EDITORIAL
Trabalho científico - uma reflexão
O trabalho científico tem um longo caminho que inclui considerável número de pessoas envolvidas na elaboração e divulgação de seus achados. De maneira geral, pouco se pondera sobre isso, parecendo que o produto final seria obra de apenas algumas pessoas, no caso os autores.
A publicação dos achados científicos, respeitando-se as devidas exigências que esse tipo de divulgação exige, traz sempre grandes benefícios tanto para a comunidade científica quanto para aqueles que se favorecem dos resultados das pesquisas para que novos estudos, diagnósticos e tratamentos sejam mais pontuais e eficientes.
Por trás da publicação de um artigo científico existem mais etapas do que se costuma pensar. É interessante tentar retomar esse processo e as pessoas nele envolvidos desde seu início até a publicação do artigo, numa rápida reflexão e, mais além, o que se espera que aconteça depois disso.
Considerando que a maioria desses trabalhos associa-se a alguma instituição de ensino superior, poderíamos apontar que esse processo se inicia com o interesse de um ou mais profissionais em dedicar-se ao estudo de determinado tópico ou investir em educação continuada. Assim, além desse(s) autor(es), consideraremos os profissionais que analisam a admissão do profissional como candidato, por exemplo, em programas de pós-graduação; os professores das disciplinas que serão cursadas nesse processo; o orientador que direciona o trabalho desde a elaboração do projeto para que o mesmo seja exequível; os diretores ou responsáveis pelas instituições onde serão realizadas as coletas de dados; os membros da comissão de ética em pesquisa que analisam o projeto; os órgãos de fomento à pesquisa e seus pareceristas; os sujeitos que compõem o grupo de pesquisa e aqueles do grupo controle (tão difíceis de conseguir); o estatístico ou consultores em estatística; os bibliotecários auxiliando as buscas bibliográficas, corrigindo descritores e catalogando o estudo; e os membros da banca de examinadores do trabalho em suas diferentes fases. Novamente o orientador direciona o fechamento do artigo científico indicando a revista de interesse.
Uma vez finalizado esse processo, uma segunda fase, às vezes igualmente complexa inicia-se: o envio, andamento, ajustes e aceitação pela revista científica. Nessa etapa mais um grande número de pessoas está envolvido, sendo que os nomes e trabalho dessas passam quase que despercebidos devido ao próprio processo imposto pelo sistema de avaliação. O artigo é recebido por revisores, que verificam se o tema e formato do trabalho são compatíveis com as normas da revista, e realizam a primeira revisão, dita editorial. Uma vez dentro das normas os artigos seguem para os pareceristas, profissionais conceituados e com experiência nas diversas áreas de abrangência da revista, que dedicam parte do seu tempo para analisar o trabalho sob a ótica de seu conteúdo científico, emitindo os pareceres que levam aos ajustes e melhorias dos trabalhos em condição de publicação. Os pareceres retornam aos revisores que os encaminham aos autores. Uma vez contempladas as sugestões e/ou solicitações dos pareceristas os artigos seguem para os revisores e editores que organizam a distribuição dos trabalhos em determinada ordem de publicação evitando a endogenia, com o devido respeito a todos os pesquisadores, de todas as instituições que encaminham seus trabalhos e considerando a distribuição dos artigos por temas e tipos de trabalhos. Os artigos seguem então para os tradutores que realizam a revisão, e quando necessário a correção do inglês; diagramadores que formatam o artigo e novamente os revisores que verificam capa, sumário, editoriais, ordem e elaboração final da revista, encaminham para as bases de dados nas quais a revista se inclui como Scielo, direcionam para inserção on-line e para impressão.
