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Estimativas da composição anatômica da carcaça de frangos de corte com base no nível de proteína da ração e peso da carcaça

Estimation of the carcasses anatomical composition of broiler from diet quality and carcass weight

Resumos

Um experimento foi desenvolvido com o objetivo de estimar as proporções dos cortes nobres da carcaça de frangos de corte pelo modelo linear. Foram utilizados 842 frangos machos da linhagem Avian Farms, de 22 a 42 dias de idade, distribuídos num delineamento inteiramente ao acaso em esquema fatorial 3x4. Foram fornecidas rações formuladas à base de milho e farelo de soja para conter 2.900 kcal de EM e 15,43; 17,26; 19,60; e 22,60% de PB; 3.100 kcal de EM e 16,49; 18,45; 20,95; e 24,22% de PB; e 3300 kcal de EM e 17,55; 19,64; 22,30; e 25,78% de PB, totalizando doze tratamentos. Cada tratamento foi constituído por quatro repetições de 18 aves. Fortes correlações foram observadas entre o peso vivo aos 42 dias e o peso da carcaça (r = 0,958), o peso da carcaça e o peso de pernas (r = 0,991), peso de peito+osso+pele (r = 0,965) e peso de peito desossado (r = 0,950). A porcentagem de lipídio foi negativamente correlacionada com a porcentagem de umidade da carcaça (r = -0,880). A equação linear é recomendada para a predição dos componentes anatômicos da carcaça de frangos de corte.

equação de predição; frangos de corte; peso de peito; peso da carcaça


An experiment was carried out to estimate the relations between broiler carcass weight and thighs+drumsticks, breast+bone+skin, and breast meat by the linear model. Eight hundred and sixty and four male poultry of Arbor Acres strain, from 22 to 42 days of age, were assigned to a completely randomized design in 3x4factorial scheme. Corn and soybean meal based diets were prepared to contain 2900 kcal ME and 15.43; 17.26; 19.60; and 22.60% CP; 3,100 kcal ME and 16.49; 18.45; 20.95; and 24.22%CP; and 3300 kcal ME and 17.55; 19.64; 22.30; and 25.78% CP, resulting in twelve treatments. Each treatment was constituted of four replicates of 18 birds. High correlations were observed between live weight at 42 days old and carcass weight (r = 0.958), carcass weight and thighs+drumsticks (r = 0.991), breast+bone+skin (r = 0.965) and deboned breast meat weight (r = 0.950). The lipid percentage was negatively correlated to the moisture percentage (r = -0.880). The linear equation is recommended to estimate carcass anatomical components in broiler chickens.

broiler; breast meat; carcass weight; prediction equation


Estimativas da composição anatômica da carcaça de frangos de corte com base no nível de proteína da ração e peso da carcaça

Estimation of the carcasses anatomical composition of broiler from diet quality and carcass weight

José Humberto Vilar da SilvaI; Luís Fernando Teixeira AlbinoII; Adriana Helena do NascimentoIII

IDepartamento de Agropecuária/CFT/UFPB/Bananeiras/PB/Brasil. CEP. 58.220-000. E.mail: jvilar@cft.ufpb.br

IIDepartamento de Zootecnia da UFV. Viçosa/MG/Brasil. CEP 36.570-000. E.mail: lalbino@ufv.br

IIIAjinomoto. São Paulo. Brasil

RESUMO

Um experimento foi desenvolvido com o objetivo de estimar as proporções dos cortes nobres da carcaça de frangos de corte pelo modelo linear. Foram utilizados 842 frangos machos da linhagem Avian Farms, de 22 a 42 dias de idade, distribuídos num delineamento inteiramente ao acaso em esquema fatorial 3x4. Foram fornecidas rações formuladas à base de milho e farelo de soja para conter 2.900 kcal de EM e 15,43; 17,26; 19,60; e 22,60% de PB; 3.100 kcal de EM e 16,49; 18,45; 20,95; e 24,22% de PB; e 3300 kcal de EM e 17,55; 19,64; 22,30; e 25,78% de PB, totalizando doze tratamentos. Cada tratamento foi constituído por quatro repetições de 18 aves. Fortes correlações foram observadas entre o peso vivo aos 42 dias e o peso da carcaça (r = 0,958), o peso da carcaça e o peso de pernas (r = 0,991), peso de peito+osso+pele (r = 0,965) e peso de peito desossado (r = 0,950). A porcentagem de lipídio foi negativamente correlacionada com a porcentagem de umidade da carcaça (r = -0,880). A equação linear é recomendada para a predição dos componentes anatômicos da carcaça de frangos de corte.

