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Valores econômicos para a seleção de gordura e proteína do leite

Economic weights for selection of milk fat and protein

Resumos

O objetivo deste trabalho foi determinar valores econômicos para utilização em índices de seleção para proteína, gordura e leite sem gordura e proteína (veículo), apropriados para os sistemas de pagamento de duas importantes empresas de laticínios do Paraná e de Minas Gerais. Foram calculados os preços de cada um desses componentes, sendo os preços de proteína, gordura e veículo de, respectivamente, 1,35; 1,89 e 0,17 R$/kg, no Paraná, e 0,20; 0,80 e 0,20 R$/kg, em Minas Gerais. Os custos de alimentação e ordenha desses componentes, estimados com base nos dados da literatura sobre os respectivos requerimentos de energia e fluxo lácteo, foram subtraídos dos preços, obtendo-se valores econômicos de, respectivamente, 0,821; 0,880 e 0,122 R$/kg, para proteína, gordura e veículo, no Paraná, e -0,328; -0,210 e -0,153 R$/kg, na mesma ordem, em Minas Gerais. Os valores econômicos da proteína e gordura foram menores (até negativos) que os praticados nos principais países produtores de leite, em decorrência dos baixos preços pagos por esses componentes no Brasil.

gado de leite; gordura; índice de seleção; proteína; valor econômico


ABSTRACT - The objective of this paper was to determine the economic weights for the use in selection index for protein, fat and milk without fat and protein (carrier) appropriated for the payment systems of two important milk processors in the States of Parana and Minas Gerais. The prices of each one of those components were calculated, and the prices for protein, fat and carrier were 1.35, 1.89 and 0.17 R$/kg, in Parana, and 0.20, 0.80 and 0.20 R$/kg, in Minas Gerais, respectively. The feed and milking costs of these components, estimated from literature data on their energetic requirements and milk flow, were substracted from the prices, yielding economic values of 0.821, 0.880 and 0.122 R$/kg, respectively, for protein, fat and carrier, in Parana, and --0.328, -0.210 e --0.153 R$/kg, in the same order, in Minas Gerais. The economic values for protein and fat were lower (or even negative) than the values reported for those components in the most important milk producing countries, due to the low prices paid for them in Brazil

dairy cattle; economic value; milk fat; milk protein; selection index


Valores Econômicos para a Seleção de Gordura e Proteína do Leite

Fernando Enrique Madalena1 1 Professor do Departamento de Zootecnia da Escola de Veterinária da UFMG, Bolsista do CNPq.

RESUMO - O objetivo deste trabalho foi determinar valores econômicos para utilização em índices de seleção para proteína, gordura e leite sem gordura e proteína (veículo), apropriados para os sistemas de pagamento de duas importantes empresas de laticínios do Paraná e de Minas Gerais. Foram calculados os preços de cada um desses componentes, sendo os preços de proteína, gordura e veículo de, respectivamente, 1,35; 1,89 e 0,17 R$/kg, no Paraná, e 0,20; 0,80 e 0,20 R$/kg, em Minas Gerais. Os custos de alimentação e ordenha desses componentes, estimados com base nos dados da literatura sobre os respectivos requerimentos de energia e fluxo lácteo, foram subtraídos dos preços, obtendo-se valores econômicos de, respectivamente, 0,821; 0,880 e 0,122 R$/kg, para proteína, gordura e veículo, no Paraná, e -0,328; -0,210 e -0,153 R$/kg, na mesma ordem, em Minas Gerais. Os valores econômicos da proteína e gordura foram menores (até negativos) que os praticados nos principais países produtores de leite, em decorrência dos baixos preços pagos por esses componentes no Brasil.

Palavras-chave: gado de leite, gordura, índice de seleção, proteína, valor econômico

Economic Weights for Selection of Milk Fat and Protein

ABSTRACT - The objective of this paper was to determine the economic weights for the use in selection index for protein, fat and milk without fat and protein (carrier) appropriated for the payment systems of two important milk processors in the States of Parana and Minas Gerais. The prices of each one of those components were calculated, and the prices for protein, fat and carrier were 1.35, 1.89 and 0.17 R$/kg, in Parana, and 0.20, 0.80 and 0.20 R$/kg, in Minas Gerais, respectively. The feed and milking costs of these components, estimated from literature data on their energetic requirements and milk flow, were substracted from the prices, yielding economic values of 0.821, 0.880 and 0.122 R$/kg, respectively, for protein, fat and carrier, in Parana, and ¾0.328, -0.210 e ¾0.153 R$/kg, in the same order, in Minas Gerais. The economic values for protein and fat were lower (or even negative) than the values reported for those components in the most important milk producing countries, due to the low prices paid for them in Brazil

