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Editorial II: sobre a revisão sistemática e a meta-análise na área da fluência

EDITORIAL II

Sobre a revisão sistemática e a meta-análise na área da fluência

A revisão da literatura é de grande importância ao se iniciar uma pesquisa, pois é por meio dela que contextualizamos nosso trabalho dentro da área de pesquisa em questão. No entanto, para se fazer um bom levantamento de estudos já existentes é necessário ter, em primeiro lugar, acesso a fontes de informação confiáveis (base de dados com indexação, livros de autores conhecidos, teses e dissertações). Digo em primeiro lugar porque não adianta ter acesso a base de dados sem saber como chegar aos conteúdos que darão suporte à sua pesquisa. Para isso é necessário escolher as palavras chaves corretas e essa escolha, por sua vez, é decorrente de uma questão de pesquisa bem elaborada. Mesmo assim, corremos o risco de errar ao incluir ou excluir estudos e estabelecer comparações entre eles e a pesquisa que estamos pretendendo conduzir.

Atualmente observa-se uma tendência a se fazer o que chamamos de revisão sistemática e meta-análise. Segundo Dollaghan 1, nas revisões sistemáticas e meta-análises busca-se sintetizar evidências externas entre múltiplos estudos que foram identificados e analisados com base em critérios adequados e procedimentos explícitos e transparentes. Dessa forma, evita-se a tendenciosidade na visão panorâmica trazida por outros estudos. Já na revisão de literatura tradicional, o autor decide, a partir de critérios subjetivos, quais trabalhos incluir. A principal diferença entre essas formas de pesquisa é que os resultados de uma meta-análise são apresentados de forma quantitativa, com análises estatísticas e intervalos de confiança.

Dessa forma, estudos que não foram publicados ou que não apresentam tratamento estatístico tendem a ser excluídos de uma meta-análise por correrem o risco de apresentar pobreza metodológica. Outro aspecto a ser observado é que a pesquisa não deve se limitar apenas a estudos escritos na língua materna do pesquisador, o que limitaria enormemente os resultados. Enfim, a revisão sistemática e a meta-análise mostram que os resultados de um estudo único não são conclusivos e que por isso o pesquisador deve fazer um levantamento cuidadoso antes de iniciar sua pesquisa.

No que se refere à área da fluência, diversos estudos internacionais, conduzidos em sua maior parte na Europa e Estados Unidos, já foram realizados utilizando a meta-análise, envolvendo, na grande maioria, aspectos referentes às diferentes abordagens terapêuticas no tratamento da gagueira do desenvolvimento. Nesse caso, a meta-análise se coloca como um instrumento para levantar evidências sobre a eficácia de métodos de tratamento de gagueira. Isto nos remete ao termo "tratamento baseado em evidências" que se refere ao uso consciente de evidências advindas de pesquisas com o fim de embasar a terapia a ser implementada com um cliente. Ou seja, significa que o clínico ao iniciar uma terapia não deve se embasar apenas em "opiniões" sobre métodos e técnicas terapêuticas ou até mesmo unicamente na sua percepção sobre determinada técnica e método, e sim em evidências já descritas em pesquisas publicadas.

No Brasil, a área de pesquisa em fluência ressente-se pelo reduzido número de pesquisadores principalmente se comparada à área de audiologia e distúrbios da audição. Por este motivo, não contamos ainda com estudos que utilizem a meta-análise como recurso para pesquisar evidências que venham nortear procedimentos terapêuticos. Digo isso, pois devido às diferenças culturais existentes entre o Brasil e os países europeus e os Estados Unidos, muitas vezes corremos o risco de "comprar" evidências "importadas" que não se adequam a nossa cultura, daí a importância de realizarmos nossos estudos. Fica, então, aqui a minha sugestão de incluirmos, o mais rápido possível, a meta-análise em nossa prática de pesquisa.

Monica Medeiros de Britto Pereira

Fonoaudióloga pela Universidade Estácio de Sá

Doutora em Estudos Linguísticos pela Universidade Federal de Minas Gerais

Coordenadora do Mestrado Profissional em Fonoaudiologia da Universidade Veiga de Almeida

Vice-Coordenadora do Comitê de Fluência da Sociedade Brasileira de Fonoaudiologia

  • 1. Dollaghan CA. The handbook for evidence-based practice in communication disorders. Baltimore: Brookes Publishing Co.; 2007.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    05 Abr 2010
  • Data do Fascículo
    Fev 2010
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