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Extensão média do enunciado-palavras em crianças de 4 e 5 anos com desenvolvimento típico da linguagem

Resumo:

OBJETIVO:

analisar a Extensão Média do Enunciado-palavras (EME-p) em crianças entre os 4;00 e os 5;05.

MÉTODOS:

foram observadas 92 crianças portuguesas com desenvolvimento típico: 49 meninas e 43 meninos, divididas em grupos etários com 6 meses de intervalo. Foi recolhida para cada criança uma amostra de 100 enunciados produzidos em discurso espontâneo. Os enunciados foram transcritos e analisados.

RESULTADOS:

a EME-p variou de 4,5 a 5 palavras, aumentando com a idade. Esta progressão foi verificada anteriormente em crianças falantes de Inglês dos EUA e de Português do Brasil, embora no Português Europeu o número de palavras seja, no geral, um pouco superior. O desempenho de meninos e meninas foi idêntico. A escolaridade dos pais mostrou ter alguma influência, mas não em todos os grupos etários. Os resultados mostraram uma correlação positiva e significante com um teste formal de linguagem, tanto na compreensão, como na expressão.

CONCLUSÃO:

a EME-p é uma boa medida de desenvolvimento da linguagem até aos 5 anos. Os valores encontrados podem servir como referência normativa relativamente às crianças portuguesas, mas também em estudos comparativos sobre o desenvolvimento da linguagem espontânea.

Descritores:
Linguagem; Desenvolvimento; Criança; Avaliação

Abstract:

PURPOSE:

to analyze the Mean Length of Utterance-words (MLU-w) in children aged 4;00-5;05 years.

METHODS:

ninety two Portuguese children with normal development were observed: 49 girls and 43 boys, divided in age range groups of six months. A sample of 100 utterances produced in spontaneous discourse was collected from each child. The utterances were transcribed and analyzed.

RESULTS:

MLU-w was shown to vary between 4,5 to 5 words, progressing with age. This progression had been previously observed in US English and in Brazilian Portuguese speaking children, although in European Portuguese the number of words is overall a little higher. Both boys and girls performed similarly. Years of parents formal education showed some influence, but not in all age groups. Results showed a positive and significant correlation with a formal test for language assessment, both in comprehension as in language production.

CONCLUSION:

the MLU-w is a good measure of language development up to 5 years. The values found can serve as a normative reference for Portuguese children, but also in comparative studies on the development of spontaneous language.

Keywords:
Language; Development; Children; Evaluation

Introdução

O uso de testes de avaliação de linguagem em crianças, apesar de interessante para o diagnóstico, não exclui a necessidade de compreender melhor o desempenho linguístico da criança num contexto natural. A recolha de amostras de discurso espontâneo torna-se importante, pois estas estão mais perto do ambiente quotidiano e da experiência da criança, ou seja, dos seus hábitos de comunicação, rotinas e parceiros. Vários autores apoiam este tipo de avaliação, uma vez que boa parte da pesquisa linguística envolve valores e dados qualitativos longitudinais, em que o processo de aquisição e desenvolvimento da linguagem é monitorizado considerando certos padrões que se desdobram e mudam através do tempo1. Gries ST, Stol S. Finding developmental groups in acquisition data: variability based neighbor clustering. Journal of Quantitative Linguistics. 2009;16:217-42.. Por outro lado, muitas críticas têm sido levantadas ao processo formal de avaliação em favor de uma observação naturalística2. Parker MD, Brorson, K. A comparative study between mean length of utterance in morphemes (MLUm) and mean length of utterance in words (MLUw). First Language. 2005;25:365-76. 3. Roy D. New horizons in the study of child language acquisition. Proceedings of INTERSPEECH 2009, 10th Annual Conference of the International Speech Communication Association, September 6-10; Brighton, United Kingdom; 2009.. Esta aproxima-se mais do comportamento linguístico da criança no seu dia-a-dia e permite observar o uso da linguagem em diferentes contextos4. Eisenbeiss S. Production methods in language acquisition research. In: Blom E, Unsworth S, editors. Experimental methods in language acquisition research. Amsterdam: John Benjamins Publishing Company; 2010. P. 11-34..

