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Produção e composição químico-bromatológica do capim-furachão (Panicum repens L.) sob adubação e diferentes idades de corte

Production and chemical composition of furachão grass (Panicum repens L.) under fertilization and different cutting ages

Resumos

O objetivo deste trabalho foi avaliar a produção de matéria seca (MS) e a composição químico-bromatológica do capim-furachão (Panicum repens L.) em diferentes idades de corte (15, 30, 45, 60 e 75 dias), na presença e ausência de adubação. Para as análises de produção e composição química, utilizou-se delineamento em blocos casualizados, em um fatorial 5 x 2 (cinco idades de corte e dois níveis de adubação), com três repetições. A adubação proporcionou aumento na produção e redução nos teores de MS. Os teores de proteína bruta (PB) foram reduzidos com o avanço da idade da gramínea. Aos 60 dias, encontraram-se produções de 541,87 kg/ha de PB e 5343,92 kg/ha de MS e teores médios de FDN e FDA de 69,70 e 34,25% na MS, respectivamente. As idades de corte influíram nos teores de FDN e FDA, mas a adubação não influenciou os teores de FDN. Os teores de Ca não diferiram na presença ou ausência de adubação, com média de 0,13% na MS, e aumentaram com a idade de corte. Os teores de P diminuíram com o avanço da idade da gramínea, sendo o maior valor 0,22% na MS, na condição sem adubo.

adubação; capim-furachão; composição; produção


The objective of this work was to evaluate the dry matter (DM) yield and chemical composition of furachão grass (Panicum repens L.) at different cutting ages (15, 30, 45, 60 and 75 days), with and without fertilization. For the yield analysis and chemical aanalysis composition, a completely randomized block design in a 5 x 2 factorial arrangement (cutting ages and fertilization levels), with three replicates, was used. Fertilization increased DM produced and reduction in the DM contents. The crude protein (CP) contents decreased as the cutting ages increased. At 60 days, productions of 541,87 kg/ha CP and 5343.92 kg/ha DM and average neutral detergent fiber (NDF) and acid detergent fiber (ADF) contents of 69.7 and basis 34.25% in DM respectively were observed. The cutting ages affected the NDF and ADF average contents, but fertilization did not affect NDF contents. At 60 days of age the mean NDF and ADF contents were 69,70% e 34,25% on DM basis, respectively. The Ca contents were not affected by fertilization, with mean value of 0.13% in DM basis, and increased with the cutting age. The P contents reduced as the cutting ages of grass increased and the highest mean value was 0.22% on DM basis, in the without fertilization condition.

composition; fertilization; furachão grass; composition; production


Produção e Composição Químico-Bromatológica do Capim-Furachão (Panicum repens L.) sob Adubação e Diferentes Idades de Corte1 1 Parte da Dissertação de Mestrado apresentada pelo primeiro autor à Universidade Estadual do Norte Fluminense, Campos dos Goytacazes, RJ.

Rogério da Silva Aguiar2 1 Parte da Dissertação de Mestrado apresentada pelo primeiro autor à Universidade Estadual do Norte Fluminense, Campos dos Goytacazes, RJ. , Hernán Maldonado Vasquez3 1 Parte da Dissertação de Mestrado apresentada pelo primeiro autor à Universidade Estadual do Norte Fluminense, Campos dos Goytacazes, RJ. , José Fernando Coelho da Silva4 1 Parte da Dissertação de Mestrado apresentada pelo primeiro autor à Universidade Estadual do Norte Fluminense, Campos dos Goytacazes, RJ.

