Acessibilidade / Reportar erro

Análise comparativa entre as habilidades sociais dos estudantes de jornalismo e de fonoaudiologia

Resumos

OBJETIVO:

comparar o repertório de habilidades sociais de estudantes de Jornalismo e de Fonoaudiologia.

MÉTODOS:

participaram desta pesquisa 189 estudantes, sendo 89 do curso de Jornalismo (63 mulheres e 26 homens), com idades variando entre de 18 e 28 anos, e 100 de curso de Fonoaudiologia (96 mulheres e 4 homens) com idades entre 18 a 31 anos. Todos os participantes responderam ao Inventário de Habilidades Sociais.

RESULTADOS:

os estudantes de Fonoaudiologia demonstraram o repertório de habilidades sociais classificado como "Bom acima da média" para habilidades sociais de comunicação (F1), de civilidade (F2), empáticas (F4) e de trabalho (F5) e classificado como "Bastante elaborado" para as habilidades sociais assertivas de enfrentamento (F3) e escore global. Os estudantes de Jornalismo apresentaram a classificação "Bom abaixo da média" para habilidades sociais de civilidade (F2) e "Bom acima da média" para as habilidades sociais de comunicação (F1), assertivas de enfrentamento (F3), empáticas (F4), de trabalho (F5) e escore global. As análises estatísticas demonstraram diferença estatisticamente significante (p=0,001) entre os alunos dos cursos de Fonoaudiologia e Jornalismo no escore global e para as habilidades sociais de civilidade (F2) e de trabalho (F5), com melhores resultados dos estudantes Fonoaudiologia.

CONCLUSÃO:

os estudantes de Fonoaudiologia apresentaram melhor desempenho nas habilidades sociais representado pelo escore global e de modo específico nas habilidades sociais de civilidade e de trabalho.

Comunicação Social; Jornalismo; Estudantes; Fonoaudiologia


PURPOSE:

to compare the repertoire of social skills of students of Journalism and Speech, Language and Hearing Sciences.

METHODS:

189 students participated in this study, i.e., 89 students of Journalism (63 females and 26 males), aged between 18 and 28 years, and 100 students of speech, language and hearing sciences (96 females and 4 males) with ages varying between 18 and 31 years. The Social Skills Inventory was applied to all of them.

RESULTS:

speech, language and hearing sciences students demonstrated social skills rated as "good above average" for social communication skills (F1), civility (F2), empathy (F4), work (F5) and as "rather elaborate" for assertive coping skills (F3) and overall score. Journalism students presented were rated as "Good below average" for civility social skills (F2) and "Good above average " for social communication skills (F1), assertive coping (F3), empathy (F4), work (F5) and overall score. The results showed a statistically significant difference (p=0,001) in the social skills of civility (F2), work (F5) and overall score.

CONCLUSIONS:

the students of speech, language and hearing sciences performed better than the journalism students in the social skills of civility (F2), work (F5) and overall score.

Social Communication; Journalism; Students; Speech, Language and Hearing Sciences


Introdução

A comunicação humana é uma área de estudo complexa relacionada à função social e profissional. No contexto profissional, a competência social tem sido exigida e valorizada em praticamente todas as área de conhecimento. Para que o indivíduo possa apresentar uma comunicação interpessoal efetiva e atingir sucesso profissional é necessário o aprimoramento das habilidades sociais11. Santos SM. As responsabilidades da Universidade no acesso ao ensino superior, In: Soares AP, Osório JV, Capela RM, Vasconcelos SM. Transição para o ensino superior. Braga: Universidade do Minho. 2000:69-78. , 22. Gresham FM. Conceptual and definitional issues in the assessment of children's social skills: Implications for classification and training. Journal of Clinical Child Psychology. 1986;15(1):3-15.. As habilidades sociais são comportamentos específicos que resultam em interações sociais positivas e que abrangem condutas necessárias para uma comunicação interpessoal efetiva.

Alguns estudos afirmaram que o desenvolvimento das aptidões sociais deveria fazer parte da formação dos profissionais. Para eles a formação universitária deveria incluir, além do conhecimento técnico com qualidade e excelência individual, também o desenvolvimento das competências interpessoais, que incluem cooperação e trabalho em equipe11. Santos SM. As responsabilidades da Universidade no acesso ao ensino superior, In: Soares AP, Osório JV, Capela RM, Vasconcelos SM. Transição para o ensino superior. Braga: Universidade do Minho. 2000:69-78. , 33. Del Prette ZAP, Del Prette A. Inventário de Habilidades Sociais (IHS -Del- Prette): Manual de aplicação, apuração e interpretação. São Paulo: Casa do Psicólogo; 2001..

