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Estabilidade aeróbia da ração total e de silagens de capim-marandu tratadas com aditivos químicos e bacterianos

Aerobic stability of total mixed ration and marandugrass silage using microbial or chemical additive

Resumos

Esta pesquisa foi realizada com o objetivo de determinar o efeito da inclusão de aditivo químico e da inoculação de bactérias homo e heterofermentativas sobre a estabilidade aeróbia de silagens de capim-marandu e da ração total. Foram conduzidos três experimentos para avaliação do benzoato de sódio e de dois inoculantes, um contendo Lactobacillus plantarum + Propionibacterium e o segundo Lactobacillus buchneri. Após 60 dias de fermentação, os silos foram abertos e as silagens e a ração total (RT) contendo silagens de capim-marandu foram colocadas em caixas de isopor e transferidas para câmara climática, a 25 ± 1ºC, para determinação das variações de temperatura na ração total e na silagem, das recuperações de MS e das alterações no pH da silagem. O delineamento experimental foi o inteiramente casualizado, em esquema de parcelas subdivididas. Houve perdas de MS e elevação dos teores de pH quando as silagens foram colocadas em condições de aerobiose. A temperatura das silagens e da RT teve discreto aumento durante os seis dias de aeração. O uso de bactérias ou de benzoato de sódio não influenciou a estabilidade aeróbia das silagens.

benzoato de sódio; Brachiaria brizantha; inoculante; L. buchneri; perdas


This research evaluated the inclusion of chemical additive and the inoculation with homo and heterofermentative bacteria on the aerobic stability of the Marandu grass silages and on the total mixed ration (TMR). It was conducted three experiments to evaluate sodium benzoate and two inoculants: 1. Lactobacillus plantarum + Propionibacterium and; 2. Lactobacillus buchneri. The silos were opened after 60 days of fermentation; the silages and the TMR containing the silages were placed in a polystyrene box, and transferred to a climatic chamber kept at 25 ± 1ºC to determine the temperature changes, dry matter recovery, and pH values. The data were analyzed according to a complete randomized design, in a split plot arrangement. The silages showed DM losses and increasing pH during the air exposure phase. The silages and TMR temperatures showed a slight increase during the six days of air exposure. Bacteria inoculants or sodium benzoate didn't affect the silage aerobic stability.

Brachiaria brizantha; inoculant; Lactobacillus buchneri; losses; sodium benzoate


FORRAGICULTURA

Estabilidade aeróbia da ração total e de silagens de capim-marandu tratadas com aditivos químicos e bacterianos

Aerobic stability of total mixed ration and marandugrass silage using microbial or chemical additive

Thiago Fernandes BernardesI; Ricardo Andrade ReisII; Gustavo Rezende SiqueiraIII; Rafael Camargo do AmaralIV; Aureliano José Vieira PiresV

IPós-doutorando - ESALQ/USP. Bolsista FAPESP

IIDepartamento de Zootecnia - FCAV/UNESP - Jaboticabal, SP

IIIApta - Pólo Regional da Alta Mogiana - Colina, SP

IVMestrando em Ciência Animal e Pastagens - ESALQ/USP. Bolsista FAPESP

VDepartamento de Tecnologia Rural e Animal - UESB - Itapetininga, BA

RESUMO

Esta pesquisa foi realizada com o objetivo de determinar o efeito da inclusão de aditivo químico e da inoculação de bactérias homo e heterofermentativas sobre a estabilidade aeróbia de silagens de capim-marandu e da ração total. Foram conduzidos três experimentos para avaliação do benzoato de sódio e de dois inoculantes, um contendo Lactobacillus plantarum + Propionibacterium e o segundo Lactobacillus buchneri. Após 60 dias de fermentação, os silos foram abertos e as silagens e a ração total (RT) contendo silagens de capim-marandu foram colocadas em caixas de isopor e transferidas para câmara climática, a 25 ± 1ºC, para determinação das variações de temperatura na ração total e na silagem, das recuperações de MS e das alterações no pH da silagem. O delineamento experimental foi o inteiramente casualizado, em esquema de parcelas subdivididas. Houve perdas de MS e elevação dos teores de pH quando as silagens foram colocadas em condições de aerobiose. A temperatura das silagens e da RT teve discreto aumento durante os seis dias de aeração. O uso de bactérias ou de benzoato de sódio não influenciou a estabilidade aeróbia das silagens.

