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Trabalho, educação continuada e renda do profissional fonoaudiólogo atuante em audiologia

Resumos

OBJETIVO:

investigar o perfil de formação e atuação do fonoaudiólogo na área de Audiologia na 6ª Região, além de analisar a satisfação profissional, e verificar possíveis relações entre o grau de aperfeiçoamento profissional e de satisfação do fonoaudiólogo com a renda salarial mensal.

MÉTODOS:

estudo transversal descritivo com fonoaudiólogos inscritos no Conselho Regional de Fonoaudiologia 6ª Região por meio da aplicação de um questionário analisando as variáveis: formação acadêmica, áreas de atuação profissional, faixa salarial e satisfação com a profissão, no período de maio a outubro de 2012.

RESULTADOS:

foram investigados 857 fonoaudiólogos. Destes, 63,8% atuam com Audiologia, 53,7% se graduaram em Minas Gerais, 51,4% possuem especialização e 5,5%, mestrado, o que se relacionou estatisticamente com maior renda salarial (p<0,05). No que se refere à fonte de renda, 84,1% relataram ter na Fonoaudiologia a sua única fonte de renda e a maior parte recebe de 2 a 5 salários mínimos. A maioria trabalha com audiologia ocupacional. O otorrinolaringologista é o profissional que mais encaminha pacientes. Dos investigados, 54,1% não estão satisfeitos com a profissão. Houve relação significante entre satisfação profissional e renda.

CONCLUSÃO:

observou-se pouca inserção do fonoaudiólogo nas áreas de perícia, teste de processamento auditivo central, reabilitação vestibular, programa de conservação auditiva e testes labirínticos. Ressalta-se a importância da continuidade dos estudos para auxiliar na inserção profissional no mercado de trabalho e melhorar a qualificação profissional. Torna-se evidente a necessidade de se integrar formação acadêmica e profissional.

Audiologia; Área de Atuação Profissional; Mercado de Trabalho; Fonoaudiologia; Capacitação Profissional


PURPOSE:

to investigate the formation pattern and performance of the audiologist in Audiology in the 6th Region, besides analyzing job satisfaction, and to verify the relationship between the degree of professional development and the degree of satisfaction with the speech therapist monthly income - salary.

METHODS:

cross-sectional study with audiologists enrolled in the 6th Region Regional Speech Council, through the application of a questionnaire to analyze the variables: education, professional activity areas, salary and satisfaction with the profession, in the period of May to October 2012.

RESULTS:

857 audiologists were investigated. Of these, 63.8% work in Audiology, 53.7% graduated in Minas Gerais, 51.4% have specialization and 5.5% are masters, which was associated statistically with higher wage income (p <0.05) . With regard to the source of income, 84.1% reported having in Speech Therapy their only source of income and most receive from 2 to 5 minimum wages. Most work with occupational audiology. The ENT is the professional who most directs patients. From those investigated, 54.1% are not satisfied with their profession. There was a significant relationship between job satisfaction and income.

CONCLUSION:

there was little integration of the speech therapist in the areas of expertise, central auditory processing test, vestibular rehabilitation, hearing conservation program and labyrinthine tests. The importance of continuing studies is emphasized to assist in employability on the labor market and improve professional skills. It is evident the need to integrate academic and professional training.

Audiology; Professional Practice Location; Job Market; Speech; Language and Hearing Sciences; Professional Training


