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Transtornos depressivos em usuários de drogas injetáveis infectados pelo HIV: um estudo controlado

Depressive disorders in injecting drug users infected by the HIV virus

Resumos

OBJETIVO: Estudar os transtornos psiquiátricos em pacientes usuários de drogas injetáveis infectados pelo HIV. MÉTODOS: Pacientes que se apresentavam para tratamento da dependência de drogas, foram divididos em dois grupos de acordo com a sorologia para o HIV (vírus da imunodeficiência humana), vírus causador da síndrome da imunodeficiência adquirida (AIDS). Trinta pacientes HIV-positivos e 30 pacientes HIV-negativos submeteram-se a uma entrevista estruturada para avaliação de transtornos psiquiátricos. Inicialmente, foram analisados os transtornos depressivos e os relacionados ao uso de substâncias psicoativas. RESULTADOS: Os resultados revelaram que o diagnóstico de dependência de cocaína foi mais freqüente em pacientes infectados pelo HIV do que nos não-infectados. A sorologia positiva para o HIV não foi fator associado a maior prevalência de depressão. As tentativas de suicídio foram freqüentes nesta amostra, mas as freqüências foram iguais nos dois grupos. CONCLUSÃO: Os pacientes HIV-positivos tendem a diminuir ou cessar o consumo de cocaína após conhecimento de sua sorologia.

Transtornos depressivos; HIV/AIDS; dependência de drogas; estudo controlado


OBJECTIVE: Study psychiatric disorders on injecting drug users infected by the HIV. METHODS: Injecting drug users entering treatment for drug dependence were selected in two groups according to their HIV (human immunodeficiency virus) status. The HIV is a virus that causes AIDS (acquired immunodeficiency syndrome). Thirty HIV-positive and 30 HIV-negative patients were submitted to a structured interview to assess psychiatric disorders. Initially, depressive disorders and disorders related to substance use were analyzed. RESULTS: The results showed that the cocaine dependence diagnosis was more frequent in HIV infected patients than in the non-infected. Being HIV positive was not associated with higher prevalence of depression. Suicide attempts were frequent in this sample, but the frequencies were equal in the two groups. CONCLUSION: Patients infected with HIV tended to reduce or cease their drug use after the knowledge of the HIV status.

Depressive disorders; HIV/AIDS; drug dependence; controlled study


artigos originais

Transtornos depressivos em usuários de drogas injetáveis infectados pelo HIV: um estudo controlado

Depressive disorders in injecting drug users infected by the HIV virus

André Malbergier1 1 . Médico do GREA (Grupo Intredisciplinar de Estudos em Álcool e Drogas) do IPq HCFMUSP e psiquiatra da Casa da AIDS. 2 . Coordenador do GREA, Professor titular de psiquiatria e psicologia médica da Faculdade de Medicina do ABC. e Arthur Guerra de Andrade2 1 . Médico do GREA (Grupo Intredisciplinar de Estudos em Álcool e Drogas) do IPq HCFMUSP e psiquiatra da Casa da AIDS. 2 . Coordenador do GREA, Professor titular de psiquiatria e psicologia médica da Faculdade de Medicina do ABC.

RESUMO

OBJETIVO: Estudar os transtornos psiquiátricos em pacientes usuários de drogas injetáveis infectados pelo HIV.

MÉTODOS: Pacientes que se apresentavam para tratamento da dependência de drogas, foram divididos em dois grupos de acordo com a sorologia para o HIV (vírus da imunodeficiência humana), vírus causador da síndrome da imunodeficiência adquirida (AIDS). Trinta pacientes HIV-positivos e 30 pacientes HIV-negativos submeteram-se a uma entrevista estruturada para avaliação de transtornos psiquiátricos. Inicialmente, foram analisados os transtornos depressivos e os relacionados ao uso de substâncias psicoativas.

RESULTADOS: Os resultados revelaram que o diagnóstico de dependência de cocaína foi mais freqüente em pacientes infectados pelo HIV do que nos não-infectados. A sorologia positiva para o HIV não foi fator associado a maior prevalência de depressão. As tentativas de suicídio foram freqüentes nesta amostra, mas as freqüências foram iguais nos dois grupos.

