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Degradabilidade in situ da matéria seca, proteína bruta e fibra em detergente neutro do capim-furachão (Panicum repens, L.) submetido à adubação e em diferentes idades de corte

In situ degradabilities of dry matter, crude protein and neutral detergent fiber of furachão grass (Panicum repens, L.) under fertilization and cutting ages

Resumos

O objetivo deste estudo foi avaliar as degradabilidades potencial e efetiva da matéria seca (MS), proteína bruta (PB) e fibra em detergente neutro (FDN) do capim-furachão (Panicum repens, L.) em diferentes idades de corte (15, 30, 45, 60 e 75 dias) sob presença ou ausência de adubação. As taxas de passagem das fases líquida e sólida da digesta foram também avaliadas. Cinco bovinos machos, 7/8 Holandês/Zebu, entre 30 e 36 meses de idade, com média de 545 kg PV foram distribuídos em delineamento em quadrado latino em esquema de subparcelas. As parcelas foram as cinco idades de corte; as subparcelas, os dois níveis de adubação; e as subsubparcelas, os seis tempos de incubação. Idade de corte, adubação, tempo de incubação e interações entre idade e adubação e entre tempo de incubação e adubação influenciaram a degradabilidade ruminal da MS, PB e FDN. A degradabilidade potencial da MS aumentou com o tempo de incubação. A adubação melhorou e as idades de corte reduziram a degradabilidade efetiva da MS, PB e FDN. As taxas de degradação da matéria seca variaram de 0,0481 a 0,0299h-1.

adubação; capim-furachão; degradabilidade; idade de corte


The objective of this study was to evaluate the potential and effective degradabilities of the dry matter (DM), crude protein (CP) and neutral detergent fiber (NDF) of furachão grass (Panicum repens, L) in different cutting ages (15, 30, 45, 60 and 75 days) with the presence or absence of fertilization. The passage rates of liquid and solid digesta phases were also determined. Five male 7/8 Holstein x Zebu cattle from 30 to 36 months of age, with 545 kg LW were allotted into a latin square design, in a split plot arrangement. The whole plot was the five cutting ages; the split plots, the two levels of fertilization; and the split split plots, the six incubation time. Cutting ages, fertilization, incubation times and the interactions between cutting ages and fertilization and between incubation time and fertilization affected the ruminal degradabilities of DM, PB and NDF. The potential DM degradability increased with the incubation time. The fertilization increased and cutting age decreased the effective degradabilities of DM, CP and NDF. The dry matter degradation rates ranged from .0481 to .0299 h-1.

fertilization; furachão grass; degradability; cutting age


RUMINANTES

Degradabilidade in situ da matéria seca, proteína bruta e fibra em detergente neutro do capim-furachão (Panicum repens, L.) submetido à adubação e em diferentes idades de corte* * Parte da Dissertação de Mestrado apresentada pelo primeiro autor à Universidade Estadual do Norte Fluminense (UENF), Campos dos Goytacazes, RJ.

In situ degradabilities of dry matter, crude protein and neutral detergent fiber of furachão grass (Panicum repens, L.) under fertilization and cutting ages

Rogério da Silva AguiarI; Hernán Maldonado VásquezII; José Fernando Coelho da SilvaIII

IZootecnista, UENF, MS em Produção Animal, CCTA, UENF

IIDocente LZNA, CCTA, UENF - E-mail hernan@uenf.br

IIIDocente LZNA, CCTA, UENF, Av. Alberto Lamego 2000, 28015-620 Campos dos Goytacazes, RJ. Bolsista do CNPq

RESUMO

O objetivo deste estudo foi avaliar as degradabilidades potencial e efetiva da matéria seca (MS), proteína bruta (PB) e fibra em detergente neutro (FDN) do capim-furachão (Panicum repens, L.) em diferentes idades de corte (15, 30, 45, 60 e 75 dias) sob presença ou ausência de adubação. As taxas de passagem das fases líquida e sólida da digesta foram também avaliadas. Cinco bovinos machos, 7/8 Holandês/Zebu, entre 30 e 36 meses de idade, com média de 545 kg PV foram distribuídos em delineamento em quadrado latino em esquema de subparcelas. As parcelas foram as cinco idades de corte; as subparcelas, os dois níveis de adubação; e as subsubparcelas, os seis tempos de incubação. Idade de corte, adubação, tempo de incubação e interações entre idade e adubação e entre tempo de incubação e adubação influenciaram a degradabilidade ruminal da MS, PB e FDN. A degradabilidade potencial da MS aumentou com o tempo de incubação. A adubação melhorou e as idades de corte reduziram a degradabilidade efetiva da MS, PB e FDN. As taxas de degradação da matéria seca variaram de 0,0481 a 0,0299h-1.