Introdução

O Sistema Único de Saúde (SUS) constituído em 1988 preconiza pela universalidade, integralidade e equidade nas ações de saúde do brasileiro. Desde sua criação, muitos avanços são observados, especialmente na saúde auditiva, incorporada enquanto política de saúde pública no Brasil em 1993 com a introdução do implante coclear no Sistema Único de Saúde (SUS)11. Melo TM, Yamaguti EH, Moret ALM, Bevilacqua MC. Audição e linguagem em crianças deficientes auditivas implantadas inseridas em ambiente bilíngue: um estudo de casos. Rev Soc Bras Fonoaudiol. 2012;17(4):476-81.. A criação e implantação, em outubro de 2004, da portaria GM nº 2073 instituindo a Política Nacional de Atenção à Saúde Auditiva, proporcionou um passo decisivo na organização de uma linha de cuidado integral às pessoas, ressaltando a importância da universalidade do acesso, equidade, integralidade e humanização nas políticas de saúde auditiva22. Scaziotta MACM, Andrade IFC, Lewis DR. Programa de triagem auditiva seletiva em crianças de risco em um serviço de saúde auditiva de São Paulo. Rev CEFAC. 2012;14(2):234-42.. No ano de 2010, foi aprovada a Lei da Triagem Auditiva Neonatal Universal, a qual trouxe uma nova dimensão para o diagnóstico precoce da deficiência auditiva33. Aurelio FS, Tochetto TM. Triagem auditiva neonatal: experiências de diferentes países. Arq Int Otorrinolaringol. 2010;14(3):355-63. , 44. Faistauer M, Augusto TAM, Floriano M, Tabajara CC, Martini CM, Schmidit VB et al. Implementação do programa de triagem auditiva neonatal universal em hospital universitário de município da região Sul do Brasil: resultados preliminares. Rev AMRIGS. 2012;56(1):22-5..

As políticas nacionais de saúde vêm favorecendo a inserção do fonoaudiólogo no SUS, principalmente na atenção básica, com grande crescimento do número de profissionais na rede de atenção à saúde nos últimos anos55. Santos JN, Maciel FJ, Martins VO, Rodrigues ALV, Gonzaga AF, Silva LF. Inserção dos fonoaudiólogos no SUS/MG e sua distribuição no território de Minas Gerais. Rev CEFAC. 2012;14(2):196-205. , 66. Ferreira CL, Silva FR, Martins-Reis VO, Friche AAL, Santos JN. Distribuição dos fonoaudiólogos na atenção à saúde no estado de Minas Gerais entre 2005 e 2010. Rev CEFAC. 2013;15(3):672-80.. Essa inserção foi afirmada e assegurada pela criação dos Núcleos de Apoio em Saúde da Família (NASF) 77. Fernandes TL, Nascimento CMB, Sousa FOS. Análise das atribuições dos fonoaudiólogos do NASF em municípios da região metropolitana do Recife. Rev CEFAC. 2013;15(1):153-9. e outros programas de saúde, embora ainda se observe a necessidade de expansão das ações de assistência fonoaudiológica88. Santos JN, Gomes LBP, Souza LM, Souza NRM. Aspectos da assistência fonoaudiológica segundo a pesquisa por amostra de domicílios de Minas Gerais. Rev CEFAC. 2013;15(2):366-73.. Atualmente, os fonoaudiólogos atuam com ações na estratégia de saúde da família99. Peranich LM, Reynolds KB, O'Brien S, Bosch J, Cranfill T. The Roles of Occupational Therapy, Physical Therapy, and Speech/Language Pathology in Primary Care. The Journal for Nurse Practitioners - JNP. 2010;6(1):36-43., saúde infantil, saúde mental, saúde escolar e do adolescente e são essenciais nas ações contempladas na Política Nacional de Saúde Auditiva1010. Moreira MD, Mota HB. Os caminhos da fonoaudiologia no Sistema Único de Saúde - SUS. Rev CEFAC. 2009;11(3):516-21. , 1111. Silva KR, Ferreira MC, Guia ACOM, Oliveira Neto R, Lemos SMA. Produção científica em saúde auditiva no Brasil: análise do período de 2000 a 2010. Rev CEFAC. 2013;15(1):215-27., já que compete ao fonoaudiólogo a realização de avaliação, diagnóstico, tratamento, reabilitação e triagem auditiva1212. Correia RBF, Coelho JMS. Ações em Saúde Auditiva escolar no município de Sobral-CE: percepção de fonoaudiólogos. Rev bras promoç saúde. 2012;25(2):228-34..