CONCLUSÃO: Os pacientes HIV-positivos tendem a diminuir ou cessar o consumo de cocaína após conhecimento de sua sorologia.

DESCRITORES

Transtornos depressivos; HIV/AIDS; dependência de drogas; estudo controlado.

ABSTRACT

OBJECTIVE: Study psychiatric disorders on injecting drug users infected by the HIV.

METHODS: Injecting drug users entering treatment for drug dependence were selected in two groups according to their HIV (human immunodeficiency virus) status. The HIV is a virus that causes AIDS (acquired immunodeficiency syndrome). Thirty HIV-positive and 30 HIV-negative patients were submitted to a structured interview to assess psychiatric disorders. Initially, depressive disorders and disorders related to substance use were analyzed.

RESULTS: The results showed that the cocaine dependence diagnosis was more frequent in HIV infected patients than in the non-infected. Being HIV positive was not associated with higher prevalence of depression. Suicide attempts were frequent in this sample, but the frequencies were equal in the two groups.

CONCLUSION: Patients infected with HIV tended to reduce or cease their drug use after the knowledge of the HIV status.

KEYWORDS

Depressive disorders; HIV/AIDS; drug dependence, controlled study

Introdução

A AIDS tem se tornado objeto de interesse por parte de psiquiatras e psicólogos essencialmente por duas razões: o tropismo do HIV pelo SNC e o impacto psicológico do diagnóstico e da evolução da infecção nos indivíduos afetados1.

A depressão é o diagnóstico mais freqüente na interconsulta psiquiátrica de pacientes infectados ou que apresentam AIDS2, 3.

Atkinson e col.4, em um estudo pioneiro nesta área, observaram que entre os indivíduos homossexuais masculinos* infectados pelo HIV, mas assintomáticos, 35,5% apresentavam o diagnóstico de depressão ao longo da vida. Outros estudos também encontraram uma prevalência de 30% a 35% de depressão ao longo da vida entre homossexuais masculinos, sejam eles HIV-positivos assintomáticos ou HIV-negativos5,6.

Esses estudos controlados questionam a relação da infecção pelo HIV e os transtornos depressivos, já que indivíduos com comportamento de risco para o HIV, no caso homossexuais masculinos, apresentavam igual freqüência de depressão, independente de sua sorologia para o HIV.

Ao serem admitidos para tratamento, os usuários de drogas injetáveis (UDI) – outro comportamento de risco para infecção pelo HIV – apresentam maior freqüência de episódios depressivos do que homossexuais masculinos7. Todavia, a grande maioria dos estudos nessa área foi feita com amostras de homossexuais masculinos. Outro fator que justifica a realização de estudos como este é a escassa literatura internacional a respeito de UDI que consomem como droga principal a cocaína. Os estudos são, em sua grande maioria, realizados em serviços de tratamento de dependentes de heroína. A generalização dos resultados desses estudos para a população de UDI em nosso meio (predominantemente usuária de cocaína) é discutível. Esta pesquisa tem por objetivo estudar os transtornos depressivos e as tentativas de suicídio em UDI infectados pelo vírus HIV em comparação aos UDI não-infectados. Este trabalho pretende, ainda, somar conhecimentos a esta área a fim de melhor instrumentalizar os serviços de atendimento a esta população.

O termo AIDS, embora de língua inglesa, será empregado nesta pesquisa em vez de SIDA por ser, segundo Amato Neto e Pasternak8, "a primeira versão do nome da doença e pela absoluta especificidade em português, seja do substantivo seja de seus derivados, evitando confusão, que é o atributo primordial da linguagem científica".

Casuística e métodos

Este estudo foi desenvolvido no GREA – Grupo Interdisciplinar de Estudos de Álcool e Drogas do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (IPq-HC-FMUSP) e no Núcleo de Extensão ao Atendimento de Pacientes HIV/AIDS da Divisão de Clínicas de Moléstias Infecto-contagiosas e Parasitárias do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo ("Casa da AIDS"), no período de 1994 a 1997.