Atualmente pesquisas na área das habilidades sociais de estudantes de ensino superior têm fornecido a fundamentação desde a metodologia de avaliação de repertório social até programas de treinamento de habilidades sociais em contextos educacionais44. Yashima T, Tanaka T. Roles of social support and social skills in the intercultural adjustment of Japanese adolescents sojourners in USA. Psychol Reports. 2001;3(2):1201-10.

5. Caballo VE. Una aportación española a los aspectos moleculares, a la evaluación y al entrenamiento de las habilidades sociales. Revista Mexicana de Psicología. 1995;12:121-31.
- 66. Del Prette ZAP, Del Prette A . Psicologia das Relações Interpessoais: Vivências para o trabalho em grupo. Petrópolis: Vozes; 2002.. A avaliação de habilidades sociais está relacionada às situações de interação social22. Gresham FM. Conceptual and definitional issues in the assessment of children's social skills: Implications for classification and training. Journal of Clinical Child Psychology. 1986;15(1):3-15. , 77. Moreira MD, Mota HB. Os caminhos da fonoaudiologia no Sistema Único de Saúde - SUS. Rev CEFAC. 2009;11(3):516-21.. Um instrumento frequentemente utilizado tem sido o Inventário de Habilidades Sociais (IHS) de autoria Del Prette & Del Prette (2001) 33. Del Prette ZAP, Del Prette A. Inventário de Habilidades Sociais (IHS -Del- Prette): Manual de aplicação, apuração e interpretação. São Paulo: Casa do Psicólogo; 2001., que apresenta questões que contemplam uma diversidade de demandas, interlocutores e situações. Esses estudos adquirem particular importância quando se considera principalmente aquelas áreas cuja atuação depende, criticamente da qualidade das relações profissional-cliente88. Kuscinsky B. Jornalismo e saúde na era neoliberal. Rev Saude Soc. 2002;11(1):95-103.

9. Franciscato CE. A fabricação do presente: como o jornalismo reformulou a experiência do tempo nas sociedades ocidentais. São Cristóvão: Editora UFS, 2005.

10. Dalmonte EF. Presente: o tempo do jornalismo e seus desdobramentos. História Franca. 2010;29(1):328-44.

11. Schimith MD, Simon BS, Brêtas ACP, Budó MLD. Relações entre profissionais de saúde e usuários durante as práticas em saúde. Rel prof [periódico na internet]. 2011 [acesso em 2012]; 9(3):[479-503]. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1981-77462011000300008
http://www.scielo.br/scielo.php?script=s...

12. Gresham FM, Sugai G, Horner RH. Interpreting Out comes of Social Skills Training for Students with High-Incidence Disabilities. Exceptional Children. 2001;67(3):331-44.

13. Del Prette ZAP, Del Prette A, Bandeira M, Rios-Saldaña MR, Ulian ALAO, Gerk-Carneiro E et al. Habilidades sociais de estudantes de Psicologia: um estudo multicêntrico. Psicologia: Reflexão e Critica. 2004;17(3):341-50.
- 1414. McFall RM. A review and reformulation of the concept of social skills. Behavioral Assessment. 1982;4:1-33..

Dentre os muitos profissionais que necessitam do desenvolvimento das habilidades sociais para obter uma comunicação efetiva e sucesso no âmbito profissional, estão os jornalistas. Para os estudantes de jornalismo, o desenvolvimento das habilidades sociais possibilitará maior acesso às informações, além de maior desenvoltura na sua comunicação e atuação profissional. Para eles é fundamental transmitir informações de interesse público com credibilidade, pois esses profissionais atuam em todas as interfaces da sociedade e ajudam a desenvolver a consciência crítica do cidadão.

Outro profissional que tem a comunicação humana como foco do seu trabalho é o fonoaudiólogo. A Fonoaudiologia está envolvida com a comunicação humana desde o processo do seu desenvolvimento até o seu aprimoramento e ainda com os distúrbios da comunicação onde atua na reabilitação. É a comunicação humana que permite o processo de humanização e socialização, por isso, para os estudantes de Fonoaudiologia, o desenvolvimento do repertório de habilidades sociais são essenciais em sua formação profissional.