Palavras-chave: adubação, capim-furachão, degradabilidade, idade de corte

ABSTRACT

The objective of this study was to evaluate the potential and effective degradabilities of the dry matter (DM), crude protein (CP) and neutral detergent fiber (NDF) of furachão grass (Panicum repens, L) in different cutting ages (15, 30, 45, 60 and 75 days) with the presence or absence of fertilization. The passage rates of liquid and solid digesta phases were also determined. Five male 7/8 Holstein x Zebu cattle from 30 to 36 months of age, with 545 kg LW were allotted into a latin square design, in a split plot arrangement. The whole plot was the five cutting ages; the split plots, the two levels of fertilization; and the split split plots, the six incubation time. Cutting ages, fertilization, incubation times and the interactions between cutting ages and fertilization and between incubation time and fertilization affected the ruminal degradabilities of DM, PB and NDF. The potential DM degradability increased with the incubation time. The fertilization increased and cutting age decreased the effective degradabilities of DM, CP and NDF. The dry matter degradation rates ranged from .0481 to .0299 h-1.

Key Words: fertilization, furachão grass, degradability, cutting age

Introdução

O estádio de crescimento do pasto é fator importante quando se pretende determinar a digestibilidade e o teor de proteína bruta da forrageira. Estudos desenvolvidos por ARMSTRONG (1982) mostraram que altas taxas de ganho de peso por animal são limitadas não somente pela baixa digestibilidade do material ingerido, como também pela quantidade de forragem disponível na pastagem. O manejo das pastagens torna-se importante, então, para que haja melhor utilização das forrageiras, pois estas, à medida que amadurecem, tendem a aumentar a quantidade da parede celular e diminuir sua digestibilidade, devido a sua mais rápida maturação e maior diversidade morfológica entre folhas e colmos (BARBI, 1991). O aumento na disponibilidade de forragem favorece o pastejo seletivo, com conseqüente aumento do consumo pelo animal, permitindo que maior produção por animal possa ser alcançada. Uma das principais formas de avaliação do valor nutritivo de forrageiras tropicais é o uso da técnica de degradabilidade in situ, uma vez que a parte solúvel da matéria seca da gramínea apresenta potencialmente 100% de digestibilidade e a parede celular, potencial de degradação mais baixo (VAN SOEST,1967).

A técnica do saco de náilon contendo substratos incubados no rúmen para estudos de degradação da fibra não é nova. Atualmente esta técnica tem sido bastante utilizada e amplamente aceita em função de rapidez na sua execução, baixo custo e boa precisão dos resultados (GOMES, 1991). Além disso, diversos trabalhos têm utilizado esta técnica para medir o desaparecimento de componentes fibrosos e nitrogenados dos alimentos (ØRSKOV e McDONALD, 1979).

Estudando a degradabilidade ruminal de nove forrageiras em oito tempos de incubação, SINGH et al. (1989) encontraram variação de 5,3 a 24,2% na degradabilidade da matéria seca, no tempo de 3 horas de fermentação ruminal, sendo que o maior aumento foi de 9,6 a 75,7% entre os tempos 3 e 96 horas, respectivamente.

Com o objetivo de estimar as degradações ruminais efetivas da matéria seca, proteína bruta e fibra em detergente neutro do capim-elefante (Pennisetum purpureum Schum var. napier) em diferentes idades de corte, VIEIRA et al. (1996) concluíram que a altura da planta influenciou (P<0,05) a degradabilidade efetiva da MS e FDN, sendo máxima com, aproximadamente, 160 cm de altura entre 60 e 80 dias de crescimento. Por outro lado, BALSALOBRE et al. (1996), avaliando a digestibilidade in situ de amostras em um pastejo simulado de capim-elefante, concluíram que não houve diferença na digestibilidade da MS e FDN entre os períodos de coleta.

