Efeito da composição do farelo de soja sobre o desempenho e o metabolismo de frangos de corte

Effect of soybean meal composition on broiler performance and metabolism

MONOGÁSTRICOS

Efeito da composição do farelo de soja sobre o desempenho e o metabolismo de frangos de corte

Effect of soybean meal composition on broiler performance and metabolism

Luiz Fernando Pigatto Gerber^I; Antônio Mário Penz Júnior^II; Andréa Machado Leal Ribeiro^II

^IMestrando em Zootecnia da UFRGS

^IIDepartamento de Zootecnia - Faculdade de Agronomia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul - Porto Alegre, RS

RESUMO

Foi estudado o efeito do teor de PB (44, 46 e 48%) do farelo de soja (FS) utilizado na composição das rações sobre o desempenho, o metabolismo e a micrometria intestinal de frangos de corte. Os três FS foram obtidos de um mesmo FS, com 48,4% PB, adicionado de níveis crescentes de casca de soja desativada. Foram utilizadas 312 aves, distribuídas em três tratamentos, com oito repetições. As rações formuladas para as três fases de crescimento (1 a 7, 8 a 21 e 22 a 42 dias) foram isocalóricas e isoprotéicas. Na fase de 1 a 7 dias, as aves dos três tratamentos não diferiram entre si quanto ao desempenho. No entanto, do 8º ao 21º dia, aquelas alimentadas com ração FS48% apresentaram melhor ganho de peso (GP) e conversão alimentar (CA). A ração com FS48%, na fase de 1 a 21 dias, promoveu maiores peso corporal e GP e melhor CA que aquela com FS44%. Na fase de 22 a 42 dias, as aves submetidas aos tratamentos tiveram desempenhos semelhantes. Para os dados de metabolismo, nos dois períodos de coleta de excretas (3 a 7 e 39 a 42 dias de idade), a dieta com FS48% proporcionou o mais alto coeficiente de metabolizabilidade da EB e da MS, quando comparada à dieta contendo FS44%. A altura das vilosidades, a profundidade das criptas e o número de vilos na alça duodenal não foram afetados pelos tratamentos.

Palavras-chave: metabolizabilidade energética, metabolizabilidade da matéria seca, morfometria duodenal

ABSTRACT

It was studied the effect of soybean meal (SBM) composition, varying in CP (SBM44%, SBM46% and SBM48%), on performance, metabolism and intestinal micrometry of broilers. Three SBM were produced from the SBM with 48.4% CP and increasing levels of toasted soybean hulls. Three hundred and twelve birds were assigned to three treatments with eight replicates. The diets were formulated for three periods: 1 to 7 days, 8 to 21 days and 22 to 42 days of age. All dietary treatments were isoenergy and isoprotein. From 1 to 7 days of age, no treatment effect on bird performance was observed. However, from 8 to 21 days of age, the birds fed SBM48% showed the best weight gain (WG) and feed conversion (FC). In the period from 1 to 21 days of age, the broilers fed SBM48% showed higher body weight and WG and better FC than those fed SBM44%. In the period from 22 to 42 days of age, the birds on all dietary treatments showed similar performance. The metabolism parameters evaluated at both periods (3 to 7 and 39 to 42 days of age) showed that the SBM48% treatment promoted a significantly higher coefficient of metabolizability of GE and DM than SBM44% treatment. No treatment effect on villi height, cript depth and number of intestinal villi was observed.

Key Words: dry matter metabolizability, duodenal morphometry, energy metabolizability

Introdução

A exigência dos consumidores, especialmente os europeus, por frangos alimentados com dietas isentas de ingredientes de origem animal valorizou ainda mais o farelo de soja (FS) como fonte de proteína em dietas avícolas. Essa exigência é provocada pela possível transmissão de patogenias pelos alimentos de origem animal, como é o caso da encefalopatia espongiforme bovina (Penz et al., 2001). A indústria de soja pode produzir três tipos de FS com basea no teor de PB. O FS com 44% de PB é obtido pela adição de casca de soja, proveniente da fabricação do FS com 48% PB, que é descascado antes da extração do óleo. Também existe o FS com 46% PB, no qual a quantidade de casca já se encontra no grão (Ministério da Agricultura, 1988).

Além do amido presente na soja, existem outras frações de carboidratos que não são digeridas pelos frangos. Estas frações são as fibras solúveis (oligossacarídeos – rafinose e estaquiose e polissacarídeos) e insolúveis (celulose, hemicelulose e lignina) (Choct, 2001). Depois da sacarose, a rafinose é o oligossacarídeo mais encontrado em vegetais.

O FS também possui níveis elevados de aminoácidos digestíveis, como lisina, metionina, treonina e triptofano (Rostagno et al., 2000). Segundo Neto et al. (1996), o uso de FS com maior teor de PB propiciou melhor conversão alimentar em frangos de corte aos 47 dias de idade. Park et al. (2002) observaram melhor eficiência alimentar e maior ganho de peso em aves alimentadas com dietas compostas de FS com maior nível protéico.

