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Satisfação de usuários de próteses auditivas

Resumo:

OBJETIVO:

analisar, por meio do questionário Satisfaction With Amplification in Daily Life, a satisfação dos usuários de Aparelho de Amplificação Sonora Individual, após um mês de uso, e verificar se houve uma melhora nesta satisfação dois meses após a primeira aplicação do questionário.

MÉTODOS:

de acordo com critérios de inclusão, participaram 50 pacientes, com faixa etária variada, com perda auditiva, não importando grau e tipo de necessidade do uso de prótese auditiva bilateralmente. Aplicou-se o questionário 30 dias após a adaptação do Aparelho de Amplificação Sonora Individual e reaplicado após 60 dias de adaptação com o uso da prótese.

RESULTADO:

foi observada uma satisfação da prótese auditiva em todos os fatores (negativo, positivo, imagem pessoal, serviço e custo). A subescala efeito positivo foi a que apresentou maior número de satisfação na pesquisa. Em relação à faixa etária que obteve satisfação, prevaleceram as idades acima de 60 anos; nos graus de perda, foram as moderadas e moderadamente severa; na classificação de aparelho, o tipo A apresentou maior satisfação. Esses resultados foram estatisticamente significantes na pesquisa.

CONCLUSÃO:

houve satisfação com o uso do Aparelho de Amplificação Sonora Individual em todos os fatores avaliados. O efeito positivo foi a subescala que apresentou maior número de satisfação na faixa etária, grau de perda auditiva e classificação de Aparelho de Amplificação Sonora Individual.

Descritores:
Questionário; Satisfação do Paciente; Perda Auditiva

Abstract:

PURPOSE:

to analyze through the questionnaire Satisfaction With Amplification in Daily Life the satisfaction users Sound Amplification Device Single, after a month of use and check if there was an improvement in this satisfaction two months after the first application of the questionnaire.

METHODS:

according to inclusion criteria, 50 patients participated, with varying age, hearing loss, regardless of the level and type that they need to use hearing aids bilaterally. The questionnaire was applied 30 days after the adaptation of Device Personal Sound Amplification apparatus and reapplied after 60 days of adjustment with to the use of the prosthesis.

RESULTS:

it was observed a satisfaction of hearing aids at all factors (negative factors, positive effect, personal image and personal service and cost). The positive effect subscale showed the highest numbers in search of satisfaction. In relation to age group who obtained satisfaction, prevailed over 60 years ages; in the degree of loss, were the moderate and moderately severe; in the classification of appliance, the type A introduced greater satisfaction. These results were statistically significant in the research.

CONCLUSION:

there was satisfaction with the use of the Individual Sound Amplification Device at all factors evaluated. The positive effect was the subscale that had the highest numbers of satisfaction in age, degree of hearing loss and classification of Individual Sound Amplification Device.

Keywords:
Questionnaire; Patient Satisfaction; Hearing Loss

Introdução

A audição é fundamental não só para a aquisição como também para a manutenção da comunicação humana, no desenvolvimento da fala e da linguagem.

A deficiência auditiva é considerada a terceira incapacidade mais comum na população1. Albernaz PLM. Quem ouve bem, vive melhor: um livro para pessoas com problemas de audição e seus familiares. 1ª ed. São Paulo: MG editores; 2008.. Além da dificuldade para ouvir, ela provoca um impacto negativo no desenvolvimento, comprometimento psicossocial, cognitivo, fala e linguagem, já que pode haver afastamento do convívio social e das atividades ocupacionais, comprometendo a qualidade de vida. Uma das formas de diminuir o impacto da perda auditiva na vida de um indivíduo é o uso de Aparelho de Amplificação Sonora Individual (AASI). Assim, os sons ambientais e de fala serão amplificados, além de sinais de perigo e alerta 1. Albernaz PLM. Quem ouve bem, vive melhor: um livro para pessoas com problemas de audição e seus familiares. 1ª ed. São Paulo: MG editores; 2008. 2. Campos CAH, Russo ICP, Almeida K. Indicação, seleção e adaptação de próteses auditivas: princípios gerais. In: Almeirda K, Iorio MCM. Próteses auditivas: fundamentos teóricos e aplicações clínicas. 2ª ed. São Paulo: Editora Lovise; 2003. P.35-54..

