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Principais alterações encontradas nas narrativas escritas de crianças com dificuldades em leitura/escrita

RESUMO

Objetivo:

analisar as produções escritas de crianças com dificuldades em leitura/escrita.

Métodos:

171 crianças, matriculadas no 4º/5º do ensino fundamental constituíram dois grupos: G1 (n=50) - crianças sem dificuldades em leitura/escrita, G2 (n=121) - crianças com dificuldades nessas tarefas. Cada criança, após observar uma figura estímulo, deveria escrever um texto. Foi analisado a grafia, os erros ortográficos, as variáveis linguísticas e o conteúdo deste.

Resultados:

em G2 observou-se alterações em relação à grafia; maior percentual de ocorrência de erros ortográficos e de diversos tipos; mesma proporção no uso de substantivos, adjetivos e pronomes, porém dificuldade na conjugação verbal e no uso de advérbios temporais. Em relação ao conteúdo, apenas descreveram a cena e demonstraram vocabulário restrito e pouca criatividade.

Conclusão:

a produção escrita de crianças com dificuldade em leitura/escrita apresentou diversas falhas entre as quais: alterações na grafia, presença de erros ortográficos e limitação na construção de texto, restringindo-se a simples descrição do desenho estímulo, com pouca articulação de idéias e sem criação de personagens, local e tempo para a sua história. Este conjunto de falhas compromete a inteligibilidade do texto pelo leitor e demonstra que a elaboração escrita é uma tarefa complexa para essas crianças.

Descritores:
Linguagem Infantil; Transtornos do Desenvolvimento da Linguagem; Testes de Linguagem; Leitura; Transtornos de Aprendizagem

ABSTRACT

Purpose:

to analyze the written narrative productions of children with reading/writing difficulties.

Methods:

the study was conducted on 171 children enrolled in the 4th or 5th grade of elementary school. The children were divided into two groups: G1 consisted of children without reading/writing difficulties and G2 consisted of children with difficulties in these tasks. Each child was asked to write a text after observing a figure stimulus. The text was then analyzed using a protocol and the handwriting, spelling mistakes, linguistic variables and contents were evaluated.

Results:

changes in handwriting, a higher percentage of spelling mistakes and other types of mistakes were observed in G2; the same proportion as in G1 for the use of nouns, adjectives and pronouns, but difficulty in verb conjugation and in the use of temporal adverbs. Regarding content, G2 children only described the scene and demonstrated a limited vocabulary and poor creativity.

Conclusion:

the writing skills of children with reading/writing difficulties showed several flaws including: changes in handwriting, presence of misspellings and limitation in text construction, which was restricted to simple description of the stimulus, with little articulation of ideas and without creation of characters, time or place for their story. This set of flaws compromises the intelligibility of the text by the reader and demonstrates that the development of writing is a complex task for these children.

Keywords:
Child Language; Language Development Disorders; Language Tests; Reading; Learning Disorders

Introdução

O aprendizado da leitura e da escrita é um novo instrumento de comunicação e uma nova maneira de expressão11. Zorzi JL. Desvios na ortografia. In: Ferreira LP, Befi-Lopes DM, Limongi SCO (org) Tratado de fonoaudiologia. São Paulo: Roca; 2005. p. 878-91. que permite a criança alcançar novos conhecimentos. A escrita é um fator que possibilita o desenvolvimento cognitivo do indivíduo e sua inserção social nas sociedades letradas22. Maluf MR, Zanella MS, Pagnez KSMM. Habilidades metalinguísticas e linguagem escrita nas pesquisas brasileiras. Bol Psicol. 2006;56(124):67-92..

O desenvolvimento da linguagem escrita começa quando a criança, ao estar inserida em um mundo letrado, entra em contato com livros e histórias através de seus pais ou da escola. Este contato estimulará diversas habilidades cognitivas, que depois serão aprimoradas no momento da alfabetização. Essas habilidades abrangem os aspectos fonológicos, lexicais, morfológicos, sintáticos, semânticos e ortográficos da linguagem escrita22. Maluf MR, Zanella MS, Pagnez KSMM. Habilidades metalinguísticas e linguagem escrita nas pesquisas brasileiras. Bol Psicol. 2006;56(124):67-92..

Em pesquisas, a capacidade de ler e escrever é avaliada principalmente por instrumentos que englobam o ditado e a leitura de palavras e pseudopalavras e, posteriormente, por testes que analisam a compreensão de frases e textos. A análise da elaboração de narrativas escritas é pouco utilizada em nosso país, havendo uma lacuna na literatura nacional33. Zaboroski AP,Oliveira JP. Written narratives productions: a review of litterature emphasizing pedagogical practice. Distúrbios Comun. 2015;27(3):569-88., porém é um instrumento que fornece diversos dados sobre o desenvolvimento da linguagem escrita da criança, da linguagem oral e do desenvolvimento cognitivo, pois para se produzir textos é necessário a seleção do conteúdo (aspecto semântico e pragmático), a utilização de uma forma de transmissão da mensagem (palavras escritas) e um planejamento motor44. Belinchón M, Igoa JM, Rivière A. Psicología del lenguaje. Investigación y teoría. Madrid: Trotta; 2000..

