Fonoaudiologia como opção de carreira universitária: estudo exploratórioSpeech Language Pathology and Audiology as a higher education option: exploratory study

Resumos

Objetivo

identificar junto aos alunos dos Cursos de Fonoaudiologia: fatores que levaram a esta escolha de carreira e informações que gostariam de ter recebido sobre esta profissão antes do exame vestibular.

Métodos

estudo exploratório, descritivo, transversal. Discentes dos cursos de graduação em Fonoaudiologia oferecidos pela Universidade de São Paulo nos campi de Bauru, São Paulo e Ribeirão Preto e egressos do campus de Bauru foram convidados a preencher anonimamente, um questionário online composto por 10 questões a respeito de suas opções de carreira universitária e sobre as fontes e suficiência de informação a respeito da profissão Fonoaudiologia quando da inscrição no exame vestibular.

Resultados

responderam ao questionário 201 sujeitos (144 graduandos e 57 egressos). A Fonoaudiologia foi a primeira opção de carreira para 119 (59,2%) dos participantes. O interesse pela profissão foi o motivador de escolha para 42% dos participantes e o status da universidade, a relação candidato/vaga e a influencia de familiares, dentre outros, para 58% dos respondentes. Os guias de profissões foram as principais fontes de informação sobre a carreira. Cerca de 80% dos sujeitos não estavam satisfeitos com as informações que receberam antes do vestibular, a maioria indicando que gostariam de saber mais sobre o campo de atuação do fonoaudiólogo.

Conclusão

fatores não relacionados à afinidade ou pendor pela profissão levam à opção pela carreira Fonoaudiologia para a maioria dos participantes. Há necessidade de intensificar a veiculação de informações sobre a profissão, sobretudo o seu campo de atuação para candidatos ao exame vestibular.

Escolha da Profissão; Educação Superior; Fonoaudiologia

Purpose

to identify factors that led Speech and Language Pathology and Audiology students to choose the career as well as the information they would have liked to receive before entering College.

Methods

exploratory, descriptive, cross-sectional study. SLP-Audiology students of undergraduate courses in the University of São Paulo (Bauru, São Paulo and Ribeirão Preto campus) and graduate students (Bauru campus) were asked to complete, anonymously, an online questionnaire consisting of 10 questions about their career choices and about the sources and adequacy of information regarding the SLP-Audiology profession before college entrance examination.

Results

the questionnaire was answered 201 individuals (144 undergraduates and 57 graduates). SLP-Audiology was the first career option for 119 (59.2%) of the participants. Interest in the profession was the motivator of choice for 42% of the participants. For 58% of respondents, the University status, the candidate/vacancy ratio and the influence of family members, among others, led to the SLP-Audiology career choice. Profession guides were the main sources of information and 80% of respondents were not satisfied with the information received before entering College, most indicating they would like to learn more about the areas where SLP-Audiologists can work.

Conclusion

factors unrelated to career affinity where the motivator for the choice of SLP-Audiology profession for most participants. There is need to intensify the information process about this career especially among high school students.

Career Choice; Education; Higher; Speech; Language and Hearing Sciences

INTRODUÇÃO

Um dos momentos mais significativos no percurso da formação escolar está centrado no término do ensino médio, quando o estudante deve definir, entre as possibilidades que lhe são oferecidas, a mais conveniente, tendo em vista seus princípios e condições. O estudante que decide pela continuidade dos seus estudos, na busca de uma formação do ensino superior, vê-se em face de uma complexidade de caminhos, dentre estes os cursos de graduação - a maioria com quatro anos de duração e que podem oferecer uma ou mais habilitações¹.

O Conselho Nacional de Saúde reconhece 14 profissões de nível superior na área da saúde: Biomedicina, Biologia, Educação Física, Enfermagem, Farmácia, Fisioterapia, Fonoaudiologia, Medicina, Medicina Veterinária, Nutrição, Odontologia, Psicologia, Serviço Social e Terapia Ocupacional.

Com relação à Fonoaudiologia, historicamente, a profissão teve início no Brasil na década de 60, com a criação dos cursos na Universidade de São Paulo (USP), em 1960, e na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC), em 1961. Em 1976, houve a aprovação de um plano de curso e currículo mínimo e a USP foi a primeira instituição a ter autorização para o funcionamento do curso em nível de bacharelado. Em 1981, deu-se a regulamentação da profissão pela Lei 6569 ^2,3.

