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Digestibilidade aparente de macrófitas aquáticas pela tilápia-do-nilo (Oreochromis niloticus) e qualidade da água em relação às concentrações de nutrientes

Apparent digestibility of aquatic macrophytes by Nile tilapia (Oreochromis niloticus) and water quality in relation nutrients concentrations

Resumos

Objetivou-se com este estudo determinar os coeficientes de digestibilidade aparente (CDA) da proteína bruta e dos aminoácidos de duas espécies de macrófitas aquáticas flutuantes (Eichhornia crassipes e Pistia stratiotes) pela tilápia-do-nilo (Oreochromis niloticus) e verificar a qualidade da água dos aquários de digestibilidade em relação às concentrações de nitrogênio e fósforo. Foram elaboradas três rações, marcadas com 0,10% de óxido de cromo-III, sendo uma ração-referência (purificada) e as demais contendo 30% de cada uma das macrófitas aquáticas. As tilápias-do-nilo (58,8 + 18,5 g) foram alimentadas até a saciedade aparente e a coleta de fezes foi feita pelo sistema Guelph modificado. Os CDA médios da proteína e dos aminoácidos foram, respectivamente, 93,17 e 93,32% para a ração-referência; 59,23 e 60,35% para E. crassipes; e 52,24 e 57,40% para P. stratiotes. Não foram constatadas diferenças significativas entre os valores de CDA da proteína e dos aminoácidos dos ingredientes vegetais. Os resultados obtidos demonstraram reduzida eficiência da tilápia-do-nilo em assimilar a maioria dos aminoácidos de E. crassipes e P. stratiotes. As excretas das tilápias-do-nilo contribuíram para o aumento das concentrações de nitrogênio e fósforo na água dos aquários, independentemente da ração fornecida.

aminoácidos; Eichhornia crassipes; eutrofização artificial ingredientes; nutrientes; Pistia stratiotes


The objectives of this trial were to determine the apparent digestibility coefficients (ADC) of crude protein and amino acids for two species of free floating aquatic macrophytes (Eichhornia crassipes and Pistia stratiotes) by Nile tilapia (Oreochromis niloticus) and to determine the water quality of digestibility aquariums in relation nitrogen and phosphorus concentrations. Tree feeds were developments, containing 0.10% of chromic oxide - III, one being the reference diet (purified) and the others containing 30% of aquatic macrophytes. The Nile tilapias (58.8 + 18.5 g) were fed to apparent satiation and the faeces were collected by modified Guelph system. The average ADC of crude protein and amino acids were, respectively, 93.17 and 93.32% for diet reference; 59.23 and 60.35% for E. crassipes; and 52.24 and 57.40% for P. stratiotes. No significant differences were observed among the ADC of protein and of amino acids of the plants ingredients. The results showed lower efficiency by tilapia of Nile in assimilate the most amino acids of the E. crassipes and P. stratiotes. It is possible to conclude that excretory products in the Nile tilapia increase the concentrations of nitrogen and phosphorus, independent of feed.

amino acids; artificial eutrophication; Eichhornia crassipes; feedstuffs; nutrients; Pistia stratiotes


AQÜICULTURA

Digestibilidade aparente de macrófitas aquáticas pela tilápia-do-nilo (Oreochromis niloticus) e qualidade da água em relação às concentrações de nutrientes

Apparent digestibility of aquatic macrophytes by Nile tilapia (Oreochromis niloticus) and water quality in relation nutrients concentrations

Gustavo Gonzaga Henry-SilvaI; Antonio Fernando Monteiro CamargoII; Luiz Edivaldo PezzatoIII

