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Níveis de proteína bruta para fêmeas suínas gestantes de 4º ou 5º parto

Dietary crude protein levels for sows of 4th or 5th parturition orders during gestation

Resumos

Um experimento foi realizado com o objetivo de avaliar os efeitos da ingestão de PB durante a gestação sobre os desempenhos produtivo e reprodutivo de fêmeas suínas gestantes de 4º ou 5º parto e de suas respectivas leitegadas. Foram utilizadas 25 matrizes mestiças (189,0±16,46 kg) com idade reprodutiva de 4º parto, distribuídas aleatoriamente em delineamento experimental inteiramente casualizado com três tratamentos (10; 13,5 e 17% de PB) e 18, 15 e 12 repetições, considerando a matriz a unidade experimental. Os ganhos em peso das porcas da cobertura aos 110 dias de gestação e da cobertura ao parto, pesos ao parto e ao desmame, o ganho em espessura de toucinho durante a gestação e a perda em espessura de toucinho durante a lactação não foram afetados pelos níveis de proteína na ração durante a gestação. O nível de 13,5% de PB na ração de gestação proporcionou o melhor balanço energético às porcas, o maior número de nascidos vivos, o maior peso médio do leitão ao desmame, o maior peso da leitegada ao parto e da leitegada ao desmame e o maior ganho de peso médio diário da leitegada. O balanço energético no processo produtivo foi mais eficiente nas matrizes que consumiram dietas com 13,5% de PB. O melhor nível de PB na ração de gestação para matrizes suínas de 4º e 5º parto é de 13,5%, que corresponde a um consumo diário de 312 g de PB.

desmame; eficiência energética; estro; lactação; leitegada; reprodução


An experiment was conducted to evaluate the effects of CP intake during gestation on productive and reproductive performance of pregnant sows of 4th or 5th parturition orders. A total of 25 crossbred sows averaging 189.0±16.46 kg at 4th parity order was allotted to a completely randomized experimental design with three treatments (10, 13.5, and 17% of CP) and 18, 15 and 12 replicates, and each sow was considered an experimental unit. No treatment effects on sow weight gain from mating to 110 days of gestation and from mating to parity, on weights at parity and weaning, backfat thickness gain during gestation and backfat thickness loss during lactation were observed. The dietary CP level of 13.5% provided the best energetic balance for sows, the highest number of piglets born alive, the highest average piglet weight at weaning, the highest litter weight at parity and weaning and the highest litter average daily weight gains. The energetic balance in the productive process was more efficient in sows fed diets with 13.5% of CP. The best dietary CP level for sows of 4th or 5th parity orders in the gestation is of 13.5%, that is correspondent to a daily intake of 312 g of CP.

energetic efficiency; estrus; lactation; litter; reproduction; weaning


MONOGÁSTRICOS

Níveis de proteína bruta para fêmeas suínas gestantes de 4º ou 5º parto1 1 Parte da tese de Mestrado da primeira autora. Projeto financiado pelo CNPq.

Dietary crude protein levels for sows of 4th or 5th parturition orders during gestation

Kenya Silva SabioniI; Paulo César BrustoliniII; Francisco Carlos de Oliveira SilvaIII; Aloízio Soares FerreiraII; Juarez Lopes DonzeleII; João Luiz KillII; Bruno Alexander Nunes SilvaIV

IMestranda em Zootecnia - UFV

IIDZO - UFV

IIIEPAMIG

IVDoutorando DZO - UFV

RESUMO

Um experimento foi realizado com o objetivo de avaliar os efeitos da ingestão de PB durante a gestação sobre os desempenhos produtivo e reprodutivo de fêmeas suínas gestantes de 4º ou 5º parto e de suas respectivas leitegadas. Foram utilizadas 25 matrizes mestiças (189,0±16,46 kg) com idade reprodutiva de 4º parto, distribuídas aleatoriamente em delineamento experimental inteiramente casualizado com três tratamentos (10; 13,5 e 17% de PB) e 18, 15 e 12 repetições, considerando a matriz a unidade experimental. Os ganhos em peso das porcas da cobertura aos 110 dias de gestação e da cobertura ao parto, pesos ao parto e ao desmame, o ganho em espessura de toucinho durante a gestação e a perda em espessura de toucinho durante a lactação não foram afetados pelos níveis de proteína na ração durante a gestação. O nível de 13,5% de PB na ração de gestação proporcionou o melhor balanço energético às porcas, o maior número de nascidos vivos, o maior peso médio do leitão ao desmame, o maior peso da leitegada ao parto e da leitegada ao desmame e o maior ganho de peso médio diário da leitegada. O balanço energético no processo produtivo foi mais eficiente nas matrizes que consumiram dietas com 13,5% de PB. O melhor nível de PB na ração de gestação para matrizes suínas de 4º e 5º parto é de 13,5%, que corresponde a um consumo diário de 312 g de PB.

