Acessibilidade / Reportar erro

Perfil da produção científica da apneia obstrutiva do sono na interface da fonoaudiologia

RESUMO

Este estudo teve por objetivo averiguar a produção científica da Fonoaudiologia na interface com Apneia Obstrutiva do Sono, considerando fator de impacto, nível de evidência e área da Fonoaudiologia correspondente. Foi realizada uma busca na literatura nas bases de dados Lilacs, PubMed e Scopus, por meio do cruzamento das palavras-chave e termos livres específicos da Fonoaudiologia com "Apneia do Sono Tipo Obstrutiva". Para que o artigo fosse incluído no presente estudo, necessitava abordar como eixo principal da atuação fonoaudiológica nos pacientes com a Apneia Obstrutiva do Sono. Realizou-se uma consulta ao WebQualis da CAPES, investigando periódicos específicos da Fonoaudiologia da área 21 e seu respectivo Qualis. Os artigos selecionados foram analisados quanto ao fator de impacto, nível de evidência e área da Fonoaudiologia correspondente. Foram localizados 983 artigos, sendo selecionados 39, originados principalmente da base Scopus. O Qualis prevalente foi o B1, fator de impacto com média de 3.49, maior volume de publicações a partir do ano de 2006, nível de evidência 5 e área de atuação fonoaudiológica na maioria foi a Motricidade Orofacial. Foi realizada a análise da produção científica da Fonoaudiologia na interface com Apneia Obstrutiva do Sono, verificando-se que a Motricidade Orofacial e o nível de evidência 5 predominaram neste âmbito.

Descritores:
Fonoaudiologia; Apneia do Sono Tipo Obstrutiva; Fator de Impacto; Pesquisa Interdisciplinar; Prática Clínica Baseada em Evidências

ABSTRACT

The purpose of this study was to investigate the scientific production of Speech-Language Pathology and Audiology at the interface with Obstructive Sleep Apnea, considering impact factor, level of evidence and corresponding area of the Speech-Language Pathology and Audiology. A literature search was performed in databases Lilacs, PubMed and Scopus, through the intersection of keywords and specific free terms of Speech-Language Pathology and Audiology and "Sleep Apnea, Obstructive". For the article would be included in this study, needed to approach as the main axis the Speech-Language Pathologist acting in patients with Obstructive Sleep Apnea. Were held a consultation on the WebQualis CAPES, investigating specific journals of Speech-Language Pathology and Audiology of Area 21 and their respective Qualis. Selected articles were analyzed for impact factor, level of evidence and area of the corresponding Speech-Language Pathology and Audiology. Were located 983 articles, being selected 39, originated mainly from Scopus. The prevalent was the Qualis B1, with an average impact factor of 3,49; higher number of publications of 2006, level of evidence 5 and the Speech-Language Pathology and Audiology prevalent area was the Orofacial Myology. The analysis of the scientific production of Speech-Language Pathology and Audiology was performed at the interface with Obstructive Sleep Apnea, verifying that the Orofacial Myology and the evidence level 5 predominated in this context.

Keywords:
Speech, Language and Hearing Sciences; Sleep Apnea, Obstructive; Impact Factor; Interdisciplinary Research; Evidence-Based Practice

Introdução

As consequências da Apneia Obstrutiva do Sono (AOS) refletem no estado geral de saúde do indivíduo, como em acidentes cardiovasculares 11. Carpio C, Alvarez-Sala R, García-Río F. Epidemiological and pathogenic relationship between sleep apnea and ischemic heart disease. Pulm Med. Pulmonary Medicine vol. 2013, Article ID 405827, 8 pages, 2013. doi:10.1155/2013/405827
https://doi.org/10.1155/2013/405827...
,22. Won CH, Chun HJ, Chandra SM, Sarinas PS, Chitkara RK, Heidenreich PA. Severe obstructive sleep apnea increases mortality in patients with ischemic heart disease and myocardial injury. Sleep Breath. 2013;17(1):85-91. e acidente vascular cerebral 33. Redline S, Yenokyan G, Gottlieb DJ, Shahar E, O'Connor GT, Resnick HE et al. Obstructive sleep apnea-hypopnea and incident stroke: the sleep heart health study. Am J Respir Crit Care Med. 2010;182(2):269-77., somando-se ainda às implicações diretas aos Processos e Distúrbios da Comunicação, especificamente com as áreas de atuação da Fonoaudiologia.

