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Adição de complexo multienzimático em dietas à base de soja extrusada: valores energéticos e digestibilidade de nutrientes em pintos de corte

Effects of feeding multienzymatic complex addition and different extruded soybean on energy values and nutrient digestibility in broiler chicks

Resumos

O experimento foi realizado com o objetivo de avaliar os efeitos da adição de complexo multienzimático (CM) e do nível de processamento da soja sobre os valores energéticos e os coeficientes de digestibilidade dos nutrientes de rações para pintos de corte. Foram utilizados 288 pintos de corte machos da linhagem Avian Farms, com oito dias de idade, em arranjo fatorial 3 x 2 (rações à base de soja extrusada subprocessada, normal e superprocessada, suplementadas ou não com complexo multienzimático), totalizando seis tratamentos, com oito repetições de seis aves por unidade experimental. As excretas foram coletadas e pesadas durante cinco dias consecutivos, utilizando-se os métodos de coleta total e de coleta ileal. A adição do CM (protease, amilase e celulase) promoveu aumento médio dos coeficientes de digestibilidade ileal aparente de matéria seca, proteína, energia e gordura das dietas de 4,8; 1,3; 4,8 e 6,0%, respectivamente. Entretanto, os maiores aumentos nos valores de digestibilidade ileal proporcionados pelo CM foram obtidos com as rações contendo soja extrusada subprocessada: 10,7% MS, 4,2% PB, 11,4% EB e 17,6% gordura. A adição do CM melhorou a digestibilidade ileal de FDN, FDA e HEM, em média, 10,60; 23,05 e 6,39%, respectivamente. As aves alimentadas com dietas contendo soja extrusada normal apresentaram maiores coeficientes de digestibilidade ileal dos nutrientes e valores de EM que aquelas alimentadas com sojas extrusadas sub e superprocessadas.

digestibilidade; enzimas; frangos de corte; processamento; soja extrusada


This experiment was conducted to evaluate the effect of multienzymatic complex (MC) addition in diets with different types of extruded soybeans on the energy values and nutrient digestibility coefficients for broiler chicks. A total of 288 Avian Farms males broiler chicks averaging eight days old was allotted to a 3 x 2 factorial arrangement (under, standard and over processed extruded full fat soybean-based diets with and without MC, in a total of six treatments with eight replicates and six birds per experimental unit. Feces were collected and weighed during five days. It was observed that the MC addition (composed by cellulase, amylase and protease) increased the coefficients of dietary ileal apparent digestibility of DM, CP, GE, and fat by 4.8, 1.3, 4.8, and 6%, respectively. However, under processed extruded full fat soybean-based diets, with MC, increased most the ileal digestibility: 10.7% (DM), 4.2% (CP), 11.4%, (GE), and 17.55% fat. The MC addition increased the ileal digestibilility of NDF, ADF, and hemicelullose at average 10.60, 23.05, and 6.39%, respectively. The birds fed diets with standard processed extruded full fat soybean showed higher values of coefficients of nutrient ileal digestibility and of metabolizable energy than those fed extruded under and over processed full fat soybean-based diet.

broiler chicks; digestibility; enzymes; extruded full fat soybean; processing


MONOGÁSTRICOS

Adição de complexo multienzimático em dietas à base de soja extrusada: valores energéticos e digestibilidade de nutrientes em pintos de corte1 1 Parte da dissertação de Mestrado do primeiro autor apresentada ao programa de Pós-graduação em Zootecnia da UFV.

Effects of feeding multienzymatic complex addition and different extruded soybean on energy values and nutrient digestibility in broiler chicks

Claudson Oliveira BritoI; Luiz Fernando Teixeira AlbinoII; Horacio Santiago RostagnoII; Paulo Cezar GomesII; Débora Cristine Oliveira CarvalhoIII; Anderson CorassaIII