Quando a perda auditiva é percebida na idade adulta, suas implicações poderão ser maiores em função das restrições impostas por ela. O processo de envelhecimento faz com que haja um pior desempenho em testes de fala. Mesmo indivíduos normo-ouvintes necessitam de maior intensidade na apresentação de sentenças no silêncio e no ruído para alcançar percentual de reconhecimento de fala similar aos de adultos jovens normo-ouvintes3. Campos UP, Almeida KA. Satisfação com o uso de Próteses Auditivas Analógicas, Programáveis e Digitais. Distúrb. Comum. 2008;20(3):355-64..

A (re) habilitação auditiva pode ser definida como um processo de resolução de problemas, com o objetivo de minimizar a dificuldade (limitação de atividade) e a desvantagem (restrição de participação) de um indivíduo com deficiência auditiva4. Danieli F, Castiquini EAT, Zambonatto TCF, Bevilacqua MC. Avaliação do nível de satisfação de usuários de aparelhos de amplificação sonora individuais dispensados pelo Sistema Único de Saúde. RevSocBrasFonoaudiol. 2011;16(2):152-9..

Os AASI são adaptados para cada tipo e grau de perda auditiva (leve, moderada, severa e profunda). O AASI é um recurso de tecnologia variável, que coloca o som ao alcance do indivíduo, ou seja, amplifica os sons de entrada. Proporciona compreensão auditiva, não evitando a progressividade da perda, mas estimula o retardamento desta, diminuindo, com o tempo, a privação sensorial, melhorando o nível de aclimatização auditiva5. De Freitas CD, Costa MJ. Processo de adaptação de próteses auditivas em usuários atendidos em uma instituição pública federal - parte I: resultados e implicações com o uso da amplificação. Rev. Bras. Otorrinolaringol. 2007;73(6):744-51..

O usuário de prótese auditiva melhora sua qualidade de vida e das pessoas de seu convívio, tornando a comunicação e as atividades diárias mais prazerosas. Entretanto, para que haja um bom resultado, é necessário observar a qualidade da prótese auditiva, a adaptação, a atitude e a percepção do usuário.

Há inúmeros fatores que contribuem para o sucesso do uso da amplificação sonora, como: idade, grau e tipo de perda auditiva, fatores físicos, habilidade de processamento auditivo, uso precedente de AASI e extensão da perda auditiva, os quais, associados, desempenham papel essencial para a aceitação da amplificação. Somados a isso, a percepção do handicap auditivo, custo, expectativa pessoal, satisfação, desempenho e benefício podem indicar satisfação do usuário com amplificação sonora6. Magalhães FF, Mondelli MFCG. Avaliação da satisfação dos usuários de aparelho de amplificação sonora individual - revisão sistemática. Rev CEFAC. 2011; 13(3):552-8.

Com o objetivo de conhecer a satisfação dos usuários de próteses auditivas, pesquisadores desenvolveram o questionário Satisfaction With Amplification in Daily Life (SADL)7. Mondelli MFCG, Magalhães FF, Lauris JRP.Cultural Adaptation of the SADL (Satisfaction with Amplification in Daily Life) questionaire for Brazilian Portuguese. Rev. Brazilian Journal Otorhinolaryngol. 2011;77(5):563-72.. Esse instrumento foi elaborado com a finalidade de quantificar o grau de satisfação com o uso da amplificação, permitindo a identificação de aspectos adversos relativos à adaptação do AASI. É um questionário simples, de fácil aplicação, contendo quinze perguntas que ajudam os profissionais a observar os fatores que estão prejudicando e/ou melhorando com o uso do aparelho.

