Acessibilidade / Reportar erro

Avaliação e resultados de crianças usuárias de implante coclear com Transtorno do Espectro Autista: revisão integrativa da literatura

RESUMO

Objetivo:

sintetizar as evidências de estudos disponíveis na literatura a respeito do benefício do implante coclear em crianças com diagnóstico adicional de transtorno do espectro autista e verificar quais os protocolos utilizados para a avaliação das habilidades de percepção auditiva e de linguagem falada dessa população.

Métodos:

trata-se de revisão integrativa da literatura. A busca foi realizada nas bases de dados LILACS, PubMed e SciELO e no Google Acadêmico. Foram incluídos estudos nos idiomas português e inglês, que avaliaram habilidades auditivas e/ou de linguagem falada de crianças usuárias de implante coclear com transtorno do espectro autista.

Revisão de Literatura:

16 estudos foram incluídos. Em 72,18% dos casos, o diagnóstico do transtorno do espectro autista foi concluído quando a criança já fazia uso do implante coclear. Os estudos demonstram benefício limitado do dispositivo para a população estudada. É necessário que os pais sejam orientados a respeito das expectativas com o uso do dispositivo.

Conclusão:

o benefício obtido pelo uso do implante coclear por crianças com diagnóstico adicional de transtorno do espectro autista é limitado e inferior aos resultados obtidos por crianças que não apresentam diagnósticos adicionais. Não há um protocolo padronizado para a avaliação das habilidades auditivas e de linguagem dessa população.

Descritores:
Transtorno Autístico; Implante Coclear; Criança; Percepção Auditiva; Desenvolvimento da Linguagem

ABSTRACT

Purpose:

to synthesize the evidence of available studies in the literature regarding the benefit of the cochlear implant in children with additional diagnosis of autism spectrum disorder and to verify the protocols used to validate the abilities of auditory perception and oral language of this population.

Methods:

an integrative literature review, searching in LILACS, MEDLINE/PubMed and SciELO databases and in the Google Scholar. Studies in Portuguese and English that assessed auditory and/or spoken language skills of children using cochlear implants with autism spectrum disorder were included.

Literature Review:

16 studies were included. In 72.18% of cases, autism spectrum disorder was diagnosed when the child was already using a cochlear implant. Studies have shown limited benefit from cochlear implants for the studied population. Parents need to be oriented regarding their expectations about the use of the device.

Conclusion:

the benefit of using a cochlear implant for children with an additional diagnosis of autism spectrum disorder is limited and lower than the results obtained by children who do not have additional diagnoses. There is no standardized protocol for assessing auditory and language skills in this population.

Keywords:
Autistic Disorder; Cochlear Implantation; Child; Auditory Perception; Language Development

INTRODUÇÃO

O implante coclear (IC) promove acesso aos sons da fala em crianças com deficiência auditiva de grau severo ou profundo, possibilitando o desenvolvimento da percepção auditiva da fala e da linguagem oral11. Geers AE, Nicholas JG, Sedey AL. Language skills of children with early cochlear implantation. Ear Hear. 2003;24(1 Suppl):46S-58S., com qualidade de vida semelhante aos seus pares com audição normal22. Loy B, Warner-Czyz AD, Tong L, Tobey EA, Roland PS. The children speak: an examination of the quality of life of pediatric cochlear implant users. Otolaryngol Head Neck Surg. 2010;142(2):247-53.. Contudo, os resultados desta intervenção podem apresentar ampla heterogeneidade, limitações e um padrão mais lento de desenvolvimento diante de alguns fatores, como a presença de comprometimentos adicionais à deficiência auditiva33. Hashemi SB, Monshizadeh L. Comparison of auditory perception in cochlear implanted children with and without additional disabilities. Iran J Med Sci. 2016;41(3):186-90.,44. Nasralla HR, Montefusco AM, Hoshino ACH, Samuel PA, Magalhães ATM, Goffi-Gomez MVS et al. Benefit of cochlear implantation in children with multiple-handicaps: parent's perspective. Int Arch Otorhinolaryngol. 2018;22(4):415-27..

A ocorrência do Transtorno do Espectro Autista (TEA) em crianças com deficiência auditiva de grau profundo não é rara55. Szymanski CA, Brice PJ, Lam KH, Hotto SA. Deaf children with autism spectrum disorders. J Autism Dev Disord. 2012;42(10):2027-37.,66. Braun KVN, Christensen D, Doernberg N, Schieve L, Rice C, Wiggins L et al. Trends in the prevalence of autism spectrum disorder, cerebral palsy, hearing loss, intellectual disability, and vision impairment, metropolitan atlanta, 1991-2010. PLoS One. 2015;29(10):e0124120. e o número de usuários de IC tem aumentado nesta população77. Donaldson AI, Heavner KS, Zwolan TA. Measuring progress in children with autism spectrum disorder who have cochlear implants. Arch Otolaryngol Head Neck Surg. 2004;130(5):666-71.. Os desafios para os profissionais da equipe de IC podem envolver o diagnóstico audiológico88. Rosenhall U, Nordin V, Sandstrom M, Ahlsén G, Gillberg C. Autism and hearing loss. J Autism Dev Disord. 1999;29:349-57., a avaliação individual ao IC devido à ampla variabilidade no prognóstico99. Meinzen-Derr J, Wiley S, Bishop S, Manning-Courtney P, Choo DI, Murray D. Autism spectrum disorders in 24 children who are deaf or hard of hearing. Int J Pediatr Otorhinolaryngol. 2014;78(1):112-8., a programação do IC1010. Lachowska M, Pastuska A, Lukaszewicz-Moszynska Z, Mikolajewska L, Niemczyk K. Cochlear implantation in autistic children with profound sensorineural hearing loss. Braz J Otorhinolaryngol. 2016;84(1):15-9., a constatação dos benefícios da intervenção por meio de testes padronizados99. Meinzen-Derr J, Wiley S, Bishop S, Manning-Courtney P, Choo DI, Murray D. Autism spectrum disorders in 24 children who are deaf or hard of hearing. Int J Pediatr Otorhinolaryngol. 2014;78(1):112-8.,1111. Cosetti MK, Pinkston JB, Flores JM, Friedmann DR, Jones CB, Roland Jr JT et al. Neurocognitive testing and cochlear implantation: insights into performance in older adults. Clin Interv Aging. 2016;11:603-13. e a terapia fonoaudiológica88. Rosenhall U, Nordin V, Sandstrom M, Ahlsén G, Gillberg C. Autism and hearing loss. J Autism Dev Disord. 1999;29:349-57.,1212. Cejas I, Hoffman MF, Quittner AL. Outcomes and benefits of pediatric cochlear implantation in children with additional disabilities: a review and report of family influences on outcomes. Pediatric Health Med Ther. 2015;6:45-63.. Ressalta-se que parte destas dificuldades pode surgir de forma tardia, uma vez que a realização da cirurgia de IC, atualmente, ocorre antes do diagnóstico de TEA para muitas crianças.

Enquanto os sinais do TEA costumam ser reconhecidos durante o segundo ano de vida1313. American Psychiatric Association. Manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais 5ª edição - DSM 5. Porto Alegre: Artmed, 2014. Disponível em: http://www.institutopebioetica.com.br/documentos/manual-diagnostico-e-estatistico-de-transtornos-mentais-dsm-5.pdf, a triagem auditiva neonatal universal (TANU) possibilita o diagnóstico audiológico da deficiência auditiva ainda nos primeiros meses de vida, o que reduz a idade de adaptação do aparelho de amplificação sonora individual (AASI) e, consequentemente, da cirurgia de IC, sendo esta realizada, em muitos casos, antes dos doze meses de idade1414. Dettman SJ, Dowell RC, Choo D, Arnott W, Abrahams Y, Davis A et al. Long-term communication outcomes for children receiving cochlear implants younger than 12 months: a multicenter study. Otol Neurotol. 2016;37(2):e82-95.. Adicionalmente, as manifestações do TEA podem ser mascaradas pela deficiência auditiva, aumentando ainda mais sua idade de diagnóstico99. Meinzen-Derr J, Wiley S, Bishop S, Manning-Courtney P, Choo DI, Murray D. Autism spectrum disorders in 24 children who are deaf or hard of hearing. Int J Pediatr Otorhinolaryngol. 2014;78(1):112-8..