Palavras-chave: desmame, eficiência energética, estro, lactação, leitegada, reprodução

ABSTRACT

An experiment was conducted to evaluate the effects of CP intake during gestation on productive and reproductive performance of pregnant sows of 4th or 5th parturition orders. A total of 25 crossbred sows averaging 189.0±16.46 kg at 4th parity order was allotted to a completely randomized experimental design with three treatments (10, 13.5, and 17% of CP) and 18, 15 and 12 replicates, and each sow was considered an experimental unit. No treatment effects on sow weight gain from mating to 110 days of gestation and from mating to parity, on weights at parity and weaning, backfat thickness gain during gestation and backfat thickness loss during lactation were observed. The dietary CP level of 13.5% provided the best energetic balance for sows, the highest number of piglets born alive, the highest average piglet weight at weaning, the highest litter weight at parity and weaning and the highest litter average daily weight gains. The energetic balance in the productive process was more efficient in sows fed diets with 13.5% of CP. The best dietary CP level for sows of 4th or 5th parity orders in the gestation is of 13.5%, that is correspondent to a daily intake of 312 g of CP.

Key Words: energetic efficiency, estrus, lactation, litter, reproduction, weaning

Introdução

O aumento do consumo de energia pode favorecer a deposição protéica e aumentar as exigências de aminoácidos. Entretanto, as exigências protéicas de fêmeas gestantes podem variar conforme a linhagem genética, a raça, a idade, a ingestão de energia, a temperatura ambiente e o perfil sanitário do rebanho. Com a seleção genética para deposição de massa muscular, tem-se verificado que o metabolismo de proteína em fêmeas gestantes e suas exigências em aminoácidos essenciais alteram em relação às outras fases da vida do animal (Pettigrew & Yang, 1997).

Fêmeas suínas têm sido selecionadas para maior produção de leitões por parto, com menor porcentagem de gordura na carcaça. Submetidas a esse critério de seleção, as matrizes tornam-se sujeitas à maior perda de peso, podendo atingir em menos tempo o nível mínimo de 10% de gordura corporal (Roppa, 2001).

A variação na proporção de gordura corporal pode ser usada para avaliar as exigências nutricionais de matrizes gestantes. Uma vez que há variação de gordura corporal, a menor relação proteína:energia da dieta, de acordo com o NRC (1998), predispõe os animais a maior espessura de toucinho e a menor deposição de proteína.

Sabe-se que o programa alimentar utilizado em uma fase pode influenciar a fase subseqüente, de modo que a alimentação inadequada, com deficiência em algum nutriente, em qualquer fase do ciclo, pode não ser notada durante sucessivos partos ou ciclos (Aherne & Foxcroft, 2000). Entretanto, os mecanismos pelos quais mudanças nutricionais a curto ou a longo prazo influenciam os desempenhos produtivo e reprodutivo de suínos não são bem conhecidos (Sesti & Passos, 1994).

Segundo Pettigrew & Yang (1997), a maximização da produção de leite e a reprodução subseqüente demandam altos níveis de proteína corporal, tornando-se necessário o aumento da proteína na dieta durante a gestação. Pond (1968) sugeriu que dietas com baixos teores de PB durante a gestação, embora não afetem o número e o peso da leitegada ao nascimento, reduzem a taxa de crescimento de leitões em aleitamento.

Os ajustes das quantidades diárias de nutrientes necessárias ao máximo desempenho dos animais e o controle do consumo diário de nutrientes dão subsídios à formulação de rações e programas alimentares, podendo refletir na produção de suínos (Lima & Viola, 1998). Assim, avaliaram-se os efeitos de níveis crescentes de PB na ração de gestação sobre os desempenhos produtivo e reprodutivo de fêmeas suínas gestantes de 4º ou 5º parto.

