunidade de usar a palavra de modo enunciativo, em coletivo a se constituir a partir da resposta a essa oferta1 1 Por “coletivo” orientado pelo discurso do analista entendemos a emergência do laço social entre sujeitos que seguem trabalhando, não sustentados somente pela identificação, mas sobretudo pelo efeito que os significantes enunciados produzem no grupo. Assim, o vetor do trabalho não é um “tema” ou uma situação específica, mas a emergência da ausência de respostas e direções ideais, próprias da enunciação da experiência singular. . Falaremos dessa iniciativa a partir do que se apresentou nos encontros que realizamos, discutindo os aspectos metodológicos e do conteúdo do que recebemos como resposta. Tomaremos em discussão, nesta oportunidade, dois desses encontros, sublinhando como o silêncio contornou todo o andamento da atividade, primeiro tomado como estratégia, e, em seguida, surgindo e entrecortando as falas dos participantes, como resposta do coletivo ao nosso convite. Ofertar o uso livre da palavra e da enunciação é uma estratégia corrente na psicanálise, onde quer que o discurso do analista (LACAN, 1969-1970/1992LACAN, J. O avesso da psicanálise (1969-1970). Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 1992. (O seminário, 17)) possa ser pensado como direção do trabalho. Neste, a ausência de significantes de partida (ofertados pelo coordenador) e a insistência de relativização de sentidos prévios se apresentam como imprescindíveis e agenciam esta forma de laço social. É também uma iniciativa sem garantias ou de retorno previsível, que em intervenções grupais se apresenta como um desafio novo e ainda recente em sistematizações teóricas (DUNKER, 2016DUNKER, C. Políticas de identidade e a busca de um novo modelo de crítica. Revista Fórum, 2016. Disponível em: Disponível em: https://revistaforum.com.br/noticias/christian-dunker-politicas-de- identidade-e-a-busca-de-um-novo-modelo-de-critica . Acesso em: 29 ago. 2020.
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).

No primeiro encontro, com 14 participantes, incluindo a equipe, ainda que o silêncio tivesse se mantido como fio condutor, nenhum participante saiu da sala online (opção sempre à mão e muito utilizada em salas virtuais). Já no segundo encontro, tivemos 9 participantes, dos quais 5 já haviam participado dos encontros anteriores e 4 vieram pela primeira vez. Em todos os encontros, adotamos a mesma dinâmica: de início, toda a equipe se apresentou e um dos participantes da equipe de apoio2 2 Agradecemos aos alunos de iniciação científica Guilherme Brenner e Eric Santos pelo trabalho de apoio nas atividades aqui apresentadas, na organização e realização de relatórios. incentivou o uso do microfone e informou que o link da lista de presença estaria no chat3 3 Cabe esclarecer que a atividade participou de uma série de atividades remotas da Universidade Federal Fluminense, oferecendo certificação por participação. . Neste encontro, duas pessoas se retiraram. Em todos os encontros de nossa atividade de extensão, após essa breve apresentação, fizemos a oferta de livre expressão, com o mote amplo e geral da experiência com a pandemia, concordando com Costa e Poli (2006COSTA, A.; POLI, M. C. Alguns fundamentos da entrevista na pesquisa em psicanálise. Pulsional: Revista de Psicanálise, São Paulo, ano 19, n. 188, p. 14-21, 2006.), em relação ao trabalho em torno da associação livre não ser prejudicado com a indicação de tema o mais livre e amplo possível, de modo a convocar sujeitos em seu trabalho singular. Assim, insistentes em não sustentar uma direção mestra na condução do discurso, trabalhamos com o discurso do analista, atentos ao singular que ele demanda ao outro4 4 Sobre o discurso do analista como medida de trabalho, remetemos o leitor ao Seminário XVII, de Jacques Lacan (1992). .

Para além das questões metodológicas, aqui tomaremos o silêncio como medida de análise do trabalho. O que o teria mobilizado? O que poderia indicar? Teria ele relação com o sofrimento contemporâneo? Podemos tomá-lo como sinal ou sintoma? Ele pode ser pensado como resposta do coletivo e, portanto, como ordenador? Ele poderia indicar algo do laço social do universitário com a universidade?5 5 Em Os quatro conceitos fundamentais da Psicanálise, Lacan (1988a) indica quatro formas de circulação do discurso no laço social, sendo o discurso do universitário aquele que é regido pelo saber, comumente identificado na pessoa do professor, em uma primeira aproximação, mas menos encarnado do que no discurso do mestre. O outro é tomado no lugar de objeto a, ou ausência de significantes, e o que se produz dessa relação é o significante. Assim, o sujeito está no lugar da verdade, indicando que a verdade desse discurso é a exclusão do sujeito. (E, nesse caso, os participantes teriam acolhido a demanda como mais uma atividade oferecida pela universidade, demandando destes um lugar, uma posição subjetiva de ouvinte?)