RESUMO - O objetivo deste trabalho foi avaliar a produção de matéria seca (MS) e a composição químico-bromatológica do capim-furachão (Panicum repens L.) em diferentes idades de corte (15, 30, 45, 60 e 75 dias), na presença e ausência de adubação. Para as análises de produção e composição química, utilizou-se delineamento em blocos casualizados, em um fatorial 5 x 2 (cinco idades de corte e dois níveis de adubação), com três repetições. A adubação proporcionou aumento na produção e redução nos teores de MS. Os teores de proteína bruta (PB) foram reduzidos com o avanço da idade da gramínea. Aos 60 dias, encontraram-se produções de 541,87 kg/ha de PB e 5343,92 kg/ha de MS e teores médios de FDN e FDA de 69,70 e 34,25% na MS, respectivamente. As idades de corte influíram nos teores de FDN e FDA, mas a adubação não influenciou os teores de FDN. Os teores de Ca não diferiram na presença ou ausência de adubação, com média de 0,13% na MS, e aumentaram com a idade de corte. Os teores de P diminuíram com o avanço da idade da gramínea, sendo o maior valor 0,22% na MS, na condição sem adubo.

Palavras-chave: adubação, capim-furachão, composição, produção

Production and Chemical Composition of Furachão Grass (

Panicum repens L.) under Fertilization and Different Cutting Ages

ABSTRACT -The objective of this work was to evaluate the dry matter (DM) yield and chemical composition of furachão grass (Panicum repens L.) at different cutting ages (15, 30, 45, 60 and 75 days), with and without fertilization. For the yield analysis and chemical aanalysis composition, a completely randomized block design in a 5 x 2 factorial arrangement (cutting ages and fertilization levels), with three replicates, was used. Fertilization increased DM produced and reduction in the DM contents. The crude protein (CP) contents decreased as the cutting ages increased. At 60 days, productions of 541,87 kg/ha CP and 5343.92 kg/ha DM and average neutral detergent fiber (NDF) and acid detergent fiber (ADF) contents of 69.7 and basis 34.25% in DM respectively were observed. The cutting ages affected the NDF and ADF average contents, but fertilization did not affect NDF contents. At 60 days of age the mean NDF and ADF contents were 69,70% e 34,25% on DM basis, respectively. The Ca contents were not affected by fertilization, with mean value of 0.13% in DM basis, and increased with the cutting age. The P contents reduced as the cutting ages of grass increased and the highest mean value was 0.22% on DM basis, in the without fertilization condition.

Key Words: composition, fertilization, furachão grass, composition, production

Introdução

A atividade pecuária na Região Norte Fluminense é predominantemente extensiva e as pastagens são a principal fonte de alimento para os ruminantes, sendo sensivelmente mais econômica em relação aos concentrados. No entanto, as gramíneas tropicais, à medida que amadurecem, diminuem drasticamente o seu teor protéico e aumentam o seu teor de fibra. Em função disso, são responsáveis pela baixa produção de carne e leite, por não atenderem à demanda dos animais nestes nutrientes em determinadas épocas do ano.

Somando estes fatos ao crescente aumento do rebanho da região e à necessidade de melhorar os sistemas de exploração pecuária em regime de pasto, torna-se necessário avaliar a qualidade da alimentação fornecida aos ruminantes, buscando informações sobre espécies forrageiras que poderão atender estas necessidades. Existe grande número de gramíneas com potencial forrageiro na região, mas para o sucesso na escolha das espécies para formação e utilização das pastagens, torna-se necessário o conhecimento de fatores como tipo de solo, clima da região e práticas de manejo que permitam o estabelecimento e a persistência da espécie escolhida.

Avaliando espécies forrageiras nativas e exóticas da região do Pantanal Mato-Grossense, entre elas Panicum repens L., COMASTRI FILHO (1994) encontrou diferenças nas produções de matéria seca (MS) e entre as espécies analisadas nas diferentes idades de corte.

Estudos realizados por ROSA (1982), com Brachiaria decumbens Stapf e Brachiaria ruziziensis, e COSTA (1995), com Brachiaria brizantha cv. Marandu, em diferentes idades de corte, com adubação e correção do solo, evidenciaram incremento (P<0,05) na produção de MS, com o aumento da idade da planta.

VALENTIM (1996), trabalhando com 12 acessos de Brachiaria spp no Estado do Acre, encontrou diferenças entre os acessos em relação à produtividade de biomassa de folhas, talos e total. Já SANTOS (1973) não encontrou diferença entre as produções de MS de seis gramíneas no município de Corumbá, Mato Grosso, porém houve aumento nos rendimentos de MS, em função da adubação e da idade de corte.

