Formação e atuação de docentes de saúde coletiva fonoaudiólogos de instituições de educação superior públicas no Brasil

RESUMO

Objetivo:

analisar o perfil da formação e atuação dos docentes fonoaudiólogos responsáveis por componentes curriculares de saúde coletiva nas graduações em fonoaudiologia do Brasil.

Métodos:

foi realizada análise documental dos currículos lattes dos cinquenta docentes identificados por meio da técnica “bola de neve”. As informações extraídas foram classificadas em variáveis, analisando-as por meio da estatística descritiva e análise de correspondência múltipla.

Resultados:

identificou-se que a maioria dos docentes se graduou na região Sudeste, possui título de doutor, tese ou dissertação na área de clínica fonoaudiológica, projetos de extensão e pesquisa em saúde coletiva e produção científica na clínica fonoaudiológica. Observou-se, ainda, existência de docentes que não possuíram uma formação pós-graduada em saúde coletiva.

Conclusão:

o cenário aponta para uma possibilidade de fragilização do ensino e da pesquisa científica da saúde coletiva nos cursos de fonoaudiologia, visto que a formação e a atuação de uma parte importante dos docentes identificados neste estudo não estão voltadas especificamente para esse campo.

Descritores:
Universidades; Ensino; Fonoaudiologia; Saúde Pública

ABSTRACT

Purpose:

to analyze the training and work profile of speech-language-hearing professors responsible for public health curricular components in speech-language-hearing undergraduate programs in Brazil.

Methods:

a documentary analysis addressing Lattes curricula of 50 professors identified with the snowball technique. Extracted information was classified into variables, which were analyzed with descriptive statistics and multiple correspondence analysis.

Results:

most professors graduated in the Southeast Region, have a doctoral degree, wrote their theses or dissertations on speech-language-hearing clinics, conduct research and public outreach projects on public health, and produce scientific literature on speech-language-hearing clinics. Moreover, some professors do not have a postgraduate degree in public health.

Conclusion:

the scenario indicates possibly weakened scientific research and teaching on public health in speech-language-hearing programs, as the training and work of an important part of the professors identified in this study are not specifically focused on this field.

Keywords:
Universities; Teaching; Speech, Language and Hearing Sciences; Public Health

Introdução

A implantação das Diretrizes Curriculares Nacionais (DCN) e das políticas de indução à reorientação da formação favoreceu a inserção de componentes curriculares da saúde coletiva nos Projetos Pedagógicos de Curso (PPC) e nas matrizes curriculares das graduações em fonoaudiologia^1,2. Isto parece ter ocorrido, sobretudo, pela natureza da saúde coletiva, já que esta é um campo de saber voltado para a compreensão da saúde e a explicação de seus determinantes sociais, e o âmbito de práticas direcionadas prioritariamente para a sua promoção³.

Ainda assim, o que se observa é que a formação de fonoaudiólogos no Brasil ainda possui desafios inerentes à história da profissão e, também, aqueles que são compartilhados com outras profissões da área da saúde. Dentre esses, desatacam-se os desafios de formar profissionais aptos a ofertar o cuidado integral e para trabalhar interprofissionalmente⁴, mesmo que as DCN indiquem que o perfil do egresso deva ser de um fonoaudiólogo generalista capaz de atuar com as principais necessidades do Sistema Único de Saúde (SUS) e da população⁵. Por isso, a incorporação da Educação Interprofissional, das metodologias ativas de aprendizagem, da educação para a cidadania e a ampliação da inserção dos estudantes no contexto do SUS podem ser estratégias adotadas pelos cursos de graduação em fonoaudiologia para contribuir na reorientação da formação profissional⁴.

Neste cenário, torna-se relevante a realização de estudos que contribuam na análise de como tem ocorrido a formação em saúde coletiva nos cursos de graduação em fonoaudiologia no Brasil, observando as contribuições e os desafios desse campo na efetivação da formação de profissionais com o perfil sugerido pelas DCN.

O campo docente necessita ser compreendido e construído nas esferas política, epistemológica e cultural, pelos atores que o constitui com o objetivo de que os processos identitários não permaneçam sendo influenciadas por “empréstimos ou doações de pretensas autoridades do saber e do conhecimento”⁶. Nesse campo, os sujeitos constituídos, isto é, aqueles que são reconhecidos e se reconhecem como docentes, exercem seu papel a partir da formação que obtiveram enquanto processo de transformação dos acontecimentos cotidianos, informações e conhecimentos, construídos em espaços formais ou não formais, deste ser social, em experiências significativas⁷.

