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Níveis dietéticos de proteína e gordura e parâmetros bioquímicos, hematológicos e empenamento em frangos de corte estressados pelo calor

Dietary levels of protein and fat on biochemical and hematological parameters and on feathering in heat stressed broilers

Resumos

Avaliaram-se dietas com diferentes níveis de PB e gordura e seus efeitos sobre o empenamento e os parâmetros hematológicos e bioquímicos de frangos de corte submetidos a estresse cíclico por calor (EPC) desde os 21 dias ou em ambiente termoneutro (ATN). Foi adotado esquema fatorial 2 x 2 + 2, com dois ambientes - ATN (21-25ºC e UR 73%) e EPC (25-32ºC e UR 65%) e duas dietas (D) - controle (2,4% gordura e 19,5% proteína) e verão (DV) (4,0% de gordura e 18,5% de proteína com suplementação de Lys e Met + Cys no nível da dieta controle). No ambiente ATN, foram elaboradas outras duas dietas, com quantidade equalizada de ração em relação ao EPC, para ambas as dietas. Foram realizadas análises bioquímicas e hematológicas em seis aves/tratamento, aos 42 dias de idade, e pesados a bursa e baço; em 288 aves foi avaliado o rendimento de penas (RP). A DV para frangos de corte em EPC foi capaz de amenizar parte das alterações observadas no calor, resultando em melhor peso relativo de bursa, menor número de leucócitos totais e menor relação heterófilo/linfócito. Ambiente e dietas não alteraram os parâmetros bioquímicos séricos. Aves com consumo à vontade no ATN apresentaram RP 15% maior que aves no EPC, embora a restrição alimentar tenha diminuído o RP para as aves com consumo equalizado. As dietas não afetaram o RP. Os dados sugerem que tanto o EPC quanto a restrição alimentar são fatores aditivos em diminuir produção de penas.

empenamento; estresse por calor; hematologia; gordura; proteína


The objective was to evaluate diets with different levels of CP and fat, and their effect on feathering and hematological and biochemical parameters of broilers submitted to cyclic heat stress (HS) since 21 d of age or in thermoneutral environment (TN). A factorial 2 x 2 + 2 was used, with two environments-TN (21-25ºC and RH 73%) and HS (25-32ºC and RH 65%), and two diets (D) - control (2.4% fat and 19.5%CP) and summer (SD) (4.0% fat and 18.5% CP with Lys and Met + Cys supplemented at the control diet level). On TN environment, two more diets were formulates, with the amount equalized (pair feed) of ration in relation to HS, for both diet. Biochemistry and hematological analyses were carried out in six birds/treatment, at 42 days-old, and bursa and spleen weighed and feather yield (FY) was evaluated in 288 birds. The DV for broiler in EPC was capable to attenuate part of the alterations observed in the heat, resulting in better relative weight of bursa, small number of total leukocytes and smaller heterophils/lynphocytes relationship. Environment and diets did not change biochemistry serum parameters. Birds with ad libitum intake in the ATN showed FY 15% greater that birds in the HS, even so the feed restriction decreased RP for the birds with pair feed intake. Diets did not influence FY. Data suggests that either HS or feed intake restriction are additive factors that decrease feather production.

fat; feathering; heat stress; hematology; protein


MONOGÁSTRICOS

Níveis dietéticos de proteína e gordura e parâmetros bioquímicos, hematológicos e empenamento em frangos de corte estressados pelo calor1 1 Parte da tese apresentada pela primeira autora à Universidade Federal do Rio Grande do Sul como um dos requisitos para obtenção do título de Doutor em Zootecnia.

