Acessibilidade / Reportar erro

Banco de palavras para leitura de escolares do ensino médio: E-LEITURA III

RESUMO

Objetivo:

elaborar um banco de palavras de alta, média e baixa frequência para leitura no Ensino Médio.

Métodos:

as palavras foram retiradas do material didático de língua Portuguesa, da rede de ensino do Estado de São Paulo. Selecionaram-se apenas os substantivos. Foi registrada a frequência de ocorrência das palavras. Para a classificação das frequências utilizou-se os tercis da distribuição, frequência média e ponto de corte dos tercis. Para verificar a classificação obtida foram avaliados 134 alunos: G1 (1ªsérie, n=44); G2 (2ª série, n= 44) e G3 (3ªsérie, n= 46). As palavras foram apresentadas, para leitura, em voz alta, em duas sessões: 1ª) alta e média frequência e 2ª) baixa frequência. Análise descritiva.

Resultados:

as palavras correspondem à classificação apresentada, porém, cada palavra apresenta seu nível de dificuldade e o profissional poderá eleger aquelas que melhor respondem aos seus objetivos, para que assim, possa elaborar instrumentos de avaliação e intervenção em leitura.

Conclusão:

o E-LEITURA III é um recurso útil para os profissionais, pois é disponibilizado um banco com ampla gama de palavras que poderá ser utilizado com escolares do Ensino Médio. Dessa forma, espera-se que o E-LEITURA III possa ser utilizado para elaborar procedimentos de avaliação e intervenção com leitura nesses escolares.

Descritores:
Ensino Fundamental e Médio; Avaliação; Aprendizagem; Leitura

ABSTRACT

Purpose:

to elaborate a database of high, medium and low frequency words for reading in High School.

Methods:

the words were extracted from the Portuguese Language didactic content, of São Paulo State Educational material. Only the nouns were selected. The frequency of each word occurrence was computed. To classify them by frequency of occurrence, it was employed the distribution tertiles, mean frequency and tertiles cutoff point. In order to verify the classification obtained,134 students were evaluated: G1 (1stgrade, n=44); G2 (2nd grade, n= 44) e G3 (3rd grade, n= 46). The words were presented, for reading out loud, in two sessions: 1st) high and medium-frequency and 2nd) low-frequency. Descriptive analysis.

Results:

the words truly correspond to the classification presented, and, each word presents its level of difficulty. The professional can choose the words that best fulfill their goals in order to develop procedures for evaluation and intervention in reading.

Conclusion:

E-READING III constitutes a useful resource for professionals, because, it displays a database with a wide range of words to be applied in high school students. It is expected that E-READING III may enable evaluation and intervention procedures for these students concerning reading.

Keywords:
Education, Primary and Secondary; Evaluation; Learning; Reading

Introdução

A leitura e a escrita são habilidades essenciais na sociedade moderna, importante para o desenvolvimento cultural e pessoal do indivíduo, proporcionando sua inserção em grande parte dos ambientes sociais. Além disso, é uma das mais importantes entradas para o conhecimento, uma vez que a leitura se mostra necessária para o aprendizado dos conteúdos propostos, ou seja, é necessário ler para aprender11. Bandini CSM, Bandini HHM, Sella AC, Souza DG. (2014). Emergence of reading and writing in illiterate adults after matching-to-sample tasks. Paidéia. 2014;14(57):75-84.

2. Cain K, Oakhill JV, Barnes MA, Bryant PE. Comprehension skill, inference-making ability, and their relation to knowledge. Memory & Cognition. 2001;26(6):850-9.

3. Morais J. Criar leitores: para professores e educadores. Barueri (SP): Minha Editora; 2013.

4. Navas ALGP, Pinto JCBR, Dellisa PRR. Avanços no conhecimento do processamento da fluência em leitura: da palavra ao texto. Rev. Soc. Bras. Fonoaudiol. 2009;14(3):553-9.

5. Norton ES, Black JM, Stanley LM, Tanaka H, Gabrieli CS, Hoelft F. Functional neuroanatomical evidence for the double-deficit hypothesis of developmental dyslexia. Neuropshychologia. 2014;61:235-46.

6. Oakhill JV, Cain K. The precursors of reading ability in young readers: Evidence from a four-year longitudinal study. Scientific Studies of Reading. 2012;16(2):91-121.
-77. Oliveira AM, Capellini SA. E- Leitura II: Banco de palavras para leitura de escolares do Ensino Fundamental II. CoDAS. No prelo 2016..

A leitura permite, ao indivíduo, realizar trabalhos gratificantes na sociedade, utilizar recursos da vida cotidiana, conhecer a ciência e a tecnologia, a história e a cultura da humanidade, tornando-se um cidadão responsável e atuante33. Morais J. Criar leitores: para professores e educadores. Barueri (SP): Minha Editora; 2013.. O desconhecimento da modalidade escrita, nas sociedades letradas, coexiste com a exclusão, com a pobreza e com os limites para o exercício da cidadania88. Scliar-Cabral L. Princípios do Sistema Alfabético do Português do Brasil. São Paulo: Contexto; 2003..

A aprendizagem da leitura implica processos que de início são conscientes e intencionais, mas que se tornam, progressivamente, inconscientes e automatizados. Todavia, o fato de essas habilidades terem sido automatizadas não significa que a leitura seja uma tarefa simples33. Morais J. Criar leitores: para professores e educadores. Barueri (SP): Minha Editora; 2013.,99. Cuetos F. Psicología de la lectura. 8ª Ed. Las Rozas, Madrid: Wolters Kluwer España; 2010..

A leitura envolve os processos de decodificação (habilidade elementar) e o de compreensão (habilidade de alto nível)99. Cuetos F. Psicología de la lectura. 8ª Ed. Las Rozas, Madrid: Wolters Kluwer España; 2010.,1010. Melgarejo GM, Maraver MJT, Sage DS. El retraso en el desarrollo del lenguaje y los problemas de comprensión lectora: una exploración del modelo simple de lectura. Rev. Logop. Foniatr. Audiol. 2013;33(3):136-45.. A decodificação é a habilidade relacionada ao reconhecimento de símbolos gráficos, os quais são representados por meio de letras e palavras. Envolve habilidades perceptivas (compreensão e interpretação dos símbolos gráficos a partir dos estímulos visuais), de identificação de letras e o léxico (conhecimento linguístico das palavras, a partir do qual os leitores constroem os seus significados).

