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Dose Vocal: uma revisão integrativa da literatura

RESUMO

O objetivo da pesquisa foi realizar uma revisão da literatura referente aos tipos de dose vocal e aos resultados destas medidas em diferentes situações comunicativas. Houve levantamento da literatura nacional e internacional, publicada nos idiomas Inglês, Espanhol ou Português, utilizando-se as bases de dados MEDLINE, LILACS, IBECS e ISI (Web of Science), dos últimos 21 anos, cujos artigos estavam disponíveis na íntegra. Quinze estudos contemplaram os critérios propostos. A maioria dos artigos estudou professores, visto que são mais vulneráveis para a ocorrência de disfonia. Os tipos de dose encontrados foram porcentagem de fonação, dose temporal, dose cíclica, dose de distância, dose de energia radiada e dose de energia dissipada. O aumento da dose vocal está associado ao uso excessivo e prolongado da voz na atividade docente, principalmente entre os professores da educação infantil e os de canto. As altas doses vocais correlacionam-se também à presença de disfonia, ao maior nível de ruído ambiental, à grande variação prosódica na fala e à autopercepção de fadiga vocal. Pacientes com disfonia comportamental (nódulos e pólipos) apresentam maiores doses vocais que pacientes com outros quadros disfônicos. Fatores como repouso de voz e uso do amplificador vocal indicam a diminuição da dose da voz.

Descritores:
Dosagem; Voz; Disfonia; Distúrbios da Voz; Pregas Vocais

ABSTRACT

This study aimed to perform a literature review about the vocal doses and the behavior of these measurements in different communicative situations. A review on MEDLINE, LILACS, IBECS and ISI Web of Science databases of the literature written in English, Spanish and Portuguese, within the past twenty-one years, of articles which were fully available, was performed. Fifteen studies met the set criteria. The majority of the articles studied teachers, since they belong to a vulnerable group for dysphonia. The doses found were phonation percentage, time dose, cycle dose, distance dose, energy dissipation dose and radiated energy dose. The vocal dose increase is associated with an excessive and prolonged voice use in teaching activity, especially when teaching young children and teaching music. The high vocal doses are also associated with the presence of dysphonia, the background noise, the large prosodic variation in speech and the self-perception of vocal fatigue. Patients with behavioral dysphonia (nodes and polyps) present higher vocal doses than patients with other types of dysphonia. Factors such as voice rest and use of voice amplifiers indicate a decrease of vocal dose.

Keywords:
Dosage; Voice; Dysphonia; Voice Disorders; Vocal Cords

Introdução

O termo “dose vocal” é utilizado para definir a exposição do tecido da prega vocal à vibração. Assim como a dose é utilizada para quantificar a exposição de outros tecidos do corpo humano a fatores como radiação solar ou produtos químicos, viu-se a necessidade de se quantificar a exposição do tecido da prega vocal à vibração, para investigar os efeitos do uso excessivo ou prolongado da voz nos profissionais que a utilizam como instrumento de trabalho11. Svec JG, Popolo PS, Titze IR. Measurement of vocal doses in speech: experimental procedure and signal processing. Logoped Phoniatr Vocol. 2003;28(4):181-92..

Essa medida de exposição é obtida por meio do dosímetro vocal, que é um equipamento que capta a vibração do tecido da prega vocal, através de um acelerômetro fixado no pescoço22. Carroll T, Nix J, Hunter E, Emerich K, Titze I, Abaza M. Objective measurement of vocal fatigue in classical singers: a vocal dosimetry pilot study. Otolaryngol Head Neck Surg. 2006;135(4):595-602.. Para que somente a fonação seja analisada, não são captados, na gravação, o ruído ambiental e o conteúdo da fala, sendo mantida a confidencialidade do falante33. Cheyne HA, Hanson HM, Genereux RP, Stevens KN, Hillman RE. Development and testing of a portable vocal accumulator. J Speech Lang Hear Res. 2003;46(6):1457-67..

As pesquisas definiram cinco parâmetros de medidas de dose vocal, considerando vários fatores que podem contribuir para problemas vocais, são elas: dose temporal, dose cíclica, dose de distância, dose de energia dissipada e dose de energia radiada11. Svec JG, Popolo PS, Titze IR. Measurement of vocal doses in speech: experimental procedure and signal processing. Logoped Phoniatr Vocol. 2003;28(4):181-92..

A dose temporal, definida como o tempo total de vibração da prega vocal no tempo, é obtida considerando-se o tempo total de gravação e o tempo de fonação. A dose cíclica quantifica o número total de períodos oscilatórios realizados pelas pregas vocais no tempo e é medida em milhares de ciclos por segundo11. Svec JG, Popolo PS, Titze IR. Measurement of vocal doses in speech: experimental procedure and signal processing. Logoped Phoniatr Vocol. 2003;28(4):181-92.. Anteriormente, foi descrita como Índice de Carga Vocal (Vocal Loading Index - VLI)44. Rantala L, Vilkman E. Relationship between subjective voice complaints and acoustic parameters in female teachers' voices. J Voice. 1999;13(4):484-95. e era medida em centenas de ciclos por segundo. Para o cálculo dessa dose, é considerada a frequência fundamental, além dos parâmetros do cálculo da dose temporal.