IDoutor pelo Centro de Aqüicultura da UNESP – Jaboticabal, SP

IIDepto. de Ecologia – UNESP – Rio Claro, SP

IIIDepto. de Melhoramento e Nutrição Animal – UNESP – Botucatu, SP

RESUMO

Objetivou-se com este estudo determinar os coeficientes de digestibilidade aparente (CDA) da proteína bruta e dos aminoácidos de duas espécies de macrófitas aquáticas flutuantes (Eichhornia crassipes e Pistia stratiotes) pela tilápia-do-nilo (Oreochromis niloticus) e verificar a qualidade da água dos aquários de digestibilidade em relação às concentrações de nitrogênio e fósforo. Foram elaboradas três rações, marcadas com 0,10% de óxido de cromo-III, sendo uma ração-referência (purificada) e as demais contendo 30% de cada uma das macrófitas aquáticas. As tilápias-do-nilo (58,8 + 18,5 g) foram alimentadas até a saciedade aparente e a coleta de fezes foi feita pelo sistema Guelph modificado. Os CDA médios da proteína e dos aminoácidos foram, respectivamente, 93,17 e 93,32% para a ração-referência; 59,23 e 60,35% para E. crassipes; e 52,24 e 57,40% para P. stratiotes. Não foram constatadas diferenças significativas entre os valores de CDA da proteína e dos aminoácidos dos ingredientes vegetais. Os resultados obtidos demonstraram reduzida eficiência da tilápia-do-nilo em assimilar a maioria dos aminoácidos de E. crassipes e P. stratiotes. As excretas das tilápias-do-nilo contribuíram para o aumento das concentrações de nitrogênio e fósforo na água dos aquários, independentemente da ração fornecida.

Palavras-chave: aminoácidos, Eichhornia crassipes, eutrofização artificial ingredientes, nutrientes, Pistia stratiotes

ABSTRACT

The objectives of this trial were to determine the apparent digestibility coefficients (ADC) of crude protein and amino acids for two species of free floating aquatic macrophytes (Eichhornia crassipes and Pistia stratiotes) by Nile tilapia (Oreochromis niloticus) and to determine the water quality of digestibility aquariums in relation nitrogen and phosphorus concentrations. Tree feeds were developments, containing 0.10% of chromic oxide - III, one being the reference diet (purified) and the others containing 30% of aquatic macrophytes. The Nile tilapias (58.8 + 18.5 g) were fed to apparent satiation and the faeces were collected by modified Guelph system. The average ADC of crude protein and amino acids were, respectively, 93.17 and 93.32% for diet reference; 59.23 and 60.35% for E. crassipes; and 52.24 and 57.40% for P. stratiotes. No significant differences were observed among the ADC of protein and of amino acids of the plants ingredients. The results showed lower efficiency by tilapia of Nile in assimilate the most amino acids of the E. crassipes and P. stratiotes. It is possible to conclude that excretory products in the Nile tilapia increase the concentrations of nitrogen and phosphorus, independent of feed.

Key Words: amino acids, artificial eutrophication, Eichhornia crassipes, feedstuffs, nutrients, Pistia stratiotes

Introdução

As rações utilizadas na aqüicultura, além de atenderem às exigências nutricionais das espécies, devem proporcionar reduzidos excedentes de nutrientes, visando minimizar os impactos negativos sobre os sistemas de criação e os ecossistemas aquáticos (Valenti, 2000; Henry-Silva, 2001). Os princípios que devem nortear o desenvolvimento de dietas com baixa carga poluente são a digestibilidade elevada dos ingredientes, a aceitabilidade da ração pelos organismos criados, o balanço adequado dos nutrientes, a estabilidade elevada do pélete e o tamanho compatível com a capacidade de ingestão dos organismos aquáticos (Midlen & Redding, 1998).

Nas próximas décadas, novas oportunidades devem surgir com os avanços na investigação e no desenvolvimento de tecnologias em aqüicultura e um dos aspectos promissores envolve a utilização de plantas aquáticas como fonte de nutrientes em atividades de piscicultura (El-Sayed, 1999; NACA/FAO, 2000). De fato, alguns trabalhos têm demonstrado a viabilidade de aproveitamento de macrófitas aquáticas na alimentação de peixes, podendo se destacar os realizados por Santiago et al. (1988), Essa (1997) e Naegel (1997).

As macrófitas aquáticas têm sido utilizadas com êxito no tratamento de efluentes urbanos e de aqüicultura (Brix, 1997; Henry-Silva, 2005). No entanto, ainda é reduzido o aproveitamento da biomassa vegetal produzida nestes sistemas de tratamento (Henry-Silva & Camargo, 2002). Nesse contexto, objetivou-se determinar os coeficientes de digestibilidade da proteína bruta e dos aminoácidos das macrófitas aquáticas flutuantes Eichhornia crassipes e Pistia stratiotes pela tilápia-do-nilo (Oreochromis niloticus) e verificar as concentrações de nitrogênio e fósforo na água dos aquários de digestibilidade, visando avaliar o potencial de aproveitamento desses vegetais em rações animais e o impacto das rações sobre a qualidade da água.

Material e Métodos

O experimento foi realizado no período de janeiro a fevereiro de 2004, na Universidade Estadual Paulista (UNESP), no Laboratório de Nutrição de Organismos Aquáticos da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia, campus de Botucatu, Unidade Integrada ao Centro de Aqüicultura da UNESP (CAUNESP).