Exemplificando tal cenário, pode ser associado com a AOS aspectos da audição, como a redução da amplitude do P300 44. Martins CH, Castro Júnior Nd, Costa Filho OA, Souza Neto OM. Obstructive Sleep Apnea and P300 Evoked Auditory Potential. Braz J Otorhinolaryngol. 2011;77(6):700-5., perda auditiva neurossensorial 55. Sheu JJ, Wu CS, Lin HC.Association between obstructive sleep apnea and sudden sensorineural hearing loss: a population-based case-control study. Arch Otolaryngol Head Neck Surg. 2012;138(1):55-9. e alteração do processamento auditivo em crianças 66. Ziliotto KN, Santos MFC, Monteiro VG, Pradella-Hallinan M, Moreira GA, Pereira LD et al. Avaliação do processamento auditivo em crianças com síndrome da apnéia/hipopnéia obstrutiva do sono. Rev Bras Otorrinolaringol. 2006;72(3):321-7. (AUDIOLOGIA); sinais de distúrbio de deglutição 77. Schindler A, Mozzanica F, Sonzini G, Plebani D, Urbani E, Pecis M, Montano N.Oropharyngeal Dysphagia in patients with obstructive sleep apnea syndrome. Dysphagia. 2014;29(1):44-51.,88. Valbuza JS, Oliveira MM, Zancanella E, Conti CF, Prado LB, Carvalho LB et al. Swallowing dysfunction related to obstructive sleep apnea: a nasal fibroscopy pilot study. Sleep Breath. 2011;15(2):209-13.(DISFAGIA); associação com acidentes de trabalho 99. Santos Neto LC, Miranda GA, Cunha LLG, Canto BES, Strufaldi VP, Tetti MF et al. Consequências individuais e socioeconômicas da síndrome da apneia obstrutiva do sono. Arq Bras Ciênc Saúde. 2013;38(1):33-9.(FONOAUDIOLOGIA DO TRABALHO) e alteração na aprendizagem e memória1010. Uema SFH, Pignatari SSN, Fujita RR, Moreira GA, Pradella-Hallinan M, Weckx L et al. Avaliação da função cognitiva da aprendizagem em crianças com distúrbios obstrutivos do sono. Rev Bras Otorrinolaringol. 2007;73(3):315-20. (FONOAUDIOLOGIA EDUCACIONAL). O indivíduo com AOS apresenta mais chances do acidente vascular cerebral33. Redline S, Yenokyan G, Gottlieb DJ, Shahar E, O'Connor GT, Resnick HE et al. Obstructive sleep apnea-hypopnea and incident stroke: the sleep heart health study. Am J Respir Crit Care Med. 2010;182(2):269-77. (FONOAUDIOLOGIA NEUROFUNCIONAL), além da AOS acontecer com maior frequência conforme o envelhecimento 1111. Ayalon L, Ancoli-Israel S, Drummond SPA. Obstructive Sleep Apnea and Age A Double Insult to Brain Function? Am J Respir Crit Care Med. 2010;182(3): 413-9. (GERONTOLOGIA). Associa-se ainda a AOS, alteração do desempenho dos níveis de Linguagem 1212. Kurnatowski P, Putynski L, Lapienis M, Kowalska B. Neurocognitive abilities in children with adenotonsillar hypertrophy. Int J Pediatr Otorhinolaryngol. 2006;70(3):419-24.,1313. Andreou G, Agapitou P. Reduced language abilities in adolescents who snore. ArchClin Neuropsychol. 2007;22(2):225-9. (LINGUAGEM), alteração da tonicidade da musculatura orofaríngea1414. Guimarães KC, Drager LF, Genta PR, Marcondes BF, Lorenzi-Filho G. Effects of Oropharyngeal Exercises on Patients with Moderate Obstructive Sleep Apnea Syndrome. Am J Respir Crit Care Med. 2009;179(10):962-6.,1515. Steele CM. On the plausibility of upper airway remodeling as an outcome of orofacial exercise.Am J Respir Crit Care Med. 2009;179(10):858-9.(MOTRICIDADE OROFACIAL), distúrbios neurocognitivos na criança (NEUROPSICOLOGIA)1616. Hilario SM, Silva EVCM, Chiloff CLM, Bertoz APM, Micheletti KR, Cuoghi OA et al. Distúrbios neuropsicológicos e Síndrome da Apneia do Sono em crianças. Arch Health Invest. 2014;3(3):65-75. e diferenças nos parâmetros acústicos da voz 1717. Benavidesa AM, Pozo RF, Toledano TD, Murillo JLB, Gonzalo EL, Gómez LH. Analysis of voice features related to obstructive sleep apnoea and their application in diagnosis support. Comput Speech Lang. 2014;28(2):434-52.,1818. Solé-Casals J, Munteanu C, Martín OC, Barbé F, Queipo C, Amilibia J et al. Detection of severe obstructive sleep apnea through voice analysis. Appl Soft Comput. 2014;23:346-54. (VOZ). Considerando todos esses aspectos, a Fonoaudiologia também tem o papel de se envolver na realização de programas de capacitação para a mudança de comportamento favorecendo à uma melhor qualidade de sono 1919. Moseley L, Gradisar M. Evaluation of a school-based intervention for adolescent sleep problems. Sleep. 2009;32(3):334-41. (SAÚDE COLETIVA).