A elaboração de narrativas escritas demonstra como a criança articula suas ideias e qual o domínio ortográfico que ela possui. Para elaborar um texto ela deve saber que cada evento possui uma sequência temporal, que na história deve haver personagens, um local e tempo onde essa ocorre, ações acontecendo, além de outros aspectos55. Costa ER, Boruchovitch B. As Estratégias de Aprendizagem e a Produção de Textos Narrativos. Psicol. Refl. Crít. 2009;22(2):173-80.. Isso demonstra a complexidade do ato de elaborar um texto.

O apoio visual (uso de figuras estímulos para eliciar a narrativa) é uma estratégia utilizada na produção de textos narrativos escritos, pois este facilita a produção de textos mais coerentes pelas crianças66. Lins e Silva ME, Spinillo AG. A Influência de Diferentes Situações de Produção na Escrita de Histórias. Psicol. Refl. Crít. 2000;13(3):337-50.

7. Pessoa APP, Correa J, Spinillo AG. Contexto de Produção e o Estabelecimento da Coerência na Escrita de Histórias por Crianças. Psicol. Refl. Crít. 2010;23(2):253-60.

8. Bonki E, Oliveira JP. Rural students' performance in written narratives and possible relations with profile variables. Distúrb Comum.2014;26(1):144-55.
-99. Santos MJ, Barrera SD. Escrita de textos narrativos sob diferentes condições de produção. Psicol. Esc. Educ. 2015;19(2):253-60..

Escassos são os trabalhos que usam a elaboração de narrativas escritas como instrumento de avaliação e estes, quando os fazem, focam apenas na questão da coerência textual66. Lins e Silva ME, Spinillo AG. A Influência de Diferentes Situações de Produção na Escrita de Histórias. Psicol. Refl. Crít. 2000;13(3):337-50.

7. Pessoa APP, Correa J, Spinillo AG. Contexto de Produção e o Estabelecimento da Coerência na Escrita de Histórias por Crianças. Psicol. Refl. Crít. 2010;23(2):253-60.
-88. Bonki E, Oliveira JP. Rural students' performance in written narratives and possible relations with profile variables. Distúrb Comum.2014;26(1):144-55.,1010. Bigarelli JFP, Ávila CRB. Habilidades ortográficas e de narrativa escrita no ensino fundamental: características e correlações. J Soc Bras Fonoaudiol. 2011;23(3):237-44.; ou na questão ortográfica1010. Bigarelli JFP, Ávila CRB. Habilidades ortográficas e de narrativa escrita no ensino fundamental: características e correlações. J Soc Bras Fonoaudiol. 2011;23(3):237-44.,1111. Ferreira AA, Silva ACF, Queiroga BAM. Written learning and maternal education. Rev. CEFAC. 2014;16(2):446-56. ou em qual condição (tema livre, reconto de histórias ou outros) há uma melhor produção textual66. Lins e Silva ME, Spinillo AG. A Influência de Diferentes Situações de Produção na Escrita de Histórias. Psicol. Refl. Crít. 2000;13(3):337-50.,77. Pessoa APP, Correa J, Spinillo AG. Contexto de Produção e o Estabelecimento da Coerência na Escrita de Histórias por Crianças. Psicol. Refl. Crít. 2010;23(2):253-60.,99. Santos MJ, Barrera SD. Escrita de textos narrativos sob diferentes condições de produção. Psicol. Esc. Educ. 2015;19(2):253-60.,1212. Carvalho e Souza ACF, Correa J. Reprodução escrita de histórias e a escrita ortográfica de crianças. Psicol. pesq. 2007;1(02):32-40..

O objetivo deste estudo foi analisar a grafia, os erros ortográficos, o uso das classes gramaticais e o conteúdo de elaborações de narrativas escritas criadas por crianças já alfabetizadas, porém com dificuldades em leitura/escrita.

Métodos

Considerações Éticas e Seleção da Amostra

Trata-se de um estudo de coorte, aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa sob o número 2893/2011.

Participaram deste estudo 171 crianças (95 meninas e 76 meninos) matriculadas no 4º ou 5º ano do ensino fundamental da rede municipal de ensino no interior do Estado de São Paulo. Os participantes cuja média de idade era de nove anos e seis meses (desvio padrão de 1,4) freqüentavam regularmente a escola e foram divididas em dois grupos:

- G1 (n=50): 31 meninas e 19 meninos sem dificuldades em leitura/escrita. A criança deveria ter desempenho adequado nas provas de leitura/escrita no Teste de Desempenho Escolar - TDE1313. Stein LM. TDE - Teste de desempenho escolar; manual para aplicação e interpretação. 1ª ed. São Paulo: Casa do Psicólogo; 1994., além do relato da professora atestando ausência de dificuldades da criança nas atividades escolares.