Diante disso, analisar a trajetória acadêmica e profissional dos docentes torna-se relevante para a compreensão de um determinado processo formativo, já que estes sujeitos constituem-se como atores curriculares implicados na formação e capazes de fazer inflexões no currículo⁷. Desta forma, identificar as características da atuação do docente, incorporando também a análise do seu percurso acadêmico no âmbito da graduação e pós-graduação, pode proporcionar a realização de inferências sobre os distanciamentos e aproximações da sua atividade enquanto professor e pesquisador do campo da saúde coletiva. No caso do presente artigo, pretende-se analisar qual o perfil de atuação e formação dos docentes fonoaudiólogos que lecionam saúde coletiva nas graduações em fonoaudiologia do país.

Métodos

Por se tratar de uma pesquisa que se utiliza de dados disponíveis em portal público e de livre acesso, não foi necessária a submissão deste trabalho ao Comitê de Ética em Pesquisa.

Trata-se de uma análise documental, que teve como fonte de dados os currículos da Plataforma Lattes dos docentes fonoaudiólogos das Instituições de Educação Superior (IES) públicas brasileiras. Para a identificação destes docentes, foi utilizada a técnica “bola de neve”⁸, sendo consideradas as indicações de coordenadores dos cursos de fonoaudiologia do Brasil, reunidos em um grupo virtual da Comissão de Ensino da Sociedade Brasileira de Fonoaudiologia. Esta técnica foi utilizada por não haver precisão documentada da quantidade e da localização dos docentes fonoaudiólogos que atuam com os componentes curriculares de saúde coletiva nas IES brasileiras.

A partir do levantamento realizado foram identificados cinquenta docentes que se dedicam a componentes curriculares de saúde coletiva, distribuídos em vinte e uma IES públicas. Para a conferência das IES que ofertam o curso no país, foi utilizado como referência uma pesquisa⁹ que fez levantamento dessas instituições.

Com objetivo de realizar a análise, foi elaborada uma matriz para ordenar a extração dos dados, utilizando as seguintes variáveis: instituição onde trabalha, instituição de graduação, ano de graduação em fonoaudiologia, maior titulação, ano de obtenção da maior titulação, título da tese ou dissertação, ano de defesa da tese ou dissertação, área de atuação registrada no lattes, projetos de pesquisa cadastrados nos anos de 2019 e 2020, projetos de extensão cadastrados nos anos de 2019 e 2020, além dos artigos de maior relevância. Para o levantamento dessa última variável foram levados os artigos marcados como de maior relevância no currículo lattes do docente, utilizando-se o último artigo publicado para os casos em que nenhum artigo tenha sido indicado.

As teses ou dissertações foram categorizadas em áreas, a saber: clínica fonoaudiológica, saúde pública/saúde coletiva e outros. Também foram categorizadas as áreas do projeto de pesquisa e extensão e de publicação dos docentes em clínica fonoaudiológica, saúde pública/saúde coletiva, clínica fonoaudiológica e saúde pública/saúde coletiva e outros. Foram categorizados em “clínica fonoaudiológica e saúde pública/saúde coletiva” os projetos de pesquisa e extensão e as publicações científicas dos docentes que dedicam seus estudos e atuação a essas duas áreas. Além disso, foram classificados como “outros” teses, dissertações ou projetos de pesquisa e extensão nas áreas das ciências biológicas básicas, da linguística e da educação.

Para a realização da categorização foi utilizada a técnica de Análise de Conteúdo¹⁰, sendo realizada pelo autor/pesquisador a leitura pormenorizada e interpretação do título e resumos dos trabalhos e dos projetos para a classificação segundo as áreas citadas. Cabe ressaltar que, apesar das concepções sobre saúde coletiva e saúde pública serem distintas¹¹, não foi adotado diferenciações para a categorização das variáveis.

O banco de dados resultante das informações coletadas foi construído no software IBM SPSS 20. A partir desses dados, foi realizado tratamento estatístico, o qual gerou estatísticas descritivas, sendo extraídas freqüências relativas e absolutas. Também foi utilizada a análise de correspondência para verificar o grau de interação entre as variáveis categóricas presentes no estudo¹².

Este artigo constitui-se como parte dos resultados da tese de doutorado de título “A formação em saúde coletiva nos cursos de graduação em fonoaudiologia de Instituições de Educação Superior públicas”.