Dietary levels of protein and fat on biochemical and hematological parameters and on feathering in heat stressed broilers

Christine LaganáI; Andréa Machado Leal RibeiroIII; Félix Hilario Diaz GonzálezIII; Luciana de Almeida LacerdaIII; Lílian Ribeiro KratzII; Patrícia Rick BarbosaIII

IAPTA/PRDTA Leste Paulista, Caixa Postal 01, CEP: 13910-000, Monte Alegre do Sul/SP

IILaboratório de Ensino Zootécnico/UFRGS - CP 776, CEP: 91540-000, Porto Alegre/RS

IIIDepartamento de Patologia Clínica Veterinária, LACVet, Faculdade de Veterinária/UFRGS - Av. Bento Gonçalves, 9090, CEP: 91540-000, Porto Alegre/RS

RESUMO

Avaliaram-se dietas com diferentes níveis de PB e gordura e seus efeitos sobre o empenamento e os parâmetros hematológicos e bioquímicos de frangos de corte submetidos a estresse cíclico por calor (EPC) desde os 21 dias ou em ambiente termoneutro (ATN). Foi adotado esquema fatorial 2 x 2 + 2, com dois ambientes - ATN (21-25ºC e UR 73%) e EPC (25-32ºC e UR 65%) e duas dietas (D) - controle (2,4% gordura e 19,5% proteína) e verão (DV) (4,0% de gordura e 18,5% de proteína com suplementação de Lys e Met + Cys no nível da dieta controle). No ambiente ATN, foram elaboradas outras duas dietas, com quantidade equalizada de ração em relação ao EPC, para ambas as dietas. Foram realizadas análises bioquímicas e hematológicas em seis aves/tratamento, aos 42 dias de idade, e pesados a bursa e baço; em 288 aves foi avaliado o rendimento de penas (RP). A DV para frangos de corte em EPC foi capaz de amenizar parte das alterações observadas no calor, resultando em melhor peso relativo de bursa, menor número de leucócitos totais e menor relação heterófilo/linfócito. Ambiente e dietas não alteraram os parâmetros bioquímicos séricos. Aves com consumo à vontade no ATN apresentaram RP 15% maior que aves no EPC, embora a restrição alimentar tenha diminuído o RP para as aves com consumo equalizado. As dietas não afetaram o RP. Os dados sugerem que tanto o EPC quanto a restrição alimentar são fatores aditivos em diminuir produção de penas.

Palavras-chave: empenamento, estresse por calor, hematologia, gordura, proteína

ABSTRACT

The objective was to evaluate diets with different levels of CP and fat, and their effect on feathering and hematological and biochemical parameters of broilers submitted to cyclic heat stress (HS) since 21 d of age or in thermoneutral environment (TN). A factorial 2 x 2 + 2 was used, with two environments-TN (21-25ºC and RH 73%) and HS (25-32ºC and RH 65%), and two diets (D) - control (2.4% fat and 19.5%CP) and summer (SD) (4.0% fat and 18.5% CP with Lys and Met + Cys supplemented at the control diet level). On TN environment, two more diets were formulates, with the amount equalized (pair feed) of ration in relation to HS, for both diet. Biochemistry and hematological analyses were carried out in six birds/treatment, at 42 days-old, and bursa and spleen weighed and feather yield (FY) was evaluated in 288 birds. The DV for broiler in EPC was capable to attenuate part of the alterations observed in the heat, resulting in better relative weight of bursa, small number of total leukocytes and smaller heterophils/lynphocytes relationship. Environment and diets did not change biochemistry serum parameters. Birds with ad libitum intake in the ATN showed FY 15% greater that birds in the HS, even so the feed restriction decreased RP for the birds with pair feed intake. Diets did not influence FY. Data suggests that either HS or feed intake restriction are additive factors that decrease feather production.

Key Words: fat, feathering, heat stress, hematology, protein

Introdução

A temperatura ambiente pode ser considerada o fator físico de maior efeito no desempenho de frangos de corte, com grande influência no consumo de ração (Teeter et al., 1984) e no ganho de peso e na conversão alimentar. Animais sob estresse apresentam modificações metabólicas expressas por alterações bioquímicas e hematológicas.

Somado a esse fato, Thaxton & Siegel (1982) e Miller & Qureshi (1991) demonstraram que galinhas quando expostas a temperaturas elevadas intermitentes, variando de 32,2 a 43ºC, por períodos curtos, ou ciclos de altas temperaturas constantes, apresentaram metabolismo protéico alterado e resposta imune reduzida, expressa pela involução do sistema linfático, incluindo atrofia do timo, da bolsa de Fabrício, do baço e pâncreas.