O objetivo do presente trabalho foi avaliar o efeito da adubação sobre as degradabilidades potenciais e efetivas da matéria seca, proteína bruta e fibra em detergente neutro do capim-furachão nas idades de corte de 15, 30, 45, 60 e 75 dias.

Material e Métodos

A incubação ruminal foi feita nas dependências do Colégio Agrícola Antônio Sarlo - Laboratório de Zootecnia e Nutrição Animal - UENF, utilizando-se bovinos machos 7/8 Holandês/Zebu, com cânula ruminal, idade entre 30 e 36 meses e peso médio de 545 kg.

O período de adaptação foi de 15 dias, durante o qual os animais foram alimentados com uma dieta composta de 75% de capim-elefante e 25% de feno de capim-colonião (Panicum maximum Jacq. Cv. Colonião), fornecidos duas vezes ao dia (às 8 e 17 h), tendo água e sal mineral à vontade. A proporção da mistura foi sendo modificada até atingir 100% de feno de capim-colonião.

Para a incubação ruminal utilizaram-se sacos de náilon de tamanho 14 x 6,5 cm e 50 µm de abertura de poro, que foram identificados e levados a estufa a 105ºC por uma noite, sendo pesados imediatamente. A seguir, foram colocados, em cada um dos sacos, 3,5 g de amostra moída em moinho com peneira 5 mm, utilizando-se três repetições. Antes de serem incubados no rúmen, os sacos foram colocados em um balde com água morna por 10 minutos. Os tempos de incubação no rúmen foram 6, 12, 24, 48 e 72 horas, sendo que o tempo zero não foi incubado, mas colocado no mesmo balde e lavado em água corrente.

Em cada tempo de incubação, foram retirados seis sacos (três de cada tratamento) de cada animal e colocados em um balde com água fria por 10 minutos, com o objetivo de cessar a atividade microbiana. Em seguida, foram armazenados em congelador e, posteriormente, transportados ao laboratório para análise, onde foram exaustivamente lavados até que fossem removidas todas as partículas aderidas à superfície e obtida água de lavagem clara, sem material em suspensão. Logo após a lavagem, os sacos foram colocados, durante uma noite, em estufa (85ºC) com circulação forçada de ar e pesados ainda quentes.

A perda de peso observada na MS, PB e FDN, em cada tempo de incubação, foi considerada como degradabilidade potencial (Dp). Os dados foram ajustados por intermédio do modelo matemático: Dp = a + b (1 - e-ct), proposto por MEHREZ e ØRSKOV (1977), em que "Dp" é a quantidade de nutriente degradado no tempo "t"; "a", a fração rápidamente solúvel em água; "b", a fração insolúvel em água, mas potencialmente digestível; e "c", a taxa de degradação da fração "b".

Para o cálculo da degradabilidade efetiva (De), foi utilizada a equação de ØRSKOV e McDONALD (1979): De = a + (bc)/ c + k, em que k é a taxa de passagem.

Para se determinar a taxa de passagem da digesta pelo rúmen, foram utilizados dois indicadores externos, um de fase líquida, o Cobalto-EDTA, e um de fase sólida, o cromo mordante (ÚDEN et al., 1980).

Após o término do período de incubação ruminal e imediatamente antes do fornecimento do alimento, foram oferecidos, a três animais, em dose única, 5 g de Co-EDTA diluídos em 400 mL de água destilada introduzidas no rúmen, por meio da fístula ruminal, com auxílio de um funil acoplado a uma mangueira de borracha.

A fibra mordantada foi colocada diretamente no rúmen na quantidade de 75 g por animal.

Amostras de 100 mL de fluido ruminal foram coletadas diretamente do rúmen nos tempos 0, 2, 4, 6, 8, 12, 24, 30, 36, 48, e 72 horas, após a colocação do indicador no rúmen, filtradas em gaze de algodão e acondicionadas em frascos de vidro, que foram colocados no congelador para posterior determinação da concentração de Co.

As amostras de sólidos ruminais foram coletadas, nos mesmos tempos utilizados para amostras de líquido ruminal, na porção medial do rúmen, em quantidade de aproximadamente 100 g, sendo colocadas, a seguir, para secar em estufa a 60ºC por 72 horas. Posteriormente foram moídas em moinhos com peneiras de 1 mm e acondicionadas em frascos de vidros.