IMestre em Nutrição de Monogástricos

IIDepartamento de Zootecnia - UFV

IIIPós-graduação em Zootecnia - UFV

RESUMO

O experimento foi realizado com o objetivo de avaliar os efeitos da adição de complexo multienzimático (CM) e do nível de processamento da soja sobre os valores energéticos e os coeficientes de digestibilidade dos nutrientes de rações para pintos de corte. Foram utilizados 288 pintos de corte machos da linhagem Avian Farms, com oito dias de idade, em arranjo fatorial 3 x 2 (rações à base de soja extrusada subprocessada, normal e superprocessada, suplementadas ou não com complexo multienzimático), totalizando seis tratamentos, com oito repetições de seis aves por unidade experimental. As excretas foram coletadas e pesadas durante cinco dias consecutivos, utilizando-se os métodos de coleta total e de coleta ileal. A adição do CM (protease, amilase e celulase) promoveu aumento médio dos coeficientes de digestibilidade ileal aparente de matéria seca, proteína, energia e gordura das dietas de 4,8; 1,3; 4,8 e 6,0%, respectivamente. Entretanto, os maiores aumentos nos valores de digestibilidade ileal proporcionados pelo CM foram obtidos com as rações contendo soja extrusada subprocessada: 10,7% MS, 4,2% PB, 11,4% EB e 17,6% gordura. A adição do CM melhorou a digestibilidade ileal de FDN, FDA e HEM, em média, 10,60; 23,05 e 6,39%, respectivamente. As aves alimentadas com dietas contendo soja extrusada normal apresentaram maiores coeficientes de digestibilidade ileal dos nutrientes e valores de EM que aquelas alimentadas com sojas extrusadas sub e superprocessadas.

Palavras-chave: digestibilidade, enzimas, frangos de corte, processamento, soja extrusada

ABSTRACT

This experiment was conducted to evaluate the effect of multienzymatic complex (MC) addition in diets with different types of extruded soybeans on the energy values and nutrient digestibility coefficients for broiler chicks. A total of 288 Avian Farms males broiler chicks averaging eight days old was allotted to a 3 x 2 factorial arrangement (under, standard and over processed extruded full fat soybean-based diets with and without MC, in a total of six treatments with eight replicates and six birds per experimental unit. Feces were collected and weighed during five days. It was observed that the MC addition (composed by cellulase, amylase and protease) increased the coefficients of dietary ileal apparent digestibility of DM, CP, GE, and fat by 4.8, 1.3, 4.8, and 6%, respectively. However, under processed extruded full fat soybean-based diets, with MC, increased most the ileal digestibility: 10.7% (DM), 4.2% (CP), 11.4%, (GE), and 17.55% fat. The MC addition increased the ileal digestibilility of NDF, ADF, and hemicelullose at average 10.60, 23.05, and 6.39%, respectively. The birds fed diets with standard processed extruded full fat soybean showed higher values of coefficients of nutrient ileal digestibility and of metabolizable energy than those fed extruded under and over processed full fat soybean-based diet.

Key Words: broiler chicks, digestibility, enzymes, extruded full fat soybean, processing

Introdução

A busca pelo aumento da eficácia da produção animal tem sido constante e um dos principais avanços da nutrição é o uso de enzimas exógenas, com notável aplicação nas dietas para monogástricos.

Grande parte das dietas para aves é produzida à base de milho e farelo de soja, considerados alimentos de excelente digestibilidade e disponibilidade de aminoácidos. Essas características, no entanto, dependem do processamento, especialmente no caso da soja, que representa mais de 70% da proteína dietética das rações. Em dietas para aves, a soja integral tem sido utilizada em substituição ao farelo de soja, por apresentar proteína de alta qualidade e ser rica fonte de energia. Porém, para sua utilização, torna-se necessária a inativação dos fatores antinutricionais, feita por meio de processamentos como tostagem e extrusão (Jorge Neto, 1992).

Para avaliar o adequado processamento da soja integral, são utilizadas metodologias como a solubilidade da proteína em hidróxido de potássio (KOH) 0,2% para obtenção de valores entre 75 e 90% e atividade da urease de 0,05 a 0,30 (valores acima ou abaixo indicam processamento inadequado).

O tipo de processamento da soja integral, além de reduzir os fatores antinutricionais, também influencia a digestibilidade dos polissacarídeos não-amiláceos (PNA), da proteína e dos lipídios. Vários estudos têm demonstrado que a soja integral extrusada apresenta maior digestibilidade desses nutrientes que a soja autoclavada ou a tostada (Marsman et al., 1997; Sakomura, 1996; White et al., 1967). Essa melhora na digestibilidade decorre da maior exposição dos nutrientes à ação enzimática e da redução da viscosidade (Alonso et al., 2001; Marsman et al., 1997; White et al., 1967).