A respeito da temática, foram publicadas duas revisões de literatura nos últimos dois anos, uma cuja busca de evidências foi realizada em setembro de 20191515. Tavares FS, Azevedo YJ, Fernandes LMM, Takeuti A, Pereira LV, Ledesma ALL et al. Cochlear implant in patients with autistic spectrum disorder - a systematic review. Braz J Otorhinolaryngol. 2021;87(5):601-19. e outra em maio de 20201616. Mathew R, Bryan J, Chaudhry D, Chaudhry A, Kuhn I, Tysome J et al. Cochlear implantation in children with autism spectrum disorder: a systematic review and pooled analysis. Otol Neurotol. 2022;43(1):e1-e13.. Em um dos estudos1515. Tavares FS, Azevedo YJ, Fernandes LMM, Takeuti A, Pereira LV, Ledesma ALL et al. Cochlear implant in patients with autistic spectrum disorder - a systematic review. Braz J Otorhinolaryngol. 2021;87(5):601-19., foram incluídos sete artigos, que avaliaram um total de 66 crianças com TEA usuárias de IC e os autores concluíram que o IC pode trazer benefícios para essa população. Já na revisão de literatura mais recente, publicada em 20221515. Tavares FS, Azevedo YJ, Fernandes LMM, Takeuti A, Pereira LV, Ledesma ALL et al. Cochlear implant in patients with autistic spectrum disorder - a systematic review. Braz J Otorhinolaryngol. 2021;87(5):601-19., os autores incluíram 24 estudos, que avaliaram 159 participantes e concluíram que os resultados do uso do IC em crianças com TEA são altamente variáveis e significativamente piores em comparação a crianças sem TEA, enfatizando que os pais dessas crianças relatam experiências positivas. Na revisão publicada em 2022, os autores adotaram como critério de exclusão os estudos não disponíveis na íntegra no idioma inglês. Dessa forma, acredita-se que estudos brasileiros possam ter sido excluídos, de forma que a realidade brasileira a respeito da temática pode não ter sido contemplada. Há limitações quanto aos estudos, considerando as diferentes metodologias empregadas. Além disso, ambos os estudos1515. Tavares FS, Azevedo YJ, Fernandes LMM, Takeuti A, Pereira LV, Ledesma ALL et al. Cochlear implant in patients with autistic spectrum disorder - a systematic review. Braz J Otorhinolaryngol. 2021;87(5):601-19.,1616. Mathew R, Bryan J, Chaudhry D, Chaudhry A, Kuhn I, Tysome J et al. Cochlear implantation in children with autism spectrum disorder: a systematic review and pooled analysis. Otol Neurotol. 2022;43(1):e1-e13. não discutem sobre os protocolos de avaliação utilizados para avaliar as habilidades de audição e linguagem dessa população, apesar de os citarem nas tabelas de resultados.

Conhecer o desempenho obtido por crianças usuárias de IC com diagnóstico adicional de TEA e quais são os protocolos utilizados para a avaliação das habilidades auditivas e de linguagem nesta população é essencial para a orientação, acolhimento e aconselhamento da família e para o adequado planejamento terapêutico do processo de reabilitação auditiva.

Diante do exposto, mesmo com as evidências encontradas e considerando relatos de fonoaudiólogos da área de reabilitação auditiva, que referem o aumento da demanda e questionamentos relacionados ao uso do IC em crianças com diagnóstico de TEA, constatou-se a necessidade de realização de uma revisão para mapear as limitações e lacunas no conhecimento científico sobre a temática, principalmente no sentido de contribuir para a prática baseada em evidências na realidade brasileira.

Dessa forma, a presente revisão teve por objetivo sintetizar as evidências de estudos disponíveis na literatura a respeito do benefício do IC em crianças com diagnóstico adicional de TEA e verificar quais os protocolos utilizados para a avaliação das habilidades de percepção auditiva e de linguagem falada dessa população no processo terapêutico.

MÉTODOS

Trata-se de uma pesquisa exploratória descritiva por meio de revisão integrativa da literatura, seguindo-se as seguintes etapas1717. Souza MT, Silva MD, Carvalho R. Revisão integrativa: o que é e como fazer. Einsten. 2010;8(1):102-6.: (1) elaboração da pergunta norteadora, (2) busca na literatura e coleta de dados, (3) análise crítica dos estudos incluídos e (4) discussão dos resultados.

Critérios de elegibilidade

Considerou-se a classificação do acrônimo PICOS para responder à seguinte pergunta norteadora: “Como se dá o desenvolvimento das habilidades de percepção auditiva e linguagem falada de crianças surdas com diagnóstico adicional de TEA após o uso do IC e como essas habilidades são avaliadas nessa população?”.

  • P = Participantes (crianças surdas com diagnóstico adicional de TEA);

  • I = Intervenção (uso do IC);

  • C = Comparação (pré e pós-cirurgia de IC ou comparados com crianças usuárias de IC sem diagnóstico de deficiências associadas);

  • O = Desfecho (avaliação das habilidades de percepção auditiva e/ou linguagem oral);

  • S = Tipos de estudo (estudos observacionais primários analíticos, incluindo desenhos transversais, longitudinais, de coorte e de caso-controle; estudos observacionais primários descritivos, incluindo desenhos seccionais, de prevalência e transversais; artigos avaliados por pares, teses e dissertações).

Foram incluídos artigos disponíveis na íntegra em acesso livre e/ou pela Virtual Private Network (VPN); artigos nos idiomas português e inglês; estudos que avaliaram habilidades auditivas e/ou de linguagem após o IC em crianças com diagnóstico adicional de TEA. Como critério de exclusão, adotaram-se: outros estudos de revisão, estudos que avaliaram crianças com outras comorbidades e não apresentaram resultados separados daquelas com TEA, comunicações breves, cartas ao editor e anais de eventos.

Fontes de informação e estratégias de busca

A estratégia de busca foi elaborada por meio da combinação de palavras-chave e truncamentos apropriados para cada base de dados eletrônica: Literatura Latino-americana e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS), MEDLINE via Public Medicine Library (PubMed) e Scientific Eletronic Library Online (SciELO). A literatura cinzenta também foi utilizada como fonte de informação por meio de busca no Google Acadêmico, restrita às dez primeiras páginas em cada combinação, por serem as mais relevantes (Quadro 1).

Quadro 1
Estratégias de busca

Os registros recuperados foram gerenciados no software EndNote® Web (https://myendnoteweb.com). No mesmo software foi realizada a identificação de duplicidade. Em seguida, os registros foram salvos manualmente para a fase de seleção.

Seleção das fontes de evidência

As buscas foram realizadas por três autoras, de maneira independente, seguindo os critérios de inclusão e exclusão estabelecidos. Os desacordos entre elas a respeito dos estudos a serem incluídos foram resolvidos por uma quarta revisora, com experiência na área de reabilitação auditiva.

Primeiramente, as publicações foram analisadas por título e resumo. Em seguida, as autoras realizaram a leitura na íntegra dos estudos selecionados e entraram em um consenso para definir quais destes seriam incluídos nesta revisão integrativa.

Análise de dados

Uma tabela em arquivo Excel foi desenvolvida para inserção dos dados coletados pelas revisoras, a saber: casuística, testes utilizados, resultados principais e conclusão. Como dados complementares, foram identificados: ano de publicação, nacionalidade e idioma em que o estudo foi publicado. Não foi realizada, neste estudo, a avaliação da qualidade metodológica e a classificação do nível de evidência dos estudos incluídos.

REVISÃO DE LITERATURA

Foram encontrados 261 estudos. Após a aplicação dos critérios de seleção, 16 estudos77. Donaldson AI, Heavner KS, Zwolan TA. Measuring progress in children with autism spectrum disorder who have cochlear implants. Arch Otolaryngol Head Neck Surg. 2004;130(5):666-71.,99. Meinzen-Derr J, Wiley S, Bishop S, Manning-Courtney P, Choo DI, Murray D. Autism spectrum disorders in 24 children who are deaf or hard of hearing. Int J Pediatr Otorhinolaryngol. 2014;78(1):112-8.,1010. Lachowska M, Pastuska A, Lukaszewicz-Moszynska Z, Mikolajewska L, Niemczyk K. Cochlear implantation in autistic children with profound sensorineural hearing loss. Braz J Otorhinolaryngol. 2016;84(1):15-9.,1818. Jenks CM, Hoff SR, Haney J, Tournis E, Thomas D, Young NM. Cochlear implantation can improve auditory skills, language and social engagement of children with autism spectrum disorder. Otol Neurotol. 2022;43(3):313-9.

19. Mancini P, Mariani L, Nicastri M, Cavicchiolo S, Giallini I, Scimemi P et al. Cochlear implantation in children with autismo spectrum disorder (ASD): outcomes and implant fitting characteristics. Int J Pediatr Otorhinolaryngol. 2021;149:110876.

20. Mesallam TA, Yousef M, Almasaad A. Auditory and language skills development after cochlear implantation in children with multiple disabilities. Eur Arch Otorhinolaryngol. 2019;276(1):49-55.

21. Scarabello EM. Desempenho global e funcional de crianças com Transtorno do Espectro Autista usuárias de implante coclear (Tese). Bauru (SP): Faculdade de Odontologia de Bauru, Universidade de São Paulo; 2019.

