Acessibilidade / Reportar erro

Efeitos da placa palatina de memória associada à estimulação orofacial na postura habitual de língua e de lábios de crianças com Trissomia do 21: revisão integrativa da literatura

RESUMO

Objetivo:

verificar na literatura os efeitos da placa palatina de memória na postura de lábios e língua de crianças com Trissomia do 21.

Métodos:

foi realizada busca nas bases de dados Medline, Lilacs, CINAHL, Embase, Scopus, Web of Science e Cochrane, com inclusão de artigos originais com delineamentos dos tipos ensaios clínicos, estudos longitudinais ou caso-controle, que abordaram a placa palatina de memória no tratamento de crianças com Trissomia do 21 e avaliaram, como desfechos, a postura habitual de língua e de lábios.

Revisão da Literatura:

foram encontrados 376 estudos, dos quais dez contemplaram os critérios de seleção. Estes foram publicados entre 1996 e 2007, conduzidos principalmente na Europa, com amostras reduzidas. A idade de instalação da placa variou de um mês a cinco anos e a duração da intervenção de quatro a 58 meses, estando, na maioria, associada à estimulação da musculatura orofacial. A frequência de uso variou de dois a quatro períodos diários de 30 minutos a duas horas. Houve melhora na postura de língua e lábios das crianças na maioria das pesquisas.

Conclusão:

os estudos sugerem que a placa palatina de memória, associada à estimulação da musculatura orofacial, proporciona benefícios para postura de lábios e língua de crianças com Trissomia do 21.

Descritores:
Síndrome de Down; Reabilitação; Sistema Estomatognático; Fonoaudiologia; Odontologia

ABSTRACT

Purpose:

to verify, in the literature, the effects of using the stimulating palatal plate on lip and tongue posture in children with trisomy 21.

Methods:

a search was conducted in Medline, LILACS, CINAHL, EMBASE, Scopus, Web of Science, and Cochrane. Original articles designed as clinical trials, longitudinal studies, or case-control studies, approaching stimulating palatal plate in the treatment of children with trisomy 21 and assessing habitual lip and tongue posture as an outcome, were included.

Literature Review:

a total of 376 studies were found, of which 10 met the selection criteria. They were published between 1996 and 2007 and carried out mostly in Europe, with small samples. The age when they began wearing the plate ranged from 1 month to 5 years, and intervention lasted from 4 to 58 months; in most cases, it was combined with orofacial muscle stimulation. Use frequency ranged from two to four times a day, each period lasting from 30 minutes to 2 hours. The children’s tongue and lip posture improved in most pieces of research.

Conclusion:

studies suggest that using the stimulating palatal plate in combination with orofacial muscle stimulation brings benefits to tongue and lip posture in children presented with trisomy 21.

Keywords:
Down Syndrome; Rehabilitation; Stomatognathic System; Speech, Language and Hearing Sciences; Dentistry

Introdução

A Trissomia do 21 (T21), também conhecida como síndrome de Down, é uma desordem genética caracterizada pela presença de três cromossomos 21 nas células do indivíduo11. Brandão IM, Fonseca V, Madi RR. Prevalence of people with Down syndrome in Brazil. Scientia Plena. 2012;8(3):037501.. No Brasil, tem incidência estimada em um a cada 600 nascimentos11. Brandão IM, Fonseca V, Madi RR. Prevalence of people with Down syndrome in Brazil. Scientia Plena. 2012;8(3):037501.. Sua ocorrência independe da região geográfica, gênero e raça22. Kruszka P, Porras AR, Sobering AK, Ikolo FA, La Qua S, Shotelersuk V. Down syndrome in diverse populations. Am J Med Genet A. 2017;173(1):42-53.. Os indivíduos com a síndrome exibem um fenótipo típico, caracterizado por baixa estatura, microcefalia, rimas palpebrais oblíquas, orelhas pequenas e de implantação baixa, mãos pequenas, dentre outras características11. Brandão IM, Fonseca V, Madi RR. Prevalence of people with Down syndrome in Brazil. Scientia Plena. 2012;8(3):037501.. Geralmente, a Trissomia do 21 está associada a hipotonia muscular, comprometimento imunológico, hipotireoidismo, cardiopatias congênitas e deficiência intelectual33. World Health Organization. Human Genomics in Global Health [Homepage on the Internet] [accessed 2020 April 3]. Available at: https://www.who.int/genomics/public/geneticdiseases/en/index1.html
https://www.who.int/genomics/public/gene...
.

As características específicas da morfologia craniofacial e cavidade oral incluem hipotonia dos músculos orofaciais, ausência de vedamento labial, postura habitual de língua rebaixada e anteriorizada, maxila retruída com palato profundo e atrésico, presença de má oclusão com predomínio de Classe III esquelética11. Brandão IM, Fonseca V, Madi RR. Prevalence of people with Down syndrome in Brazil. Scientia Plena. 2012;8(3):037501.,33. World Health Organization. Human Genomics in Global Health [Homepage on the Internet] [accessed 2020 April 3]. Available at: https://www.who.int/genomics/public/geneticdiseases/en/index1.html
https://www.who.int/genomics/public/gene...

4. Doriguêtto PVT, Carrada CF, Scalioni FAR, Abreu LG, Devito KL, Paiva SM et al. Malocclusion in children and adolescents with Down syndrome: a systematic review and meta-analysis. Int J Paediatr Dent. 2019;29(4):524-41.
-55. Kaczorowska N, Kaczorowski K, Laskowska J, Mikulewicz M. Down syndrome as a cause of abnormalities in the craniofacial region: A systematic literature review. Adv Clin Exp Med. 2019;28(11):1587-92..

A literatura aponta resultados positivos com melhora das alterações dos órgãos fonoarticulatórios em indivíduos com T21 submetidos à terapia fonoaudiológica66. Giacchini V, Tonial A, Bolli-Mota H. Aspects of language and oral motor observed in children treated at an early stimulation sector. Disturb Comun. 2013;25(2):253-65.,77. Pinheiro DLSA, Alves GAS, Fausto FMM, Pessoa LSF, Silva LA, Pereira SMF et al. Effects of electrostimulation associated with masticatory training in individuals with down syndrome. CoDAS. 2018;30(3):e20170074., sendo que dentre as várias abordagens terapêuticas que o fonoaudiólogo pode utilizar com essa população, inclui-se a Terapia de Regulação Orofacial, proposta por Castillo-Morales88. Morales RC. Terapia de regulación orofacial.São Paulo: Memnon, 2002.. Essa abordagem baseia-se em um programa de estimulação neuromuscular que pode ser associado ao uso de um dispositivo ortopédico oral denominado Placa Palatina de Memória (PPM)88. Morales RC. Terapia de regulación orofacial.São Paulo: Memnon, 2002.