Diversas pesquisas têm sido realizadas visando conhecer o efeito da adição de enzimas exógenas sobre a digestibilidade dos nutrientes de diferentes alimentos constituintes das dietas para aves. A digestibilidade e a absorção dos nutrientes são dependentes do tipo de ingrediente que compõe a dieta e suas características físico-químicas, pois a presença dos PNAs (arabinose e xilose) e dos oligossacarídeos (estaquiose, verbascose, rafinose) na soja integral pode reduzir a digestibilidade dos nutrientes, além de favorecer o aumento da proliferação de microrganismos no trato gastrintestinal.

Segundo Marsman et al. (1997), o uso de enzimas, celulase e protease em dietas formuladas com soja extrusada ou soja tostada para frangos de corte aumentou a digestibilidade da PB e dos PNAs. Pugh & Charlton (1995), utilizando um complexo multienzimático composto de celulase, protease e xilanase (1 kg/t) em dietas à base de farelo de soja (48% PB) para frangos de corte, observaram aumento de 7,2% no valor de EM.

A adição de enzimas e o tipo de processamento da soja podem contribuir para a melhor utilização da energia e dos nutrientes das dietas, favorecendo o desempenho animal.

Este trabalho foi realizado com o objetivo de avaliar os efeitos da adição de complexo multienzimático (protease, amilase e celulase) e do tipo de processamento da soja sobre os valores energéticos das rações e os coeficientes de digestibilidade dos nutrientes.

Material e Métodos

O experimento foi realizado no Setor de Avicultura do Departamento de Zootecnia da Universidade Federal de Viçosa - MG, utilizando-se os métodos de coleta total e de coleta ileal.

A temperatura média registrada no período experimental foi de 27,7ºC e as médias das mínimas e máximas foram de 24,8 e 30,6ºC, respectivamente. Foram utilizados 288 pintos de corte machos da linhagem Avian Farms, com oito dias de idade e peso médio inicial de 147 g. As dietas à base de milho e de soja extrusada foram formuladas para conter níveis subótimos de proteína, lisina e metionina + cistina, com base nas exigências nutricionais e na composição dos alimentos referenciadas por Rostagno et al. (2000), para facilitar a detecção de diferenças no valor nutritivo das dietas (Tabela 1).

O delineamento experimental foi inteiramente casualizado, em arranjo fatorial 3 x 2 (rações à base de soja extrusada subprocessada, normal e superprocessada, suplementadas ou não com complexo multienzimático - CM), totalizando seis tratamentos com oito repetições de seis aves por unidade experimental (Tabela 2).

As sojas extrusadas subprocessada, normal e superprocessada foram incluídas na proporção fixa de 34% nas rações experimentais.

O complexo multienzimático (Allzyme Vegpro®), composto de celulase, amilase (3%) e protease (3%), foi usado na proporção de 500 mL/t de ração, de acordo com as recomendações da indústria. As rações foram acrescentadas de 0,5% de óxido de cromo (Cr2O3) como indicador indigerível para determinação do fator de indigestibilidade.

Até aos sete dias de idade, as aves receberam ração inicial para pintos de corte e foram criadas segundo recomendações do manual da linhagem. Aos oito dias de idade, foram transferidas para baterias frias em estruturas metálicas, constituídas de compartimentos distribuídos em dois andares. As aves receberam água e ração experimental à vontade.

O período experimental teve dez dias de duração, cinco de adaptação das aves às baterias e às rações experimentais e cinco para estimativa do consumo de ração e coleta total das excretas, realizada em intervalo de 12 horas, para determinação dos valores de energia metabolizável aparente (EMA) e aparente corrigida pela retenção de nitrogênio (EMAn).

Aos 19 dias, todas as aves de cada repetição foram abatidas por deslocamento cervical e imediatamente dissecadas para obtenção da digesta da porção do íleo terminal, a 5 cm da junção íleo-ceco-cólica até 25 cm em direção anterior ou em direção ao jejuno. Este segmento foi seccionado transversalmente e seu conteúdo retirado e colocado dentro de um copo plástico.

As dietas, as digestas e as excretas foram acondicionadas em embalagens plásticas, devidamente identificadas, pesadas e armazenadas em freezer para análises posteriores, utilizando-se metodologia descrita por Silva (1990).