A compreensão é o processo pelo qual as palavras, as sentenças ou os textos são interpretados. Envolve os processos sintático (conhecimento das estruturas gramaticais, o que permite compreender como as palavras se relacionam) e semântico (integração da informação atual - palavras, frases ou textos - com o conhecimento prévio)99. Cuetos F. Psicología de la lectura. 8ª Ed. Las Rozas, Madrid: Wolters Kluwer España; 2010.

10. Melgarejo GM, Maraver MJT, Sage DS. El retraso en el desarrollo del lenguaje y los problemas de comprensión lectora: una exploración del modelo simple de lectura. Rev. Logop. Foniatr. Audiol. 2013;33(3):136-45.
-1111. Giangiacomo MCPB, Navas ALGP. A influência da memória operacional nas habilidades de compreensão de leitura em escolares de 4ª série. Rev Soc Bras Fonoaudiol. 2008;13(1):69-74..

As habilidades de processamento fonológico e de conhecimento de escrita mostraram-se correlacionadas ao desempenho em codificação e decodificação, envolvidas na escrita e leitura de itens isolados1212. Nicolau CC, Navas ALGP. Avaliação das habilidades preditoras do sucesso de leitura em crianças de 1º e 2º anos do ensino fundamental. Rev. CEFAC. 2015;17(3):917-26.. No Português, como não há apenas a correspondência unívoca entre as letras e os fonemas, ou seja, grafemas podem corresponder a mais de um fonema e os fonemas a mais de um grafema (no português, não mais do que dois), a conversão das letras em uma sequência de grafemas é pré-requisito para o processo de correspondência grafema-fonema e para o aprendizado da leitura88. Scliar-Cabral L. Princípios do Sistema Alfabético do Português do Brasil. São Paulo: Contexto; 2003.,1313. Batista AO. Desempenho ortográfico de escolares do 2º ao 5º ano: proposta de elaboração de um protocolo de avaliação da ortografia [mestrado] Marília (SP): Faculdade de Filosofia e Ciências - Unesp. Programa de Pós-Graduação em Educação; 2011.

14. Cunha VLO, Capellini SA. Leitura: decodificação ou obtenção do sentido? Rev. Teias. 2009;10(19):1-21.

15. Fernández AY, Mérida JFC, Cunha VLO, Batista AO, Capellini SA. Avaliação e intervenção da disortografia baseada na semiologia dos erros: revisão de literatura. Rev. CEFAC. 2010;12(3):499-504.
-1616. Meireles E, Correa J. A relação da tarefa de erro intencional com o desempenho ortográfico da criança considerados os aspectos morfossintáticos e contextuais da língua português. Rev. Estud Psicol. 2006;11(1):35-43..

Um dos modelos utilizados para explicar o reconhecimento da palavra em um sistema de escrita alfabético é o modelo da Dupla Rota1717. Coltheart M, Rastle K, Perry C, Langdon R, Ziegler J. DRC: A dual route cascaded model of visual word recognition and reading aloud. Psychol Rev. 2001;108(1):204-56., amplamente descrito na literatura99. Cuetos F. Psicología de la lectura. 8ª Ed. Las Rozas, Madrid: Wolters Kluwer España; 2010.,1818. Capellini SA, Oliveira AM, Cuetos F. PROLEC: Provas de avaliação dos processos de leitura. (3ª ed). São Paulo (SP): Casa do Psicólogo; 2014.

19. Cunha VLO, Capellini SA. Análise psicolinguística e cognitivo-linguística das provas de habilidades metalinguísticas e leitura realizadas em escolares de 2ª a 5ª série. Rev. CEFAC. 2010;12(5):772-83.

20. Kim YS, Petscher Y, Foorman BR, Zhou C. (2010). The contributions of phonological awareness and letter-name knowledge to letter sound acquisition - a cross classified multilevel model approach. J.Educ.Psychol. 2010;102(2):313-26.

21. Oliveira AM. Desempenho de escolares do segundo ano do ensino fundamental em provas de compreensão de leitura: elaboração de procedimento avaliativo [mestrado] Marília (SP): Faculdade de Filosofia e Ciências - Unesp. Programa de Pós Graduação em Educação; 2011.

22. Pinheiro AMV, Lúcio P S, Silva DR. Avaliação cognitiva de leitura: o efeito de regularidade grafema-fonema e fonema-grafema na leitura em voz alta de palavras isoladas no português do Brasil. Psicol. teor. prat. 2008;10(2):16-30.

23. Pinheiro AMV. Heterogeneidade entre leitores julgados competentes pelas professoras. Psicol. Reflex. Crit. 2001;14(3):537-51.

24. Pinheiro AMV, Rothe-Neves R. Avaliação cognitiva de leitura e escrita: as tarefas de leitura em voz alta e ditado. Psicol. Refl. Crít. 2001;14(2):399-408.
-2525. Pinheiro AMV. Leitura e escrita: uma abordagem cognitiva. 2ª Ed. Campinas: Livro Pleno; 2006..Os leitores proficientes leem as palavras reais por meio das duas rotas envolvidas no modelo supracitado: dois processos lexicais (léxico-fonêmica que pode ser acompanhada pelo processamento semântico ou pelo processo de conversão grafema-fonema) e um processo fonológico2424. Pinheiro AMV, Rothe-Neves R. Avaliação cognitiva de leitura e escrita: as tarefas de leitura em voz alta e ditado. Psicol. Refl. Crít. 2001;14(2):399-408.,2525. Pinheiro AMV. Leitura e escrita: uma abordagem cognitiva. 2ª Ed. Campinas: Livro Pleno; 2006..

A via lexical permite ler todas as palavras conhecidas, tanto regulares como irregulares, mas não as pseudopalavras e as palavras desconhecidas. A via fonológica (subléxica), por sua vez, permite ler todas as palavras regulares, conhecidas ou não, bem como as pseudopalavras, mas não as palavras irregulares99. Cuetos F. Psicología de la lectura. 8ª Ed. Las Rozas, Madrid: Wolters Kluwer España; 2010.,2323. Pinheiro AMV. Heterogeneidade entre leitores julgados competentes pelas professoras. Psicol. Reflex. Crit. 2001;14(3):537-51.