Resultados

A amostra do estudo foi composta por cinquenta professores fonoaudiólogos efetivos que são responsáveis pelos componentes curriculares de saúde coletiva nas IES públicas brasileiras, com predominância do sexo feminino (88%), como observado na Tabela 1. Ainda na Tabela 1, na análise dos locais de graduação dos docentes, verificou-se que a maioria se formou na região Sudeste (58%), seguida da região Nordeste (15%) e Sul (12%). Do total, 40% formaram-se entre os anos 2001 a 2010 e 34% entre 1991 a 2000 (34%), sendo a maioria dos docentes formada em IES privada (58%).

Visualizando na Tabela 1 a formação na pós-graduação, verifica-se que 82% dos docentes possuem a titulação de doutor e 18% possui apenas a titulação de mestre. A pós-graduação foi realizada pelos docentes na região Sudeste (60%), na região Nordeste (34%) e na região Sul (6%).

O Nordeste e o Sudeste são as regiões com a maior quantidade de docentes de saúde coletiva, tendo a primeira dezenove e a segunda, vinte. Como na região Centro-Oeste possui apenas uma IES pública com curso de graduação em fonoaudiologia e foi identificada apenas uma professora responsável pelos componentes curriculares de saúde coletiva, optou-se por não incluir a região nesse estudo.

No que se refere às áreas de atuação em pesquisa e extensão, foi possível identificar, a partir da análise da Tabela 2, que a maioria dos docentes identifica no currículo lattes a atuação nas áreas de fonoaudiologia e saúde coletiva (54,2%). Os estudos na área da saúde pública/saúde coletiva (44%) foram mais prevalentes nas temáticas das dissertações ou teses defendidas pelos docentes na obtenção do seu maior título (mestrado ou doutorado). Nos projetos de extensão, a área mais prevalente identificada foi a de saúde pública/saúde coletiva (75,8%), assim como nos projetos de pesquisa (46,9%). Além disso, na publicação de artigos selecionados como mais relevantes, a área que mais apareceu foi a de saúde pública/saúde coletiva (37,5%) seguido de clínica fonoaudiológica (35,4%).

Tabela 1:
Total e porcentagem de variáveis presentes no estudo - Brasil, 2021

Variável	Frequências
	N	%
Sexo
Masculino	6	12
Feminino	44	88
Total	50	100
IES de atuação por região
Nordeste	19	38
Sul	11	22
Sudeste	20	40
Total	50	100
IES de graduação por região
Nordeste	15	30
Sul	6	12
Sudeste	29	58
Total	50	100
Ano de graduação
1971-1980	2	4
1981-1990	9	18
1991-2000	17	34
2001-2010	20	40
2011-2020	2	4
Total	50	100
IES de graduação por categoria administrativa
Público	21	42
Privado	29	58
Total	50	100
Maior titulação
Mestrado	9	18
Doutorado	41	82
Total	50	100
IES de pós-graduação por região
Nordeste	17	34
Sul	3	6
Sudeste	30	60
Total	50	100

• Legenda: IES - Instituições de Educação Superior
• Fonte: Dados da pesquisa, 2021. Elaboração do pesquisador.

Tabela 2:
Descrição das variáveis referentes às áreas de atuação em pesquisa e extensão do docente - Brasil, 2021

Variável	Frequências
	N	%
Área da tese ou dissertação
Clínica Fonoaudiológica	21	42
Saúde Pública/Saúde Coletiva	22	44
Outros	7	14
Total	50	100
Área de atuação registrada no lattes
Fonoaudiologia	7	14,6
Fonoaudiologia e Saúde Coletiva	26	54,2
Saúde Coletiva	2	4,2
Outros	13	27,1
Total	50	100
Área do projeto de extensão
Clínica Fonoaudiológica	4	12,1
Saúde Pública/Saúde Coletiva e Clínica Fonoaudiológica	2	6,1
Saúde Pública/Saúde Coletiva	25	75,8
Outros	2	6,1
Total	50	100
Área do projeto de pesquisa
Clínica Fonoaudiológica	5	15,6
Saúde Pública/Saúde Coletiva e Clínica Fonoaudiológica	10	31,3
Saúde Pública/Saúde Coletiva	15	46,9
Outros	2	6,3
Total	50	100
Área de publicação dos artigos
Clínica Fonoaudiológica	17	35,4
Saúde Pública/Saúde Coletiva e Clínica Fonoaudiológica	11	22,9
Saúde Pública/Saúde Coletiva	18	37,5
Outros	2	4,2
Total	50	100

• Fonte: Dados da pesquisa, 2021. Elaboração do pesquisador.

Na análise de correspondência representada na Figura 1, observa-se a existência de associação entre IES de atuação e graduação dos docentes. Esta associação é maior nas regiões Sudeste e Nordeste, visto que na figura essas variáveis estão mais próximas. Em relação à titulação, observa-se que o doutorado é o que possui maior associação com as IES de atuação e graduação docente na região Sudeste.