Atualmente existem no país 104 cursos de Fonoaudiologia reconhecidos pelo Ministério da Educação, estando distribuídos em todos os estados federativos brasileiros, com exceção de Tocantins, Acre e Roraima ⁴.

A escolha de uma profissão significa “definir o projeto de vida e o modo de conquistar a autonomia, o reconhecimento pessoal e a participação na sociedade através do trabalho”, o que remete os jovens para aspectos mais amplos da sua vida, ligados à inserção profissional no mundo do trabalho. Esta escolha é parte de todo um processo de crescimento e reflexão pessoal bem como do conhecimento das profissões e de uma atividade profissional que se insere no social ⁵.

Diferentes fatores influenciam o processo da escolha profissional, abrangendo tanto uma dimensão individual quanto social, envolvendo influências do meio familiar, dos grupos de pares, da formação educacional, do mundo do trabalho e, mais amplamente do contexto social, político, econômico e cultural. Todos esses fatores atuam continuamente, influenciando e sendo influenciados pela trajetória vocacional humana ^5,6.

As pessoas podem realizar escolhas de carreira conhecendo muito pouco sobre a totalidade das implicações das mesmas em termos de tarefas, dificuldades e responsabilidades. Não existe uma preocupação sistemática da escola ou da família em ensinar aos filhos ou alunos habilidades de tomada de decisão. A ausência destas oportunidades, principalmente na adolescência, pode resultar em imaturidade e insegurança nos jovens e adultos em períodos posteriores da vida profissional, muitas vezes incapacitando-os para a formulação de projetos profissionais consistentes ^7,8.

Pelo exposto, esta pesquisa teve como objetivos identificar junto aos alunos de Cursos de Fonoaudiologia: os fatores que levaram a esta opção de carreira universitária e as informações que os mesmos gostariam de ter recebido a respeito desta profissão antes do exame vestibular.

MÉTODOS

Este estudo foi realizado no Departamento de Fonoaudiologia da Faculdade de Odontologia de Bauru da Universidade de São Paulo (FOB-USP), sob aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa desta Instituição (Protocolo 048/2009).

Trata-se de estudo exploratório, descritivo, transversal. Foram convidados a participar deste estudo os discentes regularmente matriculados no primeiro ao quarto ano dos cursos de graduação em Fonoaudiologia oferecidos pela Universidade de São Paulo, nos campi de Bauru, São Paulo e Ribeirão Preto. Tais cursos são ministrados em período integral, diurno, que oferecem anualmente 40 (Bauru), 30 (Ribeirão Preto) e 25 (São Paulo) vagas.

Também foram convidados egressos das turmas de 2007 a 2010 do Curso de Fonoaudiologia da Faculdade de Odontologia de Bauru/USP (amostra de conveniência).

O convite para participação no estudo foi enviado aos coordenadores dos cursos dos diferentes Campi, sendo solicitado o encaminhamento aos discentes. No convite constavam as informações sobre o estudo e o endereço eletrônico que permitia o acesso ao Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) e ao questionário de participação, disponíveis online.

Após a assinatura do TCLE os participantes foram solicitados a preencher, anonimamente, um questionário composto por 10 questões (3 semi-abertas, 2 abertas e 5 questões fechadas) a respeito de suas opções de carreira universitária bem como sobre as fontes e suficiência de informação a respeito da profissão Fonoaudiologia quando da inscrição no exame vestibular (Figura 1). O formulário, desenvolvido pelas próprias pesquisadoras, foi disponibilizado pela ferramenta de uso gratuito kwiksurveys (http://www.kwiksurveys.com).

Figura 1
Questionário Fonoaudiologia como opção de carreira universitária.

Os dados obtidos foram tabulados e analisados por meio de estatística descritiva.