A partir dos resultados das análises das dietas, da digesta e das excretas, foram calculados os coeficientes de digestibilidade ileal aparente da MS, PB, EB, HEM, FDN e FDA, os valores de energia digestível ileal aparente, com base nos níveis de cromo na dieta e digesta, e o fator de indigestibilidade.

Os valores de EMAn das dietas foram calculados por meio de equações propostas por Matterson et al. (1965).

Os dados experimentais obtidos foram submetidos à análise de variância e à comparação de médias pelo teste de Student-Newman-Keuls (SNK), utilizando-se o programa estatístico SAEG (2000).

Resultados e Discussão

Os coeficientes de digestibilidade ileal aparente da MS, PB e EB das rações são apresentados na Tabela 3.

Observou-se interação significativa (P<0,05) entre a adição do complexo multienzimático (CM) e o processamento da soja extrusada para os coeficientes de digestibilidade ileal da MS, PB e EB.

Considerando os tratamentos sem suplementação do CM, constatou-se que a ração formulada com soja extrusada normal (SEN) proporcionou os maiores coeficientes de digestibilidade da MS, PB e EB (P<0,05) e que aquela contendo soja extrusada superprocessada (SESP) foi superior (P<0,05) à ração com soja extrusada subprocessada (SES) em todas estas variáveis.

A digestibilidade da MS não diferiu significativamente entre as rações contendo sojas extrusadas e CM. Porém, a digestibilidade da PB e da EB se igualaram nos tratamentos com SES e SESP, de modo que ambos apresentaram valores inferiores aos observados na ração com SEN (P<0,05). A adição do complexo multienzimático nas rações com diferentes tipos de soja extrusada melhorou (P<0,05) a digestibilidade ileal da MS das rações à base de SES e SESP em 10,70 e 3,33%, respectivamente. No entanto, entre as rações com CM, somente aquela com SES melhorou significativamente (P<0,05) a digestibilidade da PB (4,24%) e da EB (11,37%).

A digestibilidade ileal aparente da energia (Tabela 4) das rações formuladas com SEN, com a adição ou não de CM, foi maior que a das rações à base de soja sub e superprocessada. Sem a adição de CM, o valor de energia digestível da ração à base de SESP foi maior (316,3 kcal/kg) que o daquela à base de SES. Porém, na presença de CM, ambas apresentaram o mesmo valor de energia, comprovando o efeito aditivo das enzimas.

Os níveis de processamento aplicados à soja permitiram a obtenção de valores de energia digerível diferenciados. Todavia, independentemente do processamento, o uso de CM proporcionou aumento energético de 11,42; 1,69 e 2,25% para as dietas à base de SES, SEN e SESP, respectivamente, melhorando a digestibilidade ileal aparente da energia pela ação das enzimas, principalmente para SES, cujos valores percentuais foram mais altos (ou mais evidentes), comprovados pela maior digestibilidade ileal da gordura (P<0,01) das respectivas rações (17,55; 1,82 e 0,79%) quando o CM foi adicionado.

Não houve efeito da interação (P<0,05) tipo de processamento da soja × enzimas sobre os valores de EMA e EMAn (Tabela 5). Os valores médios de EMA e EMAn das rações contendo soja extrusada sob processamento normal foram superiores (P<0,01) aos das rações à base de soja extrusada sub e superprocessada, que, por sua vez, não diferiram entre si (P<0,01), indicando que o processamento diferenciado da soja extrusada diminui a energia metabolizável para frangos de corte e prejudica o valor nutricional da dieta, podendo limitar o desempenho das aves.

A adição do CM aumentou os valores de EMA e EMAn em 2,70 e 2,80%, respectivamente, em comparação às dietas sem a inclusão do CM, independentemente do nível de processamento da soja.

Os coeficientes de digestibilidade ileal (CDI) de FDN, FDA e HEM são apresentados na Tabela 6.

Não houve interação (P<0,05) processamento da soja × adição de enzimas para os CDI da FDN, FDA e hemicelulose. Os maiores coeficientes de digestibilidade para as três variáveis analisadas (P<0,01) foram obtidos para a dieta à base de SESP, seguida da dieta formulada com SEN, que, por sua vez, apresentou coeficientes maiores que os da dieta contendo SES, com exceção dos valores de CDI da HEM, que não diferiram (P>0,01) entre as dietas à base de SEN e SES.