Palavras-chave: equação de predição, frangos de corte, peso de peito, peso da carcaça

ABSTRACT

An experiment was carried out to estimate the relations between broiler carcass weight and thighs+drumsticks, breast+bone+skin, and breast meat by the linear model. Eight hundred and sixty and four male poultry of Arbor Acres strain, from 22 to 42 days of age, were assigned to a completely randomized design in 3x4factorial scheme. Corn and soybean meal based diets were prepared to contain 2900 kcal ME and 15.43; 17.26; 19.60; and 22.60% CP; 3,100 kcal ME and 16.49; 18.45; 20.95; and 24.22%CP; and 3300 kcal ME and 17.55; 19.64; 22.30; and 25.78% CP, resulting in twelve treatments. Each treatment was constituted of four replicates of 18 birds. High correlations were observed between live weight at 42 days old and carcass weight (r = 0.958), carcass weight and thighs+drumsticks (r = 0.991), breast+bone+skin (r = 0.965) and deboned breast meat weight (r = 0.950). The lipid percentage was negatively correlated to the moisture percentage (r = -0.880). The linear equation is recommended to estimate carcass anatomical components in broiler chickens.

Keywords: broiler, breast meat, carcass weight, prediction equation

Introdução

A crescente demanda dos consumidores para o consumo de carnes magras tem aumentado a pressão sobre as instituições de pesquisas, indústria avícola, processamento e comercialização de carnes para o desenvolvimento de estratégias que reduzam a adiposidade da carcaça em frangos de corte.

Embora o relacionamento negativo entre lipídio, umidade e proteína da carcaça esteja claramente estabelecido (Jackson et al., 1982; Bartov & Plavnik, 1998), os efeitos da composição da ração e peso da carcaça sobre o peso dos cortes nobres a idade de abate têm sido escassamente estudados.

Como o peito e as pernas constituem cerca de 53% do peso da carcaça limpa e concorrem com cerca de 80 a 90% de seu preço, o desenvolvimento de modelos matemáticos para a predição desses componentes tem atraído a atenção de muitos pesquisadores.

Frangos de corte são pagos pela quantidade de peso vivo à idade de abate, mas não pela combinação de peso e qualidade da carcaça, como já ocorre com o pagamento de bovinos, suínos e ovinos. Portanto, não existe nenhum método prático de avaliação da qualidade da carcaça de frangos de corte em escala comercial.

Pesquisas buscando métodos práticos, não destrutivos, para avaliação de carcaça de frangos de corte tem atraído a atenção. Jackson et al. (1982) empregaram a regressão linear múltipla para a predição dos componentes químicos da carcaça e concluíram que a composição da ração foi inadequada como indicador, mas a inclusão da umidade da carcaça melhorou a predição da equação. Pesti & Bakalli (1997), com base em estudos desenvolvidos na década de 80 com frangos de corte (Becker et al., 1981; Chambers & Fortin, 1984), estudaram o uso da gravidade específica e desenvolveram modelos lineares simples para a predição da gordura, proteína e umidade da carcaça, obtendo equações com bom ajustamento. Entretanto, a avaliação da gravidade específica é consumidora de tempo, sendo uma atividade estranha ao processamento industrial da carcaça, exigindo a montagem de um aparato de pesagem das carcaças no ar e imersas em água, com temperatura mantida a 0ºC, requerendo o envolvimento de pessoal treinado.

O uso das características químicas da ração e peso da carcaça para avaliar a proporção de pernas e peito deve requerer menos tempo e trabalho. A medição do peso da carcaça é um método prático, podendo ser realizado na linha de processamento com os mesmos equipamentos de rotina. Os modelos de predição poderão servir como referência para classificar a carcaça no rótulo das embalagens, com base na predição da proporção dos cortes nobres, muito importante para o consumidor que adquire aves inteiras, a principal forma de comercialização do frango abatido no Brasil, podendo também, tornar-se ferramenta útil no pagamento das aves pela qualidade da carcaça.

O objetivo deste trabalho foi obter equações de predição dos componentes anatômicos da carcaça de frangos de corte, considerando o peso padrão de abate exigido pelo mercado e o conteúdo de proteína bruta da ração.

Material e Métodos

Metodologia experimental

O experimento foi conduzido no Aviário do Departamento de Zootecnia da Universidade Federal de Viçosa.