Na literatura científica, não há relatos de estudos que tenham explorado a competência social nos estudantes de ambos os cursos. Diante do exposto, o presente estudo teve como objetivo comparar o repertório de habilidades sociais de estudantes de Jornalismo e de Fonoaudiologia.

Métodos

Trata-se de um estudo exploratório e descritivo realizado a partir da análise de duas pesquisas realizadas previamente: "Habilidades Sociais em estudantes de Jornalismo" e "Habilidades sociais em estudantes de Fonoaudiologia", ambas aprovadas pelo Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) da Faculdade de Odontologia de Bauru da Universidade de São Paulo (FOB/USP), sob os respectivos protocolos nº 045/2008 e nº 016/2008.

Participaram desta pesquisa 89 estudantes do curso de Jornalismo da Universidade Estadual Paulista "Júlio de Mesquita Filho" - UNESP/Bauru, sendo 63 (71%) mulheres e 26 (29%) homens, com idades variando entre 18 e 28 anos e média de idade de 21 anos ± 1ano e 10 meses, e 100 estudantes do curso de Fonoaudiologia da Faculdade de Odontologia de Bauru da Universidade de São Paulo- FOB/USP, sendo 96 (96%) mulheres e 4 (4%) homens, com idades variando entre 18 a 31 anos e média de idade 23 anos ±1 ano e 5 meses.

Foram adotados os seguintes critérios de seleção para a realização deste estudo: idade igual ou maior a 18 anos e ser aluno dos cursos de Jornalismo ou Fonoaudiologia em qualquer período do curso. Estes critérios foram baseados na possibilidade de explorar o conhecimento sobre as habilidades sociais desses universitários no início da sua formação profissional.

O convite para participar do estudo foi realizado pelos pesquisadores nas salas de aula, após a autorização dos dirigentes das Universidades e dos professores. Os pesquisadores visitaram as salas de aula do primeiro ao quarto anos dos cursos de Jornalismo e Fonoaudiologia, quando foi explicado aos alunos o objetivo do estudo e realizado o convite para participarem. Nenhum aluno recusou-se a participar do estudo

Para avaliação e análise do repertório de habilidades sociais utilizou-se como instrumento o Inventário de Habilidades Sociais (IHS) 33. Del Prette ZAP, Del Prette A. Inventário de Habilidades Sociais (IHS -Del- Prette): Manual de aplicação, apuração e interpretação. São Paulo: Casa do Psicólogo; 2001., que tem o objetivo de caracterizar o desempenho social em diferentes situações diárias (trabalho, escola, família) e permite analisar as características psicométricas em população de jovens.

O IHS é composto por 38 itens e cada um descreve uma situação de demanda de desempenho social e as possíveis reações a ela (nunca ou raramente; com pouca frequência; com regular frequência; muito frequentemente, sempre ou quase sempre). Para a análise dos 38 itens, 31 deles foram divididos em cinco fatores (F1, F2, F3, F4, e F5) e os outros sete foram analisados separadamente, conforme as instruções do manual:

  • F1 Habilidades sociais de comunicação: corresponde a fazer e responder perguntas; gratificar e elogiar; pedir e dar feedback nas relações sociais; iniciar, manter e encerrar conversação (itens 1, 5, 7, 11, 12, 14, 15, 16, 20, 21, 29);

  • F2 Habilidades sociais de civilidade: refere-se às habilidades de autoafirmação, podendo-se também relacioná-la a uma parte do conceito de assertividade; dizer por favor; agradecer; apresentar-se; cumprimentar; despedir-se (itens 03, 06, 08, 10, 28, 30, 35);

  • F3 Habilidades sociais assertivas de enfrentamento: supõe conhecimento das normas de relacionamento cotidiano; manifestar opinião, concordar, discordar; fazer, aceitar e recusar pedidos; desculpar-se e admitir falhas; estabelecer relacionamento afetivo/sexual; encerrar relacionamento; expressar raiva e pedir mudança de comportamento; interagir com autoridades; lidar com críticas (itens 13, 17, 19, 22, 24, 36, 37);

  • F4 Habilidades sociais empáticas: retrata situações que envolvem a abordagem a pessoas desconhecidas; parafrasear; refletir sentimentos e expressar apoio (itens 9, 14, 23, 26);

  • F5 Habilidades sociais de trabalho: envolvem reação e o controle da raiva e da agressividade; coordenar grupo; falar em público; resolver problemas; tomar decisões e mediar conflitos (itens 18, 31, 38).

