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Ractopamina e fitase em dietas para suínos na fase de terminação

Ractopamine and phytase in diets for finishing pigs

Resumos

O objetivo neste estudo foi avaliar os efeitos da ractopamina e da enzima fitase sobre o desempenho e as características de carcaça de suínos na fase de terminação. Foram utilizados 354 suínos machos castrados do tipo comercial, de mesma origem e com peso inicial de 94,1 ± 5,7 kg, distribuídos em delineamento experimental de blocos ao acaso, com seis tratamentos e cinco repetições. A unidade experimental continha 11 ou 12 animais. Como tratamentos, avaliaram-se as seguintes dietas: controle, formulada com base na tabela de necessidades nutricionais; dieta A, controle com ajuste nutricional para uso de ractopamina; dieta A com fitase; dieta A com ractopamina; dieta A com ractopamina e fitase; e dieta A com ractopamina e fitase com parte das exigências de cálcio e fósforo disponível atendida pela enzima. O experimento durou 21 dias e ao final os animais foram abatidos para avaliação de carcaças. Os resultados foram comparados por contrastes ortogonais. O consumo de ração não foi influenciado pelas dietas. A dieta com níveis proteico e aminoacídico ajustados e sem ractopamina não melhorou o desempenho dos animais em comparação à dieta controle. A ractopamina teve efeito no ganho de peso e na conversão alimentar ao final do período de 21 dias, além do peso pré-abate, peso de carcaça quente, rendimento de carcaça, carne magra total e índice de bonificação. A inclusão de fitase em dietas contendo ractopamina de forma a fornecer cálcio e fósforo disponível acima das exigências de suínos em terminação não alterou o ganho de peso, a conversão alimentar e as características de carcaça. A ractopamina melhora o desempenho e as características de carcaça. A utilização de fitase em dietas contendo ractopamina em substituição parcial a fontes inorgânicas de minerais possibilita manter o desempenho e as características de carcaça dos animais.

aditivos; β-adrenérgico; carcaça; enzima; fitato


The objective of this study was to evaluate the effects of ractopamine and enzyme phytase on the performance and carcass characteristics of finishing pigs. Three hundred and fifty-four commercial type barrows were used from a single source with 94.1 ± 5.7 kg initial body weight in a randomized complete block design, with six treatments and five replications with 11 or 12 animals per experimental unit evaluated. The following feeds were: control diet based on tables of nutritional requirements; (A) diet control with nutritional adjustment for ractopamine; (FIT) diet A with phytase; (RAC) diet A with ractopamine; (RAC+FIT) diet A with ractopamine and phytase; and (RAC+FITe) diet A with ractopamine and phytase with part of the demands for calcium and available phosphorus met by the enzyme. The experiment lasted 21 days and at the end the animals were slaughtered for carcass evaluation. The results were compared by orthogonal contrasts. Feed intake was not influenced by the diets. The diet with adjusted protein and amino acid levels and without ractopamine did not improve performance compared with the control diet. There was effect of ractopamine on daily gain and feed conversion at the end of the 21-day period, and also on the pre-slaughter weight, hot carcass weight, carcass dressing, total fat-free lean and payment index. Phytase inclusion in diets containing ractopamin for calcium and phosphorus available levels above the finishing pigs´ requirements did not effect the weight gain, feed conversion and carcass traits. Ractopamine improved performance and carcass traits. The use of phytase in diets containing ractopamine in partial substitution of inorganic mineral sources made possibly to maintain performance and carcass traits.

addictives; β-adrenergic; carcass; enzyme; phytate


MONOGÁSTRICOS

Ractopamina e fitase em dietas para suínos na fase de terminação

Ractopamine and phytase in diets for finishing pigs

Anderson CorassaI; Darci Clementino LopesII; Alexandre de Oliveira TeixeiraIII

IPós-graduando em Zootecnia - UFV

IIDepartamento de Zootecnia - UFV

IIIAssistente técnico.