A dose de distância, que mede a distância total percorrida pela prega vocal durante a vibração, considera a amplitude desta, que muda com a intensidade da voz, além de utilizar os parâmetros do cálculo da dose cíclica. Teoricamente, as pregas vocais percorrem a distância de quatro vezes a amplitude de um ciclo, por isso, há na fórmula, o fator quatro. Esse tipo de dose apresenta como limitação a dificuldade de se medir a amplitude de vibração das pregas vocais. Por esse motivo, o valor da amplitude pode ser aproximado, considerando a referência do comprimento da prega vocal (0,016 m para homens e 0,01 m para mulheres), a pressão pulmonar (considerando a intensidade medida à distância de 50 cm da boca) e a pressão aérea subglótica (considerando a frequência fundamental durante a fala de 120 Hz para homens e 190 Hz para mulheres)11. Svec JG, Popolo PS, Titze IR. Measurement of vocal doses in speech: experimental procedure and signal processing. Logoped Phoniatr Vocol. 2003;28(4):181-92..

A dose de energia dissipada leva em conta a agitação térmica do tecido dentro das pregas vocais e mede a quantidade de calor produzido nas pregas vocais durante a vibração. Para o cálculo, são utilizados os seguintes parâmetros: viscosidade do tecido e espessura vertical das pregas vocais (derivados a partir da frequência fundamental) e a frequência angular da vibração da prega vocal11. Svec JG, Popolo PS, Titze IR. Measurement of vocal doses in speech: experimental procedure and signal processing. Logoped Phoniatr Vocol. 2003;28(4):181-92..

A dose de energia radiada quantifica a energia total radiada da boca, no tempo. Não é uma medida de exposição das pregas vocais, mas uma potencial exposição sonora para o ouvinte. Para se obter o valor desse tipo de dose, leva-se em conta a distância entre a boca e o local onde a intensidade da voz é registrada11. Svec JG, Popolo PS, Titze IR. Measurement of vocal doses in speech: experimental procedure and signal processing. Logoped Phoniatr Vocol. 2003;28(4):181-92..

Todos os tipos de dose vocal podem ser obtidos a partir desses três parâmetros: tempo de fonação, frequência fundamental e intensidade vocal. As doses temporal, cíclica e de energia radiada são doses medidas a partir dos dados acústicos da voz da pessoa avaliada, enquanto que as doses de distância e de energia dissipada são estimadas a partir de dados típicos de amplitude de vibração, espessura e viscosidade das pregas vocais femininas e masculinas11. Svec JG, Popolo PS, Titze IR. Measurement of vocal doses in speech: experimental procedure and signal processing. Logoped Phoniatr Vocol. 2003;28(4):181-92..

A dose vocal, que pode ser obtida durante a jornada de trabalho, através do dosímetro, contribui para o entendimento dos limites do uso da voz, definindo o quanto a pessoa produziu a voz em um intervalo de tempo. Assim, o profissional da voz pode se proteger do risco de causar maior dano vocal55. Nacci A, Fattori B, Mancini V, Panicucci E, Ursino F, Cartaino FM et al. The Use and Role of the Ambulatory Phonation Monitor (APM) in Voice Assessment. Acta Otorhinolaryngol Ital. 2013;33(1):49-55., a partir da compreensão do quanto utilizou a musculatura fonatória para exercer sua atividade profissional.

O primeiro aparelho que mediu o tempo de vibração das pregas vocais por meio de um pequeno microfone de contato fixado ao pescoço foi criado em 198366. Ryu S, Komiyama S, Kannae S, Watanabe H. A newly devised speech accumulator. J Otorhinolaryngol Relat Spec. 1983;45(2):108-14.. A dose vocal foi primeiramente descrita na literatura em1999, com o nome de Índice de Sobrecarga Vocal (Vocal Loading Index)44. Rantala L, Vilkman E. Relationship between subjective voice complaints and acoustic parameters in female teachers' voices. J Voice. 1999;13(4):484-95. e novas medidas de dose vocal foram introduzidas em 200377. Titze IR, Svec JG, Popolo PS. Vocal dose measures: quantifying accumulated vibration exposure in vocal fold tissues. J Speech Lang Hear Res. 2003;46(4):919-32.. Desde então, poucos estudos científicos foram desenvolvidos, porém esta medida pode contribuir vastamente para a clínica vocal. Para melhor compreender a dose vocal, torna-se necessário coletar e analisar trabalhos que abordem esse tema e, consequentemente, verificar os resultados destas medidas em diferentes situações comunicativas.

Portanto, o objetivo deste trabalho foi realizar uma revisão integrativa da literatura referente aos tipos de dose vocal e aos resultados destas medidas em diferentes situações comunicativas.

Métodos

Foi realizada uma revisão integrativa da literatura, com as seguintes etapas: identificação do tema e seleção da questão de pesquisa; estabelecimento de palavras-chave e de critérios para inclusão e exclusão de estudos; definição das informações a serem extraídas dos estudos selecionados; categorização dos estudos; avaliação dos estudos incluídos na revisão bibliográfica; interpretação dos resultados; apresentação da revisão e síntese do conhecimento88. Galvão TF, Pereira MG. Revisões sistemáticas da literatura: passos para sua elaboração. Epidemiol Serv Saúde. 2014; 23(1):183-184..

A pergunta que norteou o presente estudo foi: “Quais os tipos de dose vocal e qual os resultados destas medidas em diferentes situações comunicativas?”. Para seleção dos artigos, houve levantamento na literatura nacional e internacional, publicada em todos os idiomas, utilizando-se as bases de dados MEDLINE, LILACS, IBECS e ISI (Web of Science), pelo fato destas bases possuírem credibilidade científica, e usarem mecanismos de busca para localização do material bibliográfico. Foram incluídos artigos publicados nos últimos vinte e um anos (1995 a 2016) e que estivessem disponíveis na íntegra.