RESULTADOS

No total, foram convidados 380 graduandos e 57 egressos. Concordaram em participar do estudo 201 indivíduos, sendo 144 graduandos (taxa de resposta de 37%) e 57 egressos (taxa de resposta de 100%). Os participantes tinham idades entre 17 a 39 anos (média de 20,62 anos), sendo 144 discentes regularmente matriculados nos cursos de graduação no ano de 2011 e 57 egressos do Campus de Bauru. A distribuição dos graduandos, em relação ao ano do curso, está representada na Tabela 1.

Tabela 1
Distribuição dos participantes quanto ao ano de curso de graduação (N=144)

Ano do Curso de Graduação
Campi	1º ano n (%)	2º ano n (%)	3º ano n (%)	4º ano n (%)	Total n (%)
Bauru	19 (95)	32 (86,5)	33 (82,5)	37 (79)	121 (84)
Ribeirão Preto	0 (0)	2 (5,5)	3 (7,5)	3 (6)	8 (5,5)
São Paulo	1 (5)	3 (8)	4 (10)	7 (15)	15 (10,5)
Total	20(100)	37 (100)	40 (100)	47 (100)	144 (100)

A Tabela 2 mostra a ordem de opção pela carreira Fonoaudiologia quando no ingresso ao exame vestibular. Observa-se que a fonoaudiologia foi a primeira opção de carreira para 119 (59,2%) dos participantes. Embora 82 participantes tivessem preferência por outras carreiras, dois sujeitos não responderam a questão referente à aprovação nesta carreira no exame vestibular.

Tabela 2
Ordem de opção pela carreira “fonoaudiologia” no exame vestibular e status de aprovação na carreira escolhida como primeira opção (N=201)

Ano de Curso	Ordem de opção pela carreira Fonoaudiologia (n=201)						Aprovação na primeira opção de carreira (n=80)
	1a opção		2a opção		3a opção		Sim		Não
	n	%	n	%	n	%	n	%	n	%
1º ano	10	4,9	9	4,5	1	0,5	2	2,5	8	10
2º ano	25	12,4	12	5,9	0	0	8	10	4	5
3º ano	23	11,4	12	5,9	5	2,5	6	7,5	11	13,8
4º ano	31	15,4	11	5,5	5	2,5	6	7,5	10	12,5
Egressos	30	14,9	16	7,9	11	5,5	13	16,2	12	15
Total	119	59	60	30	22	11	35	43,7	45	56,3

Dos 201 participantes, 54 (26,8%) optaram exclusivamente pela carreira Fonoaudiologia. Os demais 147 participantes escolheram outras carreiras no exame vestibular (Tabela 3).

Tabela 3
Outras carreiras escolhidas pelos participantes no ingresso ao exame vestibular (número de respostas = 212)

Saúde / Biológicas (69,8%)	Humanidades (22,2%)	Exatas (8%)
Fisioterapia (n=27; 12,69%)	Pedagogia (n=7; 3,29%)	Química (n=4; 1,88%)
Ciências biológicas (n=23; 10,8%)	Jornalismo (n=4; 1,88%)	Engenharia Florestal (n=2; 0,94%)
Medicina (n=22; 10,34%)	Rádio e TV (n=3; 1,41%)	Engenharia Agronômica (n=3; 0,94%)
Psicologia (n=20; 9,4%)	Direito (n=3; 1,41%)	Design (n=1; 0,47%)
Terapia Ocupacional (n=13; 6,11%)	Música (n=3; 1,41%)	Sistemas de informação (n=2; 0,94%)
Odontologia (n=10; 4,7%)	Letras (n=2; 0,94%)	Ciências da computação (n=2; 0,94%)
Biomedicina (n=9; 4,23%)	História (n=2; 94%)	Engenharia química (n=1; 0,47%)
Enfermagem (n=6; 2,82%)	Administração (n=2; 0,74%)	Engenharia elétrica (n=1; 0,47%)
Medicina Veterinária (n=6; 2,82%)	Tradução (n=1; 0,47%)	Engenharia civil (n=1, 0,47%)
Educação Física (n=4; 1,48%)	Relações públicas (n=1; 0,47%)	Informática (n=1; 0,47%)
Zootecnia (n=1; 0,47%)	Serviço social (n=1; 0,47%)
Gerontologia (n=3; 1,41%)	Audiovisual (n=1; 0,47%)
Biotecnologia (n=3; 1,41%)	Biblioteconomia (n=1; 0,47%)
	Dança (n=1; 0,47%)

Em relação aos fatores que levaram à opção pela carreira (Figura 2) e as principais fontes de informação iniciais sobre a Fonoaudiologia (Figura 3), os participantes poderiam indicar mais do que uma opção.

