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Performance comunicativa dos repórteres com o uso de máscara facial durante a pandemia da COVID-19

RESUMO

Objetivo:

identificar o impacto do uso de máscara de proteção facial na performance comunicativa dos repórteres durante a pandemia da COVID-19, bem como verificar se existe associação entre esses aspectos.

Métodos:

trata-se de um estudo transversal, de caráter descritivo, com abordagem quantitativa. Participaram 32 repórteres que atuaram durante a pandemia, sendo 16 do sexo feminino e 16 do sexo masculino. A maioria dos participantes tinha ensino superior (n = 28; 87,5%). A amostra apresentou média de idade de 35,09 anos (DP = 9,41) e tempo de atuação na área de 10,09 anos (DP = 7,62). Os repórteres responderam a um formulário online composto por 26 questões, elaborado pelos próprios pesquisadores, sobre a autopercepção vocal e performance comunicativa do repórter com o uso de máscara durante a pandemia. Foi realizada análise descritiva dos dados e aplicado o teste Qui-quadrado por meio do software Statistical Package for Social Sciences 20 (SPSS).

Resultados:

a maioria dos repórteres (n = 20; 62,5%) classificou sua voz e articulação de fala como boas (n = 19; 59,4%). A maioria dos participantes relatou sentir dificuldade de ouvir e/ou ser ouvido pelo entrevistado em locais com ruído e perceber a sua voz mais baixa, com pouco volume ou abafada (n= 28; 87,5%), bem como 22 (68,8%) relataram ter que falar mais alto do que o normal para ser ouvido. Por fim, verificou-se a presença de associações entre as questões sobre a performance comunicativa dos repórteres e o uso de máscaras durante as reportagens.

Conclusão:

os repórteres apresentaram impactos negativos com uso das máscaras de proteção facial durante as reportagens, bem como verificou-se associação entre o uso destas com a performance comunicativa.

Descritores:
COVID-19; Máscaras; Comunicação; Jornalismo; Fonoaudiologia

ABSTRACT

Purpose:

to identify the impact of wearing protective face masks on reporters’ communicative performance during the COVID-19 pandemic and verify whether there was an association between these aspects.

Methods:

a quantitative, descriptive, cross-sectional study with a sample of 32 reporters (16 females and 16 males) who worked, during the pandemic. Most participants had a bachelor’s degree (n = 28; 87.5%). The sample’s mean age was 35.09 years (SD = 9.41), and they had been working in the area for a mean of 10.09 years (SD = 7.62). Reporters answered an online form with 26 questions, developed by the researchers, on their self-perception of voice and communicative performance when wearing a mask, during the pandemic. Data were descriptively analyzed, and the chi-square test was applied with the Statistical Package for the Social Sciences 20 (SPSS).

Results:

most reporters (n = 20; 62.5%) classified their voices and speech articulation as good (n = 19; 59.4%) and reported difficulties hearing and/or being heard by interviewees in noisy places and perceived their voices were lower, muffled, or with a low volume (n = 28; 87.5%). Also, 22 (68.8%) reported having to speak louder than usually to be heard. Lastly, the questions on reporters’ communicative performance were associated with wearing masks while reporting.

Conclusion:

wearing protective face masks, during reportage, negatively impacted reporters and was associated with their communicative performance.

Keywords:
COVID-19; Masks; Communication; Journalism; Speech, Language and Hearing Sciences

INTRODUÇÃO

O surgimento da pandemia da COVID-19 gerou grandes transformações na vida cotidiana global. O uso de máscaras de proteção facial passou a ser recomendado pelas grandes entidades mundiais de saúde, visando à desaceleração do contágio da COVID-1911. Garcia LP. Use of facemasks to limit COVID-19 transmission. Epidemiologia e Serviços de Saúde. 2020;29(2):e2020023. https://doi.org/10.5123/S1679-49742020000200021. PMID: 32321003.
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. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), as máscaras de proteção facial deveriam cobrir perfeitamente o nariz e a boca para, assim, minimizar os riscos de contaminação.

Os estados e municípios brasileiros passaram a criar legislações próprias referentes à COVID-19. Uma dessas providências de vigilância sanitária e saúde foi a determinação do uso obrigatório da máscara de proteção facial em lugares públicos e privados11. Garcia LP. Use of facemasks to limit COVID-19 transmission. Epidemiologia e Serviços de Saúde. 2020;29(2):e2020023. https://doi.org/10.5123/S1679-49742020000200021. PMID: 32321003.
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. Portanto, à medida que o mundo enfrentava a maior crise sanitária do século, na busca por resolutividade dos impactos, coube ao telejornalismo ser o porta-voz da ciência.

No mês de maio de 2020, as emissoras brasileiras de televisão determinaram que os seus repórteres deveriam usar as máscaras durante as reportagens, e essa decisão foi seguida pelas suas filiais22. Jornal Nacional' inaugura uso de máscaras em seus repórteres. 04 de maio de 2020. [accessed 2022 mar 25] Available at: https://telepadi.folha.uol.com.br/jornal-nacional-inaugura-uso-de-mascaras-em-seus-reporteres-no-video.
https://telepadi.folha.uol.com.br/jornal...
. A providência tinha, sobretudo, o objetivo de proteger os seus colaboradores, visto que os repórteres de TV geralmente transmitem a notícia diretamente no local do acontecimento, além de retratar uma interpretação semiótica de segurança para os seus telespectadores.