24. Pinheiro AMV, Rothe-Neves R. Avaliação cognitiva de leitura e escrita: as tarefas de leitura em voz alta e ditado. Psicol. Refl. Crít. 2001;14(2):399-408.
-2525. Pinheiro AMV. Leitura e escrita: uma abordagem cognitiva. 2ª Ed. Campinas: Livro Pleno; 2006..

As palavras irregulares quando lidas pela rota fonológica, podem ter sua pronúncia regularizada, pois há um conflito entre a pronúncia correta, produzida pela rota lexical, e a pronúncia regularizada, produzida pela rota fonológica. Isso conduz a maior tempo de reação para a leitura da palavra, em especial, as de baixa frequência de ocorrência1717. Coltheart M, Rastle K, Perry C, Langdon R, Ziegler J. DRC: A dual route cascaded model of visual word recognition and reading aloud. Psychol Rev. 2001;108(1):204-56.,2323. Pinheiro AMV. Heterogeneidade entre leitores julgados competentes pelas professoras. Psicol. Reflex. Crit. 2001;14(3):537-51.

24. Pinheiro AMV, Rothe-Neves R. Avaliação cognitiva de leitura e escrita: as tarefas de leitura em voz alta e ditado. Psicol. Refl. Crít. 2001;14(2):399-408.

25. Pinheiro AMV. Leitura e escrita: uma abordagem cognitiva. 2ª Ed. Campinas: Livro Pleno; 2006.
-2626. Ripamonti E, Aggujaro S, Molteni F, Zonca G, Frustaci M, Luzzatti C. The anatomical foundations of acquired Reading disorders: A neuropsychological verification of the dual-route model of reading. Brain Lang. 2014;134:44-67..

O conhecimento da palavra é promovido pela constância na leitura que permite aumentar, para cada palavra, sua compreensão. Assim, é como se ocorresse um ciclo, no qual a constância da leitura favorece seu entendimento, incentivando o indivíduo a insistir nessa prática33. Morais J. Criar leitores: para professores e educadores. Barueri (SP): Minha Editora; 2013..

A leitura em voz alta de palavras reais isoladas é reconhecida em diversas línguas alfabéticas como um método eficaz de avaliação cognitiva da leitura, sendo eficiente para avaliar os componentes do modelo da dupla rota99. Cuetos F. Psicología de la lectura. 8ª Ed. Las Rozas, Madrid: Wolters Kluwer España; 2010.,2727. Lúcio OS, Pinheiro AMA, Nascimento E. O impacto da mudança no critério de acerto na distribuição dos escores do subteste de leitura do teste de desempenho escolar. Psicol. Estud. 2009;14(3):593-601.. Esse tipo de leitura vem sendo amplamente estudado por sua importância no início do aprendizado2828. Graves WW, Binder JR, Desai RH, Humphries C, Stengel BC, Seidenberg MS. Anatomy is strategy: Skilled reading differences associated with structural connectivity differences in the reading network. Brain Lang. 2014;133:1-13.,2929. Rayner K, Foorman BR, Perfetti CA, Pesetsky D, Seidenberg MS. How psychological science informs the teaching of reading. Psychological Science in the Public Interest. 2001;2(2):31-74..

A leitura de palavras reais, em voz alta, oferece as seguintes informações: 1) variação do número de letras (comprimento); 2) variação dos níveis de familiaridade com as palavras (frequência); 3) envolvimento do processo semântico na leitura e 4) envolvimento do processo de conversão grafema-fonema na recuperação da pronúncia2323. Pinheiro AMV. Heterogeneidade entre leitores julgados competentes pelas professoras. Psicol. Reflex. Crit. 2001;14(3):537-51.,2424. Pinheiro AMV, Rothe-Neves R. Avaliação cognitiva de leitura e escrita: as tarefas de leitura em voz alta e ditado. Psicol. Refl. Crít. 2001;14(2):399-408..

Pesquisadores internacionais3030. Balota DA, Yap MJ, Hutchison KA et al. The English Lexicon Project. Behav Res. 2007;39(3):445-59.

31. Martínez JÁ, García E. Diccionario. Frecuencias del castellano escrito en niños de 6 a 12 años. Salamanca: Publicaciones de la Universidad Pontificia; 2004.
-3232. López MXB. O Galego fundamental: dicionário de frecuencias. Santiago de Compostela: A Coruña Fundación Pedro Barrié de la Maza; 2007. disponibilizam banco de palavras, classificados em frequência e extensão, nos quais os profissionais podem utilizar as que melhor atendem seus objetivos. Na Espanha, a Real Academia Espanhola disponibiliza online lista das palavras de acordo com sua frequência.

Apesar da sua importância, até o presente momento, não há registros de listas de palavras e de pseudopalavras que possam ser utilizadas para a avaliação da leitura em escolares brasileiros do Ensino Médio, nem de banco de palavras do qual os profissionais possam selecionar aquelas que interessam para criar suas próprias listas. As listas disponíveis estão presentes em procedimentos de avaliação da leitura e escrita1818. Capellini SA, Oliveira AM, Cuetos F. PROLEC: Provas de avaliação dos processos de leitura. (3ª ed). São Paulo (SP): Casa do Psicólogo; 2014.,2424. Pinheiro AMV, Rothe-Neves R. Avaliação cognitiva de leitura e escrita: as tarefas de leitura em voz alta e ditado. Psicol. Refl. Crít. 2001;14(2):399-408.,2525. Pinheiro AMV. Leitura e escrita: uma abordagem cognitiva. 2ª Ed. Campinas: Livro Pleno; 2006.,3333. Batista AO, Cervera-Mérida JF, Ygual-Fernández A, Capellini SA. Pró-Ortografia: protocolo de avaliação da ortografia para escolares do segundo ao quinto ano do ensino fundamental. Barueri (SP): Pró-Fono Editora; 2014., porém, para escolares do Ensino Fundamental I.

