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Avaliação das carcaças de novilhos F1 Angus-Nelore em pastagens de Brachiaria decumbens submetidos a diferentes regimes alimentares

Carcass evaluation of F1 Angus-Nellore steers on Brachiaria decumbens pasture under different feeding regimes

Resumos

O experimento foi conduzido no Centro Nacional de Gado de Corte da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa Gado de Corte). Foram utilizados 45 novilhos F1 Aberdeen Angus-Nelore para avaliar o efeito de diferentes regimes alimentares, nos períodos secos da recria/terminação, sobre as características de carcaça. Os tratamentos aplicados foram: testemunha, sem suplementação (S/S); suplementação na 2ª seca (S2S); suplementação na 1ª seca (S1S); suplementação nas duas secas (S12S) e suplementação na 1ª seca e confinamento na 2ª (S1C2). Os animais foram abatidos com pesos entre 460 e 480 kg. O efeito dos tratamentos foi avaliado pelo método dos quadrados mínimos. Animais com melhor nível nutricional na 2ª seca (S1C2, S2S e S12S) apresentaram melhor rendimento de carcaça e maiores pesos de carcaça quente e fria do que aqueles suplementados somente na 1ª seca ou não suplementados. A suplementação somente na 1ª seca produziu carcaças semelhantes, em todos os aspectos avaliados, às do tratamento testemunha. Conclui-se que melhorar o nível alimentar na 2ª seca da vida do animal é fundamental para aumentar o rendimento de carcaça. Suplementação na 1ª seca, como prática isolada, não contribui para o rendimento e qualidade da carcaça.

confinamento; cruzados; qualidade da carne; suplementação


This trial was conducted at National Beef Cattle Research Center of Brazilian Agricultural Research Corporation (Embrapa Beef Cattle). Forty five F1 Aberdeen Angus-Nellore steers were used to evaluate the effects of different dry seasons feeding schemes on carcass characteristics. The treatments were: control, without supplementation (S/S); supplementation in 2nd dry period (S2S); supplementation in 1st dry period (S1S); supplementation in 1st and 2nd dry periods (S12S) and supplementation in 1st dry period and confinament in 2nd one (S1C2). Animals were slaughtered at 460-480 kg of live weight and the treatments effects were evaluated by least square means. Steers with higher nutritional levels in 2nd dry season (S1C2; S2S; S12S) showed more dressing percentage and higher hot and cold carcass weights than those supplemented only in 1st dry period or non supplemented. Animals supplemented only in 1st dry season showed similar carcasses than non supplemented. It was concluded that increasing the 2nd dry season nutritional level is primary to expand the dressing percentage. Supplementation in 1st dry period solitarily does not affect dressing percentage neither carcass quality.

crossbred; feedlot; meat quality; supplementation


Avaliação das Carcaças de Novilhos F1 Angus-Nelore em Pastagens de Brachiaria decumbens Submetidos a Diferentes Regimes Alimentares

Gelson Luís Dias Feijó1 1 Méd.-Vet., M.Sc., CRMV-MS N o 1471, Embrapa Gado de Corte, Rodovia BR 262 km 4, Caixa Postal 154, CEP 79002-970 Campo Grande, MS. Correio eletrônico: gelson@cnpgc.embrapa.br , Kepler Euclides Filho2 1 Méd.-Vet., M.Sc., CRMV-MS N o 1471, Embrapa Gado de Corte, Rodovia BR 262 km 4, Caixa Postal 154, CEP 79002-970 Campo Grande, MS. Correio eletrônico: gelson@cnpgc.embrapa.br , Valéria Pacheco Batista Euclides3 1 Méd.-Vet., M.Sc., CRMV-MS N o 1471, Embrapa Gado de Corte, Rodovia BR 262 km 4, Caixa Postal 154, CEP 79002-970 Campo Grande, MS. Correio eletrônico: gelson@cnpgc.embrapa.br , Geraldo Ramos de Figueiredo4 1 Méd.-Vet., M.Sc., CRMV-MS N o 1471, Embrapa Gado de Corte, Rodovia BR 262 km 4, Caixa Postal 154, CEP 79002-970 Campo Grande, MS. Correio eletrônico: gelson@cnpgc.embrapa.br