Figura 2
Fatores que levaram à opção pela carreira de fonoaudiologia na Universidade de São Paulo

Figura 3
– Meios de informação sobre o curso

Dos 191 indivíduos que responderam a questão referente ao conhecimento atual sobre a profissão fonoaudiologia, 112 (58,6%) relataram que a ideia inicial que possuíam sobre a profissão Fonoaudiologia, quando do ingresso no exame vestibular, não correspondia à realidade.

Quanto às informações que os participantes gostariam de ter recebido antes de optar pela carreira Fonoaudiologia (Tabela 4) dos 124 respondentes, apenas 23 (17%) relataram satisfação com as informações que receberam. A maioria (n=103; 77%) relatou que gostaria de ter obtido mais informações principalmente sobre os diversos campos de atuação da profissão. Outras informações julgadas necessárias foram o conhecimento sobre a matriz curricular (n=7, 5,5%) e regulamentação do piso salarial (n=2, 1,5%).

Tabela 4
Exemplos de informações que os participantes gostariam de ter obtido

Categorias de informações
Áreas de atuação	“Não tinha noção de que a fono trabalha com tantas áreas, achava que só cuidaríamos de pessoas com problema de fala e audição”.
	“Não sabia que a fono pode trabalhar em hospitais, creches e empresas privadas”.
	“A fonoaudiologia precisa ser mais divulgada, pois os leigos acham que só trata gagueira”.
Matriz Curricular	“Não sabia sobre a profundidade das matérias do ciclo básico do primeiro ano (Fisiologia, Anatomia, e Histologia)”.
	“Queria saber antes que o curso é integral e não possui janelas para fazermos outras atividades”.
Piso salarial	“Gostaria de saber que a fonoaudiologia não tem piso salarial”.

Com relação à divulgação da profissão, dos 191 respondentes, 182 (95,8%) relataram divulgar a profissão para familiares e amigos e 160 (83,8%) divulgam a profissão para outros vestibulandos.

DISCUSSÃO

No que se refere ao número de participantes do estudo, deve ser destacado que, embora as pesquisas realizadas com auxílio da Internet tenham vantagens para o pesquisador (menores custos, rapidez e a capacidade de atingir populações específicas) e respondentes (conveniência), este método também apresenta desvantagens, dentre elas a baixa taxa de resposta aos questionários ⁹. Isto explica a taxa de resposta de 37% encontrada no presente estudo, que pode ser considerada razoável. O fato de 85% dos graduandos serem do campus Bauru (Tabela 1) pode ser atribuído às maiores possibilidades de divulgação e maior interesse de participação na pesquisa pelo fato do estudo ter sido realizado neste local.

A Fonoaudiologia foi a primeira opção de carreira para 119 (59%) dos participantes (Tabela 2), resultado este semelhante ao de outra pesquisa que verificou que 54% dos discentes matriculados em um Curso de Fonoaudiologia público no estado de São Paulo escolheram esta carreira como primeira opção no vestibular ¹⁰.

Dos 82 indivíduos que não escolheram a Fonoaudiologia como primeira opção, 80 responderam a pergunta sobre a aprovação na carreira de sua preferência (Tabela 2). Destes, 43,7% (n=35), embora também tenham sido aprovados em sua primeira opção de carreira, decidiram matricular-se no curso de Fonoaudiologia por duas razões principais: a localização do Campus e o status da Universidade. Pesquisas envolvendo estudantes em fase de vestibular e estudantes universitários também demonstraram que a tradição/status da Instituição de Ensino Superior (IES) bem como sua localização (proximidade de casa ou do trabalho) estão entre os atributos mais citados para a escolha da carreira universitária ^11,12.

Observa-se ainda, na Tabela 2, que existe uma tendência de diminuição dos ingressantes que tinham a carreira Fonoaudiologia como pretendida (primeira opção) ao longo dos anos. O método utilizado no presente estudo não permite identificar com precisão as razões para esta ocorrência, porém, ressalta-se que este achado merece atenção já que um levantamento realizado pelo Conselho Regional de Fonoaudiologia 2ª Região no estado de São Paulo mostrou que o houve um declínio do número de profissionais formados, podendo significar a redução da procura por esta formação ¹³.