Key Words: dairy cattle, economic value, milk fat, milk protein, selection index

Introdução

O pagamento por qualidade do leite vem recebendo certa atenção no Brasil, inclusive com a recente criação do Conselho Nacional de Qualidade do Leite. A qualidade do leite envolve a composição e as condições sanitárias (MONARDES, 1998), mas, no Brasil, os programas considerados de "pagamento por qualidade", geralmente, incluem uma série de fatores relacionados às condições de produção, que não medem a qualidade em si, como o volume e a sazonalidade, a infra-estrutura, o manejo, a raça do reprodutor, os cuidados sanitários etc. Em levantamento realizado pela revista Leite B (ANÔNIMO, 1997), apenas 13 das 26 empresas de laticínios consultadas incluíam o percentual de gordura como critério para bonificação, e somente quatro delas, todas no Paraná, consideravam também a proteína ou o extrato seco desengordurado.

Em razão de a gordura e a proteína serem os componentes do leite de maior valor econômico para os laticínios (MADALENA, 1986), o sistema de pagamento deveria remunerá-los adequadamente, como vem sendo feito há mais de duas décadas nos países mais desenvolvidos, onde, inclusive, o leite sem proteína e gordura (aqui chamado "veículo" = "carrier", PEARSON e MILLER, 1981), muitas vezes, provoca desconto no preço, em decorrência dos maiores custos de transporte e processamento.

Os preços e custos dos componentes do leite determinam seu valor econômico, o qual é necessário para a elaboração de índices de seleção, para combinar os componentes de forma a maximizar o ganho genético econômico (HAZEL, 1943). Além da sua importância para direcionar a seleção, os valores econômicos das características zootécnicas contribuem para melhor entendimento da influência dessas características na eficiência econômica da exploração considerada. A metodologia para a avaliação dos valores econômicos, com base em funções de lucro, foi descrita por WELLER (1994).

Avaliações dos valores econômicos dos componentes do leite na América do Norte, Europa e Oceania têm indicado maior valor para a proteína, seguida da gordura, e valor muito baixo ou negativo para o veículo (STEVERINK et al., 1994; VISCHER et al., 1994; PIETERS et al., 1997; DEKKERS e GIBSON, 1998; e MONARDES, 1998). No Brasil, VERCESI FILHO et al. (1998) apresentaram estimativa negativa para o peso econômico da gordura. Os autores desconhecem outros trabalhos brasileiros sobre o assunto.

O objetivo deste trabalho foi obter valores econômicos dos componentes do leite apropriados a sistemas de pagamento em vigor no Brasil.

Material e Métodos

Foram calculados valores econômicos para a produção de gordura, proteína e veículo, a partir das receitas geradas por cada um desses componentes e de seus respectivos custos de produção, como se descreve a seguir.

Preços dos componentes

Preços da gordura (pG), da proteína (pP) e do veículo (pV) foram obtidos a partir dos sistemas de pagamento de duas importantes empresas de laticínios do Paraná e Minas Gerais. Em certos casos, o preço básico do leite (pLB) é acrescido (ou decrescido) de diferenciais (dG e dP), segundo os percentuais de gordura e proteína acima (ou abaixo) de bases mínimas para esses componentes (BG e BP), de forma que o preço por kg de leite (pL) recebido pelo produtor é:

em que G, P e V representam os conteúdos de gordura, proteína e veículo (em kg/kg). Os preços por kg de cada componente podem ser obtidos a partir de [1] como:

Em outros casos, remunera-se apenas a gordura, por kg acima da base, de forma que

Valores econômicos

Os valores econômicos das características (Xj) podem ser obtidos a partir de funções de lucro (L = f{Rj - Cj}) decorrente das receitas (Rj) e dos custos (Cj), pela derivada parcial do lucro com respeito a cada característica, avaliada na média de todas as outras características (MOAV e HILL, 1966),

Embora SMITH et al. (1986) mostraram que, para evitar a contabilização dos efeitos de escala, seria preferível obter os vj por meio da derivada da receita/custo, para o objetivo deste trabalho, a aproximação da expressão [3] é suficiente e simplifica as derivações (PONZONI, 1988; GIBSON, 1989).