RESUMO - O experimento foi conduzido no Centro Nacional de Gado de Corte da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa Gado de Corte). Foram utilizados 45 novilhos F1 Aberdeen Angus-Nelore para avaliar o efeito de diferentes regimes alimentares, nos períodos secos da recria/terminação, sobre as características de carcaça. Os tratamentos aplicados foram: testemunha, sem suplementação (S/S); suplementação na 2a seca (S2S); suplementação na 1a seca (S1S); suplementação nas duas secas (S12S) e suplementação na 1a seca e confinamento na 2a (S1C2). Os animais foram abatidos com pesos entre 460 e 480 kg. O efeito dos tratamentos foi avaliado pelo método dos quadrados mínimos. Animais com melhor nível nutricional na 2a seca (S1C2, S2S e S12S) apresentaram melhor rendimento de carcaça e maiores pesos de carcaça quente e fria do que aqueles suplementados somente na 1a seca ou não suplementados. A suplementação somente na 1a seca produziu carcaças semelhantes, em todos os aspectos avaliados, às do tratamento testemunha. Conclui-se que melhorar o nível alimentar na 2a seca da vida do animal é fundamental para aumentar o rendimento de carcaça. Suplementação na 1a seca, como prática isolada, não contribui para o rendimento e qualidade da carcaça.

Palavras-chave: confinamento, cruzados, qualidade da carne, suplementação

Carcass Evaluation of F1 Angus-Nellore Steers on Brachiaria decumbens Pasture Under Different Feeding Regimes

ABSTRACT - This trial was conducted at National Beef Cattle Research Center of Brazilian Agricultural Research Corporation (Embrapa Beef Cattle). Forty five F1 Aberdeen Angus-Nellore steers were used to evaluate the effects of different dry seasons feeding schemes on carcass characteristics. The treatments were: control, without supplementation (S/S); supplementation in 2nd dry period (S2S); supplementation in 1st dry period (S1S); supplementation in 1st and 2nd dry periods (S12S) and supplementation in 1st dry period and confinament in 2nd one (S1C2). Animals were slaughtered at 460-480 kg of live weight and the treatments effects were evaluated by least square means. Steers with higher nutritional levels in 2nd dry season (S1C2; S2S; S12S) showed more dressing percentage and higher hot and cold carcass weights than those supplemented only in 1st dry period or non supplemented. Animals supplemented only in 1st dry season showed similar carcasses than non supplemented. It was concluded that increasing the 2nd dry season nutritional level is primary to expand the dressing percentage. Supplementation in 1st dry period solitarily does not affect dressing percentage neither carcass quality.

Key Words: crossbred, feedlot, meat quality, supplementation

Introdução

A estacionalidade da produção forrageira no Brasil Central faz com que a engorda de bovinos de corte seja feita, sobretudo, durante o período de chuvas, quando há maior oferta de forragem e esta com melhor qualidade. Durante o período seco, torna-se difícil manter as pastagens produtivas, pois, geralmente, ocorre queda na qualidade e na quantidade da forragem disponível e, conseqüentemente, há diminuição ou paralisação do ganho de peso dos animais, inclusive, sendo comum perdas de peso (EUCLIDES et al., 1998).

O reflexo mais contundente desta sazonalidade é o elevado tempo requerido para o abate dos bovinos nos sistemas tradicionais de produção. O aumento na idade de abate ocasiona baixo rendimento de carcaça e menor qualidade da carne.

Após um período de restrição alimentar ocorre ganho compensatório. Essa certeza é que leva alguns produtores a explorarem-no, pois, quando o alimento é escasso ou caro, como na seca, uma restrição alimentar temporária pode ser praticada sem que produza efeitos biológicos deletérios aos animais e com vantagens econômicas pela compensação quando o alimento for abundante e barato. Entretanto, a bibliografia aponta para alguns aspectos em que a exploração do ganho compensatório pode não ser interessante.

Não existe um único sistema de alimentação para seca pós-desmama. A escolha depende de vários fatores, como disponibilidade alimentar na seca, idade de abate desejável e tipo de carcaça a ser obtida (WRIGHT et al., 1986). Segundo DROUILLARD et al. (1991), a variabilidade de ganho compensatório passa por questões como severidade, natureza e duração da restrição e, principalmente, pela interação dos mesmos.

MEYER et al. (1965) e O´DONOVAN et al. (1972) demonstraram que a qualidade da forragem após o período de restrição é de grande importância para que os animais possam expressar ganho compensatório. Já WRIGHT et al. (1986) afirmam que, em animais sob pastejo, o ganho compensatório é proporcional à oferta de forragem, o que seria explicado pela relação consumo:disponibilidade de alimento.