- G2 (n=121): 64 meninas e 57 meninos com dificuldades em tarefas de leitura e de escrita. O desempenho desta deveria ser classificado como insatisfatório nas tarefas de leitura e escrita do TDE1313. Stein LM. TDE - Teste de desempenho escolar; manual para aplicação e interpretação. 1ª ed. São Paulo: Casa do Psicólogo; 1994. e essas dificuldades também deveriam ser relatadas pela professora da criança.

Os critérios de exclusão utilizados na seleção da amostra foram: ausência de consentimento do responsável para a coleta de dados; crianças com idade inferior a nove anos ou superior a 11 anos; não frequentar a escola regularmente; presença de síndromes que prejudiquem as funções cognitivas; falha na triagem auditiva realizada na data da avaliação; queixa de infecção de vias áreas superiores no dia da triagem auditiva; histórico de terapia fonoaudiológica; presença de distúrbio fonológico e criança não alfabetizada.

Como critérios de inclusão, para o G1 utilizou-se: desempenho regular em leitura/escrita relatado pela professora e desempenho adequado para idade nos subtestes de leitura/escrita do TDE1313. Stein LM. TDE - Teste de desempenho escolar; manual para aplicação e interpretação. 1ª ed. São Paulo: Casa do Psicólogo; 1994.. Para o G2, os critérios de inclusão foram: queixa da professora de dificuldades em leitura/escrita e desempenho inadequado para idade nos dois subtestes do TDE1313. Stein LM. TDE - Teste de desempenho escolar; manual para aplicação e interpretação. 1ª ed. São Paulo: Casa do Psicólogo; 1994. que foram aplicados.

Materiais e Procedimentos

Todas as crianças foram avaliadas individualmente, os testes foram aplicados em um único momento. A criança utilizou o tempo que julgou necessário para realizar as provas.

Os procedimentos realizados foram:

- Questionário respondido pela professora: neste questionário, a professora de cada sala descrevia como era o desempenho em leitura/escrita de cada aluno e se este era alfabetizado ou não.

- Análise de conversa espontânea: utilizado para a avaliação de presença de distúrbio fonológico, apenas para critérios de exclusão.

- Triagem auditiva: a triagem auditiva consistiu na pesquisa dos limiares auditivos por via aérea nas frequências de 500, 1000, 2000 e 4000 Hz. Para esta triagem foi utilizado um audiômetro pediátrico (modelo Pa5, marca Interacoustics(r)), com um fone acoplado, a fim de pesquisar cada orelha separadamente. Esse teste foi utilizado para critérios de exclusão de possíveis déficits auditivos. Para tal teste utilizou-se o método descendente, isto é, apresentava-se à criança um som em determinada intensidade, se a criança detectava este som (criança levantava a mão diante da presença do som) o próximo som a ser apresentado era 10dB abaixo. A pesquisa era encerrada quando a criança detectava em duas das três vezes apresentada, o som na intensidade de 15dB.

- Teste de Desempenho Escolar - TDE1313. Stein LM. TDE - Teste de desempenho escolar; manual para aplicação e interpretação. 1ª ed. São Paulo: Casa do Psicólogo; 1994.: foram aplicados deste instrumento somente os subtestes de escrita e leitura. O subteste de escrita consistiu na escrita de seu próprio nome e em escrever palavras isoladas apresentadas sob a forma de ditado (máximo de 35 pontos). O teste de leitura consistiu no reconhecimento de palavras isoladas do contexto que variavam de palavras dissílabas com estrutura silábica simples a palavras polissilábicas com estrutura silábica complexa (máximo de 70 pontos). Em ambos os subtestes a criança recebeu um ponto para cada palavra lida ou escrita corretamente. O desempenho da criança em cada subtarefa foi comparado com o padrão de normalidade do próprio teste, considerando o padrão de normalidade para a idade. Este instrumento foi utilizado para a divisão das crianças entre G1 e G2.

- Elaboração de narrativa escrita: foi oferecida à criança uma folha sulfite, um lápis e uma borracha. Como estímulo para a elaboração de narrativa escrita foi apresentado uma prancha composta por quatro figuras. Essas figuras retratavam uma pessoa realizando atividades domésticas (passando roupa, lavando louça, varrendo o chão e costurando roupa) e não possuíam uma relação lógico-temporal entre si. Foi orientado para que a criança observasse as figuras e escrevesse uma história, sem se importar com o tempo que esta iria demorar ou com o número de palavras/linhas. Não foi explicado à criança verbalmente a figura e não foi oferecido modelo de uma possível narrativa.

Para a análise das elaborações escritas foi utilizado o PAES - Protocolo para Análise da Elaboração Escrita - um protocolo proposto nesse estudo, descrito a seguir, baseado em artigos e textos da literatura nacional e internacioanal11. Zorzi JL. Desvios na ortografia. In: Ferreira LP, Befi-Lopes DM, Limongi SCO (org) Tratado de fonoaudiologia. São Paulo: Roca; 2005. p. 878-91.,22. Maluf MR, Zanella MS, Pagnez KSMM. Habilidades metalinguísticas e linguagem escrita nas pesquisas brasileiras. Bol Psicol. 2006;56(124):67-92.,1414. Martinsa MRI, Bastosb JA, Cecatoc AT, Araujod MLS, Magroe RR, Alaminose V. Screening for motor dysgraphia in public schools. J Pediatr. 2013;89:70-74.