22. Motegi M, Inagaki A, Minakata T, Sekiya S, Takahashi M, Sekiya Y et al. Developmental delays assessed using the Enjoji Scale in children with cochlear implants who have intellectual disability with or without autismo spectrum disorder. Auris Nasus Larynx. 2019;46(4):498-506.

23. Valero MR, Sadadcharam M, Henderson L, Freeman SR, Lloyd S, Green KM et al. Compliance with cochlear implantation in children subsequently diagnosed with autism spectrum disorder. Cochlear Implants Int. 2016;17(4):200-6.

24. Mikic B, Jotic A, Miric D, Nikolic M, Jankovic N, Arsovic N. Receptive speech in early implanted children later diagnosed with autism. Eur Ann Otorhinolaryngol Head Neck Dis. 2016;133(Suppl 1):S36-9.

25. Eshraghi AA, Nazarian R, Telischi FF, Martinez D, Hodges A, Velandia S et al. Cochlear implantation in children with autismo spectrum disorder. Otol Neurotol. 2015;36(8):e121-8.

26. Robertson J. Children with cochlear implants and autismo - challenges and outcomes: the experience of the National Cochlear Implant Programme, Ireland. Cochlear Implants Int. 2013;14(S3):S11-14.

27. Özdemir S, Tuncer U, Tarkan Ö, Kiroglu M, Çetik F, Akar F. Factors contributing to limited or non-use in the cochlear implant systems in children: 11 years' experience. Int J Pediatr Otorhinolaryngol. 2013;77(3):407-9.

28. Johnson KC, DesJardin JL, Barker DH, Quittner AL, Winter ME. Assessing joint attention and symbolic play in children with cochlear implants and multiple disabilities: two case studies. Otol Neurotol. 2008;29(2):246-50.

29. Daneshi A, Hassanzadeh S. Cochlear implantation in prelingually deaf persons with additional disability. J Laryngol Otol. 2007;121(7):635-8.
-3030. Hamzavi J, Baumgartner WD, Egelierler B, Franz P, Schenk B, Gstoettner W. Follow up of cochlear implanted handicapped children. Int J Pediatr Otorhinolaryngol. 2000;56(3):169-74. foram incluídos nesta revisão integrativa (Figura 1).

Figura 1
Fluxograma de seleção dos estudos

Dos 16 estudos incluídos, a maioria foi realizada nos Estados Unidos da América (EUA) (n=4)77. Donaldson AI, Heavner KS, Zwolan TA. Measuring progress in children with autism spectrum disorder who have cochlear implants. Arch Otolaryngol Head Neck Surg. 2004;130(5):666-71.,1818. Jenks CM, Hoff SR, Haney J, Tournis E, Thomas D, Young NM. Cochlear implantation can improve auditory skills, language and social engagement of children with autism spectrum disorder. Otol Neurotol. 2022;43(3):313-9.,2525. Eshraghi AA, Nazarian R, Telischi FF, Martinez D, Hodges A, Velandia S et al. Cochlear implantation in children with autismo spectrum disorder. Otol Neurotol. 2015;36(8):e121-8.,2828. Johnson KC, DesJardin JL, Barker DH, Quittner AL, Winter ME. Assessing joint attention and symbolic play in children with cochlear implants and multiple disabilities: two case studies. Otol Neurotol. 2008;29(2):246-50.. Apenas um estudo2121. Scarabello EM. Desempenho global e funcional de crianças com Transtorno do Espectro Autista usuárias de implante coclear (Tese). Bauru (SP): Faculdade de Odontologia de Bauru, Universidade de São Paulo; 2019. é de autoria brasileira e trata-se de uma tese de doutorado desenvolvida no Programa de Pós-Graduação em Fonoaudiologia de uma universidade pública.

Os estudos avaliaram de dois a 398 participantes, sendo de um a 30 com diagnóstico de TEA. A média de idade na cirurgia de IC nas crianças avaliadas foi de 34 meses. Observou-se, ainda, que das 157 crianças com TEA avaliadas nos estudos, em pelo menos 72,62% dos casos (n=114) o diagnóstico do TEA foi concluído quando a criança já fazia uso do IC (Quadro 2).

Quadro 2
Características das fontes de evidência

Os principais resultados dos estudos encontram-se na Tabela 1.

Tabela 1
Resultados principais dos estudos incluídos na revisão

Testes e protocolos utilizados na avaliação

Observou-se o uso de protocolos de avaliação da percepção auditiva da fala e do desenvolvimento da linguagem já utilizados e padronizados para crianças com perda auditiva sem diagnósticos adicionais. Assim como acontece na avaliação de crianças sem comorbidades, os protocolos escolhidos devem considerar não só o nível de desenvolvimento apropriado para a idade, mas também o nível de linguagem e percepção auditiva em que a criança se encontra2323. Valero MR, Sadadcharam M, Henderson L, Freeman SR, Lloyd S, Green KM et al. Compliance with cochlear implantation in children subsequently diagnosed with autism spectrum disorder. Cochlear Implants Int. 2016;17(4):200-6..

Para a avaliação das habilidades auditivas, a maioria dos estudos utilizou as escalas Infant Toddler Meaningful Auditory Integration Scale (IT-MAIS) e Meaningful Auditory Integration Scale (MAIS)1818. Jenks CM, Hoff SR, Haney J, Tournis E, Thomas D, Young NM. Cochlear implantation can improve auditory skills, language and social engagement of children with autism spectrum disorder. Otol Neurotol. 2022;43(3):313-9.

19. Mancini P, Mariani L, Nicastri M, Cavicchiolo S, Giallini I, Scimemi P et al. Cochlear implantation in children with autismo spectrum disorder (ASD): outcomes and implant fitting characteristics. Int J Pediatr Otorhinolaryngol. 2021;149:110876.
-2020. Mesallam TA, Yousef M, Almasaad A. Auditory and language skills development after cochlear implantation in children with multiple disabilities. Eur Arch Otorhinolaryngol. 2019;276(1):49-55.,2727. Özdemir S, Tuncer U, Tarkan Ö, Kiroglu M, Çetik F, Akar F. Factors contributing to limited or non-use in the cochlear implant systems in children: 11 years' experience. Int J Pediatr Otorhinolaryngol. 2013;77(3):407-9., a classificação em Categorias de Audição1919. Mancini P, Mariani L, Nicastri M, Cavicchiolo S, Giallini I, Scimemi P et al. Cochlear implantation in children with autismo spectrum disorder (ASD): outcomes and implant fitting characteristics. Int J Pediatr Otorhinolaryngol. 2021;149:110876.,2323. Valero MR, Sadadcharam M, Henderson L, Freeman SR, Lloyd S, Green KM et al. Compliance with cochlear implantation in children subsequently diagnosed with autism spectrum disorder. Cochlear Implants Int. 2016;17(4):200-6.-2424. Mikic B, Jotic A, Miric D, Nikolic M, Jankovic N, Arsovic N. Receptive speech in early implanted children later diagnosed with autism. Eur Ann Otorhinolaryngol Head Neck Dis. 2016;133(Suppl 1):S36-9. e/ou testes de percepção auditiva da fala realizados diretamente com a criança, como o Phonetically Balanced Kindergarden Test (PBK)1818. Jenks CM, Hoff SR, Haney J, Tournis E, Thomas D, Young NM. Cochlear implantation can improve auditory skills, language and social engagement of children with autism spectrum disorder. Otol Neurotol. 2022;43(3):313-9.,2525. Eshraghi AA, Nazarian R, Telischi FF, Martinez D, Hodges A, Velandia S et al. Cochlear implantation in children with autismo spectrum disorder. Otol Neurotol. 2015;36(8):e121-8.. Já para a avaliação do desenvolvimento da linguagem, observou-se o uso do Peabody Picture Vocabulary Test (PPVT)1919. Mancini P, Mariani L, Nicastri M, Cavicchiolo S, Giallini I, Scimemi P et al. Cochlear implantation in children with autismo spectrum disorder (ASD): outcomes and implant fitting characteristics. Int J Pediatr Otorhinolaryngol. 2021;149:110876.,2121. Scarabello EM. Desempenho global e funcional de crianças com Transtorno do Espectro Autista usuárias de implante coclear (Tese). Bauru (SP): Faculdade de Odontologia de Bauru, Universidade de São Paulo; 2019., classificação em Categorias de Linguagem1919. Mancini P, Mariani L, Nicastri M, Cavicchiolo S, Giallini I, Scimemi P et al. Cochlear implantation in children with autismo spectrum disorder (ASD): outcomes and implant fitting characteristics. Int J Pediatr Otorhinolaryngol. 2021;149:110876.,2121. Scarabello EM. Desempenho global e funcional de crianças com Transtorno do Espectro Autista usuárias de implante coclear (Tese). Bauru (SP): Faculdade de Odontologia de Bauru, Universidade de São Paulo; 2019.,2323. Valero MR, Sadadcharam M, Henderson L, Freeman SR, Lloyd S, Green KM et al. Compliance with cochlear implantation in children subsequently diagnosed with autism spectrum disorder. Cochlear Implants Int. 2016;17(4):200-6.,2424. Mikic B, Jotic A, Miric D, Nikolic M, Jankovic N, Arsovic N. Receptive speech in early implanted children later diagnosed with autism. Eur Ann Otorhinolaryngol Head Neck Dis. 2016;133(Suppl 1):S36-9.,2626. Robertson J. Children with cochlear implants and autismo - challenges and outcomes: the experience of the National Cochlear Implant Programme, Ireland. Cochlear Implants Int. 2013;14(S3):S11-14. e escala Meaningful Use of Speech Scale (MUSS)2020. Mesallam TA, Yousef M, Almasaad A. Auditory and language skills development after cochlear implantation in children with multiple disabilities. Eur Arch Otorhinolaryngol. 2019;276(1):49-55.,2121. Scarabello EM. Desempenho global e funcional de crianças com Transtorno do Espectro Autista usuárias de implante coclear (Tese). Bauru (SP): Faculdade de Odontologia de Bauru, Universidade de São Paulo; 2019..