Em princípio, associa-se a baixa procura pelo curso com o desempenho relativo no mercado de trabalho, já que este fator afeta a escolha profissional dos futuros universitários. Um estudo mostra efeito positivo e significativo do valor do salário médio da profissão sobre a escolha profissional ¹⁴. No entanto, a diminuição da procura por cursos da área de Fonoaudiologia também é observada em outros países, como os Estados Unidos, onde a expansão do mercado de trabalho é crescente. Neste país, uma pesquisa realizada com 1090 estudantes universitários mostrou que apenas 1% destes escolheu uma profissão voltada à Ciência e Distúrbios da Comunicação ¹⁵.

Outro fator que pode contribuir para a baixa procura é o prestígio social. Das 13 profissões de nível superior (assistente social, biólogo, dentista, enfermeiro, engenheiro, farmacêutico, físico, fisioterapeuta, fonoaudiólogo, médico, psicólogo, químico e sociólogo) escalonadas por estudantes de graduação e pós-graduação da Universidade de São Paulo, a Fonoaudiologia ficou com a sétima ou oitava posição de acordo com o método de escalonamento utilizado, juntamente com a Enfermagem. A Medicina, Odontologia e Engenharia, nesta ordem, foram as profissões avaliadas como as de maior prestígio ¹⁶.

De fato, a baixa procura pela profissão, combinada à aposentadoria dos profissionais atuantes, vem levando a uma carência de profissionais da Audiologia ¹⁵. Esta carência de profissionais é um fenômeno mundial – uma análise feita com 62 países mostra que 86% destes não possuem profissionais suficientes para suprir suas necessidades ¹⁷.

Este cenário é bastante preocupante tendo em vista que, ao mesmo tempo, uma combinação de tendências culminará no aumento da demanda por fonoaudiólogos nas próximas décadas: os avanços na área médica acarretam maior expectativa de vida trazendo mudanças demográficas importantes, como o aumento da população idosa, para quem é maior a possibilidade de distúrbios neurológicos e auditivos. Estes avanços também são responsáveis pelo aumento da taxa de sobrevivência de bebês prematuros, vítimas de traumas e acidentes vasculares cerebrais que necessitam de avaliação e provavelmente tratamento fonoaudiológico. Além disto, políticas de identificação precoce de alterações, como é o caso da triagem auditiva neonatal, e de inclusão de pessoas com necessidades especiais no ensino regular aumentará a demanda por profissionais treinados ¹⁸ .

No Brasil, o Conselho Federal de Fonoaudiologia indica a existência de um crescimento gradativo, porém não uniforme, da profissão, com o aumento das ofertas de trabalho e de concursos públicos voltados à Fonoaudiologia. Avanços recentes, como a obrigatoriedade da triagem auditiva neonatal, o reconhecimento de novas especialidades e as mudanças no número de sessões para usuários de planos de saúde, autorizada pela Agência Nacional de Saúde Complementar, também prometem impulsionar importantes áreas ¹⁹.

No presente estudo verificou-se que 54 estudantes (26,9%) optaram exclusivamente pelo curso de Fonoaudiologia, enquanto que 73,1% escolheram mais do que um curso, de áreas correlatas ou não. A escolha por mais do que um curso no exame vestibular é um fenômeno comum, apontado em outro estudo que verificou que discentes do Curso de Fonoaudiologia também escolheram outras profissões das áreas de Biologia e Humanidades ¹⁰. Uma pesquisa realizada com 391 universitários matriculados em diferentes cursos de graduação, também mostrou que 52% tiveram escolheram mais do que uma opção de curso no exame de ingresso ⁷. Outra pesquisa com 655 estudantes universitários, matriculados no primeiro ano de graduação de 23 cursos diferentes, demonstrou que 47,1% dos indivíduos decidiram por um único curso. Por outro lado 28,1% e 24,8% optaram, respectivamente, entre dois ou mais cursos de áreas afins ou de áreas completamente diferentes ¹².