9. Xepapadeas AB, Weise C, Frank K, Spintzyk S, Poets CF, Wiechers C et al. Technical note on introducing a digital workflow for newborns with craniofacial anomalies based on intraoral scans - part I: 3D printed and milled palatal stimulation plate for trisomy 21. BMC Oral Health. 2020;20(171):1-7.
-1010. Javed F, Akram Z, Barillas AP, Kellesarian SV, Ahmed HB, Khan J et al. Outcome of orthodontic palatal plate therapy for orofacial dysfunction in children with Down syndrome: a systematic review. Orthod Craniofac Res. 2018;21(1):20-6.. A PPM é confeccionada pelo dentista a partir de um molde da arcada superior do paciente. Contém um botão estimulador para a língua e elevações na região do vestíbulo oral para os lábios88. Morales RC. Terapia de regulación orofacial.São Paulo: Memnon, 2002.. Tem sido indicada para os casos em que se observam língua hipotônica, em posição habitual interdental ou interlabial e lábio superior hipotônico e sem vedamento88. Morales RC. Terapia de regulación orofacial.São Paulo: Memnon, 2002.. A utilização dessa abordagem implica em um trabalho integrado entre o dentista e o fonoaudiólogo1111. Furlan RMMM, Pretti H, Almeida TDD. Terapia miofuncional orofacial associada ao uso da placa palatina de memória em crianças com Síndrome de Down - discutindo uma série de casos clínicos. In: Silva HJ, Tessitore A, Motta AR, Cunha DA, Berretin-Felix G, Marchesan IQ et al., editors. Discutindo casos clínicos em Motricidade Orofacial. São José dos Campos; Pulso Editorial: 2020. p.59-65..

Os benefícios do tratamento com a PPM associada a algum tipo de estimulação orofacial para crianças com T21 citados por diferentes autores referem-se principalmente à melhora da postura habitual de língua e de lábios1212. Limbrock GJ, Castillo-Morales R, Hoyer H, Stover B, Onufer CN. The Castillo-Morales approach to orofacial pathology in Down syndrome. Int J Orofacial Myology. 1993;19:30-7.

13. Limbrock GJ, Castillo-Morales REC, Hoyer H, Stover B, Onufer CCN. The Castillo-Morales therapy in 39 children with Down syndrome. J US Army Med Dep. 1994;8:6-12.

14. Mello CRS, Gugisch RC, Fraiz, FC, Lopes MN. Orofacial regulation therapy in Down Syndrome. Case Report. J Bras Odontoped Odontol Bebê.1998;1(1):34-43.

15. Carneiro VL, Sullcahuamán JAG, Fraiz FC. Utilización de la placa palatina de memoria y desarrollo orofacial en infante con Síndrome de Down. Revista Cubana Estomatología. 2012;49(4):305-11.

16. Matthews-Brzozowska T, Walasz J, Matthews-Kozanecka M, Matthews Z, Kopczynski P. The role of the orthodontist in the early simulating plate rehabilitation of children with Down syndrome. J Med Sci. 2014;2(83):145-51.

17. Walasz J, Matthews-Brzozowska T, Matthews-Kozanecka M, Cudzilo D. Types and positioning of palatal plate stimulation elements in children with down syndrome. Jour of Med Sc & Tech. 2014;3(1):1-6.
-1818. De la Cruz-Campos SB, Cárdenas-Flores CM. Palatine plate use for improving the closing mouth and tongue position in patients with down syndrome: clinical case report. Revista Científica Odontológica. 2016;4(1):464-70., mas incluem também melhora do tônus dos músculos da face1515. Carneiro VL, Sullcahuamán JAG, Fraiz FC. Utilización de la placa palatina de memoria y desarrollo orofacial en infante con Síndrome de Down. Revista Cubana Estomatología. 2012;49(4):305-11.,1919. Padró SMJ, Barraza VE, Brucher SC, Concha TE, Delagado V. Efectividad del uso de placas palatinas y de la estimulación orofacial en el desarrollo oral en niños con síndrome de Down. Rev Chil Pediatr. 2010;81(1):46-52., diminuição da sialorreia1919. Padró SMJ, Barraza VE, Brucher SC, Concha TE, Delagado V. Efectividad del uso de placas palatinas y de la estimulación orofacial en el desarrollo oral en niños con síndrome de Down. Rev Chil Pediatr. 2010;81(1):46-52.

20. Limbrock GJ, Fischer-Brandies H, Avalle C. Castillo-Morales' orofacial therapy: treatment of 67 children with Down syndrome. Dev Med Child Neurol. 1991;33(4):296-303.
-2121. Andrade MER, Calvillo JN, Díaz MAS. Terapia de regulación orofacial mediante la placa Castillo-Morales modificada en el sindrome de Down. Informe preliminar. Rev ADM. 1993;50(2):85-8., eliminação de hábitos orais deletérios2121. Andrade MER, Calvillo JN, Díaz MAS. Terapia de regulación orofacial mediante la placa Castillo-Morales modificada en el sindrome de Down. Informe preliminar. Rev ADM. 1993;50(2):85-8. e melhora do desempenho das funções estomatognáticas de respiração1515. Carneiro VL, Sullcahuamán JAG, Fraiz FC. Utilización de la placa palatina de memoria y desarrollo orofacial en infante con Síndrome de Down. Revista Cubana Estomatología. 2012;49(4):305-11., sucção2020. Limbrock GJ, Fischer-Brandies H, Avalle C. Castillo-Morales' orofacial therapy: treatment of 67 children with Down syndrome. Dev Med Child Neurol. 1991;33(4):296-303.,2222. Hernández-Antonio A, Sánchez- Sánchez M, Azamar-Cruz E, Díaz-Arellano M, Velásquez-Paz AL, Ángeles-Castellanos M. Regulación orofacial Castillo-Morales y placa palatina modificada en niños con síndrome de Down. Avan C Salud Med. 2015;3(2):40-5., mastigação, deglutição2222. Hernández-Antonio A, Sánchez- Sánchez M, Azamar-Cruz E, Díaz-Arellano M, Velásquez-Paz AL, Ángeles-Castellanos M. Regulación orofacial Castillo-Morales y placa palatina modificada en niños con síndrome de Down. Avan C Salud Med. 2015;3(2):40-5. e articulação da fala1515. Carneiro VL, Sullcahuamán JAG, Fraiz FC. Utilización de la placa palatina de memoria y desarrollo orofacial en infante con Síndrome de Down. Revista Cubana Estomatología. 2012;49(4):305-11.,1919. Padró SMJ, Barraza VE, Brucher SC, Concha TE, Delagado V. Efectividad del uso de placas palatinas y de la estimulación orofacial en el desarrollo oral en niños con síndrome de Down. Rev Chil Pediatr. 2010;81(1):46-52..

