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Instrumentos de avaliação de linguagem infantil: aplicabilidade em deficientes

Resumos

Este estudo tem como objetivo analisar testes e provas de avaliação de linguagem infantil de modo a discutir a aplicabilidade na população com deficiência física, auditiva, visual, mental e múltipla. No segundo semestre de 2011, pesquisou-se acerca das deficiências e das avaliações diretas de linguagem infantil oral, gestual e escrita, nacionais ou traduzidas. Consultou-se artigos e teses nas bases de dados online, além de livros e avaliações publicadas. Selecionou-se 28 avaliações, que foram agrupadas por objetivos de aplicação, descritas segundo estímulo e realização esperados, e analisadas pelos seguintes critérios: modalidades de avaliação, habilidades requeridas e conversão de códigos. Encontrou-se 23 modalidades de avaliação, cuja análise sugere que indivíduos que têm possibilidade de uso da visão, membros superiores e mente, e que conseguem compreender e utilizar imagem e português oral ou escrito como códigos, provavelmente terão maior gama de avaliações que os atenda. As dimensões semântica e pragmática pareceram ser as mais acessíveis, corroborando com a aplicação encontrada na literatura. Sobre a possibilidade de avaliação completa, verificou-se que apenas a dupla de habilidades "visão/membros superiores" permitiria isto. Um levantamento das informações sobre o perfil comunicativo do examinando comparado com o perfil comunicativo requisitado na avaliação auxilia na decisão sobre a compatibilidade destes e consequente aplicabilidade. No geral, consideradas as particularidades dos casos e das avaliações, instrumentos pré-selecionados poderão ser aplicáveis a indivíduos deficientes. Contudo, poderá ocorrer que, para alguns pacientes, não será possível realizar uma avaliação completa utilizando apenas instrumentos do tipo direto.

Avaliação; Linguagem Infantil; Testes de Linguagem; Barreiras de Comunicação; Transtornos da Comunicação


The purpose of this study is to analyze tests and assessments tests of child language in order to discuss the applicability of the population with physical, sensory, mental and multiple disabilities. In the second half of 2011, was researched about the deficiencies and direct evaluations of children's oral, gestures and writing language, national or translated. Articles and theses were consulted in online databases, also books and evaluations published. Were selected 28 measurements, which were grouped by goals application, described as stimulus and expected achievement, and analyzed by following criteria: modality of evaluation, required skills and code conversion. There were found 23 evaluation forms, which analysis suggests that individual who are able to use vision, upper limb and mind, and who can understand and use image and oral or written Portuguese codes, will probably have greater range of evaluation that meets. The dimensions semantic and pragmatic appeared to be the most accessible, supporting the application found in the literature. On the possibility of complete evaluation, was observed that only a couple of skills "vision/upper limb" would allow this. A survey of information about the examinee's communication profile compared to the profile required to assess communicative aids in the decision on the compatibility of these and subsequent applicability. In general, considering the particularities of cases and assessment instruments pre-selected can so be applicable to individuals with disabilities. However, it may happen that, for some patients, cannot perform a complete evaluation instruments using only the direct type.

Evaluation; Child Language; Language Tests; Language Development; Communication Barriers; Communication Disorders


ARTIGOS DE REVISÃO

Instrumentos de avaliação de linguagem infantil: aplicabilidade em deficientes

Cristhiane Ferreira GuimarãesI; Adriana Leico OdaII

IInstituto Nacional de Educação de Surdos, Rio de Janeiro, Brasil

IICentro de Especialização em Fonoaudiologia Clínica, Rio de Janeiro, Brasil

Endereço para correspondência Endereço para correspondência: Cristhiane Ferreira Guimarães Rua Dr. Paulo Alves, 72 - Apto 905 - Ingá Niterói - RJ. CEP: 24210-445 E-mail: crish@ig.com.br

