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Degradabilidade in situ da matéria seca, proteína bruta e fibra em detergente neutro de algumas gramíneas sob pastejo contínuo

In situ dry matter, crude protein, and neutral detergent fiber degradability of some grasses in continuous grazing

Resumos

Foram avaliadas a cinética de degradação e a degradabilidade efetiva (DE) da matéria seca (MS), fibra em detergente neutro (FDN) e proteína bruta (PB) com ou sem correção para contaminação por proteína de origem microbiana da aveia preta, capim-Mombaça, grama estrela roxa e milheto, provenientes de pastagens sob pastejo contínuo. A forragem foi colhida em diferentes pontos do piquete a cada 14 dias para aveia preta e, a cada 28 dias, para as outras forrageiras. Os alimentos foram incubados no rúmen em sacos de náilon nos tempos 0, 6, 12, 24, 48, 72 e 96 h. Foram utilizados três bovinos machos, inteiros, com 350 kg PV. Para correção da contaminação por proteína microbiana nos resíduos de incubação, foi determinado o teor de proteína insolúvel em detergente neutro. Para MS, a aveia preta e o milheto apresentaram maior fração solúvel (a = 32 e 24%) e maior DE a 5%/h (53 e 48%). A grama estrela roxa de inverno apresentou menor fração solúvel (14%) e menor DE da MS a 5%/h (23%). Para PB corrigida, a aveia preta e o milheto apresentaram maior DE a 5%/h (80 e 75%) em relação às outras gramíneas (DE média de 67%). A taxa de degradação e a DE da PB foram subestimadas quando não foi feita a correção para contaminação microbiana. A porcentagem de contaminação foi semelhante entre as forrageiras e para os diferentes tempos de incubação, com valores médios de 52%. Para FDN, a aveia preta apresentou maior DE a 5%/h (40%), seguida pelo milheto (35%), estrela roxa no verão (23%), estrela roxa no inverno (19%) e Mombaça (16%). A aveia preta e o milheto apresentaram maior fração solúvel, maior taxa de degradação e maior DE da MS, PB e FDN em relação à grama estrela e ao capim-Mombaça.

aveia preta; degradabilidade; estrela roxa; milheto; Mombaça


The degradation kinetics, effective degradability (ED) of dry matter (DM), neutral detergent fiber (NDF), and crude protein (CP) with or without correction for microbial protein were evaluated from black oat, Mombaça, star grass and millet, taken from pastures at a continuous grazing. The forage was collected from different points of pasture every 14 days for black oat and every 28 days for the other grasses. The feeds were incubated in the rumen using nylon bag at different times (0, 6, 12, 24, 48, 72 and 96 h). Three bulls of 350 kg BW were used. For correction of microbial protein contamination in incubation residue the neutral detergent insoluble protein analyses were performed. For DM, black oat and millet had higher soluble fraction (a = 32 and 24%) and higher ED at 5%/h (53 and 48%). The winter stargrass presented the lowest soluble fraction (14%) and the lowest DM ED at 5%/h (23%). For corrected CP, black oat and millet had higher ED (80 and 75%) than the other grasses (average ED of 67%). The degradation rate and ED of CP were underestimated when the correction for microbial contamination was not done. For NDF, black oat presented higher ED at 5%/h (40%) followed by millet (35%), star grass-summer (23%), star grass-winter (19%) and Mombaça (16%). Black oat and millet showed higher soluble fraction, higher degradation and higher ED of DM, CP and NDF when compared to stargrass and Mombaçagrass.

black oat; degradability; millet; Mombaça; stargrass


Degradabilidade in situ da matéria seca, proteína bruta e fibra em detergente neutro de algumas gramíneas sob pastejo contínuo1 1 Parte da tese de doutorado da segunda autora apresentada à Universidade Estadual de Maringá.