No ensaio de digestibilidade, foram utilizadas 60 tilápias-do-nilo (O. niloticus) revertidas durante a fase larval, com peso vivo de 58,8+18,5 g (dez indivíduos por aquário). As macrófitas aquáticas (E. crassipes e P. stratiotes) utilizadas nas rações foram coletadas em sistemas de tratamento de efluentes de criação de camarão-d´água-doce (Macrobrachium amazonicum).

Os coeficientes de digestibilidade aparente (CDA) da proteína e dos aminoácidos foram determinados a partir de uma ração-referência purificada, elaborada com base na proteína da albumina e da gelatina (Tabela 1). Duas dietas-teste foram confeccionadas para avaliação da digestibilidade das macrófitas aquáticas. As biomassas totais de E. crassipes e P. stratiotes substituíram, cada uma, 30% da dieta purificada. As farinhas de ambas as espécies foram obtidas segundo procedimento proposto por Nakanishi (2000). Na Tabela 2 são apresentados os valores de aminoácidos e de PB da ração-referência e das macrófitas aquáticas.

Antes do início do experimento, os peixes foram mantidos por cinco dias nos tanques de alimentação, para adaptação às instalações, ao manejo e às dietas experimentais. Foram alojados em seis tanques-rede de formato circular (80 cm de diâmetro e 60 cm de altura). Cada tanque-rede fez parte de um conjunto de aquários circulares (aquários de alimentação), confeccionados em fibra de vidro, com capacidade de 250 L de água, em um sistema de circulação fechado, com aeração e controle de temperatura. Nesses aquários, os peixes permaneceram durante o dia (de 8 às 17 h) recebendo as rações à vontade por arraçoamento manual. Posteriormente, os tanques-rede foram transferidos para os aquários de digestibilidade, um para cada tanque-rede, com capacidade para 300 L. As fezes coletadas foram congeladas a -20ºC, armazenadas e, posteriormente, desidratadas a 52ºC por 48 horas, moídas e homogeneizadas para as análises químicas.

Os CDA foram determinados pelo método indireto, utilizando-se cromo-III como indicador inerte - 0,1% (Lanna et al., 2004). Os CDA da PB e dos aminoácidos da ração-referência e das rações com 30% das macrófitas aquáticas foram calculados de acordo com a seguinte equação (Nose, 1966):

em que: CDA = coeficiente de digestibilidade aparente da variável analisada (%); %Cr2O3r = porcentagem de óxido de cromo na ração; %Cr2O3f = porcentagem de óxido de cromo nas fezes; %Nf = porcentagem da variável nas fezes; %Nr = porcentagem da variável na ração.

Os CDA da PB e dos aminoácidos exclusivamente dos ingredientes (E. crassipes e P. stratiotes) foram calculados de acordo com a equação descrita por Cho & Slinger (1979):

em que: CDAN = coeficiente de digestibilidade aparente da variável analisada; CDART = coeficiente de digestibilidade aparente da variável na ração-teste; CDARR = coeficiente de digestibilidade aparente da variável na ração-referência; x = proporção da ração-referência (70%); y = proporção da ração-teste (30%).

As análises bromatológicas dos alimentos, das rações e das fezes foram realizadas segundo os protocolos da AOAC (1990) e as análises das concentrações de cromo-III das rações e das fezes foram feitas conforme descrito por Graner (1972).

O oxigênio dissolvido e a temperatura da água dos aquários foram mantidos constantes por meio, respectivamente, de aquecedores e de pedras porosas acopladas a um aerador central. Os valores médios e desvios-padrão das variáveis limnológicas da água dos aquários foram: 25,26+0,17ºC de temperatura, 6,60+0,12 de pH e 6,35+0,20 mg/L de oxigênio dissolvido e situaram-se na faixa de conforto para a espécie (Castagnolli & Cyrino, 1986; Boscolo et al., 2004).

Foram coletadas amostras de água dos aquários de digestibilidade e de sua fonte de abastecimento (água de poço), no intuito de verificar a influência das excretas dos peixes alimentados com as diferentes rações sobre as concentrações de nitrogênio e fósforo totais na água. As amostras foram obtidas após a permanência dos peixes, durante 15 horas, nos aquários (um ciclo de coletas de fezes). As determinações de nitrogênio total (NT) foram realizadas segundo método descrito por Mackereth et al. (1978) e as de fósforo total (PT), conforme descrito por Golterman et al. (1978).

A análise de variância de uma classificação e o teste Tukey (5% de probabilidade) foram aplicados no intuito de verificar diferenças entre os coeficientes de digestibilidade e as concentrações de nitrogênio e fósforo da água dos aquários de digestibilidade.