Em geral, os quadros de estresse manifestam-se com diferentes graus de involução do sistema linforreticular. A liberação de corticosterona pode ocasionar a involução do tecido linfóide (timo, bursa de Fabrício e baço) e a supressão da imunidade humoral e celular (Rosales et al., 1989).

O peso proporcional e a morfologia dos órgãos linfóides primários são adotados para avaliar a resposta de casos de estresse (Revidatti et al., 2002). O número de leucócitos no sangue dos frangos varia de 12.000 a 30.000, porém pode variar em função do sexo, da idade, das condições de estresse e de doenças. A contagem diferencial de células no sangue tem mostrado que, do total de leucócitos, 60 a 65% são linfócitos, 25 a 30% são heterófilos, 2% são eosinófilos, 1,7% são basófilos e 10% são monócitos. Os achados de contagem diferencial mostram que a proporção normal de heterófilos: linfócitos (H/L) está em torno de 1:2. Entretanto, essa relação aumenta quando os frangos são submetidos a condições de estresse, que aumenta a quantidade de heterófilos na circulação (Macari & Luquetti, 2002).

Com relação aos parâmetros de desempenho, Dale & Fuller (1980) observaram que os efeitos adversos de altas temperaturas foram reduzidos quando 27,5% da energia metabolizável (EM) da dieta foi suprida por gordura. Os autores constataram que a taxa de crescimento de aves submetidas a estresse cíclico pelo calor melhorou em decorrência da adição de gordura à ração. Porém, o mesmo não aconteceu para aves submetidas a estresse crônico.

O empenamento aliado à temperatura ambiente pode interferir no metabolismo energético das aves. Peguri & Coon (1993) observaram que a exigência de energia metabolizável para mantença nas aves em ambiente de temperatura fria (12,8ºC), com 0% de penas, foi duas vezes maior que as necessidades das aves em ambiente de alta temperatura (33,9ºC) e 0% de penas. Segundo Horst & Mathur (1994), sob condições de estresse por calor, a redução na intensidade do empenamento pode aumentar a temperatura crítica superior das aves.

Objetivou-se com este estudo avaliar o efeito de dietas com diferentes níveis de gordura (4,0 vs 2,4%) e PB (18,5 vs 19,5%) no empenamento, na bioquímica sérica e nos parâmetros hematológicos e morfológicos de frangos de corte submetidos a estresse cíclico por calor (EPC) (25-32ºC), no período de 21 a 42 dias, e verificar o efeito direto do EPC no consumo equalizado das aves.

Material e Métodos

Foram utilizados 288 pintos machos, Ross, de 21 dias de idade, distribuídos em blocos de três categorias de peso (700 a 770 g, 771 a 870 g e 871 a 940g), em esquema fatorial 2x2+2: dois ambientes termoneutros – ATN (21-25ºC e UR 73%) e EPC (25-32ºC e UR 65%) e dois tipos de dieta – controle (2,4% gordura e 19,5% proteína) e verão (4,0% de gordura e 18,5% de proteína com suplementação de lisina e metionina + cistina no nível da dieta controle), com seis repetições de oito aves cada. No ATN, foram elaboradas mais duas dietas, fornecidas às aves submetidas à restrição alimentar (consumo equalizado), mantendo-se o mesmo consumo das aves em EPC, para ambos os tipos de ração.

As dietas foram formuladas (Tabela 1) conforme a seguinte distribuição: controle – EPC1; dieta verão – EPC2; dieta controle, à vontade – ATN1; dieta verão, à vontade – ATN2; dieta controle, consumo equalizado com EPC1 – ATN3; dieta verão, consumo equalizado com EPC2 – ATN4. Para equalizar o consumo das dietas ATN3 e ATN4 com EPC1 e EPC2, calculou-se, diariamente, o consumo de EPC1 e EPC2 e a quantidade de ração consumida foi ofertada nos dois primeiros tratamentos no dia seguinte.

