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Consumo e digestiblidades aparentes totais e parciais de dietas contendo diferentes níveis de concentrado, em novilhos Nelore

Intake and total and partial apparent digestibilities of diets with different levels of concentrate, in Nellore bulls

Resumos

O objetivo deste experimento foi avaliar os efeitos dos níveis de concentrado das dietas sobre os consumos e as digestibilidades aparentes totais e parciais de matéria seca (MS), matéria orgânica (MO), proteína bruta (PB), extrato etéreo (EE), fibra em detergente neutro (FDN) e carboidratos totais (CHO). O efeito das coletas realizadas durante o dia e a noite, para as digestibilidades aparentes totais e parciais da MS e MO, também foi avaliado. Quatro novilhos Nelore, não-castrados, fistulados no rúmen, abomaso e íleo, alimentados à vontade com rações que continham 25,0; 37,5; 50,0; 62,5; e 75,0% de concentrado, foram distribuídos delineamento em blocos casualizados. Foi utilizado o óxido crômico como indicador, na dose de 20 g/dia. O consumo de MS, MO, NDT e EE aumentou e o de FDN decresceu linearmente com o aumento dos níveis de concentrado nas rações. Houve efeito quadrático para as digestibilidades aparentes totais da MS e MO, em que os valores mínimos foram estimados em 67,27 e 68,31%, com 36,71 e 41,5% de concentrado nas rações, respectivamente. As digestibilidades aparentes ruminais da MS e MO foram, em média, 63,35 e 71,42%, respectivamente. O aumento de concentrado nas rações reduziu a digestão ruminal da FDN. À medida que se reduziu o teor de FDN, ocorreu aumento linear tanto para NDT, quanto para a digestibilidade total da MS. Não houve diferenças para as digestibilidades aparentes totais e parciais da MS e MO obtidas em coletas realizadas durante o dia ou a noite.

bovinos; concentrado; digestibilidade; consumo


The objective of this experiment was to evaluate the effects of the concentrate level in the diets on the intakes and total and partial apparent digestibilities of dry matter (DM), organic matter (OM), crude protein (CP), ether extract (EE), neutral detergent fiber (NDF) and total carbohydrates (CHO). The effect of collections carried out during the day and the night, for the DM and OM total and partial apparent digestibilities, was also evaluated. Four Nellore bulls, fistulated in the rumen, abomasum and ileum, fed diets ad libitum with 25.0; 37.5; 50.0; 62.5; and 75.0% of concentrate, were randomly allotted to a completely randomized block design. The chromium oxide was used as indicator, in the dose of 20 g/day. The intakes of DM, OM, total digestible nutrients (TDN) and EE increased and that of NDF decreased linearly with the increase of the concentrate in the diets. The minimum estimated total apparent digestibilities of 67.27% for DM and 68.31% for OM were with 36.71 and 41.5% of concentrate in the diets, respectively. The ruminal apparent digestibilities of DM and OM averaged 63.35 and 71.42%, respectively. The increase of concentrate in the diets reduced the ruminal digestion of NDF, but resulted in linear increase in TDN and total DM digestibility of the diets. There were no differences for the total and partial apparent digestibilities of DM and OM obtained in collections accomplished during the day or the night

bulls; concentrate; digestibility; intake


Consumo e digestiblidades aparentes totais e parciais de dietas contendo diferentes níveis de concentrado, em novilhos Nelore1 1 Parte da Tese apresentada à UFV para obtenção do título "Magister Scientiae". Projeto financiado pelo FINEP/CNPq.