Resultados e Discussão

Durante todo o período experimental, não houve mortalidade ou alterações no consumo alimentar tanto da ração-referência quanto das rações-teste, com E. crassipes e P. stratiotes.

Não foram constadas diferenças significativas entre os CDA da PB e dos aminoácidos das duas macrófitas. No entanto, os valores de CDA destas variáveis foram significativamente inferiores aos da ração-referência, indicando a menor eficiência da tilápia-do-nilo em assimilar a proteína e os aminoácidos contidos na biomassa de E. crassipes e P. stratiotes (Tabela 3). Conforme relatado por Furuya et al. (2001), a elevada digestibilidade da ração-referência sugere a possibilidade de substituição da caseína por albumina em estudos de avaliação da digestibilidade de nutrientes.

Durante todo o período experimental, observou-se menor tempo de coleta das fezes das tilápias-do-nilo alimentadas com as rações com as macrófitas aquáticas, em relação ao tempo para coletadas fezes das tilápias, alimentadas com a ração-referência, o que, provavelmente, esteve relacionado ao trânsito mais rápido das rações-teste no trato digestório, visto que P. stratiotes, e especialmente E. crassipes, possuem valores elevados de fibra (Henry-Silva & Camargo, 2000). Segundo Lanna et al. (2004), o aumento do teor de fibra da dieta diminui significativamente o tempo de trânsito gastrintestinal.

Os resultados de CDA da proteína bruta de E. crassipes (59,2%) e de P. stratiotes (52,2%) foram superiores aos do milho (30,0%), em estudo com bagre africano, Clarias gariepinus (Clay, 1981). Entretanto, estes resultados foram menores que os obtidos com o farelo de girassol (65,4%) e o farelo de soja (84,3%). Pezzato et al. (2002), verificando o CDA da proteína de ingredientes de origem vegetal em tilápia-do-nilo, encontraram valores de CDA de 23 a 45% superiores aos registrados neste estudo com as macrófitas aquáticas. No entanto, os valores de CDA de proteína de E. crassipes e de P. stratiotes foram superiores aos verificados pelo mesmo autor para farinha de sangue (50,7%) e farinha de penas (29,12%).

A digestibilidade de ingredientes vegetais não-convencionais é bastante variável, em decorrência da espécie a ser testada e das proporções em que estes ingredientes são incorporados às rações. Wee (1991), utilizando a biomassa de E. crassipes (matéria seca) na alimentação de Labeo rohita, constatou CDA da proteína de 71 e 63% para níveis de inclusão deste vegetal de 20 e 40%, respectivamente, e observou que, para o controle com farinha de peixe, o CDA da proteína foi de 79%. Esse autor relatou ainda que a farinha de folhas de mandioca (Manihot esculenta), utilizada nas proporções de 20, 40, 60 e 100% das necessidades de proteína de O. niloticus, apresentou CDA de 64, 50, 35 e 18%, respectivamente.

Os valores médios de CDA dos aminoácidos (essenciais e não-essenciais) foram de 60,35 e 57,40% para E. crassipes e P. stratiotes, respectivamente. Entre os aminoácidos essenciais, a metionina apresentou o maior CDA, com valores de 98,21% para E. crassipes e de 98,70% para P. stratiotes. Estes valores altos de CDA de metionina das macrófitas aquáticas pela tilápia-do-nilo provavelmente se devem aos baixos valores deste aminoácido na biomassa de ambas as macrófitas aquáticas e que, provavelmente, foi prontamente assimilado pelos peixes. O triptofano também apresentou CDA superior à média dos aminoácidos essenciais para ambas as macrófitas aquáticas testadas.

A treonina, no entanto, apresentou os menores valores de CDA para as macrófitas aquáticas, inclusive para a ração-referência, como observado também por Furuya et al. (2001), ao avaliarem os CDA de aminoácidos do milho, farelo de trigo, farelo de soja e farinha de peixe, pela tilápia-do-nilo, e por Allan et al. (2000), utilizando ingredientes alternativos na dieta da perca prateada (Bydyanus bidyanus).

Entre os aminoácidos não-essenciais, o maior CDA registrado foi o da cistina (84,64%, em E. crassipes, e 82,33%, em P. stratiotes) e os menores, os da glicina (37,49%, em E. crassipes, e 40,38%, em P. stratiotes). Esses menores valores de CDA da glicina foram semelhantes aos observados por Hossain & Jauncey (1989), ao testarem a digestibilidade da farinha de peixe pela carpa comum (Cyprinus carpio), e por Anderson et al. (1992), ao utilizarem o farelo de soja na dieta de salmão do Atlântico (Salmo salar).