Os sete itens remanescentes do questionário (02, 04, 25, 27, 32, 33, 34) referem-se às seguintes situações: "Pedir mudança de conduta de alguém", "Interromper a fala dos outros", "Lidar com críticas justas", "Expressar desagrados a amigos", "Pedir ajuda a amigos", "Negociar uso de preservativo" e "Recusar pedido abusivo".

As questões do IHS foram entregues aos alunos que responderam o questionário na presença dos pesquisadores. Os pesquisadores explicaram as instruções, enfatizando que não existem respostas corretas ou incorretas e reforçaram a necessidade de responder a todos os itens. Os mesmos permaneceram disponíveis para eventuais esclarecimentos e garantiram o anonimato dos respondentes. Em média, o tempo de aplicação do questionário foi de 20 minutos.

Para análise dos dados, calculou-se o escore global (soma das respostas dos 38 itens) e o escore específico dos cinco fatores de cada estudante, segundo as instruções do manual33. Del Prette ZAP, Del Prette A. Inventário de Habilidades Sociais (IHS -Del- Prette): Manual de aplicação, apuração e interpretação. São Paulo: Casa do Psicólogo; 2001.. Os escores foram convertidos em percentil (P) e divididos conforme a classificação proposta pelos autores33. Del Prette ZAP, Del Prette A. Inventário de Habilidades Sociais (IHS -Del- Prette): Manual de aplicação, apuração e interpretação. São Paulo: Casa do Psicólogo; 2001., sendo esses: Necessidade de Treinamento (P1 a P25), Bom abaixo da média (P26 a P49), Mediano (P50), Bom acima da média (P51 a P75) e Bastante Elaborado (P>75).

Os sete itens remanescentes do questionário, não incluídos nos cinco fatores, foram analisados separadamente e classificados de acordo com a presença ou ausência de dificuldade em tais comportamentos.

Para análise estatística deste trabalho foi utilizado o teste do Qui-quadrado e o teste de Mann-Whitney para proporções, com intuito de verificar as possíveis diferenças entre os grupos estudados, para cada variável de interesse. Considerou-se o resultado significante o valor de p<0,05.

Cabe destacar que devido a amplitude da idade ser muito pequena a variável idade não obteve efeito significante nos testes para as comparações estatísticas, A distribuição dos alunos por ano por ser homogênea em ambos os cursos também não foi submetida a análise isolada ou comparativa dos alunos de acordo com o ano frequentado.

Resultados

Os valores das médias e desvio-padrão obtidos das respostas do IHS dadas pelos estudantes de Jornalismo e de Fonoaudiologia para os cinco fatores de habilidades sociais e o resultado estatístico da comparação entre os escores estão apresentados na Tabela 1.

Tabela 1:
Média e desvio padrão dos escores dos cindo fatores das habilidades sociais e do escore geral do IHS dos estudantes dos cursos de Jornalismo e de Fonoaudiologia e o resultado estatístico da comparação entre os cursos para cada um dos fatores.

O resultado da comparação entre as respostas obtidas dos alunos de Jornalismo e de Fonoaudiologia para cada um dos itens remanescentes do IHS quanto a presença ou ausência das dificuldades está na Tabela 2.

Tabela 2:
Valores percentuais dos sete itens não incluídos nos cinco fatores do Inventário de Habilidades Sociais obtidos dos alunos dos cursos de Jornalismo e Fonoaudiologia e o resultado estatístico da comparação entre os cursos para cada item.

Discussão

A graduação é um período é de intenso aprendizado e desenvolvimento social para os alunos de Jornalismo e Fonoaudiologia. Ressalta-se que o conhecimento do repertório das habilidades sociais destes estudantes instigará o desenvolvimento de novas estratégias em busca de uma melhor performance comunicativa pessoal e profissional.

Os resultados da comparação entre as habilidades sociais dos estudantes de Jornalismo e de Fonoaudiologia demonstraram que houve diferença estaticamente significante (p=0,01) entre dois de cinco fatores (F2 e F5) e entre os escores globais. Esses resultados indicaram que os estudantes de Fonoaudiologia apresentaram habilidades sociais globais, de civilidade e de trabalho melhores do que os estudantes de Jornalismo.