RESUMO

Este estudo tem como objetivo analisar testes e provas de avaliação de linguagem infantil de modo a discutir a aplicabilidade na população com deficiência física, auditiva, visual, mental e múltipla. No segundo semestre de 2011, pesquisou-se acerca das deficiências e das avaliações diretas de linguagem infantil oral, gestual e escrita, nacionais ou traduzidas. Consultou-se artigos e teses nas bases de dados online, além de livros e avaliações publicadas. Selecionou-se 28 avaliações, que foram agrupadas por objetivos de aplicação, descritas segundo estímulo e realização esperados, e analisadas pelos seguintes critérios: modalidades de avaliação, habilidades requeridas e conversão de códigos. Encontrou-se 23 modalidades de avaliação, cuja análise sugere que indivíduos que têm possibilidade de uso da visão, membros superiores e mente, e que conseguem compreender e utilizar imagem e português oral ou escrito como códigos, provavelmente terão maior gama de avaliações que os atenda. As dimensões semântica e pragmática pareceram ser as mais acessíveis, corroborando com a aplicação encontrada na literatura. Sobre a possibilidade de avaliação completa, verificou-se que apenas a dupla de habilidades "visão/membros superiores" permitiria isto. Um levantamento das informações sobre o perfil comunicativo do examinando comparado com o perfil comunicativo requisitado na avaliação auxilia na decisão sobre a compatibilidade destes e consequente aplicabilidade. No geral, consideradas as particularidades dos casos e das avaliações, instrumentos pré-selecionados poderão ser aplicáveis a indivíduos deficientes. Contudo, poderá ocorrer que, para alguns pacientes, não será possível realizar uma avaliação completa utilizando apenas instrumentos do tipo direto.

Descritores: Avaliação; Linguagem Infantil; Testes de Linguagem; Barreiras de Comunicação; Transtornos da Comunicação

INTRODUÇÃO

O melhor indicador evolutivo infantil, pensando-se não somente em funções motoras, mas considerando-se também as chamadas funções nervosas superiores, pode ser considerado o aparecimento da linguagem, pois longe de refletir simplesmente um processo maturacional neurológico, a conquista da linguagem manifesta capacidades comunicativas, sociais, afetivas e intelectuais significantemente evoluídas e complexas1. Ela desempenha um papel essencial na organização perceptual, na recepção e estruturação das informações, na aprendizagem e nas interações sociais do ser humano 2. A identificação precoce das alterações do processo de desenvolvimento da expressão e recepção verbal evita posteriores consequências educacionais e sociais desfavoráveis3.

As habilidades da linguagem e fala dependem da integridade neuromuscular, do sistema sensorial, das influências do meio e das condições emocionais da criança.4 Sendo assim, apesar de não ser possível generalizar qual o grau de incapacidade e desvantagem estará presente 5, crianças com deficiência física6, auditiva2, visual7, mental8 ou múltipla9 podem apresentar habilidades de comunicação alteradas.

Segundo Fieber apud Van Dijk10, todas as crianças deficientes se comunicam, mas nem sempre com comportamentos simbólicos, em outras palavras, sempre ocorre pelo menos comunicação pré-verbal. Van Dijk10 classificou as manifestações pré-verbais receptivas em quatro categorias: 1) sinais táteis/cinéticos; 2) sinais vocais/visuais; 3) sinais ou modelos coativos e 4) gestos naturais. Enquanto a comunicação pré-verbal expressiva foi dividida em duas categorias gerais: 1) sinais vocais e 2) sinais físicos.

Quanto à comunicação verbal, apesar da fala ser o meio mais conhecido e amplamente utilizado, no caso de deficientes, muitos, devido à incapacidade ou limitação própria, não conseguem utilizá-la para comunicar-se com os outros 11. Mesmo assim, independentemente de suas condições físicas, sensoriais, cognitivas ou emocionais têm necessidade e possibilidade de conviver, interagir, trocar, aprender, brincar e serem felizes, lançando mão então, algumas vezes, de caminhos ou formas diferentes 12, incluindo aqui as modalidades comunicativas.