15. Silva MF. A ortografia lusofônica: breve histórico. Inf Soc Est.1994;4(1):85-9.
-1616. Spinillo AG, Pinto G. Children's narratives under different conditions: A comparative study. Brit J Clin Psychol. 2014;12:177-93.. Este protocolo foi dividido em quatro partes (Apêndice 1 APÊNDICE 1 - (PAES) - Protocolo para Análise da Elaboração Escrita ):

A primeira parte analisou a grafia e foi composto por seis itens a serem avaliados (força aplicada ao traçado gráfico, tamanho das letras, inclinação das letras, espaçamento entre as letras, inclinação das frases e dificuldade em utilizar o espaçamento da folha). Foi atribuído um ponto quando não havia alteração e zero ponto quando havia alterações. A pontuação máxima deste item foi de 6 pontos (quanto maior a pontuação, melhor a grafia);

A segunda parte analisou a frequência dos diversos tipos de erros ortográficos. Os tipos de erros foram divididos em 15 categorias. Inicialmente foram computados quantos erros a criança apresentou dentro de cada categoria (tipo de erro ortográfico) e o número total de palavras escritas pela criança (tanto palavras escritas correta e incorretamente quanto palavras ininteligíveis). Para possibilitar comparação dos dados entre grupos, os dados brutos foram convertidos em porcentagem de ocorrência. Esse procedimento foi adotado visto que cada criança tinha liberdade para escrever quaisquer tamanhos de narrativa.

A terceira parte analisou a presença das variáveis linguísticas (número de substantivos, adjetivos, pronomes, conjugações verbais corretas e incorretas, marcadores temporais e outras). Neste também foi utilizada a porcentagem de palavra em cada categoria.

Na quarta e última parte foi analisado o conteúdo do texto elaborado. Esta parte foi composta por oito itens: estrutura do texto (presença de início/meio/fim), coerência ao tema (criação e desfecho da situação problema, manutenção dos personagens ao longo da narrativa), adequação de vocabulário, presença de detalhes da história, criatividade, inteligibilidade da mensagem do texto, utilização de pontuação e título. Para cada item era atribuído um, meio ou zero ponto. O ponto inteiro foi dado quando a criança demonstrava domínio no referido quesito, meio ponto para domínio parcial e zero ponto, quando não apresentou o quesito. A pontuação para a análise foi a somatória obtida em todos os itens. A pontuação máxima possível era de oito pontos.

Para testar a confiabilidade do PAES utilizou-se a estratégia de análise por diversos juízes (banca julgadora composta por três fonoaudiólogos, todos especialistas em linguagem) e depois foi calculado o índice Kappa. A classificação se este índice Kappa representava concordância fraca, moderada, substancial ou perfeita foi retirada de Landis e Koch1717. Landis JR, Koch GG. The measurement of observer agrément for categorical data. Biometrics. 1977;33:159-74..

Na avaliação intra-juízes (teste/reteste), os valores do índice Kappa para a categoria grafia, porcentagem de erros ortográficos, variáveis linguísticas e conteúdos, foram respectivamente de:

Juiz 1: 0,4 (concordância moderada); 0,4 (concordância moderada); 0,5 (concordância moderada); 0,5 (concordância moderada).

Juiz 2: 0,4 (concordância moderada); 0,8 (concordância praticamente perfeita); 0,8 (concordância praticamente perfeita); 0,9 (concordância praticamente perfeita).

Juiz 3: 0,6 (concordância substancial); 0,6 (concordância substancial); 0,6 (concordância substancial); 0,8 (concordância praticamente perfeita).

Na avaliação inter-juízes os valores de Kappa encontrados foram de 0,4 (concordância moderada) para a grafia; de 0,6 (concordância substancial) para a porcentagem de erros ortográficos; de 0,6 (concordância substancial) para as variáveis linguísticas e de 0,7 (concordância substancial) para o conteúdo.

Análise Estatística dos Dados

Métodos de estatística descritiva foram utilizados para a caracterização da amostra. Para a inferência estatística utilizou-se o teste t-student para amostras não pareadas com variância semelhante e considerou-se nível de significância de 0,05 (α = 5%). O índice Kappa foi utilizado para calcular a concordância entre as avaliações dos inter e intra-juízes.

Resultados

Os resultados demonstraram que o G2 utilizou menor número de palavras em relação ao utilizado pelo G1 (média do G1 = 70 palavras, desvio padrão de 6; média do G2 = 47 palavras, desvio padrão de 27; valor de p = 0,0001).