Diferenças entre os teores de proteína bruta (PB) de seis gramíneas, na presença ou ausência de adubação, bem como interações de adubação, espécie e idade de corte, foram observadas por SANTOS (1973). Na presença de adubo, os valores de PB aumentaram em todas as espécies e variaram de 4,0 a 6,8%, contudo o efeito da adubação sobre os seus teores variou do primeiro para o segundo corte.

ALCÂNTARA et al. (1996) encontraram decréscimo nos valores percentuais de PB e acréscimo nos teores de fibra bruta, com o avanço da idade dos 30 aos 270 dias, na MS das espécies Brachiaria brizantha cv. Marandu, Paspalum coryphaeum e Heteropogon sp., em trabalho realizado em Nova Odessa - SP.

RODRIGUEZ et al. (1994), trabalhando com três espécies de gramíneas no triângulo mineiro, não encontraram diferenças nos teores de FDN entre as gramíneas Pennisetum purpureum Schum cv. Napier e B. brizantha, com médias de 71,52 e 70,75%, respectivamente, e ambas diferindo significativamente do Panicum maximum Jacq., com média de 75,34% de FDN. Comportamento semelhante foi verificado para os teores médios de FDA, que foram de 43,13; 41,31; e 47,60%, respectivamente. Também, valores semelhantes foram encontrados por EUCLIDES et al. (1996), estudando as gramíneas P. maximum (cvs. Colonião, Tobiatã e Tanzânia), B. decumbens e B. brizantha cv. Marandu sob pastejo, quando observaram diferenças significativas nos teores de FDN das folhas e da planta inteira, nas cinco gramíneas estudadas.

Analisando os teores de cálcio (Ca) e fósforo (P) em sete espécies forrageiras nativas e exóticas, COMASTRI FILHO (1994) encontrou diferenças entre as médias dos teores de Ca, que variaram entre 0,13 e 0,25% na MS e 0,11 e 0,15% nos teores de P. Resultados semelhantes foram observados por SANTOS (1973), que encontrou diferenças significativas entre os teores de P de seis gramíneas, em função da presença de adubo, do efeito da idade de corte e da espécie forrageira estudada. O mesmo autor, analisando os teores de Ca, encontrou diferenças entre as espécies e idades de corte.

O objetivo deste estudo foi avaliar o efeito de adubação e idade de corte sobre a produção e a composição químico-bromatológica do capim-furachão (Panicum repens L.).

Material e Métodos

O trabalho foi realizado na Fazenda Barra do Sul, situada no município de Campos (latitude 21º 48'' S, longitude 41º 20'' W e altitude de 11 m), região fisiográfica do norte do Estado do Rio de Janeiro (UNIVERSIDADE ESTADUAL DO NORTE FLUMINENSE - UENF, 1996). A região é classificada, segundo Köppen, como tropical chuvosa de clima de bosque (AW), com precipitação média anual de 1023 mm. Os valores de precipitação pluviométrica relativos ao período experimental estão apresentados na Tabela 1.

O solo da área experimental foi classificado como Glay Pouco Húmico Tiomórfico e textura muito argilosa e os resultados de análise química do solo realizadas na UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO - UFRRJ, Campus Dr. Leonel Miranda, estão apresentados na Tabela 2.

Em 20/03/95, foi feito o rebaixamento do capim-furachão da área experimental por meio de corte com roçadeira mecânica; em seguida, demarcaram-se os blocos e as parcelas. A área total do experimento foi de 700 m², constituída por 30 parcelas de 8 m² (4 x 2 m) e separadas entre si por ruas de 1 m. Eliminaram-se 0,50 m de bordaduras nas laterais e 1,0 m nas extremidades de cada parcela, resultando em área útil de coleta de 2 m², de onde foram cortadas as amostras com auxílio de tesoura.

Foi feita a calagem em 23/03/95 somente em 15 parcelas, à razão de 2,19 t/ha, utilizando-se para o cálculo o método de saturação de bases (V), elevando-se o V para 35%. O calcário foi incorporado manualmente com auxílio de enxadões.