Para avaliar os valores vj aplicando a expressão [3], foram utilizados preços e custos para cada componente, simulando situações relevantes no Brasil. Se Xj = G, P ou V, a função de lucro por kg de leite pode ser expressa como

L = åj3 Xj (pj - caj - coj) + f{receitas e custos, associados a outras características}, em que p é preço; ca, custo do alimento; co, custo da ordenha; e o subscrito j, cada um dos três componentes. No Brasil, um exemplo desse tipo de função foi apresentado por VERCESI FILHO et al. (1998). Aplicando [3], pode ser visto que os valores econômicos dos componentes se reduzem à diferença entre o preço recebido e os custos de alimentação e ordenha para cada um deles, já que as outras receitas e despesas da empresa independem dos componentes do leite, de forma que:

Custos de alimentação e ordenha

Os custos de alimentação (caj) foram estimados tomando como base os requisitos de energia metabolizável para produção de gordura, proteína e veículo, respectivamente, 69,9; 35,6; e 1,2458 MJ/kg (DOMMERHOLT e WILMINK, 1986), supondo-se, para obter o último valor, G = 0,0416 kg/kg, P = 0,0316 kg/kg (Prof. M.R. SOUZA, comunicação pessoal), e o conteúdo de lactose de 0,046 kg/kg de leite, e admitindo que os requerimentos de mantença são independentes dos de produção e que não há gastos de energia associados ao conteúdo de água e minerais, conforme justificado por HILLERS et al. (1979).

Adotou-se a composição da ração recomendada pelo NATIONAL RESEARCH COUNCIL - NRC (1989) para vacas de 400 a 600 kg, com produção de 8 a 21 kg/dia, obtida com 60% de volumoso (8,8 MJ EM/kg MS) e 40% de concentrados, sendo 70% de milho e 30% de farelo de soja (13,477 MJ e 12,640 MJ EM/kg MS, Profa A.L.C.C. BORGES, comunicação pessoal). Os preços médios em Minas Gerais, em 1998, para o milho (R$ 0,15/kg) e a soja (R$ 0,23/kg) (AGRIDATA, 1999), foram tomados como base para o cálculo do custo, supondo-se, ainda, custo do volumoso de R$ 0,10/kg MS, resultando em custo de R$ 0,014/MJ e custos de alimento para cada componente de caG = 0,979, caP = 0,4980 e caV = 0,0174 R$/kg.

Com base no fluxo lácteo de 1 kg/min de vacas mestiças em fazendas da Região Sudeste, verificado por MADALENA et al. (1989), e no salário de ordenhador, mais encargos de R$ 390/mês, os custos de ordenha foram estimados em coG = coP = coV = R$ 0,031/kg de produto.

Foi também simulada outra situação, multiplicando-se os preços do leite por 1,50, sem alterar os custos, e mantendo-se o mesmo sistema de pagamento de cada cooperativa.

Resultados e Discussão

Preços dos componentes

A cooperativa do Paraná paga 7% a mais para cada 1% de gordura acima de 3,4 e 5% a mais para cada 1% de proteína acima de 3,1%, com preço base (out. 1997 a out. 1998) de pLB = 0,27 R$/kg, dG = 0,07, dP = 0,05, BG = 0,034 e BP = 0,031, a partir de [1], pv= 0,1695, pG =1,89 e pP = 1,35 R$/kg.

Em Minas Gerais, o valor médio de pL = 0,209 R$/kg (em 1998) foi obtido a partir dos preços de leite cota e excesso, publicados por AGRIDATA (1999), e das respectivas proporções de 0,83 e 0,17 de ambos os tipos de leite (MADALENA et al., 1997). A cooperativa central de Minas Gerais paga por kg de gordura acima de 3,1% (pG = 0,80 R$/kg), de forma que para G = 0,0416, a partir de [2], se obtém pV = pP = 0,201 R$/kg.

Estes preços podem ser comparados aos praticados em alguns outros países na Tabela 1, na qual, para se ter base de comparação independente de moeda e sistema de pagamento, os preços dos componentes foram expressos em equivalentes de leite, definido como o preço de 1 kg de leite com 3,5% de gordura e 3,1% de proteína. Pode ser observada a grande diferença no pagamento dos componentes. Nos países da América do Norte, Europa e Oceania, os produtores recebem pela proteína preço muito maior que pelos outros componentes, seguida da gordura, enquanto pelo veículo, preço muito baixo ou negativo.