De modo geral, os estudantes de Fonoaudiologia demonstraram o repertório de habilidades sociais classificados como "Bom acima da média" para F1, F2, F4 e F5 e "Bastante elaborado" para F3 e escore global. E os estudantes de Jornalismo apresentaram a classificação de "Bom abaixo da média" para F2 e "Bom acima da média" para F1, F3, F4, F5 e escore global. Resultados semelhantes com relação à algumas habilidades sociais foram encontrados no estudo de Del Prette et al. (2004) 1313. Del Prette ZAP, Del Prette A, Bandeira M, Rios-Saldaña MR, Ulian ALAO, Gerk-Carneiro E et al. Habilidades sociais de estudantes de Psicologia: um estudo multicêntrico. Psicologia: Reflexão e Critica. 2004;17(3):341-50., em que os estudantes do curso de Psicologia, apresentaram a classificação "Bom acima da média" para F1, F3, F4, escore global e "Bom abaixo da média" para F2 e F5. Pode-se supor que este resultado se deva ao fato dos estudantes de Jornalismos apresentarem maior frequência das habilidades sociais que envolvem o conhecimento das normas de relacionamento cotidiano, situações que envolvem a abordagem a pessoas desconhecidas. Isto está relacionado a função que o Jornalista desempenha durante a rotina diária, ou seja, o papel de aproximar o público dos fatos sob a perspectiva de atingir o destinatário por meio da noticia é uma função essencial do Jornalista, sendo que o enfoque do relacionamento, a comunicação 99. Franciscato CE. A fabricação do presente: como o jornalismo reformulou a experiência do tempo nas sociedades ocidentais. São Cristóvão: Editora UFS, 2005. , 1010. Dalmonte EF. Presente: o tempo do jornalismo e seus desdobramentos. História Franca. 2010;29(1):328-44..

Os estudantes do curso de Fonoaudiologia apresentaram maior frequência para todas as habilidades descritas, e isso reflete as relações estabelecidas entre profissionais de saúde e usuário que devem ser guiadas pela capacidade do profissional de compreender o sofrimento que se manifesta e o significado mais imediato de suas ações e palavras. Entende-se ainda que essa relação não é somente baseada na comunicação dos fatos, mas também em comportamentos e atitudes que se caracterizam como humanização ou cuidado ao paciente1313. Del Prette ZAP, Del Prette A, Bandeira M, Rios-Saldaña MR, Ulian ALAO, Gerk-Carneiro E et al. Habilidades sociais de estudantes de Psicologia: um estudo multicêntrico. Psicologia: Reflexão e Critica. 2004;17(3):341-50.. Pode-se inferir que essa habilidade presente nos estudantes de Fonoaudiologia tenha sido desenvolvida ao longo do curso, o que não se observou nos estudantes de Jornalismo. Ambos os cursos têm quatro anos de duração, porém os alunos do curso de Fonoaudiologia nos dois últimos anos se inserem em atividades práticas como intervenções diagnósticas e terapêuticas na Clínica fonoaudiológica e orientações à população nas Unidades Básicas de Saúde da cidade.

Pode-se afirmar que a deficiência na aquisição das habilidades sociais deve-se à ausência de conhecimentos para a execução de uma habilidade social especial ou fracasso para discriminar comportamentos sociais, que são apropriados em situações específicas1212. Gresham FM, Sugai G, Horner RH. Interpreting Out comes of Social Skills Training for Students with High-Incidence Disabilities. Exceptional Children. 2001;67(3):331-44.. A instituição de ensino influencia no processo de formação do profissional e pode fornecer suporte às futuras ações no ambiente de trabalho. Deste modo, os cursos de graduação deveriam favorecer, por meio das disciplinas ofertadas, o desenvolvimento interpessoal como parte dos objetivos acadêmicos1313. Del Prette ZAP, Del Prette A, Bandeira M, Rios-Saldaña MR, Ulian ALAO, Gerk-Carneiro E et al. Habilidades sociais de estudantes de Psicologia: um estudo multicêntrico. Psicologia: Reflexão e Critica. 2004;17(3):341-50.. Sob este aspecto entende-se que as disciplinas práticas que permitem ao aluno o contato com o paciente, com a família, com a população estimulam e desenvolvem no aluno a habilidade social, que é urgente e necessária.

A análise estatística da comparação entre os cursos quanto às sete questões não incluídas nos cinco fatores do IHS entre os estudantes de Fonoaudiologia e Jornalismo indicou que não houve diferença significante entre os grupos analisados. Vale ressaltar que na análise dos dados apresentados, os termos do padrão de desempenho social são aferidos pelo IHS na frequência de emissão de reações socialmente competentes. Então, os aspectos formais do desempenho das habilidades avaliadas e sua proficiência, incluem somente o relato de frequência. Embora, compreende-se que a frequência seja apenas uma das dimensões utilizadas para a avaliação do repertório das habilidades sociais.