As palavras-chave utilizadas foram: dose temporal OR dose vocal OR dosímetro OR carga vocal OR dose cíclica OR dose de distância, interligadas pelo operador booleano AND às palavras: frequência OR voz OR distúrbios da voz OR prega vocal OR disfonia OR fonação. Também foram utilizadas as palavras equivalentes em Inglês e Espanhol: temporal dose, dosis temporal, vocal dose, dosis vocal, dosimeter, load vocal, cargar vocal, cycle dose, cyclical dose, dosis cíclica, distance dose, dosis de distancia, frequency, frecuencia, voice, voice disorders, transtornos de la voz, vocal cords, pliegues vocales, dysphonia, disfonía, phonation e fonación.

Os artigos encontrados na busca foram analisados por duas pesquisadoras, independentemente, quanto à pertinência ou não da seleção e inclusão no estudo. Foram excluídos os artigos que não se relacionavam diretamente ao tema, os artigos de revisão bibliográfica e os artigos sobre metodologia de registro da dose vocal, análise dos cálculos das medidas e formas de uso do dosímetro. Após a análise do título, resumo e palavras-chave e dos critérios de inclusão e exclusão, foram selecionados os artigos para a análise na íntegra. Houve discordância entre as pesquisadoras em três artigos, que foram incluídos, após análise por consenso.

O percurso realizado para seleção e análise dos textos está representado na Figura 1.

Figura 1:
Fluxograma da seleção e identificação dos estudos

Na análise dos estudos selecionados, foram considerados os seguintes dados: ano de publicação, tipos de dose vocal analisadas, país em que a pesquisa foi desenvolvida, delineamento do estudo, e amostra (tamanho e tipo de atividade profissional).

Revisão da Literatura

Após aplicação dos critérios de inclusão e de exclusão, foram encontrados 15 estudos, sendo 14 em Inglês e um e Português, de 2003 a 2016. Destes, 86,7% são dos últimos cinco anos.

A Figura 2 apresenta os tipos de dose vocal encontrados nos estudos, suas definições e fórmulas.

Figura 2:
Tipos de dose vocal

A maioria desses estudos foi desenvolvida nos Estados Unidos (73%), um estudo foi desenvolvido na Bélgica (6,7%), um na Alemanha (6,7%), um na Itália (6,7%) e um no Brasil (6,7%).

Na análise das características metodológicas dos artigos selecionados, foram identificados cinco estudos transversais (53%), seis estudos de caso (40%), e um estudo longitudinal (6,7%).

O número de participantes dos estudos variou de dois a 103, com mediana de 12 sujeitos. Do total de artigos analisados, nove estudaram a dose vocal em professores (60%), dois em cantores (13%), dois em mulheres disfônicas com profissões variadas (13%), um em funcionários do Centro Nacional de Voz e Fala (National Center for Voice and Speech - NCVS) (6,7%) e um não teve identificação da profissão dos participantes (6,7%). Foram estudados professores da educação infantil, ensino fundamental e de música.

A Figura 3 apresenta os estudos categorizados por: 1) Autor do estudo e ano de publicação; 2)Tipo de delineamento da pesquisa e país em que a pesquisa foi desenvolvida; 3) Características da amostra (tamanho e profissão); 4) Objetivo do estudo; 5) Tipo de dose vocal analisada; 6) Conclusão da pesquisa.

Figura 3:
Categorização dos estudos selecionados

O tipo de dose vocal mais utilizada nos estudos foi a dose de distância (86,7%), seguida da dose cíclica (80%) e temporal (46,7%).

A maior utilização da dose de distância, descrita como a distância total percorrida pelo tecido das pregas vocais na trajetória cíclica durante a vibração, nesses estudos22. Carroll T, Nix J, Hunter E, Emerich K, Titze I, Abaza M. Objective measurement of vocal fatigue in classical singers: a vocal dosimetry pilot study. Otolaryngol Head Neck Surg. 2006;135(4):595-602.,55. Nacci A, Fattori B, Mancini V, Panicucci E, Ursino F, Cartaino FM et al. The Use and Role of the Ambulatory Phonation Monitor (APM) in Voice Assessment. Acta Otorhinolaryngol Ital. 2013;33(1):49-55.,77. Titze IR, Svec JG, Popolo PS. Vocal dose measures: quantifying accumulated vibration exposure in vocal fold tissues. J Speech Lang Hear Res. 2003;46(4):919-32.,99. Gaskill CS, O'Brien SG, Tinter SR. The effect of voice amplification on occupational vocal dose in elementary school teachers. J Voice. 2012;26(5):667.e19-27.

10. Echternach M, Nusseck M, Dippold S, Spahn C, Richter B. Fundamental frequency, sound pressure level and vocal dose of a vocal loading test in comparison to a real teaching situation. Eur Arch Otorhinolaryngol. 2014;271(12):3263-8.

11. Remacle A, Morsomme D, Finck C. Comparison of vocal loading parameters in kindergarten and elementary school teachers. J Speech Lang Hear Res. 2014;57(2):406-15.

12. Schloneger MJ. Graduate student voice use and vocal efficiency in an opera rehearsal week: a case study. J Voice. 2011;25(6):e265-73.