In situ dry matter, crude protein, and neutral detergent fiber degradability of some grasses in continuous grazing

Ivanor Nunes do PradoI; Fernanda Barros MoreiraII; Lúcia Maria ZeoulaI; Fábio Yoshimi WadaIII; Ivone Yurika MizubutiIV; Carolina Antunes NevesIII

IProfessor Doutor do Departamento de Zootecnia, Universidade Estadual de Maringá, Av. Colombo, 5790, CEP: 87020-900, Pesquisador do CNPq

IIMédica Veterinária, Universidade Estadual de Londrina, Campus Universitário, Departamento de Zootecnia, CEP: 86051-990, bolsista PRODOC/CAPES. E.mail: fbmoreira@sercomtel.com.br

IIIMestrando do Programa de Pós-Graduação em Zootecnia, Universidade Estadual de Maringá

IVProfessor Doutor do Departamento de Zootecnia, Universidade Estadual de Londrina, Campus Universitário

RESUMO

Foram avaliadas a cinética de degradação e a degradabilidade efetiva (DE) da matéria seca (MS), fibra em detergente neutro (FDN) e proteína bruta (PB) com ou sem correção para contaminação por proteína de origem microbiana da aveia preta, capim-Mombaça, grama estrela roxa e milheto, provenientes de pastagens sob pastejo contínuo. A forragem foi colhida em diferentes pontos do piquete a cada 14 dias para aveia preta e, a cada 28 dias, para as outras forrageiras. Os alimentos foram incubados no rúmen em sacos de náilon nos tempos 0, 6, 12, 24, 48, 72 e 96 h. Foram utilizados três bovinos machos, inteiros, com 350 kg PV. Para correção da contaminação por proteína microbiana nos resíduos de incubação, foi determinado o teor de proteína insolúvel em detergente neutro. Para MS, a aveia preta e o milheto apresentaram maior fração solúvel (a = 32 e 24%) e maior DE a 5%/h (53 e 48%). A grama estrela roxa de inverno apresentou menor fração solúvel (14%) e menor DE da MS a 5%/h (23%). Para PB corrigida, a aveia preta e o milheto apresentaram maior DE a 5%/h (80 e 75%) em relação às outras gramíneas (DE média de 67%). A taxa de degradação e a DE da PB foram subestimadas quando não foi feita a correção para contaminação microbiana. A porcentagem de contaminação foi semelhante entre as forrageiras e para os diferentes tempos de incubação, com valores médios de 52%. Para FDN, a aveia preta apresentou maior DE a 5%/h (40%), seguida pelo milheto (35%), estrela roxa no verão (23%), estrela roxa no inverno (19%) e Mombaça (16%). A aveia preta e o milheto apresentaram maior fração solúvel, maior taxa de degradação e maior DE da MS, PB e FDN em relação à grama estrela e ao capim-Mombaça.

Palavras-chave: aveia preta, degradabilidade, estrela roxa, milheto, Mombaça

ABSTRACT

The degradation kinetics, effective degradability (ED) of dry matter (DM), neutral detergent fiber (NDF), and crude protein (CP) with or without correction for microbial protein were evaluated from black oat, Mombaça, star grass and millet, taken from pastures at a continuous grazing. The forage was collected from different points of pasture every 14 days for black oat and every 28 days for the other grasses. The feeds were incubated in the rumen using nylon bag at different times (0, 6, 12, 24, 48, 72 and 96 h). Three bulls of 350 kg BW were used. For correction of microbial protein contamination in incubation residue the neutral detergent insoluble protein analyses were performed. For DM, black oat and millet had higher soluble fraction (a = 32 and 24%) and higher ED at 5%/h (53 and 48%). The winter stargrass presented the lowest soluble fraction (14%) and the lowest DM ED at 5%/h (23%). For corrected CP, black oat and millet had higher ED (80 and 75%) than the other grasses (average ED of 67%). The degradation rate and ED of CP were underestimated when the correction for microbial contamination was not done. For NDF, black oat presented higher ED at 5%/h (40%) followed by millet (35%), star grass-summer (23%), star grass-winter (19%) and Mombaça (16%). Black oat and millet showed higher soluble fraction, higher degradation and higher ED of DM, CP and NDF when compared to stargrass and Mombaçagrass.