Palavras-chave: benzoato de sódio, Brachiaria brizantha, inoculante, L. buchneri, perdas

ABSTRACT

This research evaluated the inclusion of chemical additive and the inoculation with homo and heterofermentative bacteria on the aerobic stability of the Marandu grass silages and on the total mixed ration (TMR). It was conducted three experiments to evaluate sodium benzoate and two inoculants: 1. Lactobacillus plantarum + Propionibacterium and; 2. Lactobacillus buchneri. The silos were opened after 60 days of fermentation; the silages and the TMR containing the silages were placed in a polystyrene box, and transferred to a climatic chamber kept at 25 ± 1ºC to determine the temperature changes, dry matter recovery, and pH values. The data were analyzed according to a complete randomized design, in a split plot arrangement. The silages showed DM losses and increasing pH during the air exposure phase. The silages and TMR temperatures showed a slight increase during the six days of air exposure. Bacteria inoculants or sodium benzoate didn't affect the silage aerobic stability.

Key Words:Brachiaria brizantha, inoculant, Lactobacillus buchneri, losses, sodium benzoate

Introdução

A deterioração aeróbia, fenômeno decorrente da penetração de ar no silo, é um dos principais entraves no processo de produção de silagens. O oxigênio pode penetrar na massa mesmo quando o silo se encontra fechado, mas, sobretudo durante a fase de desabastecimento e fornecimento da silagem aos animais (Bernardes et al., 2005; Siqueira et al., 2005). A presença de oxigênio na face do silo e seu respectivo avanço para as camadas internas durante sua utilização determinam a multiplicação de alguns grupos de microrganismos aeróbios que consomem os compostos energéticos presentes na silagem (Pahlow et al., 2003), o que eleva as perdas de MS e do valor nutritivo, repercutindo negativamente sobre o desempenho produtivo dos animais.

Desde a década de 80, são utilizados no Brasil aditivos microbianos formulados com bactérias de espécies como Streptococcus faecium, Pediococcus acidilactici e Lactobacillus plantarum, cujos princípios de atuação são aumentar a produção de ácido lático e promover a rápida redução do pH da massa ensilada (Costa et al., 2001). A inoculação com bactérias homoláticas é feita com os objetivos de reduzir as fermentações clostrídicas e tornar o processo fermentativo mais eficiente (Driehuis et al., 1997). Essa prática tem sido recomendada principalmente para capins tropicais, tendo em vista as rotas fermentativas indesejáveis sofridas por essas espécies (Nussio et al., 2002; Reis et al., 2004). Segundo Pereira et al. (2002), os resultados com inoculantes contento bactérias homoláticas em forrageiras tropicais têm sido pouco consistentes e conclusivos.

Os nutrientes preservados e/ou produzidos durante a fermentação pela presença de bactérias homoláticas (ácido lático) podem ser consumidos quando o silo é aberto (Muck, 2004), pois o lactato pode servir de substrato para os microrganismos deterioradores, o que determinaria a redução da estabilidade aeróbia dessas silagens (Kung et al., 2003). O acréscimo de outros ácidos, como o acético, o propiônico e o butírico, poderia aumentar a estabilidade, pois são inibidores de microrganismos deterioradores (Moon, 1983), o que ocorre naturalmente em silagens de capins tropicais, em decorrência das fermentações inadequadas (Andrade & Melotti, 2003; Silva et al., 2005).