No início da pandemia, o Brasil atingiu a taxa de maior transmissibilidade da COVID-19 no mundo33. Sousa GJB, Garces TS, Cestari VRF, Moreira TMM, Florencio RS, Pereira MLD. Estimation and prediction of COVID-19 cases in Brazilian metropolises. Rev. Latino-Am. Enfermagem. 2020;28(1):e3345. https://doi.org/10.1590/1518-8345.4501.3345. PMID: 32609282.
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. Uma pesquisa realizada pela Federação Nacional de Jornalistas (FENAJ)44. Federação Nacional dos Jornalistas - FENAJ. Pesquisa: Covid-19 entre jornalistas e condições de trabalho, 2020. [accessed 2021 out 22] Available at: http://www.fenaj.org.br/wp-content/uploads/2020/06/pesquisa-covid-2020.pdf
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, que contou com a participação de 457 jornalistas de todo Brasil, verificou que 20% (88) dos jornalistas participantes deste estudo contraíram a COVID-19. Dentre essa população, 38 (8,4%) eram jornalistas da Paraíba.

Embora a máscara de proteção facial tenha grande importância no cenário atual, o uso desse acessório, que se tornou parte do cotidiano da população mundial, mostra-se um agente limitante no que se refere à comunicação11. Garcia LP. Use of facemasks to limit COVID-19 transmission. Epidemiologia e Serviços de Saúde. 2020;29(2):e2020023. https://doi.org/10.5123/S1679-49742020000200021. PMID: 32321003.
https://doi.org/10.5123/S1679-4974202000...
,55. Araujo AGR, Araújo EJ, Barquet LA, Santos TRP. Dificuldade na percepção auditiva em usuários de máscara de proteção individual na pandemia de COVID-19. Atas de Ciências da Saúde. 2022;10(2):24-32. https://revistaseletronicas.fmu.br/index.php/ACIS/article/view/2644.
https://revistaseletronicas.fmu.br/index...
,66. Bottalico P, Murgia S, Puglisi GE, Astolfi A, Kirk KI. Effect of masks on speech intelligibility in auralized classrooms. J Acoustical Soc Am. 2020;148(5):2878. https://doi.org/10.1121/10.0002450. PMID: 33261397.
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. Durante sua utilização os indivíduos perdem a pista da leitura labial, fator importante para aumentar a inteligibilidade de fala, além de terem a diminuição da discriminação de fala e suas expressões faciais limitadas, tornando as emoções do falante menos perceptíveis77. Mheidly N, Fares MY, Zalzale H, Fares J. Effect of face masks on interpersonal communication during the COVID-19 Pandemic. Front. Public Health. 2020;8(1):582191. https://doi.org/10.3389/fpubh.2020.582191.PMID: 3363081.
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. Ademais, pode ocasionar o aparecimento de queixas relacionadas aos sintomas de fadiga, desconforto vocal e esforço vocal, além da incoordenação pneumofonoarticulatória ao utilizá-las durante as atividades laborativas88. Ribeiro VV, Dassie-Leite AP, Pereira EC, Santos ADN, Martins P, Irineu RA. Effect of wearing a medical mask on vocal self-perception during a Pandemic. J Voice. 2020;S0892-1997(20):30356-58. https://doi.org/10.1016/j.jvoice.2020.09.006. PMID: 33011037.
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.

Assim, as transformações que ocorreram na performance e no ambiente de trabalho dos repórteres devido à pandemia, devem ser contempladas pelos estudos da Fonoaudiologia, inclusive quanto aos aspectos de expressividade de fala desses profissionais ao comunicarem a notícia, isto é, quanto aos impactos gerados pelo uso da máscara referentes aos recursos vocais (aspectos referentes à qualidade vocal) e aos não verbais (gestos e expressões faciais) da comunicação, visto que a expressividade oral e corporal integram o processo de comunicação entre os falantes, expondo informações de relevância e sendo coerentes com a mensagem que se quer transmitir ao ouvinte99. Cotes CSG. Apresentadores de telejornal: análise descritiva dos recursos nao-verbais e vocais durante o relato da notícia [dissertation]. São Paulo (SP): Pontifícia Universidade Católica de São Paulo; 2000..

Por se tratar de uma temática atual, observou-se a escassez de produções científicas nesta perspectiva. De tal forma, a atuação profissional do repórter precisa ser identificada, conhecida, compreendida e analisada, para dessa forma, guiar o trabalho de assessoria destes profissionais.

A partir disso, levantou-se a seguinte questão de pesquisa: O uso de máscaras de proteção facial durante a pandemia de COVID-19 pode impactar de maneira negativa a performance comunicativa dos repórteres?

O objetivo deste estudo é identificar o impacto do uso de máscara de proteção facial na performance comunicativa dos repórteres durante a pandemia da COVID-19, bem como verificar se existe associação entre esses aspectos.