Apesar das vantagens na utilização de amostras de discurso espontâneo sobre os testes formais existem limitações, nomeadamente a forma como decorreu o processo de recolha e o número de enunciados recolhidos e analisados5. Rice ML, Redmond SM, Hoffman, L. Mean Length of Utterance in children with Specific Language Impairment and in younger control children shows current validity and stable and parallel growth trajectories. Journal of Speech, Language, and Hearing Research. 2006;49:793-808.. Devido a estas dificuldades, alguns autores têm-se dedicado à otimização deste processo, propondo diversas estratégias. O primeiro passo para a análise da produção linguística da criança é a obtenção fidedigna destas produções, devendo a interação comunicativa ser conduzida de modo a que a amostra resultante seja representativa da produção normal da criança, ou seja, descreva a sua produção linguística usual, incluindo linguagem que possa ser um pouco inferior ou um pouco superior à sua performance comum6. Retherford, KS. Guide to analysis of language transcripts. 3rd edition. Eau Claire, WI: Thinking Publications; 2000.. Já nas décadas de 70 e 80, foi chamada a atenção para os materiais a usar na elicitação do discurso espontâneo, os diferentes contextos onde pode ser recolhido, a sua forma de registo ou a dimensão da amostra7. Brown R. A first language: the early stages. Cambridge, MA: Harvard University Press; 1973. 8. Miller JF. Assessing language production in children. Baltimore, MD: University Park Press; 1981.. Relativamente a este último aspecto Brown7. Brown R. A first language: the early stages. Cambridge, MA: Harvard University Press; 1973.defendia que uma amostra de 100 enunciados seria suficiente. Outros autores têm sugerido amostras maiores e menores, sendo uma alternativa a determinação de um período de tempo 30 minutos, por exemplo, independentemente de quantas produções ocorram nesse período6. Retherford, KS. Guide to analysis of language transcripts. 3rd edition. Eau Claire, WI: Thinking Publications; 2000.. Geralmente, estes 30 minutos são suficientes para obter entre 100 a 200 enunciados para crianças com idades acima dos dois anos8. Miller JF. Assessing language production in children. Baltimore, MD: University Park Press; 1981..

Extensão Média do Enunciado

A extensão média do enunciado (EME) é uma das medidas de linguagem que pode ser obtida através do discurso espontâneo e que tem como principal objetivo a obtenção de dados acerca dos aspetos morfológicos e sintáticos da linguagem das crianças com desenvolvimento típico ou com perturbação da linguagem2. Parker MD, Brorson, K. A comparative study between mean length of utterance in morphemes (MLUm) and mean length of utterance in words (MLUw). First Language. 2005;25:365-76. 7. Brown R. A first language: the early stages. Cambridge, MA: Harvard University Press; 1973. 9. Hickey T. Mean length of utterance and the acquisition of Irish. Journal of Child Language. 1991;18:553-69.. Este conceito derivou do conceito de extensão média de resposta, de Margaret Nice1010 . Nice MM. Length of sentences as a criterion of a child's progress in speech. Journal of Education Psychology. 1925;16:370-9., que já em 1925 considerava que o comprimento das frases deveria ser um dos critérios mais importantes para avaliar o progresso linguístico, sendo assim um marcador de maturação linguística. Atualmente a extensão média do enunciado em palavras (EME-p) tem vindo a ser considerada muito útil, mantendo-se a sua fórmula de cálculo igual à original: número total de palavras a dividir pelo número total de enunciados produzidos2. Parker MD, Brorson, K. A comparative study between mean length of utterance in morphemes (MLUm) and mean length of utterance in words (MLUw). First Language. 2005;25:365-76..

Após a publicação dos estudos de Brown7. Brown R. A first language: the early stages. Cambridge, MA: Harvard University Press; 1973. as medidas de extensão de enunciados produzidos por crianças ganharam popularidade entre os investigadores. A extensão média do enunciado em morfemas (EME-m) proposta por Brown é menos utilizada do que a EME-p porque esta última é mais fácil de analisar4. Eisenbeiss S. Production methods in language acquisition research. In: Blom E, Unsworth S, editors. Experimental methods in language acquisition research. Amsterdam: John Benjamins Publishing Company; 2010. P. 11-34. 1111 . Eisenberg SL, Fersko TM, Undgreen C. The use of MLU for identifying impairment in preschool children: a review. American Journal of Speech-Language Pathology. 2001;10:323-42. e, embora as duas medidas foquem aspetos linguísticos diferentes, foram observadas correlações elevadas entre elas1212 . Arif H, Bol GW. Counting MLU in morphemes and MLU in words in a normally developing child and child with language disorder: a comparative study. Dhaka University Journal of Linguistics. 2008;1:167-82. 1313 . Oosthuizen H, Southwood, F. Methodological issues in the calculation of mean length of utterance. South African Journal of Communication Disorders. 2009;56:76-87., o que levou muitos investigadores a preferir a EME-p por ser de mais fácil análise. Alguns autores sugerem que a EME-p seja utilizada, principalmente, quando se pretende realizar estudos comparativos entre línguas, uma vez que a contagem de palavras minimiza as diferenças morfológicas que podem interferir no seu cálculo1414 . Gutiérrez-Clellen VF, Restrepo MA, Peña LB, Anderson R. Language sample analysis in Spanish speaking children: methodological consideration. Journal of Language, Speech, and Hearing Services in Schools. 2000;31:88-98.. Independentemente da variante utilizada, parece existir um patamar por volta dos 5 anos em que a EME estabiliza1515 . Bol GW. Optimal subjects in Dutch child language. In: Koster C, Wijnen F, editors. Proceeding of the Groningen assembly on language acquisition. Groningen: Center for Language and Cognition; 1996. P. 125-33. ou tem mesmo um declive1616 . Klee T. Developmental and diagnostic characteristics of quantitative measures of children's language production. Topics in Language Disorders. 1992;12:28-41., desaparecendo a correlação existente entre idade e EME1717 .Wieczorek R. Using MLU to study early language development in English. Psychology of Language and Communication. 2010;14:59-69., pois as diferenças nos enunciados já não são ao nível da sua extensão, mas sim da sua complexidade1818 . Blake J, Quartaro G, Onorati S. Evaluating quantitative measures of grammatical complexity in spontaneous speech samples. Journal of Child Language. 1993;20:139-52..