Houve diferenças entre os grupos tanto na grafia quanto no conteúdo das elaborações das narrativas escritas. As pontuações das tarefas relativas à grafia e conteúdo estão demonstradas na Figura 1. Em relação ao item conteúdo, maiores pontuações foram obtidas pelas crianças do G1, sendo que elas inferem sentimentos e acontecimentos na história não se limitando a apenas descrever o desenho estímulo. Além disso, seus textos possuem diversos elementos que permitem melhor inteligibilidade por parte de quem lê o texto criado. Em relação à grafia, observaram-se prejuízos em crianças do G2 que apresentaram dificuldades, principalmente, em relação ao espaço utilizado na folha e formato das letras.

Figura 1:
Pontuação média de cada grupo nas categorias grafia e conteúdo

Na análise dos erros ortográficos (Tabela 1) observou-se que no G2 há uma maior variabilidade nos tipos de erros cometidos além de maior percentual de ocorrência em todas as categorias.

Tabela 1:
Porcentagem de erros ortográficos encontrados nas elaborações escritas em cada grupo

Em relação às variáveis linguísticas (Figura 2) foi observado diferenças entre os grupos na conjugação verbal, sendo que as crianças do G2 apresentaram maiores dificuldades em conjugar verbos; no uso de advérbios que designam tempo e na quantidade de palavras ininteligíveis. Não houve diferenças em relação à porcentagem de substantivos, pronomes e uso de outras classes gramaticais.

Figura 2:
Porcentagem de palavras utilizadas no texto em cada classe gramatical (Variáveis linguísticas)

Discussão

A tarefa de elaborar narrativas escritas é uma atividade complexa que representa em qual e como está o desenvolvimento linguístico da criança. Narrar eventos através da escrita envolve organização das ideias, revisão do material lido, domínio do código alfabético e das regras ortográficas e gramaticais. Elaborar histórias é diferente de ser alfabetizado, pois essas habilidades narrativas derivam de experiências com textos e sua manipulação e, não somente da capacidade de decodificar as letras, após a alfabetização, ainda existe um longo caminho a ser percorrido pela criança1818. Lins e Silva ME, Spinillo AG. Uma análise comparativa da escrita de histórias pelos alunos de escolas públicas e particulares. R. bras. Est. pedag. 1998;73(193):5-16..

Estudos afirmam que é comum encontrar crianças acima de nove anos que não apresentam um adequado desenvolvimento da capacidade de elaborar textos99. Santos MJ, Barrera SD. Escrita de textos narrativos sob diferentes condições de produção. Psicol. Esc. Educ. 2015;19(2):253-60.,1111. Ferreira AA, Silva ACF, Queiroga BAM. Written learning and maternal education. Rev. CEFAC. 2014;16(2):446-56.,1616. Spinillo AG, Pinto G. Children's narratives under different conditions: A comparative study. Brit J Clin Psychol. 2014;12:177-93.,1919. Salles JF, Corres J. A produção escrita de histórias por crianças e sua relação com as habilidades de leitura e escrita de palavras/pseudopalavras Psicol. USP. 2014;25(2):189-200.,2020. Zaboroski AP, Antozczyszen S, Michelon LJ,Oliveira JP. Students' performance in written productions before and after a motion for interdisciplinar intervention. Distúrbios Comun. 2015;27(3):544-57., e pesquisadores afirmam que a elaboração de narrativas escritas em crianças com dificuldades deva ser melhor explorado, para que haja uma melhor intervenção nesta população. Assim, este estudo teve como objetivo analisar diversas características da elaboração escrita dessas crianças.

O primeiro dado a ser discutido é em relação à grafia. Ao contrário dos erros ortográficos, o desempenho em grafia não varia de acordo com a progressão escolar2121. Damasceno ESS, Avila CLB, Arnaut MA. Correlations between handwriting and spelling in Elementary School children. Distúrbios Comun.2015; 7(4):819-30., sugerindo que alterações gráficas não são esperadas em crianças que frequentam o ensino fundamental. Nossos dados, porém, demonstraram resultados diferentes: crianças com dificuldades em leitura/escrita apresentaram alterações no traçado das letras, na preensão do lápis e na disposição espacial do texto na folha. Esta dificuldade foi representada por uma pontuação menor do G2 no item "grafia" quando comparado ao G1 (grupo controle).

Alguns estudos já demonstraram que crianças com dificuldades escolares apresentaram também alterações na grafia. Um estudo2222. Okuda PMM, Lourencetti MD, Santos LCA, Padula NAMR, Capellini SA. Coordenação motora fina de escolares com dislexia e transtorno do déficit de atenção e hiperatividade. Rev. CEFAC. 2011;13(5):876-85. realizado com crianças com dislexia e transtorno do déficit de atenção e hiperatividade demonstrou atraso na coordenação motora fina em 100% dessa amostra, o que gerava dificuldades em tarefas que exigiam destreza como grafia ou amarrar os sapatos. Já outro estudo1414. Martinsa MRI, Bastosb JA, Cecatoc AT, Araujod MLS, Magroe RR, Alaminose V. Screening for motor dysgraphia in public schools. J Pediatr. 2013;89:70-74. observou sinais de disgrafia em escolares do 6º ano do ensino fundamental associada a diversas alterações de aprendizagem.