Recursos da Comunicação Suplementar e/ou Alternativa (CSA) têm sido utilizados com comprovado impacto positivo na linguagem e na qualidade de vida pessoal e familiar de indivíduos com deficiência grave 13. Na literatura, foram encontradas, entre outras, as seguintes possibilidades de comunicação verbal utilizadas por deficientes, enumeradas a seguir conforme via sensorial 14 e motora 15, alternativa ou não, disponível: 1)Tátil: leitura orofacial tátil (tadoma), sinalização tateável (libras tátil), escrita alfabética tátil (braille); 2) Visual: leitura orofacial visual, sinalização visível (libras), escrita alfabética visível (escrita convencional), escrita visível de sinais (sign writing); 3) Auditiva: fala audível; 4) Motora: sistemas de comunicação por seleção direta ou varredura, de baixa, média ou alta tecnologia, com ou sem suporte.

Com todas estas peculiaridades no desenvolvimento da linguagem, crianças deficientes costumam fazer parte da demanda do fonoaudiólogo.

Sendo assim, Limongi16 ressalta que independentemente do modelo teórico que forneça o substrato para a prática clínica, qualquer atuação terapêutica será tanto mais adequada e eficaz quanto melhor forem realizadas a identificação das alterações e sua avaliação. E explicita que a avaliação toma caráter de importância vital para o sucesso da intervenção terapêutica, pois ela será, no decorrer do processo terapêutico, a referência que permitirá observar a evolução do indivíduo, em grau e velocidade; a responsável pela definição, manutenção ou mudanças para melhor adequação das estratégias escolhidas; a determinante no estabelecimento de prioridades e de objetivos a serem atingidos. Cabe ao fonoaudiólogo esta tão importante tarefa de levantar dados mais específicos possíveis referentes à linguagem receptiva e expressiva dos indivíduos deficientes.

Contudo, Paura e Deliberato17 chamam a atenção para o fato de que a aplicação dos testes padronizados em pessoas com necessidades de comunicação alternativa é limitada, pois a maior parte deles baseia-se no pressuposto de que a pessoa pode desenhar, ver, ouvir, compreender instruções, falar e manipular vários tipos de materiais, responder a perguntas ou seguir instruções. Por outro lado, Capovilla14 defende que tais testes, que avaliam diretamente a compreensão e produção da fala, são superiores aos usuais inventários e escalas a serem preenchidos por cuidadores da criança, tão sujeitos a viés.

O objetivo do presente trabalho é analisar testes e provas de avaliação de linguagem infantil de modo a discutir a aplicabilidade na população com deficiência física, auditiva, visual, mental e múltipla.

MÉTODO

No segundo semestre de 2011, realizou-se revisão bibliográfica em artigos, teses e livros sobre avaliação de linguagem infantil por meio de: a) consulta às bases de dados científicas online, de onde se extraíram informações das citações e descrições; b) manuseio de algumas das avaliações publicadas.

Selecionou-se avaliações diretas (testes e provas) de metalinguagem e linguagem receptiva e/ou expressiva infantil, normatizadas ou traduzidas para aplicação na população brasileira.

Excluiu-se os instrumentos avaliativos indiretos, tais como inventários e escalas; os sem finalidade de avaliação de metalinguagem ou linguagem infantil; os que não foram normatizados nem traduzidos para aplicação na população brasileira.

Organizou-se as avaliações com base nas dimensões de linguagem descritas por Acosta et al.18 - fonologia, morfologia e sintaxe, semântica e pragmática -, separadas das que envolvem linguagem escrita - que exigem instrução formal - e apresentaram-nas resumidamente quanto aos estímulos fornecidos e a realização esperada (Figuras 1 e 2).



Antes de discutir a aplicabilidade em deficientes, necessitou-se estabelecer critérios de análise das avaliações que clarificassem os aspectos possíveis de serem correlacionados com as heterogêneas manifestações comunicativas individuais desta população. O estabelecimento destes critérios fez-se conforme descrição a seguir.