A bactéria Lactobacillus buchneri (Weinberg & Muck, 1996), originada do isolamento natural em silagens aerobicamente estáveis, produz durante a fermentação os ácidos lático, acético e 1,2 propanodiol. O acetato produzido tem função inibidora sobre espécies de microrganismos deterioradores (leveduras e fungos) que crescem quando a silagem é exposta ao ambiente (Driehuis et al., 1999; Oude Elfererink et al., 2001).

No intuito de diminuir as perdas de nutrientes durante a exposição das silagens ao oxigênio, agentes conservantes utilizados na indústria alimentícia têm sido testados para o controle de qualidade de alimentos para os animais, como é o caso do benzoato de sódio. O ácido benzóico (C6H5COOH) é um produto granulado em pó, comercializado na forma de benzoato de sódio (C6H5COONa) pelo fato de o sódio possuir alta solubilidade em água (500 g/L), enquanto o ácido, geralmente utilizado como agente conservante, possui solubilidade de 3,4 g/L (Pölönen, 2000).

No passado, a inclusão de ácidos em silagens era feita em altas doses (10 a 20 g/kg), o que geralmente provocava a esterilização do alimento, prejudicando o processo fermentativo. Além disso, o ácido é corrosivo ao equipamento empregado na sua aplicação (Kung et al., 2003). Atualmente, o benzoato tem sido utilizado como controlador da qualidade de alimentos para os animais, geralmente em associação a outros ácidos, como o propiônico e o fórmico, em concentrações de 0,5 a 2 g/kg (Pölönen, 2000).

Nesta pesquisa, avaliaram-se inoculantes contendo bactérias homo e heterofermentativas e o uso de benzoato de sódio no controle de perdas de silagens de capim-marandu durante a exposição ao ambiente.

Material e Métodos

Os experimentos foram conduzidos em Jaboticabal, SP, a 21º 15' 22'' S e 48º 18' 58'' W e a uma altitude de 595 m. No experimento 1, o capim-marandu, Brachiaria brizantha (Hochst ex. A. Rich) Stapf cv. Marandu, foi colhido em 12 de novembro de 2003, aos 58 dias de crescimento vegetativo, utilizando-se colhedora marca Casale® modelo CFC 2000.

A forragem colhida foi ensilada diretamente após o corte, sem aplicação de aditivo (controle), ou com aplicação de 0,5; 1; 2; ou 3 g/kg de benzoato de sódio. O aditivo foi aplicado antes do enchimento dos silos, na forma de solução aquosa, por meio de pulverizador manual, buscando-se distribuição uniforme na massa de forragem.

Utilizaram-se como silos experimentais baldes de plástico com capacidade para 7,5 L. A compactação foi realizada por meio de bastões de ferro, com acomodação de camadas de aproximadamente 5 cm de espessura atingindo densidade média de 116 kg de MS/m3.

No experimento 2, a colheita da forragem foi realizada no dia 13 de dezembro de 2003, quando o capim apresentava 50 dias de crescimento vegetativo, utilizando-se colhedora marca Casale®, modelo CFC 2000. A forragem foi ensilada diretamente após o corte, sem aplicação de aditivo (Controle); ou com a aplicação de Lactobacillus plantarum cepa MA 18/5U + Propionibacterium cepa MS01; 1 g/kg de benzoato de sódio; ou Lactobacillus buchneri cepa NCIMB 40788. Os aditivos foram aplicados na forma de solução aquosa, por meio de pulverizador manual. O inoculante contendo L. plantarum + Propionibacterium utilizado foi o Propiolact®, aplicado na dose de 1,5 x 105 ufc/g de forragem fresca (1 g do inoculante/200 kg de forragem verde - garantia de 3,0 x 1010 bactérias/g de produto, segundo o fabricante). O produto contendo L. buchneri foi o Lalsil®, aplicado na concentração de 5,0 x 104 ufc/g de forragem fresca (1 g do inoculante/500 kg de forragem verde - garantia 2,5 x 1010 bactérias/g de produto, segundo o fabricante).

Utilizaram-se como silos experimentais baldes de plástico com capacidade de 7,5 L. A compactação foi realizada por meio de bastões de ferro, com acomodação de camadas de aproximadamente 5 cm de espessura, em densidade média de 120 kg de MS/m3.