O ato de escrever envolve diversas habilidades como controle motor fino, integração visuomotora, propriocepção, atenção sustentada, percepção visual e planejamento motor na mão de manipulação2323. Adi-Japha E, Landau YE, Frenkel L, Teicher M, Gross-Tsur V, Shalev RS. ADHD and dysgraphia: underlying mechanisms. Cortex. 2007;43:700-9.. Se uma dessas habilidades estiver prejudicada, a criança apresentará dificuldades em orientação espacial do texto na folha (representada por não conservação da margem e escrita de forma descendente ou ascendente - "linha torta"), desorganização geral na folha e desorganização do texto em si1414. Martinsa MRI, Bastosb JA, Cecatoc AT, Araujod MLS, Magroe RR, Alaminose V. Screening for motor dysgraphia in public schools. J Pediatr. 2013;89:70-74., caracterizando assim alterações na grafia.

Em relação aos erros ortográficos, sabe-se que esses são esperados durante a aquisição da linguagem escrita, porém o desempenho ortográfico da criança deve ser melhor a cada ano escolar subsequente, demonstrando que a criança adquiriu maior conhecimento sobre o uso das regras ortográficas2424. Ygual-Fernández A, Cervera-Mérida JF, Cunha VLO, Batista AO, Capellini AS. Avaliação e intervenção da disortografia baseada na semiologia dos erros: revisão da literatura. Rev. CEFAC. 2010;12(3):499-504.. Porém, a permanência desses erros ou a presença de erros ortográficos poucos frequentes, como a inversão de letras, podem refletir déficits que a criança possui, dificultando a criação de hipóteses elementares pela criança2525. Zorzi JL, Ciasca SM. Análise de erros ortográficos em diferentes problemas de aprendizagem. Rev. CEFAC. 2009;11(3):406-16..

Neste estudo, as crianças do G2 apresentaram uma grande variabilidade de tipos de erros ortográficos e um percentual maior de ocorrência desses quando comparado ao G1. Os tipos foram na seguinte ordem: escrita de sílabas complexas, relação fonografêmica irregular, acentuação, apoio na oralidade e segmentação. Erros por traço de sonoridade, dificuldades em marcadores de nasalização e outros, também ocorreram nas elaborações do G2, porém em pequena proporção.

Esses mesmos erros também foram os erros mais frequentes observados em outros estudos que analisaram a narrativa escrita1111. Ferreira AA, Silva ACF, Queiroga BAM. Written learning and maternal education. Rev. CEFAC. 2014;16(2):446-56.,1212. Carvalho e Souza ACF, Correa J. Reprodução escrita de histórias e a escrita ortográfica de crianças. Psicol. pesq. 2007;1(02):32-40..

Dificuldade com sílabas complexas, item de maior ocorrência em G2, e erros de apoio na oralidade são indicativos de que não houve o desenvolvimento de habilidades fonológicas suficientes para garantir a escrita completa das palavras e que ainda não há suficiente compreensão de que escrever não se limita a uma transcrição fonética2525. Zorzi JL, Ciasca SM. Análise de erros ortográficos em diferentes problemas de aprendizagem. Rev. CEFAC. 2009;11(3):406-16..

Os erros de relação fonografêmica irregular frequentes no G1 e no G2, é um dos principais erros encontrados, pois primeiramente, a criança trabalha com a hipótese de uma regularidade absoluta entre fonema e grafema e, depois, aos poucos a criança começa a compreender que as relações grafofonêmicas não são apenas de natureza unívoca11. Zorzi JL. Desvios na ortografia. In: Ferreira LP, Befi-Lopes DM, Limongi SCO (org) Tratado de fonoaudiologia. São Paulo: Roca; 2005. p. 878-91.,2626. Zorzi JL, Ciasca SM. Caracterização dos erros ortográficos em crianças com transtornos de aprendizagem. Rev. CEFAC. 2008;10(3):321-31.. Esses erros diminuem com o avanço da escolarização e com a experiência com o material escrito.

Os erros por dificuldades de acentuação presentes em ambos os grupos e os de segmentação indevida de palavras, geralmente são encontrados em amostra de elaboração escrita, sendo menos frequentes em amostras de ditado de palavras2727. Capellini SA, Amaral AC, Oliveira AB, Sampaio MN, Fusco N, Cervera-Mérida JF, Ygual-Fernández A. Desempenho ortográfico de escolares do 2º ao 5º ano do ensino público. J Soc Bras Fonoaudiol. 2011;23(3):227-36.. A dificuldade de acentuação aparece com o aumento do número de palavras no texto e com o avanço da seriação escolar2727. Capellini SA, Amaral AC, Oliveira AB, Sampaio MN, Fusco N, Cervera-Mérida JF, Ygual-Fernández A. Desempenho ortográfico de escolares do 2º ao 5º ano do ensino público. J Soc Bras Fonoaudiol. 2011;23(3):227-36. e diminuem quando as crianças se apropriam das regras ortográficas.