Reunindo tais indícios das publicações científicas, justifica-se a atuação da Fonoaudiologia na AOS e a necessidade de mais investigações, esclarecendo qual o direcionamento de tais publicações em periódicos científicos.

Esta produção de conhecimento torna-se fundamental para o avanço da ciência e importante oportunidade para a divulgação e aperfeiçoamento dos achados científicos 2020. Oliveira Filho RSd, Hochman B, Nahas FX, Ferreira LM. Fomento à publicação científica e proteção do conhecimento científico. Acta Cir Bras. 2005;20(supl.2):35-9..

Dessa forma, o objetivo dessa pesquisa foi averiguar a produção científica da Fonoaudiologia na interface com Apneia Obstrutiva do Sono, considerando fator de impacto, nível de evidência e área da Fonoaudiologia correspondente.

Métodos

Foi realizada uma busca na literatura nas bases de dados Lilacs, PubMed e Scopus, por meio do cruzamento das palavras-chaveDeCS/MeSH: "Apneia do Sono Tipo Obstrutiva" (1), "Fonoaudiologia" (2), "Audiologia" (3), "Linguagem" (4), "Voz" (5),"Fonoterapia" (6)"Geriatria" (7), "Saúde Pública" (8) e "Transtornos da Deglutição" (9). Buscando a abrangência da Fonoaudiologia, também utilizaram os seguintes termos livres: Exercícios Orofaríngeos (10), Fonoaudiologia do Trabalho (11), Fonoaudiologia Educacional (12), Fonoaudiologia Neurofuncional (13). Para todas as palavras-chave e termos livres foram utilizados seus correspondentes em inglês. Desta forma, foram utilizadas 12 estratégias de busca, conforme consta a Figura 1.

Figura 1:
Estratégias de busca utilizadas mediante ao cruzamento de palavras-chave DeCS/MeSH e de termos livres, específicos da temática investigada

Também foram realizadas mais três buscas da palavra-chave (1) AND mastigação, AND fala e AND deglutição, porém não houve a localização de artigos diferentes pertinentes ao tema, assim não foram consideradas.

Para que o artigo fosse incluído na amostra, necessitava tratar como eixo principal da atuação fonoaudiológica no quadro clínico da AOS.