Assim, a partir dessas considerações, o objetivo da pesquisa foi analisar a satisfação na adaptação do AASI por meio do questionário SADL, dividido por subescalas: Efeito Positivo, Fator Negativo, Serviço e Custo e Imagem Pessoal. Cada subescala foi analisada em relação à faixa etária, ao tipo de perda auditiva, ao grau de perda auditiva e à classificação do tipo do AASI, comparando a primeira com a segunda aplicação do questionário em cada sujeito.

Métodos

O projeto foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade de Passo Fundo, sob protocolo n.443. 285.

A presente pesquisa é um estudo transversal. Foi realizada em parceria entre o curso de Fonoaudiologia da UPF e uma Clínica vinculada ao Sistema Único da Saúde (SUS) no Norte do Estado do Rio Grande do Sul, que participa do Programa de Concessão de Próteses Auditivas da Secretaria de Assistência à Saúde do Ministério da Saúde, onde foi solicitada a autorização institucional.

O rol amostral se deu por conveniência, ou seja, o tamanho da amostra foi determinado mediante disponibilidade e aceitação dos participantes na pesquisa.

Foram incluídos na pesquisa indivíduos com diferentes faixas etárias, com perda auditiva, independente de grau e tipo, com o uso de AASI digitais, recebidos pelo Programa de Concessão de Próteses Auditivas da Secretaria de Assistência à Saúde do Ministério da Saúde na Clínica, vinculado ao programa. Foram excluídos da pesquisa pacientes que faziam uso de aparelhos do tipo bimodal, apresentavam declínio cognitivo e/ou limitação de linguagem oral.

Primeiramente, os sujeitos que compareceram e aceitaram participar da pesquisa eram pacientes que estavam realizando a primeira revisão (30 dias, após a adaptação do AASI), que assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE), após este ser lido. Em seguida, os pacientes responderam ao questionário SADL7. Mondelli MFCG, Magalhães FF, Lauris JRP.Cultural Adaptation of the SADL (Satisfaction with Amplification in Daily Life) questionaire for Brazilian Portuguese. Rev. Brazilian Journal Otorhinolaryngol. 2011;77(5):563-72.(Anexo 1 Anexo 1 ). As pesquisadoras leram as questões, e os pacientes tiveram um tempo de 30 minutos para respondê-las. Ao retornarem à Clínica para a realização da segunda revisão (90 dias, após a adaptação), foi reaplicado o mesmo questionário. Após a conclusão do preenchimento, os questionários foram recolhidos, e os dados dos mesmos foram tabulados.

O questionário SADL foi desenvolvido na Universidade de Memphis (Estados Unidos) e traduzido para o português brasileiro pelas próprias autoras do questionário. A versão original e a traduzida para o português estão disponíveis no site www.memphis.edu/ausp/harl/sadl.htm Tal instrumento foi elaborado com a finalidade de quantificar o grau de satisfação com o uso da amplificação, permitindo a identificação de aspectos adversos relativos à adaptação do AASI.

O questionário SADL é composto por 15 perguntas fechadas, subdivididas em quatro subescalas, a saber:

  • - Efeitos positivos: englobam questões relacionadas à habilidade comunicativa, localização sonora, qualidade sonora, além de abordar questões psicológicas. É composto por seis itens (questões 1, 3, 5, 6, 9, 10);

  • - Serviço e custo: avalia a competência do fonoaudiólogo e o valor do AASI, em três itens (12, 14, 15). Uma vez que a presente pesquisa foi realizada com sujeitos que receberam os seus AASI por meio de concessão, foi tratado como custo apenas o valor das baterias e o deslocamento (transporte) para fazer a adaptação;

  • - Fatores negativos: abrangem três itens que investigam desempenho em ambiente ruidoso, microfonia e uso do telefone (questões 2, 7, 11);

  • - Imagem pessoal: é composto por três itens que pesquisam a autoimagem do usuário de AASI e o estigma do aparelho auditivo (questões 4, 8, 13).

O questionário foi aplicado nos pacientes 30 dias após o recebimento do AASI e reaplicado após 60 dias de adaptação com o uso da prótese.