Avaliando o efeito do CM, nota-se que a presença das enzimas melhorou (P<0,05) a digestibilidade da FDN, FDA e HEM, independentemente do processamento aplicado, com aumentos médios de 10,60; 23,05 e 6,39%, respectivamente.

Para os coeficientes de digestibilidade (CD) da FDN, FDA e HEM das excretas (Tabela 7), não houve interação significativa (P<0,05) adição do CM × níveis de processamento da soja. Porém, na ausência das enzimas, a dieta formulada com SESP apresentou o maior CD (P<0,05) para todas as variáveis. A dieta à base de SEN teve CD maior que a dieta com SES para FDN e HEM, não diferindo quanto à FDA.

Quando houve adição do CM, constatou-se, para todas as variáveis, que os valores da dieta formulada com SESP também foram superiores aos dos demais tratamentos, não havendo, no entanto, diferença entre as dietas à base de SES e SEN. O efeito do CM sobre as variáveis nas dietas à base de SESP não foi significativo. Entretanto, para as dietas formuladas com SEN e SES, houve aumento (P<0,05) dos valores com a adição do CM, exceto para o CD da FDA na dieta com SEN. A melhora nos coeficientes de digestibilidade nas dietas formuladas com soja extrusada subprocessada foram de 61,1; 97,1 e 37,2% para os CD de FDN, FDA e HEM, respectivamente. Para a dieta à base de soja extrusada superprocessada, a melhora foi de 28% para o CD da FDN e 28,9% para o CD da hemicelulose.

As diferenças nos coeficientes de digestibilidade observados na MS, PB e EB das dietas formuladas com SES, SEN e SESP podem ser atribuídas ao nível de processamento da soja extrusada, uma vez que, segundo ANFAR (1985), citado por Sakomura (1996), os valores para solubilidade da proteína em hidróxido de potássio (KOH) 0,2% e para a atividade ureática (AU) devem ser, respectivamente, de 75 a 90% e de 0,05 a 0,30. Neste sentido, observou-se que o subprocessamento foi mais impactante, com coeficiente de digestibilidade abaixo da SEN e SESP para estas variáveis analisadas. Esse efeito indica que o adequado processamento é necessário para inativar os fatores antinutricionais (lectinas, inibidores de proteínas e saponinas), os quais provocam redução na atividade das enzimas digestivas, aumento da lesão na mucosa intestinal e desconjugação dos ácidos biliares, com perda de emulsificação dos lipídios (D'Mello, 2000; Oliveira, 2000; Smithard, 2002), reduzindo a digestibilidade da dieta.

Os menores coeficientes de digestibilidade da dieta formulada com SESP em relação à dieta à base de SEN provavelmente foram provocados pela complexação dos carboidratos com as proteínas, conhecida como reação de Mailard, reduzindo a disponibilidade de nutrientes como lisina e cistina (Parsons et al., 1992; Fernández & Parsons, 1996).

Marsman et al. (1997), estudando o processamento da soja por extrusão e tostagem, observaram que a PB, o amido e os polissacarídeos não-amiláceos das dietas à base de soja extrusada apresentaram coeficientes de digestibilidade maiores que o daquelas à base de soja integral tostada, demonstrando que o tipo e o adequado processamento são determinantes na digestibilidade dos nutrientes. Alonso et al. (2001) reforçaram esta idéia ao observarem que o processo de extrusão reduz os fatores antinutricionais, diminui a excreção fecal da MS e aumenta a absorção de nutrientes.

A adição do CM, dentro dos diferentes tipos de soja extrusada, melhorou a digestibilidade ileal da MS da dieta formulada com SES e SESP, permitindo que os valores dos coeficientes de digestibilidade da MS se igualassem, indicando que as enzimas foram efetivas em reduzir os efeitos negativos dos fatores antinutricionais e da baixa qualidade das proteínas provocados pelo inadequado processamento, o que pode ser respaldado por Huo (1993), citado por Thorpe & Beal (2001), que observou que a utilização de enzimas proteolíticas de origens fúngica e bacteriana poderia, in vitro, inativar os inibidores de tripsina e lectinas presentes na soja crua. Para a digestibilidade da PB e da EB, somente as dietas com SES promoveram melhora significativa, evidenciando que a soja extrusada subprocessada pode ter seus coeficientes de digestibilidade melhorados, enquanto a superprocessada torna seu valor irreversível pela ação de enzimas exógenas. Esse efeito benéfico da adição de enzimas na melhora da digestibilidade também foi observado por Marsman et al. (1997), Zanella et al. (1998), Sakomura et al. (1998b) e Nery et al. (2000). Porém, Garcia et al. (2000) não observaram melhora significativa no coeficiente de digestibilidade da PB para dietas à base de farelo de soja e farelo de soja mais soja extrusada.