Diretamente referida à proposta, a análise do silêncio também indaga questões metodológicas do dispositivo que construímos nesse momento, em que o distanciamento social exige de nós contínua invenção, para não cedermos ao isolamento. Atentos ao funcionamento do coletivo, estabelecemos parâmetros mínimos que estivessem afinados com a proposta do discurso do analista. Assim, um participante poderia ou não estar no próximo encontro do grupo e todos eram bem-vindos ao mesmo, desde que fossem alunos da Universidade Federal Fluminense. Com um fluxo parecido entre as atividades, a maioria já tinha estado presente anteriormente, e tivemos ainda um participante que esteve em todos os encontros. A coordenação dos encontros foi realizada pelas duas primeiras autoras do artigo, que se articulavam em torno das associações do coletivo, estabelecendo também, entre elas, uma relação livre, suscitada pela escuta dos significantes enunciados.

SOBRE O SILÊNCIO E OS SIGNIFICANTES

De onde provém a inquietante estranheza que emana do silêncio, da solidão, da obscuridade? […] Nada podemos dizer da solidão, do silêncio, da obscuridade senão que são esses verdadeiramente os elementos aos quais se liga a angústia infantil, que jamais desaparece inteiramente na maioria dos homens. (FREUD, 1926 apudNASIO, 2010NASIO, J. D. O silêncio na psicanálise. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 2010., p. 235).

O silêncio surgiu de muitas formas nas atividades que desenvolvemos e se impôs, demandando nossa análise, apresentada aqui em linhas gerais. Surgiu de modo declarado, quando um ou outro participante utilizou o chat para dizer que preferia apenas ouvir ou, ainda, quando o chat foi utilizado para salientar o silêncio do grupo (uma das participantes “quebrou” o silêncio no chat ao enfatizar que havia muito silêncio). Ele foi modulado por convites a tomar a palavra por parte das coordenadoras, suportado por elas como parte da estratégia de dar fluxo à enunciação e contornar a resistência (FREUD, 1916-1917/1980FREUD, S. Conferência XIX: Resistência e repressão (1916-1917). Rio de Janeiro: Imago, 1980. (Edição standard brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud, 14, p. 337-354)), e ainda tematizado durante o andamento da atividade (com a pergunta/citação) de uma das coordenadoras - “O isolamento causa mais isolamento?” -, que também recebeu o silêncio como resposta. Nesse contexto, entendemos que a citação sublinhou o silêncio, já que esta intervenção analítica pinçou do discurso daquele que fala os significantes que se tornaram mestres no dizer. A própria citação nos encaminha, desse modo, à prevalência do silêncio, alusivo aos significantes, que aqui convocamos. Nesse contexto, em que ele surge como motor e expressão da resistência, o movimento subjetivo revela ainda sua face de síntese conclusiva.

Ainda no final da atividade, o silêncio retornou como tema central, quando uma das coordenadoras ressaltou que ele pode ser uma forma de resposta a esse momento que estamos vivendo (a pandemia). Essa intervenção é consentida por uma das participantes, que faz outra citação, salientando que isso era uma coisa interessante, pensar o silêncio como resposta. Perguntamo-nos se o silêncio estaria indicando uma tendência do laço social da contemporaneidade - muito marcado pelo discurso do capitalista em colaboração ao discurso do universitário6 6 Não deixamos de considerar como extremamente relevante nessa análise o enquadramento discursivo em que a atividade de enunciação foi oferecida - a universidade e seus códigos. Ainda que a direção do trabalho tenha insistido em não ceder ao saber como ponto de partida, os efeitos de apagamento do sujeito e de suas produções permanecem atuantes em virtude do dispositivo universitário. A respeito das relações entre o dispositivo e a linguagem, sugerimos Agamben (2005). - que nos demanda sempre na posição de ter algo para dizer ou algo para escutar. Nesse sentido, podemos pensá-lo como resistência (política) a esse discurso, ante o qual silenciar produziria uma resposta mais apropriada do que falar?

São esses os vetores através dos quais vamos tomar a análise do fenômeno do silêncio que marcou essas duas atividades: como ato analítico - expressão do discurso do analista; como resistência à enunciação e análise (conforme discutido por Freud e Lacan); como resposta contemporânea ao empuxo capitalista de tudo dizer ou escutar, aqui tomado como resposta do coletivo com o qual trabalhamos.

