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Consumo, digestibilidade aparente, produção e composição do leite de vacas leiteiras alimentadas com farelo de trigo

Intake, apparent digestibility, milk production and composition in dairy cows fed with wheat middlings

Resumos

Foram objetivos desta pesquisa determinar o tempo necessário para adaptação dos animais às dietas e avaliar o efeito de níveis crescentes de farelo de trigo, em substituição ao fubá de milho, na ração, sobre a produção e composição do leite, consumos e digestibilidades aparentes de matéria seca (MS), matéria orgânica (MO), fibra em detergente neutro (FDN), extrato etéreo (EE), carboidratos totais (CT), proteína bruta (PB), consumo de nutrientes digestíveis totais (NDT) e carboidratos não-fibrosos (CNF), e a economicidade das dietas. Utilizaram-se 12 vacas Holandesas, distribuídas em três quadrados latinos (QL) balanceados 4 x 4, de acordo com o período de lactação. As quatro rações experimentais foram formuladas para conter na base da matéria seca 70% de silagem de milho e 30% de concentrado. Foram utilizados níveis crescentes de farelo de trigo no concentrado (0, 33, 67 e 100%) em substituição ao milho, para os tratamentos 1, 2, 3, e 4, respectivamente. As dietas foram isoprotéicas (15% PB). Os resultados de consumo de MS indicaram que cinco dias são suficientes para adaptação dos animais aos tratamentos. Níveis crescentes de farelo de trigo resultaram em aumento linear do consumo de FDN expressos em kg/dia e %PV e decréscimo linear do consumo de CNF, entretanto os consumos de MS, MO, PB, EE, CT e NDT não variaram. As digestibilidades aparentes totais de MS, MO, CT e PB apresentaram comportamento linear decrescente com o aumento dos níveis de farelo de trigo. Entretanto, as digestibilidades do EE e da FDN não variaram. A produção de leite corrigida ou não para 3,5% de gordura, os teores de proteína e de gordura e os extratos secos totais e desengordurados não foram influenciados pelos níveis de farelo de trigo.

dieta total; fubá de milho; silagem de milho; vacas em lactação


The objetives of this research were to detect how many days were necessary to animals adapt to the diets, by measuring intake; to evaluate the effect of crescent levels of wheat middlings as a replacement for corn meal in the diets on the milk production and composition, the intake and apparent digestibilities of dry matter (DM), organic matter (OM), neutral detergent fiber (NDF), ether extract (EE), total carbohydrates (TC), crude protein (CP), intake of total digestible nutrient (TDN) and non fiber carbohydrate (NFC), as well as diets economical evaluation. Twelve Holstein cows were allotted to four balanced 4 x 4 Latin square design in accordance with the lactation period. The four experimental diets were formulated to contain 70% corn silage and 30% of concentrate. Crescent levels of wheat middlings were used in the concentrate (0, 33, 67 e 100%) as a replacement for corn meal, for the treatment 1, 2, 3 and 4, respectively. All diets were isoproteics, with aproximately 15% CP. Five days was enough for adaptation of the animals to the rations. There was linear increase in the intake of NDF, expressed as kg/day and %LW and linear decrease in the intake of NFC, however there was no change in the intake of DM, OM, CP, EE, TC and TDN. The total apparent digestibilities of DM, OM, TC and CP presented a linear decrease response, with increasing levels of wheat middlings in the diets. However, the total apparent digestibilities of EE and NDF did not change. The milk production corrected or not for 3.5% fat and milk protein, fat, milk dry matter and deffated milk contents were not influenced by the wheat middlings levels in diets.

corn silage; corn meal; lactating cows; total mix ration


RUMINANTES

Consumo, digestibilidade aparente, produção e composição do leite de vacas leiteiras alimentadas com farelo de trigo1 1 Parte da Dissertação de Mestrado da primeira autora apresentada à UFV.