O Programa de Concessão de Próteses Auditivas fornece sete marcas, divididas em três tipos de AASIs. A classificação tipo A é digital com timer e possui um canal; o tipo B é digital com timer e possui dois canais; o tipo C é digital computadorizado; todos eles possuem redutor de ruído. Os AASIs das categorias A, B e C eram de diferentes marcas.

O teste estatístico utilizado para análise foi o Teste-t de comparação de médias para amostras dependentes (Teste-t pareado). A análise dos dados foi realizada por meio do nível de significância adotado para os testes de α = 5% (0,05).

As variáveis analisadas em relação às subescalas (efeito positivo, fator negativo, serviço e custo e imagem pessoal) foram faixa etária, grau da perda e tipo de AASI.

Resultados

A amostra foi composta por 50 sujeitos, dos quais 56% eram do sexo masculino e 44% do sexo feminino. A faixa etária variou de 17 a 84 anos, sendo que a maioria dos sujeitos tinha idade acima de 60 anos (60%). Quanto ao tipo de perda auditiva, observou-se que a maioria dos sujeitos apresentou perda auditiva neurossensorial (84%). Os graus de perda auditiva prevalentes foram as perdas moderadas (38%) e moderado-severas (32%). Os AASIs foram classificados em três categorias: a categoria A teve 37%; B, com 29%; e C, 33%.

Em relação ao Efeito Positivo, observaram-se as respostas de acordo com a faixa etária, em que a faixa 17-35 anos apresentou importante melhora nas questões 3, 5 e 6; na faixa etária de 36-59 anos, houve uma evolução nas questões 1 e 3; já na faixa etária acima de 60 anos, as questões que tiveram melhora foram as questões 3, 5, 6 e 9 (Figura 1).

Figura 1:
Comparação entre as médias de pontuação da primeira e segunda aplicação do questionário, em relação ao efeito positivo, de acordo com a faixa etária

A análise estatística foi realizada por meio da média total dos resultados da primeira e segunda avaliação de cada faixa etária. Observou-se que usuários de AASI na faixa etária acima de 60 anos apresentaram diferença estatisticamente significante (p<0,05) ao se comparar resultados da primeira e segunda avaliação da adaptação do AASI (Figura 1).

Na análise do Fator Negativo, as questões 2 e 7 necessitam ter diferença diminuída entre a primeira e a segunda avaliação para uma melhora no resultado, pois são questões referentes a incômodos derivados de sons e apitos do AASI e, na questão 11, a pontuação deve aumentar por ser uma questão relacionada ao uso do telefone com o AASI. Na faixa etária de 17-35 anos, constatou-se que, nas questões 2 e 7, houve uma evolução; a faixa etária de 36-59 anos apresentou melhora nas questões 2 e 11; e, na faixa etária acima de 60 anos, todas as questões obtiveram uma melhora (Figura 2).

Figura 2:
Comparação entre as médias de pontuação da primeira e segunda aplicação do questionário, em relação ao fator negativo, de acordo com a faixa etária

Devido às questões terem diferenças na pontuação, não foi possível realizar uma análise entre a média geral da primeira e da segunda avaliação do Fator Negativo (Figura 2).

No fator de serviços e custos, nas faixas etárias de 17-35 e 36-59 anos, foi observada uma melhora apenas na questão 14, enquanto na faixa etária acima de 60 anos houve uma evolução na questão 12. Em relação à questão 15, não houve alteração na pontuação em nenhuma faixa etária, por ser uma questão relacionada a conserto de AASI, o que não ocorreu devido ao pouco tempo de uso por parte dos participantes (Figura 3).

Figura 3:
Comparação entre as médias de pontuação da primeira e segunda aplicação do questionário, em relação aos serviços e custo, de acordo com a faixa etária

A análise estatística foi realizada por meio da média total dos resultados da primeira e segunda avaliação de cada faixa etária. No fator de serviços e custos, embora tenha se observado uma melhora na satisfação em algumas questões pelos usuários de AASI, esta não foi significante estatisticamente (Figura 3).