13. Morrow SL, Connor NP. Voice amplification as a means of reducing vocal load for elementary music teachers. J Voice. 2011;25(4):441-6.
-1414. Morrow SL, Connor NP. Comparison of voice-use profiles between elementary classroom and music teachers. J Voice. 2011;25(3):367-72. pode ser justificada pelo fato de esta ser derivada a partir da intensidade vocal, do tempo de fonação e da frequência fundamental, portanto, dos três parâmetros vocais mensurados pelo dosímetro. A mudança causada na glote pelo uso de uma voz mais intensa pode contribuir de maneira mais efetiva para a alteração da qualidade vocal do que a causada somente por um maior tempo de fonação. A experiência clínica mostra que paciente com nódulos vocais geralmente falam muito e numa forte intensidade, o que pode contribuir para altas doses de distância99. Gaskill CS, O'Brien SG, Tinter SR. The effect of voice amplification on occupational vocal dose in elementary school teachers. J Voice. 2012;26(5):667.e19-27.,1515. Mehta DD, Van Stan JH, Zañartu M, Ghassemi M, Guttag JV, Espinoza VM et al. Using Ambulatory Voice Monitoring to Investigate Common Voice Disorders: Research Update. Front Bioeng Biotechnol. 2015;3(155):1-14., porcentagem de fonação1515. Mehta DD, Van Stan JH, Zañartu M, Ghassemi M, Guttag JV, Espinoza VM et al. Using Ambulatory Voice Monitoring to Investigate Common Voice Disorders: Research Update. Front Bioeng Biotechnol. 2015;3(155):1-14. e dose cíclica1515. Mehta DD, Van Stan JH, Zañartu M, Ghassemi M, Guttag JV, Espinoza VM et al. Using Ambulatory Voice Monitoring to Investigate Common Voice Disorders: Research Update. Front Bioeng Biotechnol. 2015;3(155):1-14..

Os Estados Unidos são o país que mais publicaram sobre dose vocal, provavelmente porque os estudos que desenvolveram e implementaram os cálculos das doses vocais11. Svec JG, Popolo PS, Titze IR. Measurement of vocal doses in speech: experimental procedure and signal processing. Logoped Phoniatr Vocol. 2003;28(4):181-92.,77. Titze IR, Svec JG, Popolo PS. Vocal dose measures: quantifying accumulated vibration exposure in vocal fold tissues. J Speech Lang Hear Res. 2003;46(4):919-32.,1616. Titze IR, Hunter EJ. Comparison of Vocal Vibration-Dose Measures for Potential-Damage Risk Criteria. J Speech Lang Hear Res. 2015;58(5):1425-39. foram realizados por centros de pesquisas americanos.

Na literatura analisada, observou-se maior preocupação das pesquisas com a saúde vocal dos professores, visto que a maioria delas privilegiou esses profissionais, provavelmente devido ao fato de pertencerem ao grupo mais vulnerável para a ocorrência de disfonia1616. Titze IR, Hunter EJ. Comparison of Vocal Vibration-Dose Measures for Potential-Damage Risk Criteria. J Speech Lang Hear Res. 2015;58(5):1425-39.

17. Assunção AA, Bassi IB, de Medeiros AM, Rodrigues CS, Gama ACC. Occupational and individual risk factors for dysphonia in teachers. Occupational Medicine. 2012;62(7):553-9.

18. Giannini SPP, Latorre MRD, Ferreira LP. Distúrbio de voz e estresse no trabalho docente: um estudo caso-controle. Cad. Saúde Pública.2012;28(11):2115-24.

19. Behlau M, Zambon F, Guerrireri AC, Roy N. Epidemiology of Voice Disorders in Teachers and Nonteachers in Brazil: Prevalence and Adverse Effects. J Voice. 2012;26(5):665.e9-665.e18.

20. Rossi-Barbosa LAR, Barbosa MR, Morais RM, Sousa KF, Silveira MF, Gama ACC, Caldeira AP. Self-Reported Acute and Chronic Voice Disorders in Teachers. J Voice; 2016, in press.
-2121. Gama AC, Santos JN, Pedra EF, Rabelo AT, Magalhães MC, Las Casas EB. Dose vocal em professores: correlação com a presença de disfonia. CoDAS. 2016;28(2):190-2.. Professores têm grande necessidade da sua função fonatória e um dos motivos mais comuns de queda da qualidade do ensino e absenteísmo é o comprometimento da capacidade vocal1010. Echternach M, Nusseck M, Dippold S, Spahn C, Richter B. Fundamental frequency, sound pressure level and vocal dose of a vocal loading test in comparison to a real teaching situation. Eur Arch Otorhinolaryngol. 2014;271(12):3263-8.,1717. Assunção AA, Bassi IB, de Medeiros AM, Rodrigues CS, Gama ACC. Occupational and individual risk factors for dysphonia in teachers. Occupational Medicine. 2012;62(7):553-9.,2222. Medeiros AM, Assunção AA, Barreto SM. Absenteeism due to voice disorders in female teachers: a public health problem. Int Arch Occup Environ Health. 2012;85(8):853-64..O segundo grupo de profissionais da voz mais estudados quanto à dose vocal foi o de cantores, que também são dependentes de uma boa produção vocal para o exercício profissional1313. Morrow SL, Connor NP. Voice amplification as a means of reducing vocal load for elementary music teachers. J Voice. 2011;25(4):441-6., 2323. Schloneger MJ, Hunter EJ. Assessments of Voice Use and Voice Quality Among College/University Singing Students Ages 18-24 Through Ambulatory Monitoring With a Full Accelerometer Signal. J Voice. 2017 Jan;31(1):124.e21-124.e30..