Intake, apparent digestibility, milk production and composition in dairy cows fed with wheat middlings

Carla Aparecida SoaresI; José Maurício de Souza CamposII; Sebastião de Campos Valadares FilhoII; Rilene Ferreira Diniz ValadaresII; Sandro de Souza MendonçaI; Augusto César de QueirozII; Rogério de Paula LanaII

IZootecnista, M.Sc. em Zootecnia (Nutrição de Ruminantes) pela UFV (carla.a.soares@bol.com.br)

IIProfessor do DZO/UFV (jmcampos@ufv.br; scvfilho@ufv.br; aqueiroz@ufv.br; rlana@ufv.br)

IIIProfessora do DVT/UFV (rilene@ufv.br)

IVProfessor do DTRA/UESB (sandrosmendonca@yahoo.com.br)

RESUMO

Foram objetivos desta pesquisa determinar o tempo necessário para adaptação dos animais às dietas e avaliar o efeito de níveis crescentes de farelo de trigo, em substituição ao fubá de milho, na ração, sobre a produção e composição do leite, consumos e digestibilidades aparentes de matéria seca (MS), matéria orgânica (MO), fibra em detergente neutro (FDN), extrato etéreo (EE), carboidratos totais (CT), proteína bruta (PB), consumo de nutrientes digestíveis totais (NDT) e carboidratos não-fibrosos (CNF), e a economicidade das dietas. Utilizaram-se 12 vacas Holandesas, distribuídas em três quadrados latinos (QL) balanceados 4 x 4, de acordo com o período de lactação. As quatro rações experimentais foram formuladas para conter na base da matéria seca 70% de silagem de milho e 30% de concentrado. Foram utilizados níveis crescentes de farelo de trigo no concentrado (0, 33, 67 e 100%) em substituição ao milho, para os tratamentos 1, 2, 3, e 4, respectivamente. As dietas foram isoprotéicas (15% PB). Os resultados de consumo de MS indicaram que cinco dias são suficientes para adaptação dos animais aos tratamentos. Níveis crescentes de farelo de trigo resultaram em aumento linear do consumo de FDN expressos em kg/dia e %PV e decréscimo linear do consumo de CNF, entretanto os consumos de MS, MO, PB, EE, CT e NDT não variaram. As digestibilidades aparentes totais de MS, MO, CT e PB apresentaram comportamento linear decrescente com o aumento dos níveis de farelo de trigo. Entretanto, as digestibilidades do EE e da FDN não variaram. A produção de leite corrigida ou não para 3,5% de gordura, os teores de proteína e de gordura e os extratos secos totais e desengordurados não foram influenciados pelos níveis de farelo de trigo.

Palavras-chave: dieta total, fubá de milho, silagem de milho, vacas em lactação

ABSTRACT

The objetives of this research were to detect how many days were necessary to animals adapt to the diets, by measuring intake; to evaluate the effect of crescent levels of wheat middlings as a replacement for corn meal in the diets on the milk production and composition, the intake and apparent digestibilities of dry matter (DM), organic matter (OM), neutral detergent fiber (NDF), ether extract (EE), total carbohydrates (TC), crude protein (CP), intake of total digestible nutrient (TDN) and non fiber carbohydrate (NFC), as well as diets economical evaluation. Twelve Holstein cows were allotted to four balanced 4 x 4 Latin square design in accordance with the lactation period. The four experimental diets were formulated to contain 70% corn silage and 30% of concentrate. Crescent levels of wheat middlings were used in the concentrate (0, 33, 67 e 100%) as a replacement for corn meal, for the treatment 1, 2, 3 and 4, respectively. All diets were isoproteics, with aproximately 15% CP. Five days was enough for adaptation of the animals to the rations. There was linear increase in the intake of NDF, expressed as kg/day and %LW and linear decrease in the intake of NFC, however there was no change in the intake of DM, OM, CP, EE, TC and TDN. The total apparent digestibilities of DM, OM, TC and CP presented a linear decrease response, with increasing levels of wheat middlings in the diets. However, the total apparent digestibilities of EE and NDF did not change. The milk production corrected or not for 3.5% fat and milk protein, fat, milk dry matter and deffated milk contents were not influenced by the wheat middlings levels in diets.

