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Métodos para quebra da dormência em sementes de leucena (Leucaena leucocephala (Lam.) de Wit

Procedure for dormancy breakage in Leucaena leucocephala (Lam.) de Wit

Resumos

Objetivando superar a dormência tegumentária e avaliar o desenvolvimento de mudas, sementes de Leucaena leucocephala sofreram escarificação química e mecânica e tratamento com água quente, seguindo-se o modelo inteiramente casualizado. Houve baixa germinação das sementes utilizadas como testemunha (32,7%) e aumento da germinação, quando da imersão das sementes em água a 80ºC, por 5 e 15 minutos, e em H2SO4 concentrado, por 10, 15 e 20 minutos. O índice de velocidade de emergência das plântulas mostrou-se superior após os tratamentos das sementes com água a 80ºC, por 5 min, e H2SO4 concentrado, por 20 min. Os tratamentos utilizados para superar a dormência das sementes não influenciaram o desenvolvimento das mudas resultantes.

dormência; germinação; Leucaena leucocephala; produção de mudas; vigor


Leucaena leucocephala seeds were allotted to chemical and mechanical scarification and hot water treatment, to overcome the seed-coat dormancy and to evaluate seedling development, according to a complete randomized design. There was decrease in germination for the control (32.7%) and an increase when seeds were immersed in water with 80ºC during 5 and 15 minutes, and concentrate H2SO4 during 10, 15 and 20 minutes. The emergency rate index was better in the treatment with water 80ºC during 5 minutes and concentrate H2SO4 during 20 min. The used treatments to overcome the seed-coat dormancy did not affect the resultant seedling developments.

dormancy; germination; Leucaena leucocephala; seedling production; vigor


Métodos para Quebra da Dormência em Sementes de Leucena (Leucaena leucocephala (Lam.) de Wit1 1 TCC apresentado pelo primeiro autor para Graduação em Engenharia-Agronômica/CCA/UFPI.

Margareth Maria Teles2 1 TCC apresentado pelo primeiro autor para Graduação em Engenharia-Agronômica/CCA/UFPI. , Arnaud Azevêdo Alves3 1 TCC apresentado pelo primeiro autor para Graduação em Engenharia-Agronômica/CCA/UFPI. , José Crisóstomo Gomes de Oliveira3 1 TCC apresentado pelo primeiro autor para Graduação em Engenharia-Agronômica/CCA/UFPI. , Antonio Marcos Esmeraldo Bezerra3 1 TCC apresentado pelo primeiro autor para Graduação em Engenharia-Agronômica/CCA/UFPI.

RESUMO - Objetivando superar a dormência tegumentária e avaliar o desenvolvimento de mudas, sementes de Leucaena leucocephala sofreram escarificação química e mecânica e tratamento com água quente, seguindo-se o modelo inteiramente casualizado. Houve baixa germinação das sementes utilizadas como testemunha (32,7%) e aumento da germinação, quando da imersão das sementes em água a 80ºC, por 5 e 15 minutos, e em H2SO4 concentrado, por 10, 15 e 20 minutos. O índice de velocidade de emergência das plântulas mostrou-se superior após os tratamentos das sementes com água a 80ºC, por 5 min, e H2SO4 concentrado, por 20 min. Os tratamentos utilizados para superar a dormência das sementes não influenciaram o desenvolvimento das mudas resultantes.

Palavras-chave: dormência, germinação, Leucaena leucocephala, produção de mudas, vigor

Procedure for Dormancy Breakage in

Leucaena leucocephala (Lam.) de Wit

ABSTRACT - Leucaena leucocephala seeds were allotted to chemical and mechanical scarification and hot water treatment, to overcome the seed-coat dormancy and to evaluate seedling development, according to a complete randomized design. There was decrease in germination for the control (32.7%) and an increase when seeds were immersed in water with 80ºC during 5 and 15 minutes, and concentrate H2SO4 during 10, 15 and 20 minutes. The emergency rate index was better in the treatment with water 80ºC during 5 minutes and concentrate H2SO4 during 20 min. The used treatments to overcome the seed-coat dormancy did not affect the resultant seedling developments.

Key Words: dormancy, germination, Leucaena leucocephala, seedling production, vigor

Introdução

A leucena (Leucaena leucocephala (Lam.) de Wit) é uma leguminosa arbórea, originária da América Central, de emprego bastante diversificado. Seu uso na alimentação animal pode elevar sensivelmente a produtividade dos rebanhos em regiões tropicais onde as pastagens predominantes não são capazes de atender às demandas de energia, proteína e minerais, especialmente onde a estação seca é mais prolongada. Além de forragem de boa qualidade, a leucena produz grande quantidade de sementes viáveis, o que facilita sua propagação em larga escala (VEIGA e SIMÃO NETO, 1992).