Intake and total and partial apparent digestibilities of diets with different levels of concentrate, in Nellore bulls

Márcio Machado LadeiraI; Sebastião de Campos Valadares FilhoII; José Fernando Coelho da SilvaII; Maria Ignez LeãoIII; Ricardo Linhares SampaioIV

I Aluno de Doutorado/Escola de Veterinária/UFMG

II Professor Titular da UFV. Bolsista do CNPq

III Professor Titular da UFV

IV Bolsista PIBIC/CNPq

RESUMO

O objetivo deste experimento foi avaliar os efeitos dos níveis de concentrado das dietas sobre os consumos e as digestibilidades aparentes totais e parciais de matéria seca (MS), matéria orgânica (MO), proteína bruta (PB), extrato etéreo (EE), fibra em detergente neutro (FDN) e carboidratos totais (CHO). O efeito das coletas realizadas durante o dia e a noite, para as digestibilidades aparentes totais e parciais da MS e MO, também foi avaliado. Quatro novilhos Nelore, não-castrados, fistulados no rúmen, abomaso e íleo, alimentados à vontade com rações que continham 25,0; 37,5; 50,0; 62,5; e 75,0% de concentrado, foram distribuídos delineamento em blocos casualizados. Foi utilizado o óxido crômico como indicador, na dose de 20 g/dia. O consumo de MS, MO, NDT e EE aumentou e o de FDN decresceu linearmente com o aumento dos níveis de concentrado nas rações. Houve efeito quadrático para as digestibilidades aparentes totais da MS e MO, em que os valores mínimos foram estimados em 67,27 e 68,31%, com 36,71 e 41,5% de concentrado nas rações, respectivamente. As digestibilidades aparentes ruminais da MS e MO foram, em média, 63,35 e 71,42%, respectivamente. O aumento de concentrado nas rações reduziu a digestão ruminal da FDN. À medida que se reduziu o teor de FDN, ocorreu aumento linear tanto para NDT, quanto para a digestibilidade total da MS. Não houve diferenças para as digestibilidades aparentes totais e parciais da MS e MO obtidas em coletas realizadas durante o dia ou a noite.

Palavras-chave: bovinos, concentrado, digestibilidade, consumo

ABSTRACT

The objective of this experiment was to evaluate the effects of the concentrate level in the diets on the intakes and total and partial apparent digestibilities of dry matter (DM), organic matter (OM), crude protein (CP), ether extract (EE), neutral detergent fiber (NDF) and total carbohydrates (CHO). The effect of collections carried out during the day and the night, for the DM and OM total and partial apparent digestibilities, was also evaluated. Four Nellore bulls, fistulated in the rumen, abomasum and ileum, fed diets ad libitum with 25.0; 37.5; 50.0; 62.5; and 75.0% of concentrate, were randomly allotted to a completely randomized block design. The chromium oxide was used as indicator, in the dose of 20 g/day. The intakes of DM, OM, total digestible nutrients (TDN) and EE increased and that of NDF decreased linearly with the increase of the concentrate in the diets. The minimum estimated total apparent digestibilities of 67.27% for DM and 68.31% for OM were with 36.71 and 41.5% of concentrate in the diets, respectively. The ruminal apparent digestibilities of DM and OM averaged 63.35 and 71.42%, respectively. The increase of concentrate in the diets reduced the ruminal digestion of NDF, but resulted in linear increase in TDN and total DM digestibility of the diets. There were no differences for the total and partial apparent digestibilities of DM and OM obtained in collections accomplished during the day or the night.

Key Words: bulls, concentrate, digestibility, intake

Introdução

O consumo é um dos pontos importantes que pode limitar o nível de produtividade em bovinos de corte, ou seja, maiores ganhos de peso em intervalo mais curto. O consumo é regulado por vários fatores: animal (peso vivo, nível de produção e estado fisiológico), alimento (fibra, densidade energética, volume, entre outros) e condições de alimentação (disponibilidade de alimento, freqüência de alimentação, dentre outros), como descrito por MERTENS (1992).

Segundo THIAGO e GILL (1990), há dois fatores que limitam o consumo: quando se fornecem aos animais forragens com baixas taxas de digestão, o fator limitante é a capacidade física do rúmen, por outro lado, quando forragens com altas taxas de digestão são ingeridas, a liberação de nutrientes no rúmen limitaria o consumo.