Key Words: corn silage, corn meal, lactating cows, total mix ration

Introdução

Na prática de criação de ruminantes, a alimentação tem sido responsável pela maior parte dos custos, sejam esses animais criados confinados ou extensivamente. É, pois, de fundamental importância conhecer os princípios básicos sobre os alimentos em si e seu balanceamento ao formular rações.

A avaliação do valor nutritivo dos alimentos consumidos pelos animais tem sido um desafio para os nutricionistas. As variedades dos alimentos que podem e são utilizados na alimentação de ruminantes são muito grandes, mas seu valor nutricional é determinado por uma complexa interação entre os seus constituintes e por sua interação com os microrganismos do trato digestivo, nos processos de digestão, na absorção, no transporte e na utilização de metabólitos, além da própria condição fisiológica do animal. Para que o ruminante possa aproveitar seu potencial genético máximo, é importante o fornecimento dos níveis adequados de nutrientes por intermédio de uma ração balanceada (Dutra et al., 1997).

O avanço das técnicas de alimentação e manejo, aliado ao novo cenário da pecuária leiteira após o início dos anos 90, tem levado os criadores a buscarem a racionalização da criação de animais, empregando métodos eficientes e econômicos que reflitam em maior oferta de leite a menor custo para o mercado. Nesse contexto, o preço dos concentrados pode ser um fator limitante na alimentação de vacas, devendo o criador dispor de alternativas viáveis com vistas a minimizar custos (Signoretti et al., 1997). Entre algumas opções de alimentos concentrados para o gado leiteiro, o farelo de trigo pode ser uma alternativa.

O trigo é o principal cereal produzido no mundo e, diferentemente do milho, é usado prioritariamente na alimentação humana, sendo que o seu beneficiamento gera valiosos subprodutos para os animais domésticos. Na obtenção da farinha de trigo, 28% do grão não é aproveitado, originando o farelo de trigo — um dos mais populares alimentos para o gado leiteiro —, fornecido, geralmente, em alimentos mais ricos em proteína (Andrigueto et al., 1986).

Campos et al. (1995) afirmam que nos moinhos o farelo e o farelinho de trigo correm em bicas separadas; entretanto, no mercado brasileiro, a rotina é o emprego dos dois, formando um produto único com o nome de farelo de trigo comercial. De modo geral, contém cerca de 16,79% de proteína bruta e 72,74% de NDT (Valadares Filho et al., 2001), constituindo boa fonte de energia para bovinos.

O farelo de trigo é rico em fibras e seu consumo melhora a fisiologia intestinal do animal. Entretanto, seu consumo demasiado pode provocar um efeito laxante indesejável para o animal, sendo necessário conhecer bem a interação desse subproduto com os demais ingredientes da ração animal, para balanceá-la adequadamente em função do peso e da espécie consumidora (Hansted, 2001).

Apesar de o farelo de trigoser utilizado largamente na alimentação de bovinos, são escassas na literatura informações quanto ao seu uso, principalmente em relação aos seus efeitos nutricionais e sobre a produção de vacas leiteiras.

Na avaliação de alimentos para os animais, deve ser considerada uma série de aspectos — consumo de matéria seca, nível ótimo de FDN na dieta e digestibilidade — que influem no desempenho dos mesmos (Mertens, 1987; NRC, 1989; Dutra et al., 1997; Rodrigues, 1998).

Objetivou-se, com este trabalho, avaliar o efeito do uso de níveis crescentes de farelo de trigo em substituição ao fubá de milho na dieta de vacas em lactação sobre o período de adaptação das vacas às dietas, produção e composição do leite, os consumos e as digestibilidades aparentes de matéria seca (MS), matéria orgânica (MO), proteína bruta (PB), fibra em detergente neutro (FDN), extrato etéreo (EE) e carboidratos totais (CT) e o consumo de nutrientes digestíveis totais (NDT) e carboidratos não-fibrosos (CNF).