RESUMO

O objetivo neste estudo foi avaliar os efeitos da ractopamina e da enzima fitase sobre o desempenho e as características de carcaça de suínos na fase de terminação. Foram utilizados 354 suínos machos castrados do tipo comercial, de mesma origem e com peso inicial de 94,1 ± 5,7 kg, distribuídos em delineamento experimental de blocos ao acaso, com seis tratamentos e cinco repetições. A unidade experimental continha 11 ou 12 animais. Como tratamentos, avaliaram-se as seguintes dietas: controle, formulada com base na tabela de necessidades nutricionais; dieta A, controle com ajuste nutricional para uso de ractopamina; dieta A com fitase; dieta A com ractopamina; dieta A com ractopamina e fitase; e dieta A com ractopamina e fitase com parte das exigências de cálcio e fósforo disponível atendida pela enzima. O experimento durou 21 dias e ao final os animais foram abatidos para avaliação de carcaças. Os resultados foram comparados por contrastes ortogonais. O consumo de ração não foi influenciado pelas dietas. A dieta com níveis proteico e aminoacídico ajustados e sem ractopamina não melhorou o desempenho dos animais em comparação à dieta controle. A ractopamina teve efeito no ganho de peso e na conversão alimentar ao final do período de 21 dias, além do peso pré-abate, peso de carcaça quente, rendimento de carcaça, carne magra total e índice de bonificação. A inclusão de fitase em dietas contendo ractopamina de forma a fornecer cálcio e fósforo disponível acima das exigências de suínos em terminação não alterou o ganho de peso, a conversão alimentar e as características de carcaça. A ractopamina melhora o desempenho e as características de carcaça. A utilização de fitase em dietas contendo ractopamina em substituição parcial a fontes inorgânicas de minerais possibilita manter o desempenho e as características de carcaça dos animais.

Palavras-chave: aditivos, β-adrenérgico, carcaça, enzima, fitato

ABSTRACT

The objective of this study was to evaluate the effects of ractopamine and enzyme phytase on the performance and carcass characteristics of finishing pigs. Three hundred and fifty-four commercial type barrows were used from a single source with 94.1 ± 5.7 kg initial body weight in a randomized complete block design, with six treatments and five replications with 11 or 12 animals per experimental unit evaluated. The following feeds were: control diet based on tables of nutritional requirements; (A) diet control with nutritional adjustment for ractopamine; (FIT) diet A with phytase; (RAC) diet A with ractopamine; (RAC+FIT) diet A with ractopamine and phytase; and (RAC+FITe) diet A with ractopamine and phytase with part of the demands for calcium and available phosphorus met by the enzyme. The experiment lasted 21 days and at the end the animals were slaughtered for carcass evaluation. The results were compared by orthogonal contrasts. Feed intake was not influenced by the diets. The diet with adjusted protein and amino acid levels and without ractopamine did not improve performance compared with the control diet. There was effect of ractopamine on daily gain and feed conversion at the end of the 21-day period, and also on the pre-slaughter weight, hot carcass weight, carcass dressing, total fat-free lean and payment index. Phytase inclusion in diets containing ractopamin for calcium and phosphorus available levels above the finishing pigs´ requirements did not effect the weight gain, feed conversion and carcass traits. Ractopamine improved performance and carcass traits. The use of phytase in diets containing ractopamine in partial substitution of inorganic mineral sources made possibly to maintain performance and carcass traits.

Key words: addictives, β-adrenergic, carcass, enzyme, phytate

Introdução

O avanço dos índices zootécnicos na suinocultura tem sido atribuído a evoluções genéticas, ao conhecimento mais preciso das exigências nutricionais de cada categoria animal, ao controle de enfermidades ou patogenias de forma mais segura, bem como ao desenvolvimento de substâncias que potencializam a utilização dos nutrientes nos processos de digestão e absorção. Além disso, a pesquisa tem demandado respostas que vão além de índices de produção a campo, apontando a necessidade do entendimento da produção animal como produção de alimento e todos os índices que possam estar relacionados neste sentido.