Key Words: black oat, degradability, millet, Mombaça, stargrass

Introdução

Nos sistemas usuais de produção animal em pastagens, os ruminantes obtêm a maioria dos nutrientes a partir de volumosos, o que reflete a necessidade do conhecimento da qualidade nutricional dos alimentos consumidos, para predição do desempenho animal em sistemas de produção a pasto.

A determinação do valor nutritivo dos alimentos destinados aos ruminantes tem sido alvo de contínuos trabalhos de pesquisa, tornando constante a procura por metodologias acuradas e simples para estimar a qualidade dos alimentos, objetivando predizer mais precisamente seus valores protéicos e energéticos para que atendam a demanda gerada pelas funções produtivas dos animais em determinado estádio fisiológico.

A cinética de degradação da forragem tem sido estimada utilizando-se a técnica in situ de sacos de dracon (náilon) incubados em bovinos fistulados no rúmen (Orskov et al., 1980), que permite avaliar vários alimentos ao mesmo tempo, além do baixo custo e rapidez, quando comparada ao método in vivo (Sampaio, 1994). No entanto, em função do contato dos microrganismos do rúmen com o alimento, pode ocorrer contaminação por proteína de origem microbiana dentro dos sacos de nylon utilizados, podendo resultar em subestimação da degradabilidade ruminal da proteína bruta dos alimentos. Alimentos volumosos e com baixos teores de proteína bruta são mais susceptíveis a serem subestimados, uma vez que a proporção de proteína de origem microbiana será maior quanto menor for o teor de proteína bruta do alimento (Nocek, 1988).

Entre os indicadores microbianos possíveis de serem utilizados para determinar a proteína de origem microbiana, o ácido diaminopimélico (DAPA) tem sido o método mais acessível, embora seja de custo elevado (Valadares Filho et al., 1992).

Considerando que a proteína microbiana é solúvel em detergente neutro e a proteína solúvel em detergente neutro do alimento é 100% degradada no rúmen (Sniffen et al., 1992), Mass et al. (1999) propõem que o nitrogênio associado à população microbiana possa ser estimado pela análise do nitrogênio insolúvel em detergente neutro das amostras depois de incubadas no rúmen. Os autores supracitados compararam o método de determinação de proteína microbiana pelas purinas (Zinn & Owens, 1986) com a determinação do nitrogênio insolúvel em detergente neutro, não encontrando diferenças entre estes métodos para a estimativa da porcentagem de proteína não-degradável no rúmen, relatando adequação da metodologia para correção da contaminação microbiana dos alimentos.

Objetivou-se, neste trabalho, avaliar a degradabilidade in situ da matéria seca, parede celular e proteína bruta com ou sem correção da proteína microbiana das pastagens de aveia preta, grama estrela roxa, capim-Mombaça e milheto, mantidas em pastejo contínuo.

Material e Métodos

O experimento foi conduzido na Fazenda Experimental de Iguatemi (FEI) e no Laboratório de Nutrição Animal da Universidade Estadual de Maringá (UEM). As forrageiras foram coletadas na Fazenda Ibicatu, localizada no município de Centenário do Sul, região norte do Paraná. O solo da região é do tipo Latossolo vermelho escuro, textura média e o clima é caracterizado como subtropical úmido mesotérmico, conforme descrito pela SEAB (1994).

Foram utilizados três bovinos (½ Nelore ½ Aberdeen Angus), de 20 meses, machos, inteiros, canulados no rúmen, com peso médio de 350 kg. Cada animal recebeu, diariamente, feno de Coastcross ad libitum, 8 kg de silagem de milho e 2 kg de ração concentrada (Tabela 1).