Mediante o exposto, este estudo teve por objetivo 1) elaborar um banco de palavras de alta, média e baixa frequência, denominado E-LEITURA III, para ser utilizado como estímulo linguístico em procedimentos de avaliação e de intervenção em leitura de escolares do Ensino Médio e 2) descrever o desempenho dos escolares do Ensino Médio na leitura do E-LEITURA III com o desempenho dos escolares do Ensino Fundamental em banco de palavras desenvolvido especificamente para essa população.

Métodos

Este estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Faculdade de Filosofia e Ciências da UNESP - Marilia parecer n. 1.125.746. Trata-se de uma pesquisa aplicada visando à elaboração de um banco de palavras para leitura de escolares do Ensino Médio, nomeado E - LEITURA III. O desenvolvimento deste material é parte da tese de doutorado "Tradução e Adaptação Cultural da avaliação dos processos de leitura (PROLEC-SE R) para escolares do Ensino Fundamental ciclo II e do Ensino Médio", do programa de Pós-Graduação em Educação da Faculdade de Filosofia e Ciências da Universidade Estadual Paulista "Júlio de Mesquita Filho" - FFC/Unesp/ Marília - SP, Brasil".

Elaboração do Banco de Palavras para o Ensino Médio

Nesta etapa, foi elaborado um banco de palavras retiradas do material didático utilizado pela rede estadual de ensino de Marília (SP), da 1a à 3ª série do Ensino Médio - São Paulo (Estado) Secretaria da Educação. Caderno do aluno: língua portuguesa, ensino médio. Secretaria da Educação. São Paulo: SEE, 2013. Este material foi utilizado nos quatro bimestres de 2013.

O material apresentado serve de apoio ao currículo do Ensino Médio proposto pela Secretaria da Educação do Estado de São Paulo. O caderno do aluno, cujo conteúdo foi desenvolvido por especialistas da Educação, tendo como base o Currículo Oficial do Estado de São Paulo, faz parte das ações previstas no programa "São Paulo Faz Escola".

A cada bimestre, um kit de livros é distribuído, por ano escolar, com os cadernos das respectivas disciplinas. O material escolhido para este trabalho foi o caderno de Língua Portuguesa - Área de Linguagem e Códigos e suas Tecnologias, composto por 12 livros (quatro por ano escolar). Todas as palavras dos textos integrantes dos materiais didáticos foram digitadas em uma única coluna de planilha Excel. Após a digitação, foram selecionados apenas os substantivos por ser uma classe frequente em qualquer texto, visto que exercem funções sintáticas importantes na frase.

Todas as palavras homófonas e que podiam oferecer ambiguidade, dependendo do contexto, ou que podiam ser classificadas diferentemente foram retiradas. Por exemplo, a palavra "africanas" pode assumir a classe dos substantivos (As africanas vestem-se diferentemente das japonesas) e a função de adjetivo (As abelhas africanas são perigosas).

As palavras substantivas que podiam assumir a classe dos adjetivos, porém, como metáfora, foram mantidas, como a palavra "fera" que assume a classe dos substantivos na frase "A fera está solta na selva" e a classe dos adjetivos com função de metáfora na frase "Sua mãe está uma fera com você".

Os substantivos podem ser reconhecidos por alguns critérios: 1) representam os nomes dos seres; 2) são sempre núcleos do sintagma nominal; 3) aceitam, em geral, o artigo; 4) sintaticamente, podem exercer várias funções: sujeito, complemento verbal, agente da passiva, complemento nominal, predicativo, aposto e 5) flexionam-se em gênero, número e grau3434. Cegalla DP. Novíssima gramática da Língua Portuguesa. São Paulo (SP): Companhia Editora Nacional; 2008..

Palavras escritas em outros idiomas, como games e show, por exemplo, foram retiradas, bem como abreviações (cd para compact disk), advérbios, locuções adverbiais, locuções prepositivas, adjetivos, meses do ano, numerais e palavras no aumentativo ou diminutivo. Excluíram-se, ainda, gírias e palavras compostas por justaposição quando acompanhadas de hífen (couve-flor) ou sem hífen, mas escritas separadas (pé de moleque). Quando as palavras compostas por justaposição estavam unidas, foram mantidas (girassol) e mantiveram-se as palavras compostas por aglutinação.

Excluíram-se as palavras homônimas do tipo homógrafas (palavras escritas do mesmo jeito, decodificadas diferentes, exemplo: gosto (substantivo) e gosto (verbo)) e palavras homônimas do tipo perfeitas (as palavras são escritas da mesma forma e também pronunciadas igualmente, como, por exemplo: cedo (substantivo) e cedo (verbo)). As palavras homônimas do tipo homófonas (escritas de maneira diferente, porém pronunciadas igualmente, exemplo mau - mal; sessão - seção) foram mantidas.

As palavras no aumentativo ou diminutivo, grau sintético, quando se usam sufixos foram excluídas ao assumirem a forma regular, como, por exemplo, boné - bonezinho, carro - carrão. Os diminutivos e aumentativos irregulares, que são construídos com outros sufixos, foram mantidos, como palacete e ribeirão.

Como no português brasileiro o gênero dominante é o masculino, quando as palavras eram apresentadas no feminino e no masculino, as palavras no gênero feminino eram excluídas, porém, somadas à palavra no gênero masculino. Se a mesma palavra também era apresentada no plural e singular, as palavras escritas no plural eram contabilizadas no singular e retiradas do banco. O mesmo ocorreu com as palavras que só apareceram no feminino, elas foram transformadas em masculino. Só foram mantidas as palavras no feminino se houvesse mudança de significado, ou seja, se houvesse palavras diferentes para representar o gênero, como vaca ( boi, príncipe ( princesa, por exemplo. Palavras que só apareceram no plural, tanto no masculino como no feminino, foram transformadas em masculino e singular. Se a palavra, ao ser passada do plural para o singular assumisse forma homônima homógrafa ou homônima perfeita, ou, ainda, oferecesse qualquer tipo de ambiguidade, era, portanto, excluída do banco.

Após essa seleção, foram contabilizadas todas as palavras e a quantidade de vezes que aparecem no material, a fim de levantar a frequência de ocorrência para o Ensino Médio. As planilhas foram organizadas por ano escolar e enviadas ao profissional estatístico para se analisar quais eram as palavras de alta, média e baixa frequência em cada ano escolar e quais eram as comuns a todos os anos. A partir desta classificação, criou-se um banco único de palavras (E-LEITURA III) para escolares da 1ª a 3ª série do Ensino Médio.