Foram utilizados 864 pintinhos machos da linhagem Avian Farms, com peso inicial de 0,502 + 0,0054 kg, criados de 1 a 21 dias em condições convencionais. A escolha de frangos machos foi justificada pelo maior peso absoluto de carne de peito (Smith et al., 1998) e de pernas em relação às fêmeas, no intuito de detectar possível tendência das rações promoverem aumentos na deposição de carne de peito, coxa e sobrecoxa.

O delineamento experimental utilizado foi inteiramente ao acaso, em esquema fatorial 3x4 (três níveis de energia e quatro níveis de PB). As rações à base de milho e farelo de soja foram formuladas para conter 2.900 kcal de EM e 15,43; 17,26; 19,60 e 22,60% de PB, 3.100 kcal de EM e 16,49; 18,45; 20,95 e 24,22% de PB, e 3.300 kcal de EM e 17,55; 19,64; 22,30 e 25,78% de PB, que resultaram em relações EM:PB de 188, 168, 148 e 128, respectivamente, dentro de cada nível de EM. Os doze tratamentos foram constituídos de quatro repetições de 18 aves. As rações (Tabela 1) foram formuladas, com base nas recomendações de Rostagno et al. (2000), com diferentes relacionamentos energia:proteína para promover alta variabilidade no peso e na proporção dos componentes da carcaça, aumentando o grau de sensibilidade dos modelos lineares às variadas situações de composição da ração.

O aumento da PB, em cada nível de EM, foi proporcionado pela variação nas proporções de milho, glúten de milho e farelo de soja e o aumento da EM foi assegurado pelo acréscimo da proporção de óleo de soja, em substituição parcial ao milho. Os teores de lisina, metionina + cistina, cálcio, fósforo disponível e sódio foram mantidos constantes em relação à proteína, com as adições de L-lisina·HCl, DL-metionina, calcário, fosfato bicálcico e sal comum, respectivamente.

Aos 21 dias, as aves foram pesadas e distribuídas em boxes de 1,0 x 2,0 m, com cama de maravalha e criadas, até 42 dias de idade, com ração e água à vontade. Utilizou-se um programa de luz contínuo (24 horas de luz/dia), enquanto a temperatura e a umidade do ambiente foram acompanhadas, diariamente, às 8, 13 e 18 h. Aos 42 dias de idade, após jejum de seis horas, quatro aves com +10% do peso vivo médio de cada parcela, foram abatidas, depenadas e evisceradas (com pés e cabeça), para as avaliações de carcaça em relação ao peso vivo e de pernas (coxa+sobrecoxa), peito+osso+pele e peito desossado, em relação ao peso da carcaça limpa. A carne de peito foi obtida pela retirada da pele e desossa manual, por somente um operador, para eliminar a variação, entre diferentes operadores.

Simultaneamente, duas aves foram abatidas por deslocamento cervical, depenadas, mas não evisceradas e as carcaças, com pés e cabeça, foram moídas em "cutter" comercial de 3 HP e 1775 rpm e, após homogeneização, foram retiradas amostras para as determinações de umidade e extrato etéreo em laboratório. As amostras foram pré-secas, em estufa, com ventilação forçada a + 55 ºC, por 72 horas. Em seguida, realizou-se o pré-desengorduramento, pelo método a quente no extrator "Soxhlet", durante três horas, devido ao alto teor de gordura das amostras. Posteriormente, foram moídas, acondicionadas em copos plásticos e armazenadas para as análises subseqüentes de matéria seca e extrato etéreo, conforme metodologias analíticas convencionais (Silva, 1990).

As análises estatísticas foram realizadas pelo programa SAEG (UFV, 1982). O relacionamento entre as variáveis foi avaliado por correlação de Pearson (P<0,0001) e as regressões lineares simples foram obtidas, usando o procedimento Regrelin. As médias de energia foram comparadas pelo teste Student Newmann Keuls (P<0,05).

Resultados e Discussão

Na Tabela 2 são apresentados os resultados do consumo de ração, peso vivo, ganho de peso, conversão alimentar e consumo de proteína bruta. O consumo de ração, peso vivo, ganho de peso e o consumo de proteína (P<0,01) diminuíram, linearmente, à medida que o nível de PB foi reduzido dentro dos níveis de 2.900, 3.100 e 3.300 kcal de EM, enquanto, a conversão alimentar piorou (P<0,01), em função do desequilíbrio crescente no relacionamento EM: PB. Partindo do princípio que em sistema de alimentação à vontade as aves consomem alimentos para satisfazer suas necessidades em energia (Penz Jr. et al., 1999) o aumento das relações EM: PB resultou em um consumo de nutrientes, regulado pela ingestão energética, abaixo das necessidades, piorando o desempenho das aves.