Foi considerado estresse cíclico por calor o período de 12 horas de temperatura a 25ºC, três horas de 25 a 32ºC, seis horas a 32ºC e três horas de 32 a 25ºC, diariamente, ao passo que ao ambiente termoneutro referiam-se as temperaturas diárias na faixa de 21 a 25ºC. A umidade relativa média do ar ficou em torno de 65% no EPC e no ATN, de 65 a 81%, no período de 28 a 42 dias, alcançando média de 73%.

O abate de seis aves por tratamento foi realizado aos 42 dias, na seguinte seqüência: pesagem das aves, morte por deslocamento cervical, sangria, escaldagem, depenamento e retirada dos órgãos linfóides.

As aves foram pesadas antes e depois do depenamento, calculando-se o peso relativo de penas por meio da divisão do peso absoluto pelo peso vivo da ave.

Durante a sangria, 10 mL de sangue foram coletados da veia jugular, dos quais 5 mL foram mantidos em tubo a vácuo com anticoagulante EDTA a 10%, para análises hematológicas, e 5 mL em tubo a vácuo sem anticoagulante, para análises bioquímicas.

Os parâmetros sangüíneos determinados foram: hematócrito, concentração de hemoglobina, contagem total e diferencial de leucócitos (heterófilos, linfócitos, eosinófilos, basófilos e monócitos), avaliação da morfologia celular e relação heterófilos/linfócitos (H/L). Do perfil bioquímico sérico foram obtidas proteínas totais, glicose, fructosamina, albumina e globulinas. O hematócrito foi realizado por microcentrifugação. A contagem total e diferencial dos leucócitos e a avaliação da morfologia celular foram feitas pela análise dos esfregaços sangüíneos corados, utilizando-se o corante de "Wright". A determinação das proteínas totais, da glicose, fructosamina, albumina e hemoglobina foram feitas por técnicas fotocolorimétricas, utilizando-se kits reagentes (Labtest Diagnóstica, Brasil). Os órgãos linfóides (baço e bursa) das mesmas aves, expressos como percentual do peso vivo, foram retirados, secos em papel-toalha e pesados em balança de precisão.

As análises de variância foram realizadas pelo procedimento GLM (General Linear Models) do SAS (2001). Os blocos foram usados como variável classificatória. As comparações foram feitas dentro dos tratamentos com consumo à vontade (T1 a T4) e entre os tratamentos T2 e T4 vs T5 e T6, denominados consumo equalizado. No caso de significância, foi usado o Lsmeans para testar as diferenças entre as médias.

Resultados e Discussão

Não houve interação dos resultados de rendimento de órgãos linfóides (Tabela 2). Entre as aves com consumo à vontade, o peso relativo do bursa não foi diferente na comparação entre os dois ambientes. No entanto, o baço foi 22,5% menor para o grupo sob EPC (P<0,07). Nenhum dos órgãos linfóides pesados foi influenciado pelas dietas, resultados que diferem parcialmente dos verificados por Rosales et al. (1989) e Donker & Beuving (1989), que encontraram atrofia de todos os órgãos linfóides (timo, baço e bursa de Fabrício) em aves sob EPC. Supondo-se que no calor há maior produção de corticosterona, esperar-se-ia diferença mais consistente no rendimento dos órgãos linfóides.

Entre as aves com consumo equalizado, houve influência tanto do ambiente quanto da dieta sobre o rendimento de bursa, mas não sobre o rendimento de baço. Maior rendimento de bursa foi observado nas aves mantidas no ATN e alimentadas com a dieta verão. Neste caso, a restrição alimentar não foi capaz de reduzir o peso da bursa; ao contrário, elevou-o de maneira significativa. Alguns autores afirmam que a restrição alimentar melhora a imunidade dos animais (Sibbald, 1982), exemplo claro deste fenômeno.