Foram adotados os seguintes critérios de exclusão: estudos específicos a outros procedimentos (cirurgia, tratamento odontológico, medicamentoso, CPAP); estudos com o enfoque principal no desenvolvimento/avaliação de questionários de qualidade vida; estudos com o enfoque na descrição de outras síndromes genéticas (Down, Craniossinostoses e Velocardiofacial); texto de editorial e carta ao editor. Ressalta-se que a busca foi realizada pelo sistema VPN (Virtual Private Network), os artigos que não se apresentassem disponíveis na íntegra, também seriam excluídos.

Também foram analisadas as referências dos artigos considerados, para que se houvesse algum estudo não localizado nas bases científicas, pudesse ser analisado e, se cumprisse os critérios de inclusão, adicionado ao presente estudo.

Para considerar a classificação do Qualis dos periódicos, realizou-se uma consulta ao website da WebQualis da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), na lista completa dos periódicos, apresentando 4.524 páginas 2121. Qualis CAPES. Disponível em: http://qualis.capes.gov.br/. Acesso em: 10 mai 2015
http://qualis.capes.gov.br/...
. Com a busca apenas dos periódicos da área da "EDUCAÇÃO FÍSICA", e admitindo os periódicos específicos da fonoaudiologia, foram considerados aqueles que apresentassem em seu título uma das seguintes palavras, com seus respectivos em inglês ou espanhol:

  • Fonoaudiologia

  • Comunicação/Comunicar/Comunicações

  • Linguagem

  • Disfluência

  • Fala

  • Afasia

  • Motricidade Orofacial

  • Disfagia

  • Audiologia

  • Audição

  • Surdez

  • Ruído

  • Zumbido

Para os periódicos que se apresentaram em sigla, foram acessados seus websites para detectar se o enfoque de publicações do mesmo era de conteúdo fonoaudiológico. Desta forma, na Figura 2 consta a lista com os ISSN, nome do periódico e Qualis CAPES, de periódicos considerados específicos da Fonoaudiologia (consulta realizada em julho/2015).

Figura 2:
Periódicos científicos com respectivos ISSN, título e qualis CAPES, considerados específicos da Fonoaudiologia

Também foi analisado o fator de impacto, considerado um instrumento de avaliação da qualidade dos periódicos 2222. Quindós G. Confundiendo al confuso: reflexiones sobre el factor de impacto, el índice H(irsch), el valor Q y otros cofactores que influyen en la felicidad del investigador. Rev Iberoam Micol. 2009;26(2):97-102.. Para isso, foi acessado em setembro de 2015 o website http://www.citefactor.org/ e buscados todos os periódicos científicos das publicações que foram admitidas.

A seleção dos artigos foi realizada inicialmente mediante a leitura dos títulos e resumos. Em seguida, os artigos selecionados foram analisados quanto ao periódico, ano de publicação, título, área correlata da Fonoaudiologia, tipo do estudo e atribuído o nível de evidência, em que o menor é classificado em 1 e o maior, 10, segundo o delineamento da pesquisa 2323. Kyzas PA. Evidence-Based Oral and Maxillofacial Surgery. J Oral Maxillofac Surg. 2008;66(3):973-86..

Cada artigo também foi classificado em qual(is) área(s) específica(s) da Fonoaudiologia que trazia o enfoque, dentre as 11 áreas, como detalha a Figura 3 2424. Conselho Federal de Fonoaudiologia. Especialista por área. Disponível em: http://www.fonoaudiologia.org.br/cffa/. Acesso em: 23 set 2015
http://www.fonoaudiologia.org.br/cffa/...
.

Figura 3:
Áreas da Fonoaudiologia atribuídas para os artigos selecionados

Em relação à análise dos dados, foi realizada de modo caracterizador, estatística descritiva e estatística indutiva, com a Correlação de Spearman (p<0,05), verificando a relação entre:

  • Qualis e ano de publicação

  • Qualis e nível de evidência

  • Ano e nível de evidência

Revisão da Literatura

Por meio das estratégias adotadas nas bases de dados resultou em um total de 10 artigos localizados na Lilacs, 598 na PubMed e 375 na Scopus. Na Tabela 1 encontram-se detalhes desse resultado, salientando-se que estão contabilizados artigos repetidos localizados em diferentes bases de dados bem como repetição em estratégias de buscas diferentes.