Apesar da maioria dos estudos não fazer distinção entre géneros, é uma questão importante de analisar visto que ao nível do desenvolvimento da linguagem, alguns resultados referem que os meninos começam a produzir as primeiras palavras e frases mais tarde do que as meninas e que, mesmo ao nível da utilização de pequenos e simples gestos, as meninas começam mais cedo1919 . Özçaliskan S, Goldin-Meadow S. Sex differences in language first appear in gesture. Developmental Science. 2010;13:752-60.. Além disso, há estudos que mostram que as meninas têm um vocabulário mais completo e usam uma maior variedade de frases na sua comunicação mais inicial2020 . Ramer ALH. Syntactic styles in emerging language. Journal of Child Language. 1976;3:49-62.. Em idades escolares, as meninas também parecem ter mais sucesso em todas as competências verbais que os meninos2121 . Davies A. An introduction to applied Linguistics - from practice to theory. 2nd edition. Edinburgh: Edinburgh textbooks in applied Linguistics; 2007.. Relativamente à EME não são normalmente observadas diferenças de género2222 . Klee T, Stokes SF, Wong AMY, Fletcher P, Gavin WJ. Utterance length and lexical diversity in Cantonese-speaking children with and without specific language impairment. Journal of Speech, Language and Hearing Research. 2004;47:1396-410., embora haja alguns resultados discordantes, indicando melhor performance das meninas, mas apenas até por volta dos 3 ou 4 anos de idade2323 . Jackson SC, Roberts JE. Complex syntax production of African American preschoolers. Journal of Speech, Language, and Hearing Research. 2001; 4:1083-96. 2424 . Tse SK, Chan C, Kwong SM, Li H. Sex differences in syntactic development: evidence from Cantonese-speaking preschoolers in Hong-Kong. International Journal of Behavioral Development. 2002;26:509-17. 2525 . Le Normand M-T, Parisse C, Cohen H. Lexical diversity and productivity in French preschoolers. Clinical Linguistics and Phonetics. 2008;22:47-58..

Outro fator que interessa analisar é a possível interferência do nível sociocultural de origem das crianças, mas os resultados têm sido controversos, dependendo muito das metodologias usadas, incluindo as idades das crianças em estudo e o que se considera como indicador do nível sociocultural. Vários autores observaram uma forte influência desta variável mostrando que as crianças oriundas de nível alto produziam enunciados mais complexos2525 . Le Normand M-T, Parisse C, Cohen H. Lexical diversity and productivity in French preschoolers. Clinical Linguistics and Phonetics. 2008;22:47-58. 2626 . Bornstein MH, Hahn CS, Haynes OM. Specific and general language performance across early childhood: stability and gender consideration. First Language. 2004;24:267-304. 2727 . Walker D, Greenwood C, Hart B, Carta J. Prediction of school outcomes based on early language production and socioeconomic factors. Children and Poverty. 1994;65:606-21.; o mesmo também foi constatado relativamente à escolaridade das mães3. Roy D. New horizons in the study of child language acquisition. Proceedings of INTERSPEECH 2009, 10th Annual Conference of the International Speech Communication Association, September 6-10; Brighton, United Kingdom; 2009.. Contudo, noutros estudos não foram encontradas relações significantes entre a EME-p e a escolaridade das mães, quer em crianças muito pequenas, cerca de 2 anos2828 . Hoff E. The specificity of environmental influence: socioeconomic status affects early vocabulary development via maternal speech. Child Development. 2003;74:1368-78., quer em crianças mais velhas, até aos 9 anos9. Hickey T. Mean length of utterance and the acquisition of Irish. Journal of Child Language. 1991;18:553-69. 2929 . Rice ML, Smolik F, Perpich D, Thompson T, Rytting N, Blossom M. Mean Length of Utterance levels in 6-month intervals for children 3 to 9 years with and without language impairments. Journal of Speech, Language, and Hearing Research. 2010;53:333-49..