Os achados sobre Imagem Pessoal, em relação à faixa etária, mostraram que, na faixa etária de 17-35 anos, as questões 8 e 13 tiveram melhora; de 36-59 anos, houve evolução nas questões 4 e 13; e na faixa etária acima de 60 anos, as questões 8 e 13 prevaleceram (Figura 4).

Figura 4:
Comparação entre as médias de pontuação da primeira e segunda aplicação do questionário, em relação à imagem pessoal, de acordo com a faixa etária

A análise estatística foi realizada por meio da média total dos resultados da primeira e segunda avaliação de cada faixa etária. Nos usuários de AASI de todas as faixas etárias, no fator imagem pessoal, foi observada uma melhora dos resultados, porém sem valores significantes (Figura 4).

Os dados referentes ao grau de perda relacionado ao efeito positivo foram divididos em duas partes, para que as informações possam ser melhores visualizadas (Figuras 5.1 e 5.2).

Figura 5.1:
Comparação entre as médias de pontuação da primeira e segunda aplicação do questionário, em relação ao efeito positivo, de acordo com o grau da perda

Figura 5.2:
Comparação entre as médias de pontuação da primeira e segunda aplicação do questionário, em relação ao efeito positivo, de acordo com o grau da perda

Observou-se que, no grau leve-moderado, as questões 1, 3 e 5 tiveram evolução; no grau moderado, houve uma prevalência nas questões 3, 5, 6, 9 e 10; no moderado-severo, as questões 3, 5 e 10 melhoraram no grau severo; as questões 3, 6 e 10 tiveram progresso e, no grau profundo, 3, 5, 6 e 10 foram as questões com aumento de pontuação (Figuras 5.1 e 5.2).

A análise estatística foi realizada por meio da média total dos resultados da primeira e da segunda avaliação, relacionados ao grau da perda auditiva. Com isso, os usuários de AASI, no fator de efeito positivo, tiveram uma melhora na pontuação com diferença estatisticamente significante nos graus moderado (p<0,05) e moderado-severo (p<0,05); nos graus leve-moderado, severo e profundo ocorreu uma melhora, porém sem relevância estatística (Figuras 5.1 e 5.2).

Na pontuação do fator negativo, relacionado ao grau da perda auditiva, as questões 2 e 7 necessitam ter diferença diminuída entre a primeira e a segunda avaliação para uma melhora no resultado, pois são questões relacionadas a incômodos derivados de sons e apitos do AASI. Na questão 11, a pontuação deve aumentar por estar relacionada ao uso do telefone com o AASI. Assim, no grau leve-moderado, apenas a questão 11 teve uma melhora; no moderado, as questões 2 e 7 tiveram prevalência; no grau moderado-severo, houve uma evolução em todas as questões; no grau severo, apenas a questão 1 teve diferença significante; e no grau profundo, houve uma prevalência apenas na questão 7 (Figura 6).

Figura 6:
Comparação entre as médias de pontuação da primeira e segunda aplicação do questionário, em relação ao fator negativo, de acordo com o grau de perda

As questões apresentarem diferenças na pontuação, por isso não foi possível realizar uma análise entre as médias da primeira e da segunda avaliação no Fator Negativo (Figura 6).

Nos resultados referentes à classificação do AASI, observou-se que no tipo A houve uma melhora em todas as questões relacionadas ao efeito positivo; no tipo B, apenas a questão 10 teve prevalência; já no tipo C, houve uma diferença significante nas questões 3, 5 e 10 (Figura 7).

Figura 7:
Comparação entre as médias de pontuação da primeira e segunda aplicação do questionário, em relação ao efeito positivo, de acordo com a classificação

Na análise estatística realizada, pôde-se observar, por meio da média total dos resultados da primeira e da segunda avaliação de cada classificação, que, no efeito positivo, os pacientes adaptados com AASI tipo A apresentam maior grau de satisfação, com diferença estatisticamente significante (p<0,05); já no AASI tipo B e C, houve uma melhora, mas não significante. Embora o AASI tipo A tivesse menos recursos tecnológicos, comparado com os outros dois, os pacientes que usavam este tipo de AASI foram os que apresentaram maior índice de satisfação. Os AASI tipo A são utilizados, frequentemente, em pacientes com perdas auditivas de grau mais elevado, o que pode justificar a satisfação (Figura 7).