Ao trabalhar com 12,5; 25,0; 37,5; e 50% de concentrado e feno de capim Brachiaria decumbens, RODRIGUEZ (1994) verificou que houve incremento nos consumos de matéria seca (MS) e matéria orgânica (MO), a cada aumento do nível de concentrado, no intervalo de 12,5 a 37,5%. Já em relação ao consumo de fibra em detergente neutro (FDN), não se constatou diferença, reforçando a hipótese de que a fibra seria fator limitante de consumo.

REYNOLDS et al. (1991), quando submeteram novilhas a dietas com mesmos teores de energia metabolizável, concluíram que as alimentadas com 75% de concentrado apresentaram menores consumos de MS, energia e proteína, em comparação às que ingeriram 75% de alfafa.

O baixo conteúdo de proteína bruta (PB) no alimento também pode ser limitante para o consumo e para a digestibilidade deste, devido à falta de substrato nitrogenado adequado para os microrganismos (FICK et al., 1973). O consumo também está diretamente relacionado à velocidade de esvaziamento do rúmen e à digestibilidade do alimento (BALCH e CAMPLING, 1962).

Dados obtidos por OKAMOTO et al. (1985) demonstraram que não houve diferença para os coeficientes de digestibilidade da MS, PB, fibra bruta (FB), extrato etéreo (EE) e a ingestão de nutrientes digestíveis totais (NDT) em bezerros da raça holandesa PC, alimentados diariamente com 1,2; 1,6; e 2,0 kg de concentrado mais feno de capim-rhodes (Chloris gayana). Em relação ao extrato não-nitrogenado, esses autores encontraram diferença para os níveis de concentrado. GONÇALVES (1988), entretanto, revelou aumento para a digestibilidade da matéria seca com variação do nível de concentrado de 20 para 60% da dieta.

Ao trabalharem com dietas para novilhos contendo diferentes níveis de energia (2,17 e 2,90 Mcal) e FDN (37,95 e 56,30%), CECAVA et al. (1991) encontraram diferentes digestibilidades aparentes totais da MO, em que os valores médios foram de 73,2 e 84%, para alto e baixo teores de FDN, respectivamente. No entanto, POORE et al. (1990) constataram aumento na digestibilidade total da MS, quando se elevou o nível de concentrado da ração, mas isto não influenciou a digestibilidade da FDN. Urias (1986) e Van Soest (1982), citados pelos mesmos autores, mostraram que a FDN de concentrados é potencialmente mais digestível que a de forrageiras.

Além de se avaliar a digestibilidade total dos alimentos, deve-se determinar a digestão parcial dos nutrientes, para se conhecer melhor cada etapa do processo digestivo e fazer avaliação mais detalhada dos alimentos.

Ao trabalharem com feno de capim-gordura (Melinis minutiflora) e níveis de concentrado de 40 e 60%, BATISTA et al. (1983) não encontraram diferença para as digestibilidades ruminais e intestinais da MS, MO e PB. Contudo, ANDRADE (1992), utilizando feno de capim-gordura (Melinis minutiflora) e níveis de 20 e 60% de concentrado, observou maior digestão ruminal da MS para o menor nível de concentrado, verificando que, do total da MS digestível, 62,3% foram digeridas no rúmen. Esse autor verificou que a ração com maior nível de concentrado foi mais digerida no intestino delgado e, em média, 7,95% da MS digestível foram fermentadas no intestino grosso.

Segundo BERCHIELLI (1994), ao se aumentar o nível de concentrado de uma ração, há redução na digestibilidade ruminal, com conseqüente aumento na digestão pós-ruminal da MS, devido à maior taxa de passagem, quando se utilizam dietas com altos níveis de concentrado.

O presente trabalho foi conduzido com o objetivo de se avaliarem em novilhos Nelore o efeito dos níveis de concentrado nas rações, sobre os consumos e as digestibilidades aparentes totais e parciais de MS, MO, PB, EE, carboidratos totais (CHO), FDN e carboidratos não-estruturais (CNE), e o efeito entre as coletas realizadas durante o dia e a noite, para as digestibilidades aparentes totais e parciais da MS e MO.