Objetivou-se com este trabalho avaliar o efeito da utilização de dietas produzidas com farelos de soja com diferentes teores de PB (44, 46 e 48%) sobre o desempenho, o metabolismo e a morfologia dos enterócitos duodenais de frangos de corte no período de 1 a 42 dias de idade.

Material e Métodos

Foram utilizados 312 frangos de corte machos da linhagem Ross 308 alojados em baterias em sala climatizada e criados em temperatura inicial de 32ºC, reduzida em 1°C a cada três dias até 25ºC após os 21 dias. O experimento foi constituído de três tratamentos: T1 - ração formulada com FS contendo 44% PB (FS44%); T2 - ração formulada com FS 46% PB (FS46%); T3 - ração formulada com FS 48% PB (FS48%). Os farelos de soja utilizados nas rações foram obtidos de um mesmo FS com 48,4% PB, por meio da adição de casca de soja desativada. Todas as rações formuladas para as três fases de crescimento (1 a 7 dias - pré-inicial; 8 a 21 dias – inicial; e 22 a 42 dias - crescimento) foram isonutritivas. Cada tratamento foi constituído de oito repetições com 13 aves. A composição química das dietas, a composição dos ingredientes utilizados e seus níveis nutricionais encontram-se nas Tabelas 1, 2 e 3, respectivamente. Adotou-se o sistema de luz contínua, com água e alimento à vontade. Semanalmente, foram realizadas pesagens de todas as aves das gaiolas e das sobras das dietas. Houve dois períodos de coleta de excretas (do 3º ao 7º dia e do 39º ao 42º dia de idade). As excretas foram coletadas duas vezes ao dia, no intuito de minimizar as perdas de nitrogênio. As análises de EB das excretas e das dietas foram feitas com bomba calorimétrica de Parr e as de matéria seca das dietas e das excretas foram determinadas em estufa a 105°C, por 12 horas. Todas estas técnicas seguiram as metodologias propostas pela AOAC (1996). Com base na coleta total de excretas, nos teores de EB e MS consumidos e excretados, foram calculados os coeficientes de metabolizabilidade da energia e da MS, determinando-se em porcentagem a relação entre energia (ou MS) retida. Também aos 21 dias de idade, foi realizada a avaliação histológica dos duodenos dos frangos, determinando-se o número e a altura dos vilos e a profundidade das criptas, para os tratamentos FS44% e FS48%. Para a fixação, a conservação e a confecção das lâminas histológicas dos duodenos, foi utilizada a metodologia descrita por Magro (1999). O experimento foi feito em delineamento em blocos casualizados, cada um com quatro repetições de cada tratamento, no qual os blocos constituíram-se de aves leves e pesadas. Os dados foram analisados utilizando-se o programa SAS (2001) e as médias foram testadas pelo teste Tukey (P<0,05) e LS means.

Resultados e Discussão

Não houve diferenças significativas para consumo de ração, peso corporal, ganho de peso e conversão alimentar (Tabela 4) no período de 1 a 7 dias de idade. Aos 7 dias, o peso dos pintos foi superior ao registrado no manual da linhagem utilizada (170 g), apesar de o consumo ter sido menor que o indicado nesse manual (150 g). O reduzido diâmetro geométrico médio (DGM) observado nesta fase (0,599; 0,607 e 0,616 m para os tratamentos FS44%, FS46% e FS48%, respectivamente) pode explicar o baixo consumo. Krabbe (2000) observou, nesta mesma fase, que partículas muito finas na dieta comprometem o consumo de alimento.

Para o período de 8 a 21 dias, quando foram utilizadas as dietas iniciais, houve melhora no ganho de peso (P<0,001) dos frangos do tratamento FS48%. Considerando a ausência de efeito dos tratamentos no consumo das dietas, a melhora no ganho de peso refletiu positivamente em melhor conversão alimentar (Tabela 5). Nesta fase, os consumos das dietas foram próximos àqueles previstos para a linhagem,apesar dos baixos DGM (0,609; 0,617 e 0,624 mm para FS44%, FS46% e FS48%, respectivamente).

Considerando o período total de crescimento inicial (1 a 21d), observou-se mesmo consumo nos três tratamentos, porém com maiores GP e PC e melhor CA para os frangos submetidos ao tratamento FS48%, comprovando que o uso de FS com maior nível protéico na formulação de dietas até os 21 dias proporcionou melhor resultado (Tabela 6). Este resultado é similar àquele relatado por Neto et al. (1996), que, utilizando dois farelos de soja (FS45,5% PB e FS48% PB) em dietas para frangos de até 21 dias de idade, não observaram diferença para ganho de peso e consumo de ração, mas notaram melhora na conversão alimentar para os frangos do tratamento com FS de maior teor protéico (1,46 para FS 48% e 1,54 para o FS45,5%).