MÉTODOS

Trata-se de um estudo observacional, de caráter descritivo e com abordagem quantitativa. Tal pesquisa faz parte de um projeto maior intitulado “Efeitos de um programa de assessoria em voz para estudantes e profissionais de jornalismo, rádio e TV”, que foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa com Seres Humanos do Centro de Ciências da Saúde da Universidade Federal da Paraíba - UFPB,Br asil, sob o número de parecer 3.531.465 e CAAE número 12862819.9.0000.5188. Todos os participantes assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido - TCLE, antes de serem submetidos aos procedimentos relacionados à pesquisa, conforme o recomendado pela resolução 466/12 da Comissão Nacional de Ética em Pesquisa (CONEP).

A coleta de dados foi realizada por meio de um formulário virtual. Essa estratégia de coleta foi escolhida, principalmente, pela possibilidade de se alcançar o máximo de participantes, além de considerar as restrições de distanciamento social e decretos municipais e estaduais, devido a todo contexto pandêmico causado pela COVID-19. O período de realização do estudo compreendeu os meses entre agosto e outubro de 2021, no estado da Paraíba.

Foram utilizados os recursos da plataforma Google Forms, que é uma ferramenta de suporte que permite a criação de formulários online para pesquisas. O formulário foi composto por 26 questões, as quais eram de preenchimento obrigatório (APÊNDICE 1), e todas elas foram desenvolvidas pelas pesquisadoras, baseando-se nos seguintes protocolos da área: Roteiro Fonoaudiológico de Observação de Expressividade (RoFOE)1010. Santos TD, Ferreira LP. Expressiveness of voice professionals: construction process of a speech-language pathology assessment script. CoDAS. 2020;32(2):e20190121. https://doi.org/10.1590/2317-1782/20192019121. PMID: 32215472.
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, questionário de Qualidade de Vida em Voz (QVV)1111. Gasparini G, Behlau M. Validação do questionário de avaliação de qualidade de vida em voz (QVV). In: Anais do XIV Congresso Brasileiro de Fonoaudiologia. 2006., Índice de Desvantagem Vocal (IDV)1212. Behlau M, Santos LMA, Oliveira G. Cross-cultural adaptation and validation of the voice handicap index into Brazilian Portuguese. J Voice. 2011;25(3):354-9. https://doi.org/10.1016/j.jvoice.2009.09.007. PMID: 20434874.
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, Escala de Sintomas Vocais (ESV)1313. Moreti FTG. Cross-cultural adaptation and validation of the Voice Symptom Scale - VoiSS into Brazilian Portuguese. Rev Soc Bras Fonoaudiol. 2012;17(2):238. https://doi.org/10.1590/S1516-80342012000200025.
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e Teste de Autoavaliação da Competência na Comunicação (TACCOM)1414. Behlau M. Teste de Autoavaliação da Competência na Comunicação - TACCOM. 2012. [accessed 2021 nov 22] Available at: https://www.cevbr.com
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.

Vale ressaltar que se optou por não utilizar os instrumentos validados na íntegra, os quais embasaram a construção do formulário, pois estes não tinham como foco avaliar especificamente o público-alvo, bem como não atendia a realidade que seria estudada, neste caso, a pandemia e uso de máscara facial.

A amostra de conveniência desse estudo incluiu os participantes que atendessem aos seguintes critérios de elegibilidade: ser repórter de TV; ter atuado durante a pandemia de COVID-19; ter aceitado participar da pesquisa a partir da assinatura no Termo de Consentimento Livre e Esclarecido - TCLE, bem como ter respondido completamente ao questionário. Sendo assim, os participantes da pesquisa foram contactados nas próprias emissoras de televisão e por meio das redes sociais (Facebook®, Instagram® e WhatsApp®). Ao aceitar participar da pesquisa, foi enviado o link que possuía o TCLE e o formulário.

Do total de 40 repórteres convidados do estado da Paraíba, 32 manifestaram interesse em participar e atendiam aos critérios de elegibilidade do estudo, sendo 16 do sexo feminino e 16 do masculino. A maioria dos participantes tinha ensino superior (n = 28; 87,5%). A amostra apresentou média de idade de 35,09 anos (DP = 9,41) e tempo de atuação na área de 10,09 anos (DP = 7,62).

O formulário foi dividido em três seções: 1) TCLE e identificação do participante; 2) autopercepção vocal do repórter; e 3) performance comunicativa do repórter com o uso de máscara durante as reportagens. Sendo assim, a primeira etapa teve como objetivo realizar a caracterização da amostra. Em seguida, foram apresentadas as questões referentes à COVID-19, com base em um recente estudo de metanálise1515. Lopez-Leon S, Wegman-Ostrosky T, Perelman C, Sepulveda R, Rebolledo PA, Cuapio A et al. More than 50 Long-term effects of COVID-19: a systematic review and meta-analysis. Scientific reports. 2021;11(1):1-12. https://doi.org/10.1101/2021.01.27.21250617. PMID: 33532785.
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. As questões presentes na segunda etapa abordaram a autopercepção do repórter quanto a sua voz e a articulação de fala, que poderia ser classificada como excelente, boa, regular, ruim e péssima, bem como a questão sobre o uso de gestos e expressões faciais associadas ao discurso. Tal seção foi desenvolvida com base nas questões dos instrumentos RoFOE e TACCOM.