Estudos de prevalência revelam que a presença da disfonia em professores é de duas a três vezes mais frequente do que na população em geral1919. Behlau M, Zambon F, Guerrireri AC, Roy N. Epidemiology of Voice Disorders in Teachers and Nonteachers in Brazil: Prevalence and Adverse Effects. J Voice. 2012;26(5):665.e9-665.e18.,2424. Martins RH, Pereira ER, Hidalgo CB, Tavares EL. Voice disorders in teachers: a review. J Voice. 2014;28(6):716-24.. A disfonia neste grupo profissional apresenta-se associada à acústica inadequada da sala de aula, ao ruído ambiental excessivo, às condições individuais de saúde, aos hábitos vocais inadequados e aos abusos da voz2424. Martins RH, Pereira ER, Hidalgo CB, Tavares EL. Voice disorders in teachers: a review. J Voice. 2014;28(6):716-24..

Os resultados da literatura mostram que o aumento da dose vocal está ligado ao uso excessivo e prolongado da voz que ocorre na docência55. Nacci A, Fattori B, Mancini V, Panicucci E, Ursino F, Cartaino FM et al. The Use and Role of the Ambulatory Phonation Monitor (APM) in Voice Assessment. Acta Otorhinolaryngol Ital. 2013;33(1):49-55.,99. Gaskill CS, O'Brien SG, Tinter SR. The effect of voice amplification on occupational vocal dose in elementary school teachers. J Voice. 2012;26(5):667.e19-27.

10. Echternach M, Nusseck M, Dippold S, Spahn C, Richter B. Fundamental frequency, sound pressure level and vocal dose of a vocal loading test in comparison to a real teaching situation. Eur Arch Otorhinolaryngol. 2014;271(12):3263-8.

11. Remacle A, Morsomme D, Finck C. Comparison of vocal loading parameters in kindergarten and elementary school teachers. J Speech Lang Hear Res. 2014;57(2):406-15.

12. Schloneger MJ. Graduate student voice use and vocal efficiency in an opera rehearsal week: a case study. J Voice. 2011;25(6):e265-73.

13. Morrow SL, Connor NP. Voice amplification as a means of reducing vocal load for elementary music teachers. J Voice. 2011;25(4):441-6.
-1414. Morrow SL, Connor NP. Comparison of voice-use profiles between elementary classroom and music teachers. J Voice. 2011;25(3):367-72., ao ruído ambiental1111. Remacle A, Morsomme D, Finck C. Comparison of vocal loading parameters in kindergarten and elementary school teachers. J Speech Lang Hear Res. 2014;57(2):406-15., ao canto1414. Morrow SL, Connor NP. Comparison of voice-use profiles between elementary classroom and music teachers. J Voice. 2011;25(3):367-72.,2323. Schloneger MJ, Hunter EJ. Assessments of Voice Use and Voice Quality Among College/University Singing Students Ages 18-24 Through Ambulatory Monitoring With a Full Accelerometer Signal. J Voice. 2017 Jan;31(1):124.e21-124.e30., ao aumento da intensidade da voz1515. Mehta DD, Van Stan JH, Zañartu M, Ghassemi M, Guttag JV, Espinoza VM et al. Using Ambulatory Voice Monitoring to Investigate Common Voice Disorders: Research Update. Front Bioeng Biotechnol. 2015;3(155):1-14., e à grande variação de frequência1515. Mehta DD, Van Stan JH, Zañartu M, Ghassemi M, Guttag JV, Espinoza VM et al. Using Ambulatory Voice Monitoring to Investigate Common Voice Disorders: Research Update. Front Bioeng Biotechnol. 2015;3(155):1-14. e intensidade na fala (fala com grande variação prosódica)77. Titze IR, Svec JG, Popolo PS. Vocal dose measures: quantifying accumulated vibration exposure in vocal fold tissues. J Speech Lang Hear Res. 2003;46(4):919-32., e que fatores como repouso vocal e uso do amplificador vocal diminuem a dose da voz99. Gaskill CS, O'Brien SG, Tinter SR. The effect of voice amplification on occupational vocal dose in elementary school teachers. J Voice. 2012;26(5):667.e19-27.,1414. Morrow SL, Connor NP. Comparison of voice-use profiles between elementary classroom and music teachers. J Voice. 2011;25(3):367-72.,2525. Misono S, Banks K, Gaillard P, Goding GS Jr, Yueh B. The clinical utility of vocal dosimetry for assessing voice rest. Laryngoscope. 2015;125(1):171-6.. A literatura evidencia também que o aumento da dose vocal está associado com uma autopercepção de cansaço vocal, mecanismo que pode ser entendido como um processo de fadiga muscular, decorrente do uso intenso da voz22. Carroll T, Nix J, Hunter E, Emerich K, Titze I, Abaza M. Objective measurement of vocal fatigue in classical singers: a vocal dosimetry pilot study. Otolaryngol Head Neck Surg. 2006;135(4):595-602..