No entanto, algumas questões relacionadas a essa abordagem terapêutica não estão esclarecidas, especialmente quanto aos benefícios para a postura de língua e lábios, mas também quanto à frequência ideal de uso da placa, tempo de duração da intervenção, idade de início do tratamento e associação com outras abordagens terapêuticas. Um levantamento mais detalhado das informações da literatura é importante para orientar as práticas dos profissionais que atuam com este tipo de intervenção.

Diante disso, o objetivo do presente estudo foi verificar na literatura os efeitos da placa palatina de memória na postura de lábios e de língua de crianças com Trissomia do 21. Como objetivo secundário, buscou-se analisar a idade de início da intervenção, a duração da intervenção, a frequência de uso da placa, o método de avaliação utilizado pelos estudos e a presença de outras intervenções associadas.

Métodos

Foi realizada uma revisão integrativa da literatura, que envolveu as seguintes etapas: elaboração da pergun ta norteadora, estabelecimento de palavras-chave e de critérios para inclusão/exclusão de artigos, seleção dos artigos e avaliação crítica dos mesmos.

A pergunta que norteou o presente estudo foi: “O uso da placa palatina de memória melhora a postura habitual de língua e de lábios de crianças com Trissomia do 21?”. Tal pergunta foi construída a partir da estratégia PICO em que a letra P (participantes) refere-se a crianças com Trissomia do 21, a letra I (intervenção) refere-se à placa palatina de memória, a C (comparador) refere-se ao grupo que não realizou intervenção com a placa e a O (outcome) à postura de língua e de lábios.

Para seleção dos artigos, houve levantamento na literatura nacional e internacional, sem restrição de idioma ou de ano de publicação, utilizando-se as bases de dados Medline (via PubMed), CINAHL, Scopus, Embase, Web of Science, Lilacs e Cochrane, e também nas referências bibliográficas dos artigos selecionados.

Os termos utilizados foram “Down Syndrome (DeCS/Mesh/Emtree)", "trisomy 21 (Emtree)", mongolism (termo livre), "meiotic nondisjunction" (termo livre), "mitotic nondisjunction" (termo livre), "partial trisomy 21 (Emtree)", associados aos termos "orthotic devices (DeCS/Mesh)", "palatal plate" (termo livre), "orofacial regulation therapy" (termo livre), "Castillo-Morales" (termo livre), "stimulating plate" (termo livre), "functional appliances" (termo livre), "palatal plates" (termo livre), "modified palatal plate" (termo livre), "orofacial stimulation" (termo livre), "Castillo-Morales stimulating plate" (termo livre), "Castillo-Morales plate" (termo livre), "palatal plate therapy" (termo livre), "Castillo-Morales concept" (termo livre) e "stimulating palatal plate" (termo livre). Os termos livres foram obtidos dentre os descritores de artigos sobre o tema, a partir de uma busca piloto.

O Quadro 1 apresenta as estratégias de busca utilizadas em cada portal ou base de dados.

Quadro 1:
Estratégias de busca utilizadas para cada base de dados

Para definição dos critérios de elegibilidade foram utilizados os elementos do PICOT: participantes (indivíduos com Trissomia do 21); intervenção (uso da PPM); comparador (grupo controle composto por indivíduos com Trissomia do 21 que não utilizaram a PPM ou que a utilizaram por menos tempo); desfechos (postura habitual de lábios e de língua); tipo de estudo (estudo experimental, quase experimental, observacional longitudinal ou caso-controle).

Sendo assim, constituíram os critérios de inclusão artigos originais de pesquisa com delineamentos dos tipos estudo experimental, quase experimental, observacional longitudinal ou caso-controle, que abordaram a terapia com placa palatina de memória como forma de tratamento para crianças com Trissomia do 21 e que avaliaram postura habitual de lábios e de língua como desfecho. Foram excluídos os estudos que não apresentaram grupo controle e os que não estavam disponíveis na íntegra.

A análise do material foi realizada em etapas. Na primeira, as referências duplicadas nas bases de dados consultadas foram eliminadas. Na segunda etapa, por meio da leitura dos resumos, foram excluídos os artigos que não contemplavam os critérios de inclusão estabelecidos e os artigos que contemplavam os critérios de inclusão deste estudo foram obtidos na íntegra.

Na terceira etapa, foram analisados os textos completos dos artigos potencialmente relevantes para a revisão e os seguintes dados foram coletados em um protocolo desenvolvido pelos pesquisadores: autor, ano de publicação, país onde o estudo foi conduzido, tipo de estudo, características da amostra, idade de início da intervenção, duração da intervenção, frequência de uso da PPM, presença de outra forma de estimulação orofacial associada, método utilizado para avaliação da postura habitual de língua e de lábios, resultados relacionados à postura de língua e de lábios.

A busca e seleção dos artigos foram realizadas por duas pesquisadoras de forma independente, sendo uma fonoaudióloga especialista em Motricidade Orofacial e uma Odontopediatra. O gerenciamento dos dados foi feito no programa Microsoft Excel, no qual foi elaborada uma planilha que permitia aos avaliadores duas respostas para seleção: sim ou não. Na segunda etapa, cada avaliador optou pela inclusão ou não dos estudos. Os artigos que receberam “sim” dos dois avaliadores foram incluídos para leitura na íntegra e aqueles que obtiveram resposta “não” de ambos foram excluídos do trabalho. Foi realizada uma calibração inicial com 20% dos estudos, resultando num nível de concordância considerado muito bom (Kappa: 0,83). Após esta etapa, os pesquisadores prosseguiram com a leitura do restante dos estudos de forma independente. Foi estabelecido que, caso houvesse divergências de respostas entre os dois avaliadores, seria feita uma reunião de consenso e, permanecendo o impasse, uma terceira pessoa seria consultada.

Revisão da Literatura

Foram localizadas, inicialmente, 376 referências. A busca adicional nas referências dos artigos resultou na inclusão de um estudo. Após a primeira etapa (eliminação das duplicatas), ficaram 276 artigos; após a segunda etapa (exclusão de artigos pela leitura do resumo), permaneceram 44; e, após a terceira etapa (análise do texto completo), permaneceram no presente estudo apenas 10 artigos, conforme apresentado no fluxograma desenvolvido conforme diretrizes do protocolo PRISMA2323. Page MJ, McKenzie JE, Bossuyt PM, Boutron I, Hoffmann TC, Mulrow CD, et al. The PRISMA 2020 statement: an updated guideline for reporting systematic reviews BMJ. 2021;372(71). (Figura 1).

Figura 1:
Fluxograma com as diferentes fases da revisão baseada nas diretrizes do protocolo PRISMA.