Por sua vez, DROUILLARD et al. (1991) afirmam que restrições severas ou longas em energia resultam em aumento do desempenho de animais em engorda, o mesmo não acontecendo quando o limite é de proteína metabolizável. POPPI e McLENNAN (1995) complementam que o gado apresenta ganho compensatório ao entrar na estação chuvosa, entretanto, a disponibilidade protéica é insuficiente para a necessidade de ganho dos mesmos.

Segundo ROMPALA et al. (1985), o ganho compensatório estaria associado a maior ganho em músculo no começo da realimentação, adequando-se ao normal com o decorrer da mesma. A taxa de deposição de gordura aumentaria tanto com o aumento de peso quanto com a velocidade de ganho de peso.

A compensação de peso em bezerros que tiveram alimentação restrita durante o aleitamento é baixa e, praticamente, independente da severidade da restrição, enquanto para animais que tiveram essa restrição mais tardiamente a compensação é maior e aumenta com a severidade. Uma limitação de crescimento na fase inicial da vida do animal causa modificações na composição corporal. Uma vez disponível uma alimentação adequada, observam-se maior ingestão alimentar e melhor conversão alimentar (BERGE, 1991).

Enquanto O´DONOVAN (1984) afirma que o ganho compensatório é diretamente proporcional à perda de peso durante a restrição, BOIN e TEDESCHI (1996) comentam que a taxa de ganho compensatório após o final da restrição é diretamente proporcional à duração da restrição.

Os efeitos da alimentação sobre a composição das carcaças, independente da existência ou não de ganho compensatório, são também variáveis.

WALDMAN et al. (1971), trabalhando com regimes alimentares ricos ou moderados em energia (alimentação ad libitum vs. restrição para 60% a 70% do ad libitum) verificaram que, enquanto o teor de proteína nos tecidos moles não variou, o teor de umidade diminuiu e o de gordura aumentou com o aumento energético na ração. O regime alimentar não influenciou a deposição óssea, porém, o percentual de músculos foi maior naqueles animais que receberam menos energia, concluindo que com menos energia a velocidade de deposição de tecido adiposo foi semelhante à taxa de desenvolvimento muscular.

Conforme KEANE et al. (1991), apesar de o aumento da energia na dieta ter provocado maior deposição de gordura, a dieta não apresentou efeito sobre a composição dos músculos estudados. Somente foi observada pequena alteração na composição da gordura, levando-os a concluírem que, a despeito da dieta ter algum efeito sobre a composição tecidual, em termos práticos, o mesmo é muito pequeno.

A limitação do nível alimentar durante a fase final de produção bovina contribui para limitar a deposição de gordura. Entretanto, a vantagem da restrição alimentar é questionável em função do maior tempo de terminação até atingir-se determinado grau de acabamento (BERGE, 1991).

Diferenças na composição da carcaça só serão visíveis quando o abate for feito a uma mesma idade, logo após o período de restrição, pois, quando similares pesos de abate são atingidos, animais que sofreram restrição alimentar prévia têm a mesma composição corporal ou são ligeiramente mais magros do que aqueles que receberam alimentação ad libitum (BERGE, 1991). Resultados de FEIJÓ et al. (1998) indicam que, quando determinado peso vivo é estipulado como ponto de abate, as características de carcaças variam pouco como conseqüência do nível alimentar na fase de engorda.

O objetivo deste experimento foi avaliar o rendimento e a qualidade da carcaça de animais que receberam diferentes alternativas de suplementação durante a recria e terminação.

Material e Métodos

O experimento foi desenvolvido no Centro Nacional de Pesquisa de Gado de Corte da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa Gado de Corte), Campo Grande, MS. Foram utilizados 45 novilhos F1 Aberdeen Angus-Nelore, pesando, em média, 195 kg, pertencentes à Agropecuária Zaman Ltda., que logo após o desmame, realizado aos sete meses, foram transportados à Embrapa Gado de Corte e distribuídos, aleatoriamente, em 12 piquetes de Brachiaria decumbens.

Após um período de adaptação, iniciou-se o período experimental, que se estendeu de 15/jul/1994 até o abate dos animais, que foi determinado para quando os mesmos produzissem, no mínimo, 16 arrobas.