O GREA é uma unidade da Coordenadoria de Atendimento Especializado do IPq-HC-FMUSP. O grupo atende à população com problemas relacionados ao uso de álcool e/ou drogas que procura um hospital público universitário de atendimento terciário. A Casa da AIDS é um serviço especializado que oferece atendimento multidisciplinar, em nível ambulatorial e de hospital-dia, a pacientes portadores do vírus HIV/AIDS.

Para fins deste estudo, todos os pacientes com história de uso de drogas injetáveis que procuravam o GREA, após consentimento por escrito, submetiam-se a triagem segundo critérios de inclusão (vide critérios de inclusão) e eram matriculados em um ambulatório específico para UDI. Além dos pacientes do GREA, os UDI, em atendimento ambulatorial na casa da AIDS, que desejavam tratar-se do uso nocivo/dependência de drogas também foram encaminhados para triagem. Somente cinco pacientes foram recrutados na Casa da AIDS.

Os critérios de inclusão foram: idade entre 17 e 60 anos; uso de drogas injetáveis pelo menos cinco vezes ao longo da vida; residência na Grande São Paulo. Foram critérios de exclusão: pacientes que não possuíam telefone ou endereço fixo para contato; pacientes com quadro de demência ou outros sintomas de AIDS.

A sorologia para o HIV era pedida na primeira consulta no GREA e analisada no laboratório do Hospital das Clínicas, através dos exames ELISA e Western-Blot. Todos os pacientes selecionados que se mantiveram abstinente de todas as drogas por 15 dias, no período de 45 dias após o início do tratamento, submeteram-se a uma entrevista estruturada: CIDI - "Composite International Diagnostic Interview". O CIDI é uma entrevista totalmente estruturada, elaborada pela Organização Mundial de Saúde (OMS) e pelo US Alcohol, Drug Abuse and Mental Health Administration (ADAMHA) em 1987 com o intuito de permitir estudos epidemiológicos e comparativos na área de psicopatologia9, 10. No Brasil, a tradução e a validação da entrevista ficaram a cargo de Miranda et al.11, e o primeiro autor deste estudo submeteu-se a treinamento para aplicação deste questionário com a referida equipe.

Obteve-se uma amostra de 60 pacientes, 30 HIV-positivos e 30 HIV-negativos. Os resultados obtidos com a aplicação das entrevistas foram analisados por um programa de computador, também desenvolvido pela OMS e ADAMHA, que fornece os diagnósticos de acordo com os critérios da CID10 - Classificação Internacional de Doenças, décima edição, editado pela Organização Mundial da Saúde12.

Os diagnósticos de transtornos depressivos e de uso nocivo/dependência de drogas foram divididos em "atual", se o diagnóstico esteve presente no último mês antes da entrevista e "história", se o diagnóstico estava presente no passado, mas não no último mês. O termo "ao longo da vida" refere-se à presença do diagnóstico em algum momento da vida, podendo ser no passado, no último mês ou em ambos.

Os diagnósticos de transtornos mentais e de comportamento decorrentes do uso de substâncias psicoativas (F10-F19) foram analisados de duas maneiras: em separado para cada droga ou agrupados como transtornos mentais e de comportamento decorrentes do uso de drogas (F10-F19). Os diagnósticos F32 (episódio depressivo), F33 (transtorno depressivo recorrente) e F34.1 (distimia) foram considerados em grupo como transtornos depressivos, quando referido nos resultados.

Análise estatística

As variáveis sócio-demográficas (sexo, faixa etária, estado civil, número de filhos, situação empregatícia e escolaridade) e as variáveis referentes a suicídio foram resumidas em tabelas contendo freqüências absolutas e relativas em cada um dos grupos (HIV-positivo e HIV-negativo) e na amostra total. Os testes de qui-quadrado de Pearson e exato de Fisher foram empregados na comparação entre os grupos com relação a estas variáveis. A comparação entre os grupos com relação à idade, quando analisada como variável contínua, foi realizada através do teste t-Student.