Não realizaremos uma análise do discurso das falas dos participantes, conteúdo extraído nas atividades, mas o fluxo de trabalho que é possível obter a partir da oferta da palavra em novos dispositivos de atuação, orientados pela psicanálise em extensão. Nesse aspecto, é muito interessante que, no segundo encontro que realizamos, dois participantes falaram diretamente um com o outro, sem demandar a mediação das coordenadoras. Mesmo com todo o silêncio, alguns participantes falaram sobre a rotina, sobre como é estar com a família e filhos, como é viver enquanto outros morrem e ainda sobre outros temas dos quais trataremos a seguir.

A RELAÇÃO COM O TEMPO E AS TROCAS NA PANDEMIA - O “FAZER PARTE” COMO SIGNIFICANTE MESTRE

Com todas as nossas forças tendemos a afastar a morte, a eliminá-la de nossa vida. Tentamos lançar sobre ela o véu do silêncio. (FREUD, 1926 apudNASIO, 2010NASIO, J. D. O silêncio na psicanálise. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 2010., p. 235).

Um tema muito referido e recorrente em nosso trabalho foi o do surgimento de um “novo normal”, ou da aparência de uma normalidade, com a retomada do comércio e serviços por parte dos governos municipais e estaduais. Com ele, as experiências ligadas às relações públicas alteradas (com a evitação do contato físico e das conversas informais cotidianas), o negacionismo em relação à gravidade da pandemia e a falta de respeito pelas normas de segurança sanitária apareceram no relato dos participantes. Houve também o registro da indignação com o uso inadequado dos recursos financeiros distribuídos pelo governo, por parte das pessoas e o desrespeito ao trabalho e à saúde dos que não podem fazer a quarentena (porque têm que trabalhar) e se sujeitam ao boicote das medidas de segurança (como uso de máscaras e de álcool em gel).

Por outro lado, a empatia aumentada nesses tempos também aparece nas falas dos participantes. O uso dos recursos fornecidos pelo governo levou a refletir sobre o impacto na vida das pessoas e das famílias e o reconhecimento da fragilidade social dos que não tem acesso a esse recurso. Isso se contrasta com o negacionismo da pandemia e seus efeitos, o que não deixa de aparecer nos relatos. A divisão entre as pessoas, a quebra dos laços sociais e das trocas se manifestam nesse contexto. O modo como o controle do Estado influencia na maneira como a população lida com a saúde pública e a importância de falar sobre alteridade e empatia foram muito referidos no coletivo. Uma fala contundente condensa essa temática: “Falta pensar no outro”. Nesse fluxo, a fragilidade psicológica e a indignação são narradas como parceiras e uma das participantes enuncia que “ignorar a pandemia é uma falta de respeito”.

Assim, em oposição lógica a essa enunciação da fragilidade do laço social na pandemia no Brasil, aparece o reconhecimento da força da circulação da palavra e da invenção das trocas nesse contexto da pandemia. Uma das participantes, incentivada a falar depois de sublinhar um longo silêncio, relata que ter participado do encontro anterior produziu alívio e que gostaria de saber como os outros estavam naquele momento.

A referência aos vínculos anteriores ao distanciamento social também surgiu e o como era antes” ganhou lugar de enunciação, surgindo a expressão “fazer parte”. Os efeitos dessa expressão logo se fazem notar, dando margem a outras falas no coletivo. Uma participante falou sobre como ama a universidade, mas não conseguia se sentir parte do seu último curso, tendo conseguido se definir por seu atual curso após um bom encontro com uma das coordenadoras, em relação de sala de aula. Fazer parte de algo é enunciado e toca a outros que retomam o significante em diferentes sentidos e experiências, todas referidas a iniciativas de buscar novos modos de relação e trocas pela internet, em substituição ao contato presencial. Uma notação de que podemos nos sentir perdidos se não fizermos parte de algo, por parte de uma das coordenadoras, e o incentivo a falar sobre a experiência de estar distante da universidade introduzem no encontro a experiência radical com o tempo e com a realidade atual, que suspendeu a realidade compartilhada, através de uma surpresa radical.