Foram aplicados os seguintes tratamentos:

Sem suplementação (S/S).

Suplementação na 2a seca (S2S).

Suplementação na 1a seca (S1S).

Suplementação na 1a e 2a seca (S12S).

Suplementação na 1a seca e confinamento na 2a(S1C2).

A disponibilidade de forragem foi mantida em torno de 2000 kg de matéria seca (MS) por hectare durante todo o período experimental. Para tanto, animais extras foram colocados ou retirados dos piquetes. Os animais tiveram sal mineral à vontade e o manejo sanitário foi o comumente adotado no rebanho geral da Embrapa Gado de Corte.

No primeiro período seco, foi utilizada, como suplementação, uma ração comercial contendo 20,3% de proteína bruta (PB); 68% de nutrientes digestíveis totais (NDT); 1,17% de cálcio e 0,7% de fósforo, sendo fornecida na razão de 1% do peso vivo dos animais (média de 1,9 kg/cabeça/dia), durante 102 dias de arraçoamento. Durante o segundo período seco, o suplemento continha 18% de PB; 75% de NDT; 1,17% de cálcio e 0,7% de fósforo, sendo fornecido na razão de 0,8% do peso vivo dos animais (média de 2,8 kg/cabeça/dia), por um período de 111 dias.

Durante o confinamento, que durou 100 dias, os animais receberam uma alimentação composta por 40% de feno de B. decumbens (enriquecido com 600 g de uma mistura de uréia e enxofre para cada 100 kg de feno) e 60% de concentrado (75% de milho, 22% de farelo de soja, 1% de bicarbonato de sódio, 1,5% de carbonato de cálcio e 0,5% de mistura mineral) e o consumo médio de ração, em matéria seca, foi de 2,7% do peso vivo dos animais.

Os animais foram abatidos em lotes, independente do tratamento, mais ou menos homogêneos quanto ao peso vivo. O abate foi realizado no frigorífico Eldorado (MATEL), Campo Grande, MS, seguindo o fluxo normal do estabelecimento. A avaliação das carcaças, conforme MÜLLER (1987), foi realizada após 24 horas de resfriamento a 1ºC e constou de avaliações objetivas (pesagens e medições) e subjetivas (conformação e maturidade fisiológica). A partir de um corte transversal à 12a vértebra torácica, foram avaliados a cor, a textura e o marmoreio da carne, assim como mediu-se a gordura de cobertura e desenhou-se o contorno do músculo Longissimus. Partindo-se desse corte, foi retirada uma amostra contendo a 12a, 11a e 10a vértebras torácicas para separação física de músculos, ossos e gordura, conforme técnica de Hankins e Howe (1946) modificada por MÜLLER et al. (1973).

O músculo Longissimus, retirado da amostra mencionada, foi embalado, congelado e transportado para o Laboratório de Carnes da Embrapa Gado de Corte, onde procederam-se avaliações organolépticas (maciez, suculência e palatabilidade) e medição da força de cisalhamento.

Os dados foram analisados por meio do procedimento GLM do SAS (1990), utilizando-se um modelo matemático contendo os efeitos fixos de tratamento e piquete dentro de tratamento. O peso de abate foi utilizado como covariável.

Yijk = m + Ti + (piqj) Ti + b(Pfaz - ) +eijk

em que: Yijk = variável avaliada, sob influência de i tratamentos, j piquetes e k repetições; m = média geral; Ti = efeito do tratamento i, i = 1 a 5; (piqj)Ti = efeito do piquete j dentro do tratamento i, j = 1 a 12; b = coeficiente de regressão linear para peso de abate; Pfaz = peso de abate; = média de peso de abate; eijk = efeito do erro aleatório referente ao tratamento i, piquete j e repetição k.

Resultados e Discussão

O peso de abate, apesar de pré-determinado, com a metodologia da formação de lotes acabou por ocasionar uma variação entre os tratamentos, sendo as médias de 463ab, 456b, 480a, 473ab e 482a kg (médias seguidas de letras diferentes, diferem pelo teste de Tukey a 5%) para S/S, S2S, S1S, S12S e S1C2, respectivamente. Considerando as diferenças existentes nessa variável e a alta correlação entre ela e as demais características de carcaça, optou-se pela sua inclusão como covariável.