O sistema de pagamento reflete a necessidade da indústria de remunerar pelos componentes e o seu poder de barganha relativo ao dos produtores, ou seja, a integração dos setores de produção e processamento da cadeia produtiva. Em Quebec, por exemplo, onde existe notória política de defesa dos produtores, estes recebem média ponderada dos preços obtidos por cada classe de produto lácteo (MONARDES, 1998); o mesmo é aplicado nos EEUU (JACOBSON, 1998). A proporção do leite utilizado na indústria é um dos fatores que afetam o preço dos componentes. No Brasil, metade do leite sujeito à inspeção é industrializada (ZOCCAL, 1994), mas os preços pagos pela proteína são muito baixos, mesmo comparando-os com os do mercado de leite fresco da Itália e da Índia (Tabela 1). A Cooperativa do Paraná remunera a proteína e a gordura melhor que a de Minas Gerais, mas, em ambas as cooperativas, a gordura recebe maior preço que a proteína. Em muitos países ou regiões, inclusive algumas do Brasil, não há pagamento diferenciado por nenhum componente. Concorrentes do Brasil no MERCOSUL, como Argentina e Uruguai, já remuneram a proteína mais que a gordura e descontam pela água.

Valores econômicos para a seleção

Os valores econômicos dos três componentes nas quatro situações consideradas para o Brasil são apresentados na Tabela 2. Pode ser observado que, na presente conjuntura (preços x 1,0), na Cooperativa do Paraná, os valores econômicos dos três componentes foram positivos, sendo similares os da gordura e da proteína, e ambos mais altos que o valor do veículo. Na cooperativa central de Minas Gerais, entretanto, apenas o veículo teve valor positivo, sendo antieconômica a produção de gordura e, principalmente, a de proteína. VERCESSI FILHO et al. (2000) comunicaram valor econômico negativo para a gordura em fazenda em Minas Gerais.

De acordo com a metodologia empregada, as diferenças nos valores econômicos no Paraná e em Minas Gerais dependem dos preços dos componentes, já que os custos de alimentação e ordenha (os únicos envolvidos) foram considerados iguais. É provável que existam certas diferenças nestes custos entre as regiões, mas não se considera que estas viessem alterar substancialmente os resultados.

Na situação de preço do leite 50% maior que o atual, no Paraná (0,41 R$/kg), a gordura teria seu valor mais que duplicado e a proteína e o veículo teriam aumentos pouco menores, enquanto em Minas Gerais (0,31 R$/kg) a gordura ficaria com o mesmo valor negativo, a proteína teria seu valor aumentado, porém continuaria negativa e quase igual à gordura, e o veículo aumentaria seu valor positivo, com respeito à situação atual, mostrando que o simples aumento do preço do leite, sem alterar o sistema de pagamento, agravaria a situação.

Como sugerido por DEKKERS e GIBSON (1998), os objetivos de seleção devem ser formulados com base nas quantidades de proteína e gordura produzidas, e não nas suas porcentagens, por serem as quantidades dos produtos as comercializadas, podendo, se necessário, serem facilmente traduzíveis em valores por diferenciais.

Constam da Tabela 3 os valores econômicos relativos dos três componentes, tomando-se como base o valor para a proteína, tanto para as situações consideradas no Brasil, como para alguns outros países. Pode ser observado que os valores econômicos relativos, adequados para os sistemas de pagamento no Brasil, são muito diferentes dos valores utilizados nos outros países citados, com demasiada ênfase na gordura e no veículo, no caso do Paraná, e com valores negativos para proteína e gordura, no caso de Minas Gerais.

GIBSON et al. (1996) argumentaram que o valor econômico correto deve se basear nos preços futuros, quando os resultados da seleção presente venham a ser expressos. Esses autores obtiveram os valores para otimizar a resposta no lucro derivado de cada componente, no Canadá, considerando um horizonte de 20 anos, período no qual os preços mudavam continuamente, de acordo com as previsões econômicas. Segundo a sua simulação, caso continue o uso do índice atual por 20 anos, haverá naquele país produção de gordura em excesso da demanda, o que seria atenuado com o índice para o valor futuro, que reduz ainda mais a ponderação da gordura (Tabela 3). Entretanto, como os autores indicaram, foi interessante que o índice ótimo para o futuro não eliminava totalmente o excesso de gordura, porque a redução maior no valor desse componente causaria redução considerável na produção total por vaca, o que seria antieconômico, de forma que o índice otimizado produzia balanço entre a eficiência biológica da produção dos componentes e seu valor econômico.