Referente à categoria administrativa da IES de graduação, a atuação na região Nordeste possui associação com as IES públicas e os docentes que atuam nessa região possui associação com a pós-graduação no nível de mestrado.

Figura 1:
Análise de correspondência múltipla das variáveis referentes à formação docente - Brasil, 2021

Quanto à produção acadêmica, conforme visualizado na Figura 2, identifica-se que os docentes que possuem tese ou dissertação na área da clínica fonoaudiológica produzem artigos científicos nessa mesma área. Além disso, observa-se que os docentes que atuam na região Nordeste possuem associação com a tese ou dissertação na área de saúde pública/saúde coletiva, com a produção científica na mesma área, além de outras áreas que não sejam da clínica fonoaudiológica ou da própria saúde pública/saúde coletiva, como nas ciências biológicas básicas, na linguística e na educação. Os docentes que atuam na região Sudeste, por sua vez, têm uma associação com a produção acadêmica em saúde pública/saúde coletiva e clínica fonoaudiológica, isto é, publicam artigos nas duas áreas.

Figura 2:
Análise de correspondência múltipla das variáveis referentes à produção dos docentes - Brasil, 2021

A Figura 3 permite a análise das áreas de projetos de pesquisa e extensão por região. Os docentes que atuam na região Nordeste possuem associação com projetos de pesquisa na área de a saúde pública/saúde coletiva. Enquanto isso, os docentes que atuam na região Sudeste possuem associação com as áreas de saúde pública/saúde coletiva e clínica fonoaudiológica nos projetos de pesquisa. Percebe-se ainda uma associação entre os docentes que possuem projetos de pesquisa na saúde pública/saúde coletiva e clínica fonoaudiológica com a extensão na área da clínica fonoaudiológica.

Figura 3:
Análise de correspondência múltipla das variáveis referentes à atuação docente em pesquisa e extensão - Brasil, 2021

Discussão

O contexto apresentado demonstra uma quantidade importante de docentes que não possuem atuação em pesquisa e extensão em saúde coletiva, inclusive no desenvolvimento de teses ou dissertações durante a sua formação em nível de pós-graduação. Essa situação dificulta o processo de consolidação e expansão da saúde coletiva nos cursos de graduação em fonoaudiologia, o que poderia contribuir com o distanciamento da formação do fonoaudiólogo com os ideários da Reforma Sanitária Brasileira, dilema que tem sido vivenciado por este campo de saberes e práticas nos últimos anos¹³. Isto porque os docentes, enquanto sujeitos implicados nos atos de currículo, constituem-se como um dos responsáveis de inflexionar o currículo a partir de seus interesses, ideologias, vivências e experiências^6,14. Sendo assim, como a atuação destes atores têm se aproximado de linhas diferentes da saúde coletiva, é possível que isto reflita de alguma forma na fragilização do ensino nos componentes curriculares voltados para esta área.

Na realidade brasileira, ainda é possível observar-se uma desigualdade na oferta de serviços fonoaudiológicos entre as regiões, característica essa que pode ser observada em diferentes níveis de atenção e serviços. Estudos apontam que o Sudeste é a região que possui a maior concentração de fonoaudiólogo no SUS, e as regiões Norte e Nordeste as que possuem uma menor proporção de profissionais, apesar da expansão da oferta que nos últimos anos^15,16.

Além dessa concentração de profissionais fonoaudiólogos no Sudeste, observa-se uma maior presença de oferta de vagas para a graduação em fonoaudiologia nessa região, onde também podem ser encontrados os cursos mais antigos, sobretudo no estado de São Paulo¹⁷. Esse cenário pode explicar os resultados apresentados neste estudo, os quais apontam que a maioria dos professores de saúde coletiva fonoaudiólogos foi graduada e pós-graduada na região Sudeste. Adicionalmente, foi verificado um maior número de docentes que se formaram em instituições privadas. Esse dado é coerente com o retrato das graduações de fonoaudiologia no país, já que 72,4% dos cursos estão em IES privadas, enquanto 27,6% estão em IES públicas¹⁷.