Deste modo, pode-se dizer que embora o máximo da competência social implique em maior flexibilidade comportamental, própria da capacidade adaptativa do ser humano, as pessoas não são igualmente habilidosas, nas diferentes situações interpessoais e os desempenhos socialmente aprovados e valorizados podem variar bastante de uma cultura para outra. Esse caráter situacional-cultural da competência social opõe-se à noção de traços de personalidade, implicando na necessidade de se avaliar o desempenho social sob diferentes contextos, demandas e interlocutores prováveis e significativos nas relações interpessoais da população alvo 1414. McFall RM. A review and reformulation of the concept of social skills. Behavioral Assessment. 1982;4:1-33.. Esta análise torna-se cada dia mais importante, uma vez que comunicar-se bem e transmitir credibilidade é uma necessidade básica para o desenvolvimento da competência interpessoal de todo ser humano.

Conclusão

Os resultados da comparação entre as habilidades sociais dos estudantes de Jornalismo e de Fonoaudiologia demonstraram que os estudantes de Fonoaudiologia apresentaram melhor desempenho nas habilidades sociais representado pelo escore global e de modo específico nas habilidades sociais de civilidade e de trabalho.

  • 1
    Santos SM. As responsabilidades da Universidade no acesso ao ensino superior, In: Soares AP, Osório JV, Capela RM, Vasconcelos SM. Transição para o ensino superior. Braga: Universidade do Minho. 2000:69-78.
  • 2
    Gresham FM. Conceptual and definitional issues in the assessment of children's social skills: Implications for classification and training. Journal of Clinical Child Psychology. 1986;15(1):3-15.
  • 3
    Del Prette ZAP, Del Prette A. Inventário de Habilidades Sociais (IHS -Del- Prette): Manual de aplicação, apuração e interpretação. São Paulo: Casa do Psicólogo; 2001.
  • 4
    Yashima T, Tanaka T. Roles of social support and social skills in the intercultural adjustment of Japanese adolescents sojourners in USA. Psychol Reports. 2001;3(2):1201-10.
  • 5
    Caballo VE. Una aportación española a los aspectos moleculares, a la evaluación y al entrenamiento de las habilidades sociales. Revista Mexicana de Psicología. 1995;12:121-31.
  • 6
    Del Prette ZAP, Del Prette A . Psicologia das Relações Interpessoais: Vivências para o trabalho em grupo. Petrópolis: Vozes; 2002.
  • 7
    Moreira MD, Mota HB. Os caminhos da fonoaudiologia no Sistema Único de Saúde - SUS. Rev CEFAC. 2009;11(3):516-21.
  • 8
    Kuscinsky B. Jornalismo e saúde na era neoliberal. Rev Saude Soc. 2002;11(1):95-103.
  • 9
    Franciscato CE. A fabricação do presente: como o jornalismo reformulou a experiência do tempo nas sociedades ocidentais. São Cristóvão: Editora UFS, 2005.
  • 10
    Dalmonte EF. Presente: o tempo do jornalismo e seus desdobramentos. História Franca. 2010;29(1):328-44.
  • 11
    Schimith MD, Simon BS, Brêtas ACP, Budó MLD. Relações entre profissionais de saúde e usuários durante as práticas em saúde. Rel prof [periódico na internet]. 2011 [acesso em 2012]; 9(3):[479-503]. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1981-77462011000300008
    » http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1981-77462011000300008
  • 12
    Gresham FM, Sugai G, Horner RH. Interpreting Out comes of Social Skills Training for Students with High-Incidence Disabilities. Exceptional Children. 2001;67(3):331-44.
  • 13
    Del Prette ZAP, Del Prette A, Bandeira M, Rios-Saldaña MR, Ulian ALAO, Gerk-Carneiro E et al. Habilidades sociais de estudantes de Psicologia: um estudo multicêntrico. Psicologia: Reflexão e Critica. 2004;17(3):341-50.
  • 14
    McFall RM. A review and reformulation of the concept of social skills. Behavioral Assessment. 1982;4:1-33.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    Mar-Apr 2015

Histórico

  • Recebido
    27 Ago 2013
  • Aceito
    25 Abr 2014
ABRAMO Associação Brasileira de Motricidade Orofacial Rua Uruguaiana, 516, Cep 13026-001 Campinas SP Brasil, Tel.: +55 19 3254-0342 - São Paulo - SP - Brazil
E-mail: revistacefac@cefac.br