Apesar da evidência da elevada qualidade da EME para a identificação e avaliação das produções efetuadas por crianças de língua inglesa e dos diversos estudos realizados noutras línguas, não existem análises relativas ao Português Europeu. No entanto, ao nível do Português do Brasil já foram realizados estudos3030 . Araujo K, Befi-Lopes DM. Extensão média do enunciado de crianças entre 2 e 4 anos de idade: diferenças no uso de palavras e morfemas. Revista da Sociedade Brasileira de Fonoaudiologia. 2004;9:156-63.que descrevem um aumento significante dos valores de EME-m e de EME-p com a idade, em crianças com desenvolvimento típico, entre os 2 e os 4 anos. A Tabela 1 mostra os valores médios de EME em dois estudos: um em Português do Brasil3030 . Araujo K, Befi-Lopes DM. Extensão média do enunciado de crianças entre 2 e 4 anos de idade: diferenças no uso de palavras e morfemas. Revista da Sociedade Brasileira de Fonoaudiologia. 2004;9:156-63. e outro em Inglês americano2929 . Rice ML, Smolik F, Perpich D, Thompson T, Rytting N, Blossom M. Mean Length of Utterance levels in 6-month intervals for children 3 to 9 years with and without language impairments. Journal of Speech, Language, and Hearing Research. 2010;53:333-49. relativamente a crianças com desenvolvimento típico. Verifica-se alguma disparidade tanto para a EME-p como para a EME-m.

Tabela 1:
Valores médios de EME-p e de EME-m para crianças brasileiras (PB) e crianças americanas (I) com desenvolvimento típico

O principal objetivo do presente trabalho é estabelecer valores padrão de EME-p para crianças portuguesas dos 4;0 aos 5;05, divididas em faixas etárias de 6 meses, de modo a que esses valores possam servir de indicadores de desenvolvimento da linguagem. Pretende-se ainda verificar se existem diferenças dependentes do género e se a escolaridade dos pais está relacionada com a EME-p.

Métodos

Participantes

A amostra incluiu 92 crianças dos 4 aos 5 anos e meio, 43 meninos e 49 meninas, divididas em três grupos etários com 6 meses de intervalo (Tabela 2). Os dados foram recolhidos entre Janeiro e Maio 2012 em jardins de infância da região de Lisboa. A selecção dos jardins de infância foi feita de forma aleatória, tendo sido incluídas todas as instituições que responderam positivamente ao pedido de colaboração. Dentro de cada instituição foram integradas no estudo todas as crianças cujos pais deram a sua autorização por escrito e que correspondiam aos seguintes critérios de inclusão: terem Português Europeu como língua materna; terem obtido um resultado na avaliação formal da linguagem dentro dos valores esperados para a idade e não terem sido seguidos em Fonoaudiologia. Foram observadas 116 crianças e excluídas 24 por não cumprirem todos estes critérios.

Tabela 2:
Número e género dos participantes por grupo etário

Considerando a possível influência do nível de escolaridade dos pais, esta variável foi controlada. Utilizou-se como medida o número de anos de escolaridade do pai ou da mãe, a que fosse mais elevada. A amostra mostrou uma variação entre os 4 anos de escolaridade e o ensino superior (Tabela 3).

Tabela 3:
Escolaridade dos pais por grupo etário

Procedimentos

Todas as crianças foram avaliadas através de um teste português de desenvolvimento da linguagem, dirigido a crianças dos 2 anos e meio aos 6 anos de idade3131 . Sua-Kay E, Tavares MD. Teste de avaliação da linguagem na criança - TALC. Lisboa: Oficina Didáctica; 2008. (TALC). Este teste engloba tarefas relativas a Compreensão [Vocabulário (identificação de objetos e de imagens); Relações Semânticas (relações de duas e três palavras de conteúdo) e Frases complexas] e a Expressão [Vocabulário (nomeação de objetos e de imagens); Definição de Conceitos; Frases Absurdas - reconhecer e justificar; Constituintes Morfossintáticos e Pragmática (intenções comunicativas)]. Só foram incluídas no estudo as crianças cujos valores na avaliação se situassem dentro da média esperada para a respetiva idade (entre -1 e +1 DP).

De forma a elicitar o discurso espontâneo foi usada metodologia e materiais idênticos ao referido num estudo recente2929 . Rice ML, Smolik F, Perpich D, Thompson T, Rytting N, Blossom M. Mean Length of Utterance levels in 6-month intervals for children 3 to 9 years with and without language impairments. Journal of Speech, Language, and Hearing Research. 2010;53:333-49.. As amostras de conversação foram recolhidas por três das autoras do presente trabalho, previamente treinadas na recolha dos dados, utilizando um conjunto de brinquedos apropriados à idade para elicitar diferentes formas gramaticais e tipos de frases, como objetos utilizados em casa e animais. Os observadores interagiam com as crianças num contexto lúdico, evitando o domínio das interacções verbais, as respostas "sim/não" e as perguntas.