Por isso, melhoradores de desempenho como β-agonistas, que podem agir como repartidores de nutrientes, têm demonstrado significativas melhoras no desempenho e nas características de carcaça dos suínos na fase de terminação (Carr et al., 2005; Armstrong et al., 2004), justamente quando ocorre maior deposição lipídica em detrimento da deposição proteica. Um suposto aumento da massa muscular tem sido atribuído a repartidores como a ractopamina (Mills; 2002), que poderiam melhorar índices como conversão alimentar, rendimento de carcaça e porcentagem de carne magra. Aumentando a síntese proteica no organismo, o uso da ractopamina poderia demandar maiores níveis de nutrientes que compõem este tecido (Schinckel et al., 2001).

Logo, a atenção para níveis de minerais como fósforo é importante, uma vez que os minerais participam na síntese proteica e outras funções. Da mesma forma, ao utilizar-se de dietas à base de cereais, o fósforo se torna o mineral mais oneroso em dietas para suínos (Crenshaw, 2001), interferindo diretamente na rentabilidade da atividade suinícola.

A utilização de enzima exógena fitase para disponibilizar o fósforo fítico presente nos cereais na forma de fósforo disponível também vem sendo investigada com maior interesse. Entre alguns possíveis benefícios referentes ao uso da fitase em monogástricos, pode-se citar a melhoria da digestibilidade da dieta pelo aumento de nutrientes digestíveis, pela redução da participação do fitato como fator antinutricional (Selle & Ravindran, 2006), pela diminuição da inclusão de fonte de cálcio e fósforo inorgânicos, diminuição dos custos das dietas (Maenz, 2001) e pelo menor potencial poluente dos dejetos (Kornegay, 2001).

A exploração de melhorias de desempenho associadas a características de carcaça premiadas nas tipificações pode aumentar o sucesso da atividade. Assim, é necessário avaliar os efeitos da ractopamina e da enzima fitase em dietas sobre o desempenho e as características de carcaça de suínos no período final de terminação.

Material e Métodos

O experimento foi conduzido em uma unidade de terminação de suínos no município de Bom Jesus, Santa Catarina, utilizando-se 354 suínos machos castrados do tipo comercial, de mesma origem e com peso inicial de 94,1 ± 5,7 kg, distribuídos em delineamento experimental de blocos ao acaso, com seis tratamentos e quatro repetições com 12 animais e uma quinta repetição com 11 animais por unidade experimental. Para formação dos blocos, utilizou-se como critério o peso corporal.

Os seis tratamentos usados foram: controle = dieta com 13% de proteína bruta e 0,66% de lisina digestível, formulada com base nas necessidades nutricionais dos animais (Rostagno et al., 2005); dieta A = com ajuste proteico e aminoacídico para 15,5% de proteína bruta e 0,86% de lisina digestível; dieta FIT = dieta A com níveis de cálcio e fósforo disponível aumentados pela inclusão de fitase; dieta RAC = dieta A com inclusão de ractopamina; dieta RAC+FIT = dieta A com inclusão de ractopamina e fitase; dieta RAC+FITe = dieta A com ractopamina e fitase atendendo parte das exigências de cálcio e fósforo disponível em substituição parcial a fontes inorgânicas.

Todas as dietas, à exceção da dieta controle, foram formuladas para conter níveis proteicos e aminoacídicos ajustados para utilização da ractopamina (Schinckel et al., 2001). Nessas dietas estabeleceu-se a relação lisina:energia metabolizável de 3,0 g/Mcal, de acordo com sugestão de Apple et al. (2004) para melhorar o desempenho sem prejudicar as características de carcaça. Esperando-se que todas as dietas fossem isoenergéticas, manteve-se o valor calculado de energia metabolizável da dieta controle igual ao das demais. Utilizou-se o coeficiente de digestibilidade de 88% para cálculo do valor de lisina digestível e a relação aminoácido/lisina segundo Rostagno et al. (2005).

Na dieta com ractopamina e fitase atendendo parte das exigências de minerais, foram computados os valores de 15,5% e 28% das exigências de cálcio e fósforo disponível, respectivamente, atendidos pela enzima, a partir da inclusão de 500 unidades de fitase na formulação e na equivalência de liberação de cálcio e fósforo fíticos da dieta, estabelecidos pelo fabricante da fitase obtida de Peniophora lycii.