A escassez de estudos relacionados ao perfil do fonoaudiólogo atuante na área de Audiologia contribui para a relevância desta pesquisa, na medida em que permite a caracterização destes profissionais e um diagnóstico da situação mercadológica, favorecendo a descoberta de áreas potenciais, o maior comprometimento com a classe e a valorização da profissão.

Neste sentido, o presente estudo teve por objetivo investigar o perfil de formação e atuação do fonoaudiólogo na área de Audiologia na 6ª Região (Minas Gerais, Espírito Santo, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul), além de analisar a satisfação profissional, e verificar possíveis relações entre o grau de aperfeiçoamento profissional e de satisfação do fonoaudiólogo com a renda salarial mensal.

Métodos

A pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Faculdade de Estudos Administrativos de Minas Gerais (FEAD MG) sob o protocolo de número 202. Todos os investigados assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido autorizando sua participação na pesquisa.

Foi realizado um estudo transversal descritivo, no período de abril a outubro de 2012, com fonoaudiólogos inscritos no Conselho Regional de Fonoaudiologia (CRFa) 6ª Região, por meio da aplicação de um questionário.

O estudo foi uma iniciativa do CRFa 6ª Região em parcerias com as Universidades e Faculdades com cursos de graduação em Fonoaudiologia de Belo Horizonte, o qual autorizou a utilização dos dados para esta pesquisa.

Os profissionais receberam o questionário e o termo de consentimento livre esclarecido via correio, email pelo mailling do Sindicato dos Fonoaudiólogos de Minas Gerais (SINFEMG) e divulgação no site, onde o mesmo foi disponibilizado para download com as instruções para participação. Utilizou-se um questionário composto de 27 perguntas com opções de respostas fechadas e abertas, elaborado por fonoaudiólogas do CRFa 6ª Região, SINFEMG, e por alunos e professores dos cursos de Fonoaudiologia da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC Minas), FEAD MG e Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).

As questões investigavam dados relacionados à formação acadêmica, áreas de atuação profissional, faixa salarial e satisfação com a profissão.

O banco de dados da pesquisa foi disponibilizado para a realização da presente pesquisa, a qual considerou como critérios de inclusão ser fonoaudiólogo inscrito na 6º Região e ter atuação na área da Audiologia (resposta positiva à questão de número 16 A do questionário). Foram excluídos os questionários com erros e incoerências no preenchimento.

Para a entrada, processamento e análise quantitativa dos dados foi utilizado o software SPSS - versão 16.0. Para fins de análise descritiva, foi feita distribuição de frequência das variáveis categóricas e análise de dispersão das variáveis contínuas envolvidas na caracterização da atuação e perfil profissional do fonoaudiólogo inserido na 6ª Região. Utilizou-se o teste Qui-quadrado para verificar as diferenças entre as proporções, com nível de significância de p<0,05.

Resultados

O estudo do CRFa 6ª Região investigou 857 fonoaudiólogos de diferentes áreas de atuação. Na presente pesquisa, foram selecionados somente os profissionais que atuam na área de Audiologia, o que corresponde a 547 (63,8%) fonoaudiólogos. Destes, 523 (95,6%) são do gênero feminino; 20 (3,7%) do gênero masculino; e 4 (0,7%) não declararam o gênero. A média de idade foi de 32,3 anos (±6,4 anos), variando de 21 a 58 anos.

Dos profissionais que atuam na área da Audiologia, 294 (53,7%) se graduaram no Estado de Minas Gerais; 59 (10,8%) no Espírito Santo; 25 (4,6%) no Mato Grosso do Sul; 10 (1,8%) no Mato Grosso e 156 (28,5%) em Estados que não integram a 6ª Região. Dos que se graduaram no Estado de Minas Gerais, a maioria (58,2%) concluiu graduação no município de Belo Horizonte. Dos profissionais que se graduaram no Espírito Santo, 52 (88, 1%) se graduaram em Vila Velha. Dentre os graduados no Estado do Mato Grosso do Sul todos (100%) concluíram o curso na capital - Campo Grande. Dos profissionais graduados no Estado do Mato Grosso, 5 (50%) realizaram o curso em Cuiabá e 5 (50%) no município de Várzea Grande.