As amostras de discurso foram recolhidas em salas tranquilas, nas escolas que as crianças frequentavam, e foram registadas com um gravador Olympus WS-650S, escolhido pelas suas características de redução do ruído e boa captação de som a 50 cm de distância. Cada observadora ia à sala buscar a criança, interagindo com ela cerca de 5 minutos, durante o percurso para a sala onde era feita a avaliação. Este procedimento destinava-se a deixar a criança mais à vontade antes do início da recolha da amostra do seu discurso espontâneo. A interacção com a criança demorava cerca de 20 a 30 minutos e tinha como objetivo obter um mínimo de 100 enunciados válidos. A recolha da amostra de discurso de cada criança foi feita numa única sessão.

As amostras foram transcritas e codificadas pelas observadoras utilizando o software ELAN (EUDICO Annotator linguísticas), uma ferramenta de anotação criada no Instituto Max Planck de Psicolinguística (http://www.lat-mpi.eu/tools/elan).

Para efeitos da análise, foram consideradas os primeiros 100 enunciados de cada criança, seguindo o critério de Brown7. Brown R. A first language: the early stages. Cambridge, MA: Harvard University Press; 1973.. Os critérios estabelecidos para contagem dos enunciados e das palavras foram os seguintes:

  1. Segmentação dos enunciados: considerou-se que o enunciado é delimitado pela sua curva entoacional3232 . Lund NJ, Duchan JF. Assessing children's language in naturalistic contexts. New Jersey: Prentice Hall; 1993. 3333 . Miller JF, Chapman RS. Systematic analysis of language transcripts [Computer software]. Madison: University of Wisconsin; 1991.; a utilização da expressão "e depois" ("e depois" bengala linguística utilizada com regularidade pelas crianças portuguesas) foi considerada como dividindo enunciados, sendo um marcador para o início do enunciado seguinte; foram contabilizados todos os enunciados, mesmo que tivessem erros morfossintáticos, pois estes são comuns nas faixas etárias estudadas; os enunciados repetidos exatamente da mesma forma foram contabilizados apenas uma vez7. Brown R. A first language: the early stages. Cambridge, MA: Harvard University Press; 1973.; não foram contabilizadas músicas, enumerações, contagens e palavras isoladas3232 . Lund NJ, Duchan JF. Assessing children's language in naturalistic contexts. New Jersey: Prentice Hall; 1993.; foram ainda excluídos os enunciados resultantes de imitações produzidas imediatamente após a sua utilização pela observadora, os que não se percebessem devido à existência de palavras ininteligíveis, os enunciados parciais, resultantes por exemplo de mudança do foco da atenção da criança, falsos começos e reformulações (contou apenas a última formulação), marcadores de discurso (oh, ah...) não integrados no significado do enunciado e palavras isoladas3232 . Lund NJ, Duchan JF. Assessing children's language in naturalistic contexts. New Jersey: Prentice Hall; 1993..

  2. Contagem de palavras: foi definida "palavra" como qualquer sequência semanticamente interpretável e delimitada por espaços em branco ou sinais de pontuação3434 . Villalva A. Morfologia do Português. Lisboa: Universidade Aberta; 2008.; a palavra foi contabilizada apenas uma vez, na forma em que foi produzida mais completa, com exceção dos casos em que a repetição teve por objetivo enfatizar uma ideia7. Brown R. A first language: the early stages. Cambridge, MA: Harvard University Press; 1973.; as contrações foram contabilizadas como uma palavra1717 .Wieczorek R. Using MLU to study early language development in English. Psychology of Language and Communication. 2010;14:59-69.; os clíticos, as palavras compostas, as combinatórias cristalizadas (ex. David Beckham; Central Park) e as palavras onomatopaicas foram contabilizadas como uma palavra; palavras ininteligíveis não foram contabilizadas1717 .Wieczorek R. Using MLU to study early language development in English. Psychology of Language and Communication. 2010;14:59-69.; os auxiliares de discurso como exclamações não foram contabilizados7. Brown R. A first language: the early stages. Cambridge, MA: Harvard University Press; 1973..

Os observadores tiveram treino prévio para transcrição, contagem dos enunciados válidos e das palavras. Cada um transcreveu os enunciados e esta transcrição foi verificada pelos outros dois observadores e também por dois investigadores com experiência. Este procedimento decorreu até ao final do trabalho, com os desacordos resolvidos através de consenso.