Material e Métodos

O experimento foi conduzido nas dependências do Departamento de Zootecnia (DZO) da Universidade Federal de Viçosa, em Viçosa, MG.

Foram utilizados quatro novilhos Nelore, não-castrados, com peso vivo médio inicial de 244,6 kg, distribuídos em delineamento de blocos casualizados, sendo cinco níveis de concentrados (tratamentos), quatro animais (blocos) e cinco períodos experimentais.

Os animais foram fistulados no rúmen, abomaso e íleo, segundo as técnicas descritas por LEÃO e COELHO DA SILVA (1980), sendo mantidos no Laboratório de Animais do DZO, em regime de confinamento, em baias individuais, cobertas, com 3 x 3 m de área, providas de comedouro de concreto e bebedouro automático.

Os tratamentos foram constituídos de fenos de capim braquiária (Brachiaria decumbens, Stapf) e coast-cross (Cynodon dactylon), em proporções iguais, e concentrado (fubá de milho, farelo de soja, uréia e minerais), cujos níveis nas rações foram, em porcentagem, de 25,0; 37,5; 50,0; 62,5; e 75,0. As rações foram balanceadas de acordo com o Cornell Net Carbohydrate and Protein System (CNCPS), citado por BARRY et al. (1994).

As proporções dos ingredientes nos concentrados estão na Tabela 1. A composição química dos concentrados e fenos encontra-se na Tabela 2 e a composição das rações, na Tabela 3.

Os cinco períodos tiveram duração de 14 dias cada, sendo utilizados 10 dias para adaptação e quatro dias para coletas de fezes e digesta de abomaso e íleo. Os animais foram pesados no início e final de cada período experimental. Para determinar o consumo, foram realizadas, diariamente, as pesagens e amostragens dos alimentos e das sobras. A quantidade de ração fornecida diariamente foi calculada para permitir sobras de aproximadamente 10%. Do feno fornecido, foram feitas amostras compostas por período; do concentrado, por tratamento; e das sobras por animal em cada período. As amostras foram armazenadas a -5ºC para posteriores análises.

Para determinação das digestibilidades, foi utilizado o óxido crômico como indicador externo, que foi introduzido diretamente na fístula ruminal em duas doses diárias de 10 g cada, durante os últimos sete dias do período de adaptação e nos quatro dias de coletas, às 8h30 e 16h30. As coletas de fezes, abomaso e íleo foram efetuadas a intervalos de oito horas, com intervalo de seis horas entre dias, de forma que no final de quatro dias fossem obtidas 12 amostras de fezes e digestas de abomaso e íleo, por animal, conforme metodologia descrita por CALSAMIGLIA et al. (1995). O esquema foi o seguinte: dia 1, coletas às 8, 16 e 24 h; dia 2, coletas às 6, 14 e 22 h; dia 3, coletas às 4, 12 e 20 h; e dia 4, coletas às 2, 10 e 18 h.

As amostras de fezes, abomaso e íleo foram guardadas em congelador, sendo ao final de cada período experimental pré-secas em estufa a 65ºC e moídas. Uma amostra composta foi elaborada para o período do dia (6-16 h) e da noite (18-4 h), por animal, com base no peso seco.

Os teores de MS, MO, compostos nitrogenados totais (N), EE, FDN e cromo foram determinados conforme técnica descrita por SILVA (1990), enquanto a PB = N x 6,25.

Os CHO foram calculados de acordo com SNIFFEN et al. (1992): 100 - (%PB + %EE + % Cinzas). De acordo com esses autores, foram obtidos os teores de carboidratos não-estruturais (CNE) pela diferença entre CHO e FDN.

Os teores de NDT e energia metabolizável das rações foram calculados segundo SNIFFEN et al. (1992).