Do total dos investigados, 281 (51,4%) referiram possuir especialização, sendo que 119 (42,3%) possuem especialização apenas em Audiologia e 24 (8,5%) são especializados em mais de uma área, sendo a Audiologia uma delas. O restante, 49,1% possui especialização em outras áreas da Fonoaudiologia ou da saúde.

Dos profissionais que atuam com Audiologia, 30 (5,5%) possuem mestrado e 1 (0,2%) possui doutorado.

Do total de 547 profissionais, 460 (84,1%) relataram ter na Fonoaudiologia a sua única fonte de renda, 52 (9,5%) tem na Fonoaudiologia a principal, mas não a sua única fonte de renda, e 32 (5,9%) relataram ter outras fontes de renda.

Quanto à renda salarial mensal, a maior parte dos investigados recebe de R$1635,01 a R$3270,00 (Figura 1), o que corresponde a dois a cinco salários mínimos do ano do presente estudo. Dentre os profissionais que possuem renda superior a R$5450,00, 30 (86%) referiram ter especialização (Tabela 1).

Figura 1:
Renda salarial mensal dos fonoaudiólogos da 6ª Região que atuam na área de Audiologia

Tabela 1:
Relação entre o perfil profissional e renda salarial mensal de fonoaudiólogos atuantes na área de audiologia na 6ª região

No que se refere às áreas de atuação, 52% dos profissionais trabalham realizando exames audiológicos ocupacionais (Figura 2).

Figura 2:
Atuação dos fonoaudiólogos da 6ª Região na área de Audiologia

Em relação às áreas de atuação e à distribuição pelos estados que compreendem a 6ª Região, verifica-se maior número de fonoaudiólogos exercendo atividade em Minas Gerais. O estado do Mato Grosso do Sul representa o menor percentual de atuação. As áreas de perícia, teste de processamento auditivo central, reabilitação vestibular, programa de conservação auditiva e testes labirínticos (exceto no Espírito Santo) representam potenciais de atuação nestes estados. (Tabela 2).

Tabela 2:
Relação entre áreas de atuação e distribuição por estados dos fonoaudiólogos atuantes na área de audiologia na 6ª região

Dentre os fonoaudiólogos que atuam com Audiologia, 489 (89,4%) recebem pacientes de outros profissionais, sendo o otorrinolaringologista 419 (76,6%) o profissional que mais realiza encaminhamentos, seguido do pediatra 321 (58,7%), ortodontista 277 (50,6%), escola 271 (49,5%), neurologista 268 (49%), psicólogo 254 (46,4%), fonoaudiólogo 230 (42%), médico do trabalho 210 (38,4%), fisioterapeuta 210 (38,4%), clínico geral 200 (36,6%), psicopedagogo 183 (33,5%), odontopediatra 135 (24,7%), geriatra 144 (20,8%), terapeuta ocupacional 101 (18,5%), cirurgião de cabeça e pescoço 88 (16,1%), nutricionista 79 (14,4%), cirurgião bucomaxilo facial 75 (13,7%), neonatologista 72 (13,2%), oncologista 52 (9,5%), outros profissionais 27 (4,9%), alergologista 17 (3,1%), dermatologista 9 (1,6%) e cirurgião plástico 7 (1,3%).

Dos investigados, 248 (45,4%) estão satisfeitos com a profissão e 296 (54,1%) declararam-se insatisfeitos. Destes, 189 (34,6%) não estão satisfeitos devido à remuneração ruim, 56 (10,2%) devido à falta de emprego, 29 (5,3%) em virtude da falta de reconhecimento do trabalho, e 22 (4%) não justificaram o motivo.

Dos fonoaudiólogos que recebem acima de R$5450,00, 29 (85%) estão satisfeitos profissionalmente (Tabela 3).