Material e Métodos

O experimento foi realizado na Unidade de Ensino Pesquisa e Extensão em Gado de Leite/UEPE-GL do Departamento de Zootecnia (DZO), da Universidade Federal de Viçosa (UFV), Viçosa (MG), durante o período de outubro a dezembro de 2000.

Foram utilizadas 12 vacas no início do terço médio da lactação, da raça Holandesa Malhadas de Preto, puras e mestiças (7/8 e 15/16 Holandês—Zebu), com peso médio de 540 kg, distribuídas em três quadrados latinos, 4 x 4, balanceados, conforme a duração da lactação.

O experimento foi constituído de quatro períodos, com duração de 15 dias cada 10 de adaptação dos animais às rações e cinco para coleta. Além da medição do consumo de nutrientes, foram avaliadas também as digestibilidades aparentes, produção e composição do leite. Para avaliar a adaptação das vacas às dietas, os períodos foram divididos em três subperíodos de cinco dias para coleta de amostras para medição do consumo.

Os animais receberam quatro dietas completas, contendo 0, 33, 67 e 100% de farelo de trigo em substituição ao fubá de milho. Foram usados no balanceamento das dietas, como alimento concentrado, farelo de trigo, fubá de milho, farelo de soja, farelo de algodão, uréia, premix mineral e vitamínico e, como volumoso, silagem de milho. A relação volumoso:concentrado foi de 70:30, na base da MS. Após análise dos ingredientes disponíveis, as dietas foram formuladas conforme requerimentos do NRC (1989).

Semanalmente, foram feitas estimativas do teor da matéria seca do volumoso, para ajuste da relação volumoso:concentrado das dietas ao longo dos períodos experimentais.

A proporção dos ingredientes na mistura de concentrados e nas dietas experimentais é apresentada na Tabela 1 e a composição bromatológica dos concentrados e da silagem de milho, na Tabela 2.

As vacas foram ordenhadas mecanicamente, duas vezes ao dia, fazendo-se o registro da produção de leite. As amostras de leite foram coletadas nas ordenhas da manhã e da tarde no 11º e 14º dia, para análise dos teores de proteína bruta, gordura do leite e estimativa dos extratos seco total e desengordurado. A produção de leite foi corrigida para 3,5% de gordura (PLC) pela equação citada por Sklan et al. (1992): PLC=(0,432+0,1625 x G) x kg de leite.

A alimentação era fornecida em duas refeições diárias, ad libitum, às 8 e 16 h, permitindo-se sobras de, aproximadamente, 10% de MS. As sobras de cada animal foram pesadas diariamente, retirando-se uma alíquota, que foi acondicionada em sacos plásticos e armazenada a -20ºC. A cada cinco dias foi feita uma amostra composta das sobras, sendo o mesmo procedimento realizado para a silagem de milho. Foram coletadas também amostras dos concentrados.

A composição bromatológica das dietas totais consta na Tabela 3.

As fezes foram coletadas diretamente na ampola retal após as ordenhas da manhã e da tarde no 10º e 13º dia de cada período experimental, sendo acondicionadas em sacos plásticos e armazenados a -20ºC.

Ao término do período de coletas, as amostras de silagem de milho, sobras e fezes foram descongeladas, secas em estufa de ventilação forçada a 65ºC, por 72 a 96 horas, processadas em moinho com peneira dotada de crivos de 1 mm e armazenadas para posteriores análises.

A fibra em detergente ácido indigestível (FDAi) foi utilizada como indicador interno para determinar a digestibilidade aparente dos alimentos, conforme metodologia descrita por Craig et al. (1984), exceto para a incubação, que foi feita diretamente no rúmen por seis dias.