No experimento 3, o capim foi colhido utilizando-se colhedora marca Casale®, modelo CFC 2000, no dia 10 de janeiro de 2004, quando apresentava 53 dias de crescimento vegetativo.

A forragem colhida foi submetida ao emurchecimento visando obter teores crescentes de MS. O monitoramento do material exposto no campo foi realizado utilizando-se forno de microondas, segundo metodologia descrita por Souza (2003). Desse modo, os tratamentos avaliados foram: 200 g/kg MS com (200CLB) ou sem (200SLB) L. buchneri; 300 g/kg MS com (300CLB) ou sem (300SLB) L. buchneri; e 350 g/kg MS com (350SLB) ou sem (350CLB) L. buchneri.

O inoculante utilizado foi o Lalsil® contendo L. buchneri (cepa NCIMB 40788) e sua aplicação foi na forma de solução aquosa, por meio de pulverizador, buscando-se distribuição uniforme na massa de forragem. A concentração adotada foi de 5,0 x 104 ufc/g de forragem fresca (1 g do inoculante/500 kg de forragem verde - garantia 2,5 x 1010 bactérias/g de produto, segundo o fabricante).

Utilizaram-se como silos experimentais baldes de plástico com capacidade de 7,5 L. A compactação foi realizada com acomodação de camadas de aproximadamente 5 cm de espessura, em densidades de 116 (200 e 200 CLB), 174 (300 SLB e 300 CLB) e 203 kg MS/m3 (350 SLB e 350 CLB) .

Nos experimentos 1, 2 e 3, quando decorridos 60 dias de fermentação, os silos foram abertos e todo o seu conteúdo foi transferido para bandejas de plástico para posterior homogeneização. Após este procedimento, amostras de silagem (1,5 kg) foram colocadas em caixas de isopor e transferidas para câmara climática a 25 ± 1ºC. As temperaturas das silagens foram obtidas duas vezes ao dia, durante seis dias, com o uso de termômetro inserido a 10 cm, no centro da massa. A temperatura ambiente foi controlada pelo termostato do aparelho refrigerador e também por meio de termômetros suspensos no ar. A instabilidade aeróbia foi calculada como o tempo para que a temperatura do alimento, após a abertura do silo, apresentasse elevação de 2ºC em relação à temperatura ambiente (Moran et al., 1996). Também como medida física foi avaliada a recuperação de MS (RMS) em aerobiose ao final de seis dias de exposição ao ambiente, de acordo com a seguinte equação:

em que: RMS = recuperação de MS (%); MFi = massa de forragem inicial (kg); MSi = teor de MS inicial (%); MFf = massa de forragem final (kg); MSf = teor de MS final (%).

Em outro conjunto de caixas de isopor, foi colocada a mesma quantidade de silagem (1,5 kg). As caixas foram levadas à câmara climática para determinação das alterações de pH em amostras com 0, 2, 4 e 6 dias de aeração.

Ainda, em outro conjunto de recipientes, foi determinada a instabilidade aeróbia da ração total (RT) contendo silagem de capim-marandu, de acordo com os respectivos tratamentos. A dieta foi calculada segundo o NRC gado de corte (1996) para novilhos Nelore com peso médio inicial de 350 kg de PV e ganho médio diário de 1,1 kg, com as seguintes participações dos ingredientes: silagem de capim-marandu (50%), milho grão moído (40,25%), farelo de soja (9%) e suplemento mineral (0,77%).

No experimento 1, primeiramente foi realizado o teste F para identificação da significância dos tratamentos e de suas interações. Uma vez que as concentrações de benzoato de sódio constituem uma variável quantitativa, foi realizada análise de regressão. No entanto, as variáveis não apresentaram equações significativas ou com coeficiente de determinação (r2) alto, portanto, procedeu-se ao teste Tukey (P<0,05) para comparação de médias.