Tabela 1:
Número de artigos localizados e selecionados nas bases Lilacs, PubMed e Scopus, em cada estratégia de busca

A seguir na Figura 4, está a relação específica dos focos dos estudos que foram excluídos, seguindo os critérios de exclusão adotados.

Figura 4:
Enfoque dos estudos excluídos, seguindo os critérios de exclusão, por estratégia de busca

Abaixo na Tabela 2, foi realizada uma análise dos artigos selecionados para este estudo. Também encontra-se a classificação do nível de evidência, em que o menor é classificado em 1 e o maior, 10, segundo o delineamento da pesquisa 2323. Kyzas PA. Evidence-Based Oral and Maxillofacial Surgery. J Oral Maxillofac Surg. 2008;66(3):973-86..

Tabela 2:
Informações do periódico, autor, ano título, tipo de estudo, nível de evidência e área de especialidade da Fonoaudiologia dos artigos considerados no presente estudo

Em uma análise estatística descritiva, observou-se o Qualis das publicações de A1 em 7 artigos (17,9%), A2 em 4 (10,3%), B1 em 14 publicações (35,9%), 1 artigo B2, 1 B3, 1 B4 (2,6%). Os 11 artigos restantes (28,1%) não apresentaram Qualis para a área 21 da CAPES.

Considerando os 30 periódicos científicos que apresentaram publicações incluídas neste estudo, 9 não apresentaram fator de impacto e os demais 21 periódicos apresentaram como média 3.49, mediana 2.42, desvio padrão de 2.82, máximo 11.99 e mínimo de 0.78.

Quanto a localização dos artigos, 7 foram encontrados tanto na PubMed, como na Scopus (17,9%), 9 na Scopus (23,1%), 8 somente na PubMed (20,5%), 6 na Lilacs (15,4%) e 1 localizado tanto na Lilacs como na Scopus (2,6%); sendo 8 (20,5%) localizados por meio das referências dos artigos considerados.

A distribuição dos anos de publicações foi difusa tendo 1 artigo publicado nos anos de 1987, 1993, 2002 e 2004; 3 publicações em 2006 e em 2007; 2 em 2008; 4 em 2009; 5 em 2010;1 em 2011; 3 em 2012 e em 2013; 4 em 2014 e 7 em 2015. Analisando os períodos de 5 em 5 anos, obtém-se a seguinte distribuição, conforme demonstra a Figura 5.

Figura 5:
Análise da quantidade de artigos pelo ano de publicação, em períodos de 5 anos

Foi verificado que os níveis de evidência 10, 9, 8 e 6 apresentaram 2 artigos em cada (5,2%); o nível 5 foi elegido para 17 artigos (43,6%), o 4 para 7 publicações (17,8%) e o nível 1 para 7 artigos (17,8%), detalhes na Figura 6.

Figura 6:
Quantidade de artigos por nível de evidência

Dentre as 11 áreas da Fonoaudiologia, 20 artigos trouxeram a atuação específica da Motricidade Orofacial, 7 da Voz, 3 da Linguagem, as áreas da Audiologia, da Neuropsicologia e da Fonoaudiologia Neurofuncional apresentaram 2 publicações, enquanto a Saúde Coletiva, Gerontolodia/Fonoaudiologia Neurofuncional e Linguagem/Motricidade Orofacial obtiveram 1 publicação cada (Figura 7).

Figura 7:
Quantidade de artigos por área da Fonoaudiologia

A Correlação de Spearman não resultou em diferença significante, como evidenciada na Tabela 3.

Tabela 3:
Correlação de Spearman nas variáveis Qualis, ano de publicação e nível de evidência

A caracterização de publicações de um determinado tema, traz maior compreensão do avanço da ciência, permitindo traçar de um modo mais efetivo, novos caminhos que os cientistas devem percorrer. Em particular para a AOS e a sua interface com a Fonoaudiologia, esse processo é justificado para potencializar o avanço da atuação desta profissão na avaliação, tratamento, prevenção e promoção de saúde no quadro clínico da AOS.