Os valores do eritrograma não apresentaram diferenças para o ambiente em que as aves tiveram consumo à vontade (Tabela 3). Os resultados corroboram os encontrados por Puvadolpirod & Thaxton (2000), que, injetando o hormônio ACTH em aves, em uma simulação do que acontece no EPC, não encontraram diferenças na quantidade de células vermelhas. No caso deste experimento, o estresse cíclico por calor pode ter sido ameno a ponto de não causar desidratação, nem alterações no eritrograma dos frangos.

Nos valores hematológicos dos frangos com consumo equalizado, foi observado aumento no valor do hematócrito (P<0,03) dos frangos no ambiente ATN (Tabela 4). O comportamento alimentar destas aves (ração fornecida uma vez ao dia e comedouros vazios em grande parte do tempo) pode ter influenciado o padrão de ingestão de água, resultando em um quadro de desidratação e conseqüente aumento de hematócrito, embora a hemoglobina não tenha apresentado diferença. O tipo de dieta não influenciou os resultados de eritrograma tanto nas aves com consumo à vontade quanto naquelas com consumo restrito.

O resultado do leucograma nas aves com ração à vontade mostra interação ambiente × dieta para leucócitos totais, heterófilos e monócitos, na qual animais em EPC, alimentados com a ração verão apresentaram as menores contagens em relação aos outros tratamentos (Tabela 3). Coles (1986), Ruckebush et al. (1994) e Cunningham (1999) encontraram número elevado de leucócitos totais (leucocitose) em aves com quadro de estresse. O grupo de aves alimentadas com a ração verão no ATN, por sua vez, apresentou leucocitose significativa, acompanhada de heterofilia e monocitose, indicando algum tipo de alteração nestas aves, provavelmente em razão da maior umidade no ambiente e do maior peso corporal em relação ao outro grupo. Possivelmente, algum processo inflamatório nas patas dos frangos mais pesados do ATN, visto serem aves criadas em gaiolas metálicas, pode ter acarretado aumento de heterófilos, que são células de defesa do organismo com atividade bactericida (Harmon, 1998; Campbell, 1994 ).

No consumo equalizado, também houve efeito da interação ambiente × tipo de dieta sobre a contagem de leucócitos totais e heterófilos (P<0,03 e P<0,05) (Tabela 4), identificando-se, à semelhança de aves com consumo à vontade, efeito positivo da dieta verão para aves sob EPC.

Não foram encontradas diferenças na quantidade de eosinófilos e basófilos entre as dietas com consumo à vontade, concordando com os resultados obtidos por Scope et al. (2002). Com consumo equalizado, os eosinófilos também não apresentaram diferenças significativas, ao passo que os basófilos, nestas condições, foram maiores (P<0,01) no ATN que no EPC, corroborando os resultados de Maxwell et al. (1992), trabalhando com aves sob restrição alimentar. Esses autores afirmam que a basofilia em frangos pode ser indicativo de estresse severo em aves, confirmando as inferências discutidas nesta pesquisa.

A quantidade de linfócitos não apresentou diferença significativa entre EPC e ATN em nenhum dos grupos de consumo, discordando da observação de Macari & Luquetti (2002) de que situações de estresse, nas quais ocorre a liberação de hormônio corticotrófico (ACTH), geralmente, determinam redução da quantidade de linfócitos circulantes, com o aumento da relação heterófilo:linfócito.

A relação H/L para aves sob EPC com consumo à vontade mostrou-se mais próxima das condições de normalidade, que, segundo Macari & Luquetti (2002), está em torno de 0,5. A interação ambiente × dieta, considerando-se uma probabilidade de 9% também se manifestou neste parâmetro, positivamente para aves sob EPC com dieta verão, indicando que estas aves sofreram menos estresse em relação aos outros grupos. A aclimatação das aves ao EPC também pode ter ocorrido, justificando a relação H/L encontrada aos 42 dias. Neste caso, a dieta verão pode ter auxiliado no processo de aclimatação, ao contrário da dieta controle.