A formação de sintomas - tais como a ansiedade e a impossibilidade de conduzir a rotina do mesmo modo de antes da pandemia - apareceu no encontro, costurando o silêncio. Conhecer o novo e frequentar a universidade (presencialmente) também aparecem como fontes de boa expectativa, especialmente para os ingressantes. No entanto, a suspensão das atividades trouxe uma sensação de corte, suspensão do tempo e perplexidade, bastante narrada nos encontros. É nesse contexto que também surge no coletivo a referência ao ensino a distância (EAD), que questiona a qualidade não só do ensino, mas da própria presença e da troca que esse método convoca. Para uma participante, a interação é essencial durante o aprendizado, mas não qualquer interação. Para esta, apesar de não podermos negar que haja alguma interação no EAD, ela não se assemelha ao ensino presencial. Nesses termos, nos perguntamos: menos interação poderia sugerir menos vivência e por consequência menos experiência?

Chama a atenção a circulação dos discursos em torno das impossibilidades decorrentes do distanciamento social e a presença constante e insistente do silêncio. Do mesmo modo, é emblemática a produção subjetiva que não deixa de existir, contando com ele. Analisaremos então o silêncio como estratégia do analista (SOLER, 1995SOLER, C. Interpretação: as respostas do analista. Opção Lacaniana, n. 13, p. 20-38, 1995. Rio de Janeiro), o silêncio como marca da resistência e o silêncio como portador da deflação psíquica (BERARDI, 2020BERARDI, F. Crónica de la psicodeflación # 2. Buenos Aires: Caja Negra Editora, 2020. Disponível em: Disponível em: https://cajanegraeditora.com.ar/cronica-de-la-psicodeflacion/ . Acesso em:19 out. 2020.
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) em tempos de banalização da experiência (BONDIÁ, 2002BONDIÁ, J. L. Notas sobre a experiência e o saber de experiência. Revista Brasileira de Educação [online], n. 19, p. 20-28, jan./fev./mar./abr. 2002.) e empuxo ao capitalismo.

SOBRE SILENCIAR E ANALISAR

O ser do analista está de fato em ação mesmo em seu silêncio, e é à míngua da verdade que o sustenta que o sujeito proferirá sua palavra (LACAN, 1953 apudNASIO, 2010NASIO, J. D. O silêncio na psicanálise. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 2010., p. 240).

Como bem sublinha Carreira, o dispositivo analítico convoca uma exposição “à surpresa, ao enigma e, principalmente, ao silêncio” (CARREIRA, 2013CARREIRA, A. O silêncio na psicanálise. Revista eletrônica de jornalismo científico. Com Ciência, São Paulo, n. 151, 10 set. 2013. Disponível em: Disponível em: https://www.comciencia.br/comciencia/handler.php?section=8&edicao=91&id=1125&print=true . Acesso em:18 out. 2020.
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, p. 2). Esse silêncio calculado na medida do quanto de angústia é preciso enfrentar para mobilizar o desejo (LACAN, 1962-1963/2005LACAN, J. Introdução ao comentário de Jean Hyppolite sobre a “Verneinung” de Freud (1954). In: LACAN, J. Escritos. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 1988b, p. 370-382.), em cada caso, é indispensável como medida de alcance do trabalho subjetivo. Nesse sentido, é íntima a relação do analista com o silêncio, na medida em que ele faz uma economia de sua pessoa e de sua enunciação, promovendo um espaço no qual, desamparado da interação que apaga comumente a enunciação, o sujeito possa se deparar com suas próprias determinações e impasses. Estratégias ligadas ao silêncio, como a alusão, são ferramentas essenciais nesse contexto, além da insistência do analista em não ocupar um lugar de mestria ou direção prévia. Esse trabalho da nomeação cabe ao sujeito, mas é essencial à sua feitura que um analista indique que este trabalho é possível e necessário.

Mas, como salientamos na introdução, é preciso saber o que queremos para conduzir um trabalho ético, politicamente orientado pela psicanálise. A ênfase que Lacan atribui às relações do sujeito com o Outro da linguagem e da cultura nos coloca em posição de não tomar qualquer produção subjetiva (sintomática ou não) em separado do fenômeno social e histórico em que ela se dá. E é nessa medida que partimos da concepção de que aquilo com que lidamos em um coletivo diz respeito às condições do Outro em sua fragilidade, enquanto garantia coletiva mínima de troca social. Notadamente no contexto atual, precisamos circunscrever o impacto predominante na cultura do discurso do capitalista, que suspende os laços sociais e nos situa a todos como produtos para o consumo do próprio capital.