Foi possível observar que a maioria dos pesquisadores77. Donaldson AI, Heavner KS, Zwolan TA. Measuring progress in children with autism spectrum disorder who have cochlear implants. Arch Otolaryngol Head Neck Surg. 2004;130(5):666-71.,1010. Lachowska M, Pastuska A, Lukaszewicz-Moszynska Z, Mikolajewska L, Niemczyk K. Cochlear implantation in autistic children with profound sensorineural hearing loss. Braz J Otorhinolaryngol. 2016;84(1):15-9.,1818. Jenks CM, Hoff SR, Haney J, Tournis E, Thomas D, Young NM. Cochlear implantation can improve auditory skills, language and social engagement of children with autism spectrum disorder. Otol Neurotol. 2022;43(3):313-9.

19. Mancini P, Mariani L, Nicastri M, Cavicchiolo S, Giallini I, Scimemi P et al. Cochlear implantation in children with autismo spectrum disorder (ASD): outcomes and implant fitting characteristics. Int J Pediatr Otorhinolaryngol. 2021;149:110876.

20. Mesallam TA, Yousef M, Almasaad A. Auditory and language skills development after cochlear implantation in children with multiple disabilities. Eur Arch Otorhinolaryngol. 2019;276(1):49-55.
-2121. Scarabello EM. Desempenho global e funcional de crianças com Transtorno do Espectro Autista usuárias de implante coclear (Tese). Bauru (SP): Faculdade de Odontologia de Bauru, Universidade de São Paulo; 2019.,2727. Özdemir S, Tuncer U, Tarkan Ö, Kiroglu M, Çetik F, Akar F. Factors contributing to limited or non-use in the cochlear implant systems in children: 11 years' experience. Int J Pediatr Otorhinolaryngol. 2013;77(3):407-9. incluiu escalas e/ou questionários que são aplicados por meio de entrevista com os pais. Isso pode ser justificado devido à dificuldade de se obter resultados fidedignos com essa população em testes padronizados. Pesquisadores77. Donaldson AI, Heavner KS, Zwolan TA. Measuring progress in children with autism spectrum disorder who have cochlear implants. Arch Otolaryngol Head Neck Surg. 2004;130(5):666-71.,1818. Jenks CM, Hoff SR, Haney J, Tournis E, Thomas D, Young NM. Cochlear implantation can improve auditory skills, language and social engagement of children with autism spectrum disorder. Otol Neurotol. 2022;43(3):313-9.,2828. Johnson KC, DesJardin JL, Barker DH, Quittner AL, Winter ME. Assessing joint attention and symbolic play in children with cochlear implants and multiple disabilities: two case studies. Otol Neurotol. 2008;29(2):246-50.,3030. Hamzavi J, Baumgartner WD, Egelierler B, Franz P, Schenk B, Gstoettner W. Follow up of cochlear implanted handicapped children. Int J Pediatr Otorhinolaryngol. 2000;56(3):169-74. afirmaram que, muitas vezes, não é possível aplicar medidas padronizadas para avaliar o desenvolvimento das habilidades de audição e linguagem de crianças usuárias de IC com diagnóstico de TEA, devido à gravidade do atraso no desenvolvimento. Em um estudo1818. Jenks CM, Hoff SR, Haney J, Tournis E, Thomas D, Young NM. Cochlear implantation can improve auditory skills, language and social engagement of children with autism spectrum disorder. Otol Neurotol. 2022;43(3):313-9. publicado em 2021, os autores constataram que o MAIS foi o único protocolo de percepção auditiva da fala possível de ser aplicado. Já em outro estudo, de sete crianças avaliadas, somente duas foram capazes de responder ao Glendonald Auditory Screening Procedure (GASP)77. Donaldson AI, Heavner KS, Zwolan TA. Measuring progress in children with autism spectrum disorder who have cochlear implants. Arch Otolaryngol Head Neck Surg. 2004;130(5):666-71..

Sempre que possível, testes padronizados devem ser realizados. No entanto, o uso de pontuações padrão pode não ser informativo, devido ao desempenho muito abaixo das expectativas da idade apresentado por essa população77. Donaldson AI, Heavner KS, Zwolan TA. Measuring progress in children with autism spectrum disorder who have cochlear implants. Arch Otolaryngol Head Neck Surg. 2004;130(5):666-71.. Métodos tradicionais de avaliação dos resultados do IC são insuficientes para avaliar completamente os benefícios do uso do dispositivo em crianças com diagnóstico adicional de TEA1010. Lachowska M, Pastuska A, Lukaszewicz-Moszynska Z, Mikolajewska L, Niemczyk K. Cochlear implantation in autistic children with profound sensorineural hearing loss. Braz J Otorhinolaryngol. 2016;84(1):15-9.. O desempenho observado nem sempre pode ser expresso em porcentagem e mensurar o sucesso dessa população com seus IC costuma ser um processo subjetivo3030. Hamzavi J, Baumgartner WD, Egelierler B, Franz P, Schenk B, Gstoettner W. Follow up of cochlear implanted handicapped children. Int J Pediatr Otorhinolaryngol. 2000;56(3):169-74.. Nessas crianças, informações sobre os precursores do desenvolvimento da linguagem podem contribuir para um melhor entendimento de como o IC impacta na linguagem falada. Além disso, breves amostras de atenção conjunta e comportamentos de brincadeiras simbólicas obtidas em gravação de situação lúdica individual e com os pais podem complementar as informações obtidas em medidas clínicas2828. Johnson KC, DesJardin JL, Barker DH, Quittner AL, Winter ME. Assessing joint attention and symbolic play in children with cochlear implants and multiple disabilities: two case studies. Otol Neurotol. 2008;29(2):246-50.. Dessa forma, a avaliação para mensurar o progresso com o uso do dispositivo é desafiadora e deve ser abrangente, considerando as limitações comunicativas decorrentes do TEA1010. Lachowska M, Pastuska A, Lukaszewicz-Moszynska Z, Mikolajewska L, Niemczyk K. Cochlear implantation in autistic children with profound sensorineural hearing loss. Braz J Otorhinolaryngol. 2016;84(1):15-9..

Esses dados ressaltam a necessidade de medidas padronizadas para a avaliação do uso do IC em crianças com diagnóstico adicional de TEA77. Donaldson AI, Heavner KS, Zwolan TA. Measuring progress in children with autism spectrum disorder who have cochlear implants. Arch Otolaryngol Head Neck Surg. 2004;130(5):666-71. e a importância de profissionais compartilharem conhecimento sobre essa população1010. Lachowska M, Pastuska A, Lukaszewicz-Moszynska Z, Mikolajewska L, Niemczyk K. Cochlear implantation in autistic children with profound sensorineural hearing loss. Braz J Otorhinolaryngol. 2016;84(1):15-9..

Resultados obtidos

Observou-se nessa revisão que, na maioria dos casos, o diagnóstico de TEA foi concluído quando a criança já fazia uso do IC. Acredita-se que isso possa ser justificado devido ao fato de a TANU possibilitar o diagnóstico da deficiência auditiva de maneira precoce, antes do surgimento das características típicas do TEA ou antes que essas possam ser percebidas. Nesse sentido, a possibilidade de TEA deve ser sempre mantida em consideração pelos profissionais envolvidos no aconselhamento dos pais de bebês candidatos ao uso do IC2424. Mikic B, Jotic A, Miric D, Nikolic M, Jankovic N, Arsovic N. Receptive speech in early implanted children later diagnosed with autism. Eur Ann Otorhinolaryngol Head Neck Dis. 2016;133(Suppl 1):S36-9..