Os dados de consumo e digestibilidade foram avaliados por meio de análises de variância e regressão, utilizando-se o programa SAEG (Sistema de Análises Estatísticas e Gerenciais).

O modelo estatístico empregado foi:

em que

Yij = valor observado na parcela relativa ao tratamento i no bloco j;

m = média geral;

ti = efeito do tratamento i;

bj = efeito do bloco j;

eij = efeito dos fatores não-controlados;

i = 25,0; 37,5; 50,0; 62,5; e 75% de concentrado na ração; e

j = animais utilizados no experimento.

Resultados e Discussão

Os resultados referentes aos consumos médios de MS, MO, FDN, NDT, CHO, CNE, EE e PB, bem como as equações de regressão e os coeficientes de variação e determinação, são encontrados na Tabela 4. Houve aumento linear no consumo de MS, independente de ser expresso em kg/dia, %PV ou g/kg0,75. Este aumento no consumo de MS, em função do aumento nos níveis de concentrado nas rações, pode ter ocorrido em virtude da menor quantidade de FDN ingerida, quando os animais receberam dietas com altos níveis de concentrado. Assim, pode-se predizer que o consumo foi limitado, quando os animais foram submetidos a dietas com mais baixo teores de concentrado, devido ao enchimento do rúmen, em decorrência dos aumentos nos níveis de fibra. Estes dados refletem os resultados obtidos por ANDRADE (1992) e RODRIGUEZ (1994), mas são diferentes dos de CARVALHO (1996), que não encontrou efeito do aumento dos níveis de concentrado nas rações sobre o consumo de MS.

Os consumos de MO e NDT aumentaram linearmente, à medida que se elevaram os níveis de concentrado na ração, enquanto o de FDN apresentou decréscimo linear, independente de ser expresso em kg/dia, %PV ou g/kg0,75. No tratamento com 25% de concentrado, o consumo de FDN, em porcentagem de peso vivo, foi de 1,12%, valor este muito próximo do valor ótimo sugerido, para vacas em lactação, por MERTENS (1992), que é de 1,20%. No tratamento com 75%, o consumo de FDN foi de 1,64 kg, o que, segundo o NRC (1996), está aquém da necessidade do animal, que é de 1,94 kg. Mesmo considerando o alto teor de concentrado na ração, não se verificou distúrbio metabólico nos animais.

Os consumos de CHO, CNE, EE e PB tiveram efeito linear positivo em função dos níveis de concentrado na dieta, o que pode ser explicado pelo maior consumo de MS, quando os animais receberam rações com maiores quantidades de concentrado. Além disso, as rações que continham mais concentrado também apresentaram maiores teores de PB, EE e CNE (Tabela 3).

Os dados referentes à comparação entre as digestibilidades aparentes totais e parciais da MS e MO nos períodos de dia (6-16 h) e noite (18-4 h) são encontrados na Tabela 5. Observa-se que não houve diferença nas digestibilidades aparentes calculadas em função das amostras obtidas nos períodos diurno e noturno. Em decorrência disso, as amostras que eram separadas por dia e noite foram misturadas, resultando assim em amostra composta por animal e tratamento, para as demais análises. De acordo com estes resultados, pode-se inferir que somente a realização de coletas durante o dia seria suficiente para se obterem amostras representativas das fezes e digestas de abomaso e íleo.

Os coeficientes de digestibilidades aparentes totais e parciais da MS e MO estão na Tabela 6. Houve efeito quadrático para as digestibilidades aparentes totais da MS e MO, em que os valores mínimos foram estimados em 67,27 e 68,31%, com 36,71 e 41,5% de concentrado nas rações, respectivamente.

Mesmo apresentando efeito quadrático com ponto de mínimo, as digestibilidades aparentes encontradas tiveram valores altos, em relação ao consumo de ração (NRC, 1996). TIBO et al. (1997) também encontraram efeito quadrático em novilhos Simental x Nelore alimentados com os mesmos níveis de concentrado. Já RODRIGUEZ (1994) encontrou efeito linear para os coeficientes de digestibilidade aparente da MS em função dos níveis de concentrado.