A esse respeito, Berardi (2020BERARDI, F. Crónica de la psicodeflación # 2. Buenos Aires: Caja Negra Editora, 2020. Disponível em: Disponível em: https://cajanegraeditora.com.ar/cronica-de-la-psicodeflacion/ . Acesso em:19 out. 2020.
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) acrescenta uma discussão importante à compreensão do colapso social, político e econômico que se manifestou em diversos países, nos trazendo a curiosa imagem do vírus semiótico que nos atinge a todos a partir da disseminação de notícias e imagens do mundo todo, em que a impotência e a imprevisibilidade dos acontecimentos futuros se soma ao real risco de perdermos a vida:

El efecto del virus radica en la parálisis relacional que propaga. Hace tiempo que la economía mundial ha concluido su parábola expansiva, pero no conseguíamos aceptar la idea del estancamiento como un nuevo régimen de largo plazo. Ahora el virus semiótico nos está ayudando a la transición hacia la inmovilidad. (BERARDI, 2020BERARDI, F. Crónica de la psicodeflación # 2. Buenos Aires: Caja Negra Editora, 2020. Disponível em: Disponível em: https://cajanegraeditora.com.ar/cronica-de-la-psicodeflacion/ . Acesso em:19 out. 2020.
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, p. 38)7 7 “O efeito do vírus reside na paralisação das relações que provoca. Faz tempo que a economia mundial concluiu sua parábola expansiva, mas não conseguíamos aceitar a ideia de estancamento como um novo regime de tempo indeterminado. Agora o vírus semiótico está nos ajudando na transição até à imobilidade” (tradução nossa). .

A essa transição para a imobilidade o autor indica uma “deflação psíquica”, que nos coloca a todos em posição de perda simbólica (que pode ou não ser negada). O autor não salienta tanto o risco à saúde física e o medo da morte que a pandemia acirrou, tão arduamente experimentados no Brasil, com as milhares mortes que estamos enfrentando (e que foram também aludidos em nosso coletivo aqui narrado), mas, de todo modo, nos interessa sublinhar os efeitos colhidos no coletivo em que trabalhamos, sobretudo o silêncio, como articulado a essa queda na atividade psíquica de construção da realidade compartilhada. O enfraquecimento dos laços sociais e a decorrente perda de intimidade e coletividade podem ser pensados como efeitos dessa perda.

Nesse sentido, articulamos aqui o silêncio à deflação psíquica de que nos fala Berardi (2020BERARDI, F. Crónica de la psicodeflación # 2. Buenos Aires: Caja Negra Editora, 2020. Disponível em: Disponível em: https://cajanegraeditora.com.ar/cronica-de-la-psicodeflacion/ . Acesso em:19 out. 2020.
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). Ele se apresenta como resposta esvaziada de narcisismo diante do que nos acomete, silenciando nossas respostas habituais, ante o que se apresenta social e politicamente como novo absoluto. Quem somos quando tudo o que conhecemos está em suspenso, capturado pelos efeitos de um vírus tão potente, que alcançou a todos, alterando significativamente (e definitivamente?) laços sociais e interações políticas, sociais e econômicas? Quem seremos diante do que estamos vivendo num futuro próximo? Se a oferta da psicanálise não se faz sem a experiência do silêncio daquele que a conduz, encontrar o silêncio como resposta pode ser pensado também como resistência.

SILÊNCIO E RESISTÊNCIA EM ATO

O instinto de destruição ou de morte que trabalha em silêncio. (FREUD, 1920 apudNASIO, 2010NASIO, J. D. O silêncio na psicanálise. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 2010., p. 235).

Precisamos distinguir, da resistência do sujeito, essa primeira resistência do discurso, quando este procede ao cerramento em torno do núcleo […] núcleo [que] deve ser designado da ordem do real. (LACAN, 1964/1988aLACAN, J. Os quatro conceitos fundamentais da psicanálise (1964). Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 1988a. (O Seminário, 11), p. 70).

Pontos fundamentais para pensarmos o silêncio como resistência são trazidos por Freud - que toma a resistência como testemunha de material recalcado, a se revelar pelo trabalho da análise - e por Lacan - que a tematiza como marca incontornável da impossibilidade ligada ao dizer. Também nos interessa marcar, nessa discussão, as indicações dos autores para o trabalho com a resistência, de modo a possibilitar o fluxo do trabalho em torno do dizer. A cada passo da oferta de análise, o analista deve se manter avisado da resistência. Ela é, assim, um índice lógico da condução do tratamento. Contudo, se sua identificação é tributária da análise, lutar contra ela, nos diz Freud (1937/1980FREUD, S. Análise terminável e interminável (1937). Rio de Janeiro: Imago, 1980. (Edição standard brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud, 23, p. 247-260)), é a função da mesma, e evidencia o trabalho analítico. Reconhecer seu valor como indicativo da dinâmica das neuroses produziu, como sabemos, a fundação da psicanálise, no abandono do método hipnótico, que ocultava a força e o aparecimento desta. Freud acentuou a relevância da resistência (tão presente na análise quanto a associação livre) articulando-a à repetição e à transferência. Nesse sentido, resistir indicaria a força da relação e do laço social que se instituiu e convocaria uma repetição em seguida à resistência. Lacan acentua que isso também se manifesta na relação mais geral do sujeito com o Outro, através do discurso, e que o impasse que a resistência anuncia não diz respeito apenas a algo que não está sendo dito, mas pode indicar ainda um ponto de estancamento do discurso, aludindo à própria impossibilidade real de dizer tudo, ou mesmo do mínimo dizer: “a resistência só pode ser desconhecida em sua essência, caso não seja compreendida a partir das dimensões do discurso” (LACAN, 1954/1988bLACAN, J. A angústia (1962-1963). Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 2005. (O Seminário, 10), p. 372).