Material e Métodos

O experimento foi realizado no Setor de Suinocultura do Departamento de Zootecnia da Universidade Federal de Viçosa, em Viçosa, MG, com início em setembro de 2002 e término em fevereiro de 2004.

Foram utilizadas 25 fêmeas mestiças (Landrace x Large White), no 4º ou 5º parto, com 189,0±16,46 kg, em boas condições corporais, espessura de toucinho (ET) de 14,1±3,22 mm e idade reprodutiva de 4º parto, distribuídas aleatoriamente em delineamento experimental inteiramente casualizado, com três tratamentos (10,0; 13,5 e 17,0% de PB) e 18, 15 e 12 repetições, sendo a matriz considerada a unidade experimental.

As rações experimentais foram formuladas para atender às recomendações descritas pelo NRC (1998) em todos nutrientes, exceto os níveis de PB, que foram obtidos pela diluição da ração que continha o nível mais elevado (17% de PB) com amido de milho. Mantiveram-se constantes a relação entre milho e farelo de soja e a relação aminoacídica das três rações experimentais, portanto, a mesma qualidade da proteína. As dietas experimentais (Tabela 1) foram isoenergéticas e isominerálicas. No período de lactação, as matrizes dos diferentes tratamentos consumiram a mesma ração (Tabela 2) e o consumo foi verificado diariamente. No período de aleitamento, não foi fornecida ração pré-inicial aos leitões.

As fêmeas foram alojadas individualmente em gaiolas paralelas, onde permaneceram até completarem 110 dias de gestação. Ao término do período, foram lavadas com água e sabão e conduzidas para celas parideiras na maternidade, onde ficaram até o desmame dos leitões (21 dias de idade). As temperaturas diárias foram registradas por meio de termômetros de máxima e mínima.

Nos primeiros 110 dias de gestação, a ração foi fornecida na proporção de 2,27 kg/dia (para as matrizes do 4º ciclo) e de 2,36 kg/dia (para as matrizes do 5º ciclo). A partir do 111º dia de gestação até o parto, todas as matrizes receberam 3,0 kg de ração/dia, divididos em duas vezes (manhã e tarde).

Durante a lactação, iniciou-se o fornecimento da ração com 1,00 kg no primeiro dia, aumentando-se gradativamente até o 5º dia, quando as fêmeas passaram a receber ração à vontade. As leitegadas foram equalizadas até o 3º dia pós-parto em número de 10 leitões/porca.

Do período pós-desmame à cobertura, as fêmeas foram mantidas em piquetes de terra para se restabeleceram de possíveis lesões nos cascos, quando, então, receberam ração de lactação na proporção de 3,0 kg/dia.

A detecção de cio das matrizes foi realizada, no mínimo, duas vezes ao dia, a partir do terceiro dia após o desmame, utilizando-se um macho adulto. Dependendo do número de porcas no cio, procedia-se à inseminação artificial (caso várias porcas estivessem no cio ao mesmo tempo) ou à monta natural no primeiro cio pós-desmame. Foram utilizados três machos meio-irmãos para as coberturas e coletas de sêmen durante o período experimental. Descartaram-se as matrizes com problemas de saúde ou de locomoção, em anestro e aquelas que retornaram ao cio mais de uma vez.

As fêmeas gestantes foram pesadas na cobertura e aos 30, 60, 90 e 110 dias de gestação, enquanto as lactantes e suas leitegadas foram pesadas até 12 horas após o parto. As demais pesagens foram realizadas aos 7, 14 e 21 dias pós-parto. A espessura de toucinho foi medida nestes mesmos intervalos de tempo, a 6,5 cm da coluna vertebral, entre a penúltima e última costela (ponto P2), utilizando-se instrumento de ultra-som digital.