O modelo de regressão logística foi utilizado para estudar a influência das variáveis sócio-demográficas, sorologia para o HIV e história de depressão na probabilidade de apresentar o diagnóstico de depressão atual. O modelo de regressão logística foi utilizado, de maneira análoga, para estudar a influência das variáveis exploratórias acima descritas, acrescidas das variáveis transtornos ansiosos e dependência de cocaína, na probabilidade de apresentar tentativa de suicídio e dependência de cocaína atual.

O nível de significância adotado neste estudo foi de a=0,05 e todos os testes estatísticos foram bicaudais. As análises foram realizadas utilizando-se o sistema SAS (Statistical Analysis System).

Resultados

Variáveis sociodemográficas

Observa-se, na Tabela 1, que a amostra estudada foi constituída, em sua maioria, de pacientes do sexo masculino (78,3%), com idade entre 21 e 40 anos (90%), média de 30,75 anos (desvio-padrão 7,10), vivendo sem companheira/o (70%), com filhos (58,4%), empregados (53,3%), com primeiro grau completo ou incompleto - 8 ou menos anos de estudo (61,6%). Na comparação entre os grupos HIV-positivo e negativo quanto a estas variáveis sócio-demográficas, não se observou diferenças estatisticamente significativas.

Tempo de conhecimento da sorologia para o HIV

Metade da amostra sabia estar infectada há menos de um ano. A mediana do tempo de conhecimento da sorologia positiva para o HIV foi de 13 meses. Nesta amostra, o tempo mínimo de conhecimento da sorologia foi de 4 meses e o valor máximo foi de 84 meses.

Análise dos diagnósticos segundo a CID-10.

Os diagnósticos serão apresentados inicialmente em separado para fins descritivos e posteriormente agrupados para sofrerem tratamento estatístico. Todos os diagnósticos analisados neste item referem-se a diagnósticos ao longo da vida.

A Tabela 2 apresenta a distribuição, em ordem decrescente de freqüência, dos diagnósticos psiquiátricos relacionados ao uso de drogas e álcool e dos transtornos depressivos, encontrados nesta amostra, segundo a CID-10, obtida através da entrevista CIDI, nos grupos HIV positivo e HIV negativo.

Entre os pacientes que receberam algum diagnóstico de uso nocivo/dependência de drogas (59 pacientes na amostra de 60), 45 (76,3%) apresentaram o diagnóstico para mais de uma droga. Após a exclusão da dependência de tabaco, 39 pacientes (66,1%) ainda apresentavam o diagnóstico para mais de uma droga. Em relação aos diagnósticos de episódios depressivos e transtornos depressivos recorrentes, observa-se que dos 23 pacientes que receberam esses diagnósticos, 19 (82,6%) foram classificados como leves ou moderados e somente 4 (17,4%) como graves.

Sessenta por cento dos HIV-positivos e 63,4% dos HIV-negativos tinham outros diagnósticos, que não os diagnósticos de uso nocivo/dependência de drogas. Não houve diferença estatisticamente significativa entre os dois grupos em relação ao número de diagnósticos para cada paciente.

Na Tabela 3, manteve-se o agrupamento dos diagnósticos de uso nocivo/dependência de drogas. Devido à importância da cocaína como droga injetável em nosso meio, o diagnóstico de dependência de cocaína foi também analisado em separado. Os diagnósticos de episódio depressivo, transtorno depressivo recorrente e distimia foram agrupados sob a denominação de transtornos depressivos. Nessa tabela, os pacientes que apresentaram os diagnósticos em questão foram comparados com os que não apresentaram o de dependência.

Quando analisado em separado, o diagnóstico de dependência de cocaína foi mais freqüente nos pacientes HIV-positivos do que nos HIV-negativos (p=0,011). Todos os pacientes HIV-positivos apresentavam dependência de cocaína, enquanto 6 dos 30 pacientes HIV-negativos não apresentavam. Três destes pacientes receberam o diagnóstico de dependência de opióides (dois usavam elixir paregórico® e 1 morfina) e 3 de anfetaminas, utilizados também sob a forma injetável.

Suicídio

Conforme se observa na Tabela 4, 26,7% dos pacientes já tentaram suicídio. Esta porcentagem foi igual nos dois grupos.