O interesse pela profissão foi o principal fator que motivou a escolha da carreira Fonoaudiologia (Figura 2) em 42% dos casos. Entrevistas realizadas com fonoaudiólogos indicaram que o papel reabilitador da Fonoaudiologia foi um dos motivadores principais para a escolha da profissão ²⁰. Questionários aplicados em estudantes universitários nos EUA também indicaram que em 58% dos casos a escolha por uma dada carreira se deu pelo interesse ou amor àquela determinada área ¹⁵.

No entanto, ressalta-se na Figura 2 que, para a maioria dos participantes (58%), a escolha pela Fonoaudiologia se deu por outros motivos. No que se refere à relação candidato/vaga, os dados da Fundação Universitária para o Vestibular (Fuvest), órgão que realiza o vestibular para a Universidade de São Paulo, mostrou que nos anos de 2009 a 2011 a relação candidato/vaga para a carreira de Fonoaudiologia (considerando os Campi de São Paulo, Bauru e Ribeirão Preto) variou de 4,2 a 8,45:1 – no entanto esta relação cai de 8,45 para 5,01:1 quando considerado apenas os candidatos com ensino médio completo. A título de comparação, o valor médio da relação candidato/vaga para todas as carreiras da “área de biológicas” nos últimos três anos esteve em torno de 14 a 15:1 ²¹.

O status da Universidade de São Paulo também contribuiu para a escolha da profissão. Outro estudo realizado em faculdades privadas demonstrou que a imagem da instituição de ensino superior é o ponto de maior atratividade para os estudantes. Esta imagem muitas vezes é construída por meio da excelência dos serviços prestados ²².

Quanto à influência dos pais e familiares observada no presente estudo, uma análise da literatura da área revelou que a influência dos pais nos processos da escolha profissional dos filhos ocorre continuamente na interação dentro dos grupos familiares. Esta influência envolve tanto ações objetivas e práticas (por exemplo, apoio financeiro, formação educacional, diálogos/ações facilitadoras da exploração vocacional) como outras de ordem subjetiva, nem sempre tão claras e conscientes (por exemplo, o apoio, aprovação/reprovação das escolhas, expectativas de resultados, cobranças, sonhos e projetos que os pais mantêm para os filhos, entre outros). Todas essas variáveis de influência atuam possibilitando ou mesmo limitando o desenvolvimento vocacional dos filhos e, mais particularmente, o processo da escolha da carreira ⁶.

Na opção “Outros” os estudantes indicaram o menor investimento financeiro, por se tratar de ensino público, e a oferta de programas de permanência estudantil na Universidade de São Paulo como, por exemplo, o auxílio alimentação e programa de moradia estudantil.

Os familiares e amigos bem como os guias de estudante foram as principais fontes iniciais de informação sobre a profissão (Figura 3). Outro estudo também verificou que o círculo social (família e/ou amigos) constituía a principal fonte de informação dos universitários sobre o curso que estavam realizando ⁵. Fonoaudiólogos do estado de Minas Gerais também relataram que seu primeiro contato com a Fonoaudiologia foi por intermédio de indivíduos que apresentavam distúrbios da comunicação e guias de profissões ²⁰.

Outro dado relevante do presente estudo foi que 58,6% dos participantes relataram não ter conhecimento suficiente sobre a Fonoaudiologia na época da realização do exame vestibular. Este achado esta em concordância com outras pesquisas que mostraram que 40% dos estudantes de Fonoaudiologia tinham pouco conhecimento sobre a profissão ¹⁰ e que 68% de estudantes universitários desconheciam a profissão de audiologista ¹⁵.

A presente pesquisa também demonstrou que a maioria dos participantes (77%) gostaria de ter obtido maiores informações sobre os diferentes campos de atuação da profissão na época do exame vestibular. A quantidade de informação percebida sobre uma determinada profissão tem um impacto no nível de decisão do estudante. Quanto mais bem informado o indivíduo se considera, mais este afirma sua decisão, sendo válida também a situação inversa ⁸.

Em outras áreas, administradores de IES privadas têm empregado estratégias de marketing para aumentar a exposição de estudantes à profissão em estágios mais precoces do processo educacional. Nos EUA, associações profissionais e universidades iniciaram campanhas de conscientização sobre a profissão de audiologia voltada para estudantes ²³.