No momento da busca, foram localizados mais artigos na base de dados PubMed e na Scopus. Quando analisados apenas os artigos considerados, a base Scopus foi a que mais afunilou tal busca, em segundo lugar estão os artigos localizados na PubMed e Scopus, e em terceiro lugar os artigos localizados por meio da consulta às referências. Ressalta-se que o destaque para as bases PubMed e Scopus deve-se à primeira apresentar 25 milhões de citações da literatura da biomedicina pelo Medline, periódicos e livros online 2525. PubMed - US National Library of Medicine National Institutes of Health. Disponível em: http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed. Acesso em: 23 set 2015.
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed...
enquanto que a segunda por ser considerada a maior base de dados de resumos e citações da literatura, além de conter anais de conferências 2626. Elsevier. Scopus. Disponível em: http://www.elsevier.com/solutions/scopus . Acesso em: 23 set 2015
http://www.elsevier.com/solutions/scopus...
.

Apesar do grande número de artigos localizados, 983, o presente estudo também apresentou uma alta taxa de exclusão (96,03%) podendo ser explicada pelo diversificados descritores e termos livres utilizados na tentativa de se abranger todas as atuações da Fonoaudiologia.

Houve uma concentração do Qualis na classificação B1 e, em sequência, artigos que não apresentaram Qualis para a área 21 da CAPES. O estudo que investigou o nível de publicação em um programa de pós-graduação em Fonoaudiologia identificou a mesma predominância do Qualis B1 2727. Braga MER, Chiari BM, Goulart BNG. Produção bibliográfica em artigos, livros e capítulos de livros de um programa de pós-graduação em fonoaudiologia: análise de indicadores bibliométricos. Distúrb Comun. 2014;26(1):118-30..

Dos periódicos considerados, 77% apresentaram o Fator de Impacto, contrapondo com o estudo na Fonoaudiologia em que apenas 23% apresentaram o Fator de Impacto, além de apresentar um mínimo e máximo mais baixo comparando com o presente estudo 2727. Braga MER, Chiari BM, Goulart BNG. Produção bibliográfica em artigos, livros e capítulos de livros de um programa de pós-graduação em fonoaudiologia: análise de indicadores bibliométricos. Distúrb Comun. 2014;26(1):118-30.. O dado de que apenas 5% dos periódicos eram específicos da Fonoaudiologia, pode justificar o maior Fator de Impacto verificados nos estudos da Fonoaudiologia e AOS, pois esse fator é calculado pelo número de citações recebidas pelos artigos publicados em determinado periódico sendo notado baixa citação dos artigos publicados em periódicos nacionais da Fonoaudiologia 2828. Campanatti-Ostiz H, Andrade CRF. Periódicos nacionais em Fonoaudiologia: caracterização de indicador de impacto. Pró-Fono R. Atual. Cientif. 2006;18(1):99-110..

Observou-se um maior volume de publicações em Fonoaudiologia no âmbito da AOS a partir do ano de 2006 e maior concentração do nível de evidência 5, correspondendo ao desenho do estudo observacional. Não foram localizados estudos neste sentido, porém esse dado concorda com o estudo realizado sobre o nível de evidência das publicações na Odontologia 2929. Cavalcanti YW, Freires IA, Carreiro Júnior E, Gonçalves DT, Morais FR, Lira Júnior R et al. Determinação do Nível de Evidência Científica de Artigos sobre Prótese Total Fixa Implanto-Suportada. Rev Bras Ciênc Saúde. 2011;14(4):45-50..

Por fim, em relação a área da Fonoaudiologia, houve a predominância da Motricidade Orofacial, o que difere dos resultados da publicação em geral da Fonoaudiologia que identificou a primeira área de publicação como a Linguagem, seguida da Audiologia 3030. Hernández-Jaramillo J, Cruz-Velandia I, Torres-Narváez M. Investigación clínica en fonoaudiología: análisis de la literatura científica 2005-2009. Rev Fac Med. 2010;58(3):204-13..

A importância deste estudo está na caracterização do avanço da ciência fonoaudiológica no âmbito da AOS, possibilitando ampliação de tal divulgação e norteando o início de novas pesquisas na área.