Não houve efeito dos níveis de concentrado para as digestibilidades ruminais da MS e MO, observando-se valores médios de 63,35 e 71,42%, respectivamente. BATISTA et al. (1983), BERCHIELLI (1994), DUTRA (1996), CARVALHO (1996) e TIBO et al. (1997) também não encontraram efeito dos níveis de concentrado sobre a digestão ruminal da MS. Em relação à digestão ruminal da MO, ANDRADE (1992), ao submeter novilhos a dietas que continham 20 e 60% de concentrado, verificou que a taxa de digestão nos animais, cuja dieta era constituída de 20% de concentrado, foi de 67,49%, portanto, mais elevada que a taxa de digestão de 60,02% dos animais alimentados com 60% de concentrado. CECAVA et al. (1991) encontraram maior quantidade de matéria orgânica fermentada no rúmen, nos animais alimentados com rações que continham maiores níveis de concentrado; contudo, DUTRA (1996) não verificou diferença na digestão ruminal da MO, em função do teor de FDN nas rações.

As digestibilidades aparentes da MS e MO no intestino delgado aumentaram linearmente com os níveis de concentrado, o que pode ser explicado pela maior quantidade de CNE presente nas rações com maiores níveis de concentrado. Contudo, DUTRA (1996) e CARVALHO (1996) não encontraram efeito dos níveis de concentrado nas digestibilidades intestinais da MS e MO.

As digestibilidades aparentes da MS e MO no intestino grosso apresentaram decréscimo linear, ou seja, o contrário do que ocorreu no ID, devido, possivelmente, à maior quantidade de carboidratos estruturais presentes nas rações com menores níveis de concentrado.

As relações entre NDT e FDN e a digestibilidade total da matéria seca (DIGTMS) e FDN foram avaliadas por intermédio de equações de regressão, sendo obtidas as seguintes equações: NDT = 87,108 - 0,339 FDN (r2 = 0,88; P<0,01) e DIGTMS = 84,404 - 0,284 FDN (r2 = 0,72; P<0,05). Estas equações mostraram que, à medida que se reduziu o teor de FDN, ocorreu aumento linear, tanto para NDT quanto para a DIGTMS, e também possibilitaram a estimativa do valor energético das rações, a partir do conhecimento do teor de FDN das mesmas.

Os coeficientes de digestibilidade aparente total e parcial da PB e EE são encontrados na Tabela 7. Houve aumento linear para a digestibilidade aparente total da PB e efeito quadrático para a do EE, em que a digestibilidade mínima de 58,20% foi estimada para nível de 32,7% de concentrado. Estes dados diferem dos de alguns autores, que não observaram efeito dos níveis de concentrados sobre as digestibilidades aparentes da PB (ANDRADE, 1992; RODRIGUEZ, 1994; e CARVALHO, 1996) e do EE (OKAMOTO et al., 1985 e CARVALHO, 1996).

A digestibilidade de PB no rúmen apresentou efeito linear, em que, para os maiores níveis de concentrado, as perdas de proteína no rúmen foram maiores. Segundo CARVALHO (1996), isto significa que houve absorção de amônia no rúmen. Os resultados negativos para os tratamentos com 25 e 37,5% de concentrado podem significar pequena deficiência dietética de proteína degradável no rúmen (PDR).

As perdas ruminais de proteína ocorridas nos animais que receberam rações com 50,0; 62,5; e 75,0% de concentrado podem ser oriundas do excesso de PDR na ração. Vale ressaltar que as rações não foram isoprotéicas (Tabela 3).

Foi encontrado efeito quadrático para a digestibilidade aparente ruminal do EE. Os valores negativos para a digestão do EE podem ser conseqüência da síntese de lipídeos microbianos.