O IC pode ser benéfico para crianças com deficiência auditiva que apresentem diagnóstico de TEA, porém todos os estudos incluídos nessa revisão apontaram que os resultados obtidos por essa população se apresentam aquém àqueles observados em crianças sem deficiências adicionais77. Donaldson AI, Heavner KS, Zwolan TA. Measuring progress in children with autism spectrum disorder who have cochlear implants. Arch Otolaryngol Head Neck Surg. 2004;130(5):666-71.,99. Meinzen-Derr J, Wiley S, Bishop S, Manning-Courtney P, Choo DI, Murray D. Autism spectrum disorders in 24 children who are deaf or hard of hearing. Int J Pediatr Otorhinolaryngol. 2014;78(1):112-8.,1010. Lachowska M, Pastuska A, Lukaszewicz-Moszynska Z, Mikolajewska L, Niemczyk K. Cochlear implantation in autistic children with profound sensorineural hearing loss. Braz J Otorhinolaryngol. 2016;84(1):15-9.,1818. Jenks CM, Hoff SR, Haney J, Tournis E, Thomas D, Young NM. Cochlear implantation can improve auditory skills, language and social engagement of children with autism spectrum disorder. Otol Neurotol. 2022;43(3):313-9.

19. Mancini P, Mariani L, Nicastri M, Cavicchiolo S, Giallini I, Scimemi P et al. Cochlear implantation in children with autismo spectrum disorder (ASD): outcomes and implant fitting characteristics. Int J Pediatr Otorhinolaryngol. 2021;149:110876.

20. Mesallam TA, Yousef M, Almasaad A. Auditory and language skills development after cochlear implantation in children with multiple disabilities. Eur Arch Otorhinolaryngol. 2019;276(1):49-55.

21. Scarabello EM. Desempenho global e funcional de crianças com Transtorno do Espectro Autista usuárias de implante coclear (Tese). Bauru (SP): Faculdade de Odontologia de Bauru, Universidade de São Paulo; 2019.

22. Motegi M, Inagaki A, Minakata T, Sekiya S, Takahashi M, Sekiya Y et al. Developmental delays assessed using the Enjoji Scale in children with cochlear implants who have intellectual disability with or without autismo spectrum disorder. Auris Nasus Larynx. 2019;46(4):498-506.

23. Valero MR, Sadadcharam M, Henderson L, Freeman SR, Lloyd S, Green KM et al. Compliance with cochlear implantation in children subsequently diagnosed with autism spectrum disorder. Cochlear Implants Int. 2016;17(4):200-6.

24. Mikic B, Jotic A, Miric D, Nikolic M, Jankovic N, Arsovic N. Receptive speech in early implanted children later diagnosed with autism. Eur Ann Otorhinolaryngol Head Neck Dis. 2016;133(Suppl 1):S36-9.

25. Eshraghi AA, Nazarian R, Telischi FF, Martinez D, Hodges A, Velandia S et al. Cochlear implantation in children with autismo spectrum disorder. Otol Neurotol. 2015;36(8):e121-8.

26. Robertson J. Children with cochlear implants and autismo - challenges and outcomes: the experience of the National Cochlear Implant Programme, Ireland. Cochlear Implants Int. 2013;14(S3):S11-14.

27. Özdemir S, Tuncer U, Tarkan Ö, Kiroglu M, Çetik F, Akar F. Factors contributing to limited or non-use in the cochlear implant systems in children: 11 years' experience. Int J Pediatr Otorhinolaryngol. 2013;77(3):407-9.

28. Johnson KC, DesJardin JL, Barker DH, Quittner AL, Winter ME. Assessing joint attention and symbolic play in children with cochlear implants and multiple disabilities: two case studies. Otol Neurotol. 2008;29(2):246-50.

29. Daneshi A, Hassanzadeh S. Cochlear implantation in prelingually deaf persons with additional disability. J Laryngol Otol. 2007;121(7):635-8.
-3030. Hamzavi J, Baumgartner WD, Egelierler B, Franz P, Schenk B, Gstoettner W. Follow up of cochlear implanted handicapped children. Int J Pediatr Otorhinolaryngol. 2000;56(3):169-74.. Há uma série de razões pelas quais existem diferenças nos resultados obtidos entre as diferentes populações e elas incluem a presença de dificuldades de aprendizagem e comunicação, comprometimento motor associado, sensibilidade sensorial, dentre outros comprometimentos que podem ser observados em crianças com TEA, independentemente da presença da deficiência auditiva2323. Valero MR, Sadadcharam M, Henderson L, Freeman SR, Lloyd S, Green KM et al. Compliance with cochlear implantation in children subsequently diagnosed with autism spectrum disorder. Cochlear Implants Int. 2016;17(4):200-6..

O desenvolvimento comunicativo de crianças usuárias de IC com TEA também tem se apresentado inferior quando comparado a outros grupos com comorbidades. Em um estudo2020. Mesallam TA, Yousef M, Almasaad A. Auditory and language skills development after cochlear implantation in children with multiple disabilities. Eur Arch Otorhinolaryngol. 2019;276(1):49-55., os autores compararam o desenvolvimento de um grupo de crianças usuárias de IC com diagnóstico adicional de TEA e um grupo de usuárias de IC com diagnóstico adicional de Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) e constataram piores resultados no grupo de TEA no que diz respeito ao desenvolvimento das habilidades auditivas e de linguagem. Já em um outro estudo2222. Motegi M, Inagaki A, Minakata T, Sekiya S, Takahashi M, Sekiya Y et al. Developmental delays assessed using the Enjoji Scale in children with cochlear implants who have intellectual disability with or without autismo spectrum disorder. Auris Nasus Larynx. 2019;46(4):498-506., os autores observaram piores resultados no grupo de crianças usuárias de IC que apresentavam TEA do que no grupo de crianças com deficiência intelectual (DI) e relataram que esse achado parece ser um reflexo das características do TEA, como a interação social prejudicada, comunicação atípica e comportamentos restritivos e repetitivos.

É fato que o TEA e a deficiência auditiva podem coexistir. Portanto, não se deve ignorar a possibilidade de diagnóstico de TEA simplesmente porque a criança já foi diagnostica com deficiência auditiva. É importante atentar-se para os atrasos no desenvolvimento comunicativo de crianças usuárias de IC e não assumir que são resultado direto somente da deficiência auditiva99. Meinzen-Derr J, Wiley S, Bishop S, Manning-Courtney P, Choo DI, Murray D. Autism spectrum disorders in 24 children who are deaf or hard of hearing. Int J Pediatr Otorhinolaryngol. 2014;78(1):112-8.. Se uma criança implantada não desenvolve a linguagem adequadamente, uma avaliação para comorbidades, como o TEA, deve ser recomendada2525. Eshraghi AA, Nazarian R, Telischi FF, Martinez D, Hodges A, Velandia S et al. Cochlear implantation in children with autismo spectrum disorder. Otol Neurotol. 2015;36(8):e121-8.. As principais características de comunicação atípica, interação social atípica e comportamentos e interesses restritos e repetitivos não devem ser atribuídos à deficiência auditiva. A linguagem falada pode estar atrasada em crianças com deficiência auditiva, mas o desenvolvimento comunicativo não deve ter esses padrões atípicos99. Meinzen-Derr J, Wiley S, Bishop S, Manning-Courtney P, Choo DI, Murray D. Autism spectrum disorders in 24 children who are deaf or hard of hearing. Int J Pediatr Otorhinolaryngol. 2014;78(1):112-8..