Tabela 3:
Relação entre satisfação profissional e renda salarial mensal de fonoaudiólogos atuantes na área de audiologia na 6ª região

Discussão

Por meio da análise do banco de dados da pesquisa sobre perfil profissional do Conselho Regional de Fonoaudiologia da 6ª Região, tentou-se caracterizar o profissional fonoaudiólogo atuante na área da Audiologia. Dos investigados, a grande maioria referiu trabalhar com avaliação, diagnóstico ou reabilitação auditiva ou vestibular. Esse dado vai ao encontro da realidade do mercado profissional no qual a primeira opção de trabalho do fonoaudiólogo é a Audiologia, com destaque para a área da audiologia ocupacional que absorve grande quantidade de recém formados, profissionais em busca do seu primeiro emprego e de aprimoramento profissional.

A demanda crescente e o perfil econômico de cada região determinam uma procura maior por determinada área da Fonoaudiologia. A concentração de indústrias no estado de Minas Gerais, pertencente à 6ª Região, favorece o crescimento dos serviços de audiologia ocupacional. O fonoaudiólogo atuante nesta área é responsável por monitorar a saúde dos trabalhadores e prevenir futuros problemas auditivos1313. Nunes CP, Abreu TRM, Oliveira RMA. Sintomas auditivos e não auditivos em trabalhadores expostos ao ruído. Rev baiana saúde pública. 2011;35(3):548-55. , 1414. Oliveira WTGH, Andrade WTL, Teixeira CF, Lima MLLT. Audição de Trabalhadores Antes e Após o Programa de Conservação Auditiva. Rev bras ciênc saúde. 2012;16(4):517-24..

Estudo relata que as principais dificuldades de inserção do fonoaudiólogo no mercado de trabalho estão relacionadas ao desconhecimento sobre as possibilidades de atuação, a formação acadêmica na graduação essencialmente clínica e o crescimento da competitividade frente ao aumento do número de profissionais disponíveis no mercado. Como facilitadores, são citados a rede de contatos, o planejamento e identificação de oportunidades, a educação continuada e a competência no desempenho das atividades1515. Gattoni AWD. A inserção do fonoaudiólogo no mercado de trabalho de Belo Horizonte [dissertação]. Belo Horizonte (MG): FEAD - Centro de Gestão Empreendedora; 2008..