Na Nova Zelândia, o índice em uso considera as expressões descontadas em um período de 20 anos (BRUMBY, P.J., comunicação pessoal). Na Austrália, o aumento simulado de 50% no preço da proteína, mantendo os outros preços fixos, reduziria pela metade o peso da gordura no índice de seleção (Tabela 3).

O índice utilizado na Holanda, em que 85% do leite é industrializado, também visa reduzir o teor de gordura e de água (Tabela 3). Segundo STEVERINK et al. (1994), o valor econômico da gordura seria ainda menor, se fosse calculado otimizando-se os fatores de produção da fazenda e considerando-se a quota para gordura naquele país (Tabela 3). Entretanto, os mesmos autores estimaram que, sob nova legislação ambiental prevista, limitando as perdas, na fazenda, de N total e de P2O5, o valor econômico da proteína seria ligeiramente reduzido, em relação aos valores dos outros componentes, em fazendas médias, e teria redução importante nas fazendas com manejo intensivo, que fazem alto uso de alimentos concentrados.

O USDA publica valores econômicos para índices nos mercados de leite fresco e de queijo, com base no valor previsto dos componentes, quando as filhas dos reprodutores venham a produzir (Tabela 3). Quase 80% das fazendas naquele país recebem pagamento com base no valor para fazer queijo e outros produtos lácteos (ANÓNIMO, 1998).

PIETERS et al. (1997) obtiveram valores econômicos muito diferentes para os mercados de leite fresco e queijo existentes na Itália, sendo os valores relativos da gordura e do veículo drasticamente reduzidos no segundo caso (Tabela 3). Esses autores concluíram que, sob um sistema de quota para produção total, estaria justificada a existência de programas de seleção para cada mercado, mas o índice combinado, em programa único, seria satisfatório na ausência de quotas de produção. Contudo, nota-se que o valor recomendado para a proteína, mesmo no caso do mercado para leite fresco, era 7,4 vezes o valor da gordura (Tabela 3).

Não é objetivo deste trabalho entrar no mérito das políticas de pagamento dos componentes do leite. É possível que, em determinadas regiões, os laticínios não se interessem em pagar mais pela proteína e gordura, porque o teor destas já seja suficiente, sem necessidade de fomentar seu aumento, como também é possível que isto ocorra apenas por desinformação dos produtores. Em todo caso, deve-se salientar as sérias implicações, para a seleção, dos valores econômicos verificados, uma vez que sua aplicação poderá conduzir à diminuição do conteúdo da proteína e gordura no leite, contrariando a tendência mundial de aumentar esses teores. As conseqüências desta situação foram analisadas com maior detalhe em um trabalho paralelo (MADALENA, 2000).

Conclusões

Sendo os custos de produção da gordura e da proteína maiores que os de produção do veículo, a sua baixa remuneração em Minas Gerais resulta em valores econômicos negativos, o que levaria à seleção para reduzir seu teor no leite, aumentando o teor de água, lactose e minerais, contrariando a tendência mundial. Os valores econômicos da proteína e da gordura no Paraná, apesar de serem positivos, são menores que os de outros países. Dessa forma, torna-se necessária discussão ampla que envolva os diversos setores da cadeia produtiva do leite, visando estabelecer objetivos a médio e longo prazos, para a produção de componentes do leite, a fim de direcionar a seleção no sentido das tendências futuras do mercado.

Agradecimento

Às pessoas citadas no texto, que forneceram informações essenciais para o desenvolvimento deste estudo.

Referências Bibliográficas

Recebido em: 18/03/99

Aceito em: 18/10/99

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  • 1
    Professor do Departamento de Zootecnia da Escola de Veterinária da UFMG, Bolsista do CNPq.
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      12 Jan 2004
    • Data do Fascículo
      Jun 2000

    Histórico

    • Aceito
      18 Out 1999
    • Recebido
      18 Mar 1999
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