O delineamento experimental utilizado para os três experimentos foi o inteiramente casualizado com quatro (experimento 2) ou três repetições (experimentos 1 e 3) utilizando-se o esquema de parcelas subdivididas, em que os fatores das parcelas foram os tratamentos e o fator atribuído à subparcela, o tempo de exposição ao oxigênio. Os dados foram analisados pelo programa ESTAT, utilizando-se os procedimentos da análise de variância, e as médias comparadas pelo teste Tukey (P<0,05).

Resultados e Discussão

Constam nas Tabelas 1 e 2 as equações de regressão referentes ao experimento 1. Não foram encontrados significância ou coeficientes de determinação adequados que justificassem o uso das equações de regressão. Para isso, em virtude dos baixos coeficientes de determinação, que traduzem pouca confiabilidade na utilização das equações encontradas, aplicou-se o teste de médias na avaliação de variáveis quantitativas, mesmo considerando o trabalho de Cardellino & Siewerdt (1992), que aponta ser incorreta a utilização desse teste.

A presença de benzoato de sódio nas concentrações de 0,5; 1 e 2 g/kg, em comparação aos demais tratamentos, reduziu os teores de amônia (Tabela 3) no momento da abertura dos silos (tempo 0), porém, não promoveu diferença significativa (P>0,05) entre as silagens.

O aumento da concentração de benzoato provocou decréscimo, de 5,0 para 4,6 (nas doses de 0 e 3 g/kg, respectivamente), dos valores de pH (Tabela 3) no momento da abertura dos silos (P<0,05). Com o avançar do tempo de exposição ao ar, houve acréscimo dos valores de pH (P<0,05) em todas as silagens estudadas. A média no dia 0 foi de 4,9 e, no dia 6, de 5,1, com aumento médio de 6% entre o primeiro e o último dia de exposição aeróbia, comprovando, portanto, que os ácidos orgânicos podem ter sido consumidos (principalmente o lático) durante o processo de deterioração, pois alguns microrganismos os utilizam como fonte de energia (Pahlow et al., 2003).

As silagens com 1, 2 ou 3 g/kg desse aditivo apresentaram menores perdas de MS (3,4; 5,0 e 4,4%, respectivamente) em comparação àquelas com 0 e 0,5 g/kg, porém, não foram estatisticamente diferentes.

O provável motivo para a aplicação do aditivo ter causado efeito discreto sobre os processos fermentativo e de deterioração das silagens foi o valor de pKa do ácido (4,2). Quando os valores de pH são superiores aos de pKa, reduzem a eficiência do ácido na solução, pois diminui a forma ácida e predomina a forma ionizada. Desse modo, o efeito inibitório do aditivo sobre os microrganismos é reduzido em alimentos com pH acima de 4,2, como pode observado neste estudo. Segundo McDonald et al. (1991), o ácido em pH inferior ao seu pKa permanece na forma não dissociada (ácida). Uma vez que a membrana dos microrganismos é permeável a esses ácidos, após sua entrada via transporte passivo dentro da célula, o ácido é dissociado (RCOO- + H+), pois o pH interno do microrganismo é de 7,0 (superior ao pKa), liberando íons H+. Conseqüentemente, ocorre rápida redução do pH intracelular, retardando o crescimento e podendo causar a morte celular. Woolford (1975) avaliou o efeito do benzoato em diferentes valores de pH e observou que, conforme o pH diminuiu, a necessidade do aditivo na inibição de leveduras e fungos também foi reduzida. Em pH 6, são necessários, respectivamente, 110 e 55 mM de benzoato de sódio para inibir leveduras e fungos filamentosos.

No experimento 2, quando os silos foram abertos, os teores médios de MS das silagens foram 240, 246, 206 e 250 g/kg para as silagens controle e com L. plantarum + Propionibacterium, benzoato e L. buchneri, respectivamente (P<0,05). A adição de ácidos durante a ensilagem pode provocar maior rompimento de células dos tecidos da planta durante a fermentação e esse rompimento seria, possivelmente, o fator para que as silagens tratadas com benzoato apresentassem os menores teores de MS (Tabela 4).