Vale ressaltar que o objetivo foi levantar o léxico ortográfico. Para tanto, foi preciso identificar o quanto cada palavra aparecia no material utilizado pelos escolares. Não se levou em conta o léxico fonológico, pois a audição de uma palavra influencia a rapidez de reconhecimento auditivo e não a de reconhecimento visual, como explicitado por Pinheiro2929. Rayner K, Foorman BR, Perfetti CA, Pesetsky D, Seidenberg MS. How psychological science informs the teaching of reading. Psychological Science in the Public Interest. 2001;2(2):31-74..

Para classificar as palavras como de alta, média e baixa frequência, optou-se por trabalhar com os tercis da distribuição e também com frequência média e ponto de corte dos tercis, devido às frequências que se encontram próximas ao centro. Ao se optar por trabalhar apenas com alta e baixa frequência, por exemplo, uma frequência de 48% seria classificada como baixa e uma de 52% como alta embora estejam muito próximas, não cumprindo o objetivo proposto.

Os valores baseados no ponto de corte dos tercis para o número de vezes que cada palavra pode aparecer para ser considerada de alta, média e baixa frequência são:

  • Alta Frequência: 22 - 146 vezes.

  • Média Frequência: 7 - 21 vezes.

  • Baixa Frequência: 1 - 6 vezes.

A partir desse ponto de corte, o número de palavras para cada tipo de frequência para o Ensino Médio é apresentado a seguir:

  • Alta Frequência: 79

  • Média Frequência: 277

  • Baixa Frequência: 1316.

Participantes

Foram avaliados 134 escolares da 1ª à 3ª série do Ensino Médio de duas escolas públicas estaduais de um município do interior de São Paulo:

  • G1: 44 escolares da 1ª série do Ensino Médio.

  • G2: 44 escolares da 2ª série do Ensino Médio.

  • G3: 46 escolares da 3ª série do Ensino Médio.

Como a estatística deste estudo é descritiva, com porcentagem de acertos de cada palavra e também analítica, porque é possível comparar essa porcentagem relativa às palavras de baixa frequência com as de média e alta frequência, ficou determinado o número mínimo de 40 alunos por ano escolar para verificar se as palavras de alta, média e baixa frequência realmente correspondiam a essa classificação.

Adotou-se como critérios de inclusão: 1) assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido pelos pais ou responsáveis; 2) assinatura do Termo de Assentimento. Foram excluídos: 1) escolares que se recusaram a participar, embora os pais ou responsáveis tenham assinado o termo de consentimento; 2) escolares com diagnóstico interdisciplinar de transtorno de aprendizagem, dislexia e transtorno de déficit de atenção e hiperatividade; 3) queixa de aprendizagem; 4) alteração de linguagem ou fala; 5) prejuízo na acuidade visual e auditiva; 6) diagnóstico de síndromes genéticas ou neurológicas; 7) apresentar histórico de repetência; 8) rebaixamento intelectual.

Essas informações foram observadas no prontuário escolar e informadas pelos professores dos alunos. Alguns escolares foram excluídos após a coleta, pois foram detectadas alterações de linguagem e fala durante a aplicação das provas.

Procedimentos

  • Assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido pelos responsáveis dos escolares.

  • Assinatura do Termo de Assentimento pelos escolares avaliados.

  • Apresentação da lista de Palavras do E-LEITURA III para leitura, em voz alta, aos escolares do Ensino Médio.

As listas de palavras de alta, média e baixa frequência do E-LEITURA III foram apresentadas aos escolares, em folha sulfite, papel A4, digitadas em Times New Roman, tamanho 14, letras minúsculas. Cada folha apresentava, em média, 72 palavras, sendo lidas em voz alta, uma por vez, pelo escolar.

Coleta de dados

A aplicação foi realizada, individualmente, em duas sessões, em dias separados: 1ª) leitura de palavras de alta e média frequência, com duração média de 20 minutos e 2ª) leitura de palavras de baixa frequência, com duração média de 30 minutos.

Ao escolar, antes da leitura de cada lista, era explicado se as palavras eram de alta, média ou baixa frequência; em especial, para as de baixa frequência, foi explicado ao aluno que poderia se deparar com palavras que ele leu poucas vezes ou nenhuma e que, portanto, não deveria parar sua leitura para que a pesquisadora informasse se leu corretamente ou não.

Análise dos Resultados

A análise estatística foi realizada no programa STATA/SE (versão 12.1), baseada no número de acertos de cada palavra avaliada. Realizou-se o cálculo do intervalo de confiança (IC 95%), o qual indica a precisão dos resultados.

Para fins descritivos, apresentou-se as médias de acerto dos escolares do Ensino Médio no E-LEITURA III e do Ensino Fundamental no E-LEITURA II77. Oliveira AM, Capellini SA. E- Leitura II: Banco de palavras para leitura de escolares do Ensino Fundamental II. CoDAS. No prelo 2016..

Resultados

Após a avaliação da leitura das palavras de alta, média e baixa frequência, ao observar o comportamento dos alunos, notou-se que algumas palavras presentes contemplavam o critério de exclusão e outras geravam desconforto ou piada por parte dos alunos. Portanto, as palavras seguintes foram retiradas do banco:

  • Alta frequência: face - /f/ /a/ /s/ /e/ (os escolares pronunciavam essa palavra em inglês - /f/ /e/ /ɪ/ /s/ /i/, oriundo de facebook).

  • Média frequência: orgia (gerava desconforto ou comentários inadequados por parte dos escolares), sede (palavras homônimas do tipo homógrafas).

  • Baixa frequência: Matola (nome de cidade); coletânea (palavra foi escrita errada "coletânia"); afetivação (palavra digitada errada "efetivação"); coma, rego, bala - verbo balar, terceira pessoa do singular - e torre (podem ser tanto substantivo como verbo); satã, satanás e virgindade (geraram desconforto ou comentários inadequados por parte dos escolares).