Utilizando-se a técnica de degradação in situ, foi determinada a degradabilidade ruminal da matéria seca, fibra em detergente neutro e proteína bruta, com ou sem correção de contaminação por proteína microbiana de algumas forrageiras aveia preta (Avena strigosa cv. IAPAR 61), capim-Mombaça (Panicum maximum Jacq. Mombaça), grama estrela roxa (Cynodon plectostachyrus Pilger) (verão e inverno) e milheto (Pennisetum americanum) mantidas sob pastejo contínuo durante todo o período de colheita.

Foram colhidas amostras de 0,25 m2 no nível do solo, em diferentes pontos do piquete, conforme técnica descrita por Houlderbaun & Sollenberg (1992). Para a aveia preta, foram colhidas amostras a cada 14 dias, no período entre julho e setembro de 2000 e, para a grama estrela roxa (inverno), a cada 28 dias entre maio e outubro de 2000. Para o capim-Mombaça, grama estrela roxa (verão) e milheto, as amostras foram colhidas a cada 28 dias, entre novembro de 2000 e fevereiro de 2001. As amostras foram secas em estufa a 55ºC por 72 horas, processadas em moinho tipo faca com peneira de 5 mm de crivo e homogeneizadas formando uma amostra composta para cada forrageira para incubação posterior. A composição química das forrageiras incubadas está representada na Tabela 1.

Os alimentos foram incubados (6 g de MS em cada saco) em triplicata, em sacos de náilon (53 micras), lacrados a quente, de dimensão de 10 x 20 cm (ANKOM®), nos seguintes tempos de incubação, em ordem decrescente: 96, 72, 48, 24, 12 e 6 h. Depois de retirados do rúmen, estes, juntamente com o tempo 0, foram lavados em água fria, em máquina de lavar roupas, durante 45 minutos (quatro ciclos), e posteriormente secos em estufa a 55ºC, por 72 horas.

Foram determinados os teores de MS, PB e FDN segundo metodologias descritas por Silva (1990). Para a correção da contaminação microbiana, foi feita análise do nitrogênio insolúvel em detergente neutro (NIDN) do resíduo após a incubação, utilizando a metodologia proposta por Mass et al. (1999). O nitrogênio de origem microbiana foi considerado como o nitrogênio total do resíduo menos o nitrogênio insolúvel em detergente neutro. As correções foram feitas para os tempos 12, 24, 48, 72 e 96 h. Para o tempo de 6 h não foi feita esta correção, pois existe a fração protéica B2, que é solúvel em detergente neutro, mas é de origem alimentar, e não microbiana. Uma vez que a taxa de degradação desta fração varia de 8 a 15%/h e apresenta 100% de degradação no rúmen (Sniffen et al., 1992), a partir do tempo 12 h, esta fração já estaria degradada por completo. Assim, a partir deste tempo, toda fração solúvel em detergente neutro será apenas de origem microbiana.

Os dados de desaparecimento foram ajustados por regressão não-linear, que prediz a degradabilidade potencial (DP) dos alimentos por meio do modelo proposto por Mehez & Orskov (1977):

DP = a + b(1 e-ct)

em que a é a fração solúvel; b, a fração potencialmente degradável; c, a taxa de degradação da fração b; e t, o tempo de incubação.

A degradabilidade efetiva (DE) foi calculada segundo o modelo matemático proposto por Orskov & Mc Donald (1979):

DE = a + ((b*c)/(c + k))

em que k é a taxa estimada de passagem de sólidos no rúmen: 2, 5 e 8%/h.

Os parâmetros não-lineares a, b e c foram estimados pelo procedimento algorítmico de Gaus Newton e a degradabilidade efetiva foi comparada entre as forragens pelo teste de Tukey, a 5% de probabilidade, utilizando-se o sistema para análises estatísticas e genéticas - SAEG (UFV, 1997).

Resultados e Discussão

A aveia preta e o milheto apresentaram maior fração solúvel (a), maior fração potencialmente degradável (b) e maior degradabilidade efetiva (DE) da matéria seca em relação às outras forrageiras (Tabela 2). A DE da MS da aveia preta e do milheto foram semelhantes à DE da MS obtida para a silagem de milho por Martins et al. (1999), para taxa de passagem de 2%/h.