Conclusão

Portanto, foi realizada a análise da produção científica da Fonoaudiologia na interface com Apneia Obstrutiva do Sono, verificando-se que a Motricidade Orofacial predominou quanto à área de publicações, sendo que o nível de evidência 5 foi o mais frequente, correspondendo ao tipo de estudo observacional transversal.

Referências

  • 1
    Carpio C, Alvarez-Sala R, García-Río F. Epidemiological and pathogenic relationship between sleep apnea and ischemic heart disease. Pulm Med. Pulmonary Medicine vol. 2013, Article ID 405827, 8 pages, 2013. doi:10.1155/2013/405827
    » https://doi.org/10.1155/2013/405827
  • 2
    Won CH, Chun HJ, Chandra SM, Sarinas PS, Chitkara RK, Heidenreich PA. Severe obstructive sleep apnea increases mortality in patients with ischemic heart disease and myocardial injury. Sleep Breath. 2013;17(1):85-91.
  • 3
    Redline S, Yenokyan G, Gottlieb DJ, Shahar E, O'Connor GT, Resnick HE et al. Obstructive sleep apnea-hypopnea and incident stroke: the sleep heart health study. Am J Respir Crit Care Med. 2010;182(2):269-77.
  • 4
    Martins CH, Castro Júnior Nd, Costa Filho OA, Souza Neto OM. Obstructive Sleep Apnea and P300 Evoked Auditory Potential. Braz J Otorhinolaryngol. 2011;77(6):700-5.
  • 5
    Sheu JJ, Wu CS, Lin HC.Association between obstructive sleep apnea and sudden sensorineural hearing loss: a population-based case-control study. Arch Otolaryngol Head Neck Surg. 2012;138(1):55-9.
  • 6
    Ziliotto KN, Santos MFC, Monteiro VG, Pradella-Hallinan M, Moreira GA, Pereira LD et al. Avaliação do processamento auditivo em crianças com síndrome da apnéia/hipopnéia obstrutiva do sono. Rev Bras Otorrinolaringol. 2006;72(3):321-7.
  • 7
    Schindler A, Mozzanica F, Sonzini G, Plebani D, Urbani E, Pecis M, Montano N.Oropharyngeal Dysphagia in patients with obstructive sleep apnea syndrome. Dysphagia. 2014;29(1):44-51.
  • 8
    Valbuza JS, Oliveira MM, Zancanella E, Conti CF, Prado LB, Carvalho LB et al. Swallowing dysfunction related to obstructive sleep apnea: a nasal fibroscopy pilot study. Sleep Breath. 2011;15(2):209-13.
  • 9
    Santos Neto LC, Miranda GA, Cunha LLG, Canto BES, Strufaldi VP, Tetti MF et al. Consequências individuais e socioeconômicas da síndrome da apneia obstrutiva do sono. Arq Bras Ciênc Saúde. 2013;38(1):33-9.
  • 10
    Uema SFH, Pignatari SSN, Fujita RR, Moreira GA, Pradella-Hallinan M, Weckx L et al. Avaliação da função cognitiva da aprendizagem em crianças com distúrbios obstrutivos do sono. Rev Bras Otorrinolaringol. 2007;73(3):315-20.
  • 11
    Ayalon L, Ancoli-Israel S, Drummond SPA. Obstructive Sleep Apnea and Age A Double Insult to Brain Function? Am J Respir Crit Care Med. 2010;182(3): 413-9.
  • 12
    Kurnatowski P, Putynski L, Lapienis M, Kowalska B. Neurocognitive abilities in children with adenotonsillar hypertrophy. Int J Pediatr Otorhinolaryngol. 2006;70(3):419-24.
  • 13
    Andreou G, Agapitou P. Reduced language abilities in adolescents who snore. ArchClin Neuropsychol. 2007;22(2):225-9.
  • 14
    Guimarães KC, Drager LF, Genta PR, Marcondes BF, Lorenzi-Filho G. Effects of Oropharyngeal Exercises on Patients with Moderate Obstructive Sleep Apnea Syndrome. Am J Respir Crit Care Med. 2009;179(10):962-6.
  • 15