A literatura sugere também que os valores de dose vocal são maiores em professoras disfônicas, quando comparadas a professoras sem queixa vocal2121. Gama AC, Santos JN, Pedra EF, Rabelo AT, Magalhães MC, Las Casas EB. Dose vocal em professores: correlação com a presença de disfonia. CoDAS. 2016;28(2):190-2.. Um estudo relatou que mulheres com disfonia comportamental não apresentam maiores valores de dose vocal quando comparadas a mulheres sem disfonia2626. Van Stan JH, Mehta DD, Zeitels SM, Burns JA, Barbu AM, Hillman RE. Average ambulatory measures of sound pressure level, fundamental frequency, and vocal dose do not differ between adult females with phonotraumatic lesions and matched control subjects. Ann Otol Rhinol Laryngol. 2015; 124(11): 864-74.. Nos quadros disfônicos, os de etiologia comportamental (nódulos e pólipos) apresentam maiores doses vocais dos outros quadros disfônicos1515. Mehta DD, Van Stan JH, Zañartu M, Ghassemi M, Guttag JV, Espinoza VM et al. Using Ambulatory Voice Monitoring to Investigate Common Voice Disorders: Research Update. Front Bioeng Biotechnol. 2015;3(155):1-14.. Pesquisas futuras são necessárias para se compreender a real interferência dos aspectos profissionais e de comportamento vocal nos valores de dose vocal.

O aumento da dose vocal devido ao uso excessivo e prolongado da voz na docência foi evidenciado no estudo que comparou 10 minutos de teste de sobrecarga vocal (leitura de texto numa intensidade acima de 80 dBNPS, medido à distância de 30 cm da boca) com 45 minutos de docência, não sendo encontradas diferenças significativas entre eles, ou seja, a dose vocal de 10 minutos de teste corresponde à dose vocal de, aproximadamente, 45 minutos de aula1010. Echternach M, Nusseck M, Dippold S, Spahn C, Richter B. Fundamental frequency, sound pressure level and vocal dose of a vocal loading test in comparison to a real teaching situation. Eur Arch Otorhinolaryngol. 2014;271(12):3263-8.. A dose de distância nas mulheres, no teste de sobrecarga vocal, foi de 771 metros e na docência, de 658 metros1010. Echternach M, Nusseck M, Dippold S, Spahn C, Richter B. Fundamental frequency, sound pressure level and vocal dose of a vocal loading test in comparison to a real teaching situation. Eur Arch Otorhinolaryngol. 2014;271(12):3263-8.. Tais resultados sugerem que a atividade docente, mesmo tendo mais momentos de repouso, que pode ser associado à recuperação muscular, causa sobrecarga vocal.

Além dessas, outra pesquisa que revelou maior dose vocal na docência, foi o estudo de caso de duas estudantes e professoras assistentes de canto1212. Schloneger MJ. Graduate student voice use and vocal efficiency in an opera rehearsal week: a case study. J Voice. 2011;25(6):e265-73.. Foram observadas maiores doses no período de ensaio individual (Dt= 44,84 e 28,30%) e docência em música (Dt= 25,35 e 29,45%), se comparadas ao período de ensaio da ópera (Dt= 9,71 e 13,71%) e o período sem ensaio (Dt= 5,9 e 7,49%), mesmo havendo consciência dessas profissionais quanto à necessidade de cuidados com a voz. Esses resultados confirmam o alto risco dos docentes desenvolverem disfonia, principalmente se esta estiver associada com outro tipo de uso da voz, como o canto. No caso de professoras disfônicas, estas apresentam maiores doses cíclicas e de porcentagem de fonação (Dc= 238,1 e 30,7%) do que professoras não disfônicas (Dc= 188,8 e 23,9%)2121. Gama AC, Santos JN, Pedra EF, Rabelo AT, Magalhães MC, Las Casas EB. Dose vocal em professores: correlação com a presença de disfonia. CoDAS. 2016;28(2):190-2.. O acúmulo de atividades vocais intensas (docência e canto) gera um aumento na dose vocal. Na comparação entre professores de música e professores do ensino regular1414. Morrow SL, Connor NP. Comparison of voice-use profiles between elementary classroom and music teachers. J Voice. 2011;25(3):367-72., os primeiros apresentaram maiores valores nos parâmetros vocais medidos (Dd= 7001 e 3688 metros, respectivamente), o que corrobora com a literatura, que afirma que os professores de música podem desenvolver problemas vocais mais frequentemente do que os outros professores. Além de ministrar longas horas de aulas, com poucos intervalos de repouso vocal, geralmente os professores de música participam de ensaios extras e apresentações de canto1414. Morrow SL, Connor NP. Comparison of voice-use profiles between elementary classroom and music teachers. J Voice. 2011;25(3):367-72.. Alunos de canto apresentam maiores valores de dose vocal em atividades de voz cantada do que de voz falada2323. Schloneger MJ, Hunter EJ. Assessments of Voice Use and Voice Quality Among College/University Singing Students Ages 18-24 Through Ambulatory Monitoring With a Full Accelerometer Signal. J Voice. 2017 Jan;31(1):124.e21-124.e30.. Problemas vocais crônicos foram encontrados mais frequentemente em professores de música, o que sugere que cantar regularmente pode aumentar a chance de se desenvolver lesão do tecido da prega vocal2727. Thibeault SL, Merrill RM, Roy N, Gray SD, Smith EM. Occupational risk factors associated with voice disorders among teachers. Ann Epidemiol. 2004;14(10):786-92..