Em relação à graduação observou-se maior concentração em Minas Gerais, o que pode ser explicado pela concentração dos cursos de graduação em Fonoaudiologia no Estado. Das 14 Instituições de Ensino Superior que oferecem o curso de Fonoaudiologia na 6ª Região, 9 estão distribuídas em Minas Gerais1616. Conselho Federal de Fonoaudiologia. Número de fonoaudiólogos do Brasil por regional em Maio/2012. [Internet] [Acesso em 18 out. 2012]. Disponível em: http://www.fonoaudiologia.org.br.
http://www.fonoaudiologia.org.br...
, sendo que o primeiro curso foi criado em 1990 no Centro Universitário Metodista Izabela Hendrix1717. Rosa LLC, Oliveira TCM. Izabela Hendrix - Pioneirismo em Minas Gerais. In: Gama ACC, Lemos SMA (org.). Histórico da Fonoaudiologia em Minas Gerais. Belo Horizonte: Folium; 2010.p.55-68.. Em 2000, surgiu o primeiro curso público de Fonoaudiologia no Estado, na UFMG1818. Pereira FCB, Aarão PCL, Seixas KL, Silva HG, Tavares APN, Campos FR et al. Histórico da Fonoaudiologia em Minas Gerais: impressão dos protagonistas. Rev CEFAC. 2012;14(2):313-26.. Na PUC MG, o curso foi implantado em 20021919. Fonoaudiologia - Coração Eucarístico. [Internet] [Acesso 2012 Out. 30] Disponível em: http://www.pucminas.br/graduacao/cursos/arquivos/CUR_ARQ_PROJE_PEDAG20100414134210.pdf?PHPSESSID=481a02f937c466bd890697651cf01dd
http://www.pucminas.br/graduacao/cursos/...
. Em 2008 foi reconhecido na FEAD MG e na Universidade FUMEC (Fundação Mineira de Educação e Cultura) 2020. FEAD. Fonoaudiologia. [Internet] [Acesso 2012 Out. 30] Disponível em: http://www.fead.br/infocurso.asp?CC=786
http://www.fead.br/infocurso.asp?CC=786...
, 2121. Universidade FUMEC. Fonoaudiologia - apresentação. [Internet] [Acesso 2012 Out. 30] Disponível em: http://www.fumec.br/cursos/graduacao/fonoaudiologia/apresentacao/
http://www.fumec.br/cursos/graduacao/fon...
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No presente estudo verificou-se que mais da metade dos profissionais possui especialização e 5,5% dos investigados referiram possuir mestrado, o que corrobora os achados da literatura2222. Braga CM, Martins KVC, Queiroz MAS, Câmara MFS. Perfil mercadológico do fonoaudiólogo atuante na área de Audiologia Clínica. Rev CEFAC. 2013;15(3):546-51.. Estudos semelhantes realizados com fonoaudiólogos recém-formados apontaram que a especialização foi o curso mais pretendido, seguido do mestrado2323. Silva DGM, Sampaio TMM, Bianchini EMG. Percepções do fonoaudiólogo recém-formado quanto à sua formação, intenção profissional e atualização de conhecimentos. Rev Soc Bras Fonoaudiol. 2010;15(1):47-53.. Percebe-se, portanto, que a busca por aperfeiçoamento tem sido uma realidade na profissão de Fonoaudiologia.

No que se refere à renda salarial mensal, a maior parte dos investigados declarou receber de 2 a 5 salários mínimos, o que vai ao encontro da literatura2222. Braga CM, Martins KVC, Queiroz MAS, Câmara MFS. Perfil mercadológico do fonoaudiólogo atuante na área de Audiologia Clínica. Rev CEFAC. 2013;15(3):546-51.. A renda mensal do fonoaudiólogo é superior ao rendimento mensal real dos brasileiros no ano de 20112424. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. PNAD 2011: crescimento da renda foi maior nas classes de rendimento mais baixas. [Internet] [Acesso 2012 Out. 30] Disponível em: http://www.ibge.gov.br/home/presidencia/noticias/noticia_visualiza.php?id_noticia=2222&id_pagina=1
http://www.ibge.gov.br/home/presidencia/...
e igual à renda de profissionais da área de Psicologia, Enfermagem e Educação Física. Valores estes referentes ao Censo Demográfico de 2000/IBGE2525. Centro de Políticas Sociais. O retorno da educação no mercado de trabalho. [Internet] [Acesso 2012 Out. 30] Disponível em: http://www.fucape.br/downloads/fgv-2005.pdf
http://www.fucape.br/downloads/fgv-2005....
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O presente estudo mostrou também que o aprimoramento profissional por meio da especialização influencia na renda salarial mensal do fonoaudiólogo (Tabela 1), a qual aumentou significantemente para os profissionais que investiram na educação continuada. Esses dados diferiram do estudo realizado na cidade de Fortaleza2626. Martins KVC, Costa TP, Câmara MFS. Perfil mercadológico do profissional fonoaudiólogo atuante na área de triagem auditiva escolar. Rev CEFAC. 2012;14(4):641-9..