A terceira etapa compreendeu questões de autopercepção do repórter a partir do uso de máscaras de proteção facial durante as reportagens. As questões estavam relacionadas às dificuldades apresentadas e diferenças sentidas pelos repórteres durante o uso de máscaras. A partir da síntese dos estudos sobre a temática, encontrados na literatura, as pesquisadoras elaboraram as questões, visando ao objetivo e à caracterização do presente estudo. Nesta seção, foram utilizados os instrumentos QVV, IDV, ESV e TACCOM como base para a elaboração das perguntas.

Todos os dados obtidos foram analisados de forma descritiva por meio da frequência absoluta e relativa, assim como extraídos os valores de média e desvio padrão. Na análise inferencial, foi utilizado o teste Qui-quadrado, por meio do Statistical Package for Social Sciences 20 (SPSS), para verificar a presença de associação entre as questões do formulário sobre a performance comunicativa dos repórteres a partir do uso de máscaras durante as reportagens. O nível de significância utilizado neste estudo foi de 5% e o intervalo de confiança de 95%. Vale ressaltar que serão apresentadas e discutidas somente as variáveis que apresentaram significância.

RESULTADOS

Ao analisar a autopercepção vocal, a maioria dos repórteres classificou sua própria voz e sua articulação de fala como boas, bem como todos afirmaram realizar gestos e expressões faciais que acompanham o discurso (Tabela 1).

Tabela 1
Autopercepção dos repórteres quanto à voz, a articulação de fala e o uso de gestos e expressões faciais

Foi possível verificar que 13 repórteres (40,6%) relataram já terem sido diagnosticados com a COVID-19 e a maioria manifestou como sintomas persistentes, após a contaminação pelo vírus, a fadiga (n = 3; 23,1%), a falta de ar (n = 3; 23,1%) e a queda de cabelo (n = 3; 23,1%). Vale ressaltar que, no momento da aplicação da pesquisa, 96,9% dos repórteres (n = 31) não apresentavam sintomas gripais. Ao serem questionados sobre o tipo de máscara de proteção facial que estavam adaptados a utilizar durante as reportagens, a maioria referiu a do tipo cirúrgica (n = 28; 87,5%).

Ao utilizar as máscaras de proteção facial durante as reportagens, a maioria dos participantes relatou: sentir dificuldade de ouvir e/ou ser ouvido pelo entrevistado em locais com ruído, perceber a sua voz mais baixa, com pouco volume ou abafada, por causa do uso da máscara facial, bem como ter que falar mais alto do que o normal para ser ouvido quando usa máscara de proteção facial (Tabela 2).

Tabela 2
Questões do formulário sobre a performance comunicativa dos repórteres a partir do uso de máscaras durante as reportagens

Verificou-se presença de associação entre as questões do formulário sobre a performance comunicativa dos repórteres a partir do uso de máscaras durante as reportagens (Tabela 3).

Tabela 3
Associação das questões do formulário sobre a performance comunicativa dos repórteres a partir do uso de máscaras durante as reportagens

DISCUSSÃO

Durante o surto da COVID-19, a máscara de proteção facial tornou-se um aliado para evitar a contaminação e propagação do vírus, tornando-se parte do cotidiano da população, inclusive, dos repórteres. Nesse sentido, este estudo teve como objetivo identificar o impacto do uso de máscara de proteção facial na performance comunicativa dos repórteres durante a pandemia da COVID-19, bem como verificar se existe associação entre esses aspectos. A partir dos resultados obtidos, verificou-se que os participantes apresentaram impactos negativos com uso das máscaras de proteção facial durante as reportagens.

Ao caracterizar os repórteres participantes da pesquisa quanto à autopercepção vocal, foi possível verificar que estes classificaram sua voz e articulação de fala como boas, bem como todos afirmaram realizar gestos e expressões faciais que acompanham o discurso durante as reportagens. Um estudo1616. Andrade BMR, Nascimento LS, Passos CRS, Nascimento UN, Souza GGA, Santos TC et al. Caracterização vocal dos discentes do Departamento de Comunicação Social da Universidade Federal de Sergipe. Distúrb. Comunic. 2014;26(4):752-68. https://revistas.pucsp.br/index.php/dic/article/view/17207
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realizado com estudantes de comunicação social, dentre eles alunos de jornalismo, verificou que estes possuem autoimagem vocal positiva, principalmente, nos aspectos de qualidade vocal e no uso de recursos expressivos. A literatura1616. Andrade BMR, Nascimento LS, Passos CRS, Nascimento UN, Souza GGA, Santos TC et al. Caracterização vocal dos discentes do Departamento de Comunicação Social da Universidade Federal de Sergipe. Distúrb. Comunic. 2014;26(4):752-68. https://revistas.pucsp.br/index.php/dic/article/view/17207
https://revistas.pucsp.br/index.php/dic/...
,1717. Neiva TMA, Gama ACC, Teixeira LC. Vocal and body expressiveness to speak well in telejournalism: training results. Rev. CEFAC. 2016;18(2):498-507. https://doi.org/10.1590/1982-021620161829415.
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refere que é comum que esses profissionais tenham uma boa autopercepção de sua performance, bem como acreditam que geram impressões agradáveis ao ouvinte.