Com relação aos níveis para os quais o professor leciona, professoras de educação infantil apresentaram maior dose vocal do que as do ensino fundamental, o que sugere que há mais ciclos oscilatórios e maior distância percorrida pelas pregas vocais nos professores que trabalham com crianças mais novas1111. Remacle A, Morsomme D, Finck C. Comparison of vocal loading parameters in kindergarten and elementary school teachers. J Speech Lang Hear Res. 2014;57(2):406-15.. Essa diferença pode estar relacionada à necessidade de fala mais constante para manter a atenção dos alunos. Vale destacar também que os professores do ensino infantil utilizam mais estratégias didáticas de contação de histórias, que necessitam de fala com maior variação prosódica para a interpretação dos personagens e de cantos temáticos. A literatura mostra que estratégias vocais com maior variação prosódica77. Titze IR, Svec JG, Popolo PS. Vocal dose measures: quantifying accumulated vibration exposure in vocal fold tissues. J Speech Lang Hear Res. 2003;46(4):919-32. e canto1414. Morrow SL, Connor NP. Comparison of voice-use profiles between elementary classroom and music teachers. J Voice. 2011;25(3):367-72. propiciam um aumento da dose vocal.

A grande variação de frequência e intensidade na fala resulta num aumento da dose vocal. Participantes foram solicitados a ler um texto em três variações melódicas: monótona, normal e exagerada (como se estivesse lendo para captar a atenção de crianças pequenas) e as Dc, Dd, Dr e De tiveram maiores valores na presença de maior variação prosódica77. Titze IR, Svec JG, Popolo PS. Vocal dose measures: quantifying accumulated vibration exposure in vocal fold tissues. J Speech Lang Hear Res. 2003;46(4):919-32.. Tal resultado sugere que diferentes variações prosódicas modificam a dose vocal, com maiores valores para emissões com maior contorno melódico e de intensidade.

Outro fator que mostrou-se associado ao aumento da dose vocal foi a presença de ruído ambiental1111. Remacle A, Morsomme D, Finck C. Comparison of vocal loading parameters in kindergarten and elementary school teachers. J Speech Lang Hear Res. 2014;57(2):406-15., e ao aumento da intensidade da voz1515. Mehta DD, Van Stan JH, Zañartu M, Ghassemi M, Guttag JV, Espinoza VM et al. Using Ambulatory Voice Monitoring to Investigate Common Voice Disorders: Research Update. Front Bioeng Biotechnol. 2015;3(155):1-14.. A literatura refere que quanto maior o ruído em sala com o aluno, maior a intensidade da voz do professor2828. Guidini RF, Fabiana Bertoncello F, Zanchetta S, Dragone ML. Correlações entre ruído ambiental em sala de aula e voz do professor. Rev. soc. bras. fonoaudiol. 2012;17(4):398-404.. Esse é o chamado Efeito Lombard, definido como uma resposta vocal involuntária do falante à presença de ruído ambiental. À medida que o ruído ambiental aumenta, a intensidade da voz também aumenta2929. Zollinger SA, Brumm H. The Lombard effect. Current Biology. 2011;21(16):R614-R615.. Estudo que avaliou a associação entre níveis de ruído presentes em centros de educação infantil e alterações vocais em educadoras, observou que as disfonias foram mais prevalentes em instituições de ensino com ruído mais intenso3030. Simões-Zenari M, Bitar ML, Nemr NK. Efeito do ruído na voz de educadoras de instituições de educação infantil. Rev. Saúde Pública. 2012;46(4):657-64..

O aumento da dose vocal também está relacionado a uma autopercepção de cansaço da voz, como apontado no estudo com cantores, em que o sintoma de fadiga vocal surgiu após o uso vocal em doses mais altas, sendo que houve melhora desses sintomas quando essas altas doses foram precedidas por 48 horas de repouso vocal22. Carroll T, Nix J, Hunter E, Emerich K, Titze I, Abaza M. Objective measurement of vocal fatigue in classical singers: a vocal dosimetry pilot study. Otolaryngol Head Neck Surg. 2006;135(4):595-602.. A fadiga vocal geralmente se refere ao cansaço da voz seguido do uso prolongado desta, o que exige um maior esforço para continuar a falar. Pode vir acompanhada de mudanças na qualidade vocal, no pitch, na loudness e de desconforto laríngeo. Em geral, ocorre em seguida ao uso anormal da frequência, da intensidade, da qualidade vocal, ou de fala contínua por mais de uma hora3131. McHenry M, Evans J, Powitzky E. Vocal Assessment Before, After, and the Day After Opera Performance. J Voice; 2016, in press.. A literatura aponta que, ao final do dia de trabalho, professores referem maior cansaço vocal3232. Solomon NP, DiMattia MS. Effects of a vocally fatiguing task and systemic hydration on phonation threshold pressure. J Voice. 2000;14(3):341-62..