Os valores de pH (Tabela 4) no momento da abertura dos silos nas silagens controle e acrescidas de L. plantarum + Propionibacterium foram inferiores aos obtidos nas silagens tratadas com benzoato e L. buchneri. A rota heterolática de fermentação do L. buchneri promove menor acidez na massa ensilada, pois produz, além de ácido lático, acetato e 1,2 propanodiol, que são pouco eficientes na redução do pH. Além disso, o L. buchneri pode converter anaerobicamente o ácido lático presente na massa ensilada em ácido acético, 1,2 propanodiol e CO2 quando a bactéria encontra situações adversas, mantendo dessa forma a viabilidade da célula (Oude Elferink et al., 2001).

Com a aeração das silagens, houve elevação dos valores de pH (P<0,05); as silagens controle e com benzoato sofreram as menores elevações do pH, enquanto aquelas com L. buchneri apresentaram os maiores aumentos.

Os teores de NH3 tiveram comportamento semelhante aos valores de pH no momento da abertura dos silos (Tabela 4). As silagens controle e com L. plantarum + Propionibacterium apresentaram valores inferiores aos obtidos naquelas com benzoato e L. buchneri.

Após seis dias de exposição aeróbia, as silagens controle e com aditivos apresentaram RMS de 93,2%, mas os valores não diferiram significativamente. Desse modo, em silagens de capim-marandu produzidas com teores de MS de 200 a 250 g/kg, a adição de inoculantes com bactérias homo e heterofermentativas ou benzoato de sódio na concentração de 1 g/kg parece não influenciar o controle da deterioração aeróbia.

No experimento 3, as silagens apresentaram no momento da abertura dos silos diferentes teores de MS (P<0,05), com média de 195 (200SLB), 303 (300SLB), 356 (350SLB), 204 (200CLB), 306 (300CLB) e 357 g/kg (350CLB) (Tabela 5).

Os teores de NH3 reduziram (P<0,05) com as crescentes concentrações de MS (Tabela 5). A adição de inoculante nas silagens com teores de MS de 200 e 350 g/kg promoveu a redução nos teores de amônia, o que não ocorreu na silagem com teor de MS de 300 g/kg.

O aumento nos teores de MS promoveu redução do pH (P<0,05) tanto nas silagens com inoculante quanto naquelas produzidas sem aditivo (Tabela 5). A inclusão de L. buchneri provocou maiores valores de pH nas silagens com 200, 300 e 350 g de MS/kg), o que está de acordo com os resultados descritos por Ranjit et al. (2002), que inocularam doses crescentes de L. buchneri 40788 em silagens de milho e encontraram valores de pH superiores aos encontrados na silagem controle. A rota de fermentação apresentada por esta bactéria não tem a função de reduzir o pH, haja vista sua pequena contribuição na produção de ácido lático em comparação a outras bactérias que possuem rota homolática durante a fermentação.

Com o avançar do tempo de aeração, todas as silagens apresentaram elevação do pH (P<0,05), com média de 4,8 para o dia 0 e 5,4 para o dia 6. A silagem 200CLB destacou-se por suas médias, de 5,1 no dia 0 e 6,5 no dia 6. Os resultados indicam que a presença de L. buchneri não promoveu resistência na degradação de ácidos orgânicos durante a aeração das silagens, pois os produtos da fermentação promovida por essa bactéria são eficientes no controle de fungos (Driehuis et al., 1999) e menos eficientes no controle de bactérias aeróbias, principais microrganismos deterioradores em silagens de capins tropicais (Bernardes et al., 2003). Entretanto, há relatos na literatura de que o L. buchneri produz um composto denominado buchnericin LB, que tem efeito bacteriostático, principalmente sobre os microrganismos Listeria monocytogenes e Bacillus cereus (Yildirim et al., 2002).