A adubação química foi realizada em cobertura, por ocasião do corte de uniformização, em 08/05/95, feito a 10 cm do solo e somente nas parcelas que receberam calagem. Foram aplicados 50 kg/ha de N sob a forma de uréia, 19,33 kg/ha de P2O5 sob a forma de superfosfato simples e 33,22 kg/ha de K2O sob a forma de cloreto de potássio.

Os tratamentos foram cinco idades de corte (15, 30, 45, 60 e 75 dias) e dois níveis de adubação - presença ou ausência de adubação -, de forma que cada bloco continha 10 tratamentos, os quais foram distribuídos aleatoriamente com três repetições.

A produção de MS foi estimada por meio da colheita da forragem produzida na área útil de 2 m2 da parcela.

A forragem verde foi pesada no campo e transportada ao Laboratório de Zootecnia e Nutrição Animal da UENF, quando se retirava amostra de 500 g, que era colocada para secar em estufa com circulação de ar forçada a 60±5oC por 72 horas. Após esse período, o material foi pesado e moído em moinho com peneira de 30 mesh.

As determinações de matéria seca (MS), compostos nitrogenados (N), fibra em detergente neutro (FDN), fibra em detergente ácido (FDA), cálcio (Ca) e fósforo (P) foram feitas conforme descrito por SILVA (1990) e a proteína bruta (PB) foi calculada como N x 6,25.

Utilizou-se delineamento experimental de blocos casualizados, com três repetições. Os tratamentos constituíram-se de um fatorial 5x2, cinco idades de corte e dois níveis de adubação. Os dados foram analisados de acordo com o seguinte modelo estatístico:

em que

Yijk = observação relativa à idade i associada à adubação k na repetição j;

u = média geral;

Bi = efeito do i bloco (i = 1, 2, 3);

Idj = efeito da idade j (j = 1, 2, 3, 4, 5) ;

Adk = efeito da adubação k (k = 1, 2);

AdxIdjk = efeito da interação de idade j e adubação k; e

eijk = erro experimental.

Para todas as análises utilizou-se o Statistical Analysis System (SAS, 1989).

Resultados e Discussão

Houve efeito (P<0,05) da interação idade de corte e adubação (Tabela 3) sobre a produção de MS nas diferentes idades de corte.

A adubação resultou em redução no teor médio de MS (Tabela 4), quando comparado com a média dos tratamentos sem adubação (24,76 e 27,51%, respectivamente). Estes resultados são semelhantes aos descritos por SANTOS (1973), ROCHA (1979), ROSA (1982) e OLIVEIRA (1987). Este fato pode ser explicado pela maior produção de folhas em relação aos caules, proporcionada pela adição de adubo, pois o maior teor de umidade encontra-se nas folhas.

Observou-se acréscimo nos teores de MS, com o avanço da idade de 15 a 45 dias de corte, para ambos os tratamentos, sendo o maior valor para os tratamentos sem adubo. De 45 a 60 dias, houve pequena queda nos teores, voltando a aumentar do corte dos 60 para 75 dias, como pode-se observar na Tabela 7.

A análise dos diversos modelos de regressão, ajustados para estimar o efeito da idade de corte sobre a produção de MS (Tabela 6), mostrou que o modelo linear foi o que melhor ajustou (P< 0,05). O aumento na produção de MS das gramíneas, com o avanço da idade das plantas, é um fato relatado na literatura por vários autores (SANTOS, 1973, ORELLANA, 1981; ROSA, 1982; OLIVEIRA, 1987; e COSTA, 1995). A adubação acarreto aumento (P<0,05) na produção média de matéria seca (PMS), quando comparada com a produção de MS do capim não-adubado (Tabelas 3 e 5). Este aumento médio de produção de MS foi de de 1082 kg/ha, ou seja, 47,25% a mais no rendimento, indicando que a calagem e a adubação influenciaram, de maneira geral, as condições de fertilidade do solo, disponibilizando melhor os nutrientes.