No período de 22 a 42 dias de idade, não foram verificadas diferenças no consumo de ração, no ganho de peso e na conversão alimentar dos frangos dos diferentes tratamentos (Tabela 7).

Considerando o período total do experimento (1 a 42 dias de idade), a vantagem inicial obtida no desempenho com o uso do FS 48% diluiu-se, não sendo identificado benefício ou prejuízo na utilização de diferentes FS na formulação das rações (Tabela 8). Neto et al. (1996) verificaram tendência de menor consumo em frangos alimentados com dietas contendo FS 48% PB. Segundo esses autores, isto refletiu em melhor conversão alimentar, visto que o peso corporal foi semelhante ao dos frangos alimentados com dietas formuladas com FS 45,5% PB. Park et al. (2002) também verificaram melhores resultados zootécnicos para frangos alimentados com FS 48,3% PB em comparação aos do tratamento com FS 45,2% PB.

É importante ressaltar que o experimento foi realizado em gaiolas e que, com o crescimento das aves, foi observada incidência significativa de problemas nas patas, atribuída ao piso de arame, o que determinou a necessidade de eliminação de vários animais. Em repetições com pequeno número de animais como neste experimento, a ocorrência de problemas desse tipo pode aumentar o erro experimental na determinação de variáveis como consumo médio de ração e conversão alimentar.

As avaliações dos coeficientes de metabolizabilidade da EB (CMEB) e da MS (CMMS) para os períodos de 3 a 7 dias e 39 a 43 dias são apresentadas na Tabela 9. Os CMEB e CMMS das dietas formuladas com FS48% foram superiores (P<0,01) aos das dietas com FS44% em ambos os períodos. No período inicial, o CMEB da dieta com FS46% ficou em posição intermediária, enquanto, no segundo período, não diferiu significativamente daquele da dieta FS48%. Os menores conteúdos de FB (3,07 e 4,70% e 2,70 e 3,98% para as respectivas fases) da dieta com FS48%, em relação àquela com FS44%, pode explicar o melhor aproveitamento da energia pelos frangos que receberam o FS48%. Segundo Choct (2001), os frangos não digerem a FB, de modo que a digestão é realizada pelos microrganismos dos cecos. Entretanto, a fermentação cecal não é significativa, em razão da morfologia dos cecos das aves. Os níveis decrescentes de cinzas das rações pré-iniciais, com FS44%, FS46% e FS48% (3,53; 3,35 e 3,17%, respectivamente), e de crescimento (2,93; 2,80 e 2,66%, respectivamente) é um fator que também pode ter contribuído para que as rações com FS de maior teor de proteína proporcionassem melhores resultados.

As análises histológicas foram realizadas nos frangos dos tratamentos FS44% e FS48%, aos 21 dias de idade. Pelos resultados apresentados na Tabela 10, verifica-se que a composição das dietas do tratamento FS44% não comprometeu a mucosa intestinal o suficiente para causar modificação anatômica do duodeno, visto que os valores apresentados para número e altura de vilos e profundidade de cripta não diferiram estatisticamente nos dois tratamentos. Entretanto, não deve ser desconsiderada a tendência de redução de profundidade de cripta e a menor altura de vilosidades nos frangos do tratamento FS48%. Maiorka et al. (2003) sugeriram que animais com maior renovação celular da mucosa intestinal possuem maior profundidade de cripta, em virtude da hiperplasia, resultado da alta atividade mitótica. Entretanto, a altura dos vilos é menor por causa da maior descamação. Os autores também observaram que, em tratamentos considerados mais agressivos (restrição da dieta e de água), houve aumento no número de vilosidades. Neste experimento, a maior agressão à mucosa poderia ser representada pela dieta com FS44%, que demonstrou tendência a maior número de vilosidades.

Conclusões

No período de 1 a 21 dias de idade, os resultados de desempenho e de metabolismo indicaram que o uso do FS48% em dietas para frangos de corte foi benéfico. No entanto, em condições experimentais de baterias, este benefício não se repetiu no desempenho no período de crescimento, mas manteve-se nas respostas de metabolismo. Em condições práticas de criação, em que os desafios e a desuniformidade dos lotes são maiores, os resultados poditivos do FS48% são amplificados.

Os diferentes teores de PB dos FS estudados não foram suficientes para causar alterações nas características anatômicas do duodeno dos frangos aos 21 dias de idade.

Literatura Citada

Recebido: 12/09/04

Aprovado: 23/01/06

Correspondências devem ser enviadas para: [e-mail]

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Datas de Publicação

• Publicação nesta coleção
  05 Out 2006
• Data do Fascículo
  Ago 2006

Histórico

• Aceito
  23 Jan 2006
• Recebido
  12 Set 2004