Os carboidratos totais (CT), carboidratos não- fibrosos (CNF) e nutrientes digestíveis totais (NDT), foram calculados segundo Sniffen et al. (1992):

CT = 100 — (%PB + %EE + %CINZAS)

CNF = CT - FDN

NDT = (PBing — PBfecal) + (CTing — CTfecal) + 2,25(EEing — EEfecal),

em que PBing = proteína bruta ingerida; CTing = carboidratos totais ingeridos e EEing = extrato etéreo ingerido.

A determinação dos extratos seco total e desengordurado do leite foi feita pelo método de Gerber (Behmer, 1984).

O teor de nitrogênio total do leite, analisado pelo método micro Kjeldahl (Silva, 1990), foi multiplicado pelo fator 6,38, para determinação de seu teor de proteína bruta (PB).

Os resultados foram avaliados por meio de análises de variância e de regressão, utilizando-se o Sistema de Análises Estatísticas e Genéticas (SAEG), UFV (1998), adotando-se um nível de significância de 5%. Para analisar o consumo de matéria seca nos subperíodos 1, 2 e 3, utilizou-se a metodologia de identidade de modelos recomendada por Regazzi (1996). Como o tratamento é uma variável contínua (nível de substituição), os graus de liberdade deste efeito foram desdobrados em efeitos linear, quadrático e cúbico.

Resultados e Discussão

Na Tabela 4, são apresentadas as médias de consumo de matéria seca para os subperíodos 1, 2, 3, expressos em kg/dia e em porcentagem de peso vivo (%PV)

Pelo teste de identidade de modelos, observou-se que, em nenhum dos subperíodos, os consumos de matéria seca foram influenciados pelos níveis de farelo de trigo das dietas. Infere-se, portanto, que um subperíodo foi suficiente para adaptação das vacas às rações e que o consumo de MS pode ser medido em apenas cinco dias. Dessa forma, o período experimental poderá ser reduzido para apenas 10 dias, o que resultará em economia de, aproximadamente, 33% de tempo e alimentos utilizados nas dietas. Resultados semelhantes foram encontrados por Valadares Filho et al. (2000) e Oliveira et al. (2001).

As médias referentes aos consumos diários de MS, MO, EE, CT, FDN, PB, CNF e NDT, expressas em quilogramas por dia e em porcentagem do peso vivo (%PV), os coeficientes de variação e as equações de regressão encontram-se na Tabela 5.

O consumo de MS expresso em kg/dia e em %PV (média de 16,80 e 3,16, respectivamente) não foi influenciado pelo aumento dos níveis de farelo de trigo das dietas.

Dalke et al. (1997), estudando o efeito de substituição do fubá de milho (0, 5, 10, e 15%) ou feno de alfafa (5 e 10%) pelo farelo de trigo peletizado em dietas de novilhos em terminação, observaram aumento linear do consumo de MS e da conversão alimentar, quando o milho foi substituído pelo farelo de trigo. No entanto, quando substituíram o feno de alfafa, a ingestão de MS diminuiu, mas a conversão alimentar não foi alterada. Os ganhos de pesos diários e o peso final não foram afetados em ambos os casos.

Os consumos de MO, PB, EE, CT e NDT não foram influenciados pelos níveis de farelo de trigo das rações, apresentando média de 15,7; 2,86; 0,467; 11,7 e 10,96 kg/dia, respectivamente. Semelhantemente, Dhakad et al. (2002) não encontram diferença para os consumos de MS, MO e NDT, quando avaliaram a substituição do milho triturado (0, 50 e 100% da MS) por farelo de trigo na ração concentrada de ovinos em crescimento.