Parte das crianças surdas com diagnóstico adicional de TEA pode se beneficiar do uso do IC e, com o tempo e o suporte adequado, desenvolver habilidades funcionais de linguagem falada2626. Robertson J. Children with cochlear implants and autismo - challenges and outcomes: the experience of the National Cochlear Implant Programme, Ireland. Cochlear Implants Int. 2013;14(S3):S11-14.. Resultados dos estudos incluídos nessa revisão demonstraram que parte dessa população se tornou capaz de comunicar-se pela fala1818. Jenks CM, Hoff SR, Haney J, Tournis E, Thomas D, Young NM. Cochlear implantation can improve auditory skills, language and social engagement of children with autism spectrum disorder. Otol Neurotol. 2022;43(3):313-9., aumentando a emissão de vocalizações77. Donaldson AI, Heavner KS, Zwolan TA. Measuring progress in children with autism spectrum disorder who have cochlear implants. Arch Otolaryngol Head Neck Surg. 2004;130(5):666-71. ou alcançando a emissão de vocábulos1010. Lachowska M, Pastuska A, Lukaszewicz-Moszynska Z, Mikolajewska L, Niemczyk K. Cochlear implantation in autistic children with profound sensorineural hearing loss. Braz J Otorhinolaryngol. 2016;84(1):15-9.,1919. Mancini P, Mariani L, Nicastri M, Cavicchiolo S, Giallini I, Scimemi P et al. Cochlear implantation in children with autismo spectrum disorder (ASD): outcomes and implant fitting characteristics. Int J Pediatr Otorhinolaryngol. 2021;149:110876.,2121. Scarabello EM. Desempenho global e funcional de crianças com Transtorno do Espectro Autista usuárias de implante coclear (Tese). Bauru (SP): Faculdade de Odontologia de Bauru, Universidade de São Paulo; 2019. ou frases simples1919. Mancini P, Mariani L, Nicastri M, Cavicchiolo S, Giallini I, Scimemi P et al. Cochlear implantation in children with autismo spectrum disorder (ASD): outcomes and implant fitting characteristics. Int J Pediatr Otorhinolaryngol. 2021;149:110876.,2323. Valero MR, Sadadcharam M, Henderson L, Freeman SR, Lloyd S, Green KM et al. Compliance with cochlear implantation in children subsequently diagnosed with autism spectrum disorder. Cochlear Implants Int. 2016;17(4):200-6.,2525. Eshraghi AA, Nazarian R, Telischi FF, Martinez D, Hodges A, Velandia S et al. Cochlear implantation in children with autismo spectrum disorder. Otol Neurotol. 2015;36(8):e121-8.. Apesar disso, observou-se que a maioria das crianças avaliadas nos estudos não desenvolveu a fala, sendo que algumas não se comunicavam por nenhum método formal e outras se comunicavam por meio de outros métodos, como Língua de Sinais e/ou Comunicação Alternativa Aumentativa. Dessa forma, o TEA não deve ser um impeditivo para a indicação do IC2626. Robertson J. Children with cochlear implants and autismo - challenges and outcomes: the experience of the National Cochlear Implant Programme, Ireland. Cochlear Implants Int. 2013;14(S3):S11-14., mas deve-se ter em mente que essa população pode nunca atingir os escores de crianças surdas pré-linguais sem deficiências adicionais com o uso do dispositivo3030. Hamzavi J, Baumgartner WD, Egelierler B, Franz P, Schenk B, Gstoettner W. Follow up of cochlear implanted handicapped children. Int J Pediatr Otorhinolaryngol. 2000;56(3):169-74. e que a comunicação oral pode não ser uma meta realista77. Donaldson AI, Heavner KS, Zwolan TA. Measuring progress in children with autism spectrum disorder who have cochlear implants. Arch Otolaryngol Head Neck Surg. 2004;130(5):666-71..

Outro ponto importante a ser discutido é que crianças com TEA podem rejeitar completamente o uso do processador de fala do IC2626. Robertson J. Children with cochlear implants and autismo - challenges and outcomes: the experience of the National Cochlear Implant Programme, Ireland. Cochlear Implants Int. 2013;14(S3):S11-14.. Em um estudo2323. Valero MR, Sadadcharam M, Henderson L, Freeman SR, Lloyd S, Green KM et al. Compliance with cochlear implantation in children subsequently diagnosed with autism spectrum disorder. Cochlear Implants Int. 2016;17(4):200-6., os autores apontaram que 59% das crianças avaliadas faziam uso inconsistente do IC e 27,2% deixaram de usar o dispositivo completamente após alguns anos. Outros autores2626. Robertson J. Children with cochlear implants and autismo - challenges and outcomes: the experience of the National Cochlear Implant Programme, Ireland. Cochlear Implants Int. 2013;14(S3):S11-14. também apontaram que, de dez crianças avaliadas, seis faziam uso consistente do IC, enquanto duas o utilizavam de forma inconsistente e duas não utilizavam. A literatura aponta que variáveis relacionadas ao diagnóstico podem influenciar no uso do processador do IC por crianças com múltiplas deficiências e há a sugestão de que pesquisas incluam dados objetivos em suas investigações, como o registro do datalloging3131. Glaubitz C, Liebscher T, Hoppe U. Children with cochlear implant and additional disabilities benefit from consistent device use. Int J Pediatr Otorhinolaryngol. 2022;162:111301.. Além disso, a possibilidade de hipersensibilidade ao som nessa população deve ser considerada2525. Eshraghi AA, Nazarian R, Telischi FF, Martinez D, Hodges A, Velandia S et al. Cochlear implantation in children with autismo spectrum disorder. Otol Neurotol. 2015;36(8):e121-8..

Apesar da baixa incidência de linguagem falada após o IC em crianças com TEA, os pais tendem a recomendar o uso do dispositivo a outras famílias em situação semelhante, mesmo afirmando que seus filhos tiveram um desempenho pior do que o esperado77. Donaldson AI, Heavner KS, Zwolan TA. Measuring progress in children with autism spectrum disorder who have cochlear implants. Arch Otolaryngol Head Neck Surg. 2004;130(5):666-71.,2525. Eshraghi AA, Nazarian R, Telischi FF, Martinez D, Hodges A, Velandia S et al. Cochlear implantation in children with autismo spectrum disorder. Otol Neurotol. 2015;36(8):e121-8.. Alguns pais observaram mudanças no que diz respeito ao comportamento comunicativo e maior conscientização sobre o ambiente77. Donaldson AI, Heavner KS, Zwolan TA. Measuring progress in children with autism spectrum disorder who have cochlear implants. Arch Otolaryngol Head Neck Surg. 2004;130(5):666-71.. Há também o relato de aumento na reação à música77. Donaldson AI, Heavner KS, Zwolan TA. Measuring progress in children with autism spectrum disorder who have cochlear implants. Arch Otolaryngol Head Neck Surg. 2004;130(5):666-71.,1010. Lachowska M, Pastuska A, Lukaszewicz-Moszynska Z, Mikolajewska L, Niemczyk K. Cochlear implantation in autistic children with profound sensorineural hearing loss. Braz J Otorhinolaryngol. 2016;84(1):15-9., mas pouca melhora no contato visual2525. Eshraghi AA, Nazarian R, Telischi FF, Martinez D, Hodges A, Velandia S et al. Cochlear implantation in children with autismo spectrum disorder. Otol Neurotol. 2015;36(8):e121-8..

Resumidamente, pode-se afirmar que as expectativas do pós-IC são muito diferentes para crianças com diagnóstico de TEA quando comparadas a crianças sem diagnósticos adicionais77. Donaldson AI, Heavner KS, Zwolan TA. Measuring progress in children with autism spectrum disorder who have cochlear implants. Arch Otolaryngol Head Neck Surg. 2004;130(5):666-71.,99. Meinzen-Derr J, Wiley S, Bishop S, Manning-Courtney P, Choo DI, Murray D. Autism spectrum disorders in 24 children who are deaf or hard of hearing. Int J Pediatr Otorhinolaryngol. 2014;78(1):112-8.,1010. Lachowska M, Pastuska A, Lukaszewicz-Moszynska Z, Mikolajewska L, Niemczyk K. Cochlear implantation in autistic children with profound sensorineural hearing loss. Braz J Otorhinolaryngol. 2016;84(1):15-9.,1818. Jenks CM, Hoff SR, Haney J, Tournis E, Thomas D, Young NM. Cochlear implantation can improve auditory skills, language and social engagement of children with autism spectrum disorder. Otol Neurotol. 2022;43(3):313-9.

19. Mancini P, Mariani L, Nicastri M, Cavicchiolo S, Giallini I, Scimemi P et al. Cochlear implantation in children with autismo spectrum disorder (ASD): outcomes and implant fitting characteristics. Int J Pediatr Otorhinolaryngol. 2021;149:110876.

20. Mesallam TA, Yousef M, Almasaad A. Auditory and language skills development after cochlear implantation in children with multiple disabilities. Eur Arch Otorhinolaryngol. 2019;276(1):49-55.

21. Scarabello EM. Desempenho global e funcional de crianças com Transtorno do Espectro Autista usuárias de implante coclear (Tese). Bauru (SP): Faculdade de Odontologia de Bauru, Universidade de São Paulo; 2019.

22. Motegi M, Inagaki A, Minakata T, Sekiya S, Takahashi M, Sekiya Y et al. Developmental delays assessed using the Enjoji Scale in children with cochlear implants who have intellectual disability with or without autismo spectrum disorder. Auris Nasus Larynx. 2019;46(4):498-506.

23. Valero MR, Sadadcharam M, Henderson L, Freeman SR, Lloyd S, Green KM et al. Compliance with cochlear implantation in children subsequently diagnosed with autism spectrum disorder. Cochlear Implants Int. 2016;17(4):200-6.

24. Mikic B, Jotic A, Miric D, Nikolic M, Jankovic N, Arsovic N. Receptive speech in early implanted children later diagnosed with autism. Eur Ann Otorhinolaryngol Head Neck Dis. 2016;133(Suppl 1):S36-9.

25. Eshraghi AA, Nazarian R, Telischi FF, Martinez D, Hodges A, Velandia S et al. Cochlear implantation in children with autismo spectrum disorder. Otol Neurotol. 2015;36(8):e121-8.

26. Robertson J. Children with cochlear implants and autismo - challenges and outcomes: the experience of the National Cochlear Implant Programme, Ireland. Cochlear Implants Int. 2013;14(S3):S11-14.