As composições das dietas experimentais (Tabela 1) foram calculadas com base nos valores nutricionais dos alimentos utilizados, segundo tabelas de composição nutricional de alimentos para aves e suínos de Rostagno et al. (2005).

Os animais foram alojados em galpão de alvenaria com piso de concreto e cobertura com telhas de amianto. Cada unidade experimental foi constituída de uma baia (3 × 4,3 m) contendo um bebedouro tipo chupeta, comedouro de madeira (3 × 0,30 × 1 m) disposto à frente da baia, representando 25 e 27 cm lineares/animal de área para consumo nas baias com 12 e 11 animais/baia, respectivamente. A limpeza das baias foi realizada diariamente com raspagem dos dejetos e escoamento da lâmina d'água.

O experimento teve duração de 21 dias, como forma de observar a máxima resposta em desempenho como sugerido por Williams et al. (1994) e Armstrong et al. (2004), que observaram redução nas respostas depois desse período, em decorrência do fenômeno chamado down-regulation ou dessensibilização dos receptores β-adrenérgicos (Moody et al., 2000).

O registro diário de temperatura foi feito por meio de dois termômetros de máxima e mínima dispostos no corredor entre as baias. O manejo de temperatura, ventilação e concentração de gases no interior do galpão foi realizado pelo manejo de cortinas e aspersão nas linhas dispostas sobre as baias.

O desempenho foi avaliado a partir do consumo de ração médio diário (CRMD), do ganho de peso médio diário (GPMD) e da conversão alimentar a cada semana. Para mensuração desses parâmetros, foram realizadas pesagens dos animais e das sobras de ração no início do experimento e ao final de cada semana (1º, 7º, 14º e 21º dias). O controle do desperdício das rações foi realizado diariamente. A conversão alimentar foi calculada pela relação do consumo com o ganho de peso. Água e ração foram fornecidos à vontade durante todo o período experimental.

Ao final do experimento, todos os animais foram identificados por meio de tatuagem e submetidos a jejum alimentar de 12 horas, com água à disposição para serem transportados até o frigorífico no 22º dia. Os animais foram transportados por 417 km até o frigorífico, perfazendo o trajeto em aproximadamente 6 horas. Na chegada, por volta das 20 h, os animais foram pesados novamente e mantidos em jejum pré-abate até as 6 h do dia seguinte para cálculo da perda de peso dos animais ocasionada pelo transporte.

Os animais foram dessensibilizados, abatidos, depilados e eviscerados segundo procedimentos do frigorífico. As carcaças foram pesadas e submetidos à avaliação de tipificação gerando os dados de porcentagem de carne magra e índice de classificação, individualmente. As variáveis rendimento de carcaça e carne magra total foram calculadas segundo Método Brasileiro de Classificação de Carcaças (ABCS, 1973): REND (%) = peso de carcaça (kg) ÷ peso vivo (pré-abate, kg); e CMT (kg) = peso de carcaça (kg) × carne magra (%)/100.

A análise dos dados foi realizada por meio de análise da variância do modelo para o delineamento em blocos casualizados, representado por: Yij = µ + ti + bj + eij, em que: Yij = valor observado do tratamento i (i = 1,2,...,t) no bloco j (1,2,...,r); µ = constante inerente a todas as observações; ti = efeito do tratamento i; bj = efeito do bloco j; e eij = efeito do erro experimental associado à observação Yij.

A análise do efeito do fornecimento de ractopamina e fitase foi realizada pelo teste F para cinco contrastes ortogonais utilizando-se o programa SAEG (UFV, 1999): 1) dieta controle versus dieta com ajuste proteico e aminoacídico (controle vs A); 2) dieta ajustada A versus dieta ajustada com ractopamina (A vs RAC); 3) dieta ajustada com níveis de cálcio e fósforo disponível aumentados pela inclusão de fitase versus dieta idêntica mais ractopamina (FITvs RAC+FIT); 4) Dieta ajustada com ractopamina versus dieta ajustada com ractopamina e níveis de cálcio e fósforo disponível aumentados pela inclusão de fitase (RAC vs RAC+FIT); e 5) Dieta ajustada com ractopamina versus dieta ajustada com ractopamina e fitase atendendo parte das exigências de cálcio e fósforo disponível (RAC vs RAC+FITe).