    Steele CM. On the plausibility of upper airway remodeling as an outcome of orofacial exercise.Am J Respir Crit Care Med. 2009;179(10):858-9.
  • 16
    Hilario SM, Silva EVCM, Chiloff CLM, Bertoz APM, Micheletti KR, Cuoghi OA et al. Distúrbios neuropsicológicos e Síndrome da Apneia do Sono em crianças. Arch Health Invest. 2014;3(3):65-75.
  • 17
    Benavidesa AM, Pozo RF, Toledano TD, Murillo JLB, Gonzalo EL, Gómez LH. Analysis of voice features related to obstructive sleep apnoea and their application in diagnosis support. Comput Speech Lang. 2014;28(2):434-52.
  • 18
    Solé-Casals J, Munteanu C, Martín OC, Barbé F, Queipo C, Amilibia J et al. Detection of severe obstructive sleep apnea through voice analysis. Appl Soft Comput. 2014;23:346-54.
  • 19
    Moseley L, Gradisar M. Evaluation of a school-based intervention for adolescent sleep problems. Sleep. 2009;32(3):334-41.
  • 20
    Oliveira Filho RSd, Hochman B, Nahas FX, Ferreira LM. Fomento à publicação científica e proteção do conhecimento científico. Acta Cir Bras. 2005;20(supl.2):35-9.
  • 21
    Qualis CAPES. Disponível em: http://qualis.capes.gov.br/ Acesso em: 10 mai 2015
    » http://qualis.capes.gov.br/
  • 22
    Quindós G. Confundiendo al confuso: reflexiones sobre el factor de impacto, el índice H(irsch), el valor Q y otros cofactores que influyen en la felicidad del investigador. Rev Iberoam Micol. 2009;26(2):97-102.
  • 23
    Kyzas PA. Evidence-Based Oral and Maxillofacial Surgery. J Oral Maxillofac Surg. 2008;66(3):973-86.
  • 24
    Conselho Federal de Fonoaudiologia. Especialista por área. Disponível em: http://www.fonoaudiologia.org.br/cffa/ Acesso em: 23 set 2015
    » http://www.fonoaudiologia.org.br/cffa/
  • 25
    PubMed - US National Library of Medicine National Institutes of Health. Disponível em: http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed Acesso em: 23 set 2015.
    » http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed
  • 26
    Elsevier. Scopus. Disponível em: http://www.elsevier.com/solutions/scopus . Acesso em: 23 set 2015
    » http://www.elsevier.com/solutions/scopus
  • 27
    Braga MER, Chiari BM, Goulart BNG. Produção bibliográfica em artigos, livros e capítulos de livros de um programa de pós-graduação em fonoaudiologia: análise de indicadores bibliométricos. Distúrb Comun. 2014;26(1):118-30.
  • 28
    Campanatti-Ostiz H, Andrade CRF. Periódicos nacionais em Fonoaudiologia: caracterização de indicador de impacto. Pró-Fono R. Atual. Cientif. 2006;18(1):99-110.
  • 29
    Cavalcanti YW, Freires IA, Carreiro Júnior E, Gonçalves DT, Morais FR, Lira Júnior R et al. Determinação do Nível de Evidência Científica de Artigos sobre Prótese Total Fixa Implanto-Suportada. Rev Bras Ciênc Saúde. 2011;14(4):45-50.
  • 30
    Hernández-Jaramillo J, Cruz-Velandia I, Torres-Narváez M. Investigación clínica en fonoaudiología: análisis de la literatura científica 2005-2009. Rev Fac Med. 2010;58(3):204-13.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    Sep-Oct 2016

Histórico

  • Recebido
    17 Dez 2015
  • Aceito
    11 Ago 2016
ABRAMO Associação Brasileira de Motricidade Orofacial Rua Uruguaiana, 516, Cep 13026-001 Campinas SP Brasil, Tel.: +55 19 3254-0342 - São Paulo - SP - Brazil
E-mail: revistacefac@cefac.br