27. Özdemir S, Tuncer U, Tarkan Ö, Kiroglu M, Çetik F, Akar F. Factors contributing to limited or non-use in the cochlear implant systems in children: 11 years' experience. Int J Pediatr Otorhinolaryngol. 2013;77(3):407-9.

28. Johnson KC, DesJardin JL, Barker DH, Quittner AL, Winter ME. Assessing joint attention and symbolic play in children with cochlear implants and multiple disabilities: two case studies. Otol Neurotol. 2008;29(2):246-50.

29. Daneshi A, Hassanzadeh S. Cochlear implantation in prelingually deaf persons with additional disability. J Laryngol Otol. 2007;121(7):635-8.
-3030. Hamzavi J, Baumgartner WD, Egelierler B, Franz P, Schenk B, Gstoettner W. Follow up of cochlear implanted handicapped children. Int J Pediatr Otorhinolaryngol. 2000;56(3):169-74.. Nesse sentido, os pais devem estar cientes que o uso do IC não irá alterar os comportamentos característicos do TEA ou ter um efeito sobre a sua gravidade77. Donaldson AI, Heavner KS, Zwolan TA. Measuring progress in children with autism spectrum disorder who have cochlear implants. Arch Otolaryngol Head Neck Surg. 2004;130(5):666-71.,2525. Eshraghi AA, Nazarian R, Telischi FF, Martinez D, Hodges A, Velandia S et al. Cochlear implantation in children with autismo spectrum disorder. Otol Neurotol. 2015;36(8):e121-8..

Outras considerações

Em um estudo3232. Rydzewska E, Hughes-McCormack LA, Gillberg C, Henderson A, MacIntyre C, Rinotul J et al. Prevalence of sensory impairments, physical and intellectual disabilities, and mental health in children and young people with self/proxy-reported autism: observational study of a whole country population. Autism. 2019;23(5):1201-9. publicado em 2019, os autores concluíram que a deficiência auditiva foi nove vezes mais prevalente em indivíduos com TEA em comparação com a população geral. Apesar de essas taxas de ocorrência ainda continuarem em debate, autores enfatizam que uma avaliação audiológica completa é recomendada em todos os casos em que há suspeita de TEA, para não atrasar o diagnóstico de deficiência auditiva no caso de coexistência das alterações3333. Beers AN, McBoyle M, Kakande E, Santos RCD, Kozak FK. Autism and peripheral hearing loss: a systematic review. Int J Pediatr Otorhinolaryngol. 2014;78(1):96-101..

Dadas as variáveis apresentadas a depender do nível de suporte, as metas e expectativas de desempenho são diferentes para cada criança com TEA que recebe um IC e devem ser discutidas de forma individualizada com cada família77. Donaldson AI, Heavner KS, Zwolan TA. Measuring progress in children with autism spectrum disorder who have cochlear implants. Arch Otolaryngol Head Neck Surg. 2004;130(5):666-71., a fim de estabelecer expectativas realistas. O aconselhamento também deve se concentrar em discutir com os pais aspectos associados a um prognóstico favorável, como quando há graus mais leves de TEA, ausência de deficiência intelectual ou problemas neurológicos, implantação precoce e apoio familiar2525. Eshraghi AA, Nazarian R, Telischi FF, Martinez D, Hodges A, Velandia S et al. Cochlear implantation in children with autismo spectrum disorder. Otol Neurotol. 2015;36(8):e121-8..

Além disso, há a recomendação na literatura de que se discuta no pré-operatório de todas as crianças candidatas ao IC, sobre o impacto futuro de possíveis comorbidades ainda não diagnosticadas, como o TEA, para evitar expectativas irreais77. Donaldson AI, Heavner KS, Zwolan TA. Measuring progress in children with autism spectrum disorder who have cochlear implants. Arch Otolaryngol Head Neck Surg. 2004;130(5):666-71.,2323. Valero MR, Sadadcharam M, Henderson L, Freeman SR, Lloyd S, Green KM et al. Compliance with cochlear implantation in children subsequently diagnosed with autism spectrum disorder. Cochlear Implants Int. 2016;17(4):200-6.,2525. Eshraghi AA, Nazarian R, Telischi FF, Martinez D, Hodges A, Velandia S et al. Cochlear implantation in children with autismo spectrum disorder. Otol Neurotol. 2015;36(8):e121-8.,2626. Robertson J. Children with cochlear implants and autismo - challenges and outcomes: the experience of the National Cochlear Implant Programme, Ireland. Cochlear Implants Int. 2013;14(S3):S11-14..

Além dos pais, os profissionais envolvidos na reabilitação devem estar cientes de que crianças com múltiplas deficiências requerem uma reabilitação com estratégias únicas e individualizadas2929. Daneshi A, Hassanzadeh S. Cochlear implantation in prelingually deaf persons with additional disability. J Laryngol Otol. 2007;121(7):635-8.. Ou seja, apesar de considerar que pais que optam pelo IC provavelmente estão almejando a linguagem falada77. Donaldson AI, Heavner KS, Zwolan TA. Measuring progress in children with autism spectrum disorder who have cochlear implants. Arch Otolaryngol Head Neck Surg. 2004;130(5):666-71., concentrar a reabilitação da criança usuária de IC com diagnóstico adicional de TEA apenas na abordagem oral é, geralmente, insuficiente para ajudá-la a progredir em sua comunicação99. Meinzen-Derr J, Wiley S, Bishop S, Manning-Courtney P, Choo DI, Murray D. Autism spectrum disorders in 24 children who are deaf or hard of hearing. Int J Pediatr Otorhinolaryngol. 2014;78(1):112-8.. Portanto, outras abordagens comumente utilizadas para a reabilitação do TEA devem ser aplicadas2525. Eshraghi AA, Nazarian R, Telischi FF, Martinez D, Hodges A, Velandia S et al. Cochlear implantation in children with autismo spectrum disorder. Otol Neurotol. 2015;36(8):e121-8.. Ao utilizar estratégias direcionadas aos padrões atípicos de linguagem dessas crianças, pode-se construir um caminho em direção a uma comunicação mais eficaz99. Meinzen-Derr J, Wiley S, Bishop S, Manning-Courtney P, Choo DI, Murray D. Autism spectrum disorders in 24 children who are deaf or hard of hearing. Int J Pediatr Otorhinolaryngol. 2014;78(1):112-8.. A insistência na comunicação exclusivamente oral para essa população pode contribuir para retardar a compreensão dos fundamentos pré-linguísticos da comunicação, críticos para o progresso comunicativo99. Meinzen-Derr J, Wiley S, Bishop S, Manning-Courtney P, Choo DI, Murray D. Autism spectrum disorders in 24 children who are deaf or hard of hearing. Int J Pediatr Otorhinolaryngol. 2014;78(1):112-8..

Esse estudo apresenta limitações. Uma delas é o fato de que não foram pesquisadas todas as bases de dados disponíveis. Além disso, por tratar-se de uma revisão integrativa, também não foi realizada a análise da qualidade metodológica dos estudos incluídos. Nesse sentido, foram incluídos estudos de caso e aqueles que realizaram a avaliação somente com o uso de questionários e/ou escalas direcionados aos pais das crianças. Ressalta-se, portanto, a necessidade de que novas pesquisas sejam realizadas na área, principalmente a fim de estabelecer protocolos específicos para a avaliação de crianças usuárias de IC com diagnóstico adicional de TEA, considerando as particularidades dessa população e as variáveis interferentes nos resultados.

O TEA não deve ser um impeditivo para a indicação do IC, porém é fundamental que pais e profissionais apresentem expectativas reais do prognóstico desses casos e que os pais de crianças sem diagnósticos adicionais também sejam aconselhados no pré-operatório do IC sobre a possibilidade de diagnósticos posteriores que influenciarão no desenvolvimento das habilidades de audição e linguagem da criança.

Espera-se que esse estudo possa nortear a avaliação dessa população nos serviços de reabilitação, além de direcionar as equipes multidisciplinares no que diz respeito às expectativas do tratamento e à orientação e aconselhamento das famílias dessas crianças.

CONCLUSÃO

Com esse estudo, pode-se concluir que:

  • O benefício obtido pelo uso do IC por essa população é limitado e inferior ao benefício obtido por crianças usuárias do dispositivo que não apresentam diagnósticos adicionais;

  • Grande parte das crianças usuárias de IC com diagnóstico adicional de TEA não evolui para a comunicação exclusivamente oral e o uso do dispositivo não diminui os comportamentos característicos do TEA;

  • Não há um protocolo padronizado de avaliação de habilidades de percepção auditiva e de linguagem falada para crianças usuárias de IC com diagnóstico adicional de TEA;

  • A avaliação das habilidades de percepção auditiva e de linguagem falada dessa população deve ser realizada de maneira individualizada e adaptada e deve-se considerar a idade da criança, bem como o seu nível de desenvolvimento;

  • O uso de questionários com os pais e filmagem dos pais com a criança pode auxiliar no processo de avaliação das habilidades auditivas e de linguagem falada dessa população.