Quando questionados sobre a COVID-19, 13 (40,6%) participantes autorreferiram já terem sido infectados com o vírus, logo, observou-se que o número de repórteres que não havia sido diagnosticado com COVID-19, até o momento da coleta, se sobressaiu em relação ao grupo que referiu ter contraído a doença. Os profissionais acometidos pelo vírus apresentaram como principais sintomas persistentes a fadiga, a falta de ar e a queda de cabelo. Tais achados foram semelhantes aos resultados preliminares de uma pesquisa de revisão sistemática e metanálise1515. Lopez-Leon S, Wegman-Ostrosky T, Perelman C, Sepulveda R, Rebolledo PA, Cuapio A et al. More than 50 Long-term effects of COVID-19: a systematic review and meta-analysis. Scientific reports. 2021;11(1):1-12. https://doi.org/10.1101/2021.01.27.21250617. PMID: 33532785.
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, porém, com porcentagens maiores e com alguns sintomas diferentes dos encontrados no presente estudo, como dispneia e distúrbio de atenção.

Ao analisar as questões do formulário sobre a performance comunicativa do repórter a partir do uso de máscaras durante as reportagens, verificou-se a autorreferência de dificuldade de ouvir e ser ouvido em ambientes ruidosos, assim como perceber a voz mais baixa, com pouco volume ou abafada ao utilizar a máscara facial. A literatura1818. Goldin A, Weinstein BE, Shiman N. How do medical masks degrade speech perception? Hearing Review.2020;27(5):8-9. Available at: https://hearingreview.com/hearing-loss/health-wellness/how-do-medical-masks-degrade-speech-reception.
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sugere que a máscara funciona como um filtro acústico, provocando perda de aproximadamente 4 dB com máscaras cirúrgicas e de tecido, enquanto os modelos de máscaras N95/PFF2, embora sejam as mais eficientes, interferem na voz em aproximadamente 12dB.

Um estudo1919. Karagkouni O. The effects of the use of protective face mask on the voice and its relation to self-perceived voice changes. J Voice. 2021;S0892-1997(21):00149-1. https://doi.org/10.1016/j.jvoice.2021.04.014. PMID: 34167856.
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realizado com indivíduos que utilizaram a máscara de proteção facial em seu ambiente de trabalho constatou que quase metade da população estudada tinha dificuldade de ser ouvida e entendida pelos outros enquanto usava a máscara. Autores77. Mheidly N, Fares MY, Zalzale H, Fares J. Effect of face masks on interpersonal communication during the COVID-19 Pandemic. Front. Public Health. 2020;8(1):582191. https://doi.org/10.3389/fpubh.2020.582191.PMID: 3363081.
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,1919. Karagkouni O. The effects of the use of protective face mask on the voice and its relation to self-perceived voice changes. J Voice. 2021;S0892-1997(21):00149-1. https://doi.org/10.1016/j.jvoice.2021.04.014. PMID: 34167856.
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relatam, ainda, que o ajuste usado pela maioria para compensar essa dificuldade é o de aumentar a intensidade da voz, resultado também observado no presente artigo.

Pesquisas1919. Karagkouni O. The effects of the use of protective face mask on the voice and its relation to self-perceived voice changes. J Voice. 2021;S0892-1997(21):00149-1. https://doi.org/10.1016/j.jvoice.2021.04.014. PMID: 34167856.
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,2020. Lin Y, Cheng L, Wang Q, Xu W. Effects of medical masks on voice assessment during the COVID-19 pandemic. J Voice. 2021;S0892-1997(21):00163-6. https://doi.org/10.1016/j.jvoice.2021.04.028. PMID: 34116888.
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realizadas com a população em geral apontam que, quando elevamos a intensidade da voz devido à diminuição do feedback auditivo, há também redução na autopercepção vocal, o que pode interferir na inteligibilidade da fala, assim como aumentar o esforço fonatório, fator relatado pelos participantes desta pesquisa.

A sensação de ter que fazer esforço para falar é uma das mais autorreferidas pela literatura1919. Karagkouni O. The effects of the use of protective face mask on the voice and its relation to self-perceived voice changes. J Voice. 2021;S0892-1997(21):00149-1. https://doi.org/10.1016/j.jvoice.2021.04.014. PMID: 34167856.
https://doi.org/10.1016/j.jvoice.2021.04...

20. Lin Y, Cheng L, Wang Q, Xu W. Effects of medical masks on voice assessment during the COVID-19 pandemic. J Voice. 2021;S0892-1997(21):00163-6. https://doi.org/10.1016/j.jvoice.2021.04.028. PMID: 34116888.
https://doi.org/10.1016/j.jvoice.2021.04...
-2121. Magee M, Lewis C, Noffs G, Reece H, Chan JCS, Zaga CJ et al. Effects of face masks on acoustic analysis and speech perception: Implications for peri-pandemic protocols. J Acoust Soc Am. 2020;148(6):3562-8. https://doi.org/10.1121/10.0002873. PMID: 33379897.
https://doi.org/10.1121/10.0002873...
. Sugere-se que projetar a voz, como medida para compensar o prejuízo do feedback auditivo, é uma tentativa de tornar a fala mais clara e, assim, facilitar a compreensão. Contudo, é importante ressaltar que, além de um padrão de fala incorreto, essa hiperfunção pode provocar tensão na região de cintura escapular, podendo aumentar o risco de alterações na função vocal e, consequentemente, o surgimento de disfonias2222. Tavares JG, Silva EHAA. Considerações teóricas sobre a relação entre respiração oral e disfonia. Rev Soc Bras Fonoaudiol. 2008;13(4):405-10. https://doi.org/10.1590/S1516-80342008000400017.
https://doi.org/10.1590/S1516-8034200800...
.