A maioria dos profissionais trabalha realizando exame ocupacional, seguido do exame audiológico clínico, da terapia de deficiente auditivo e da indicação e adaptação de Aparelho de Amplificação Sonora Individual (AASI). Este fato pode ser justificado pela forte influência da visão de reabilitação na profissão2727. Stefaneli FR, Monteiro KDGM, Spinelli RL. Perfil do fonoaudiólogo na cidade de São José dos Campos. Rev CEFAC. 2004;6(1):101-5., e pela preocupação em relação às alterações auditivas ocorridas em virtude da atividade laboral2828. Arakawa AM, Sitta EI, Caldana ML, Sales-Peres SHC. Análise de diferentes estudos epidemiológicos em Audiologia realizados no Brasil. Rev CEFAC. 2011;13(1):152-8. , 2929. Boger ME, Mitre EI. Análise do desencadeamento de perda auditiva por exposição a níveis de intensidade sonora menores que 85db. Rev Med Saude Brasilia. 2012;1(2):71-9.. Entretanto, há poucos fonoaudiólogos investindo nas áreas de perícia, testes de processamento auditivo central e testes labirínticos. Percebe-se que essas são áreas pouco exploradas e, portanto, representam potenciais nichos de atuação na Fonoaudiologia.

Observou-se maior inserção dos profissionais atuando nas diferentes áreas da Audiologia no estado de Minas Gerais, o que era de se esperar uma vez que dentre os estados pertencentes à 6ª Região, ele é o que possui o maior número de fonoaudiólogos1616. Conselho Federal de Fonoaudiologia. Número de fonoaudiólogos do Brasil por regional em Maio/2012. [Internet] [Acesso em 18 out. 2012]. Disponível em: http://www.fonoaudiologia.org.br.
http://www.fonoaudiologia.org.br...
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Verificou-se que na atuação do fonoaudiólogo a rede de contatos é essencial e o mesmo recebe encaminhamentos de diversos profissionais3030. Marchesan IQ. Quem encaminha pacientes para fonoaudiólogos? In: 16° Congresso Brasileiro de Fonoaudiologia; 24-27 set. 2008. Campos do Jordão: SBFa; 2008; 406., sendo o otorrinolaringologista, o pediatra, o ortodontista e os professores os que mais encaminham pacientes para o fonoaudiólogo. Pesquisa na área faz referência ao otorrinolaringologista e aos professores como os profissionais que mais realizam encaminhamentos, reafirmando os achados do presente estudo. Dentistas e fonoaudiólogos também são citados na literatura, em percentuais menores do que o encontrado no presente estudo3030. Marchesan IQ. Quem encaminha pacientes para fonoaudiólogos? In: 16° Congresso Brasileiro de Fonoaudiologia; 24-27 set. 2008. Campos do Jordão: SBFa; 2008; 406.. Vale mencionar que os encaminhamentos não eram apenas para a área de Audiologia, uma vez que estes fonoaudiólogos atendiam pacientes de diversas áreas.

Os achados desta pesquisa mostram que a maioria dos investigados está insatisfeita com a profissão. Possível explicação para isso seria a baixa remuneração destes profissionais e a falta de emprego e de reconhecimento do trabalho. Além disso, muitos fonoaudiólogos pesquisados são recém-formados e ainda estão se inserindo no mercado de trabalho. Estudo com fonoaudiólogos que atuam na área de audiologia clínica evidencia que a maioria sente-se satisfeita com a profissão2222. Braga CM, Martins KVC, Queiroz MAS, Câmara MFS. Perfil mercadológico do fonoaudiólogo atuante na área de Audiologia Clínica. Rev CEFAC. 2013;15(3):546-51..

Observou-se que o grau de satisfação profissional está diretamente relacionado à renda salarial mensal, corroborando a literatura2626. Martins KVC, Costa TP, Câmara MFS. Perfil mercadológico do profissional fonoaudiólogo atuante na área de triagem auditiva escolar. Rev CEFAC. 2012;14(4):641-9..

A caracterização e a compreensão da situação dos profissionais que atuam na área da Audiologia contribuem para auxiliar o profissional em sua inserção no mercado de trabalho e favorece o conhecimento de novos nichos.

A amostra não representa um retrato fiel da realidade, uma vez que somente 15,8% dos inscritos no CRFa 6ª Região participaram, o que mostra a pequena adesão do profissional às iniciativas da classe. Apesar disso, os dados contribuem para o entendimento da situação de trabalho dos fonoaudiólogos da 6ª Região e reforçam a necessidade da educação continuada como forma de crescimento e sucesso profissional.