Os resultados das questões 2 e 7 necessitam ter diferença diminuída entre a primeira e a segunda avaliação para uma melhora no resultado, pois são questões relativas a incômodos resultantes de sons e apitos do AASI e a Q11. A pontuação deve aumentar por ser uma questão relacionada ao uso do telefone com o AASI. Sendo assim, no AASI tipo A e C, todas as questões tiveram uma melhora; no AASI tipo B, apenas nas questões 2 e 7 houve evolução (Figura 8).

Figura 8:
Comparação entre as médias de pontuação da primeira e segunda aplicação do questionário, em relação ao fator negativo, de acordo com a classificação

Devido às questões terem diferenças na pontuação, não foi possível realizar uma análise entre as médias da primeira e da segunda avaliação do Fator Negativo (Figura 8).

Discussão

O questionário SADL7. Mondelli MFCG, Magalhães FF, Lauris JRP.Cultural Adaptation of the SADL (Satisfaction with Amplification in Daily Life) questionaire for Brazilian Portuguese. Rev. Brazilian Journal Otorhinolaryngol. 2011;77(5):563-72., de acordo com a literatura, é um questionário prático e de fácil entendimento. Contudo, constatou-se que possui alguns problemas em sua aplicação, como o uso de palavras de difícil entendimento para a população em geral, que necessitam da ajuda dos aplicadores para compreenderem a maioria das questões7. Mondelli MFCG, Magalhães FF, Lauris JRP.Cultural Adaptation of the SADL (Satisfaction with Amplification in Daily Life) questionaire for Brazilian Portuguese. Rev. Brazilian Journal Otorhinolaryngol. 2011;77(5):563-72..

Observou-se, na presente pesquisa, que houve certa relutância em expressar opiniões negativas ou críticas, talvez por medo de perder o direito ao atendimento ou do uso do AASI, fato já observado em outro estudo8. Laperuta EB, Fiorini AC. Satisfação dos idosos com os aparelhos de amplificação sonora nos primeiros seis meses de uso. J SocBrasFonoaudiol. 2012;24(4):316-21. 9. Armigliato ME, Prado DGA, Melo TM, Martinez MANS, Lopes AC, Amantini RCB, Bevilacqua MC. Avaliação de serviços de saúde auditiva sob a perspectiva do usuário: proposta de instrumento. RevSocBrasFonoaudiol. 2010;15(1):32-9..

Quanto à pontuação, os SADL7. Mondelli MFCG, Magalhães FF, Lauris JRP.Cultural Adaptation of the SADL (Satisfaction with Amplification in Daily Life) questionaire for Brazilian Portuguese. Rev. Brazilian Journal Otorhinolaryngol. 2011;77(5):563-72. são práticos, porém, nas análises, ocorreu dificuldade, pois o questionário apresenta marcação diferenciada, sendo que algumas questões precisam ter valores baixos para referir melhora no uso do AASI.

A pontuação do questionário deve ser mais clara, substituindo-se o uso de números, que vão de 1 a 7. Um estudo sugere que sejam usadas palavras como bom, muito bom, ótimo e regular para mostrar o grau de satisfação1010 . Danieli F, Castiquini EAT, Zambonatto TCF, Bevilacqua MC. Avaliação do nível de satisfação de usuários de aparelhos de amplificação sonora individuais dispensados pelo Sistema Único de Saúde. RevSocBrasFonoaudiol. 2011;16(2):152-9..