As Tabelas 1 e 2 contém o resumo dos principais achados das referências selecionadas.

Tabela 1:
Dados dos métodos das pesquisas sobre o uso de placas de memória palatina em crianças com Trissomia do 21
Tabela 2:
Variáveis analisadas nos estudos, resultados obtidos e dificuldades verificadas quanto ao uso da Placa Palatina de Memória

Os estudos analisados nesta revisão da literatura foram publicados entre 1996 e 2007. A busca retornou estudos mais atuais sobre o tema, porém estes não apresentavam grupo controle, por isso não foram incluídos na análise. A maioria das pesquisas foi conduzida na Europa, especialmente na Alemanha e Suécia. Ressalta-se o fato de que, em ambos os países, algumas dessas pesquisas foram desenvolvidas por um mesmo grupo de pesquisadores, possivelmente com a mesma amostra, analisada em tempos de tratamento diferentes.

Quatro dos estudos incluídos apresentavam delineamento experimental2424. Carlstedt K, Dahllöf G, Nilsson B, Modéer T. Effect of palatal plate therapy in children with Down syndrome. A 1-year study. Acta Odontol Scand. 1996;54(2):122-5.,2727. Carlstedt K, Henningsson G, McAllister A, Dahllöf G. Long-term effects of palatal plate therapy on oral motor function in children with Down syndrome evaluated by video registration. Acta Odontol Scand. 2001;59(2):63-8.,3030. Carlstedt K, Henningsson G, Dahllöf G. A four-year longitudinal study of palatal plate therapy in children with Down Syndrome: effects on oral motor function, articulation and communication preferences. Acta Odontol Scand. 2003;61(1):39-46.,3333. Carlstedt K, Henningsson G, Dahllöf G. A longitudinal study of palatal plate therapy in children with Down syndrome. Effects on oral motor function. J Disabil Oral Health. 2007;8(1):13-9. e um quase experimental2929. Rincón RR, Jiménez BJ, Duque EO, Chaurra MRC. Evaluation after early maxillary orthopedic stimulation in Down syndrome children. Rev Fac Odontol Univ Antioq. 2002;14(1):45-53.. Os demais eram observacionais longitudinais retrospectivos. A amostra dos estudos contemplou entre 20 e 104 participantes. O estudo com maior número de crianças com T21 que utilizaram a PPM incluiu 38 participantes3131. Zavaglia V, Nori A, Mansour NM. Long term effects of the palatal plate therapy for the orofacial regulation in children with Down syndrome. J Clin Pediatr Dent. 2003;28(1):89-93.. Os grupos de comparação foram compostos por crianças com T21 que não utilizaram a PPM2424. Carlstedt K, Dahllöf G, Nilsson B, Modéer T. Effect of palatal plate therapy in children with Down syndrome. A 1-year study. Acta Odontol Scand. 1996;54(2):122-5.,2727. Carlstedt K, Henningsson G, McAllister A, Dahllöf G. Long-term effects of palatal plate therapy on oral motor function in children with Down syndrome evaluated by video registration. Acta Odontol Scand. 2001;59(2):63-8.

28. Schuster G, Giese R. Retrospective clinical investigation of the impact of early treatment of children with Down's syndrome according to Castillo-Morales. J Orofac Orthop/Fortschr Kieferorthop. 2001;62(4):255-63.

29. Rincón RR, Jiménez BJ, Duque EO, Chaurra MRC. Evaluation after early maxillary orthopedic stimulation in Down syndrome children. Rev Fac Odontol Univ Antioq. 2002;14(1):45-53.

30. Carlstedt K, Henningsson G, Dahllöf G. A four-year longitudinal study of palatal plate therapy in children with Down Syndrome: effects on oral motor function, articulation and communication preferences. Acta Odontol Scand. 2003;61(1):39-46.

31. Zavaglia V, Nori A, Mansour NM. Long term effects of the palatal plate therapy for the orofacial regulation in children with Down syndrome. J Clin Pediatr Dent. 2003;28(1):89-93.

32. Bäckman B, Grevér-Sjölander AC, Bengtsson K, Persson J, Johansson I. Children with Down syndrome: oral development and morphology after use of palatal plates between 6 and 48 months of age. Int J Paediatr Dent. 2007;17:19-28.
-3333. Carlstedt K, Henningsson G, Dahllöf G. A longitudinal study of palatal plate therapy in children with Down syndrome. Effects on oral motor function. J Disabil Oral Health. 2007;8(1):13-9., geralmente pareados por idade, mas que receberam estimulação orofacial, ou que fizeram o uso da PPM por menos tempo do que o grupo de estudo2525. Hohoff A, Ehmer U. Effects of the Castillo-Morales Stimulating Plate on speech development of children with Down's syndrome - a retrospective study. Orofac Orthop/Fortschr Kieferorthop. 1997;58(6):330-9.,2626. Hohoff A, Ehmer U. Short-term and long-term results after early treatment with the Castillo-Morales Stimulating Plate. A longitudinal study. J Orofac Orthop/Fortschr Kieferorthop. 1999;60(1):2-12.. Nenhum artigo apresentou um grupo controle com outra alternativa terapêutica. Os quatro estudos experimentais apresentaram alocação randomizada dos participantes nos grupos, sendo todos publicados pelo mesmo grupo de pesquisadores2424. Carlstedt K, Dahllöf G, Nilsson B, Modéer T. Effect of palatal plate therapy in children with Down syndrome. A 1-year study. Acta Odontol Scand. 1996;54(2):122-5.,2727. Carlstedt K, Henningsson G, McAllister A, Dahllöf G. Long-term effects of palatal plate therapy on oral motor function in children with Down syndrome evaluated by video registration. Acta Odontol Scand. 2001;59(2):63-8.,3030. Carlstedt K, Henningsson G, Dahllöf G. A four-year longitudinal study of palatal plate therapy in children with Down Syndrome: effects on oral motor function, articulation and communication preferences. Acta Odontol Scand. 2003;61(1):39-46.,3333. Carlstedt K, Henningsson G, Dahllöf G. A longitudinal study of palatal plate therapy in children with Down syndrome. Effects on oral motor function. J Disabil Oral Health. 2007;8(1):13-9.. Os autores apontaram a dificuldade de realização de estudos randomizados em função do não consentimento dos pais, mesmo oferecendo o tratamento com a PPM após um ano de início da pesquisa2424. Carlstedt K, Dahllöf G, Nilsson B, Modéer T. Effect of palatal plate therapy in children with Down syndrome. A 1-year study. Acta Odontol Scand. 1996;54(2):122-5.,2727. Carlstedt K, Henningsson G, McAllister A, Dahllöf G. Long-term effects of palatal plate therapy on oral motor function in children with Down syndrome evaluated by video registration. Acta Odontol Scand. 2001;59(2):63-8.,3030. Carlstedt K, Henningsson G, Dahllöf G. A four-year longitudinal study of palatal plate therapy in children with Down Syndrome: effects on oral motor function, articulation and communication preferences. Acta Odontol Scand. 2003;61(1):39-46..