Observou-se produção média de 3.372 kg/ha de MS para os tratamentos com adubação, sendo obtidos, aos 60 dias de corte, 5.343,92 kg/ha de MS (Figura 1). Estes valores são superiores aos encontrados por ROSA (1982), que obteve média no rendimento de MS da gramínea B. decumbens de 4.953 kg/ha de MS, aos 60 dias, e aos de COSTA (1995), que obteve produção de 4.100 kg/ha de MS, aos 63 dias, trabalhando com B. brizantha cv. Marandu. Também SANTOS (1973), em estudo de resposta à adubação de várias gramíneas nativas e exóticas em solo do Pantanal, MS, entre elas o Panicum repens L., obteve produção de 3.040 kg/ha de MS, aos 60 dias após o primeiro corte.


A média de produção de 2.290 kg/ha de MS para os tratamentos sem adubação foi inferior aos valores encontrados por COMASTRI FILHO (1994), que estudou o comportamento de diversas gramíneas nativas e exóticas na região de Corumbá, MS, entre elas o Panicum repens L., B. humidícola e B. decumbens, obtendo médias de 2.800, 4.400 e 3.600 kg/ha de MS, respectivamente, em sete cortes sem adubação do solo. No entanto, o mesmo autor observou valores inferiores aos descritos neste trabalho, para as produções de MS das gramíneas Cynodon nlemfuensis Vanderyst, Panicum laxum, Paspalum oteroi e Digitaria decumbens Stent.

Houve efeito da idade e da adubação e não houve interação (P>0,05) destes fatores sobre os teores de PB, mostrando que há independência dos mesmos (Tabela 3).

Verificou-se queda dos teores de PB (Tabela 7) com o avanço da idade da gramínea estudada. Este fato é amplamente relatado na literatura (SANTOS, 1973; ROSA, 1982; OLIVEIRA, 1987; COMASTRI FILHO, 1994; e ALCÂNTARA, 1996) e pode ser explicado pelas alterações fisiológicas que ocorrem com o amadurecer das plantas forrageiras, quando o conteúdo celular diminui, como conseqüência da elevação das percentagens dos constituintes da parede celular.

O teor médio de PB na MS do capim-furachão, com adubação, encontrado no presente trabalho foi de 12,26% (Tabela 4), superior ao descrito por SANTOS (1973), de 6,8% para a mesma gramínea, como média de dois cortes, e por COMASTRI FILHO (1994), que encontrou valores médios de 4,1% de PB em sete cortes, sem adubação, sendo inferior à média encontrada neste trabalho, que foi de 10,42%, quando não-adubado.

BERGAMASCHINE et al. (1994) encontraram teores de PB, aos 60 dias de crescimento, para a B. decumbens, B. humidícola e B. ruzizienses de 10,30; 8,20; e 9,60%, respectivamente, valores semelhantes aos encontrados neste trabalho. Já no estudo com B. brizantha, os mesmos autores encontraram teores maiores que os descritos neste trabalho, 13,09% de PB aos 60 dias de idade.

Em estudo com oito gramíneas tropicais, ROCHA (1979) encontrou médias de 10,5 e 8,5% de PB aos 42 e 63 dias de idade, respectivamente - valores inferiores aos encontrados neste trabalho.

Observou-se decréscimo diário nos teores de PB, em função do avanço da idade das plantas, expressos pela equação = 22,2 - 0,401x + 0,003x2 (Tabela 7 e Figura 2). Esses decréscimos foram mais acentuados nas idades de corte iniciais, para ambos os tratamentos. Tal fato está correlacionado com o incremento dos constituintes da parede celular no mesmo período, como poderá ser visto mais adiante.


Foi verificado neste trabalho aumento na produção de PB, à medida que o capim avançou de idade e o valor médio obtido na presença de adubação foi de 413,40 kg/ha de PB e de 238,62 kg/ha de PB na ausência. A média destes valores assemelham-se à média encontrada por COMASTRI FILHO (1994), para a mesma gramíneas, igual a 350,40 kg/ha de PB em sete cortes.