Nas análises multivariadas, as variáveis idade (mais ou menos do que 30 anos), escolaridade (mais ou menos do que 8 anos de estudo) e estado civil (casado ou descasado) foram consideradas como categoriais.

Na análise multivariada, através da regressão logística, somente a variável depressão ao longo da vida mostrou associação com a tentativa de suicídio (p=0,032). O "odds ratio" estimado da variável depressão foi de 4,32 com intervalo de confiança de 95% [1,17; 15,94].

As variáveis sorologia para o HIV, idade, sexo, estado civil, emprego, escolaridade, transtornos ansiosos (presença do diagnóstico de transtornos ansiosos ao longo da vida) e dependência de cocaína (presença do diagnóstico de dependência de cocaína ao longo da vida) não mostraram associação estatisticamente significativa com a tentativa de suicídio na regressão logística.

Associação entre as variáveis depressão atual e dependência de cocaína atual e as variáveis sócio-demográficas

Conforme descrito em "Casuística e Métodos", considera-se "atual" os diagnósticos que estejam presentes no último mês e "história" quando presentes no passado, mas não no último mês.

Depressão atual

Na análise multivariada, a depressão atual foi considerada como variável dependente e a sorologia para o HIV, história de depressão, idade, sexo, estado civil, emprego e escolaridade como variáveis exploratórias. No modelo de regressão logística, a variável emprego foi a que mostrou maior associação (p=0,052) com a probabilidade de um paciente apresentar o diagnóstico de depressão atual.

A sorologia para o HIV não mostrou estar significativamente associada à probabilidade de ter depressão atual em nenhuma das análises realizadas (teste de qui-quadrado e modelo de regressão logística).

Entre os pacientes não infectados pelo HIV, dos 13 com o diagnóstico de depressão ao longo da vida, 7 tinham história de depressão, 4 apresentavam depressão atual e 2 história de depressão e depressão atual. Nos pacientes infectados pelo HIV, dos 13 pacientes com diagnóstico de depressão ao longo da vida, 5 apresentavam história de depressão, 6 apresentavam depressão atual e 2 apresentavam história de depressão e depressão atual.

Dependência de cocaína atual

Em relação à dependência de cocaína atual, nenhuma variável mostrou-se significativa no modelo de análise multivariada.

Entre os HIV-negativos, dos 23 pacientes com diagnóstico de dependência de cocaína, 15 (65,2%) apresentavam dependência atual e 8 (34,8%) apresentavam história. Nos HIV-positivos, dos 30 pacientes com diagnóstico de dependência de cocaína, 11 (36,7%) apresentavam atual e 19 (63,3%) história. Esta distribuição mostrou-se significativamente diferente entre os grupos (p=0,039).

Discussão

O perfil sócio-demográfico dos UDI da amostra foi semelhante ao da clientela que procura outros serviços de referência do CONFEN (Conselho Federal de Entorpecentes) para tratamento de dependência drogas no Brasil, exceto pela média de idade (30,75 anos, desvio-padrão 7,10) que, nesta pesquisa, foi superior às referidas pelos demais serviços13. Essa diferença também foi observada quando esta amostra foi comparada com a de usuários de drogas, não exclusivamente injetáveis, que procurou o GREA no período de 1984 a 1988 (média de idade de 23,85 anos)14. Esse resultado parece refletir o envelhecimento da população de UDI, sugerindo que os indivíduos mais jovens que estão iniciando o uso de drogas, não vêm utilizando a via injetável. Isso é também observável na prática clínica, resultando em uma menor procura de tratamento no GREA por parte de UDI e em um aumento do número de pacientes jovens usuários de crack.

Cinqüenta por cento da amostra sabiam estar infectados há menos de um ano e somente 23,4% há mais de 2 anos. Portanto, esta é uma amostra que apresenta pacientes que convivem com o conhecimento de sua sorologia por, relativamente, pouco tempo. Essa característica é reforçada ainda pelo critério de inclusão que exige que os pacientes estejam assintomáticos15.

Somente cinco pacientes foram recrutados na Casa da AIDS. Esse número reflete o fato de a seleção exigir que os pacientes estejam assintomáticos para a infecção pelo HIV, distanciando-se do perfil de pacientes encaminhados para tratamento psiquiátrico nesse serviço.