Em um período inicial do seu ensino, Lacan (1953-1954/1979) ressalta um núcleo patógeno da neurose ligado ao fenômeno da resistência, que, em última instância, revela uma estória erótica e se constitui a partir da fantasia. A resistência que se levanta quando a rememoração alcança esse núcleo destaca um sentido radial e um sentido longitudinal do discurso. O sentido longitudinal nos remete ao feixe de significantes, até onde ele pode alcançar, no sentido da cadeia significante. Lembremos que, se o núcleo patógeno, indicado pela resistência que dela emana, também é significante, conta uma estória do sujeito; e a continuidade dessa estória ou fantasia é pensada através desse alcance. O sentido radial, onde ocorre a resistência, comporta um núcleo, em torno do qual os significantes se articulam, e, nesse sentido, a resistência “é a consequência da tentativa de passar dos registros exteriores para o centro” (LACAN, 1953-1954/1979LACAN, J. Os escritos técnicos de Freud (1953-1954). Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 1979. (O Seminário, 1), p. 32). O núcleo recalcado resiste à associação livre, produzindo uma força que se equipara à força proporcionalmente contrária, produzida pela análise. Empenhando-se em demonstrar um conflito interno ao sujeito, que é, de toda forma, a sustentação da noção de resistência, Lacan retoma a primeira definição de resistência elaborada por Freud, em A interpretação dos sonhos (1980FREUD, S. Repressão (1915). Rio de Janeiro: Imago, 1980. (Edição standard brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud, 14, p. 169-190)/1900). “Tudo que destrói a continuação do trabalho é uma resistência” (LACAN, 1953-1954/1979, p. 45). Aqui, interessa a Lacan ressaltar que se trata de um trabalho interno intrínseco à análise, que é, em suma, o trabalho de revelação do inconsciente. A resistência opera limitando esta revelação. Não se trata, pois, no silêncio, de uma intervenção na relação imaginária dos sujeitos entre si ou dos sujeitos em relação ao analista, em coletivos, mas de um obstáculo interno ao desvelamento significante. E é com esse impasse interno que um trabalho analítico esbarra sempre.

As diferenças conceituais entre defesa e resistência, levantadas por Lacan (1953-1954/1979LACAN, J. Os escritos técnicos de Freud (1953-1954). Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 1979. (O Seminário, 1)) para tratar da resistência imaginária, também auxiliam a pensar o silêncio aqui discutido. Para Lacan, a resistência freudiana acentua que seu fundamento é o recalcamento, enquanto que a defesa introduz mais definitivamente as questões intersubjetivas ou é, ainda, sinalizadora de um primeiro movimento subjetivo de isolamento de um conjunto de grupo de ideias (a partir do qual se estrutura a dinâmica entre instâncias psíquicas). De todo modo, a partir da multiplicidade de sentidos que o texto freudiano sugere, “diversas formulações parecem mostrar que a resistência emana daquilo que está para se revelar, isto é, do recalcado” (LACAN, 1953-1954/1979LACAN, J. Os escritos técnicos de Freud (1953-1954). Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 1979. (O Seminário, 1), p. 50).

Embora a resistência não seja prerrogativa da psicanálise, ela se evidencia no trabalho analítico, já que a associação livre coloca o sujeito no enfrentamento da produção dos significantes, revelando seu assujeitamento ao discurso: “É no movimento através do qual o sujeito se revela, que aparece um fenômeno que é resistência” (LACAN, 1953-1954/1979LACAN, J. Os escritos técnicos de Freud (1953-1954). Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 1979. (O Seminário, 1), p. 53). A cada avanço, um retrocesso consequente. Neste sentido, o analista é colocado aí em uma posição de testemunha, e sua presença é tomada então como “material” para a formação da resistência, tornando a transferência como obstáculo: “As pulsões são contínuas em sua natureza, exigindo que o recalcamento seja continuamente mantido por forças auxiliares. […] Essa ação empreendida para proteger a repressão é observável no tratamento analítico como resistência” (FREUD, 1926/1980FREUD, S. Inibições, sintomas e ansiedade (1926). Rio de Janeiro: Imago, 1980. (Edição standard brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud, 20, p. 107-198), p. 181).