Escolhas profissionais realizadas com um número reduzido de informações, aliadas a visões distorcidas, idealizadas ou estereotipadas, acerca das opções profissionais podem produzir, posteriormente, sentimentos de arrependimento e de decepção com o curso escolhido, levando à evasão ou processo de re-escolha profissional ²⁴.

Neste sentido a Pró-Reitoria de Cultura e Extensão, da Universidade de São Paulo, criou o Programa “A USP e as Profissões”, com o objetivo de fornecer subsídios aos estudantes para que, com a ajuda de seus familiares e professores, orientem-se na tarefa de optar por uma carreira profissional. Este programa compreende a publicação de um catálogo, um calendário de visitas aos alunos do ensino médio e cursos pré-vestibulares e as Feiras de Profissões. Durante a visita aos estandes das feiras, os estudantes podem conhecer de perto os cursos de graduação oferecidos, podendo tirar suas dúvidas a respeito das profissões, do mercado de trabalho e do exame vestibular ²⁵.

A internet também vem sendo amplamente utilizada, pois reúne várias outras vantagens em sua utilização, principalmente por ser um instrumento de acesso livre e fácil, de material farto, em comparação ao material impresso, e de informações rapidamente atualizadas ²⁶. Partindo deste princípio, o Canal Saúde da IPTV USP criou a série “Profissões da saúde” permitindo a divulgação das 14 carreiras de saúde oferecidas pela USP por meio de vídeos informativos.

O vídeo “Profissão Fonoaudiologia” está disponível para acesso livre no website da IPTV/USP por meio do endereço http://migre.me/90iLj. Neste breve documentário, são fornecidas informações sobre o panorama histórico da Fonoaudiologia, especialidades e ambientes de atuação, perspectivas sobre a profissão, perfil do profissional, características dos cursos dos diferentes campi da USP e informações para acesso às matrizes curriculares dos cursos e programas de permanência estudantil na USP. Também contribuem para a divulgação da profissão a ação dos próprios discentes de graduação.

Conforme demonstrado neste estudo 95,8% divulgam a profissão para familiares e amigos, porém, esta porcentagem cai para 83,8% quando se trata da divulgação para outros vestibulandos.

Este fato reforça a necessidade de maiores investimentos em estratégias que aproximem discentes dos cursos de graduação dos futuros vestibulandos, permitindo que estes possam esclarecer suas dúvidas com relação à profissão, mercado de trabalho e áreas de atuação. Esta interação pode contribuir para a divulgação da profissão e despertar o interesse de vestibulandos para o ingresso em cursos de Fonoaudiologia.

CONCLUSÃO

O interesse pela profissão foi o fator que motivou a escolha pela carreira Fonoaudiologia para 42% dos entrevistados. No entanto, para a maioria dos participantes (58%) a escolha pela Fonoaudiologia se deu por fatores outros, destacando-se o status da universidade e baixa relação candidato/vaga para o curso. Ao longo dos anos houve uma diminuição de ingressantes que tinham a carreira Fonoaudiologia como primeira opção, podendo significar a redução da procura por esta formação. Verificou-se a necessidade de tornar acessível aos candidatos ao vestibular um maior número de informações acerca da profissão Fonoaudiologia, principalmente aquelas relacionadas às diferentes áreas de atuação.

AGRADECIMENTOS

Agradecemos as coordenadoras dos cursos de Fonoaudiologia da Universidade de São Paulo, campus de São Paulo, Riberão Preto e Bauru respectivamente, Débora M. Befi-Lopes , Adriana R.T. Anastacio e Simone R.V. Hage, pela colaboração na divulgação do convite para a participação no estudo.

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• Fonte de Auxílio: Programa de Educação Tutorial- Secretaria de Educação Superior Ministério da Educação Edital nº03/2006 (MEC/SESu/DEPEM)
• Trabalho realizado no Departamento de Fonoaudiologia da Faculdade de Odontologia de Bauru da Universidade de São Paulo.

Datas de Publicação

• Publicação nesta coleção
  may-jun 2014

Histórico

• Recebido
  08 Nov 2012
• Aceito
  05 Mar 2013