A idade de início do uso da PPM nas pesquisas variou de um mês2929. Rincón RR, Jiménez BJ, Duque EO, Chaurra MRC. Evaluation after early maxillary orthopedic stimulation in Down syndrome children. Rev Fac Odontol Univ Antioq. 2002;14(1):45-53. a 5 anos2424. Carlstedt K, Dahllöf G, Nilsson B, Modéer T. Effect of palatal plate therapy in children with Down syndrome. A 1-year study. Acta Odontol Scand. 1996;54(2):122-5., mas no geral os estudos iniciaram a abordagem no primeiro ano de vida. Hohoff e Ehmer2626. Hohoff A, Ehmer U. Short-term and long-term results after early treatment with the Castillo-Morales Stimulating Plate. A longitudinal study. J Orofac Orthop/Fortschr Kieferorthop. 1999;60(1):2-12. sugerem que o tratamento seja iniciado nas primeiras semanas de vida, época em que o sistema nervoso central está em maior desenvolvimento. Além disso, quando atingem o período da erupção dentária, a adaptação fica mais difícil2626. Hohoff A, Ehmer U. Short-term and long-term results after early treatment with the Castillo-Morales Stimulating Plate. A longitudinal study. J Orofac Orthop/Fortschr Kieferorthop. 1999;60(1):2-12., sendo necessária, algumas vezes, a interrupção do tratamento.

Com relação à duração da intervenção, os estudos variaram de quatro2626. Hohoff A, Ehmer U. Short-term and long-term results after early treatment with the Castillo-Morales Stimulating Plate. A longitudinal study. J Orofac Orthop/Fortschr Kieferorthop. 1999;60(1):2-12. a 58 meses de intervenção3333. Carlstedt K, Henningsson G, Dahllöf G. A longitudinal study of palatal plate therapy in children with Down syndrome. Effects on oral motor function. J Disabil Oral Health. 2007;8(1):13-9., não havendo um consenso sobre o tempo mínimo necessário para modificação da postura habitual. Os artigos sugerem que a necessidade é diferente para cada indivíduo, sendo que algumas crianças podem atingir o resultado desejado em menos tempo do que outras. O estudo cuja intervenção foi de apenas quatro meses já registrou melhora na postura de língua e no vedamento labial2626. Hohoff A, Ehmer U. Short-term and long-term results after early treatment with the Castillo-Morales Stimulating Plate. A longitudinal study. J Orofac Orthop/Fortschr Kieferorthop. 1999;60(1):2-12., sendo que as mudanças permaneceram a longo prazo (avaliação realizada 53 meses após tratamento).

A maioria dos artigos indica a utilização da PPM por períodos com duração variando de 30 minutos2424. Carlstedt K, Dahllöf G, Nilsson B, Modéer T. Effect of palatal plate therapy in children with Down syndrome. A 1-year study. Acta Odontol Scand. 1996;54(2):122-5.,2828. Schuster G, Giese R. Retrospective clinical investigation of the impact of early treatment of children with Down's syndrome according to Castillo-Morales. J Orofac Orthop/Fortschr Kieferorthop. 2001;62(4):255-63. até 2 horas2525. Hohoff A, Ehmer U. Effects of the Castillo-Morales Stimulating Plate on speech development of children with Down's syndrome - a retrospective study. Orofac Orthop/Fortschr Kieferorthop. 1997;58(6):330-9. e frequência de duas2424. Carlstedt K, Dahllöf G, Nilsson B, Modéer T. Effect of palatal plate therapy in children with Down syndrome. A 1-year study. Acta Odontol Scand. 1996;54(2):122-5.,2525. Hohoff A, Ehmer U. Effects of the Castillo-Morales Stimulating Plate on speech development of children with Down's syndrome - a retrospective study. Orofac Orthop/Fortschr Kieferorthop. 1997;58(6):330-9.,3030. Carlstedt K, Henningsson G, Dahllöf G. A four-year longitudinal study of palatal plate therapy in children with Down Syndrome: effects on oral motor function, articulation and communication preferences. Acta Odontol Scand. 2003;61(1):39-46.,3333. Carlstedt K, Henningsson G, Dahllöf G. A longitudinal study of palatal plate therapy in children with Down syndrome. Effects on oral motor function. J Disabil Oral Health. 2007;8(1):13-9. a quatro vezes ao dia2828. Schuster G, Giese R. Retrospective clinical investigation of the impact of early treatment of children with Down's syndrome according to Castillo-Morales. J Orofac Orthop/Fortschr Kieferorthop. 2001;62(4):255-63.. O motivo de não se indicar o uso contínuo da PPM é para evitar que a criança se acostume e pare de perceber o estímulo sensorial3131. Zavaglia V, Nori A, Mansour NM. Long term effects of the palatal plate therapy for the orofacial regulation in children with Down syndrome. J Clin Pediatr Dent. 2003;28(1):89-93.. Alguns autores recomendaram progredir gradualmente a quantidade de tempo de uso da placa3131. Zavaglia V, Nori A, Mansour NM. Long term effects of the palatal plate therapy for the orofacial regulation in children with Down syndrome. J Clin Pediatr Dent. 2003;28(1):89-93.. Nenhum dos estudos pesquisou a influência do tempo de uso diário da PPM nos resultados. Castillo-Morales88. Morales RC. Terapia de regulación orofacial.São Paulo: Memnon, 2002. recomenda que a placa seja removida durante as refeições, para não influenciar negativamente as experiências sensoriais durante a alimentação.

O uso da PPM esteve associado a outras formas estimulação da musculatura orofacial, com exceção de um estudo2929. Rincón RR, Jiménez BJ, Duque EO, Chaurra MRC. Evaluation after early maxillary orthopedic stimulation in Down syndrome children. Rev Fac Odontol Univ Antioq. 2002;14(1):45-53.. De acordo com a literatura, a PPM é um recurso coadjuvante ao tratamento orofacial de crianças com T21, não devendo ser utilizada de forma isolada88. Morales RC. Terapia de regulación orofacial.São Paulo: Memnon, 2002.. Castillo-Morales apresenta a PPM como parte da Terapia de Regulação Orofacial, sendo ambas as abordagens realizadas em conjunto88. Morales RC. Terapia de regulación orofacial.São Paulo: Memnon, 2002.. Nos estudos, o uso da PPM geralmente esteve associado a algum tipo de estimulação orofacial, sem especificar se foi realizada a Terapia de Regulação Orofacial, a Terapia miofuncional ou outra abordagem terapêutica. As pesquisas, no geral, não apresentaram as estratégias terapêuticas realizadas pelos profissionais, nem a frequência de realização das mesmas. O fato de a maioria das crianças realizarem tratamentos associados impede que se chegue à conclusão sobre qual tratamento específico foi responsável pelas mudanças musculares verificadas nos resultados. Sendo assim, os benefícios evidenciados por esta revisão da literatura devem ser atribuídos à associação do uso da PPM com a estimulação da musculatura orofacial.