O sexo predominante dos pacientes avaliados foi o masculino (56%), como em outros estudos1010 . Danieli F, Castiquini EAT, Zambonatto TCF, Bevilacqua MC. Avaliação do nível de satisfação de usuários de aparelhos de amplificação sonora individuais dispensados pelo Sistema Único de Saúde. RevSocBrasFonoaudiol. 2011;16(2):152-9. 1111 . Carvalho JSA. Satisfação de idosos com Aparelhos Auditivos concedidos no Estado de Tocantins. Arq. Int. Otorrinolaringol. / Intl. Arch. Otorhinolaryngol, 2007;11(4):416-26.que pesquisaram a satisfação de usuários de próteses auditivas. A idade dos indivíduos avaliados se mostrou bastante diversificada e bem distribuída, de 17 a 84 anos (Figura 1).

Quanto ao tipo de perda auditiva, foi observada a prevalência do tipo de perda auditiva neurossensorial (84%), (6%) de mista e (10%) neurossensorial/mista (Figura1). Este dado corrobora pesquisa semelhante, em que 95% dos sujeitos apresentaram perda do tipo neurossensorial1111 . Carvalho JSA. Satisfação de idosos com Aparelhos Auditivos concedidos no Estado de Tocantins. Arq. Int. Otorrinolaringol. / Intl. Arch. Otorhinolaryngol, 2007;11(4):416-26..

Alguns estudos afirmaram que o tempo de intervalo entre a adaptação e a data da avaliação é uma das variáveis que parece influenciar os resultados dos métodos de autoavaliação. Muitos concluíram que o período de duas semanas após a adaptação do AASI é um tempo insuficiente para avaliar o resultado por meio do SADL1212 . De Almeirda K, Iorio MCM. Próteses auditivas: fundamentos teóricos e aplicações clínicas. 2ª ed. São Paulo: Editora Lovise; 2003.. No presente estudo, usou-se um intervalo de 30 dias entre as aplicações, o que já ocorreu em outras pesquisas8. Laperuta EB, Fiorini AC. Satisfação dos idosos com os aparelhos de amplificação sonora nos primeiros seis meses de uso. J SocBrasFonoaudiol. 2012;24(4):316-21. 1313 . Farias RB, Russo ICP. Saúde auditiva: estudo do grau de satisfação de usuários de aparelho de amplificação sonora individual. RevSocBrasFonoaudiol. 2010;15(1):26-31. 1414 . Veiga LR, Merlo ARC, MengueSS. Satisfação com a prótese auditiva na vida diária em usuários do sistema de saúde do exército. RevBrasOtorrinolaringol. 2005;71(1):67-73..

Na presente pesquisa, foi observado que o Efeito Positivo foi o fator que teve diferença significante entre a análise dos resultados da primeira e da segunda avaliação no uso da prótese auditiva. Em outra pesquisa, também se observou que os efeitos positivos aumentaram após os três primeiros meses de uso, ou seja, três meses de uso de AASI foram suficientes para aumentar o escore dos efeitos positivos, e esse resultado se manteve após seis meses8. Laperuta EB, Fiorini AC. Satisfação dos idosos com os aparelhos de amplificação sonora nos primeiros seis meses de uso. J SocBrasFonoaudiol. 2012;24(4):316-21..

Na pesquisa com o questionário IOI-HA (Internacional OutcomeInventory for Hearing Aids)1515 . Teixeira CF, Augusto LGS, Caldas Neto SS.Prótese Auditiva: satisfação do usuário com sua prótese e com seu meio ambiente. Rev CEFAC. 2008;10(2):245-53., os resultados mostraram maior grau de satisfação de uma amostra com predominância de indivíduos mais velhos (63,67%), com idades acima de 60 anos, já aposentados e com pouca expectativa de qualidade de vida1515 . Teixeira CF, Augusto LGS, Caldas Neto SS.Prótese Auditiva: satisfação do usuário com sua prótese e com seu meio ambiente. Rev CEFAC. 2008;10(2):245-53.. Na presente pesquisa, também foi observado que a faixa etária acima de 60 anos apresentou um grau de satisfação estatisticamente significante (p<0,05), no efeito positivo (Figura 1).