Resultados

Foi calculada a EME-p de cada criança, utilizando-se em cada grupo etário de 3 000 a 3 200 enunciados para análise. Verificou-se que entre os 4 e os 5 anos e meio a EME-p varia em média entre as 4,5 e as 5 palavras, verificando-se um aumento progressivo nos três grupos de idade (Tabela 4.). Uma vez que a EME-p tinha uma distribuição normal nos três grupos foi usado o teste estatístico ANOVA oneway que mostra diferenças significantes entre eles (F(2)= 7.72, p= .001), mas o post hoc test Scheffé indica que as diferenças são apenas entre o primeiro grupo e o segundo grupo dos 4 anos (p= .037) e entre o primeiro grupo e o das crianças mais velhas (p= .001). Não há diferenças entre o segundo e o terceiro grupos (p= .49).

Tabela 4:
Resultados num teste de linguagem formal (compreensão e expressão), valores médios de EME-p e respetiva distribuição percentílica

Comparativamente com os valores obtidos por Rice e colaboradores2929 . Rice ML, Smolik F, Perpich D, Thompson T, Rytting N, Blossom M. Mean Length of Utterance levels in 6-month intervals for children 3 to 9 years with and without language impairments. Journal of Speech, Language, and Hearing Research. 2010;53:333-49., verifica-se exatamente a mesma progressão da EME-p nas três faixas etárias, com maior diferença entre a primeira e a segunda faixa dos 4 anos (Figura 1). Em Português Europeu os enunciados são um pouco mais extensos em todas as faixas etárias. Não foi possível comparar com os valores do Português do Brasil3030 . Araujo K, Befi-Lopes DM. Extensão média do enunciado de crianças entre 2 e 4 anos de idade: diferenças no uso de palavras e morfemas. Revista da Sociedade Brasileira de Fonoaudiologia. 2004;9:156-63., pois os grupos etários são diferentes.

Figura 1:
Valores de EME-p em Inglês (EUA) e em Português Europeu, por grupo etário

Analisados os resultados obtidos por meninos e meninas através do test t de Student para amostras independentes, verificou-se que não havia diferenças entre eles (Média meninos: 4.88 ± .69; Média meninas: 4.78 ± .64; t(90)= .755, p= .45).

Na amostra geral, a escolaridade dos pais mostrou correlação significante com o EME-p (Pearson r= .289, p= .005), o mesmo se verificou quando foi analisada apenas a escolaridade da mãe (Pearson r= .292, p= .005). No entanto, quando os dados foram analisados por grupo de idade apenas o grupo intermédio dos 4;06 aos 5;0 apresentava correlação forte, positiva e significante (Pearson r= .753, p= .000). No grupo das crianças mais jovens a relação não era significante (Pearson r= .179, p= .34), bem como no grupo das crianças mais velhas (Pearson r= -.125, p= .50).

Verificou-se ainda uma correlação positiva e significante entre os resultados obtidos na EME-p e os valores no teste de desenvolvimento da linguagem (TALC), tanto para os valores totais deste teste (Pearson r= .33, p= .001), como para os domínios da compreensão (Pearson r= .287, p= .006) e da produção da linguagem (Pearson r= .286, p= .006).

Discussão

Os dados apresentados constituem o primeiro estudo sobre EME-p para o Português Europeu, abrangendo a faixa etária dos 4;0 aos 5;05. A média obtida para os três grupos, divididos em 6 meses de intervalo, diferem das já obtidas para o Inglês Americano2929 . Rice ML, Smolik F, Perpich D, Thompson T, Rytting N, Blossom M. Mean Length of Utterance levels in 6-month intervals for children 3 to 9 years with and without language impairments. Journal of Speech, Language, and Hearing Research. 2010;53:333-49. sendo para o Português Europeu ligeiramente superiores, como seria de esperar, em resultado das diferenças morfossintáticas entre as duas línguas. Também diferem dos valores encontrados para o Português do Brasil3030 . Araujo K, Befi-Lopes DM. Extensão média do enunciado de crianças entre 2 e 4 anos de idade: diferenças no uso de palavras e morfemas. Revista da Sociedade Brasileira de Fonoaudiologia. 2004;9:156-63., contudo esta comparação é difícil de efetuar, pois os intervalos de idade não são iguais. De qualquer forma os valores obtidos no Brasil são bastante inferiores aos obtidos no grupo de crianças com 4 anos, o que poderá ser devido também a diferenças de metodologia. No estudo brasileiro os critérios utilizados para segmentação dos enunciados e para a contagem das palavras não são descritos em pormenor. Assim, os valores resultantes podem não ser comparáveis com os valores obtidos no nosso estudo.

Tendo em conta as caraterísticas específicas das línguas e/ou das suas variantes é possível compreender as diferenças verificadas. O fato de ter-se obtido médias de EME-p mais elevadas pode ser documentado com os exemplos abaixo, mostrando como a utilização do gerúndio no Inglês e no Português do Brasil, reduz o número de palavras do enunciado ou que a menor utilização de determinantes em Inglês também faz reduzir esse número.