Observou-se heterogeneidade das metodologias dos estudos, que variaram com relação à duração da intervenção, ao período até a reavaliação, e às características das placas palatinas utilizadas que abrangeram as tradicionais placas com o botão estimulador no centro do palato e as ranhuras na região do vestíbulo e variedades modificadas com acessórios.

As coletas dos dados das pesquisas basearam-se em três procedimentos principais: avaliação clínica por meio da observação do participante pelo profissional em 80% dos estudos2525. Hohoff A, Ehmer U. Effects of the Castillo-Morales Stimulating Plate on speech development of children with Down's syndrome - a retrospective study. Orofac Orthop/Fortschr Kieferorthop. 1997;58(6):330-9.

26. Hohoff A, Ehmer U. Short-term and long-term results after early treatment with the Castillo-Morales Stimulating Plate. A longitudinal study. J Orofac Orthop/Fortschr Kieferorthop. 1999;60(1):2-12.

27. Carlstedt K, Henningsson G, McAllister A, Dahllöf G. Long-term effects of palatal plate therapy on oral motor function in children with Down syndrome evaluated by video registration. Acta Odontol Scand. 2001;59(2):63-8.
-2828. Schuster G, Giese R. Retrospective clinical investigation of the impact of early treatment of children with Down's syndrome according to Castillo-Morales. J Orofac Orthop/Fortschr Kieferorthop. 2001;62(4):255-63.,3030. Carlstedt K, Henningsson G, Dahllöf G. A four-year longitudinal study of palatal plate therapy in children with Down Syndrome: effects on oral motor function, articulation and communication preferences. Acta Odontol Scand. 2003;61(1):39-46.

31. Zavaglia V, Nori A, Mansour NM. Long term effects of the palatal plate therapy for the orofacial regulation in children with Down syndrome. J Clin Pediatr Dent. 2003;28(1):89-93.

32. Bäckman B, Grevér-Sjölander AC, Bengtsson K, Persson J, Johansson I. Children with Down syndrome: oral development and morphology after use of palatal plates between 6 and 48 months of age. Int J Paediatr Dent. 2007;17:19-28.
-3333. Carlstedt K, Henningsson G, Dahllöf G. A longitudinal study of palatal plate therapy in children with Down syndrome. Effects on oral motor function. J Disabil Oral Health. 2007;8(1):13-9., opinião dos pais ou responsáveis legais, obtida por meio de entrevista ou aplicação de questionário, também em 80% dos estudos2525. Hohoff A, Ehmer U. Effects of the Castillo-Morales Stimulating Plate on speech development of children with Down's syndrome - a retrospective study. Orofac Orthop/Fortschr Kieferorthop. 1997;58(6):330-9.

26. Hohoff A, Ehmer U. Short-term and long-term results after early treatment with the Castillo-Morales Stimulating Plate. A longitudinal study. J Orofac Orthop/Fortschr Kieferorthop. 1999;60(1):2-12.

27. Carlstedt K, Henningsson G, McAllister A, Dahllöf G. Long-term effects of palatal plate therapy on oral motor function in children with Down syndrome evaluated by video registration. Acta Odontol Scand. 2001;59(2):63-8.

28. Schuster G, Giese R. Retrospective clinical investigation of the impact of early treatment of children with Down's syndrome according to Castillo-Morales. J Orofac Orthop/Fortschr Kieferorthop. 2001;62(4):255-63.

29. Rincón RR, Jiménez BJ, Duque EO, Chaurra MRC. Evaluation after early maxillary orthopedic stimulation in Down syndrome children. Rev Fac Odontol Univ Antioq. 2002;14(1):45-53.
-3030. Carlstedt K, Henningsson G, Dahllöf G. A four-year longitudinal study of palatal plate therapy in children with Down Syndrome: effects on oral motor function, articulation and communication preferences. Acta Odontol Scand. 2003;61(1):39-46.,3232. Bäckman B, Grevér-Sjölander AC, Bengtsson K, Persson J, Johansson I. Children with Down syndrome: oral development and morphology after use of palatal plates between 6 and 48 months of age. Int J Paediatr Dent. 2007;17:19-28.,3333. Carlstedt K, Henningsson G, Dahllöf G. A longitudinal study of palatal plate therapy in children with Down syndrome. Effects on oral motor function. J Disabil Oral Health. 2007;8(1):13-9. e gravação de vídeo2424. Carlstedt K, Dahllöf G, Nilsson B, Modéer T. Effect of palatal plate therapy in children with Down syndrome. A 1-year study. Acta Odontol Scand. 1996;54(2):122-5.,2727. Carlstedt K, Henningsson G, McAllister A, Dahllöf G. Long-term effects of palatal plate therapy on oral motor function in children with Down syndrome evaluated by video registration. Acta Odontol Scand. 2001;59(2):63-8.,2929. Rincón RR, Jiménez BJ, Duque EO, Chaurra MRC. Evaluation after early maxillary orthopedic stimulation in Down syndrome children. Rev Fac Odontol Univ Antioq. 2002;14(1):45-53.,3030. Carlstedt K, Henningsson G, Dahllöf G. A four-year longitudinal study of palatal plate therapy in children with Down Syndrome: effects on oral motor function, articulation and communication preferences. Acta Odontol Scand. 2003;61(1):39-46.,3232. Bäckman B, Grevér-Sjölander AC, Bengtsson K, Persson J, Johansson I. Children with Down syndrome: oral development and morphology after use of palatal plates between 6 and 48 months of age. Int J Paediatr Dent. 2007;17:19-28.,3333. Carlstedt K, Henningsson G, Dahllöf G. A longitudinal study of palatal plate therapy in children with Down syndrome. Effects on oral motor function. J Disabil Oral Health. 2007;8(1):13-9. em 60% dos estudos. Um estudo baseou-se em registro fotográfico2828. Schuster G, Giese R. Retrospective clinical investigation of the impact of early treatment of children with Down's syndrome according to Castillo-Morales. J Orofac Orthop/Fortschr Kieferorthop. 2001;62(4):255-63.. Cada tipo de avaliação apresenta pontos positivos e negativos. A observação clínica é subjetiva, depende da experiência profissional e, por ser realizada em um único momento e em ambiente diferente do que a criança está acostumada, pode não ser fidedigna. Dois estudos2727. Carlstedt K, Henningsson G, McAllister A, Dahllöf G. Long-term effects of palatal plate therapy on oral motor function in children with Down syndrome evaluated by video registration. Acta Odontol Scand. 2001;59(2):63-8.,3030. Carlstedt K, Henningsson G, Dahllöf G. A four-year longitudinal study of palatal plate therapy in children with Down Syndrome: effects on oral motor function, articulation and communication preferences. Acta Odontol Scand. 2003;61(1):39-46. realizaram avaliação clínica por dois profissionais cegos quanto ao grupo em que a criança participou, o que proporcionou maior confiabilidade dos resultados. Os relatos das famílias, por outro lado, são influenciados por desejos e expectativas dos familiares. Vídeos e fotografias podem minimizar estes problemas. O registro fotográfico frontal da face pode não capturar a postura mais frequentemente adotada pela criança2828. Schuster G, Giese R. Retrospective clinical investigation of the impact of early treatment of children with Down's syndrome according to Castillo-Morales. J Orofac Orthop/Fortschr Kieferorthop. 2001;62(4):255-63., enquanto a gravação de vídeo, apesar de ser o método mais fidedigno de análise, ainda assim pode ser influenciada pela fadiga da criança e condições ambientais. Portanto, o mais adequado seria a combinação dos diferentes métodos de avaliação.