O desempenho da fêmea no 4º ou 5º parto foi avaliado considerando o ganho de peso durante a gestação (cobertura aos 30 dias; dos 30 aos 60 dias; dos 60 aos 90 dias; dos 90 aos 110 dias; da cobertura aos 60 dias; aos 110 dias de gestação e da cobertura ao pós-parto), o ganho em espessura de toucinho na gestação, a perda em espessura de toucinho na lactação, a perda de peso da fêmea na lactação, o peso da leitegada e do leitão ao nascimento, o número total de nascidos e de nascidos vivos, o peso da leitegada e do leitão ao desmame, o ganho de peso diário da leitegada e do leitão, o número de leitões desmamados, o consumo de ração pela fêmea na lactação e os dias para retorno ao cio após o desmame.

Por meio da estimativa da eficiência energética na lactação, procurou-se correlacionar a utilização da energia ingerida na ração e a quantidade de energia para mantença e produção de leitões, estabelecendo-se a melhor relação entre essas variáveis. A eficiência de utilização energética das fêmeas lactantes foi estimada em relação ao consumo de ração e à produção de leitões. A metodologia consistiu em estimar a perda ou o ganho de energia corporal da fêmea durante a lactação, a ingestão de energia dietética e a energia gasta na produção de leitões. A quantidade de energia produzida por quilograma de carne de suíno em crescimento foi estimada em 69 MJ de EM/kg de proteína e em 54 MJ de EM/kg de gordura, enquanto a quantidade de energia mobilizada por peso perdido pela fêmea durante a lactação foi estimada em 47 MJ de EM/kg. A quantidade de energia necessária para a fêmea produzir um quilograma de leitão, de acordo com Whittemore & Elsley (1979), é 16,59 MJ de EM.

Utilizou-se o teste Student–Newman–Keuls (SNK) para testar os contrastes entre as médias dos tratamentos nos parâmetros avaliados. Na análise estatística das variáveis, utilizou-se o programa SAEG 8.0 (Sistema de Análises Estatísticas e Genéticas), desenvolvido pela UFV (2000). Para o ganho de peso da fêmea na gestação, o peso do leitão ao nascimento, a variação do peso da fêmea durante a lactação e a variação na espessura de toucinho foram utilizados, respectivamente, como covariáveis o peso da fêmea à cobertura, o número de nascidos totais, o consumo de ração na lactação e a espessura de toucinho ao parto.

Resultados e Discussão

As temperaturas mínima e máxima no período experimental foram 16,3 ± 3,2 e 25,1ºC ± 2,5 e a umidade relativa média (UR%) foi 70,0%, o que, segundo Baêta & Souza (1997), são condições climáticas adequadas às matrizes suínas em gestação.

Os resultados de desempenho e espessura de toucinho (ET) das fêmeas durante a gestação, em relação à ingestão de proteína, são descritos na Tabela 3. Não foi observado efeito (P>0,10) do nível de PB da dieta sobre o ganho de peso da cobertura aos 110 dias de gestação e nos períodos intercalados. Estes resultados estão coerentes com os obtidos por Mahan (1998), avaliando dois níveis de PB (13,0 e 16,0%) para porcas em gestação, em cinco ciclos reprodutivos consecutivos. Esse autor avaliou dois níveis de ingestão de alimento (alto e baixo) e não notou variação significativa no ganho de peso das fêmeas durante a gestação.

Verificou-se aumento numérico de, aproximadamente, 15% no ganho de peso da cobertura aos 110 dias, nas fêmeas que receberam a dieta com 17% PB em relação àquelas que receberam dieta com 10% PB. Lima et al. (2006), no entanto, observaram aumento no ganho de peso de fêmeas da cobertura aos 110 dias de gestação ao avaliarem níveis crescentes de PB (10,0; 11,5; 13,0; 14,5 e 16,0%) durante os três primeiros ciclos reprodutivos.

A espessura de toucinho (ET) à cobertura não foi influenciada (P>0,10) pelos níveis de PB da ração, resultado semelhante ao observado por Lima et al. (2006), ao avaliarem diferentes níveis de PB para porcas em gestação nos três primeiros ciclos reprodutivos. Mullan (1991), por sua vez, verificou redução na ET como conseqüência da diminuição no consumo de alimento (ingestão de energia) durante a lactação. Assim, este resultado de ET poderia estar indicando consumo adequado de energia durante a lactação.

O teor de PB da ração não influenciou (P>0,10) o ganho em espessura de toucinho da cobertura ao parto (GETG) nem a perda subseqüente em espessura de toucinho do parto ao desmame (PETLAC). Estes resultados foram semelhantes aos observados por Lima et al. (2006), que também não observaram variação significativa para as mesmas variáveis durante a gestação e lactação de porcas consumindo diferentes níveis de PB durante a gestação.