O aumento do nível de energia melhorou o ganho de peso e a conversão alimentar das aves (P<0,01). Estes resultados estão de acordo com o observado por vários autores (Bertechini et al., 1991, Leeson et al., 1996, Nascimento et al., 1998, Zanussso, 1998, Oliveira Neto et al., 1999) que constataram melhor desempenho de frangos de corte, recebendo dietas com maior densidade energética.

Segundo Temin et al. (2000), o aumento do consumo de proteína bruta melhora o ganho de peso e a eficiência alimentar de frangos de corte na fase de 22 a 42 dias de idade.

Na Tabela 3, são mostrados os resultados de pesos da carcaça, pernas, peito com osso e pele e peso do peito desossado que diminuíram e da gordura abdominal que aumentou, de forma linear, com a redução dos níveis de proteína dentro dos níveis de energia da ração (P<0,01). Com a redução do nível de proteína e, conseqüentemente, aumento da relação EM: PB, o excesso de energia disponível foi desviado para a síntese de gordura na carcaça. Fato comprovado por Albino et al. (1999) citados por Albino et al. (2000) que observaram maior desempenho e menor teor de gordura na carcaça na fase inicial de frangos de corte alimentados com relação EM: PB de 125,0 em comparação com a relação 151,5. Segundo Kessler & Brugalli (1999), melhorias nas deposições de proteína e gordura podem ser obtidas, usando menores relações EM: PB, enquanto Macleod (1991) comentou que, à medida que a ingestão de proteína aumenta, com mais proteína na ração, maior rendimento linear de carne comestível tem sido observado em frangos de corte machos.

O relacionamento linear, entre peso e proporções dos cortes nobres na carcaça, não tem sido estudado. As grandes vantagens do uso deste método são: possibilidade de avaliação da carcaça na linha de processamento, o método não é destrutivo, não é consumidor de tempo e não polui o meio ambiente. Ao contrário, as determinações de gordura, nitrogênio e umidade da carcaça são métodos destrutivos, complexos, consumidores de tempo e caros. As determinações de gordura e nitrogênio utilizam procedimentos analíticos que deixam resíduos químicos, poluentes do meio ambiente.

Na Tabela 4, descreve-se o RESUMO da estatística descritiva dos componentes químicos da ração e anatômicos da carcaça. As dietas usadas produziram alto grau de variação no desempenho e nos cortes medidos na carcaça, em virtude da variação na composição química da ração. Diferenças entre os valores mínimos e máximos foram de 54% para o peso vivo, 88% para o ganho de peso, 77% para a conversão alimentar, 87% para o consumo de proteína, 59% para o peso de carcaça (PC), 63% para o peso de pernas, 81% para o peso de peito com osso e 89% para o peso de peito desossado.

Altas correlações foram constatadas (Tabela 5) entre a porcentagem de proteína da ração e o consumo diário de proteína (r = 0,970; P<0,0001), o peso vivo (r = 0,922; P<0,0001), o peso da carcaça (r = 0,891; P<0,0001), o peso de pernas (r = 0,884; P<0,0001), peito+osso+pele (r = 0,879; P<0,0001), o peito desossado (r = 0,878; P<0,0001), e o ganho de peso (r = 0,922; P<0,0001) no período. As correlações obtidas entre o consumo de proteína, o peso vivo e as variáveis de carcaça também foram, altamente, significativas (P<0,0001).

Tabela 5

A conversão alimentar apresentou relacionamento altamente negativo com a porcentagem e o consumo diário de proteína, peso vivo, peso da carcaça, peso dos cortes e o ganho de peso (P<0,0001), sendo as maiores correlações negativas observadas com a porcentagem de proteína bruta da ração (r = -0,932), peso vivo (r = -0,913) e o ganho de peso (r = -0,913). A regressão Y = 3,97368 -0,0954437X (r2 = 0,87), de conversão alimentar, em função da porcentagem de proteína da ração, sugere que a cada unidade de aumento na porcentagem de proteína da ração a conversão alimentar melhorou em 0,095.

Forte correlação positiva (Tabela 3) foi observada entre o peso vivo e o peso da carcaça (r = 0,958; P<0,0001) e, destes, com o peso de pernas, peito+osso+pele, peito desossado e o ganho de peso. Similar correlação (r = 0,980) entre peso vivo e peso da carcaça, foi descrito por Chambers & Fortin (1984).

Maior correlação foi observada entre peso vivo e ganho de peso (r = 0,999). Altas correlações foram constatadas entre peso da carcaça e peso de pernas (r = 0,991) e o peso da carcaça e o peso de peito+osso+pele (r = 0,965). Similarmente, os pesos de peito+osso+pele e de peito desossado foram altamente correlacionados (r = 0,986).