Marsman et al. (1997), trabalhando com pintos de corte de 1 a 21 dias de idade alimentados com dietas à base de soja extrusada ou soja tostada, ambas suplementadas com complexo enzimático, não observaram aumento significativo na digestibilidade da gordura. Entretanto, neste trabalho o uso do CM permitiu aumento significativo de 17,55; 1,82 e 0,79% para as dietas à base de SES, SEN e SESP, respectivamente, o que provavelmente contribui muito para o aumento dos valores de energia digestível ileal aparente observados, quando na presença do CM. Pode-se observar ainda que o maior efeito da adição das enzimas ocorreu na dieta à base de SES.

Alimentos altamente energéticos são sempre úteis na formulação de rações, todavia, o processamento aplicado pode ter reflexo sobre seu valor energético. Neste trabalho foi observado que os melhores valores de EM são sempre obtidos quando a soja é submetida ao processo normal de extrusão. A aplicação do processamento nos extremos provocou a redução dos valores de EM. No entanto, quando houve a adição do CM, ocorreu melhora na utilização da energia pelas aves, corroborando os registros de Pugh & Charlton (1995), que testaram CM composto de protease, amilase e xilanase em dietas à base de ervilha, soja integral e farelo de soja para frangos de corte com três semanas de idade, alimentados três vezes ao dia pelo método da alimentação forçada, observando aumento da EMAn em 14,3; 9,2 e 4,1%, respectivamente, com a adição das enzimas.

Da mesma forma, Garcia et al. (2000), trabalhando com frangos de corte de 1 a 42 dias de idade alimentados com deitas à base de farelo de soja e de soja extrusada, ambas suplementadas com enzimas (a-galactosidade, pectinases, celulase), observaram que estas enzimas permitiram o aumento na utilização da EM em 9,0%.

Os diferentes efeitos de enzimas sobre a digestibilidade de nutrientes observados entre os diversos trabalhos, podem ser atribuídos ao tipo de enzima utilizada e suas combinações, aos diferentes tipos de ingredientes que compõem a dieta, à fase de criação das aves avaliadas e ainda ao teor energético das dietas.

Schang et al (1997), utilizando duas dietas, uma à base de milho e farelo de soja e outra composta de milho, farelo de trigo, farelo de soja e soja integral, ambas formuladas para atender 90 e 100% das exigências das aves, observaram que a suplementação enzimática nas dietas com alta densidade nutricional (100%) não promoveu melhora no valor de utilização da energia, efeito similar ao observado neste trabalho quando o CM foi adicionado na dieta formulada com SEN, em comparação à dieta à base de SES.

Diferentemente da tendência observada nos valores de EDIap, os valores numéricos de EM apontaram para maior efeito da inclusão do CM na dieta formulada com SESP. Este efeito pode ser justificado pelo aumento de amido resistente ocorrido durante o superprocessamento, o qual, segundo Brown (1996), citado por Zanella et al. (1999b), é pouco digerido no intestino delgado, mas sua digestão pode ser completada no ceco e no cólon. Assim, em decorrência da metodologia de coleta total para determinação de EM, os valores para SESP podem ter sido favorecidos pelo melhor aproveitamento deste amido resistente, o que pode não ter ocorrido em nível de íleo quando da determinação da EDIap.

O menor aumento proporcionado pelo CM sobre os valores da EMA e EMAn para a dieta com SES em relação à dieta com SESP poderia ser justificado pela presença de oligossacarídeos em maior proporção na soja subprocessada, que limitou a utilização de nutrientes e o valor de energia da dieta. Esse efeito foi evidenciado por Coon (1989), que relatou que a remoção dos oligossacarídeos do farelo de soja aumentou o valor da EMAn e a digestão da fibra no ceco e no cólon das aves, como conseqüência do maior tempo de retenção da digesta no ceco e do aumento do pH cecal favorável à fermentação microbiana.