As silagens 350SLB e 350CLB tiveram as menores perdas de MS quando expostas ao ar, ao passo que aquelas com 200 g/kg, com ou sem L. buchneri, as menores recuperações.

A análise conjunta dos dados de pH e das perdas de MS nos experimentos 1 e 2 comprovou que as silagens de capim-marandu tratadas com aditivos microbianos não sofreram alterações no processo fermentativo e durante a deterioração aeróbia. Segundo Pahlow (1991) e Honig et al. (1999), as concentrações de bactérias inoculadas a forragem devem ser de 105-106 células viáveis/g de forragem inoculada para que os microrganismos exógenos possam suplementar aqueles existentes na microflora epifítica, de modo que ocorram efeitos positivos em comparação à forragem não tratada, o que poderia justificar os resultados obtidos.

Andrade & Melotti (2003) avaliaram as características fermentativas de silagem de capim-elefante (Pennisetum purpureum, Schum) tratadas com diversos inoculantes e encontraram valor de 32,3 g/kg MS de ácido acético nas silagens sem aditivo. Esses valores são considerados elevados, pois são característicos de silagens de milho inoculadas com L. buchneri na concentração de 1 x 106 bactérias/g de forragem verde (Ranjit & Kung, 2000). Possivelmente, os incrementos nos teores de ácido acético em silagens de capins tropicais não foi necessário, tendo em vista as particularidades dessas espécies durante a fermentação.

As oscilações na temperatura das silagens durante os dias de exposição ao ar nos três experimentos estão sumarizadas na Figura 1. A temperatura das silagens estudadas pode ser considerada estável, segundo metodologia preconizada, pois não ultrapassou em 2ºC a temperatura ambiente (25ºC) durante os seis dias de aeração. Ao longo do prolongamento de exposição aeróbia, houve elevação, de 23 para 27ºC, da temperatura (P<0,05) em todos os experimentos estudados.


O mesmo comportamento foi observado para a temperatura das rações totais (Tabelas 3, 4 e 5); não houve quebra de estabilidade durante os seis dias de aeração (temperatura acima de 27ºC), contudo, com o avançar do tempo de exposição ao ar, as rações apresentaram elevação de temperatura (P<0,05). A inclusão dos ingredientes na silagem (constituindo a RT) criou a expectativa de que a tendência da temperatura pudesse ser alterada, em razão dos maiores teores de nutrientes para os microrganismos deterioradores, contudo, essa característica não foi observada.

Silagens de capins tropicais com teores de MS abaixo de 300 g/kg são mais propensas à deterioração por bactérias aeróbias, em virtude da estabilidade de fermentação em pH acima de 4,5, do teor de umidade e da ausência de substrato aos microrganismos (Bernardes et al., 2003). O inverso ocorre com silagens de alta qualidade, como as de milho e as de sorgo, que são deterioradas principalmente por leveduras e fungos (Muck, 2004). Entretanto, segundo Spoelstra et al. (1988), ocasionalmente silagens de milho também podem ser deterioradas por bactérias aeróbias.

Possivelmente, silagens de capim-marandu não acumulam temperatura porque, durante o seu metabolismo, as bactérias aeróbias não produzem calor com tanta eficiência como as leveduras e os fungos (Pahlow et al., 2003), o que explica os resultados obtidos neste experimento, no qual as silagens e a ração total não sofreram redução da estabilidade durante a exposição ao ar quando considerado somente o fator temperatura.

Conclusões

O uso de benzoato de sódio e de bactérias homo e heterofermentativas não altera a estabilidade aeróbia de silagens de capim-marandu e da ração total composta dessas silagens, visto que as fermentações secundárias desta forrageira impedem a intensa proliferação de microrganismos deterioradores.

Literatura Citada

Recebido: 10/03/06

Aprovado: 14/12/06

Correspondências devem ser enviadas para: tfbernardes@yahoo.com

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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    06 Jul 2007
  • Data do Fascículo
    Ago 2007

Histórico

  • Aceito
    14 Dez 2006
  • Recebido
    10 Mar 2006
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