A maior DE da aveia preta possivelmente ocorreu em função de diferenças nas características anatômicas entre as plantas temperadas e tropicais. Mais de 50% dos carboidratos de reserva das folhas de gramíneas tropicais estão localizados no interior do tecido especializado das células da bainha. Estas células apresentam maior espessura de parede celular, o que retarda a degradação da fibra e, conseqüentemente, o acesso dos microrganismos ruminais ao interior das células. As gramíneas temperadas (aveia preta) não apresentam o tecido especializado das células da bainha, estando a maior parte dos nutrientes nas células do mesófilo. Estas células possuem apenas uma camada fina de parede celular, que é rápida e completamente degradada pelos microrganismos do rúmen (Wilson, 1994).

Os parâmetros estimados e a DE da MS da grama estrela roxa no verão e inverno foram semelhantes, com exceção da DE para a taxa de passagem de 2%/h, que foi maior para a forragem no verão. Assis et al. (1999), avaliando a cinética de degradação da grama estrela Porto Rico, observaram 19,8% de fração solúvel, 57,7% de fração potencialmente degradável e 3,3%/h de taxa de degradação. A DE foi de 55,6% para a taxa de passagem de 2%/h. Estes valores foram superiores ao obtido neste experimento, o que pode ser decorrente da qualidade nutricional da forrageira avaliada. O nível de FDN observado pelos autores para a grama estrela Porto Rico foi de 71,6%, valor inferior ao obtido neste experimento (Tabela 1). Assim, o maior teor de conteúdo celular na forragem observado neste experimento determinou a menor degradabilidade efetiva.

A DE da matéria seca do capim-Mombaça (Tabela 2) foi semelhante à obtida por Salman et al. (2000), em pastagem de capim-Tanzânia (Panicum maximum, J. cv. Tanzânia), com valor de 41,2% para taxa de passagem de 2%/h. No entanto, foi inferior à obtida por Aguiar et al. (1999) para o capim-Furachão (Panicum repens, L.), com valor médio de 49,0% de DE da MS para taxa de passagem de 2%/h.

A DE da PB da aveia preta foi superior a do milheto, que foi superior à DE da PB das outras gramíneas avaliadas (Tabela 3). A DE da PB do milheto obtida neste experimento foi superior à descrita por Londoño Hernández et al. (1998), para a mesma gramínea seca a 55ºC (50,0%), e semelhante à desta gramínea in natura (77,0%), considerando taxa de passagem de 2%/h. A fração solúvel, fração potencialmente degradável e a taxa de degradação do milheto foram semelhantes à descrita pelos mesmos autores para o milheto incubado in natura, com valores de 43,0% de fração solúvel, 51,0% de fração potencialmente degradável e taxa de degradação de 4%/h.

A DE da proteína bruta obtida para o capim-Mombaça (63,4%) foi semelhante àquela encontrada por Salman et al. (2000), para o capim-Tanzânia (57,1% de DE), considerando taxa de passagem de 2%/h. Da mesma forma, a DE verificada para a grama estrela roxa, no verão (60,9%), foi semelhante à encontrada por Assis et al. (1999), para a grama estrela Porto Rico, para taxa de passagem de 2%/h, e semelhante à estimada por Aguiar et al. (1999), para o capim-Furachão (média de 60,0% de DE da PB para taxa de passagem de 2%/h).