A grande maioria dos pacientes utilizava a cocaína como droga injetável. Todos os pacientes infectados pelo HIV apresentavam diagnóstico de dependência dessa substância, enquanto 23 dos 30 HIV-negativos apresentavam esse diagnóstico. Essa diferença foi significativa do ponto de vista estatístico, indicando que pacientes dependentes de cocaína apresentavam maior probabilidade de se infectarem pelo HIV do que os não dependentes desta droga.

O uso de cocaína é considerado como fator de risco entre os UDI para contrair o HIV devido a algumas particularidades relacionadas ao consumo dessa droga, quando comparada ao uso, também injetável, de outras drogas. A meia-vida da cocaína é curta, gerando a necessidade de uso freqüente e, conseqüentemente, mais chance de se expor a comportamentos de risco. Os usuários de cocaína tendem também a ter mais parceiros de uso do que usuários de outras drogas. Algumas particularidades do efeito da droga também merecem destaque: a perda de controle durante os episódios de uso parece ser mais freqüente em usuários de cocaína do que em usuários de outras drogas. É comum o relato de pacientes que não conseguem guardar nenhuma quantidade da droga, utilizando tudo o que tem, só cessando o uso quando ela acaba ou quando, por exaustão, não conseguem mais se injetar ou encontrar veias disponíveis. Diante dessa situação, diminui-se a chance de utilização de mecanismos de prevenção. Outro fator discutido na literatura é uma possível ação da cocaína como facilitadora da infecção pelo HIV, provavelmente por uma ação no sistema imunológico16, 17.

Quarenta e cinco dos 59 pacientes (76,3%) com algum diagnóstico de uso nocivo/dependência de drogas apresentaram mais de um diagnóstico associado ao uso de drogas, indicando que essa clientela é constituída de pacientes que apresentavam dependência de várias drogas (incluindo álcool). Mesmo excluindo-se o diagnóstico de dependência de tabaco, o número de pacientes com diagnósticos de dependência de mais de uma droga permaneceu alto: 39 pacientes (66,1%). Esse perfil vem sendo cada vez mais comum em serviços de tratamento de usuários de drogas18, 19.

Os transtornos depressivos ao longo da vida estavam presentes em 43,3% dos HIV positivos e negativos desta amostra. Essa taxa é maior do que as encontradas em estudos similares realizados em homossexuais masculinos – prevalência ao longo da vida de 30% a 35%20. A prevalência observada nesta pesquisa também é maior do que a encontrada em estudo epidemiológico em instituições, como hospitais, asilos e prisões, que é de (26,4%, e na comunidade nos Estados Unidos, que é de 9,4%21, 22. Outros estudos também encontraram maior prevalência de depressão em pacientes com comportamento de risco ou já infectados quando comparados à população geral. Todavia, a prevalência não parece ser maior do que em outras doenças crônicas e graves, diminuindo ainda mais a possibilidade de se estabelecer uma relação causal da infecção pelo HIV, "per se", e o diagnóstico de depressão ou caracterizar como específica a resposta psicológica dos indivíduos frente à infecção pelo HIV15, 23, 24.

Nesta pesquisa, não se observou diferença entre a prevalência de transtornos depressivos entre os grupos positivo e negativo. Esse resultado parece ser a regra entre os estudos similares na área4, 6, 25, 26. Todavia, os estudos acima foram realizados com amostras de homossexuais masculinos. O número de estudos similares em UDI é menor. Egan e col.27 compararam 125 UDI infectados assintomáticos com 27 não infectados e não encontraram diferenças em relação à prevalência de sintomas depressivos entre os dois grupos. Paradoxalmente, Gala e col.28 observaram que UDI não infectados apresentavam escores mais altos, quando avaliados através de escalas destinadas a medir o estado psicológico de pacientes de ambulatório, do que os HIV-positivos. Esse resultado indicava maior nível de morbidade psiquiátrica entre os HIV-negativos. Os autores sugerem que essas alterações são causadas por "dificuldades psicológicas e distúrbios de comportamento em indivíduos com comportamento de risco para o HIV".