Aos 60 dias de idade, foi observada produção de PB de 541,87 kg/ha para o capim-furachão adubado, a qual é superior à encontrada por SANTOS (1973), de 442 kg/ha de PB, para a mesma espécie.

Os teores de fibra em detergente neutro (FDN) no capim-furachão, com e sem adubação, estão apresentados na Tabela 5. Houve efeito (P<0,05) da idade da gramínea sobre os teores de FDN (Tabela 3). Este fato comumente é retratado na literatura (VAN SOEST, 1982; BARBI, 1991; WILSON, 1994; e JUNG, 1995).

Os teores médios de FDN (Tabela 5) não diferiram em função da presença e ausência de adubação e são semelhantes aos encontrados por RODRIGUEZ et al. (1994), que observaram teores de 71,52 e 70,75% para as gramíneas P. purpureum cv. Napier e B. decumbens, respectivamente. Os mesmos autores encontraram valores de 75,34 % de FDN para P. maximum e concluíram que este valor difere (P<0,05) de ambas as gramíneas.

Os valores médios encontrados neste trabalho também se assemelham aos encontrados por NOGUEIRA (1977), que trabalhou com variedades de capim-elefante em diferentes estádios de desenvolvimento e obtiveram, aos 67 dias de crescimento, teor médio de 69,29% de FDN.

Não houve efeito de adubação sobre os teores de FDN (Tabela 3), o que também foi observado por SANTOS (1973) e GONÇALVES (1975).

A Figura 3 mostra o efeito da idade de corte sobre os teores de FDN do capim-furachão, com e sem adubação. Nota-se que houve rápido incremento dos teores de FDN do primeiro para o segundo corte e pequena queda nos teores entre as idades de 30 e 45 e de 45 e 60 dias, tornando a aumentar aos 75 dias, para ambos os tratamentos.


Houve efeito (P<0,05) da interação idade de corte e adubação (Tabela 3) sobre os teores de FDN, havendo diferença (P<0,05) no teor médio de FDN somente no corte aos 15 dias, sendo observado o maior valor no tratamento sem adubação, o que pode ser conseqüência da menor produção de folhas em relação à haste, pois as hastes são mais ricas em FDN.

Os teores de fibra em detergente ácido (FDA) em diferentes idades de corte, na presença e ausência de adubação, encontram-se na Tabela 5. Os valores médios de FDA encontrados neste trabalho são inferiores aos descritos por RODRIGUEZ et al. (1994), que observaram valores médios de 43,13; 41,31; e 47,60%, respectivamente, para as gramíneas P.purpureum cv. Napier, B. decumbens e P. maximum, e também por MALAFAIA et al. (1997), que encontraram teores de 45,29; 48,96; 44,94; 44,79; e 42,91% de FDA, aos 60 dias de corte para as gramíneas Tifton-85, P.purpureum cv. Napier, B. brizantha, B. decumbens e M. minutiflora, respectivamente.

A idade de corte, adubação e a interação destes fatores (Tabela 3) influenciaram os teores de FDA do capim-furachão (P<0,05). Os efeitos da adubação sobre os teores médios de FDA, de acordo com a idade de corte, estão apresentados na Figura 4. Pode-se observar incremento linear nos teores de FDA, com o avanço da idade de corte (Tabela 6), sendo mais acentuado para os tratamentos com adubação, que passaram de 28,58, aos 15 dias, para 34,84%, aos 30 dias (Tabela 5).


A equação = 31,97 + 0,057x (Figura 4) descreve os acréscimos diários estimados nos teores de FDA, em função da idade de corte, para os tratamentos sem adubação. Este aumento foi menor que o estimado para o efeito de idade de corte nos tratamentos adubados, estimados pela equação = 28,32 + 0,119x.

Os teores de Ca aumentaram em função da maturidade da gramínea (Tabelas 3 e 7), mas não houve efeitos da adubação e da interação idade de corte e adubação (P>0,05). Isso indica que essa gramínea não é muito exigente e o teor de 1,46 eqmg/100 mL de Ca presente no solo (Tabela 2) poderia ser suficiente para o desenvolvimento da planta. Estes resultados são semelhantes aos encontrados por SANTOS (1973).