  • Inglês: He told me (that) Ana is eating (6 / 7 words)

  • P. Brasil: Ele me disse que a Ana está comendo (8 words)

  • P. Europeu: Ele disse-me que a Ana está a comer (9 words)

Além do seu interesse específico para a análise da evolução de cada língua e de aplicações clínicas, os estudos disponíveis em vários países tendem a mostrar uma certa universalidade do número de palavras por enunciado quando uma metodologia semelhante é usada na análise. Por exemplo, na primeira metade do grupo de quatro anos de idade pode ser observada uma variação média de apenas 0,39 entre o Inglês Americano (4.10) e o Português Europeu (4.49).

Estudos destinados a avaliar a EME são relativamente escassos, devido à sua própria dificuldade, pois exigem grandes amostras e critérios de análise rigorosos. Qualquer diferença metodológica influenciará os resultados e os valores obtidos através de contextos e de métodos de elicitação distintos poderão não ser comparáveis3535 . Heilmann JJ. Myths and realities of language sample analysis. Perspectives on Language Learning and Education. 2010;17:4-8.. Esta diferença impede a realização de análises comparativas entre línguas e até dentro da mesma língua, quando se pretende estudar, por exemplo, um largo período de desenvolvimento da linguagem.

Relativamente à influência do género nos valores de EME-p, não foram encontradas diferenças estatisticamente significantes entre meninos e meninas. Este resultado é idêntico ao já constatado por outros autores que analisaram a EME em crianças chinesas dos 2;03 aos 5;08 anos2222 . Klee T, Stokes SF, Wong AMY, Fletcher P, Gavin WJ. Utterance length and lexical diversity in Cantonese-speaking children with and without specific language impairment. Journal of Speech, Language and Hearing Research. 2004;47:1396-410., em crianças francesas após os três anos de idade2525 . Le Normand M-T, Parisse C, Cohen H. Lexical diversity and productivity in French preschoolers. Clinical Linguistics and Phonetics. 2008;22:47-58. e em crianças americanas mais velhas dos 6;03 aos 15;023636 . McEwen S. Learning to speak like girls and boys: a developmental study in gender and narrative style. Language, Information and Computation. 1996;11:449-58.. As diferenças de género parecem existir apenas até aos 3 e 4 anos de idade, com as meninas a apresentarem valores de EME-p mais elevados e a produzirem formas sintáticas mais complexas2323 . Jackson SC, Roberts JE. Complex syntax production of African American preschoolers. Journal of Speech, Language, and Hearing Research. 2001; 4:1083-96. 2525 . Le Normand M-T, Parisse C, Cohen H. Lexical diversity and productivity in French preschoolers. Clinical Linguistics and Phonetics. 2008;22:47-58.. Assim, apesar da discrepância existente, provavelmente também dependente das diferenças de metodologia, é possível defender que por volta dos 4 anos de idade o desenvolvimento sintático atingiu já alguma estabilidade, dissipando as diferenças entre géneros que existirão até cerca dessa idade.

O nível de escolaridade dos pais mostrou influenciar a EME-p na amostra total. Estes resultados são concordantes com os de outros autores2525 . Le Normand M-T, Parisse C, Cohen H. Lexical diversity and productivity in French preschoolers. Clinical Linguistics and Phonetics. 2008;22:47-58. 2727 . Walker D, Greenwood C, Hart B, Carta J. Prediction of school outcomes based on early language production and socioeconomic factors. Children and Poverty. 1994;65:606-21. que observaram uma forte influência desta variável, de tal forma que as crianças que provinham de meios socioculturais mais altos apresentavam produções orais mais complexas e um desenvolvimento linguístico mais avançado do que crianças de níveis socioeconómicos mais baixos. No entanto, outros autores não têm constatado relação com o meio de origem das crianças, como por exemplo Rice e colaboradores5. Rice ML, Redmond SM, Hoffman, L. Mean Length of Utterance in children with Specific Language Impairment and in younger control children shows current validity and stable and parallel growth trajectories. Journal of Speech, Language, and Hearing Research. 2006;49:793-808.. Estas diferenças entre os estudos estarão dependentes de diversas variáveis, como as faixas etárias analisadas em cada estudo, o tipo de análise linguística efetuada e a forma de medir o nível sociocultural de origem (nível de escolaridade dos pais, renda familiar e/ou profissão do pai, ....).