Com relação ao tempo de recria-engorda, observa-se, na Tabela 1, que a restrição alimentar, em pelo menos um período seco da vida do bovino (tratamentos S/S, S1S e S2S) foi suficiente para retardar a época de abate (P<0,05). Essa observação é semelhante aos resultados encontrados por EUCLIDES FILHO et al. (1997) que afirmam ser a suplementação uma alternativa para redução da idade de abate.

O peso de carcaça quente foi menor (P<0,05) nos animais que foram suplementados somente na primeira seca em relação àqueles que receberam um melhor nível nutricional na 2a seca (tratamentos S2S, S12S e S1C2), tendo esse fato reflexo no rendimento de carcaça quente. As demais comparações não mostraram diferença entre si (P>0,05).

Um bom nível alimentar durante todo o desenvolvimento do animal (S12S e S1C2) determinou menor perda no resfriamento, o que, associado aos bons rendimentos de carcaça quente que esses tratamentos apresentaram, proporcionou maiores pesos de carcaça fria (P<0,05) que os tratamentos sem suplementação ou com suplementação apenas na primeira seca.

Na Tabela 2 são apresentados os dados de avaliação da qualidade das carcaças. Houve diferença (P<0,05) entre os tratamentos para a deposição de gordura entremeada nas fibras musculares (marmoreio), onde a suplementação+confinamento proporcionou maior deposição (P<0,05) que os demais tratamentos, que não diferiram entre si.

Com relação à composição da carcaça (Tabela 3), observa-se que houve diferença (P<0,05), entre os tratamentos, para as percentagens dos cortes dianteiro e costilhar. Os animais que foram suplementados e, posteriormente, confinados apresentaram maior proporção de costilhar que os demais, assim como apresentaram menor quantidade de dianteiro. Esses mesmos animais foram também os que apresentaram maior deposição de gordura na carcaça e maior relação gordura:músculo (P<0,05).

Como um dos locais de predileção para deposição de gordura é o costilhar, tem-se aí a justificativa para o fato de os animais suplementados e, posteriormente, confinados terem apresentado maior proporção desse corte, pois foram exatamente os que apresentaram melhor acabamento.

Por problemas de ordem logística, as amostras do último lote de animais abatidos foi extraviada e como nesse lote predominavam os animais do tratamento sem qualquer suplementação, somente os tratamentos S2S, S1S, S12S e S1C2 foram avaliados organolepticamente. Analisando-se os dados da Tabela 4, nota-se que os animais suplementados apenas na primeira seca foram os que apresentaram a carne menos macia quando esse critério foi avaliado pelo painel de degustação. Na avaliação por meio da força necessária ao cisalhamento das fibras musculares esse tratamento também foi menos macio que a maioria (P<0,05).

Analisando-se o conjunto das características de carcaça avaliadas, observa-se bastante semelhança entre os resultados dos tratamentos que diferiram apenas pela suplementação ou não na primeira seca (S/S e S1S), ou seja, o fato isolado de suplementar ou não na primeira seca não altera as características de carcaça, o que está de acordo com BERGE (1991), que afirma não existirem evidências de que a composição das carcaças ao abate pode ser manipulada num estágio inicial de desenvolvimento por meio de técnicas alimentares.

Conclusões

A manutenção de bons níveis alimentares durante toda a recria dos bovinos, associada a melhor nível durante a engorda, proporciona carcaças de melhor qualidade.

Melhorar o nível alimentar na segunda seca da recria ou na engorda é fundamental para aumentar o rendimento de carcaça.

Suplementar na primeira seca, como prática isolada, não contribui para o rendimento e a qualidade da carcaça.

Recebido em: 05/09/00

Aceito em: 01/02/01

2 Eng.-Agr., Ph.D., CREA No 12153/D-Visto 1466/MS, Embrapa Gado de Corte.

3 Eng.-Agr., Ph.D., CREA No 12797/D, Embrapa Gado de Corte.

4 Eng.-Agr., M.Sc., CREA No 11753/D-Visto 1527/MS, Embrapa Gado de Corte.

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    Méd.-Vet., M.Sc., CRMV-MS N
    o 1471, Embrapa Gado de Corte, Rodovia BR 262 km 4, Caixa Postal 154, CEP 79002-970 Campo Grande, MS. Correio eletrônico:
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      04 Out 2001
    • Data do Fascículo
      Jun 2001

    Histórico

    • Recebido
      05 Set 2000
    • Aceito
      01 Fev 2001
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