Irish et al. (1995) adicionaram a-galactosidase e uma invertase em dietas à base de farelo de soja para frangos de corte de 1 a 21 dias de idade e observaram redução na EMAn da dieta, explicada pela maior ação destas enzimas sobre alguns monossacarídeos, como a xilose, que, embora seja absorvida, não é metabolizada, sendo, portanto, excretada.

Analisando o efeito do grau de processamento da soja extrusada sobre os CDI da FDN, FDA e HEM, observa-se que houve aumento da digestibilidade destas frações com o aumento do grau de processamento do material.

Essas superioridades dos CDI das dietas à base de SESP em relação às demais podem ser justificadas pela maior permanência da porção fibrosa no trato gastrointestinal, provocada pelo excesso de processamento e pela ação microbiana, pois, segundo Marsman et al. (1997), o rompimento e a homogeneização da fibra pelo tratamento intenso durante a extrusão podem levar mais fibra dietética disponível para fermentação. Além disso, a intensidade de processamento pode aumentar a concentração dos polissacarídeos não-amiláceos solúveis, que, por sua vez, diminuem a taxa de passagem e favorecem a fermentação bacteriana e a quebra da fibra no nível de íleo, por meio de refluxo de digesta do ceco. Este refluxo promove ainda o aumento da população bacteriana.

Coon et al. (1989) também observaram que a remoção dos oligossacarídeos presentes no farelo de soja aumentou a digestibilidade da fibra, como resultado da redução da taxa de passagem e da maior ação bacteriana.

Também tem sido observado que o processo de extrusão reduz os oligossacarídeos em relação a outros tipos de processamento, como a tostagem (Alonso et al., 2001; Marsman et al., 1997). Logo, pode-se inferir que o inadequado processamento na dieta à base de SES não permitiu o aumento da digestibilidade da fibra desta dieta em relação às demais, em razão da presença dos fatores antinutricionais, que também são redutores da digestibilidade.

Considerando o ceco e o cólon das aves como os maiores sítios de fermentação dos componentes da fibra, Coon et al. (1989) registraram digestibilidade aparente (coleta total de excretas) de 9,2% para HEM e 0% para celulose em dietas à base de farelo de soja. Porém, quando o farelo de soja foi destituído de oligossacarídeos, a digestibilidade aumentou em 61,6 e 35% para HEM e celulose, respectivamente. Esses autores constataram ainda que a digestibilidade ileal aparente dos carboidratos solúveis totais é de 78% para o farelo de soja e aproximadamente zero para o farelo de soja destituído de oligossacarídeo.

A adição do CM proporcionou melhora da digestibilidade das frações fibrosas, porém, os aumentos mais pronunciados foram observados nas frações de FDN e HEM, que podem estar relacionados à especificidade das enzimas que compõem o complexo multienzimático. Portanto, pode-se inferir que as diferenças de digestibilidade da FDN e HEM da excreta entre as dietas à base de SES e SEN podem ser reduzidas com a adição do CM. Entretanto, não houve melhora significativa na digestibilidade da FDN, FDA e HEM com a adição do CM nas dietas à base SESP, evidenciando o forte impacto do superprocessamento sobre estas variáveis.

Conclusões

A adição do complexo multienzimático (protease, amilase e celulase) promoveu aumento médio dos coeficientes de digestibilidade ileal aparente da matéria seca, da proteína, da energia e da gordura.

As dietas formuladas com soja extrusada subprocessada apresentaram os melhores coeficientes de digestibilidade ileal aparente da matéria seca, proteína, energia e gordura com a adição do complexo multienzimático.

O uso do complexo multienzimático, independentemente do processo de extrusão da soja, aumentou, em média, 2,7% o valor de EM e a digestibilidade ileal da FDN, FDA e HEM das dietas.

Agradecimento

À Alltech agroindústria do Brasil Ltda., pelo fornecimento do complexo multienzimático Allzyme Vegpro®, e à Fundação de Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), pela concessão da bolsa de estudo.

Literatura Citada

Recebido: 14/06/04

Aprovado: 25/11/05

Correspondências devem ser enviadas para: claudsonb@yahoo.com.br

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  • 1
    Parte da dissertação de Mestrado do primeiro autor apresentada ao programa de Pós-graduação em Zootecnia da UFV.
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      01 Set 2006
    • Data do Fascículo
      Jun 2006

    Histórico

    • Aceito
      25 Nov 2005
    • Recebido
      14 Jun 2004
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