Contrariamente, para as aves com consumo equalizado, a relação H/L foi maior nas aves no ATN, considerando-se uma probabilidade de 12%, em relação àquelas sob EPC. O valor da relação H/L para as aves no ATN e EPC foi de 0,84 e 0,48, respectivamente, ou seja, mais próximos do considerado normal, reforçando a idéia de severidade do estresse nas aves restritas. As dietas não alteraram os resultados da relação H/L.

É importante salientar a variabilidade de respostas apresentadas nas Tabelas 3 e 4, as quais sugerem que dados dessa natureza deveriam ser observados em um número expressivo de aves por tratamento.

A partir da análise bioquímica do sangue das aves com consumo de ração à vontade (Tabela 5), constata-se que não houve diferenças significativas em relação ao ambiente e às dietas. Segundo González & Silva (2003), a concentração de glicose poderia aumentar com estresse crônico. Entretanto, na situação de estresse cíclico deste experimento, não ocorreram alterações. Este achado corrobora os obtidos por Revidatti et al. (2002), que não encontraram diferenças para glicose de frangos submetidos a estresse por manejo. Segundo Puvadolpirod & Thaxton (2000), que encontraram maiores valores de glicose em frangos injetados com hormônio ACTH, a hiperglicemia relaciona-se com quadros de estresses agudos nos quais o fator de estresse atua de forma súbita. As respostas observadas neste experimento indicam possível aclimatação das aves sob EPC (González & Silva (2003).

Não houve diferenças significativas nos parâmetros bioquímicos do sangue de aves com ração equalizada (Tabela 6), exceto para glicose, que apresentou maior valor (P<0,02) para aves no ATN, indicando maior nível de estresse nas aves com restrição alimentar (González & Silva, 2003).

No consumo à vontade, as aves no ambiente ATN apresentaram rendimento de penas (RP) 15% maior que as aves no EPC (P<0,02), corroborando os achados de Cooper & Washburn (1998), que verificaram redução significativa no empenamento de frangos de corte mantidos em altas temperaturas (32ºC) (Tabela 7). Os resultados também estão de acordo com Geraert et al. (1996) e Oliveira Neto et al. (2000). O menor empenamento das aves do ambiente EPC é um ajuste para facilitar a perda de calor para o meio ambiente (Geraert et al., 1996) e aumentar a temperatura crítica superior (Horst & Mathur,1994). Por outro lado, a diminuição no consumo em altas temperaturas pode ter reduzido a quantidade de nutrientes necessários para um bom empenamento, principalmente de aminoácidos. No entanto, as diferentes dietas não influenciaram o empenamento das aves em nenhum dos ambientes.

Quando comparadas aves com consumo equalizado, não houve diferença significativa para rendimento de penas entre ambiente ou tipo de dieta. Quando se compararam aves dentro do ambiente termoneutro, observou-se que a restrição de consumo (consumo pareado) não foi suficiente para reduzir o rendimento de penas. Segundo Campo et al. (2001), aves com empenamento menor têm maior relação heterófilo:linfócito, indicando maior estresse, resultado que não se comprovou neste experimento. Tanto a restrição alimentar como o EPC são fatores de estresse e podem prejudicar o empenamento.

Conclusões

A dieta verão fornecida aos animais sob estresse por calor foi capaz de amenizar alterações hematológicas e morfológicas observadas em frangos de corte submetidos ao estresse por calor e à restrição alimentar. Tanto o calor ambiental quanto a restrição alimentar foram fatores aditivos em reduzir o empenamento das aves, com ênfase no primeiro fator. O empenamento, porém, não foi influenciado pelos tipos de dieta.

Literatura Citada

Recebido: 14/10/2005

Aprovado: 4/6/2007

Correspondências devem ser enviadas para: christine@aptaregional.sp.gov.br

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  • 1
    Parte da tese apresentada pela primeira autora à Universidade Federal do Rio Grande do Sul como um dos requisitos para obtenção do título de Doutor em Zootecnia.
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      30 Nov 2007
    • Data do Fascículo
      Dez 2007

    Histórico

    • Aceito
      04 Jun 2007
    • Recebido
      14 Out 2005
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