Nesse sentido, verificou-se, ainda, que os participantes da presente pesquisa autorrelataram diferença na sua qualidade de voz depois que passaram a usar máscaras de proteção facial durante as reportagens. Outros estudos1919. Karagkouni O. The effects of the use of protective face mask on the voice and its relation to self-perceived voice changes. J Voice. 2021;S0892-1997(21):00149-1. https://doi.org/10.1016/j.jvoice.2021.04.014. PMID: 34167856.
https://doi.org/10.1016/j.jvoice.2021.04...
,2121. Magee M, Lewis C, Noffs G, Reece H, Chan JCS, Zaga CJ et al. Effects of face masks on acoustic analysis and speech perception: Implications for peri-pandemic protocols. J Acoust Soc Am. 2020;148(6):3562-8. https://doi.org/10.1121/10.0002873. PMID: 33379897.
https://doi.org/10.1121/10.0002873...
encontraram dados semelhantes, no qual os sujeitos autorreferiram alteração vocal ao utilizar máscaras. Assim, os resultados sugerem que as máscaras de proteção facial aumentam a autorreferência de alterações vocais.

No que diz respeito às associações observadas no cruzamento das questões do formulário sobre a performance comunicativa, observou-se que o relato de “sinto falta de ar ou algum desconforto na respiração usando máscaras faciais durante as reportagens” apresentou associação positiva com “sinto que preciso fazer esforço para falar durante as reportagens quando estou usando máscara de proteção facial”, “sinto cansaço na voz ao final, por causa da máscara facial” e “nos locais com ruído sinto dificuldade de ouvir e/ou ser ouvido pelo entrevistado”.

Uma pesquisa recente88. Ribeiro VV, Dassie-Leite AP, Pereira EC, Santos ADN, Martins P, Irineu RA. Effect of wearing a medical mask on vocal self-perception during a Pandemic. J Voice. 2020;S0892-1997(20):30356-58. https://doi.org/10.1016/j.jvoice.2020.09.006. PMID: 33011037.
https://doi.org/10.1016/j.jvoice.2020.09...
teve por objetivo analisar a autopercepção vocal de indivíduos que usaram máscaras faciais para atividades essenciais e daqueles que as usaram para atividades profissionais e essenciais durante a pandemia da COVID-19. Os resultados revelaram que os indivíduos que usavam a máscara para atividades profissionais e essenciais tiveram maior percepção de sintomas de cansaço e desconforto vocal, esforço vocal, dificuldades na inteligibilidade da fala e na coordenação fala e respiração. Aspectos estes, semelhantes ao encontrado no presente estudo.

Outra associação positiva se deu com “sinto que tenho que falar mais alto que o normal para ser ouvido quando uso máscara de proteção facial” e as variáveis “sinto diferença na qualidade da voz durante as reportagens usando máscara de proteção facial”, “sinto que a minha voz fica mais baixa, com pouco volume ou abafada, por causa do uso da máscara facial” e “sinto que preciso fazer esforço para falar durante as reportagens quando estou usando máscara de proteção facial”.

Nesse sentido, pesquisas2323. Nguyen DD, McCabe P, Thomas D, Purcell A, Doble M, Novakovic D et al. Acoustic voice characteristics with and without wearing a facemask. Sci Rep. 2021;11(1):1-11. https://doi.org/10.1038/s41598-021-85130-8. PMID: 33707509.
https://doi.org/10.1038/s41598-021-85130...
,2424. Shekaraiah S, Suresh K. Effect of face mask on voice production during COVID-19 pandemic: a systematic review. J Voice. 2021;S0892-1997(21):00327-1. https://doi.org/10.1016/j.jvoice.2021.09.027. PMID: 34802856.
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apontam que o uso da máscara facial gera um efeito de oclusão, prejudicando o feedback auditivo, no qual o sujeito pode tender a falar mais baixo ou mais alto do que o normal. Logo, o falante tenta realizar maior esforço vocal para compensar o efeito da máscara e, como consequência, o uso prolongado deste ajuste vocal inadequado pode ocasionar o desenvolvimento de distúrbios vocais2222. Tavares JG, Silva EHAA. Considerações teóricas sobre a relação entre respiração oral e disfonia. Rev Soc Bras Fonoaudiol. 2008;13(4):405-10. https://doi.org/10.1590/S1516-80342008000400017.
https://doi.org/10.1590/S1516-8034200800...
.