No intestino delgado (ID) foram encontrados aumentos lineares nos coeficientes de digestibilidade da PB e do EE. LIMA (1986) também verificou maior digestão de PB no ID para bovinos alimentados com rações que continham 60% de concentrado, todavia, BATISTA et al. (1983) e CARVALHO (1996) não observaram diferenças entre níveis de concentrado. Os valores encontrados para PB estão próximos aos 65% para nitrogênio não-amoniacal e 68% para aminoácidos apresentados pelo NRC (1985) e também aos 70% para a proteína apresentados pelo ARC (1984). Os valores observados para o EE são menores que o valor de 95% sugerido por SNIFFEN et al. (1992).

No intestino grosso houve decréscimo linear nos coeficientes de digestibilidade da PB, em função dos níveis de concentrado, o que difere do observado por CARVALHO (1996), que não encontrou efeito.

Não houve efeito dos níveis de concentrado (P>0,05) sobre os coeficientes de digestibilidade do EE no intestino grosso, em que a média foi de 15,10%.

Os coeficientes de digestibilidades aparentes totais e parciais de FDN e CHO estão contidos na Tabela 8. Foi encontrado efeito quadrático para a digestibilidade aparente total da FDN em relação aos níveis de concentrado, em que a digestibilidade mínima estimada foi de 53,69% para nível de 56,05% de concentrado. Redução na digestibilidade da FDN deveria ocorrer com o aumento dos níveis de concentrado, em virtude, provavelmente, da menor digestão ruminal. Para os CHO, houve aumento linear, à medida que se aumentou o nível de concentrado nas rações.

A digestibilidade ruminal da FDN apresentou decréscimo linear, com o aumento dos níveis de concentrado, o que pode ser explicado pelo fato de a utilização de níveis elevados de concentrado reduzir o pH e, conseqüentemente, a digestão ruminal da FDN. A digestão ruminal dos CHO não sofreu efeito em relação aos níveis de concentrado, sendo que a média foi de 85,06%. Possivelmente, a redução na digestão ruminal da FDN foi compensada pelo aumento na digestão dos CNE nesse compartimento gástrico.

No intestino delgado a digestibilidade da FDN não foi influenciada pelos níveis de concentrado, enquanto os CHO foram mais digeridos, devido à maior quantidade de CNE, à medida que se aumentaram os níveis de concentrado.

Em média, a digestibilidade da FDN no intestino delgado foi de -16,67%, podendo indicar algum erro na estimativa dos fluxos da matéria seca, pois seria esperado valor próximo de zero.

No intestino grosso, a digestibilidade aparente da FDN decresceu linearmente, o que sugere mudança na população microbiana. Para os carboidratos totais foi encontrado efeito quadrático, em que a digestibilidade mínima estimada foi de 10,30% para o nível de 61,64% de concentrado na ração; comportamento similar ao encontrado por CARVALHO (1996).

Conclusões

Os consumos de MS, MO e NDT aumentaram e o de FDN decresceu linearmente com o aumento dos níveis de concentrado nas rações.

As digestibilidades aparentes totais de MS e MO mínimas de 67,27 e 68,31% foram estimadas com 36,71 e 41,5% de concentrado nas rações, respectivamente.

As digestibilidades aparentes da MS e MO no rúmen, não foram influenciadas nos diferentes níveis de concentrado, em que as médias foram 63,35 e 71,42%, respectivamente.

O aumento de concentrado nas rações reduziu a digestão ruminal da FDN.

Não houve diferenças para as digestibilidades aparentes totais e parciais da MS e MO obtidas em coletas realizadas durante o dia e a noite. Dessa forma, pode-se inferir que somente a realização de coletas durante o dia seria suficiente para se obterem amostras representativas das fezes e digestas.

Recebido em: 08/05/98

Aceito em: 19/09/98

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    Parte da Tese apresentada à UFV para obtenção do título "Magister Scientiae". Projeto financiado pelo FINEP/CNPq.
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      07 Fev 2013
    • Data do Fascículo
      Abr 1999

    Histórico

    • Aceito
      19 Set 1998
    • Recebido
      08 Maio 1998
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