Entretanto, os consumos de FDN e de CNF apresentaram comportamento linear (P<0,05) crescente e decrescente, respectivamente, com o aumento dos níveis de farelo de trigo das dietas, uma vez que, à medida que se aumentavam os níveis de farelo de trigo das rações, o teor de FDN era elevado e o de CNF, reduzido, em razão de o farelo de trigo ser extremamente rico em fibras (em torno de 44,48% de FDN). Portanto, o consumo de FDN em relação ao peso vivo foi acima do valor proposto (1,2±0,1%) por Mertens (1996), para os tratamentos em que o fubá de milho foi substituído pelo farelo de trigo, como valor para se obter consumo ótimo de MS, para dietas mistas. Todavia, no Brasil, vários autores encontraram consumo de FDN entre 1,3 e 1,6% do PV (Araújo et al., 1995; Malafaia et al., 1996; Almeida, 1997; Campos, 1998; Moreira, 2000).

Os coeficientes de digestibilidades aparente da MS, MO, PB, EE, FDN e CT, com seus respectivos coeficientes de variação, coeficientes de determinação e equações de regressão constam na Tabela 6.

Neste experimento, com o aumento dos níveis de farelo de trigo da ração, houve decréscimo linear (P<0,05) da digestibilidade aparente da MS, MO, CT e PB, provavelmente em virtude do aumento do teor de FDN da ração, à medida que se elevaram os níveis de farelo de trigo. As digestibilidades aparentes de EE e FDN não variaram, apresentando média de 87,94 e 60,33, respectivamente.

A relação entre digestibilidade de MS, MO, CT e PB e os níveis de farelo de trigo na ração indicou, para cada unidade de porcentagem de farelo de trigo na ração, decréscimo de, aproximadamente, 0,1; 0,1; 0,1 e 0,05% nas suas digestibilidades, respectivamente.

Estes resultados estão de acordo com Dalke et al. (1997), que observaram decréscimo linear da digestibilidade da MS e MO quando o farelo de trigo substituiu o fubá de milho; entretanto, quando este substituiu o feno de alfafa, as digestibilidades aumentaram linearmente.

Dhakad et al. (2002), quando avaliaram a substituição do milho triturado (0, 50 e 100% da MS) por farelo de trigo na ração concentrada de ovinos em crescimento, constataram que as digestibilidades de MS, MO, PB, FDN, FDA e EE não variaram, indicando que a substituição do milho pelo farelo de trigo em níveis tão elevados quanto 100% não alterou a digestibilidade dos nutrientes.

A produção e composição do leite e as respectivas médias e coeficientes de variação encontram-se na Tabela 7.

As médias para PL (kg/dia), PLG (kg/dia), %G, %PB, %EST e %ESD foram de 20,63; 21,64; 3,82; 12,7 e 8,87, respectivamente, não sendo observado efeito dos níveis de farelo de trigo sobre os mesmos, o que reflete os consumos verificados e que a queda na digestibilidade das dietas não interferiu nos níveis de produção e na qualidade do leite.

Ao contrário dos resultados obtidos nesta pesquisa, Moraes et al. (1982), estudando a produção de leite de vacas mantidas em pastagens de braquiária, com acesso a banco de proteínas, e recebendo níveis crescentes de farelo de trigo, verificaram que, para cada 1 kg de farelo de trigo ingerido, ocorreu incremento de 324 g de leite/dia.

Conclusões

A redução do período experimental para 10 dias poderá resultar em 33% de economia em tempo. Além disso, obter-se-ão menores custos com alimentação.

O fubá de milho poderá ser substituído em até 100% pelo farelo de trigo em rações concentradas em dietas à base de silagem de milho, para vacas produzindo, em média, 20 kg de leite, ou seja, a decisão da inclusão de farelo de trigo na dieta de vacas em lactação depende apenas de fatores econômicos.

Literatura Citada

Recebido em: 11/07/03

Aceito em: 02/06/04

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  • 1
    Parte da Dissertação de Mestrado da primeira autora apresentada à UFV.
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      21 Set 2010
    • Data do Fascículo
      Dez 2004

    Histórico

    • Aceito
      02 Jun 2004
    • Recebido
      11 Jul 2003
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