O líquido ruminal foi centrifugado a 10.000 rpm durante 15 minutos e, posteriormente, o sobrenadante foi levado para dosagem de Co no espectrofotomêtro de absorção atômica.

O preparo das amostras e as determinações de matéria seca (MS), proteína bruta (PB), fibra em detergente neutro (FDN) e cromo (Cr) foram feitas conforme descritas por SILVA (1990).

Para se calcular as taxas de passagem de partículas e de líquido ruminal, utilizou-se regressão linear entre os tempos de coleta das amostras e o logaritmo natural das concentrações dos indicadores, em que as taxas de passagens foram consideradas como os coeficientes de inclinação (b) das equações de regressão, pois a diluição do cromo e do cobalto no rúmen tem comportamento que pode ser representado por uma função logarítmica, conforme descrito por GOMES (1991).

O delineamento experimental foi em quadrados latinos, montado em estrutura de parcelas subdivididas, sendo as análises estatísticas realizadas de acordo com o seguinte modelo:

em que

Yjklmn= observação relativa a linha (i) na coluna (j), adubação (l) no tempo (t), nas respectivas interações e na repetição n;

µ = média geral;

Li = efeito da linha i (período);

Cj = efeito da coluna j (animal);

Ik = efeito do nível k do fator idade de corte;

εijk= erro experimental da parcela;

Adl = efeito do nível l do fator Ad (adubação);

(IxAd)kl = efeito da interação fator I com do fator Ad;

εijkl= erro experimental da subparcela;

Tm = efeito do nível m do fator T (tempo de incubação);

(IxT)km= efeito da interação do fator I com o fator T;

(ADxT)lm = efeito da interação do fator Ad com fator T;

(IxAdxT)klj = efeito da interação do fator I com o fator Ad e com o fator T; e

εijklmn = erro experimental relativo a subsubparcela.

Foi realizada aleatorização entre os cinco animais e as cinco idades de corte da gramínea, sendo que, em cada período, foram incubadas em cada animal amostras de determinada idade de corte, sendo: T1 = 15 dias com adubo, T2 = 30 dias com adubo, T3 = 45 dias com adubo, T4 = 60 dias com adubo, T5 = 75 dias com adubo, T6 = 15 dias sem adubo, T7 = 30 dias sem adubo, T8 = 45 dias sem adubo, T9 = 60 dias sem adubo e T10 = 75 dias sem adubo. Assim, todos os tratamentos foram incubados em todos os animais em diferentes períodos (Tabela 1).

Alocaram-se as cinco idades de corte (15, 30, 45, 60 e 75 dias) nas parcelas principais; os níveis de adubação (adubado e não adubado), na sub parcela; e os tempos de incubação, na sub sub parcelas.

Os resultados foram interpretados, estatisticamente, por meio de análises de variância e regressão. As variáveis da equação da degradabilidade potencial foram analisadas pelo modelo não-linear e as médias do fator qualitativo foram comparadas pelo teste Tukey, em nível de 5% de probabilidade. Todos os cálculos foram realizados utilizando o Statistical Analysis System (SAS,1989).

Resultados e Discussão

Degradabilidade

A análise de variância (Tabela 2) permite verificar que houve efeito (P<0,05) do animal, da idade de corte, da adubação, do tempo de incubação e das interações entre idade de corte e adubação e entre tempo e idade de corte, para as degradabilidades da matéria seca (MS), proteína bruta (PB) e fibra em detergente neutro (FDN) do capim-furachão. As porcentagens da degradação da MS do capim-furachão, em função dos tempos de incubação no rúmen, presença ou ausência de adubação, e as estimativas dos coeficientes "a", "b" e "c" das equações ajustadas para as degradabilidades potenciais da MS do capim-furachão contam da Tabela 3. A degradabilidade potencial (Dp) aumentou (P<0,05) em função do tempo de incubação e diminuiu (P<0,05) em função da idade de corte.