Em relação ao número de docentes que se dedicam aos componentes de saúde coletiva nos cursos de fonoaudiologia das IES públicas do país, percebe-se que há um equilíbrio entre Nordeste (n = 19) e Sudeste (n = 20). Contudo, quando se analisa a concentração dos cursos públicos de fonoaudiologia do país, percebe-se que há uma maior prevalência desses na região Sudeste, seguida da região Nordeste¹⁷. Esse cenário pode indicar que os cursos de fonoaudiologia das IES nordestinas possuem uma maior dedicação à saúde coletiva que os cursos do Sudeste. Isto ocorreria, sobretudo, devido à característica dos cursos de fonoaudiologia do Nordeste, que são mais jovens, criados principalmente por meio da expansão do ensino superior no Brasil nos anos 2000^17,18, mesmo período em que se debatia e aprovava as Diretrizes Curriculares Nacionais para os cursos de graduação em fonoaudiologia. Tais diretrizes ressaltam a relevância da formação do fonoaudiólogo para atuação no sistema público vigente e para os principais problemas de saúde da população⁵.

Outro dado relevante está nas áreas dos projetos de pesquisa e extensão dos docentes. Observa-se que, no âmbito da extensão, os professores fonoaudiólogos, em sua maioria, dedicam-se exclusivamente à área da saúde coletiva (75,5%). Da mesma forma, nos projetos de pesquisa há predominância nessa área (46,9%). Contudo, uma parte dos docentes (31,3%) divide sua dedicação entre as áreas de saúde coletiva com a área da clínica fonoaudiológica.

Na análise de correspondência, é possível observar a associação entre as áreas de projeto de pesquisa e extensão com as IES de atuação por região. Pode-se dizer que as ações que vinculam a universidade à comunidade, por meio de práticas que, de alguma forma, contribua para o desenvolvimento da população e da sua participação na construção do conhecimento, assim como consta nos pressupostos da extensão universitária¹⁹, são os espaços, além do ensino, que a maioria dos docentes atua com o objeto da saúde pública/saúde coletiva.

Cabe o destaque que os sujeitos desta pesquisa são na sua maioria do sexo feminino (88%) e graduados entre os anos 1990 e 2000, o que demonstra que é uma população relativamente jovem, corroborando com artigos encontrados na literatura que pesquisaram o perfil dos docentes dos cursos de fonoaudiologia no território brasileiro^20,21.

Optou-se neste estudo adotar como cenário apenas as instituições públicas, já que estas, em sua maioria, possuem maior incentivo ao trabalho nos âmbitos da pesquisa e da extensão, além do ensino. No entanto, essa escolha trouxe, por consequência, uma limitação à pesquisa, já que não foram analisados os currículos dos docentes fonoaudiólogos das instituições privadas, que concentram o maior número de cursos de graduação em fonoaudiologia no Brasil. Além disso, como já destacado anteriormente, não é possível ter precisão do número total de docentes fonoaudiólogos que atuam na saúde coletiva nas IES que compõem o estudo. Por isso, a análise dos currículos apenas dos docentes identificados por meio da técnica de bola de neve também pode ser considerada uma limitação desta pesquisa.

Conclusão

Neste trabalho, foi possível observar algumas limitações no perfil de formação e atuação dos docentes fonoaudiólogos que pode em alguma medida, interferir no processo formativo no âmbito da graduação. Destaca-se, neste sentido, a existência de docentes que não possuíram uma formação pós-graduada em saúde coletiva, tendo a quase a metade dessa população realizado suas teses ou dissertações na área da clínica fonoaudiológica, e que publicam artigos nessa mesma área, contribuindo para a fragilização da pesquisa do ensino e da pesquisa científica no campo da saúde coletiva na formação em fonoaudiologia.

Adicionalmente, a partir deste estudo é possível identificar também a existência de diferenças no perfil de formação e atuação dos docentes quando se analisa esta realidade nas regiões do país. Esse contexto indica diferenças regionais no âmbito da formação em saúde coletiva nos cursos de fonoaudiologia, já que os atores curriculares docentes são os responsáveis por colocar o currículo em ato, a partir das suas vivências, experiências e ideologias.

A formação em saúde coletiva nos cursos de graduação em fonoaudiologia do país ainda é um objeto de estudo pouco trabalhado. Neste sentido, o presente artigo poderá contribuir para que se estimule a discussão sobre o papel e a atuação dos atores curriculares docentes para o desenvolvimento científico e pedagógico da saúde coletiva no campo da fonoaudiologia, de forma que se fortaleça a formação dos futuros profissionais numa perspectiva mais próxima das necessidades de saúde da população e do SUS, seguindo o preconizado pelas Diretrizes Curriculares Nacionais dos cursos de graduação em Fonoaudiologia.

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Datas de Publicação

• Publicação nesta coleção
  21 Nov 2022
• Data do Fascículo
  2022

Histórico

• Recebido
  08 Set 2022
• Aceito
  31 Out 2022