Com base na revisão das particularidades das avaliações diretas quanto ao estímulo e a realização, a fim de delimitar a variedade de modalidades de avaliação, extraiu-se a essência dos instrumentos por meio de observação das combinações recepção-expressão neles envolvidos (Figura 3). Assim, por exemplo, se o estímulo contém figura, não se considerou a quantidade ou o tipo dela (exceto quando era libras ilustrada), classificou-se a recepção como "figura"; se a realização envolve pegar ou marcar a escrita correspondente, a expressão resumiu-se à classificação "selecionar escrita". Importante ressaltar que houve separação de português oral e libras quanto à forma de apresentação, ao vivo ou não, devido à diferença que faz para os usuários de tadoma ou libras tátil, que necessitam tocar no interlocutor.


A partir das modalidades, analisou-se as correspondentes combinações de habilidades sensorial/físico-motora requeridas (Figura 4). Por exemplo: a modalidade "figura-selecionar escrita" envolve "visão" para recepção da figura e da escrita convencional, além de "membros superiores" para se expressar selecionando escrita, formando a dupla "visão/membros superiores". As modalidades que contêm interlocutor ao vivo permitem o uso do tato como opção de via receptiva sensorial sem que haja necessidade de adaptações para os usuários de tadoma ou libras tátil, por esta razão, por vezes, as classificações sensoriais apareceram como "visão e audição ou tato", "audição ou tato" e "visão ou tato".


As modalidades de avaliação também foram analisadas quanto à conversão de códigos solicitada (código de recepção - código de expressão) (Figura 4). Então, por exemplo, a modalidade "figura - selecionar escrita", solicita a conversão "imagem- português escrito".

Estabelecidos os três critérios de análise do perfil dos instrumentos avaliativos (modalidades de instrução-resposta, habilidades requeridas e conversão de códigos que solicitam) com seus devidos sub-grupos, retomaram-se e organizaram-se dentro destes critérios e dos objetivos (Figura 5) os testes e provas disponíveis, tornando-os prontos para a discussão proposta.


REVISÃO DE LITERATURA

Para este estudo selecionou-se 28 instrumentos avaliativos diretos. Dentre eles, pode-se observar que 08 (oito) foram normatizados para um público específico de deficientes: os surdos. Estes instrumentos são: Prova de Leitura Orofacial modelo Dória (Plof - D) 19, Prova de Leitura Orofacial modelo Fonético-Articulatório (TVPlof-FA)19, Teste de Vocabulário Receptivo em Sinais de Libras (TVRSL) 20, Teste de Nomeação de Figuras por escolha (TNF-escolha)20, Teste de Nomeação de Figuras por Escrita (TNF-escrita)20, Teste de Nomeação de Sinais por Escolha (TNS - escolha)20, Teste de Nomeação de Sinais por Escrita Livre (TNS- escrita)20 e Instrumento de Avaliação de Língua de Sinais (IALS)21. Dentre os 20 (vinte) instrumentos restantes (Teste de Vocabulário Expressivo ou TVExp19, Teste de Vocabulário Auditivo ou TVAud19, Teste de Compreensão Auditiva de Sentenças ou TCAS19, Teste de Compreensão de Leitura de Sentenças ou TCLS20, Teste de Discriminação Fonológica ou TDF22, Teste de Repetição de Palavras e Pseudopalavras ou TRPP22, Prova de Consciência Fonológica por Produção Oral ou PCFO22, Prova de Consciência Sintática ou PCS22, Teste de Vocabulário por Imagens Peabody ou TVIP 22, ABFW-Fonologia23, Prova de Consciência Fonológica por Escolha de Figuras ou PCFF24, Teste de Vocabulário por Figuras USP ou TVFusp25, Teste Token26, ABFW-Vocabulário27, ABFW-Pragmática28, Prova de Escrita sob Ditado de Palavras e Pseudopalavras ou Pesd-PP 28, Prova de Avaliação dos Processos de Leitura ou PROLEC29, Teste de Competência de Leitura de Palavras e Pseudopalavras ou TCLPP30, Teste de Competência de Leitura Silenciosa ou TeCoLeSi 31 e Prova de Leitura em Voz Alta ou PLVA 32), ou seja, que não têm público-alvo deficiente especificado, nos artigos científicos, apenas os testes ABFW-Vocabulário 27 e ABFW-Pragmática 28 foram encontrados sendo aplicados ao público em questão, sendo que o primeiro em surdos 33 e indivíduos com síndrome de Down 12, e o segundo em surdos 34, indivíduos com síndrome de Down 35, autistas 36,37 e indivíduo com transtorno invasivo do desenvolvimento sem outra especificação com deficiência mental 37.