Vale ressaltar ainda o trabalho de "bastidores" da revista. Esse é um trabalho contínuo e exaustivo que inclui: reuniões internas; presença em cursos e eventos destinados aos editores com os objetivos de aprimorar a qualidade das revistas como veículos de divulgação da produção científica, discutir os critérios de classificação dos periódicos e como alcançar maior classificação; busca por indexação em bases de dados nacionais e internacionais com preparo de material para avaliação e ajustes na revista tentando contemplar as difíceis etapas desse processo; busca por fomento para manutenção da revista que tem alto custo financeiro, usualmente subsidiado por recursos privados ou vinculados a alguma instituição de ensino; busca por consultores que norteiem tais processos; sem mencionar o contato muitas vezes direto com autores e pareceristas nem sempre satisfeitos, respectivamente, com o resultado das análises e material dos artigos.
Esse processo de manutenção da qualidade de uma revista é contínuo, exigindo dedicação de seus editores uma vez que a classificação de periódicos (Qualis) é realizada pelas áreas de avaliação e passa por processo anual de atualização. Esses veículos são enquadrados em estratos indicativos da qualidade, sendo identificados como A1, o mais elevado, seguindo-se A2, B1, B2, B3, B4, B5 e C. Essa classificação dos periódicos científicos é utilizada pelos programas de pós-graduação para a divulgação da sua produção e consequente pontuação.
Além de todas essas pessoas que participam no amplo processo que possibilita a execução e divulgação de trabalhos científicos, talvez os participantes mais importantes sejam os leitores, que consultam as revistas na busca por informações atualizadas e de devido rigor científico. É o interesse dos leitores que nutre todo o movimento envolvido numa Revista Científica, e deles se espera a aplicação dos conceitos, dos procedimentos e dos avanços alcançados com o difícil caminho da pesquisa científica; tanto em suas práticas clínicas como no despertar de novas dúvidas e questionamentos que originarão idéias para outros trabalhos científicos.
E assim caminha o conhecimento.
Foi para você leitor, e graças aos autores e instituições que enviaram seus trabalhos; que a Revista CEFAC - Atualização Científica em Fonoaudiologia e Educação - divulgou em 2010, o maior número de trabalhos científicos, num só ano, desde sua criação. Esse ano foram publicados seis fascículos, com periodicidade bimensal, com 20 artigos científicos em cada revista, além dos editoriais totalizando, portanto 120 trabalhos publicados apenas em 2010. Foi também publicada uma mídia eletrônica referente aos anais do 39th IAOM Convention e 1º Congresso de Motricidade Orofacial realizado na América Latina, com quase duzentos resumos de trabalhos apresentados no Congresso, além do histórico da Motricidade Orofacial no Brasil. Não posso deixar de comentar a repercussão internacional desse evento quanto ao nível de excelência da Fonoaudiologia Brasileira nesse campo. Fato esse que muito nos orgulha por termos feito parte dessa luta e trajetória que hoje projeta o Brasil internacionalmente.
A Revista CEFAC continua recebendo artigos de todos os estados do Brasil e de vários países. Somos consultados por vários profissionais da América Latina, Estados Unidos e Europa. Visando a necessária inserção no âmbito mundial, buscaremos publicar artigos em português, espanhol e inglês. Assim passamos a solicitar aos autores que tenham interesse e disponibilidade, que enviem seus artigos em dois idiomas - português/espanhol; português/inglês ou espanhol/inglês. Dessa forma ampliaremos ainda mais nossa abrangência, circulação e reconhecimento mundial.
Um feliz 2011, com muito mais... Mais saúde, mais disposição, mais sucesso e mais lutas, pois são elas que nos fortalecem, tanto quando perdemos quanto quando as vencemos. Os desafios constituem-se na melhor parte do nosso "fazer".
Nossos agradecimentos a todos que fizeram, fazem ou farão parte desse amplo e apaixonante processo de elaboração e divulgação do trabalho científico.
Esther Mandelbaum Gonçalves Bianchini
Editora Científica
Revista CEFAC - Atualização Científica em Saúde e Educação
Datas de Publicação
-
Publicação nesta coleção
27 Jan 2011 -
Data do Fascículo
Dez 2010