A utilização de amplificação vocal foi um dos fatores que indicaram a diminuição da dose vocal99. Gaskill CS, O'Brien SG, Tinter SR. The effect of voice amplification on occupational vocal dose in elementary school teachers. J Voice. 2012;26(5):667.e19-27.,1313. Morrow SL, Connor NP. Voice amplification as a means of reducing vocal load for elementary music teachers. J Voice. 2011;25(4):441-6.. Um estudo de caso, que avaliou professores de música, observou diminuição da Dc (1,63 e 1,24 milhões, respectivamente sem e com amplificação vocal) e da Dd (7001 e 4053 milhões, respectivamente sem e com amplificação vocal)1313. Morrow SL, Connor NP. Voice amplification as a means of reducing vocal load for elementary music teachers. J Voice. 2011;25(4):441-6.. Outro estudo de caso com professores do ensino fundamental encontrou que o uso da amplificação vocal diminuiu a Dd de 3058 metros para 2793 metros, com efeitos mais positivos no professor com disfonia99. Gaskill CS, O'Brien SG, Tinter SR. The effect of voice amplification on occupational vocal dose in elementary school teachers. J Voice. 2012;26(5):667.e19-27.. Tais resultados sustentam os achados da literatura que apontam que o uso da amplificação da voz protege os professores de esforço vocal durante as longas horas de aula, promovendo um melhor uso da voz no ambiente profissional3333. Teixeira LC, Behlau M. Comparison Between Vocal Function Exercises and Voice Amplification. J Voice. 2015;29(6):718-26.,3434. Bovo R, Trevisi P, Emanuelli E, Martini A. Voice amplification for primary school teachers with voice disorders: a randomized clinical trial. Int J Occup Med Environ Health. 2013 Jun;26(3):363-72. e produz significativa melhora da percepção dos professores sobre o impacto das suas limitações vocais3434. Bovo R, Trevisi P, Emanuelli E, Martini A. Voice amplification for primary school teachers with voice disorders: a randomized clinical trial. Int J Occup Med Environ Health. 2013 Jun;26(3):363-72.. Além disso, melhora a qualidade vocal do professor e diminui o grau do prejuízo do tecido da prega vocal, causado pela força de colisão, decorrentes da diminuição da dose de vibração3333. Teixeira LC, Behlau M. Comparison Between Vocal Function Exercises and Voice Amplification. J Voice. 2015;29(6):718-26.,3434. Bovo R, Trevisi P, Emanuelli E, Martini A. Voice amplification for primary school teachers with voice disorders: a randomized clinical trial. Int J Occup Med Environ Health. 2013 Jun;26(3):363-72..

Outro fator associado à diminuição da dose da voz é o repouso vocal. Um estudo encontrou que o repouso vocal gerou 12% de diminuição da porcentagem de fonação no pós-operatório, em comparação com o pré-operatório2525. Misono S, Banks K, Gaillard P, Goding GS Jr, Yueh B. The clinical utility of vocal dosimetry for assessing voice rest. Laryngoscope. 2015;125(1):171-6.. O repouso vocal, juntamente com a hidratação, são apontados na literatura como medidas preventivas de fadiga vocal3131. McHenry M, Evans J, Powitzky E. Vocal Assessment Before, After, and the Day After Opera Performance. J Voice; 2016, in press., por gerarem uma menor pressão aérea subglótica (mínima pressão do fluxo aéreo expirado necessário para iniciar a oscilação da prega vocal) que pode ser percebida pelo falante como baixo esforço respiratório e fonatório3232. Solomon NP, DiMattia MS. Effects of a vocally fatiguing task and systemic hydration on phonation threshold pressure. J Voice. 2000;14(3):341-62..

Os professores frequentemente falam em forte intensidade, por longos periodos, em ambientes ruidosos e em situações estressantes1818. Giannini SPP, Latorre MRD, Ferreira LP. Distúrbio de voz e estresse no trabalho docente: um estudo caso-controle. Cad. Saúde Pública.2012;28(11):2115-24.,2020. Rossi-Barbosa LAR, Barbosa MR, Morais RM, Sousa KF, Silveira MF, Gama ACC, Caldeira AP. Self-Reported Acute and Chronic Voice Disorders in Teachers. J Voice; 2016, in press.,2424. Martins RH, Pereira ER, Hidalgo CB, Tavares EL. Voice disorders in teachers: a review. J Voice. 2014;28(6):716-24., o que os tornam os profissionais com maior chance de desenvolver problemas vocais. Entretanto, há a necessidade de se avaliar a dose vocal de outros profissionais que utilizam a voz como instrumento de trabalho, como atores, atendentes de telemarketing, padres e pastores etc., para que medidas de prevenção sejam tomadas, evitando prejuízo no desenvolvimento profissional. Estudos com amostras maiores e, consequentemente, maior validade externa também são importantes para avançarmos na compreensão dos resultados da dose vocal em diferentes situações comunicativas.

As medidas de dose vocal permitem quantificar a exposição do tecido da prega vocal à vibração11. Svec JG, Popolo PS, Titze IR. Measurement of vocal doses in speech: experimental procedure and signal processing. Logoped Phoniatr Vocol. 2003;28(4):181-92., e várias medidas estão atualmente disponíveis na literatura11. Svec JG, Popolo PS, Titze IR. Measurement of vocal doses in speech: experimental procedure and signal processing. Logoped Phoniatr Vocol. 2003;28(4):181-92.,77. Titze IR, Svec JG, Popolo PS. Vocal dose measures: quantifying accumulated vibration exposure in vocal fold tissues. J Speech Lang Hear Res. 2003;46(4):919-32.. Pesquisas futuras que analisem as diferenças nas sensibilidades e especificidades destas medidas de dose vocal são importantes para uma melhor definição do valor e aplicação clínica destas avaliações de voz.

Conclusão

Os tipos de dose encontrados na literatura foram porcentagem de fonação, dose temporal, dose cíclica, dose de distância, dose de energia radiada e dose de energia dissipada.

O aumento da dose vocal está associado ao uso da voz na atividade docente, principalmente entre os professores que atuam na educação infantil e os professores de canto. As altas doses vocais correlacionam-se também à presença de disfonia, ao maior nível de ruído ambiental, à grande variação prosódica na fala e à autopercepção de fadiga vocal. Pacientes com disfonia comportamental (nódulos e pólipos) apresentam maiores doses vocais que pacientes com outros quadros disfônicos. Fatores como repouso de voz e uso do amplificador vocal indicam a diminuição da dose da voz.

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  • Fonte de auxílio: CAPES

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    Jun 2017

Histórico

  • Recebido
    14 Fev 2017
  • Aceito
    24 Abr 2017
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