Resultados e Discussão

As temperaturas médias do ar verificadas nos termômetros de mínima e máxima foram 16,9 ± 4,3 e 25,5 ± 3,6ºC, respectivamente, conferindo temperatura média de 21,2 ± 3,6ºC durante todo o período experimental. Não houve efeito (P<0,05) da ractopamina e da fitase para peso corporal e consumo médio diário de ração em nenhum dos períodos analisados (Tabela 2).

A dieta com níveis de proteína bruta e de aminoácidos ajustados e sem ractopamina não favoreceu o desempenho dos animais em comparação à dieta controle (contraste 1). Ao contrário, no período de 14 a 21 dias do experimento, os animais mantidos com a dieta A apresentaram piores (P<0,05) ganho de peso e conversão alimentar. A diferença no desempenho entre animais que receberam esta dieta e aqueles que receberam a dieta controle ao final do experimento correspondeu a 3,46%, mas com igualdade estatística (P>0,05). Nenhuma das características de carcaça foi influenciada (P>0,05) pelo aumento dos níveis de proteína e aminoácidos decorrente do ajuste nutricional. Os resultados sugerem que, na ausência de ractopamina, a proteína e os aminoácidos dietéticos acima das exigências do animal não promovem benefícios, mas aumentam os custos anabólicos e o catabolismo desses nutrientes, piorando a eficiência alimentar.

O efeito da inclusão de ractopamina na dieta foi observado pela análise do contraste 2, que apontou melhorias (P<0,05) de 7 a 14 dias para conversão alimentar e de 0 a 21 dias para ganho de peso e conversão alimentar. A inclusão de ractopamina em dietas com maiores níveis de proteína e aminoácidos e níveis de cálcio e fósforo disponível acima das exigências da categoria (contraste 3) também apontou para melhorias no período de 0 a 7 dias no ganho de peso e na conversão alimentar e de 0 a 21 dias para conversão alimentar. No período de 21 dias, ocorreram mudanças (P<0,05) no desempenho com a utilização da ractopamina, com melhorias de 9,2 e 6,9% no ganho de peso e de 8,4 e 8,9% na conversão alimentar nos contrastes 2 e 3 respectivamente.

As dietas contendo ractopamina não influenciaram no consumo de ração, fato que está de acordo com estudos anteriores descritos por Marinho et al. (2007), Neill et al. (2006) e See et al. (2004) ao compararem dietas contendo 0 e 5 ppm. Segundo pesquisas, a influência da ractopamina sobre o consumo de ração é mais evidente quando se utilizam níveis de 10 ou 20 ppm (Carr et al., 2005; Mimbs et al., 2005; Brumm et al., 2004; Moody et al., 2000), melhorando os índices de conversão alimentar.

Resultados similares foram obtidos por See et al. (2004), que compararam 0 e 5 ppm de ractopamina nos primeiros 14 dias de fornecimento de ração. Esses autores não identificaram efeitos sobre o peso corporal e o consumo, mas constataram maior eficiência alimentar nos animais alimentados com a dieta com β-adrenérgico.

Melhorias no ganho de peso médio diário e na conversão alimentar com dietas contendo ractopamina também foram registradas no trabalho Neill et al. (2006) ao avaliarem 5 ppm de ractopamina por 21 dias pré-abate, e Armstrong et al. (2004) ao avaliarem diferentes concentrações e tempos de administração. No entanto, Pozza et al. (2003), ao utilizarem 5 ppm de ractopamina durante 28 dias, não verificaram efeitos sobre peso final e ganho de peso dos animais.

Melhores índices zootécnicos de ganho de peso e conversão alimentar podem estar relacionados ao efeito da ractopamina no aumento da síntese proteica e no bloqueio da lipogênese (Schinkel et al., 2003). Da mesma forma, o aumento da deposição de proteína se associa ao acúmulo de água na carcaça, refletindo o maior ganho de peso e eficiência de utilização de nutrientes (Marinho et al., 2007).