Freud acentua que a resistência é um contrainvestimento por parte do eu, que mantém o recalcamento firme em sua posição de não sabido. Nesse sentido, para o autor, a resistência aparece na análise como fruto da evitação, por parte do eu, de suas próprias representações, tornadas estranhas pelo efeito do recalque. Por outro lado, Freud (1926/1980FREUD, S. Inibições, sintomas e ansiedade (1926). Rio de Janeiro: Imago, 1980. (Edição standard brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud, 20, p. 107-198)) sublinha uma resistência inconsciente, em virtude de sua ligação particular com o material recalcado. Ela estará sempre ligada ao processo de desconstrução que a análise propõe e é, nesse sentido, que ela exibe as amarras discursivas, trabalho nomeado como perlaboração das resistências (FREUD, 1914FREUD, S. Recordar, repetir, elaborar (1914). Rio de Janeiro: Imago, 1980. (Edição standard brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud, 12, p. 193-217)/1980).

O trabalho de levantamento do recalcado, pensado por Lacan como deslizamento significante, traz o selo da resistência, por motivos lógicos. Nesse sentido, Freud sublinha que “a força que instituiu a repressão e a mantém é percebida como resistência durante o trabalho da análise” (FREUD, 1923/1980FREUD, S. O ego e o id (1923). Rio de Janeiro: Imago, 1980. (Edição standard brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud, 19, p. 23-90), p. 27). As associações falham, e falham, nos diz Freud, porque o recalcado está defendido pela resistência. Lacan nos diz que elas falham porque o desejo encontra-se alienado aos significantes do Outro, e, mais ainda, as associações falham, porque há um núcleo de indizível que elas contornam, onde nenhuma lembrança ou significante pode aceder.

Se as associações falham e o paciente não pode se aperceber desse processo como próprio, a postulação de uma parte inconsciente do eu está demonstrada. Mas, além dela, podemos articular as relações do sujeito com o Outro a partir da concepção do inconsciente como político, atrelado ao Outro em suas condições (PISETTA, 2016PISETTA, M. A. Discurso e gozo: Psicanálise e sociedade. Ágora, Rio de Janeiro, v. 19, n. 1, p. 21-33, jan./abr. 2016.). Nestes termos, o discurso a partir do qual nossa oferta se constituiu (o discurso do universitário, conforme discutimos no início do artigo) traz uma nuance importante para a discussão levantada.

Falar livremente em uma atividade com algum enquadre acadêmico (ocorrida a partir da universidade) pode sugerir uma postura acadêmica; convocar a angústia ou a falta de enunciação, tipicamente experimentadas como respostas ao lugar do outro no discurso universitário (onde vemos figurar o objeto a); afinal, seria como abraçar aquilo que se aprende a evitar. As contradições entre os discursos do analista e do universitário podem ser pensadas aqui como auto-excludentes, ou como giros discursivos necessários para o enfrentamento das resistências e para a proposição de espaços de não exclusão do sujeito na universidade.

ALGUMAS PALAVRAS PARA CONCLUIR

Encontrar o silêncio como resposta em um trabalho no qual estamos propondo uma fala livre - em um momento de grande sofrimento e angústia, como é o da pandemia do novo coronavírus no Brasil - pode ser pensado de muitas e variadas formas. Como questão lançada para a psicanálise em extensão, sobretudo porque lidamos aqui com as questões dos coletivos, se revela uma fonte importante de problematização dos alcances da intervenção psicanalítica. Trabalhando a partir do enfrentamento das resistências dos pós-freudianos, Lacan (1953-1954/1979LACAN, J. Os escritos técnicos de Freud (1953-1954). Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 1979. (O Seminário, 1)) nomeia inquisitorial aquele modo de abordagem da resistência (Franz Alexander, W. Reich, H. Kaiser, K. Abraham, para citar alguns), destacando que não se trata de buscar as aparentes impossibilidades dos analisandos nas resistências: “O analista se acredita aqui autorizado a fazer o que chamarei uma interpretação de ego para ego, de igual para igual [...] uma interpretação cujo fundamento e mecanismo não podem ser distinguidos em nada do da projeção” (LACAN, 1953-1954/1979LACAN, J. Os escritos técnicos de Freud (1953-1954). Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 1979. (O Seminário, 1), p. 44).