Considerou-se na presente análise o número de anos de escolaridade do pai ou da mãe, aquele que fosse mais elevado. Considerou-se ainda apenas a escolaridade da mãe, tal como outros autores2929 . Rice ML, Smolik F, Perpich D, Thompson T, Rytting N, Blossom M. Mean Length of Utterance levels in 6-month intervals for children 3 to 9 years with and without language impairments. Journal of Speech, Language, and Hearing Research. 2010;53:333-49.. Em ambas as situações os resultados foram idênticos, contudo esta relação entre escolaridade parental e desenvolvimento da linguagem medida pela EME-p não é linear, pois na análise por grupo de idade apenas o grupo intermédio, dos 4;06 aos 5;0, mostrava relação significante. Aparentemente nas crianças mais pequenas não há influência da escolaridade dos pais na extensão do enunciado. Na fase seguinte essa influência aumenta em simultâneo com o aumento significante da extensão do enunciado. De seguida desaparece, provavelmente devido ao desenvolvimento de estruturas linguísticas mais complexas, mantendo-se idêntica a EME-p, pois não há diferença significante entre o grupo de 4;06 a 5;0 e o grupo de 5;01 a 5;05. Por outro lado, verificou-se que aos 5 anos surge uma tendência de correlação negativa entre a EME e a escolaridade dos pais. De modo semelhante Rice e colaboradores2929 . Rice ML, Smolik F, Perpich D, Thompson T, Rytting N, Blossom M. Mean Length of Utterance levels in 6-month intervals for children 3 to 9 years with and without language impairments. Journal of Speech, Language, and Hearing Research. 2010;53:333-49. constataram que apenas havia relação significante da EME com a escolaridade parental no grupo de crianças de 5 e 6 anos, sendo essa relação negativa, "suggesting higher MLU levels for the children of less educated mothers". Assim, não é de excluir a influência da educação parental na EME, contudo esta medida não será a mais indicada para esta observação, uma vez que um enunciado com mais palavras não é necessariamente mais complexo a nível morfológico ou sintático. O progressivo desenvolvimento das capacidades cognitivas e linguísticas permitirão à criança usar a linguagem de forma mais rápida e eficiente, empregando menos palavras para transmitir o mesmo conteúdo, e utilizando estruturas linguísticas mais complexas. O tipo de linguagem usado pelos pais, certamente dependente do seu nível de educação, é um modelo que pode influenciar a criança nesta fase que precede a entrada na escola. Não é de admirar, assim, que exista uma tendência, como a verificada neste estudo, ou que exista mesmo uma correlação significante2929 . Rice ML, Smolik F, Perpich D, Thompson T, Rytting N, Blossom M. Mean Length of Utterance levels in 6-month intervals for children 3 to 9 years with and without language impairments. Journal of Speech, Language, and Hearing Research. 2010;53:333-49.mostrando que o uso de enunciados mais curtos se relaciona com níveis mais elevados de escolaridade dos pais.

As correlações significantes entre a EME-p e um teste formal de desenvolvimento de linguagem foram elevadas, confirmando que se trata de uma medida válida de desenvolvimento, tal como já constatado1818 . Blake J, Quartaro G, Onorati S. Evaluating quantitative measures of grammatical complexity in spontaneous speech samples. Journal of Child Language. 1993;20:139-52.. Durante os primeiros anos de vida da criança o vocabulário aumenta progressivamente e o mesmo acontece na produção de frases que têm um cada vez maior número de palavras. Assim, é esperada uma correlação positiva e significante entre a EME-p e os testes formais de avaliação do desenvolvimento da linguagem, até ao final da idade pré-escolar. Depois deste período esta correlação pode não ser adequada, pois a EME-p já não aumenta de forma evidente, sendo a criança capaz de produzir frases mais complexas, com utilização de menos palavras para transmitir o mesmo significado.

Conclusão

Do estudo realizado com 92 crianças portuguesas, salienta-se o seguinte: (1) aos 4 anos de idade as crianças produzem, em média, entre 4 a 5 palavras por enunciado e aos 5 anos de idade esse valor situa-se claramente nas 5 palavras; (2) não foram verificadas diferenças decorrentes do género, sendo idêntico o desempenho de meninos e de meninas; (3) não foi constada uma influência nítida da escolaridade dos pais, pelo que não é possível afirmar a influência desta variável; (4) verificou-se uma correlação positiva e significante com os resultados de um teste formal de desenvolvimento da linguagem, tanto para a compreensão como para a expressão, o que acentua a validade da EME-p como um instrumento de medida do desenvolvimento da linguagem.

Apesar do número de crianças de cada faixa etária ser relativamente pequeno considera-se que os dados obtidos podem servir de referência para as crianças portuguesas, pois o número de enunciados recolhidos foi bastante elevado e os critérios de inclusão dos participantes, de elicitação de discurso e de análise da produção verbal foram rigorosos.

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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    Ago 2015

Histórico

  • Recebido
    27 Jan 2015
  • Aceito
    23 Abr 2015
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