As porcas que consumiram ração com 10 e 13,5% de PB durante a gestação apresentaram maior valor absoluto de GETG, o que pode ser atribuído à maior relação energia:proteína nesses tratamentos. Mahan (1998) verificou que a redução do nível protéico da ração de 16 para 13% resultou em maior deposição de tecido adiposo do 1º ao 5º ciclo reprodutivo.

Como demonstrado na Tabela 4, o nível protéico da ração influenciou (P<0,05) os consumos diários de proteína bruta (CDPB) e lisina (CDL) das fêmeas durante a gestação. As matrizes que receberam a ração com 17% de PB consumiram a mais 81 e 162 g de PB/dia, respectivamente, em comparação àquelas que receberam níveis de 13,5 e 10,0% de PB na ração. Resultados semelhantes foram obtidos por Lima et al. (2006), em experimento com fêmeas suínas em gestação do primeiro ao terceiro parto. O consumo pré-estabelecido de ração (2,27 e 2,36 kg) durante a gestação e o fornecimento dos níveis crescentes de PB na ração justificam a variação significativa no CDPB e CDL.

O ganho de peso da fêmea no período da cobertura ao pós-parto (GPCP) não foi influenciado (P>0,10) pelo nível de PB da ração durante a gestação. O baixo número de repetições e o elevado coeficiente de variação provavelmente não permitiram a distinção significativa entre os tratamentos. Constatou-se, entretanto, que as porcas submetidas ao maior nível de PB (17%) apresentaram maior GPCP em relação àquelas que receberam 13,5 e 10% de PB (15,5 e 33,6%, respectivamente). Utilizando níveis de 10 a 16% de PB na ração, Lima et al. (2006) também não observaram diferença significativa no GPCP de fêmeas de 1º ao 3º ciclo em gestação-lactação.

Considerando os resultados de ganho de peso da cobertura ao pós-parto, deduz-se que o maior nível protéico da ração não limitou a deposição de tecido. Entretanto, o ganho de peso das fêmeas alimentadas com a ração com menor nível protéico foi ocasionado, provavelmente, pela menor ingestão diária de proteína. De acordo com Close & Cole (2001), quando as exigências para o desenvolvimento fetal são alcançadas, o excedente da proteína ingerida na dieta é usado pela fêmea para aumento de massa corporal e reposição de tecido perdido no ciclo anterior. No caso de excesso de proteína, pode ocorrer perda na forma de nitrogênio, mas, geralmente, o excedente protéico é utilizado para deposição de músculo. Resultados de diversos estudos (Mahan, 1977; Greenhalgh et al., 1977; Mahan, 1979) têm comprovado respostas à ingestão de proteína favoráveis ao ganho de peso materno. Segundo Close & Cole (2001), o ganho corporal da fêmea gestante aumenta linearmente com o acréscimo de proteína na dieta durante a gestação e esse aumento de peso seria uma resposta à ingestão de níveis de proteína superiores a 300 g/dia.

Ao término da fase de lactação, não foi observado efeito (P>0,10) dos tratamentos sobre o peso da fêmea. A diferença no consumo de PB na fase de gestação, de 231 para 393 g/dia, não influenciou significativamente a perda de peso das porcas durante e ao final da lactação, o que pode indicar que o consumo de ração durante a lactação foi suficiente para manter a condição corporal das matrizes. De acordo com Close & Cole (2001), fêmeas suínas em lactação podem perder até 10% do peso corporal, sem comprometimento de seu desempenho produtivo e reprodutivo. Entretanto, numericamente, as fêmeas que receberam a ração com 13,5% de PB na gestação foram as únicas que não perderam peso na lactação. Este resultado difere do obtido por Lima et al. (2006), que constataram maior perda de peso das porcas lactantes que consumiram rações com 13% de PB na gestação em relação àquelas que receberam 10 e 16% de PB. Esses autores associaram a maior perda de peso ao menor consumo de ração das matrizes no tratamento com 13% de PB.