A partir da Figura 1, deve-se concluir que, sob as condições deste estudo, as porcentagens de pernas, peito+osso+pele e peito desossado podem ser preditas a partir do peso da carcaça de frangos de corte.


Na Tabela 5, são mostrados os melhores modelos de regressões lineares simples. Uma possível razão para o bom ajustamento dos modelos lineares obtidos foi, certamente, a alta variabilidade na composição da carcaça introduzida pelas diferenças nas relações energia: proteína das dietas (Tabela 3).

Apesar de Becker et al. (1981) sugerirem a gordura abdominal como bom indicador da porcentagem de gordura da carcaça de frangos, a correlação da gordura abdominal com a composição de lipídio da carcaça foi fraca e, por esta razão, foi abandonada. Portanto, o resultado do presente trabalho corrobora com a opinião de Kessler et al. (2000), que não encontraram boa correlação da gordura abdominal com a concentração de lipídeo da carcaça. A imprecisão nas medições desta variável que, reconhecidamente, apresenta alto coeficiente de variação, deve ter sido a principal causa dessa discrepância.

Um fraco relacionamento negativo foi encontrado entre a porcentagem de proteína da ração e peso da gordura abdominal na carcaça (r = -0,316; P<0,014).

A correlação entre a porcentagem de umidade e peso dos cortes foi irrelevante, mas alta correlação negativa (r = -0,880; P<0,0001) foi constatada entre a umidade e a porcentagem de lipídio da carcaça (Figura 2), por intermédio da equação de regressão linear: Y = 81,5567 1,00112 X (r2 = 0,77). O coeficiente de regressão (b) sugere que, para cada aumento de 1% na umidade da carcaça, ocorre queda correspondente a 1% no lipídio da mesma. Redução semelhante na porcentagem de lipídio (-0,88), com o aumento da porcentagem de umidade da carcaça, também, foi observado por Pesti & Bakalli (1997).


Como existe uma relação positiva, entre o conteúdo de água e de proteína na carcaça (Lin, 1981; Leenstra, 1986; Leeson, 1995; Kessler et al., 2000), o resultado mostrado na Figura 2, sugere um possível aumento do conteúdo de proteína, concomitante, ao aumento da umidade da carcaça.

Segundo Prak (1999), para cada grama de proteína retida na carcaça, são retidos também de 3 a 4 gramas de água. Leeson & Summers (1997) mostraram relacionamento inverso entre os valores relativos de lipídio que caem, quando os de proteína crescem, simultaneamente.

Usando os resultados obtidos por Oliveira et al. (1999), com a mesma linhagem, sexo, idade, níveis de energia metabolizável e proteína, similares aos usados no presente estudo, para testar a sensibilidade dos modelos, constatou-se uma predição de 97 e 98% do peso da carcaça, 93 e 95% do peso de pernas e 104 e 106% do peso de peito+osso das aves que foram alimentadas , respectivamente, com 3000 e 3300 kcal de EM e nível de proteína de 21,56%.

Aplicando-se as equações para predizer os pesos da carcaça e cortes de três linhagens, desenvolvidas em uma universidade brasileira (Lisboa et al., 1999) observou-se, que o peso da carcaça foi estimado em 95 e 95% do valor observado, pernas em 102 e 105%, e peito+osso+pele em 125 e 118% para machos e fêmeas, respectivamente. A superestimação dos pesos de peito+osso+pele pela equação foi, provavelmente, em decorrência do reduzido rendimento de peito dessas linhagens (21% nos machos e 22% nas fêmeas) em relação aos frangos, utilizados no presente estudo, que apresentaram rendimento médio de 25,6%.

Conclusões

Existe um forte relacionamento linear positivo entre a composição de proteína da ração e o peso da carcaça e entre o peso da carcaça e os pesos de pernas, peito+osso+pele e peito desossado, podendo-se recomendar o uso de equações lineares para a predição da proporção destes cortes na carcaça de frangos. O método tem aplicação útil em plantas de processamento para monitorar as mudanças na composição dos cortes nobres, influenciados por diferentes regimes dietéticos e, ainda, como referência nos rótulos das embalagens, para o consumidor de frangos inteiros.

Literatura Citada

Recebido em: 21/08/01

Aceito em: 28/05/02

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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    18 Ago 2003
  • Data do Fascículo
    Abr 2003

Histórico

  • Recebido
    21 Ago 2001
  • Aceito
    28 Maio 2002
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