A fração solúvel da proteína foi superior para a aveia preta em relação às demais gramíneas (Tabela 4). Estas diferenças podem ser decorrentes da morfofisiologia diferenciada do tecido vegetal das gramíneas tropicais e temperadas. As gramíneas temperadas apresentam 50% da proteína dos cloroplastos na forma de rubisco (enzima responsável pela captura do CO2 em plantas C3), localizada nas células do mesófilo, sendo, então, de alta solubilidade no meio. No entanto, nas gramíneas tropicais, esta enzima, além de estar em menor concentração, não está presente nas células do mesófilo, mas no parênquima, envoltas pelas células da bainha (Ulyatt & Mcnabb, 1999). Esta caraterística morfológica resulta em maior solubilidade e taxa de degradação mais elevada da proteína bruta das forrageiras temperadas quando comparadas às tropicais.

A partir da análise comparativa entre a DE da proteína bruta (Tabela 3) e a DE da proteína bruta corrigida para contaminação microbiana (Tabela 4), observou-se que, para todas as gramíneas avaliadas, a DE foi maior quando corrigida pela proteína microbiana. Isto significa que, quando a degradabilidade da proteína bruta de forrageiras é avaliada, é necessária a quantificação da proteína microbiana presente nos resíduos de incubação, pois, caso contrário, os dados obtidos serão subestimados, podendo levar a falsas interpretações de resultados.

A porcentagem de contaminação por proteína bruta microbiana foi semelhante entre as forrageiras e para os diferentes tempos de incubação, com valores médios de 52% (Tabela 5). Valadares Filho et al. (1992), ao avaliarem a contaminação por proteína microbiana em alguns alimentos, observaram, para a silagem de milho, valores de 53,9% para o tempo de incubação de 48 h. Quando não foi feita a correção para contaminação por proteína microbiana, a DE da silagem de milho foi subestimada em 38%. Neste experimento, a DE da proteína bruta da grama estrela roxa e do capim-Mombaça foram subestimadas em, aproximadamente, 28,0%. A DE da aveia preta e do milheto foram subestimadas em, aproximadamente, 14,0%.

Da mesma forma, a taxa de degradação (c) da PB da forragem foi superior quando feita a correção para contaminação por proteína microbiana (Tabelas 3 e 4). Nocek (1988), em revisão sobre o assunto, também observou maior taxa de degradação da forragem, quando feita a correção para contaminação microbiana.

A fração solúvel e potencialmente degradável e a DE da FDN foram diferentes entre as forrageiras avaliadas (Tabela 6). A DE da FDN com taxa de passagem de 2%/h foi superior para a pastagem de aveia preta (55,7%) seguida pelo milheto (49,1%), estrela roxa-verão (32,5%), Mombaça (29,0%) e estrela roxa-inverno (26,4%). O valor obtido para o Mombaça foi semelhante ao encontrado por Salman et al. (2000) para o capim-Tanzânia, com valores de 32,0%. Da mesma forma, Gonçalves (2001) observou para a grama Tifton 85, Tifton 44 e Coastcross valores médios de 31,0% de DE da FDN para taxa de passagem de 2%/h. Malafaia et al. (1998) também relataram DE da FDN de 29,0% para a grama Tifton-85, semelhante ao obtido neste experimento. No entanto, Aguiar et al. (1999) observaram, para o capim-Furachão, 46,0% de DE da FDN para taxa de passagem de 2%/h, valor superior ao obtido neste experimento.

Conclusões

A aveia preta e o milheto apresentaram maior fração solúvel, maior taxa de degradação e maior degradabilidade efetiva da matéria seca, proteína bruta e fibra em detergente neutro em relação à grama estrela roxa e capim-Mombaça.

A degradabilidade da proteína bruta foi subestimada quando não foi feita a correção da contaminação por proteína de origem microbiana. A porcentagem de contaminação por proteína microbiana encontrada neste estudo foi semelhante entre as forrageiras e para os diferentes tempos de incubação, com valores médios de 52%.

Literatura Citada

Recebido em: 24/02/03

Aceito em: 24/11/03

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  • 1
    Parte da tese de doutorado da segunda autora apresentada à Universidade Estadual de Maringá.
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      21 Jan 2005
    • Data do Fascículo
      Out 2004

    Histórico

    • Recebido
      24 Fev 2003
    • Aceito
      24 Nov 2003
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