Aos 60 dias de idade, com 24 horas de incubação, as porcentagens dos resíduos da degradação ruminal foram 44,69 e 43,81%, respectivamente, para com e sem adubação. BARBI (1991), aos 56 dias de idade e também com 24 horas de incubação, encontrou valores de 51,7; 48,6; 60; e 55,8%, respectivamente, para a degradabilidade dos capins andropogon (Andropogon gayanus Kunth), tobiatã (Panicum maximum Jacq. cv. Tobiatã), cameroon (Pennisetum purpureum, Schum. cv. cameroon) e jaraguá (Hyparrhenia rufa Ness.).

A Dp obtida aos 60 dias de idade de corte foi 63,73 e 65,14%, respectivamente, para o capim com e sem adubação. Estes valores foram inferiores aos encontrados por BERGAMASCHINE et al. (1994), que encontraram 81,20; 80,60; 75,10; e 68% respectivamente, para as gramíneas setária (Setaria anceps Stapf ex Massey), jaraguá, pangola (Digitaria decumbens Stent.) e grama-estrela (Cynodon nlemfuensis Vanderyst var. nlemfuensis). Provavelmente, a menor Dp observada no presente experimento tenha ocorrido em função do efeito da dieta consumida pelos animais fistulados, pois VILELA (1994), em um estudo de degradabilidade de vários alimentos em vacas alimentadas com diferentes rações, encontrou interação (P<0,05) entre as rações oferecidas aos animais e os alimentos incubados no rúmen, concluindo que a degradação de cada alimento pode ser influenciada pela ração ou que, para a mesma ração, ocorrem diferenças nas degradabilidades entre os alimentos.

Como pode ser observado na Tabela 4, a adubação melhorou (P<0,05) a Dp da MS, pois os valores da degradabilidade e dos parâmetros da equação foram maiores para as amostras do capim adubado. Pode-se concluir, então, que a adubação pode ter proporcionado aumento na relação folha:haste, tornando o material menos fibroso e, assim, melhorando a degradabilidade.

As taxas de passagem das fases líquida e sólida da digesta ruminal encontradas neste trabalho, quando os animais foram alimentados com feno de capim-colonião, foram 4,7 e 1,35%/h, respectivamente. O valor encontrado para taxa de passagem de sólidos ficou abaixo do nível estimado para animais em mantença, que é de 2,0%/h (AFRC, 1993), subestimando o valor nutritivo do capim em estudo. Este fato pode ter ocorrido em função da qualidade do feno de capim-colonião fornecido aos animais durante o período experimental.

Na Tabela 4, encontram-se os valores da degradabilidade efetiva (De) da matéria seca, em função das idades de corte, estimadas para as taxas de passagem de 2; 4,16; e 8%/h. O valor da taxa de passagem de 4,16%/h é um valor teórico, estimado em 24 horas de incubação ruminal (Cerda et al., 1989, citados por BARBI, 1991).

O valor médio de 38% para a De da matéria seca, aos 60 dias de idade, para a taxa de passagem de 0,0416 h-1 encontrada neste trabalho, foi semelhante aos descritos por BERGAMASCHINE et al. (1994), em estudo de degradabilidade in situ com gramíneas do gênero Brachiaria, ou seja: 38,50% para B. decumbens, 37,10% para B.brizantha e 35,60% para B. humidícola. Esses autores encontraram 35,4; 39,4; e 37,2%, respectivamente, para os capins colonião, andropógon e elefante.

Na Tabela 5 encontram-se os valores dos coeficientes "a", "b" e "c" das equações ajustadas para as Dp da proteína bruta, em função dos tempos de incubação, e para os tratamentos com e sem adubo. Os valores estimados para a fração "a" encontrados neste trabalho são maiores que os encontrados por MALAFAIA et al. (1997) de 17,38; 19,33 e 11,58%, para os capins tifton (Cynodon spp.), elefante e Brachiaria brizanta aos 60 dias de idade de corte, respectivamente. Isto se explica em virtude do valor da fração solúvel em água apresentado pelo capim-furachão. Esses autores encontraram para B. decumbens na mesma idade 32,28% para a fração "a", que foi semelhante à deste trabalho (Tabela 5). Já VILELA (1994) encontrou valor de 25,29% para fração "a" em capim-elefante, enquanto RIBEIRO et al. (1994), trabalhando com três gramíneas nativas do Rio Grande do Sul, encontraram valores de "a" na ordem de 23,55; 17,72; e 17,85% para P. notatum, A. lateralis e A . jubata, respectivamente.