REFERÊNCIAS

  • 1
    Geers AE, Nicholas JG, Sedey AL. Language skills of children with early cochlear implantation. Ear Hear. 2003;24(1 Suppl):46S-58S.
  • 2
    Loy B, Warner-Czyz AD, Tong L, Tobey EA, Roland PS. The children speak: an examination of the quality of life of pediatric cochlear implant users. Otolaryngol Head Neck Surg. 2010;142(2):247-53.
  • 3
    Hashemi SB, Monshizadeh L. Comparison of auditory perception in cochlear implanted children with and without additional disabilities. Iran J Med Sci. 2016;41(3):186-90.
  • 4
    Nasralla HR, Montefusco AM, Hoshino ACH, Samuel PA, Magalhães ATM, Goffi-Gomez MVS et al. Benefit of cochlear implantation in children with multiple-handicaps: parent's perspective. Int Arch Otorhinolaryngol. 2018;22(4):415-27.
  • 5
    Szymanski CA, Brice PJ, Lam KH, Hotto SA. Deaf children with autism spectrum disorders. J Autism Dev Disord. 2012;42(10):2027-37.
  • 6
    Braun KVN, Christensen D, Doernberg N, Schieve L, Rice C, Wiggins L et al. Trends in the prevalence of autism spectrum disorder, cerebral palsy, hearing loss, intellectual disability, and vision impairment, metropolitan atlanta, 1991-2010. PLoS One. 2015;29(10):e0124120.
  • 7
    Donaldson AI, Heavner KS, Zwolan TA. Measuring progress in children with autism spectrum disorder who have cochlear implants. Arch Otolaryngol Head Neck Surg. 2004;130(5):666-71.
  • 8
    Rosenhall U, Nordin V, Sandstrom M, Ahlsén G, Gillberg C. Autism and hearing loss. J Autism Dev Disord. 1999;29:349-57.
  • 9
    Meinzen-Derr J, Wiley S, Bishop S, Manning-Courtney P, Choo DI, Murray D. Autism spectrum disorders in 24 children who are deaf or hard of hearing. Int J Pediatr Otorhinolaryngol. 2014;78(1):112-8.
  • 10
    Lachowska M, Pastuska A, Lukaszewicz-Moszynska Z, Mikolajewska L, Niemczyk K. Cochlear implantation in autistic children with profound sensorineural hearing loss. Braz J Otorhinolaryngol. 2016;84(1):15-9.
  • 11
    Cosetti MK, Pinkston JB, Flores JM, Friedmann DR, Jones CB, Roland Jr JT et al. Neurocognitive testing and cochlear implantation: insights into performance in older adults. Clin Interv Aging. 2016;11:603-13.
  • 12
    Cejas I, Hoffman MF, Quittner AL. Outcomes and benefits of pediatric cochlear implantation in children with additional disabilities: a review and report of family influences on outcomes. Pediatric Health Med Ther. 2015;6:45-63.
  • 13
    American Psychiatric Association. Manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais 5ª edição - DSM 5. Porto Alegre: Artmed, 2014. Disponível em: http://www.institutopebioetica.com.br/documentos/manual-diagnostico-e-estatistico-de-transtornos-mentais-dsm-5.pdf
  • 14
    Dettman SJ, Dowell RC, Choo D, Arnott W, Abrahams Y, Davis A et al. Long-term communication outcomes for children receiving cochlear implants younger than 12 months: a multicenter study. Otol Neurotol. 2016;37(2):e82-95.
  • 15
    Tavares FS, Azevedo YJ, Fernandes LMM, Takeuti A, Pereira LV, Ledesma ALL et al. Cochlear implant in patients with autistic spectrum disorder - a systematic review. Braz J Otorhinolaryngol. 2021;87(5):601-19.
  • 16
    Mathew R, Bryan J, Chaudhry D, Chaudhry A, Kuhn I, Tysome J et al. Cochlear implantation in children with autism spectrum disorder: a systematic review and pooled analysis. Otol Neurotol. 2022;43(1):e1-e13.
  • 17
    Souza MT, Silva MD, Carvalho R. Revisão integrativa: o que é e como fazer. Einsten. 2010;8(1):102-6.
  • 18
    Jenks CM, Hoff SR, Haney J, Tournis E, Thomas D, Young NM. Cochlear implantation can improve auditory skills, language and social engagement of children with autism spectrum disorder. Otol Neurotol. 2022;43(3):313-9.
  • 19
    Mancini P, Mariani L, Nicastri M, Cavicchiolo S, Giallini I, Scimemi P et al. Cochlear implantation in children with autismo spectrum disorder (ASD): outcomes and implant fitting characteristics. Int J Pediatr Otorhinolaryngol. 2021;149:110876.
  • 20
    Mesallam TA, Yousef M, Almasaad A. Auditory and language skills development after cochlear implantation in children with multiple disabilities. Eur Arch Otorhinolaryngol. 2019;276(1):49-55.
  • 21
    Scarabello EM. Desempenho global e funcional de crianças com Transtorno do Espectro Autista usuárias de implante coclear (Tese). Bauru (SP): Faculdade de Odontologia de Bauru, Universidade de São Paulo; 2019.
  • 22
    Motegi M, Inagaki A, Minakata T, Sekiya S, Takahashi M, Sekiya Y et al. Developmental delays assessed using the Enjoji Scale in children with cochlear implants who have intellectual disability with or without autismo spectrum disorder. Auris Nasus Larynx. 2019;46(4):498-506.
  • 23
    Valero MR, Sadadcharam M, Henderson L, Freeman SR, Lloyd S, Green KM et al. Compliance with cochlear implantation in children subsequently diagnosed with autism spectrum disorder. Cochlear Implants Int. 2016;17(4):200-6.
  • 24
    Mikic B, Jotic A, Miric D, Nikolic M, Jankovic N, Arsovic N. Receptive speech in early implanted children later diagnosed with autism. Eur Ann Otorhinolaryngol Head Neck Dis. 2016;133(Suppl 1):S36-9.
  • 25
    Eshraghi AA, Nazarian R, Telischi FF, Martinez D, Hodges A, Velandia S et al. Cochlear implantation in children with autismo spectrum disorder. Otol Neurotol. 2015;36(8):e121-8.
  • 26
    Robertson J. Children with cochlear implants and autismo - challenges and outcomes: the experience of the National Cochlear Implant Programme, Ireland. Cochlear Implants Int. 2013;14(S3):S11-14.
  • 27
    Özdemir S, Tuncer U, Tarkan Ö, Kiroglu M, Çetik F, Akar F. Factors contributing to limited or non-use in the cochlear implant systems in children: 11 years' experience. Int J Pediatr Otorhinolaryngol. 2013;77(3):407-9.
  • 28
    Johnson KC, DesJardin JL, Barker DH, Quittner AL, Winter ME. Assessing joint attention and symbolic play in children with cochlear implants and multiple disabilities: two case studies. Otol Neurotol. 2008;29(2):246-50.
  • 29
    Daneshi A, Hassanzadeh S. Cochlear implantation in prelingually deaf persons with additional disability. J Laryngol Otol. 2007;121(7):635-8.
  • 30
    Hamzavi J, Baumgartner WD, Egelierler B, Franz P, Schenk B, Gstoettner W. Follow up of cochlear implanted handicapped children. Int J Pediatr Otorhinolaryngol. 2000;56(3):169-74.
  • 31
    Glaubitz C, Liebscher T, Hoppe U. Children with cochlear implant and additional disabilities benefit from consistent device use. Int J Pediatr Otorhinolaryngol. 2022;162:111301.
  • 32
    Rydzewska E, Hughes-McCormack LA, Gillberg C, Henderson A, MacIntyre C, Rinotul J et al. Prevalence of sensory impairments, physical and intellectual disabilities, and mental health in children and young people with self/proxy-reported autism: observational study of a whole country population. Autism. 2019;23(5):1201-9.
  • 33
    Beers AN, McBoyle M, Kakande E, Santos RCD, Kozak FK. Autism and peripheral hearing loss: a systematic review. Int J Pediatr Otorhinolaryngol. 2014;78(1):96-101.
  • Estudo realizado na Universidade Tuiuti do Paraná, Curitiba, Paraná, Brasil.
  • Fonte de financiamento: Nada a declarar.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    13 Nov 2023
  • Data do Fascículo
    2023

Histórico

  • Recebido
    22 Maio 2023
  • Aceito
    11 Set 2023
ABRAMO Associação Brasileira de Motricidade Orofacial Rua Uruguaiana, 516, Cep 13026-001 Campinas SP Brasil, Tel.: +55 19 3254-0342 - São Paulo - SP - Brazil
E-mail: revistacefac@cefac.br