Recomenda-se que o fonoaudiólogo que queira trabalhar com Audiologia invista nas áreas que representam nichos de mercado a serem explorados.

Ressalta-se a importância da continuidade dos estudos, a fim de auxiliar na inserção profissional no mercado de trabalho e melhorar a qualificação profissional. Torna-se evidente a necessidade de se integrar formação acadêmica e profissional.

Compreende-se que a pesquisa deve ser incentivada, uma vez que representa uma maneira de divulgar a profissão, documentar novas práticas terapêuticas e validar práticas existentes.

Conclusão

Os fonoaudiólogos que atuam na área de Audiologia na 6ª Região são, em sua maioria, mulheres e possuem média de idade de 32 anos. A maior parte se graduou em Minas Gerais, possui especialização, tem na Fonoaudiologia a sua única fonte de renda, recebe de 2 a 5 salários mínimos. Quanto à área de atuação, nota-se predominância de realização de exames audiológicos ocupacionais e clínicos. Recebem encaminhamentos principalmente do Otorrinolaringologista, e manifestam-se insatisfeitos com a profissão. Houve relação significante entre a especialização e satisfação profissional e a renda salarial mensal.

Observou-se pouca inserção do fonoaudiólogo nas áreas de perícia, teste de processamento auditivo central, reabilitação vestibular, programa de conservação auditiva e testes labirínticos.

Agradecimentos

Ao Conselho Regional de Fonoaudiologia 6ª Região pela disponibilização do banco de dados;

Aos fonoaudiólogos que responderam aos questionários, viabilizando a realização deste trabalho.

Às fonoaudiólogas Graziela Zanoni de Andrade, Andréa W. Dias Gattoni e Juliana Lara Lopes.

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    Melo TM, Yamaguti EH, Moret ALM, Bevilacqua MC. Audição e linguagem em crianças deficientes auditivas implantadas inseridas em ambiente bilíngue: um estudo de casos. Rev Soc Bras Fonoaudiol. 2012;17(4):476-81.
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    Scaziotta MACM, Andrade IFC, Lewis DR. Programa de triagem auditiva seletiva em crianças de risco em um serviço de saúde auditiva de São Paulo. Rev CEFAC. 2012;14(2):234-42.
  • 3
    Aurelio FS, Tochetto TM. Triagem auditiva neonatal: experiências de diferentes países. Arq Int Otorrinolaringol. 2010;14(3):355-63.
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    Faistauer M, Augusto TAM, Floriano M, Tabajara CC, Martini CM, Schmidit VB et al. Implementação do programa de triagem auditiva neonatal universal em hospital universitário de município da região Sul do Brasil: resultados preliminares. Rev AMRIGS. 2012;56(1):22-5.
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    Santos JN, Maciel FJ, Martins VO, Rodrigues ALV, Gonzaga AF, Silva LF. Inserção dos fonoaudiólogos no SUS/MG e sua distribuição no território de Minas Gerais. Rev CEFAC. 2012;14(2):196-205.
  • 6
    Ferreira CL, Silva FR, Martins-Reis VO, Friche AAL, Santos JN. Distribuição dos fonoaudiólogos na atenção à saúde no estado de Minas Gerais entre 2005 e 2010. Rev CEFAC. 2013;15(3):672-80.
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    Fernandes TL, Nascimento CMB, Sousa FOS. Análise das atribuições dos fonoaudiólogos do NASF em municípios da região metropolitana do Recife. Rev CEFAC. 2013;15(1):153-9.
  • 8
    Santos JN, Gomes LBP, Souza LM, Souza NRM. Aspectos da assistência fonoaudiológica segundo a pesquisa por amostra de domicílios de Minas Gerais. Rev CEFAC. 2013;15(2):366-73.
  • 9
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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    Nov-Dec 2014

Histórico

  • Recebido
    26 Jun 2013
  • Aceito
    13 Dez 2013
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