Por fim, constatou-se, ainda, a associação positiva entre “sinto que preciso fazer esforço para falar durante as reportagens quando estou usando máscara de proteção facial” e “nos locais com ruído sinto dificuldade de ouvir e/ou ser ouvido pelo entrevistado”. A presença de ruído no ambiente de trabalho é uma realidade no dia a dia do repórter que realiza links ao vivo2525. Azevedo JBM, Ferreira LP, Kyrillos LR. Julgamento de telespectadores a partir de uma proposta de intervenção fonoaudiológica com telejornalistas. Rev. CEFAC. 2009;11(2):281-9. https://doi.org/10.1590/S1516-18462009000200013.
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e, com o período pandêmico, o uso da máscara fez com que esse fator se acentuasse. Em um estudo55. Araujo AGR, Araújo EJ, Barquet LA, Santos TRP. Dificuldade na percepção auditiva em usuários de máscara de proteção individual na pandemia de COVID-19. Atas de Ciências da Saúde. 2022;10(2):24-32. https://revistaseletronicas.fmu.br/index.php/ACIS/article/view/2644.
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professores e preceptores da área da saúde que utilizavam máscara facial em longas jornadas de trabalho apresentaram cansaço e esforço vocal, principalmente, quando estavam em ambientes ruidosos.

Nesse sentido, compreende-se que, devido ao prejuízo na inteligibilidade da fala com o uso de máscaras faciais, é ideal que o repórter busque utilizar estratégias para otimizar a sua comunicação, como apresentar boa qualidade vocal e utilizar recursos expressivos (faciais, gestuais e de postura), bem como na estruturação do texto noticiado2525. Azevedo JBM, Ferreira LP, Kyrillos LR. Julgamento de telespectadores a partir de uma proposta de intervenção fonoaudiológica com telejornalistas. Rev. CEFAC. 2009;11(2):281-9. https://doi.org/10.1590/S1516-18462009000200013.
https://doi.org/10.1590/S1516-1846200900...
,2626. Thomé C, Silva EM, Reis MC, Andrade APG. A cobertura da Covid-19 no Rio de Janeiro: aspectos da rotina produtiva do telejornalismo local. Ámbitos: revista internacional de comunicación. 2021;52(1):71-86. https://dx.doi.org/10.12795/Ambitos.2021.i52.05.
https://dx.doi.org/10.12795/Ambitos.2021...
, visto que, na televisão, a atuação desses profissionais ocorre por meio da voz e também da imagem1717. Neiva TMA, Gama ACC, Teixeira LC. Vocal and body expressiveness to speak well in telejournalism: training results. Rev. CEFAC. 2016;18(2):498-507. https://doi.org/10.1590/1982-021620161829415.
https://doi.org/10.1590/1982-02162016182...
,2525. Azevedo JBM, Ferreira LP, Kyrillos LR. Julgamento de telespectadores a partir de uma proposta de intervenção fonoaudiológica com telejornalistas. Rev. CEFAC. 2009;11(2):281-9. https://doi.org/10.1590/S1516-18462009000200013.
https://doi.org/10.1590/S1516-1846200900...
,2727. Silva EC, Penteado RZ. Characteristics of innovations in television journalism and the expressiveness of the anchor. Audiol., Commun. Res. 2014;19(1):61-8. https://doi.org/10.1590/S2317-64312014000100011.
https://doi.org/10.1590/S2317-6431201400...
.

Atualmente, sabe-se que, embora o uso de máscara de proteção facial não seja obrigatório, algumas cidades brasileiras voltam a recomendar quando há o aumento dos casos de COVID-19. Além disso, um estudo realizado pela Fiocruz aponta haver riscos de surgimento de novas epidemias ou pandemias no Brasil, visto que se trata de um país que abriga uma significativa variedade de parasitas e patógenos2828. Winck GR, Raimundo RL, Fernandes-Ferreira H, Bueno MG, D'Andrea PS, Rocha FL et al. Socioecological vulnerability and the risk of zoonotic disease emergence in Brazil. Science Advances. 2022;8(26):eabo5774. https://doi.org/10.1126/sciadv.abo5774. PMID: 35767624.
https://doi.org/10.1126/sciadv.abo5774...
. Nesse tocante, listam-se abaixo alguns aspectos essenciais que o fonoaudiólogo deve saber e considerar para garantir a qualidade e boa performance comunicativa dos repórteres durante o uso de máscaras:

  1. Sabe-se que o uso de máscaras obstrui parcialmente as vias aéreas superiores, partindo desse princípio, é interessante investir em condutas terapêuticas que visem um maior controle pneumofonoarticulatório;

  2. Orientar a procura por ambientes menos ruidosos para os links ao vivo;

  3. Ideal que haja um maior uso de pausas, tanto aquelas para a tomada de ar, quanto na construção da narrativa, buscando naturalidade;

  4. Vale salientar a importância dos recursos de expressividade no enriquecimento da notícia transmitida;

  5. A literatura1818. Goldin A, Weinstein BE, Shiman N. How do medical masks degrade speech perception? Hearing Review.2020;27(5):8-9. Available at: https://hearingreview.com/hearing-loss/health-wellness/how-do-medical-masks-degrade-speech-reception.
    https://hearingreview.com/hearing-loss/h...
    diz que as máscaras cirúrgicas apresentam uma alta taxa de proteção e acarretam menos interferência na voz.

A limitação encontrada no presente estudo está relacionada à baixa adesão dos repórteres em participar da pesquisa, uma vez que o número foi inferior ao esperado diante da quantidade de profissionais atuantes na Paraíba. Logo, espera-se que sejam desenvolvidos outros estudos sobre o tema, com maior número de sujeitos, de cunho experimental, envolvendo a utilização de diferentes tipos de máscaras faciais, assim como treinamentos e assessorias que visem promover o aperfeiçoamento na comunicação com o uso de máscaras.