A equação de regressão = 0,111 + 0,0004x expressa o incremento estimado nos teores de Ca, em função do aumento da idade da planta forrageira (Tabela 7).

Nos canteiros que receberam adubação, o teor de Ca encontrado de 0,1444%, aos 45 dias de corte, foi semelhante aos relatados nos estudos de SANTOS (1973) e COMASTRI FILHO (1994) com a mesma espécie. Já OLIVEIRA (1987) e ROSA (1982) encontraram teores maiores que os obtidos neste trabalho, em estudos com Hemarthria altissima (0,51% aos 60 dias) e B. decumbens ( 0,29% aos 56 dias).

Nos tratamentos que receberam calagem, esperava-se que houvesse maior concentração do Ca nos tecidos vegetais, quando comparado com as parcelas que não sofreram correção, o que não ocorreu. Este fato pode ser explicado pela baixa mobilidade deste elemento no solo e pelo fato de não ter tido tempo suficiente para que houvesse incremento nos tecidos, ou de a quantidade de calcário adicionada nos canteiros não ter sido suficiente para aumentar os níveis na gramínea ou ainda de as exigências do cálcio para esta gramínea terem sido mínimas.

Os teores de P sofreram efeito (P<0,05) da idade de corte e de adubação (Tabela 3). Na Tabela 7, observa-se decréscimo linear do teor de P, em função do avanço da idade das plantas, expresso pela equação = 0,258 - 0,001x, para ambos os tratamentos. Este é um fato bastante citado na literatura (SANTOS, 1973; OLIVEIRA, 1987; e ROSA, 1982).

O teor médio de 0,1843% de P na presença de adubação foi significativamente menor que o valor obtido sem adubo, 0,2200% (Tabela 4), sendo este valor semelhante aos encontrados por SANTOS (1973) e COMASTRI FILHO (1994), trabalhando com a mesma gramínea. Tal fato pode ser atribuído ao efeito de diluição do elemento na maior quantidade de MS produzida nos tratamentos com adubação e também à ineficiência de assimilação da planta, em função do seu envelhecimento, ou ainda porque a quantidade de P presente no solo (Tabela 2) foi suficiente para atender as exigências da gramínea.

Resultados encontrados por Hodges el al. (1965), citados por SANTOS (1973), mostraram aumento nos teores de P na MS da forragem, em decorrência da adubação das pastagens com diferentes adubos fosfatados, e concluíram que, possivelmente, as quantidades de P utilizadas na adubação não foram suficientes para se obter produção máxima de MS, com aumentos simultâneos dos teores de P na gramínea.

Conclusões

A adubação proporcionou aumento na produção de MS, porém os teores de PB do capim-furachão (Panicum repens L.) sofreram decréscimos acentuados nas idades iniciais

Observou-se rápido amadurecimento da gramínea e, como conseqüência, aumento nos teores de FDN e FDA mesmo na presença de adubação.

Os teores de Ca e P na MS do capim-furachão sofreram aumento e redução, respectivamente, com avanço da idade das plantas.

Referências Bibliográficas

Recebido em: 20/03/98

Aceito em: 11/10/99

2 Zootecnista, UENF, MS em Produção Animal, CCTA, UENF. E.mail: roger@uenf.br

3 Docente LZNA, CCTA, UENF. E.mail: hernan@uenf.br

4 Docente LZNA, CCTA, UENF, Campos dos Goytacazes, RJ, CEP: 28015-620. Bolsista do CNPq. E.mail: jcoelho@uenf.br

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  • 1
    Parte da Dissertação de Mestrado apresentada pelo primeiro autor à Universidade Estadual do Norte Fluminense, Campos dos Goytacazes, RJ.
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      12 Jan 2004
    • Data do Fascículo
      Abr 2000

    Histórico

    • Recebido
      20 Mar 1998
    • Aceito
      11 Out 1999
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