Após a exclusão dessas palavras, as listas de alta, média e baixa frequência ficaram constituídas por:

Na Tabela 1, é apresentado o percentual de acertos das palavras de alta frequência e alguns exemplos para o Ensino Médio. Uma das palavras com menos acertos na lista de alta frequência foi "literatura" com 97,7% (IC 95%: 95 - 100). Com 95% de confiança, o intervalo para a palavra "literatura" compreende o verdadeiro percentual médio de acertos populacional para o Ensino Médio.

Tabela 1:
Apresentação do percentual de acertos das palavras de alta frequência do E-LEITURA III - Ensino Médio

Para a lista de média frequência do E-LEITURA III, a palavra com menos acertos foi "sobrancelha" com 83,1% (IC 95% 76,4 - 89,8), seguida da palavra "cêntimo" com 85,5% (IC 95% 79,2 - 91,8). As palavras "visão" e "leitura" são exemplos de palavras que obtiveram 100% de acertos (Tabela2).

Tabela 2:
Apresentação do percentual de acertos das palavras de média frequência do E-LEITURA III - Ensino Médio

O percentual de acertos das palavras de baixa frequência para o Ensino Médio no E-LEITURA III e alguns exemplos são apresentados na Tabela 3. A palavra com menos acertos na lista de baixa frequência foi "invólucro" com 68,8% (IC 95% 60 - 77,6) seguida de "ápice" com 69,7% (IC 95% 61 - 78,5) e "xexêu" com 71,6% (IC 95% 63 - 80,2).

Tabela 3:
Apresentação do percentual de acertos das palavras de baixa frequência do E-LEITURA III - Ensino Médio

A partir dos resultados, observa-se que as palavras de alta, média e baixa frequência do E-LEITURA III realmente correspondem a essa classificação, porém, cada palavra apresenta seu nível de dificuldade, conforme apresentado nos apêndices. As palavras são apresentadas em ordem alfabética, com suas respectivas médias, desvio padrão e intervalo de confiança (IC 95%), entre as quais o pesquisador/profissional poderá eleger a palavra que mais se encaixa em seu critério e objetivo.

Comparação Ensino Fundamental II e Médio

Para realizar a comparação do Ensino Fundamental II e Médio, utilizou-se os dados contidos no trabalho de Oliveira e Capellini77. Oliveira AM, Capellini SA. E- Leitura II: Banco de palavras para leitura de escolares do Ensino Fundamental II. CoDAS. No prelo 2016.. Ao observar a média de acertos dos escolares nas palavras, tanto de alta, média e baixa frequência, nota-se que a porcentagem de acertos diminui de acordo com a frequência de ocorrência da palavra, apresentando porcentagem maior de acertos na alta frequência e menor porcentagem nas de baixa frequência. Nota-se, ainda, que não há evidência de que a estrutura da sílaba inicial seja um dificultador para a leitura das palavras e, sim, a frequência de ocorrência, a extensão e o aspecto prosódico (tonicidade) da palavra, como se pode observar na Tabela 4.

Tabela 4:
Exemplos de comparação das palavras de alta, média e baixa frequência para os escolares do Ensino Fundamental II e Médio de acordo com a porcentagem mínima de acertos.

Ainda, ao observar a Tabela 4, nota-se que a porcentagem mínima de acertos aumenta do Ensino Fundamental II para o Ensino Médio, indicando que, com o aumento da escolaridade, há melhora na identificação e decodificação das palavras, bem como maior desenvolvimento do léxico ortográfico.

Discussão

Durante a elaboração do E-LEITURA III foram considerados os seguintes critérios: 1) classificação das palavras em alta, média e baixa frequência, 2) não inclusão de palavras que poderiam oferecer ambiguidade e 3) verificação quanto à sensibilidade da classificação das palavras. O atendimento desses três quesitos foi possível a partir da parceria entre profissionais da área da fonoaudiologia, da educação (letras) e ciências exatas (estatística).

A leitura das palavras do E-LEITURA III foi realizada para a verificação da sensibilidade das suas classificações (alta, média ou baixa frequência), além de possibilitar a identificação das palavras que geravam desconforto ou que contemplavam os critérios de exclusão, não sendo viável sua aplicação na prática educacional e clínica.

Ao comparar os acertos das palavras, nota-se maior porcentagem de acertos para as de alta frequência e menor para as de baixa frequência. As palavras de alta frequência, por requererem menor ativação, tendem a ser reconhecidas mais rápida e corretamente do que as palavras de baixa frequência. Esse efeito é um indicativo do envolvimento do processo lexical na leitura em voz alta, pois o efeito de variação quanto à frequência de ocorrência das palavras é vista como influência da rota léxico-fonêmica, que se pode dar ao nível de reconhecimento no léxico visual de entrada, ou na recuperação lexical da pronúncia, léxico fonêmico de saída2424. Pinheiro AMV, Rothe-Neves R. Avaliação cognitiva de leitura e escrita: as tarefas de leitura em voz alta e ditado. Psicol. Refl. Crít. 2001;14(2):399-408.,2525. Pinheiro AMV. Leitura e escrita: uma abordagem cognitiva. 2ª Ed. Campinas: Livro Pleno; 2006..

Segundo Capellini et al.1818. Capellini SA, Oliveira AM, Cuetos F. PROLEC: Provas de avaliação dos processos de leitura. (3ª ed). São Paulo (SP): Casa do Psicólogo; 2014., a extensão do estímulo (quanto mais letras tiverem, maior número de conversões terá de ser feito e maior a probabilidade de erro) e a complexidade dos grafemas (as sílabas mais complexas são mais difíceis de serem lidas do que os grafemas simples) representam variáveis influentes para a avaliação das rotas léxica e fonológica. Quanto à extensão das palavras, observou-se, neste estudo, que ela é um dos fatores influentes para a leitura de palavras isoladas nos escolares do Ensino Médio, porém a complexidade silábica, em especial, da sílaba inicial, não parece ser um dificultador para a leitura das palavras, como apresentado em outros trabalhos1818. Capellini SA, Oliveira AM, Cuetos F. PROLEC: Provas de avaliação dos processos de leitura. (3ª ed). São Paulo (SP): Casa do Psicólogo; 2014.,3535. Oliveira AM, Capellini SA. Desempenho de escolares na adaptação brasileira da avaliação dos processos de leitura. Pró Fono R. Atual. Cient. 2010;22(4):555-60. que avaliam escolares do Ensino Fundamental I, nos quais as palavras que os escolares mais erram são as que começam por sílabas formadas por estruturas complexas (CCV, CCVC, por exemplo) do que por estruturas simples, como CV.