O consumo médio de ração na lactação não foi afetado (P>0,10) pelos tratamentos. Estudando níveis de PB em rações para a fase de gestação, Lima et al. (2006) verificaram que os animais, ao consumirem ração com o menor nível protéico (10% de PB) durante a gestação apresentaram maior consumo na lactação e menor perda de peso do parto ao desmame.

O nível de PB na ração não afetou (P>0,10) o IDC, que, em todos os tratamentos, manteve-se abaixo ou dentro da faixa considerada ideal para este período, de 5 a 7 dias (Close & Cole, 2001). Este resultado de IDC corrobora os obtidos para ET, que também não foi influenciado significativamente pelos tratamentos. Segundo Whittemore (1996), a ET é altamente correlacionada à porcentagem de gordura corporal e está relacionada ao peso do animal e ao IDC.

Na Tabela 5 encontram-se os dados referentes à produção e ao desempenho das leitegadas ao nascimento, aos 7 e aos 14 dias de idade e à desmama de fêmeas suínas lactantes de 4º e 5º partos submetidas a diferentes níveis protéicos durante a gestação.

Não houve diferenças (P>0,10) entre as variáveis rela-cionadas ao desempenho de leitões e de leitegadas. Outros autores (Holden et al., 1968; Mahan, 1977; Mahan, 1998; Hashimoto et al., 2004) também não observaram variação significativa no desempenho de leitões e de leitegadas ao avaliarem diferentes níveis de PB em rações para a fase de gestação.

Em todos tratamentos, os leitões apresentaram-se com peso médio ao nascimento superior a 1,3 kg, estabelecido por Cromwell (2001) como o peso médio mínimo dos leitões ao nascer. Apesar de não ter ocorrido variação significativa, os leitões das matrizes que receberam ração com 10% de PB apresentaram menor de ganho de peso absoluto aos 7, aos 14 dias de idade e à desmama.

Mahan (1998), avaliando dois níveis de PB (13 e 16%) durante cinco partos sucessivos, observou redução do peso da leitegada ao nascimento no maior nível protéico, contudo, destacou que as diferenças não foram significativas. Segundo Shields et al. (1985), essas variações de peso da leitegada podem ser atribuídas à relação lisina × demais aminoácidos, independentemente do nível de proteína.

Como pode ser observado na Tabela 6, a eficiência energética das matrizes foi influenciada (P<0,05) pelo nível de proteína na ração e o nível dietético indicado foi de 13,5% de PB para o 4º e 5º ciclos reprodutivos. A melhor eficiência energética no nível de 13% PB na ração também foi observada por Lima et al. (2006). Neste estudo, as fêmeas que receberam ração com nível de 13,5% de PB durante a gestação não perderam peso na lactação e, portanto, apresentaram melhor relação energia ingerida × energia utilizada para mantença e produção. Pode-se inferir, então, que o balanço energético da matriz durante a lactação foi suficiente para assegurar o desempenho nesta fase.

A energia gasta pela porca por leitão produzido diferiu (P<0,10) com a variação do nível de PB da ração fornecida na fase de gestação e, no nível de 13,5% de PB, provavelmente, houve o melhor balanço energético. Segundo Hashimoto et al. (2004), de acordo com a estimativa obtida em equação para eficiência energética, o nível de 13% de PB proporciona melhor eficiência de utilização de energia para o 2º e 3º ciclos reprodutivos.

A estimativa do balanço energético da porca durante a lactação deu suporte aos resultados de desempenho produtivo e reprodutivo das matrizes, principalmente no tocante à eficiência energética. O balanço energético constitui, portanto, um parâmetro importante no estabelecimento das exigências protéicas de fêmeas suínas em gestação-lactação.

Conclusões

Entre os níveis de PB avaliados neste estudo, o de 13,5% na ração gestação, correspondente a um consumo diário de PB de 312 g/dia, foi o que proporcionou a melhor eficiência energética em matrizes de 4º ou 5º parto.

Literatura Citada

Recebido: 30/05/06

Aprovado: 06/10/06

Correspondências devem ser enviadas para: cesarbrustolini@ufv.br

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  • 1
    Parte da tese de Mestrado da primeira autora. Projeto financiado pelo CNPq.
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      24 Abr 2007
    • Data do Fascículo
      Abr 2007

    Histórico

    • Aceito
      06 Out 2006
    • Recebido
      30 Maio 2006
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