Em vista da alta prevalência de depressão no momento da avaliação (23,3%) e ao longo da vida (43,3%) nessa amostra, torna-se importante a investigação sistemática de sintomas depressivos nesse tipo de população e se evidencia a necessidade da presença de médico psiquiatra em serviços de atendimento a pacientes HIV-positivos29. Essa investigação é fundamental, já que a depressão é uma patologia com alto índice de melhora quando tratada, inclusive entre indivíduos infectados pelo HIV. Os antidepressivos tricíclicos e os inibidores seletivos de recaptura de serotonina são eficazes nessa população30-32.

Em relação a tentativas de suicídio, elas aconteceram com igual freqüência (26,7%) nos dois grupos (HIV-positivo e negativo). Esse resultado sugere que essa população de UDI apresentou alto risco para tentativas de suicídio, mas que o fato de estar contaminado pelo HIV não aumentou o risco no grupo.

A alta freqüência de tentativas de suicídio nessa amostra pode estar associada ao quadro de dependência de drogas. Estudos indicam que a incidência de suicídio em dependentes de drogas é aproximadamente 20 vezes maior do que a encontrada na população geral e que em torno de 70% das tentativas em jovens estão relacionadas ao abuso de drogas33.

A ideação suicida, segundo estudos em pacientes infectados pelo HIV, parece ser mais freqüente em pacientes assintomáticos (sujeitos desta pesquisa) do que em pacientes com AIDS34, 35. Esse fato seria gerado pelo efeito do progressivo ajustamento dos indivíduos infectados, levando a uma redução dos sintomas psicológicos e da ideação suicida36. Usuários de drogas injetáveis tendem a apresentar maior número de tentativas de suicídio do que indivíduos com outros comportamentos de risco28.

A AIDS parece estar associada a um maior risco de suicídio quando os números são comparados com a população geral37. Todavia, a maioria dos suicídios estudados em pacientes infectados ocorreu em homossexuais ou UDI. Portanto, para se avaliar a participação do HIV no risco de suicídio, esses valores deveriam ser comparados aos observados em indivíduos homossexuais ou UDI.

Novamente observa-se que as alterações psicopatológicas e suas complicações em UDI infectados pelo HIV são mais freqüentes quando comparadas à população geral.

Porém, essas diferenças tendem a desaparecer em estudos controlados. Isso aconteceu para os transtornos depressivos e as tentativas de suicídio nesta pesquisa.

Na análise multivariada, o fato de ter apresentado algum transtorno depressivo ao longo da vida mostrou associação com a tentativa de suicídio. Esse resultado é condizente com a literatura, que também destaca o diagnóstico de depressão e o uso de drogas como fatores associados a tentativas de suicídio em indivíduos infectados pelo HIV36. Também na análise multivariada, a sorologia para o HIV não mostrou associação com a tentativa de suicídio.

Na análise dos diagnósticos atuais, ou seja, que estavam presentes no mês anterior à entrevista, na análise multivariada, a variável emprego foi a que mostrou maior associação com a probabilidade do paciente apresentar depressão atual. Outros estudos também encontraram associação entre desemprego, baixa remuneração familiar, suporte social e fatores sócio-econômicos e depressão38-40. Esse achado não parece ser específico dessa população.

É importante ressaltar que a sorologia positiva para o HIV não mostrou associação com o diagnóstico de depressão atual em nenhuma das análises. Esse achado é corroborado por vários estudos em homossexuais4, 6, 15, 41 e em UDI42.

Embora o diagnóstico de dependência de cocaína ao longo da vida tenha sido mais freqüente em HIV-positivos, quando classificamos esse diagnóstico em "atual" ou "história", observa-se que os pacientes HIV-negativos apresentaram maior freqüência de dependência atual de cocaína do que os positivos. Essa diferença mostrou-se estatisticamente significativa – resultado que pode estar indicando que, após a infecção, os UDI tendem a parar, ou pelo menos diminuir, o consumo da droga, possivelmente após as primeiras semanas de crise após o conhecimento da sorologia. Outros estudos, que avaliaram a prevalência dos diagnósticos associados ao uso de álcool e outras drogas prospectivamente, também observaram que a prevalência desses diagnósticos diminuía com o passar do tempo em indivíduos infectados pelo HIV15, 43.