Os erros de segmentação são comuns no início da alfabetização, por este fato foi apenas encontrado no G2 e, representam que as crianças estão se apropriando do sistema escrito do português2424. Ygual-Fernández A, Cervera-Mérida JF, Cunha VLO, Batista AO, Capellini AS. Avaliação e intervenção da disortografia baseada na semiologia dos erros: revisão da literatura. Rev. CEFAC. 2010;12(3):499-504..

Finalmente, erros de inversão em relação ao próprio eixo, inversão dentro da palavra e dificuldades com a estrutura silábica simples não apareceram em nenhum grupo. Esses erros são considerados de origem visual (erros de inversão ou trocas de letras visualmente semelhantes). Os resultados do presente estudo, portanto, corroboram com dados de literatura que sugere que as capacidades visuais e as espaciais não são os principais fatores ligados às dificuldades de aprendizagem2626. Zorzi JL, Ciasca SM. Caracterização dos erros ortográficos em crianças com transtornos de aprendizagem. Rev. CEFAC. 2008;10(3):321-31.,2828. Zuanetti PA, Corrêa-Schnek AP, Manfredi AKS. Comparação dos erros ortográficos de alunos com desempenho inferior em escrita e alunos com desempenho médio nesta habilidade. Rev Soc Bras Fonoaudiol. 2008;13(3):240-5..

A presença de erros ortográficos não inviabiliza uma boa produção textual do ponto de vista do conteúdo, nome destinado neste estudo à coerência textual, pois mesmo com a presença de diversos erros ortográficos, a narrativa da criança pode ter personagens, criação e desfecho de uma situação problema e local/tempo onde a história ocorre. Por isso, a análise da elaboração escrita deve envolver tanto a questão ortográfica quanto o processamento textual/consciência metatextual1919. Salles JF, Corres J. A produção escrita de histórias por crianças e sua relação com as habilidades de leitura e escrita de palavras/pseudopalavras Psicol. USP. 2014;25(2):189-200.. Apesar desta dissociação na avaliação das elaborações escritas (ortografia e processamento textual), estudos afirmam que há uma correlação entre estas, sendo que em textos com melhor qualidade, há uma menor presença de erros ortográficos1010. Bigarelli JFP, Ávila CRB. Habilidades ortográficas e de narrativa escrita no ensino fundamental: características e correlações. J Soc Bras Fonoaudiol. 2011;23(3):237-44., e que a intervenção baseada na contagem de histórias ou no ensino de estratégias que melhoram a narrativa escrita auxilia de forma indireta na superação dos erros ortográficos55. Costa ER, Boruchovitch B. As Estratégias de Aprendizagem e a Produção de Textos Narrativos. Psicol. Refl. Crít. 2009;22(2):173-80.. Essa relação entre desempenho ortográfico e processamento textual também foi encontrada neste estudo.

Em relação ao item conteúdo, as crianças do G2 apresentaram uma pontuação média significativamente inferior ao G1. Geralmente as crianças com dificuldades em leitura/escrita apenas descrevem a cena ao invés de criarem uma história; elaboraram um texto com pouca coerência, não criando/desvendando uma situação problema; apresentam dificuldade em sequência lógico-temporal; não conseguem articular ideias e nem associar momentos de seu cotidiano com as cenas, não conseguindo assim inferir sentimentos e ações aos personagens e nem contar detalhes. Isso torna o texto produzido pela criança de difícil compreensão pelo leitor por ser um texto "pobre", sem organização das ideias.

Os estudos que analisaram as elaborações das narrativas escritas do ponto de vista da coerência textual, não tiveram como objetivo principal a comparação entre crianças com dificuldades de aprendizagem, apesar de muitos destes encontrarem em seus resultados crianças com capacidade de produção textual aquém do esperado. Alguns estudos tinham como objetivo comparar o desempenho entre crianças de escolas públicas e particulares1010. Bigarelli JFP, Ávila CRB. Habilidades ortográficas e de narrativa escrita no ensino fundamental: características e correlações. J Soc Bras Fonoaudiol. 2011;23(3):237-44.,1818. Lins e Silva ME, Spinillo AG. Uma análise comparativa da escrita de histórias pelos alunos de escolas públicas e particulares. R. bras. Est. pedag. 1998;73(193):5-16., outros investigaram em qual situação (com apoio visual, reconto de histórias, tema livre e outros) era produzido um texto de melhor qualidade7,88. Bonki E, Oliveira JP. Rural students' performance in written narratives and possible relations with profile variables. Distúrb Comum.2014;26(1):144-55.,99. Santos MJ, Barrera SD. Escrita de textos narrativos sob diferentes condições de produção. Psicol. Esc. Educ. 2015;19(2):253-60.,1212. Carvalho e Souza ACF, Correa J. Reprodução escrita de histórias e a escrita ortográfica de crianças. Psicol. pesq. 2007;1(02):32-40.,1818. Lins e Silva ME, Spinillo AG. Uma análise comparativa da escrita de histórias pelos alunos de escolas públicas e particulares. R. bras. Est. pedag. 1998;73(193):5-16. e outros trabalharam apenas com crianças sem dificuldades escolares88. Bonki E, Oliveira JP. Rural students' performance in written narratives and possible relations with profile variables. Distúrb Comum.2014;26(1):144-55.,1010. Bigarelli JFP, Ávila CRB. Habilidades ortográficas e de narrativa escrita no ensino fundamental: características e correlações. J Soc Bras Fonoaudiol. 2011;23(3):237-44.,2929. Santos MAG, Hage SRV. Textual production of children without learning difficulties. CoDAS. 2015;27(4):350-8. com o objetivo de compreender melhor o desenvolvimento desta capacidade.