O valor do parâmetro "b" estimado neste trabalho para degradabilidade potencial da PB do capim aos 60 dias de idade, com e sem adubo (Tabela 5), é menor que o descrito pelo AFRC (1993) de 0,57%, em média, para gramíneas com 55 a 60 dias de idade.

A adubação aumentou (P<0,05) a porcentagem da Dp da PB. Pode-se inferir que aos 15, 30 e 60 dias de idade os valores médios da degradabilidade foram superiores para as amostras do capim adubado e, à medida que aumentou a idade da planta, a degradabilidade diminuiu (Tabela 6).

Na Tabela 7, encontram-se os valores das De da proteína bruta estimadas para as taxas de passagem de 2; 4,16; e 8%/h. Os valores da De da PB para a taxa de passagem de 4,16%/h aos 60 dias, com ou sem adubação, encontrados neste trabalho, foram maiores que os descritos por BERGAMASCHINE (1994), de 33; 23; 44; 43,40; 30; 31,60; 25,70; e 37,70% para os capins setária, jaraguá, pangola, grama-estrela, B.decumbens, B.brizantha, B.humidícola e B.ruziziensis, respectivamente.

Os coeficientes "a", "b" e "c" das equações, ajustadas para as degradabilidades potenciais da fibra em detergente neutro, em função dos tempos de incubação, para os tratamentos com e sem adubo, encontram-se na Tabela 8. Em todas as idades de corte e na presença ou ausência de adubação, a fração solúvel da FDN medida no tempo zero encontradas neste trabalho foram próximas de zero. Portanto, assumiu-se, o valor zero para todas as idades. Os valores dos parâmetros "b" e "c" que determinam, respectivamente, a fração potencialmente degradável no rúmen e a taxa de degradação foram maiores para o capim adubado (P<0,05) aos 15, 30 e 60 dias de idade.

Conclui-se, então, que a adubação proporcionou melhor condição de crescimento do capim, aumentando a produção, melhorando a composição dos componentes da parede celular, tornando-o menos fibroso, favorecendo as condições ao ataque microbiano e, conseqüentemente, aumentando a degradabilidade potencial, como pode ser observado na Tabela 9.

Os valores de De da FDN, em função das idades de corte, encontram-se na Tabela 10. Pode-se observar que os valores da De diminuíram em função do aumento da idade de corte, fato decorrente do amadurecimento da forragem, que lhe confere maior teor de parede celular. A De diminuiu com o aumento da taxa de passagem, sendo observados menores valores da De para o capim sem adubação.

Para a taxa de passagem de 0,0416 h-1, encontrou-se o valor médio de 27%, para a De da FDN, superior ao descrito por TEIXEIRA et al. (1996), que trabalharam com napier (Pennisetum purpureum Schum var. napier) e encontraram valores entre 16,2 e 19,1%. No mesmo trabalho, esses autores encontraram para o FDN da B.brizantha De de 30,6%.

Conclusões

O potencial de degradação ruminal da MS, PB e FDN do capim-furachão variou com a idade de corte e a adubação.

A degradabilidade potencial da matéria seca aumentou em função do tempo de incubação.

A adubação melhorou a degradabilidade efetiva da matéria seca, proteína bruta e fibra em detergente neutro, as quais foram reduzidas com o aumento na idade do capim.

As taxas de degradação da matéria seca decresceram, de 15 a 75 dias de idade, de 0,0481 para 0,0229 e 0,0402 para 0,0327 h-1, respectivamente, para o capim adubado e não-adubado. Os respectivos decréscimos nas taxas de degradação da fibra em detergente neutro foram de 0,0447 para 0,0231 e 0,0357 para 0,0232.

As taxas de degradação da proteína bruta decresceram, no período de 15 a 60 dias de idade, de 0,0454 para 0,0307 e de 0,0419 para 0,0274, respectivamente, para o capim adubado e não-adubado.

Recebido em: 20/03/98

Aceito em: 03/02/99

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  • *
    Parte da Dissertação de Mestrado apresentada pelo primeiro autor à Universidade Estadual do Norte Fluminense (UENF), Campos dos Goytacazes, RJ.
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      10 Out 2012
    • Data do Fascículo
      Ago 1999

    Histórico

    • Recebido
      20 Mar 1998
    • Aceito
      03 Fev 1999
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