Tendo ciência da variabilidade dos dados referentes a esse cenário pandêmico, vale salientar que a pesquisa produziu elementos significantes para avaliar o atual momento da atuação do repórter, podendo assim direcionar possíveis ações visando à melhoria da performance comunicativa, bem como na sensibilização desse repórter quanto aos aspectos comunicativos e vocais.

CONCLUSÃO

Verificou-se que os repórteres apresentaram impactos negativos com uso das máscaras de proteção facial durante as reportagens como: sentir dificuldade de ouvir e/ou ser ouvido pelo entrevistado em locais com ruído; perceber a sua voz mais baixa, com pouco volume ou abafada; e ter que falar mais alto do que o normal para ser ouvido. Além disso, verificou-se a presença da associação entre o uso de máscaras de proteção facial com a performance comunicativa dos repórteres.

AGRADECIMENTOS

Os autores agradecem o apoio financeiro fornecido pelo Programa de Pós-Graduação em Linguística (PROLING) da Universidade Federal da Paraíba (UFPB) que permitiu o desenvolvimento e publicação deste trabalho.

Apêndice 1. Formulário utilizado para a coleta de dados

Identificação do Participante Pergunta Opções de resposta E-mail Resposta aberta Gênero Feminino Masculino Idade Resposta aberta Grau de escolaridade Ensino fundamental completo Ensino médio completo Curso técnico completo Ensino superior completo Especialização Mestrado Doutorado Há quanto tempo atua como repórter? Resposta aberta Exerceu a função de repórter no período da pandemia da Covid-19? Sim Não Teve Covid-19? Sim Não Se sim, tem algum sintoma persistente? (Considere o principal sintoma) Fadiga Falta de ar Dores de cabeça Dores musculares Queda de cabelo Perda de paladar e olfato (temporária ou duradoura) Dor no peito Tontura Tromboses Palpitações Depressão e ansiedade Dificuldades de linguagem, raciocínio e memória Outro (Resposta aberta) No momento desta pesquisa você apresenta algum sintoma gripal? Sim Não Autopercepção Vocal do Repórter Como você definiria a sua voz? Excelente Boa Regular Ruim Péssima Como você classifica a sua articulação da fala (dicção)? Excelente Boa Regular Ruim Péssima Você costuma realizar gestos e expressões faciais que acompanhem o seu discurso durante as reportagens? SimNão Performance Comunicativa do Repórter a partir do Uso de Máscara Durante as Reportagens Me adaptei a usar mais a máscara durante as reportagens: PFF2/N955Máscara Cirúrgica Máscara de pano Sinto diferença na qualidade da minha voz durante as reportagens usando máscara de proteção facial Sim, senti mas não sinto mais Sim, ainda sinto Não, não senti Sinto dificuldade na articulação de fala (dicção) durante as reportagens usando máscara de proteção facial Sim, senti mas não sinto mais Sim, ainda sinto Não, não senti Sinto dificuldade em me expressar, por meio de gestos e expressões faciais, durante as reportagens usando máscara de proteção facial Sim, senti mas não sinto mais Sim, ainda sinto Não, não senti Sinto falta de ar ou algum desconforto na respiração usando máscaras faciais durante as reportagens Sim, senti mas não sinto mais Sim, ainda sinto Não, não senti Sinto que preciso fazer esforço para falar durante as reportagens quando estou usando máscara de proteção facial Sim, senti mas não sinto mais Sim, ainda sinto Não, não senti Sinto dor ou desconforto na garganta desde que passei a usar máscara de proteção facial durante as reportagens Sim, senti mas não sinto mais Sim, ainda sinto Não, não senti Sinto que tenho tossido ou pigarreado desde que passei a usar máscara de proteção facial durante as reportagens Sim, senti mas não sinto mais Sim, ainda sinto Não, não senti Sinto que tenho que falar mais alto do que o normal para ser ouvido quando uso máscara de proteção facial Sim, senti mas não sinto mais Sim, ainda sinto Não, não senti Sinto cansaço na voz ao final das reportagens, por causa da máscara facial Sim, senti mas não sinto mais Sim, ainda sinto Não, não senti Sinto que minha voz fica mais baixa, com pouco volume ou abafada, por causa do uso da máscara facial Sim, senti mas não sinto mais Sim, ainda sinto Não, não senti Nos locais com ruído sinto dificuldade de ouvir e/ou ser ouvido pelo entrevistado Sim, senti mas não sinto mais Sim, ainda sinto Não, não senti Como foi para você, no início da pandemia, para exercer a reportagem usando máscara de proteção facial? Resposta aberta E agora? O que mudou? (Um ano após a recomendação do uso de máscaras de proteção facial durante as reportagens, o que tem percebido agora?) Resposta aberta

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  • Trabalho realizado no Programa de Pós-Graduação em Linguística, Universidade Federal da Paraíba - UFPB, João Pessoa, Paraíba, Brasil.
  • Fonte de financiamento: Auxílio do Programa de Pós-Graduação em Linguística da Universidade Federal da Paraíba - UFPB através de recursos CAPES/PROEX.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    27 Out 2023
  • Data do Fascículo
    2023

Histórico

  • Recebido
    10 Jan 2023
  • Aceito
    21 Jul 2023
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