Por último, no que se refere às variáveis linguísticas houve diferença entre os grupos quanto ao uso de advérbios temporais, dificuldades em conjugações verbais e porcentagem de palavras ininteligíveis. Em estudos que avaliaram a narrativa oral de crianças3030. Miilher LP, Ávila CR. Variáveis linguísticas e de narrativas no distúrbio de linguagem oral e escrita. Pró-Fono. 2006;18(2):177-88. ou a narrativa escrita de crianças em diversos anos escolares1010. Bigarelli JFP, Ávila CRB. Habilidades ortográficas e de narrativa escrita no ensino fundamental: características e correlações. J Soc Bras Fonoaudiol. 2011;23(3):237-44., também foram encontradas diferenças somente no uso de advérbios temporais e não no uso de substantivos, adjetivos e outros.

Os advérbios temporais, mais que marcadores de tempo são como conectores, ou seja, organizadores da sequência narrativa3030. Miilher LP, Ávila CR. Variáveis linguísticas e de narrativas no distúrbio de linguagem oral e escrita. Pró-Fono. 2006;18(2):177-88.. Este marcador geralmente aparece em narrativas escritas mais elaboradas ou em anos escolares mais avançados1010. Bigarelli JFP, Ávila CRB. Habilidades ortográficas e de narrativa escrita no ensino fundamental: características e correlações. J Soc Bras Fonoaudiol. 2011;23(3):237-44.. Portanto, é a presença de advérbios de tempo associado a conjugações verbais corretas que diferencia as elaborações escritas de crianças com e sem dificuldade em relação a classes gramaticais. Porém, uma dúvida surge: se entre os grupos há apenas diferença entre a porcentagem de presença de advérbios de tempo e conjugações verbais, por que o texto de crianças com dificuldades em leitura/escrita são pouco inteligíveis.

Este fato sugere que as crianças com dificuldades escolares conseguem utilizar a maioria das classes gramaticais, porém apresentam dificuldade em organizar o texto. Elas produzem um texto com palavras de várias classes gramaticais, mas com pouca organização, dificuldades em relacionar os elementos entre si, e dificuldade em utilizar as diversas flexões e erros de posição da palavra dentro da frase, sugerindo dificuldades na consciência morfossintática, no caso das dificuldades de flexão verbal e de gênero, ou dificuldades na consciência metatextual, no caso dos textos incoerentes.

Estudos nacionais que analisam as elaborações de narrativas escritas de crianças são bastante escassos. Essa lacuna enfatiza a necessidade de novos estudos sobre o desenvolvimento da capacidade da narrativa escrita da criança nos primeiros anos do ensino fundamental e quais as habilidades que estão relacionadas, pois, não basta escrever e ler palavras, espera-se que a criança consiga, compreender textos e escrever histórias com riquezas de detalhes, inteligíveis e que consigam transmitir a informação de forma clara e objetiva.

Conclusão

Crianças com dificuldades em leitura/escrita apresentam diversas alterações na elaboração escrita, tais como:

  • Grafia caracterizada por falhas na orientação espacial do texto na folha e desorganização geral do escrito;

  • Grande ocorrência de erros ortográficos de diversos tipos sendo os mais frequentes a dificuldade com sílabas complexas, relação fonografêmica irregular, dificuldades de acentuação e apoio na oralidade;

  • Menor utilização de advérbios de tempo, dificuldades em conjugação verbal e maior número de palavras ininteligíveis quando comparadas a crianças sem dificuldades;

  • Apresentação de conteúdo restrito, sendo que apenas descrevem o desenho oferecido como estímulo, não criam personagens e nem inferem sentimentos/ações a estes e dificuldades na manutenção da sequência lógico-temporal dos fatos. Apresentam textos com baixo nível de coerência;

O conjunto dessas alterações compromete a inteligibilidade do texto, trazendo grandes prejuízos na comunicação escrita e desempenho escolar.

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APÊNDICE 1 - (PAES) - Protocolo para Análise da Elaboração Escrita

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    Jul-Aug 2016

Histórico

  • Recebido
    31 Mar 2016
  • Aceito
    09 Maio 2016
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