Considerando as necessidades de adaptações para melhorar a acessibilidade às avaliações, além das versões tradicionais, alguns testes (TCLPP, TCLS, TNF, TNS e TVRSL, por exemplo) têm recebido versões computadorizadas, que incorporam como estímulo recursos de multimídia, tais como voz digitalizada e animação gráfica. Quanto à forma de realização, visando permitir avaliar pessoas com os mais severos distúrbios motores, empregam o paradigma de múltiplas alternativas, que possibilitam ao examinando fazer escolhas de maneira direta via tela sensível ao toque ou mouse, ou indireta via varredura serial de alternativas e seleção por dispositivos sensíveis a gemidos, ao sopro, à movimentação de uma parte qualquer do corpo ou à mudança na direçäo do olhar. Os parâmetros temporais de leitura da tela de toque e de varredura das alternativas podem ser ajustados especificamente ao grau de habilidade motora residual do examinando 38.

Analisando as 28 avaliações diretas pesquisadas, seguindo os três critérios anteriormente expostos para traçar o perfil delas, encontraram-se:

- 23 modalidades diferentes. Sendo que, por vezes, foi necessário desmembrar as provas por conterem mais de uma modalidade, gerando assim 38 instrumentos ao todo (Figura 3);

- 7 combinações de habilidades requeridas possíveis. Importante ressaltar que um mínimo de habilidade psíquica é fundamental, pois avaliações diretas dependem de participação ativa, ou seja, a habilidade psíquica é requerida em todas as modalidades (Figura 4);

- 11 tipos de duplas de conversão de códigos, sem considerar a direção de conversão (Figura 4).

- Em busca de uma visão geral sobre a aplicabilidade das avaliações diretas em deficientes, o número total de modalidades (n=23) foi tomado como base, ao contrário da quantidade total de avaliações, evitando considerar as que são muito semelhantes.

Quanto às habilidades requeridas, a dupla que mais apareceu dentre as possibilidades de modalidades de avaliação encontradas foi "visão/membros superiores" (11; 49%). E, conforme explicado anteriormente, 100% das modalidades precisam de um mínimo de habilidade psíquica. (Figura 4)

Quanto à conversão de códigos, as duplas mais frequentes foram "imagem/português oral" e "imagem/português escrito" (4; 17% cada). Analisados individualmente, os códigos mais solicitados foram: para recepção, o "português oral" (6; 26%) e para expressão, "imagem" e "português escrito" apareceram em mesma quantidade (8; 35% cada). (Figura 4)

Desta forma, a análise sugere que indivíduos que têm a possibilidade de uso da visão, dos membros superiores e da mente, e que conseguem compreender e utilizar imagem e português oral ou escrito como códigos, provavelmente terão maior gama de avaliações diretas que os atenda.

Com a organização quanto às modalidades e aos objetivos, pode-se verificar que avaliações de fonologia apareceram em 4 modalidades diferentes, morfologia e sintaxe em 3, semântica em 9, pragmática em 2, leitura em 7 e escrita em 4 (Figura 3). Sendo assim, a avaliação da dimensão semântica pareceu ser a mais acessível por apresentar maior variedade de opções de aferição, mas é importante observar que, como uma das avaliações da dimensão pragmática encontra-se na modalidade "interação livre-interação livre", esta também deve ser considerada como bastante acessível. O que corrobora com a aplicação encontrada na literatura científica.