Os valores médios de CDA da PB e dos aminoácidos das macrófitas aquáticas analisadas foram semelhantes, corroborando os resultados obtidos por Furuya et al. (2001) e Borghesi (2004). Entretanto, é importante ressaltar a importância da determinação da digestibilidade individual dos aminoácidos, pois, embora exista alta correlação entre os CDA da proteína e dos aminoácidos, o CDA da proteína nem sempre reflete a digestibilidade de cada um dos aminoácidos (Matsumoto et al., 1996). De fato, neste estudo, o CDA da metionina foi aproximadamente 2,5 vezes superior ao da glicina para ambas as macrófitas aquáticas, demonstrando que, para a formulação de dietas balanceadas, é necessário o conhecimento dos CDA dos aminoácidos dos ingredientes, visto que o coeficiente de digestibilidade da proteína não reflete os coeficientes de digestibilidade de todos os aminoácidos.

Na Tabela 4 encontram-se os valores de proteína e de aminoácidos digestíveis da ração-referência e das macrófitas aquáticas. Embora inferiores aos encontrados por Furuya et al. (2001) para o farelo de trigo e o farelo de soja, os valores de proteína e aminoácidos digestíveis foram semelhantes aos obtidos por esses autores para o milho. Pode-se, portanto, inferir que a tilápia-do-nilo, por apresentar adaptações morfológicas e fisiológicas, aproveita a proteína e os aminoácidos de origem vegetal.

As excretas das tilápias-do-nilo contribuíram para o aumento das concentrações de nutrientes na água dos aquários de digestibilidade, independentemente da ração fornecida, visto que os valores de nitrogênio e fósforo da água de abastecimento foram significativamente inferiores aos obtidos na água dos aquários de digestibilidade. Os teores de PT foram os que apresentaram maiores incrementos médios. Nos aquários das tilápias alimentadas com a ração-referência, este aumento foi de 273,3% em relação ao observado na água de abastecimento, enquanto, para os teores de NT, esse incremento foi de 42,8%. Nos aquários com as tilápias alimentadas com as rações contendo E. crassipes e P. stratiotes, os valores de incremento foram, respectivamente, de 489,4 e 526,9 para PT e de 36,5 e 52,4% para NT (Figura 1).


Diferenças significativas entre os tratamentos foram obtidas apenas para os teores de PT, sendo encontrados valores significativamente superiores na água dos aquários com os peixes alimentados com as macrófitas aquáticas. Estes maiores valores de PT provavelmente estiveram associados à dificuldade que os animais monogástricos possuem em assimilar o fósforo em dietas à base de plantas, o que resulta na eliminação desse nutriente nas fezes. Em rações com ingredientes vegetais, a maior parte do fósforo pode estar complexada na forma de fósforo fítico (fitato), tornando este macronutriente indisponível para os peixes, que não possuem enzimas capazes de disponibilizá-lo. É importante ressaltar que o incremento de fósforo pode ser prejudicial aos sistemas de criação e aos ecossistemas aquáticos em que os efluentes são lançados, especialmente pelo fato de este nutriente ser um dos principais responsáveis pela eutrofização artificial.

Conclusões

Os coeficientes de digestibilidade aparente da proteína e dos aminoácidos de E. crassipes e P. stratiotes pela tilápia-do-nilo foram semelhantes.

Os coeficientes de digestibilidade aparente da proteína não refletiram os coeficientes de digestibilidade de todos os aminoácidos.

A utilização de E. crassipes e P. stratiotes em rações animais é recomendada apenas em substituição a ingredientes que apresentem valores de digestibilidade da proteína e dos aminoácidos inferiores ou semelhantes aos obtidos neste estudo.

A alimentação de tilápias com macrófitas aquáticas aumentou as concentrações de fósforo total na água dos aquários de digestibilidade.

Agradecimento

À FAPESP, pelo suporte financeiro (Processo: 02/04131-8).

Ao Prof. Dr. Wagner Cotroni Valenti e aos pós-graduandos Dario Falcon, Giovani Sampaio Gonçalves e Leonardo Tachibana, pelo auxílio no desenvolvimento dos experimentos.

Literatura Citada

Recebido: 15/07/05

Aprovado: 08/11/05

Correspondências devem ser enviadas para: ghgs@rc.unesp.br

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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    25 Jul 2006
  • Data do Fascículo
    Jun 2006

Histórico

  • Aceito
    08 Nov 2005
  • Recebido
    15 Jul 2005
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