Resultados positivos foram registrados na maioria das pesquisas, relacionados à melhora na postura de língua e vedamento labial. Apenas um estudo2727. Carlstedt K, Henningsson G, McAllister A, Dahllöf G. Long-term effects of palatal plate therapy on oral motor function in children with Down syndrome evaluated by video registration. Acta Odontol Scand. 2001;59(2):63-8. verificou ausência de diferença na postura de língua, após 48 meses de tratamento, entre os grupos de estudo e controle. O estudo apresentava, porém, uma amostra muito reduzida de apenas nove crianças que realizou o tratamento.

Os estudos que reavaliaram os participantes anos após o término do tratamento2525. Hohoff A, Ehmer U. Effects of the Castillo-Morales Stimulating Plate on speech development of children with Down's syndrome - a retrospective study. Orofac Orthop/Fortschr Kieferorthop. 1997;58(6):330-9.,2626. Hohoff A, Ehmer U. Short-term and long-term results after early treatment with the Castillo-Morales Stimulating Plate. A longitudinal study. J Orofac Orthop/Fortschr Kieferorthop. 1999;60(1):2-12. verificaram que os resultados permaneceram em longo prazo. Um destes estudos reavaliou os participantes após 39,5 meses do tratamento e verificou melhor postura habitual e mobilidade de língua, bem como vedamento de lábios2525. Hohoff A, Ehmer U. Effects of the Castillo-Morales Stimulating Plate on speech development of children with Down's syndrome - a retrospective study. Orofac Orthop/Fortschr Kieferorthop. 1997;58(6):330-9.. Outro estudo avaliou os participantes após 53 meses do tratamento e também verificou permanência da melhora na postura de língua e no vedamento labial na maioria dos casos2626. Hohoff A, Ehmer U. Short-term and long-term results after early treatment with the Castillo-Morales Stimulating Plate. A longitudinal study. J Orofac Orthop/Fortschr Kieferorthop. 1999;60(1):2-12..

Um viés observado nos estudos referiu-se ao fato de que a frequência de uso da PPM, bem como de realização das estratégias terapêuticas, era avaliada apenas por meio do relato dos pais. O abandono do estudo pelos indivíduos participantes foi recorrente nas pesquisas. Porém, muitos estudos não exploraram os motivos do abandono, nem estabeleceram estratégias para lidar com esse acompanhamento incompleto. Alguns estudos não apresentaram dados da avaliação das variáveis investigadas no início da pesquisa. Fatores de confusão como idade dos participantes, realização de outros tratamentos associados e grau de gravidade das características orofaciais ao início da pesquisa nem sempre foram controlados. Alguns estudos basearam-se apenas na observação clínica realizada por um único profissional para obtenção dos resultados, o que foi considerado não confiável. Foram consideradas como medidas para melhorar a confiabilidade das avaliações: avaliação independente por mais de um profissional, avaliações cegas e gravações por vídeo. Além disso, alguns estudos apresentaram apenas análise estatística descritiva para as comparações entre os grupos.

Conclusão

Os resultados reportados nos estudos sugerem que a combinação dos tratamentos, uso da placa palatina de memória e estimulação orofacial, promove a melhora da postura de língua e o vedamento labial em crianças com Trissomia do 21.