A leucena é uma planta de crescimento inicial lento, recomendando-se seu plantio por mudas (XAVIER, 1989). Assim, no semi-árido do Nordeste, onde o problema é agravado devido ao pouco desenvolvimento da planta na estação seca, quando do plantio direto por sementes, a implantação de áreas de leucena por meio de mudas é mais recomendável para rápida obtenção de estandes uniformes e vigorosos (SOUZA, 1990; NASCIMENTO, 1982).

Para a produção das mudas de leucena, é necessário quebrar a dormência natural das sementes, causada pela impermeabilidade do tegumento à água, a qual se denomina semente dura. O plantio de sementes desta leguminosa sem quebra da dormência física resulta, geralmente, em índice de germinação inferior a 50% (KLUTHCOUSKI, 1980) e ocasiona emergência lenta e irregular, com reflexos diretos sobre o estande final, além de favorecer a infestação das ervas daninhas (MARTINS et al., 1996).

Segundo NASCIMENTO (1982), as técnicas mais utilizadas para quebrar a impermeabilidade à água das sementes de leguminosas são: tratamentos térmicos, químicos (ácido sulfúrico ou álcool), elétricos ou de pressão, abrasão e armazenamento. Para sementes de leucena, KLUTHCOUSKI (1980) destaca a imersão em água quente (80oC por 3 a 4 min), a mistura de sementes e areia em escarificador mecânico ou pilão e a escarificação do tegumento com lixa, destacando a agitação da mistura com areia pela simplicidade e menores riscos à viabilidade das sementes. SEIFFERT (1982) verificou que a escarificação causa o rompimento da película que envolve a semente, aumentando a permeabilidade à água, e, conseqüentemente, estimula a germinação. O mesmo acontece com o ácido sulfúrico, um produto corrosivo, que em testes se mostrou eficiente na escarificação de sementes de leguminosas. O tratamento com água quente é um método simples de executar, porém apresenta resultados inconsistentes. Este problema é justificado por BIANCO et al. (1984) como efeito da elevada temperatura da água sobre os mecanismos fisiológicos das sementes. Entretanto, em trabalhos para avaliar o efeito da escarificação de sementes de leucena com água quente, LAGES (1989) verificou que a imersão por 5 a 10 min resulta em maior índice de velocidade de emergência (IVE) e CASTELO BRANCO (1992) preconiza imersão por 2 a 8 min.

Este trabalho objetivou avaliar métodos de superação de dormência de leucena (Leucaena leucocephala (Lam.) de Wit) na qualidade das sementes e no desenvolvimento de mudas.

Material e Métodos

Esta pesquisa foi realizada no Departamento de Zootecnia do Centro de Ciências Agrárias da Universidade Federal do Piauí, em Teresina, PI, visando avaliar métodos para quebra da dormência de sementes de leucena (Leucaena leucocephala (Lam.) de Wit), quanto à germinação, emergência de plântulas e ao desenvolvimento de mudas. Os testes foram realizados no Laboratório de Sementes da EMBRAPA Meio-Norte e no Departamento de Zootecnia/CCA/UFPI.

As sementes foram submetidas aos tratamentos: sem escarificação, imersão em água a 80ºC por 5, 10, 15 e 20 minutos, imersão em H2SO4 concentrado por 5, 10, 15 e 20 minutos e escarificação mecânica com lixa de ferro nº. 120, em modelo inteiramente casualizado com dez tratamentos e três repetições (50 sementes/repetição), procedendo-se à análise da variância e adotando-se o teste Tukey para comparação de médias. A qualidade fisiológica das sementes foi posteriormente avaliada pelo Teste Padrão de Germinação (TPG), adotando-se o método prescrito pelas Regras para Análise de Sementes (BRASIL, 1992), em placas de petri, utilizando-se como substrato papel toalha umedecido (entre folhas de papel, "EP"), em germinador de câmara, à temperatura média de 25oC, com primeira contagem do teste aos 5 dias e contagem final aos 10 dias, considerando-se semente germinada aquela que apresentasse todas as estruturas desenvolvidas.

Para determinação do índice de velocidade de emergência (IVE) e avaliação do desenvolvimento de mudas, serão adotados os melhores tratamentos do teste de germinação e os tratamentos sem escarificação (controle) e escarificação mecânica com lixa de ferro no. 120.

Na determinação do IVE, seguiu-se o delineamento inteiramente casualizado com quatro tratamentos e quatro repetições. Cada repetição consistiu de uma fileira com 50 sementes semeadas à profundidade de 2,0 cm, espaçadas em aproximadamente 1,0 cm, em canteiro com 7,0 m de comprimento e largura de 1,0 m. A contagem das sementes germinadas foi realizada diariamente até os sete dias, considerando-se semente germinada a que, por emergência e desenvolvimento, demonstrasse aptidão para produzir planta normal em condições favoráveis de campo, conforme RAMOS (1990).