Podemos pensar na análise das resistências como uma resposta possível da psicanálise ao desamparo produzido no encontro com o real na clínica, mas não é a nossa posição. Lacan destaca, neste debate, que a psicanálise pós-freudiana dos anos 40 e 50 enfatizava o domínio do eu do analista sobre a resistência do sujeito (em uma perspectiva imaginária). Tomar o silêncio como resistência e acolhê-lo enquanto selo dos tempos atuais, sublinha, para nós, um reconhecimento da precariedade do dizer e da urgência de promover um espaço para isso. Nesse sentido, o silêncio como resistência manifesta o obstáculo do sujeito ao reconhecimento de sua verdade, e o “dever de interrogação” do discurso do analista (LACAN, 1969-1970/1992LACAN, J. O avesso da psicanálise (1969-1970). Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 1992. (O seminário, 17)) é um correlato lógico a ele. Tomar a resistência, então, no seio da experiência analítica, é destacar a estrutura da análise, pois um traço do analista é tomado aí e serve de suporte a este endereçamento da palavra, produzindo a resistência do discurso.

Ainda para pensar o trabalho possível com as resistências, entendemos que “não existe na análise outra resistência senão a do analista” (LACAN, 1953-1954/1979, p. 78), já que a soma dos preconceitos e das alienações pode aparecer e tornar o lugar do analista opaco, atravessado pela posição de mestre, podendo este ser tentado a ter a última palavra na relação interpessoal que ele acaba por fomentar. Lacan exalta o exercício dialético contínuo a que está relacionado o discurso do analista, como condição da formação dos analistas. É por esse esforço que abordamos aqui o silêncio como resposta em um coletivo de trabalho com a palavra: “A análise encontra sua difusão em função de questionar a ciência como tal - ciência na medida em que faz de um objeto um sujeito, enquanto é o sujeito que é, em si, dividido” (LACAN, 1975-1976/2007LACAN, J. O Sinthoma (1975-1976). Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 2007. (O seminário, 23), p. 36).

REFERÊNCIAS

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  • 1
    Por “coletivo” orientado pelo discurso do analista entendemos a emergência do laço social entre sujeitos que seguem trabalhando, não sustentados somente pela identificação, mas sobretudo pelo efeito que os significantes enunciados produzem no grupo. Assim, o vetor do trabalho não é um “tema” ou uma situação específica, mas a emergência da ausência de respostas e direções ideais, próprias da enunciação da experiência singular.
  • 2
    Agradecemos aos alunos de iniciação científica Guilherme Brenner e Eric Santos pelo trabalho de apoio nas atividades aqui apresentadas, na organização e realização de relatórios.
  • 3
    Cabe esclarecer que a atividade participou de uma série de atividades remotas da Universidade Federal Fluminense, oferecendo certificação por participação.
  • 4
    Sobre o discurso do analista como medida de trabalho, remetemos o leitor ao Seminário XVII, de Jacques Lacan (1992).
  • 5
    Em Os quatro conceitos fundamentais da Psicanálise, Lacan (1988a) indica quatro formas de circulação do discurso no laço social, sendo o discurso do universitário aquele que é regido pelo saber, comumente identificado na pessoa do professor, em uma primeira aproximação, mas menos encarnado do que no discurso do mestre. O outro é tomado no lugar de objeto a, ou ausência de significantes, e o que se produz dessa relação é o significante. Assim, o sujeito está no lugar da verdade, indicando que a verdade desse discurso é a exclusão do sujeito.
  • 6
    Não deixamos de considerar como extremamente relevante nessa análise o enquadramento discursivo em que a atividade de enunciação foi oferecida - a universidade e seus códigos. Ainda que a direção do trabalho tenha insistido em não ceder ao saber como ponto de partida, os efeitos de apagamento do sujeito e de suas produções permanecem atuantes em virtude do dispositivo universitário. A respeito das relações entre o dispositivo e a linguagem, sugerimos Agamben (2005).
  • 7
    “O efeito do vírus reside na paralisação das relações que provoca. Faz tempo que a economia mundial concluiu sua parábola expansiva, mas não conseguíamos aceitar a ideia de estancamento como um novo regime de tempo indeterminado. Agora o vírus semiótico está nos ajudando na transição até à imobilidade” (tradução nossa).

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    07 Nov 2022
  • Data do Fascículo
    May-Aug 2022

Histórico

  • Recebido
    16 Nov 2021
  • Aceito
    18 Out 2022
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