Algumas questões metodológicas desta pesquisa merecem ser discutidas. De início, ressalta-se o número de pacientes da amostra. A dificuldade em obter amostras maiores de UDI é reconhecida em vários estudos da área. No Brasil, não foram encontradas pesquisas similares com amostras exclusivas de UDI. Entretanto, mesmo diante destas dificuldades, é fato que, para se obter maior confiabilidade, os resultados devem ser replicados em amostras maiores.

A metodologia utilizada para a pesquisa de outros diagnósticos psiquiátricos em pacientes com abuso/dependência de drogas é um tema ainda controverso na literatura especializada e é sujeita a críticas.

Nesta pesquisa, estipulou-se um período de 15 dias de abstinência de drogas para se realizar a entrevista, uma vez que sintomas psiquiátricos podem desaparecer somente com a promoção da abstinência. Durante a coleta de dados, esse período foi considerado satisfatório, já que os entrevistadores não observaram sintomas ou sinais de intoxicação ou abstinência de drogas que pudessem estar interferindo na performance dos pacientes ao responderem à entrevista.

Embora os pacientes não tenham se submetido a exame de detecção de drogas na urina para se certificar da abstinência, estudo realizado no GREA encontrou alta concordância (92%) entre o relato dos pacientes e os resultados dos exames para detecção de metabólito da cocaína na urina44. Esse resultado é condizente com outros serviços especializados no tratamento de usuários de drogas45.

Nessa pesquisa, utilizou-se uma amostra de conveniência constituída de UDI que procuraram um serviço ambulatorial para tratamento da dependência de drogas.

Esse fato pode impedir a generalização dos resultados para a população de UDI como um todo, já que estima-se que somente 10% a 15% dos indivíduos dessa população procurem tratamento46 e que UDI em tratamento são diferentes dos que não estão em relação a variáveis sócio-demográficas, padrão de uso de drogas e comportamentos sexuais relacionados à transmissão do HIV47.

Todos os pacientes infectados pelo HIV eram assintomáticos. Com base nos argumentos desenvolvidos nesta pesquisa, a generalização destes resultados para outras populações com outros comportamentos de risco ou para outros estágios evolutivos da infecção é limitada, visto que essas populações podem apresentar perfis diferentes, tanto do ponto de vista sócio-demográfico como psicopatológico4, 48.

Em resumo, os resultados desta pesquisa, em consonância com a linha do conhecimento atual, não demonstraram associação entre a sorologia positiva para o HIV e transtornos depressivos e tentativa de suicídio quando os sujeitos são comparados com um grupo controle com igual comportamento de risco. Entretanto, esse fato não significa que a infecção não promova sintomas psicológicos (que não necessariamente evoluem para transtornos psiquiátricos) nos indivíduos acometidos.

No contato com os pacientes, pode-se observar o sofrimento de conviver com a infecção e os problemas decorrentes desse estado. Os problemas atingem as várias esferas da vida do indivíduo: pessoal (incerteza quanto ao futuro, aproximação da morte, discriminação, mudanças na aparência); profissional (preconceito e demissões); afetiva (dificuldade de estabelecer novos vínculos afetivos e interferência nos vínculos já existentes); familiar (hostilidade e discriminação) e financeiro (alto custo do tratamento).

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Correspondência

André Malbergier

IPqHCFMUSP

GREA – Grupo Interdisciplinar de Estudos de Álcool e Drogas

Rua Dr. Ovídio Pires de Campos s/n São Paulo – SP

CEP 05403-010

Tel: (0xx11) 881-8060

Fax: (0xx11) 3064-4973

email: malbergiera@originet.com.br

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  • 1
    . Médico do GREA (Grupo Intredisciplinar de Estudos em Álcool e Drogas) do IPq HCFMUSP e psiquiatra da Casa da AIDS.
    2
    . Coordenador do GREA, Professor titular de psiquiatria e psicologia médica da Faculdade de Medicina do ABC.
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      12 Jun 2000
    • Data do Fascículo
      Dez 1999
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