Para avaliação do desenvolvimento de mudas, adotou-se o delineamento inteiramente casualizado com quatro tratamentos e quatro repetições. Cada repetição consistiu de 16 sacos contendo uma planta, desbastadas aos 30 dias após plantio. O substrato para as mudas consistiu de uma mistura com 2:1:1 partes de areia, húmus de minhoca e material de cupinzeiro, colocado em sacos de polietileno com capacidade para 800 g. A semeadura foi efetuada colocando-se três sementes por saco à profundidade de aproximadamente 2,0 cm. As mudas foram produzidas sob ripado rústico com cobertura de palha de palmeira, retirando-se gradativamente a cobertura e expondo-as a céu aberto a partir dos 53 dias (FRANCO e SOUTO, 1986). Aos 60 dias, foram determinados os parâmetros altura da planta, número de folhas/planta, comprimento de raiz e porcentagem de matéria seca na parte aérea.

Resultados e Discussão

Os dados da análise da variância aplicada aos valores de germinação e índice de velocidade de emergência (IVE) de sementes e ao desenvolvimento de mudas, segundo os métodos para quebra da dormência de sementes de leucena (Leucaena leucocephala (Lam.) de Wit), encontram-se na Tabela 1.

Os resultados para porcentagem de germinação e índice de velocidade de emergência (IVE) das sementes e desenvolvimento das mudas de leucena estão apresentados na Tabela 2.

As sementes não-escarificadas apresentaram baixa germinação (32,7%), concordando com BIANCO et al. (1984), que obtiveram 27% de germinação em sementes não-escarificadas; KLUTHCOUSKI (1980), ao prever índice de germinação inferior a 50% para sementes de leucena não-escarificadas; e SEIFFERT (1982), em que as leguminosas apresentam 60 a 90% de sementes duras.

As sementes tratadas com H2SO4 concentrado por 10, 15 e 20 min e com água a 80ºC por 5 e 10 min apresentaram maior percentual de germinação (P<0,05). Estes resultados diferem dos obtidos por BIANCO et al. (1984), que obtiveram maior porcentagem de germinação (55,5%) para sementes escarificadas mecanicamente com lixa de madeira, seguida da imersão em H2SO4 concentrado por 2 a 8 min (40%), o que pode ter decorrido da imersão por até 20 min. Em razão de o tratamento térmico adotado pelos autores (BIANCO et al., 1984), com água em ebulição, provavelmente, ter comprometido os mecanismos fisiológicos das sementes, utilizou-se, neste trabalho, água antes da ebulição (80ºC). Nos tratamentos com H2SO4 concentrado, a germinação aumentou com o tempo de imersão, enquanto nos tratamentos com água a 80ºC verificou-se o inverso.

As sementes escarificadas com H2SO4 concentrado por 20 min e água a 80ºC por 5 min apresentaram maior IVE (P<0,05), não diferindo entre si, enquanto a escarificação com lixa de ferro nº. 120 apresentou resultados intermediários, com menor IVE para as sementes não-escarificadas, concordando com trabalhos de LAGES (1989) e CASTELO BRANCO (1992).

Para a produção de mudas de leucena, analisando-se os parâmetros altura da planta, número de folhas/planta, comprimento de raiz e porcentagem de matéria seca na parte aérea, não se constatou efeito dos tratamentos sobre estas características. Entretanto, para obtenção de maior estande, recomenda-se quebrar a dormência das sementes.

Conclusões

A imersão em H2SO4 concentrado por 20 min e em água a 80ºC por 5 min foi eficiente para quebrar a dormência das sementes e não influiu na germinação e no vigor das sementes de leucena.

Os tratamentos para quebra da dormência de sementes utilizados neste trabalho não influenciaram o desenvolvimento de mudas de leucena.

Agradecimento

À EMBRAPA Meio-Norte, por disponibilizar condições para realização de parte desta pesquisa.

Referências Bibliográficas

Recebido em: 28/04/98

Aceito em: 26/08/99

2 Engenheira-Agrônoma. Estudante de Mestrado em Zootecnia/UFRPE.

3 Professor do CCA/UFPI. Campus Agrícola da Socopo, 64049-550, Teresina, PI. E.mail: arnaud@daterranet.com.br

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  • KLUTHCOUSKI, J. 1980. Leucena: alternativa para a pequena e média agricultura Brasília: EMBRAPA-DID. 12p.
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  • XAVIER, D.F. 1989. Leucena: procedimentos e cuidados para um bom estabelecimento. Coronel Pacheco, MG: EMBRAPA Gado de Leite. (Comunicado Técnico, 4). 3p.
  • 1
    TCC apresentado pelo primeiro autor para Graduação em Engenharia-Agronômica/CCA/UFPI.
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      12 Jan 2004
    • Data do Fascículo
      Abr 2000

    Histórico

    • Aceito
      26 Ago 1999
    • Recebido
      28 Abr 1998
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