Mesmo não havendo análise estatística comparativa entre os períodos estudados, a magnitude de resposta nos índices de ganho de peso e conversão alimentar deste trabalho esteve de acordo com a curva de resposta identificada por Williams et al (1994), que constataram que os resultados aumentam rapidamente até alcançarem um platô ao final da segunda semana e logo depois reduzem no decorrer do tempo de uso da ractopamina.

Não houve efeito (P>0,05) da suplementação de fitase em dietas contendo ractopamina em nenhuma característica de desempenho durante todo o experimento (contraste 4). Esta constatação permite inferir que o desempenho de suínos alimentados com dietas contendo ractopamina não se altera com o aumento do conteúdo de cálcio e fósforo disponível quando este for oferecido por meio de fitase exógena nos limites estudados. Resultado diferente foi observado por Lutz & Stahly (2002), que investigaram o efeito de diferentes níveis de fósforo disponível para suínos de 70 a 114 kg em dietas contendo ou não 20 ppm de ractopamina e observaram que aumentando níveis dietéticos de fósforo disponível, houve aumento linear do ganho de peso, do consumo e da eficiência alimentar. A diferença nos resultados entre esses trabalhos pode estar relacionada ao nível de ractopamina utilizado, já que neste trabalho a concentração usada foi quatro vezes menor.

Os animais que consumiram dietas com fitase atendendo parte das exigências de cálcio e fósforo disponível tiveram desempenho semelhante (P>0,05) ao daqueles que consumiram a dieta sem a enzima, e ambas as dietas foram formuladas com ractopamina (contraste 5). Isso sugere maior eficiência na liberação dos nutrientes do complexo fitato, o que é desejável, uma vez que a redução das fontes inorgânicas na dieta diminui o impacto do fitato como antinutriente (Selle & Ravindran, 2006) na eliminação de fósforo para o meio ambiente e o custo relativo da dieta (Crenshaw, 2001).

Apesar da semelhança (P<0,05) nos resultados entre as dietas controle e com ractopamina e fitase atendendo parte das exigências de cálcio e fósforo disponível ao final da avaliação, observaram-se diferenças numéricas de 3,0 kg ou 2,5% no peso final; 9,9% no ganho de peso; e 7,3% na conversão alimentar, sempre em favor dos animais alimentados com a dieta contendo ractopamina e fitase.

Não houve efeito das dietas sobre a perda de peso dos animais durante o transporte (P>0,05), semelhante ao observado por Crome et al (1996) em animais abatidos com 107 e 125 kg depois de transportados por três horas até o abate.

Animais alimentados com dietas contendo ractopamina e fitase apresentaram (P<0,05) maiores pesos pré-abate em comparação aos submetidos à dieta com fitase, com diferença de 2,7%. A dieta contendo ractopamina propiciou peso pré-abate dos animais 1,9% acima daquele apresentado pela dieta com ajuste dos níveis de proteína e aminoácidos, porém sem diferença estatística.

A ractopamina teve efeito significativo (P<0,05) sobre o peso de carcaça quente e o rendimento de carcaça em comparação às dietas com 0,45% de cálcio e 0,25% de fósforo disponível (contraste 2) e às dietas com níveis 0,52 e 0,32% desses minerais (contraste 3). Houve melhoria de 3,5 e 1,3% nos valores de peso de carcaça quente e rendimento de carcaça, respectivamente, nos animais alimentados com dietas contendo ractopamina.

Os aumentos nos valores de peso de carcaça quente pelo uso de ractopamina observados neste trabalho confirmam estudos publicados por Xiong et al. (2006), See et al. (2005), Pérez et al. (2005), Marchant-Forde et al. (2003) e Crome et al. (1996). De outro modo, contradizem resultados de Carr et al. (2005) e Armstrong et al. (2004) que trabalharam com níveis similares aos deste trabalho e Aallhus et al. (1990) usando níveis superiores a 5 ppm e não obtiveram resposta significativa na mesma variável.