REFERENCES

  • 1
    Brandão IM, Fonseca V, Madi RR. Prevalence of people with Down syndrome in Brazil. Scientia Plena. 2012;8(3):037501.
  • 2
    Kruszka P, Porras AR, Sobering AK, Ikolo FA, La Qua S, Shotelersuk V. Down syndrome in diverse populations. Am J Med Genet A. 2017;173(1):42-53.
  • 3
    World Health Organization. Human Genomics in Global Health [Homepage on the Internet] [accessed 2020 April 3]. Available at: https://www.who.int/genomics/public/geneticdiseases/en/index1.html
    » https://www.who.int/genomics/public/geneticdiseases/en/index1.html
  • 4
    Doriguêtto PVT, Carrada CF, Scalioni FAR, Abreu LG, Devito KL, Paiva SM et al. Malocclusion in children and adolescents with Down syndrome: a systematic review and meta-analysis. Int J Paediatr Dent. 2019;29(4):524-41.
  • 5
    Kaczorowska N, Kaczorowski K, Laskowska J, Mikulewicz M. Down syndrome as a cause of abnormalities in the craniofacial region: A systematic literature review. Adv Clin Exp Med. 2019;28(11):1587-92.
  • 6
    Giacchini V, Tonial A, Bolli-Mota H. Aspects of language and oral motor observed in children treated at an early stimulation sector. Disturb Comun. 2013;25(2):253-65.
  • 7
    Pinheiro DLSA, Alves GAS, Fausto FMM, Pessoa LSF, Silva LA, Pereira SMF et al. Effects of electrostimulation associated with masticatory training in individuals with down syndrome. CoDAS. 2018;30(3):e20170074.
  • 8
    Morales RC. Terapia de regulación orofacial.São Paulo: Memnon, 2002.
  • 9
    Xepapadeas AB, Weise C, Frank K, Spintzyk S, Poets CF, Wiechers C et al. Technical note on introducing a digital workflow for newborns with craniofacial anomalies based on intraoral scans - part I: 3D printed and milled palatal stimulation plate for trisomy 21. BMC Oral Health. 2020;20(171):1-7.
  • 10
    Javed F, Akram Z, Barillas AP, Kellesarian SV, Ahmed HB, Khan J et al. Outcome of orthodontic palatal plate therapy for orofacial dysfunction in children with Down syndrome: a systematic review. Orthod Craniofac Res. 2018;21(1):20-6.
  • 11
    Furlan RMMM, Pretti H, Almeida TDD. Terapia miofuncional orofacial associada ao uso da placa palatina de memória em crianças com Síndrome de Down - discutindo uma série de casos clínicos. In: Silva HJ, Tessitore A, Motta AR, Cunha DA, Berretin-Felix G, Marchesan IQ et al., editors. Discutindo casos clínicos em Motricidade Orofacial. São José dos Campos; Pulso Editorial: 2020. p.59-65.
  • 12
    Limbrock GJ, Castillo-Morales R, Hoyer H, Stover B, Onufer CN. The Castillo-Morales approach to orofacial pathology in Down syndrome. Int J Orofacial Myology. 1993;19:30-7.
  • 13
    Limbrock GJ, Castillo-Morales REC, Hoyer H, Stover B, Onufer CCN. The Castillo-Morales therapy in 39 children with Down syndrome. J US Army Med Dep. 1994;8:6-12.
  • 14
    Mello CRS, Gugisch RC, Fraiz, FC, Lopes MN. Orofacial regulation therapy in Down Syndrome. Case Report. J Bras Odontoped Odontol Bebê.1998;1(1):34-43.
  • 15
    Carneiro VL, Sullcahuamán JAG, Fraiz FC. Utilización de la placa palatina de memoria y desarrollo orofacial en infante con Síndrome de Down. Revista Cubana Estomatología. 2012;49(4):305-11.
  • 16
    Matthews-Brzozowska T, Walasz J, Matthews-Kozanecka M, Matthews Z, Kopczynski P. The role of the orthodontist in the early simulating plate rehabilitation of children with Down syndrome. J Med Sci. 2014;2(83):145-51.
  • 17
    Walasz J, Matthews-Brzozowska T, Matthews-Kozanecka M, Cudzilo D. Types and positioning of palatal plate stimulation elements in children with down syndrome. Jour of Med Sc & Tech. 2014;3(1):1-6.
  • 18
    De la Cruz-Campos SB, Cárdenas-Flores CM. Palatine plate use for improving the closing mouth and tongue position in patients with down syndrome: clinical case report. Revista Científica Odontológica. 2016;4(1):464-70.
  • 19
    Padró SMJ, Barraza VE, Brucher SC, Concha TE, Delagado V. Efectividad del uso de placas palatinas y de la estimulación orofacial en el desarrollo oral en niños con síndrome de Down. Rev Chil Pediatr. 2010;81(1):46-52.
  • 20
    Limbrock GJ, Fischer-Brandies H, Avalle C. Castillo-Morales' orofacial therapy: treatment of 67 children with Down syndrome. Dev Med Child Neurol. 1991;33(4):296-303.
  • 21
    Andrade MER, Calvillo JN, Díaz MAS. Terapia de regulación orofacial mediante la placa Castillo-Morales modificada en el sindrome de Down. Informe preliminar. Rev ADM. 1993;50(2):85-8.
  • 22
    Hernández-Antonio A, Sánchez- Sánchez M, Azamar-Cruz E, Díaz-Arellano M, Velásquez-Paz AL, Ángeles-Castellanos M. Regulación orofacial Castillo-Morales y placa palatina modificada en niños con síndrome de Down. Avan C Salud Med. 2015;3(2):40-5.
  • 23
    Page MJ, McKenzie JE, Bossuyt PM, Boutron I, Hoffmann TC, Mulrow CD, et al. The PRISMA 2020 statement: an updated guideline for reporting systematic reviews BMJ. 2021;372(71).
  • 24
    Carlstedt K, Dahllöf G, Nilsson B, Modéer T. Effect of palatal plate therapy in children with Down syndrome. A 1-year study. Acta Odontol Scand. 1996;54(2):122-5.
  • 25
    Hohoff A, Ehmer U. Effects of the Castillo-Morales Stimulating Plate on speech development of children with Down's syndrome - a retrospective study. Orofac Orthop/Fortschr Kieferorthop. 1997;58(6):330-9.
  • 26
    Hohoff A, Ehmer U. Short-term and long-term results after early treatment with the Castillo-Morales Stimulating Plate. A longitudinal study. J Orofac Orthop/Fortschr Kieferorthop. 1999;60(1):2-12.
  • 27
    Carlstedt K, Henningsson G, McAllister A, Dahllöf G. Long-term effects of palatal plate therapy on oral motor function in children with Down syndrome evaluated by video registration. Acta Odontol Scand. 2001;59(2):63-8.
  • 28
    Schuster G, Giese R. Retrospective clinical investigation of the impact of early treatment of children with Down's syndrome according to Castillo-Morales. J Orofac Orthop/Fortschr Kieferorthop. 2001;62(4):255-63.
  • 29
    Rincón RR, Jiménez BJ, Duque EO, Chaurra MRC. Evaluation after early maxillary orthopedic stimulation in Down syndrome children. Rev Fac Odontol Univ Antioq. 2002;14(1):45-53.
  • 30
    Carlstedt K, Henningsson G, Dahllöf G. A four-year longitudinal study of palatal plate therapy in children with Down Syndrome: effects on oral motor function, articulation and communication preferences. Acta Odontol Scand. 2003;61(1):39-46.
  • 31
    Zavaglia V, Nori A, Mansour NM. Long term effects of the palatal plate therapy for the orofacial regulation in children with Down syndrome. J Clin Pediatr Dent. 2003;28(1):89-93.
  • 32
    Bäckman B, Grevér-Sjölander AC, Bengtsson K, Persson J, Johansson I. Children with Down syndrome: oral development and morphology after use of palatal plates between 6 and 48 months of age. Int J Paediatr Dent. 2007;17:19-28.
  • 33
    Carlstedt K, Henningsson G, Dahllöf G. A longitudinal study of palatal plate therapy in children with Down syndrome. Effects on oral motor function. J Disabil Oral Health. 2007;8(1):13-9.
  • Trabalho realizado na Universidade Federal de Minas Gerais - UFMG, Belo Horizonte, Minas Gerais, Brasil.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    06 Jun 2022
  • Data do Fascículo
    2022

Histórico

  • Recebido
    01 Set 2021
  • Aceito
    18 Fev 2022
ABRAMO Associação Brasileira de Motricidade Orofacial Rua Uruguaiana, 516, Cep 13026-001 Campinas SP Brasil, Tel.: +55 19 3254-0342 - São Paulo - SP - Brazil
E-mail: revistacefac@cefac.br