Quanto às características de grau de perda auditiva, 38% dos sujeitos apresentaram grau moderado e 32%, moderadamente-severo, que tiveram uma melhora significante no efeito positivo, moderado e moderadamente-severo (Figura 6.1). É possível comparar ao estudo que encontrou 90% dos sujeitos que apresentaram média tonal de grau normal, leve ou moderado. Provavelmente, isso tenha favorecido os bons resultados de satisfação obtidos, visto que o desempenho do AASI é pior em casos de perdas auditivas mais graves1111 . Carvalho JSA. Satisfação de idosos com Aparelhos Auditivos concedidos no Estado de Tocantins. Arq. Int. Otorrinolaringol. / Intl. Arch. Otorhinolaryngol, 2007;11(4):416-26..

Na subescala fator negativo, há uma questão do uso de telefone, na qual foi possível observar que a maioria dos usuários de AASI da pesquisa se mostraram insatisfeitos com o uso do mesmo, pois referiram muita dificuldade ou não usaram o telefone juntamente com o uso do AASI. Tais resultados foram encontrados também em outros estudos1111 . Carvalho JSA. Satisfação de idosos com Aparelhos Auditivos concedidos no Estado de Tocantins. Arq. Int. Otorrinolaringol. / Intl. Arch. Otorhinolaryngol, 2007;11(4):416-26. 1414 . Veiga LR, Merlo ARC, MengueSS. Satisfação com a prótese auditiva na vida diária em usuários do sistema de saúde do exército. RevBrasOtorrinolaringol. 2005;71(1):67-73..

A presente pesquisa constatou um alto índice de satisfação no fator imagem pessoal. Os usuários mostram-se contentes e sentem-se mais capazes de usarem o AASI, dado este também já verificado em outro estudo1616 . Lessa AH, Costa MJ, Becker KT, VaucherAVA. Satisfação de usuários de próteses auditivas, com perda auditiva de graus severo e profundo. Arq. Int. Otorrinolaringol. / Intl. Arch. Otorhinolaryngol. 2010;14(3):338-45..

Em estudo1515 . Teixeira CF, Augusto LGS, Caldas Neto SS.Prótese Auditiva: satisfação do usuário com sua prótese e com seu meio ambiente. Rev CEFAC. 2008;10(2):245-53. que avaliou o grau de dificuldade encontrado com o uso da amplificação, os autores observaram que 22 indivíduos, que referiram ainda ter dificuldades na adaptação do AASI, a tecnologia da prótese auditiva parece não ter influenciado na resposta (50% analógica e 50% digital programável)1515 . Teixeira CF, Augusto LGS, Caldas Neto SS.Prótese Auditiva: satisfação do usuário com sua prótese e com seu meio ambiente. Rev CEFAC. 2008;10(2):245-53.. Pode-se comparar ao presente estudo, em que houve uma melhor satisfação no tipo A de AASI, que se refere ao aparelho com menos tecnologia (Figura 7).

Conclusão

Foi observada uma satisfação nos usuários de AASI entre a primeira e a segunda avaliação. Houve uma melhora nos resultados em todas as subescalas da pesquisa, embora não sendo necessariamente em todas variáveis. O efeito positivo foi o aspecto que apresentou maiores números de satisfação na faixa etária, grau de perda auditiva e na classificação de AASI.

Conclui-se que o tempo de adaptação (ou uso) do AASI colabora na satisfação dos usuários em todas as subescalas da pesquisa.

Referências

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    Albernaz PLM. Quem ouve bem, vive melhor: um livro para pessoas com problemas de audição e seus familiares. 1ª ed. São Paulo: MG editores; 2008.
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    Campos CAH, Russo ICP, Almeida K. Indicação, seleção e adaptação de próteses auditivas: princípios gerais. In: Almeirda K, Iorio MCM. Próteses auditivas: fundamentos teóricos e aplicações clínicas. 2ª ed. São Paulo: Editora Lovise; 2003. P.35-54.
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Anexo 1

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    Ago 2015

Histórico

  • Recebido
    09 Set 2014
  • Aceito
    05 Jan 2015
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