Acredita-se que o efeito frequência de ocorrência da palavra e a evidência de ausência da interferência quanto à complexidade silábica, encontrados neste estudo, devem-se ao desenvolvimento do léxico ortográfico, alcançado por esses escolares, pois, com esse desenvolvimento há diminuição no tempo de processamento e aumento na precisão do reconhecimento das palavras dos anos iniciais aos finais3636. Pinheiro AMV, Costa AEB, Justi FRR. (2005). Reconhecimento de palavras reais e de não - palavras em crianças de 1ª a 4ª série: uma tarefa de decisão lexical. Estudos Linguísticos. 2005;13(2):147-70., como pode ser observado ao comparar o desempenho dos escolares do Ensino Fundamental II e Médio, no qual com aumento da escolaridade, há melhora na identificação e decodificação das palavras.

Neste trabalho, há o indicativo de que a frequência de ocorrência, a extensão e o aspecto prosódico (tonicidade) das palavras sejam os fatores de maior influência no reconhecimento de palavras reais para os escolares do Ensino Médio.

A ideia da criação desse banco é, porém, fornecer aos pesquisadores e clínicos um banco de palavras para escolares do Ensino Médio. Cada palavra, independente, da lista a qual pertença, apresenta seu nível de dificuldade e o pesquisador/profissional poderá eleger aquelas que melhor respondem aos seus objetivos e critérios (por exemplo, complexidade silábica, extensão da palavra, frequência, regularidade e irregularidade), para que assim, possam elaborar instrumentos que possibilitem a avaliação e a intervenção das habilidades de leitura em escolares do Ensino Médio, instrumentos esses ainda tão necessários para a fonoaudiologia e para a educação.

Contudo, faz-se necessário ressaltar as limitações deste estudo, como ele foi realizado em uma cidade do interior do Estado de São Paulo, devido ao regionalismo apresentado, tanto em nosso estado como nos outros estados e cidades do Brasil, as palavras que foram consideradas de baixa frequência para este estudo podem não ser necessariamente consideradas de baixa frequência em outras regiões do país. O mesmo serve para as palavras de alta e média frequência. É necessário, ainda, levar em conta que o material didático utilizado para a elaboração do banco é fornecido pelo governo do Estado de São Paulo, não sendo utilizado nos outros estados. Faz-se necessário um estudo mais amplo em todas as regiões do país.

O E-LEITURA III é, portanto, recurso útil para os profissionais, pois é disponibilizado, gratuitamente, pela primeira vez na realidade brasileira, um banco com ampla gama de palavras que poderá ser utilizado para fins de pesquisas, educacionais e clínicas com escolares do Ensino Médio. Dessa forma, espera-se que o E-LEITURA III possam servir de estímulo linguístico para procedimentos de avaliação e intervenção com leitura em escolares do Ensino Médio.

Conclusão

O E-LEITURA III apresenta uma ampla gama de palavras classificadas por frequência, para escolares do Ensino Médio, fornecendo assim, aos pesquisadores, educadores e clínicos um banco de palavras, do qual o profissional poderá selecionar a palavra de acordo com o seu objetivo a fim de elaborar instrumentos de avaliação e intervenção na leitura.

Ao comparar os escolares do ensino médio na leitura do E-LEITURA III com escolares do ensino fundamental II em banco de palavras semelhante, observa-se maior precisão na leitura de palavras para os escolares do ensino médio.

Agradecimentos

Ao Prof. Dr. Jair Lício Ferreira Santos pela consultoria estatística. A Profa. Maria Derci da Silva Nóbrega pelo auxílio na elaboração do banco, definição dos critérios e revisão ortográfica e gramatical. À Irene Marques de Oliveira pelo auxílio na confecção do banco. À Alina Cappelazzo e Alexandra Beatriz Portes de Cerqueira César pelo auxílio na coleta dos dados. Ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), processo no 140363/2013-0.