Sobre a possibilidade de avaliação completa (dimensões de linguagem + linguagem escrita) lançando mão do mesmo tipo de modalidade ou dupla de habilidade ou conversão de códigos, foi possível verificar que apenas a dupla de habilidades "visão/membros superiores" permitiria esta completude. A modalidade que mais conseguiu abarcar objetivos diferentes (avaliando as dimensões de linguagem, mas não chegando a avaliar leitura e escrita) foi "desenho animado - recontar em Libras", consequentemente a conversão de códigos que também fez isto foi "imagem/libras", ambos por conta da riqueza de coleta de dados permitida pelo sub-item linguagem expressiva do "Instrumento de Avaliação de Língua de Sinais - IALS" 21; para os aspectos de leitura e escrita, 4 opções de conversão foram regularmente disponibilizados: "libras/português escrito", "libras ilustrada/português escrito", "português oral/ português escrito" e "português escrito/português escrito". (Figura 3)

CONCLUSÃO

Sobre a aplicabilidade das avaliações diretas em deficientes de um modo geral, a princípio, os surdos estão em vantagem na possibilidade de uso de avaliações diretas por existirem instrumentos especificamente desenvolvidos para eles e os deficientes físicos e motores poderão beneficiar-se de versões computadorizadas, que permitem adaptações às habilidades residuais.

Quanto à aplicabilidade das avaliações diretas para atender a individualidade do deficiente, considerando o fato de que não há correspondência fixa entre o tipo de deficiência e o grau de incapacidade, ou o grau de desvantagem, ou a(s) modalidade(s) comunicativa(s) presente(s), não é possível generalizar e oferecer lista pronta sobre qual repertório de instrumentos avaliativos será mais apropriado. Inclusive tal afirmação é válida ainda que o instrumento avaliativo tenha sido especificamente criado para determinada deficiência. Como exemplo, pode ser citado o caso dos indivíduos surdos, que podem ou não ter contato com Libras e/ou português oral e/ou português escrito. Se determinado surdo desconhecer Libras, não se pode afirmar que certo teste ou prova, que foi feito para surdos e contém esta língua, se aplica a ele.

Contudo, em meio a esta pesquisa, acabaram sendo disponibilizados dados que auxiliam o terapeuta a selecionar o conjunto de avaliações pertinentes à individualidade de seu paciente. Para tal, basta que, em posse da Figura 3, delimite as modalidades possíveis ao examinando, dentre as expostas como características dos instrumentos avaliativos, e selecione uma avaliação em cada objetivo. A resposta sobre a aplicabilidade dos instrumentos avaliativos estará na comparação de compatibilidade entre o perfil das avaliações (modalidades, habilidades requeridas e conversão de códigos) e o perfil do paciente.

E ainda, caso queira aplicar um instrumento que não foi exposto neste estudo, como acabou sendo formulada uma proposta para traçar o perfil das avaliações, poderá analisar o instrumento em questão tal qual feito com os demais e encaixá-lo no quadro na Figura 5.

Nem todos os testes e provas aqui analisados foram criados para a população com deficiência, mas se buscou chamar a atenção para esta demanda, ao mesmo tempo que houve tentativa de minimizar as barreiras impostas pela escassez de recursos avaliativos diretos que sejam acessíveis a usuários das diversas formas de comunicação alternativa existentes.

Consideradas as particularidades dos casos e das avaliações, instrumentos pré-selecionados poderão sim ser aplicáveis a indivíduos deficientes. Contudo, poderá ocorrer que, para alguns pacientes, não será possível realizar uma avaliação completa (dimensões de linguagem + leitura e escrita) utilizando apenas instrumentos do tipo direto.

Quanto mais pesquisas acerca da diversificação das modalidades dos instrumentos de avaliação de linguagem infantil forem realizadas e disponibilizadas, maior será a gama de instrumentos compatíveis de aplicação na população deficiente com necessidades especiais de comunicação.

Recebido em: 16/03/2012

Aceito em: 01/07/2012

Conflito de interesses: inexistente

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  • Endereço para correspondência:

    Cristhiane Ferreira Guimarães
    Rua Dr. Paulo Alves, 72 - Apto 905 - Ingá
    Niterói - RJ. CEP: 24210-445
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  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      24 Jan 2014
    • Data do Fascículo
      Dez 2013

    Histórico

    • Recebido
      16 Mar 2012
    • Aceito
      01 Jul 2012
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