Respostas positivas nos animais alimentados com ractopamina, quanto ao rendimento de carcaça, foram apontadas por Pérez et al. (2005) usando 10 ppm de ractopamina em animais de 93 a 119 kg, Crome et al. (1996) e Williams et al. (1994). No entanto, Marinho et al. (2007), Xiong et al. (2006) e Marchant-Forde et al. (2003) não registraram efeito da ractopamina sobre o rendimento de carcaças ao trabalharem com 5, 10 e 20 ppm, respectivamente.

Uma das justificativas para a melhora do rendimento de carcaça é o aumento do peso dos animais ao abate, que diminui a importância relativa das vísceras e aumenta o valor relativo da massa muscular (Pérez et al., 2005). A porcentagem de carne magra não foi influenciada (P>0,05) pelo fornecimento de ractopamina, o que está de acordo com o observado por Marinho et al. (2007). Melhorias nesta variável decorrentes do uso de ractopamina foram registradas com níveis maiores de administração como 10 ou 20 ppm de acordo com as publicações de Pelger et al.(2006); Xiong et al. (2006); Armstrong et al. (2004), Groesbeck et al. (2004), Moody et al. (2000) e Xiao et al. (1999).

Tabela 3

Na avaliação de carne magra total e do índice de bonificação, a dieta contendo ractopamina mostrou-se melhor (P<0,05) em comparação àquelas sem β-adrenérgico (contraste 2), quando ambas possuíam 0,45% de cálcio e 0,25% de fósforo disponível. No entanto, este efeito não foi observado entre as dietas com maiores níveis desses minerais oferecidos pela inclusão de fitase (contraste 3). Em relação ao uso de ractopamina, Armstrong et al. (2004) não observaram efeito da inclusão de 5 ppm de ractopamina por 20 ou 27 dias no valor de carne magra total.

Não houve efeito (P>0,05) da inclusão de fitase nem do aumento das concentrações de cálcio e fósforo disponível, acima das exigências, nas características de carcaça. Apenas o índice de bonificação foi maior (P<0,05) nos animais alimentados com as dietas com ractopamina, mas sem causa evidente. Lutz & Stahly (2002) também não observaram efeito do maior nível de fósforo em dietas contendo ractopamina sobre área do músculo Longissimus, espessura de toucinho, porcentagem de carne magra e conteúdo de gordura.

Considerando a liberação de cálcio e fósforo disponível a partir da inclusão de fitase na dieta contendo ractopamina, as respostas foram semelhantes (P>0,05), para todas as características de carcaça, às obtidas com a dieta com ractopamina, o que evidencia que a enzima na concentração avaliada permitiu manter os índices das características de carcaças desses animais. O resultado deste estudo ratifica observações de Peter et al. (2001), que não registraram diferença no desempenho e nas características de carcaça de suínos de 84 a 123 kg mantidos com dietas contendo 300 ou 500 UF (0,6 g/kg de Pd) ou com 1,6 g/kg de fósforo inorgânico.

Nos pesos de carcaça quente e nos índices de bonificação dos suínos alimentados com a dieta controle e a dieta contendo ractopamina e fitase atendendo parte das exigências de cálcio e fósforo disponível, observaram-se diferenças de 3,8 e 2,3%, respectivamente, porém sem diferença estatística (P>0,05).

Conclusões

Suínos alimentados três semanas antes ao abate apresentam melhor desempenho e características de carcaça se receberem 5 ppm de ractopamina na dieta. A inclusão de fitase em dietas contendo ractopamina para atender parte das exigências de cálcio e fósforo disponível, em substituição parcial a fontes inorgânicas ou visando aumentar os níveis desses minerais na dieta de suínos em terminação, não altera o desempenho e as características de carcaça dos animais.

Literatura Citada

Este artigo foi recebido em 3/1/2008 e aprovado em 3/12/2008.

Correspondências devem ser enviadas para: andcorassa@yahoo.com.br

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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    05 Jan 2010
  • Data do Fascículo
    Nov 2009

Histórico

  • Aceito
    03 Dez 2008
  • Recebido
    03 Jan 2008
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