Referências

  • 1
    Bandini CSM, Bandini HHM, Sella AC, Souza DG. (2014). Emergence of reading and writing in illiterate adults after matching-to-sample tasks. Paidéia. 2014;14(57):75-84.
  • 2
    Cain K, Oakhill JV, Barnes MA, Bryant PE. Comprehension skill, inference-making ability, and their relation to knowledge. Memory & Cognition. 2001;26(6):850-9.
  • 3
    Morais J. Criar leitores: para professores e educadores. Barueri (SP): Minha Editora; 2013.
  • 4
    Navas ALGP, Pinto JCBR, Dellisa PRR. Avanços no conhecimento do processamento da fluência em leitura: da palavra ao texto. Rev. Soc. Bras. Fonoaudiol. 2009;14(3):553-9.
  • 5
    Norton ES, Black JM, Stanley LM, Tanaka H, Gabrieli CS, Hoelft F. Functional neuroanatomical evidence for the double-deficit hypothesis of developmental dyslexia. Neuropshychologia. 2014;61:235-46.
  • 6
    Oakhill JV, Cain K. The precursors of reading ability in young readers: Evidence from a four-year longitudinal study. Scientific Studies of Reading. 2012;16(2):91-121.
  • 7
    Oliveira AM, Capellini SA. E- Leitura II: Banco de palavras para leitura de escolares do Ensino Fundamental II. CoDAS. No prelo 2016.
  • 8
    Scliar-Cabral L. Princípios do Sistema Alfabético do Português do Brasil. São Paulo: Contexto; 2003.
  • 9
    Cuetos F. Psicología de la lectura. 8ª Ed. Las Rozas, Madrid: Wolters Kluwer España; 2010.
  • 10
    Melgarejo GM, Maraver MJT, Sage DS. El retraso en el desarrollo del lenguaje y los problemas de comprensión lectora: una exploración del modelo simple de lectura. Rev. Logop. Foniatr. Audiol. 2013;33(3):136-45.
  • 11
    Giangiacomo MCPB, Navas ALGP. A influência da memória operacional nas habilidades de compreensão de leitura em escolares de 4ª série. Rev Soc Bras Fonoaudiol. 2008;13(1):69-74.
  • 12
    Nicolau CC, Navas ALGP. Avaliação das habilidades preditoras do sucesso de leitura em crianças de 1º e 2º anos do ensino fundamental. Rev. CEFAC. 2015;17(3):917-26.
  • 13
    Batista AO. Desempenho ortográfico de escolares do 2º ao 5º ano: proposta de elaboração de um protocolo de avaliação da ortografia [mestrado] Marília (SP): Faculdade de Filosofia e Ciências - Unesp. Programa de Pós-Graduação em Educação; 2011.
  • 14
    Cunha VLO, Capellini SA. Leitura: decodificação ou obtenção do sentido? Rev. Teias. 2009;10(19):1-21.
  • 15
    Fernández AY, Mérida JFC, Cunha VLO, Batista AO, Capellini SA. Avaliação e intervenção da disortografia baseada na semiologia dos erros: revisão de literatura. Rev. CEFAC. 2010;12(3):499-504.
  • 16
    Meireles E, Correa J. A relação da tarefa de erro intencional com o desempenho ortográfico da criança considerados os aspectos morfossintáticos e contextuais da língua português. Rev. Estud Psicol. 2006;11(1):35-43.
  • 17
    Coltheart M, Rastle K, Perry C, Langdon R, Ziegler J. DRC: A dual route cascaded model of visual word recognition and reading aloud. Psychol Rev. 2001;108(1):204-56.
  • 18
    Capellini SA, Oliveira AM, Cuetos F. PROLEC: Provas de avaliação dos processos de leitura. (3ª ed). São Paulo (SP): Casa do Psicólogo; 2014.
  • 19
    Cunha VLO, Capellini SA. Análise psicolinguística e cognitivo-linguística das provas de habilidades metalinguísticas e leitura realizadas em escolares de 2ª a 5ª série. Rev. CEFAC. 2010;12(5):772-83.
  • 20
    Kim YS, Petscher Y, Foorman BR, Zhou C. (2010). The contributions of phonological awareness and letter-name knowledge to letter sound acquisition - a cross classified multilevel model approach. J.Educ.Psychol. 2010;102(2):313-26.
  • 21
    Oliveira AM. Desempenho de escolares do segundo ano do ensino fundamental em provas de compreensão de leitura: elaboração de procedimento avaliativo [mestrado] Marília (SP): Faculdade de Filosofia e Ciências - Unesp. Programa de Pós Graduação em Educação; 2011.
  • 22
    Pinheiro AMV, Lúcio P S, Silva DR. Avaliação cognitiva de leitura: o efeito de regularidade grafema-fonema e fonema-grafema na leitura em voz alta de palavras isoladas no português do Brasil. Psicol. teor. prat. 2008;10(2):16-30.
  • 23
    Pinheiro AMV. Heterogeneidade entre leitores julgados competentes pelas professoras. Psicol. Reflex. Crit. 2001;14(3):537-51.
  • 24
    Pinheiro AMV, Rothe-Neves R. Avaliação cognitiva de leitura e escrita: as tarefas de leitura em voz alta e ditado. Psicol. Refl. Crít. 2001;14(2):399-408.
  • 25
    Pinheiro AMV. Leitura e escrita: uma abordagem cognitiva. 2ª Ed. Campinas: Livro Pleno; 2006.
  • 26
    Ripamonti E, Aggujaro S, Molteni F, Zonca G, Frustaci M, Luzzatti C. The anatomical foundations of acquired Reading disorders: A neuropsychological verification of the dual-route model of reading. Brain Lang. 2014;134:44-67.
  • 27
    Lúcio OS, Pinheiro AMA, Nascimento E. O impacto da mudança no critério de acerto na distribuição dos escores do subteste de leitura do teste de desempenho escolar. Psicol. Estud. 2009;14(3):593-601.
  • 28
    Graves WW, Binder JR, Desai RH, Humphries C, Stengel BC, Seidenberg MS. Anatomy is strategy: Skilled reading differences associated with structural connectivity differences in the reading network. Brain Lang. 2014;133:1-13.
  • 29
    Rayner K, Foorman BR, Perfetti CA, Pesetsky D, Seidenberg MS. How psychological science informs the teaching of reading. Psychological Science in the Public Interest. 2001;2(2):31-74.
  • 30
    Balota DA, Yap MJ, Hutchison KA et al. The English Lexicon Project. Behav Res. 2007;39(3):445-59.
  • 31
    Martínez JÁ, García E. Diccionario. Frecuencias del castellano escrito en niños de 6 a 12 años. Salamanca: Publicaciones de la Universidad Pontificia; 2004.
  • 32
    López MXB. O Galego fundamental: dicionário de frecuencias. Santiago de Compostela: A Coruña Fundación Pedro Barrié de la Maza; 2007.
  • 33
    Batista AO, Cervera-Mérida JF, Ygual-Fernández A, Capellini SA. Pró-Ortografia: protocolo de avaliação da ortografia para escolares do segundo ao quinto ano do ensino fundamental. Barueri (SP): Pró-Fono Editora; 2014.
  • 34
    Cegalla DP. Novíssima gramática da Língua Portuguesa. São Paulo (SP): Companhia Editora Nacional; 2008.
  • 35
    Oliveira AM, Capellini SA. Desempenho de escolares na adaptação brasileira da avaliação dos processos de leitura. Pró Fono R. Atual. Cient. 2010;22(4):555-60.
  • 36
    Pinheiro AMV, Costa AEB, Justi FRR. (2005). Reconhecimento de palavras reais e de não - palavras em crianças de 1ª a 4ª série: uma tarefa de decisão lexical. Estudos Linguísticos. 2005;13(2):147-70.
  • Fonte de auxílio: Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico - CNPq - processo no. 140363/2013-0

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    Nov-Dec 2016

Histórico

  • Recebido
    05 Ago 2016
  • Aceito
    26 Out 2016
ABRAMO Associação Brasileira de Motricidade Orofacial Rua Uruguaiana, 516, Cep 13026-001 Campinas SP Brasil, Tel.: +55 19 3254-0342 - São Paulo - SP - Brazil
E-mail: revistacefac@cefac.br